As Caçadoras escrita por LadyWolf


Capítulo 1
GENESIS


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou o///
Espero que gostem! Boa leitura :3



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Ruth Delgado saiu do elevador a passos rápidos. Era uma mulher loira, de estatura mediana que beirava os seus cinquenta anos de idade. Atrás de si dois seguranças muito bem armados a seguiam pelo corredor branco portas de ferro dos dois lados de onde ecoavam gritos de misericórdia. Ruth parecia ignorá-los completamente.

Pouco tempo depois a mulher se encontrava frente a uma nova porta. O olho direito foi aproximado do leitor de retina que rapidamente a deu acesso permitido. O portal deslizou para o lado revelando o grande laboratório. Havia macas para todos os cantos onde algumas pessoas estavam amarradas assistidas por médicos. Algumas tinham os corpos deformados como, por exemplo, pele de cobra ou rabos de leão, outras liberavam excrementos a ponto de desmaiar.

— Bom dia, doutora. – diziam os médicos conforme ela penetrava o local.

— Bom dia. – respondia indiferente seguindo até seu escritório localizado nos fundos daquele imenso laboratório. – Esperem aqui. – disse aos guardas ainda do lado de fora. E assim entrou na sala.

O escritório de Ruth era como um consultório médico comum. Havia uma cama onde podia examinar seus pacientes, estantes com livros e uma grande mesa com um computador de última geração sobre a mesma que tratou de ligar.

— Vamos ver como estão minhas adoráveis criaturinhas hoje. – disse passando as mãos nos cabelos loiros e curtos.

Assim que Ruth digitou a senha o computador abriu em sua área de trabalho. Sem hesitar clicou em um programa de nome GENESIS e várias fichas de diversas pessoas apareceram.

— Márcio Torres de Oliveira, vinte e um anos, estudante de engenharia. – leu distraída. – Experimento de licantropia concluído com sucesso. Interessante esse menino... Maria Eduarda Alves do Nascimento, quinze anos...

— Com licença, doutora. – disse um guarda entrando no escritório.

— O que você quer? – perguntou ríspida.

— Desculpe atrapalhar, mas a tropa de caça aos Ferraz já está pronta para sair.

Ruth fez um silêncio momentâneo, passou as mãos no cabelo e logo abriu um sorriso animador. Não poderia receber notícia melhor naquele momento.

— Estão liberados para sair. – disse a mesma. – Mas quero que traga-os vivos, principalmente Geraldo Ferraz. Não quero que arranquem um fio de cabelo dele, fui bem clara?

— Sim, senhora. – disse o guarda batendo continência, em seguida deixando o local.

— “Geraldo... Finalmente você e sua família vão me pagar por tudo o que me fizeram!”

O telhado em forma de cúpula se abriu lentamente. Três pequenas naves triangulares levitaram com e partiram pelo céu noturno em uma só direção: a residência dos Ferraz.

A família morava em uma casa no bairro de Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro. Era grande e muito bem pintada de um belo tom azul. A primeira vista eles eram uma família normal, porém guardavam um segredo centenário.

Caçavam criaturas que só se veem em filmes e nos livros de fantasia. Algumas delas que nem Monteiro Lobato, grande autor Infanto–juvenil e entendedor do folclore brasileiro pode imaginar. No assovio da Caipora, no rodamoinho do Saci, nas noites mais sinistras de lua cheia os Ferraz estavam lá para cumprir sua missão.

Àquela noite o jantar estava sendo servido como em qualquer outro lar. O senhor Ferraz havia preparado uma deliciosa lasanha de quatro queijos que família se preparava para degustar. Exceto por Ana Carolina, que estava em seu quarto distraída com o celular, como qualquer jovem de sua idade.

— Ana, vem jantar! – gritou a mãe terminando de pôr a mesa.

A garota de cabelos negros, beirando seus dezoito anos desceu as escadas rapidamente e foi se sentar à mesa. Em seguida tirou o celular do bolso e começou a futucá-lo novamente.

— Ela não larga desse celular! É o dia inteiro isso! – reclamou a mãe.

— Deixa, Claudia, é só uma fase. – disse tia Lúcia.

— Abram alas que a rainha da noite chegou! – disse Geraldo pondo a travessa de vidro com a apetitosa lasanha sobre a mesa. Todos se serviram e começaram a comer.

— Geraldo, meu irmão, essa lasanha está divina! – exclamou tia Lucia.

— Obrigado, minha irmã. – agradeceu observando a filha totalmente vestida de preto comer sem ao menos desgrudar os olhos do celular. – E você, Aninha, o que acha?

— Está boa. – disse ainda olhando a pequena tela. A mãe olhou aquela cena incomodada já abrindo a boca para dar-lhe um sermão, mas foi impedida pelo marido.

— Aninha – disse abaixando as mãos da mesma, tirando o celular de seu foco. – Já te contei sobre o dia em que você nasceu?

— Pai, para tá? – respondeu um pouco incomodada com aquilo, mas acabou largando celular. – Eu sei porque você tá me dizendo isso.

— Me assustaria se não soubesse. – disse Geraldo pondo as mãos juntas sobre a mesa. – Ana, semana que vem você faz dezoito anos. É uma idade muito importante em nossa família, em que decidimos se iremos caçar ou teremos uma vida monótona como uma pessoa normal.

— Eu já disse que não vou caçar, que saco!

— Ana! – exclamou Cláudia.

— Já não basta tudo o que sofri no colégio por causa dessa história de “sobrenatural”? Por que não podemos ser uma família comum? Sem almas penadas, vampiros e balas de prata! – disse em voz alta se levantando. – Aff, perdi a fome!

Houve uma luz muito forte entrando pela janela da sala destruindo a parede por completo. Ana Carolina ficou estupefata com aquela cena e foi puxada pelo braço para trás de Geraldo que sacou a arma de dentro da roupa. Os quatro olhavam fixamente para a poeira que havia se formado esperando o pior.

Lúcia tirou a arma da bolsa e ficou ao lado do irmão. Os dois se olharam e fizeram que sim com a cabeça, se aproximando lentamente. Um vento forte, como um aspirador de pó, começou a sugar tudo o que via pela frente. Objetos leves como pratos, talheres, vasos, porta-retratos e até mesmo a lasanha foram engolidas. A armas que tinham em mãos também se foram pelos ares.

— O que está acontecendo!? – perguntou Lúcia.

— Segurem-se! – exclamou Geraldo.

Cada um segurou-se como pôde. Porém a intensidade do ar parecia aumentar a cada segundo, fazendo com que Lúcia voasse soltando um grito bem alto. Geraldo, agarrado a estante, segurou a irmã pela camisa com firmeza.

— Mas o que...? Geraldo!

— Aonde pensa que vai, maninha? – disse com um sorriso confiante no rosto.

De repente ouviu-se um som de algo se rasgando e o homem arregalou os olhos ao perceber que era a blusa de Lúcia.

— “Não!” – ele pensou.

A peça rasgou e Lúcia saiu voando junto com os outros objetos. Geraldo agora estava desesperado com aquela situação. Ele temia não por ele, mas pelas três mulheres mais importantes de sua vida. Em especial, Ana, que ainda conhecia muito pouco do mundo que os rodeava.

Assim como veio, o vento se foi de forma repentina. O homem de quarenta e poucos anos correu até a esposa e a filha e as abraçou.

— Vocês estão bem? – perguntou preocupado.

— Pai, olha! – disse Ana apontando para a direção em que o vento havia sugado Lúcia.

Três figuras surgiram entre a poeira. Tinham em média dois metros e meio de altura e usavam máscaras não dando para ver seus rostos. Estavam muito bem armados. Geraldo respirou fundo e soltou um sonoro “FUJAM!”. As duas mulheres hesitaram por um instante, mas acabaram correndo pela porta da cozinha.

— Geraldo Ferraz, viemos buscar sua família em nome da doutora Ruth Delgado. – disse um deles com sua voz quase robótica. – Entreguem-se!

— Só por cima do meu cadáver!

— Se assim deseja!

Vários tiros em forma de rajadas de luz foram dados em direção ao homem que conseguia desviar de todos com bastante habilidade. A janela atrás dele se quebrou e mais um daqueles seres gigantes entrou na sala. Ele agarrou Geraldo por trás e com uma pequena maquininha quadrada o deu o maior choque que já tinha sentido em sua vida fazendo-o desmaiar.

— Vão atrás das outras duas! – mandou o que havia acabado de chegar. Os outros simplesmente seguiram suas ordens.

Enquanto isso, Cláudia e Ana estavam há alguns metros abaixo da casa. Quem poderia desconfiar que dentro da dispensa havia um alçapão que levava ao subterrâneo? Geraldo realmente tinha pensado em tudo.

— O que coisas eram aquelas? – perguntou Ana ofegante correndo atrás da mãe.

— Reptilianos. – respondeu Cláudia.

— Reptilianos!?

— São ets vindos da constelação de Sirius. Nosso planeta está cheio deles! E eles vêm fazendo cada vez mais experiências com humanos, transformando-os em verdadeiros monstros. – disse a mulher ainda correndo. – E é nosso dever proteger as pessoas desse mal. Por isso estão vindo atrás de nós.

— E o que vai acontecer com o pai e a tia Lúcia?

— Eu não sei, tá!? Pare de fazer perguntas! – disse com a voz firme, o que fez com que Ana ficasse calada o resto do caminho.

Após cinco minutos de corrida as duas chegaram a um tipo de câmara circular. Havia armas para todos os lados – muitas em pedaços –, estantes abarrotadas de papéis e livros, um quadro enorme com fotos e anotações, entre muitas outras coisas.

— Aqui, Ana, é o nosso arsenal. – disse Cláudia abrindo armários e mais armários. – É onde guardamos todas as nossas armas, pesquisas e segredos de família. Sabe aquelas coisas que te fizemos estudar quando era mais nova? Então, elas vieram daqui. – a mulher pegou uma mochila dentro do armário e entregou a filha. – Nessa mochila tem tudo o que você vai precisar para uma semana, inclusive dinheiro. E... – falou abrindo um dos bolsos e tirando um pequeno objeto negro. – E nesse cartão de memória tem todas as informações sobre a nossa família e as pesquisas que fizemos.

— Mas mãe...

— Fuja o mais rápido que puder por aquela porta de ferro redonda. Ela vai te levar pelo esgoto até aquele terreno baldio na Suburbana. Esconda-se lá e de manhã vá até a casa de sua tia Fabiana. Ela com certeza vai poder ajudar. – disse com lágrimas nos olhos a abraçando com força. – Eu te amo, minha filha.

— Eu não vou sem você! – disse Ana quase chorando.

— Vá, por mim.

— Não...

— ANA!

— EU TE ODEIO! – gritou a garota de cabelos negros desabando em lágrimas. Ela abraçou a mãe por uma última vez e partiu pela passagem secreta.

— “Eu também te amo, minha querida.”

Pouco tempo depois os reptilianos chegaram e encontraram Cláudia sentada sobre a mesa jogando um isqueiro para o alto. O chão estava cheio de álcool por todos os lados.

— Boa noite, rapazes. – ela acendeu o isqueiro e jogou-o no chão. O fogo subiu rapidamente. – “Adeus, minha querida...”

Ana viu a luz e sentiu o calor no momento em que o incêndio começou. Ela pensou em voltar e ajudar sua mãe, mas se fizesse isso todo o seu esforço poderia ter sido em vão. Então continuou sua corrida pelos subterrâneos, mesmo com o rosto molhado pelas lágrimas.

A jovem Ferraz continuou a andar por vários minutos. O túnel estava muito escuro, o que a fez pegar acender a lanterna do celular para iluminar o caminho. Aquilo acabaria com a bateria, o que era fato, e não teria como carregar até chegar à casa de sua tia.

Foi então que Ana viu não muito longe uma escada e feixes de luz entrando pelo teto, ou seja, finalmente havia chegado à saída. Ela guardou o celular e começou a subir degrau por degrau. Com um pouco de dificuldade conseguiu abrir a porta do alçapão e sair no terreno baldio.

Era um terreno com o tamanho equivalente a uma quadra. Havia mato crescendo por todos os lados e um pouco de lixo espalhado. Ana se lembrava das vezes quando era mais nova e ia àquele lugar, onde em certas épocas do ano um parque de diversões é montado. Seu pai sempre lhe comprava um delicioso algodão doce que comia com prazer. Bons tempos. Mas agora tudo não passava de uma lembrança distante.

As sirenes dos bombeiros passaram soando bem alto pela Avenida Dom Helder Câmara, antiga Suburbana. Eles com certeza deveriam estar indo para a casa dos Ferraz apagar o incêndio que havia se iniciado debaixo da terra e que provavelmente teria matado Cláudia e fez Ana sentir um aperto no peito. Alguém que antes tinha tudo agora não tinha mais nada.

Já passava das nove horas da noite quanto a garota de cabelos negros conseguiu pegar o ônibus que levava para a casa de sua tia em Duque de Caxias, uma cidade na região metropolitana do Rio de Janeiro. Mas Caxias tinha seu porém: não era o lugar mais bonito do mundo.

— “Ô gente pra morar mal.” – pensava a garota observando o local pela janela do ônibus.

Naquele instante um homem bêbado entrou pelos fundos do ônibus e começou a fazer a maior confusão com a cobradora. Aquilo já estava deixando Ana irritada, afinal, ela só queria ficar quieta naquele momento terrível de sua vida. Foi então que o bêbado se sentou ao lado de uma menina que estava na janela e se calou.

Ana voltou a olhar outra vez para a janela, distraindo-se com a “bela paisagem” de Duque de Caxias. Mas seu sossego não durou muito. Ela começou a ouvir alguém choramingar e quando virou para olhar o homem bêbado passava a mão na perna da menina que deveria ter seus quinze anos. Ele não tinha vergonha na cara?

— “Ah, qual é... Não é comigo.” – pensou ela virando-se novamente para a janela.

Porém o choro da garota ficou mais alto, o que fez Ana levantar e jogar o tal bêbado para fora do ônibus pela porta da frente assim que o motorista parou. Ela bateu as mãos umas nas outras com se estivesse limpando.

— Isso é pra aprender a não ser um babaca! – disse em seguida virando para o motorista. As pessoas a olhavam estupefatas. – Vamos continuar a viagem.

Houve um momento de comemoração dentro do ônibus. Os passageiros bateram palmas, gritaram e assoviaram para Ana como se ela fosse uma heroína. Aquilo a deixou impressionada e até a fez dar um sorriso, coisa que não fazia já há algum tempo. Talvez aquela história de ajudar as pessoas não fosse tão ruim.

Enquanto isso, em um colégio não muito longe dali, a aula se encerrava. Era um curso pré-vestibular que funcionava das três da tarde às onze da noite, oferecendo estudo compulsório e interrupto para alunos que desejavam entrar em uma universidade pública nos cursos de graduação mais concorridos.

Dentre os alunos estava Rafaela Ferraz, uma jovem de dezessete anos ruiva e muito aplicada nos estudos. Como sempre estava rodeada de amigos e de bom humor. De fato, para ela não parecia existir dia ruim. Mas mal sabia Rafa que sua vida, a partir daquele dia, mudaria drasticamente graças a uma história de família da qual nunca teve contato.

Como sempre fazia de segunda a sábado há meses, a ruiva saía do colégio tarde da noite com um grupo de amigos. Eles pegavam um ônibus e normalmente as primeiras a descer eram Rafaela e Letícia, sua melhor amiga desde o ginásio e que, por acaso, moravam na mesma rua.

— Ai, essa vida tá me matando. – disse Rafa se espreguiçando.

— Mas no final vai valer à pena, você vai ver. – falou Letícia com um sorriso no rosto.

— Espero mesmo. – disse parando em frente à casa lilás.

— Até amanhã, Rafa.

— Até amanhã, Let. Se cuida.

— Pode deixar. – disse a garota de cabelos cor-de-rosa seguiu seu caminho pela rua vazia.

A Ferraz pegou a chave no bolso da frente da mochila e abriu o portão. Quando entrou no quintal começou a ouvir vozes femininas, e estas ficavam mais altas cada vez que se aproximava da casa. Rafa olhou pela janela e viu sua mãe e sua prima Ana discutirem, o que a fez ficar um tanto confusa. Esperta, resolveu esperar do lado de fora e ouvir a conversa.

— O que!? Como assim nunca contou isso pra Rafa? – perguntou Ana irritada. – Você sabe que uma hora ou outra ela vai ficar sabendo!

— Escute aqui, se você ousar contar isso para a minha filha eu...

— “Do que elas estão falando?” – perguntou-se a ruiva.

— Vai fazer o que? Me bater? – provocou com um sorriso irônico no rosto.

— Ana, – a mulher suspirou. – por favor, eu te peço que não conte nada a minha filha. Não quero que ela se meta nessa vida de caça... Não quero que ela acabe como...

— O tio Marcelo?

— Sim. – respondeu com um olhar triste. – Se aqueles monstros assassinaram o meu marido que era um caçador habilidoso, quem dirá Rafaela. Por favor, Ana, eu te peço, não envolva minha filha nessa história! Já não basta o que aconteceu a Geraldo e Lúcia!

— O que aconteceu ao tio Geraldo e a tia Lúcia? – perguntou Rafaela entrando em casa. – E que história é essa de meu pai ser um caçador? Caçador de que? Você disse que ele tinha sofrido um acidente de carro!

— Rafa! – disse a mãe surpresa.

— É, tia Josi, que história é essa? Mentir é feio, viu?

— Eu... eu...

— Fala logo, mãe!

— Está bem. – Josi abaixou o olhar e começou a contar toda a história para a filha, que não acreditou muito.

— Espera, deixa eu ver se entendi direito. – disse fazendo um gesto com as mãos. – A família Ferraz é uma família de caçadores sobrenaturais. Os membros da família estudam desde pequenos e aos dezoito anos escolhem se querem ser caçadores ou não. Meu pai era um caçador, aí uns ets vieram e mataram ele. E isso aconteceu agora com o tio Geraldo e a tia Lúcia, sem falar que a tia Cláudia se suicidou para matar essas criaturas. – Rafa encarou as duas, séria, mas depois começou a rir. – Vocês quase me pegaram, sério mesmo!

— Não é brincadeira. – disse Ana um tanto séria.

— Ana, – disse fazendo uma pausa. – fantasmas, ets, Mula-Sem-Cabeça, Saci Pererê... Essas coisas não existem! São tudo fruto da nossa imaginação!

— Que burra, dá zero pra ela. – zombou a garota de cabelos negros.

— O que?

— Chaves, cara. Você não teve infância? Aff! Enfim, eu posso provar que o que estamos falando é verdade, só preciso de alguma coisa para pôr um cartão de memória porque meu celular já morreu faz tempo.

— Tá, eu vou buscar meu tablet. – disse Rafa indo para seu quarto.

— Ana, por favor, não mostre essas coisas para a minha filha. – falou tia Josi ficando de joelhos no chão e segurando as mãos da sobrinha. – Por favor, não a envolva nisso!

— Tia, eu vou mostrar. Não importa o quanto você implore, eu tenho que fazer isso. Eu tenho que resgatar meu pai e a tia Lúcia, será que você não entende? E o pior de tudo é que eles são seus irmãos! Você deveria estar tão louca quanto eu atrás deles!

— Eu não quero morrer! – disse a mulher caindo em lágrimas. – Não quero morrer nas mãos daquelas lagartinianos idiotas!

— Reptilianos.

— Que seja! – disse se levantando. – Por que você acha que eu vim morar nesse fim de mundo com a Rafa, hein? Por falta de condições? Não! Eu queria protegê-la! Ela é uma menina tão boa, não merece ter o mesmo fim que meu marido! Mas acho que não vai fazer você mudar de ideia, não é? – falou enquanto passava as mãos no rosto para secar as lágrimas.

— Mãe, tá tudo bem? – perguntou Ana voltando com o tablet.

— Tudo, querida. Eu vou preparar algo para vocês comerem, tá? Divirtam-se... – e a mulher deixou a sala deixando as primas sozinhas.

— “Que estranho. Eu nunca vi minha mãe assim.” – pensou Rafa sentando-se no sofá ao lado da prima. – Aqui o tablet.

— Valeu. – disse Rafa pegando o aparelho.

— Então, o que vai me mostrar?

— Minha mãe me deu esse cartão de memória poucos minutos antes de morrer. – disse inserindo o objeto no tablet. – Segundo ela, ele guarda todas as informações sobre a nossa família, casos, criaturas, vítimas, entre muitas outras coisas. E é a única informação que temos, já que a Batcaverna pegou fogo.

— Batcaverna?

— É, eles tinham tipo um esconderijo secreto debaixo da casa onde guardavam informações, armas e tudo mais.

— Ok, cadê as câmeras? A gente tá no programa do Silvio Santos? Boa noite auditório!! – disse a ruiva acenando.

— Isso foi ridículo. – comentou Ana rindo. – Bem, vamos ver o que temos nesse cartão de memória.

Ana executou o arquivo e uma nova janela se abriu na tela do tablet. As meninas ficaram boquiabertas quando viram a quantidade de pastas que havia ali, que passava de um milhão. Não, você não leu errado! Havia mais de um milhão de pastas naquele pequeno cartão de memória.

— É, acho que vai demorar um pouco para abrir. – comentou a ruiva.

— Desde que não exploda o tablet na minha mão tá tudo bem. – disse Ana.

— Meninas, espero que estejam com fome. – disse Josi chegando e pondo uma bandeja farta de sanduíches, biscoitos e suco sobre a mesinha de centro.

— Mãe, não precisava se incomodar.

— Precisava sim, tô morrendo de fome! – exclamou Ana já enfiando o sanduíche na boca sem perder tempo.

— Eu vou para o meu quarto. – disse a mulher observando a cena um pouco incomodada. – Se precisarem é só chamar.

— Boa noite, mãe.

— Valeu, tia! – disse Ana de boca cheia.

— Boa noite, garotas. – e a mulher seguiu pelo corredor, deixando as primas mais uma vez sozinhas.

— Caralho, o que tem nesse sanduíche pra ser tão bom assim?

— Ahn... Queijo? – sugeriu Rafa pegando o primeiro sanduíche.

— É, deve ser.

As garotas se fartaram com o lanche que a mãe de Rafaela havia preparado. Ana, como talvez já imagine, comeu a maior parte e no final ainda teve a coragem de dizer que ainda estava com fome. De fato, ela era o que se conhece como “poço sem fundo”.

— Aqui. – disse Rafa entregando um pacote de biscoito para a prima.

— Valeu, prima, eu te amo. – falou feliz abrindo o pacote e pondo mais um biscoito na boca.

Naquele mesmo instante reparou que os arquivos finalmente haviam carregado. As duas ficaram clicando em várias pastas, abrindo documentos e lendo diversas informações sobre criaturas. Passaram pelos casos já resolvidos, mapas e finalmente chegaram a uma pasta com nome Genesis.

— Genesis? O que será isso? – perguntou Ana.

— É o nome da primeira parte da Bíblia.

— Oi?

— A criação do mundo, primeira semana...

— Ah, cara, tá brincando que acredita nessas coisas?

— Se você acredita em vampiros chupadores de sangue, por que eu não posso acreditar que o mundo foi criado por Deus?

— Tá, tá não vamos discutir religião às duas horas da manhã, ok? Vamos ver logo o que é isso. – disse a garota de cabelos negros clicando na pasta. Porém a mesma não abriu e sim exigiu que fosse colocada uma senha. – Droga...

— Tem alguma ideia de qual seja? – perguntou bocejando.

— Não, mas eu vou descobrir. – disse confiante.

Enquanto isso, Dra. Ruth estava em seu escritório analisando os dados de suas experiências. Cinco pessoas e um cachorro tinham morrido somente naquele dia, e ela agora se perguntava o que havia dado errado. Foi em meio a toda aquela pesquisa que alguém bateu na porta.

— Pode entrar. – disse suspirando, exausta.

— Doutora, – disse o homem entrando no escritório. – as tropas voltaram e trouxeram Geraldo e Lúcia Ferraz com eles. Porém houveram três m-...

— O QUE!? Traga-os aqui agora!

— S-sim, senhora.

O guarda saiu e poucos minutos depois retornou acompanhado de cinco parceiros e os Ferraz. Geraldo e Lúcia estavam algemados e cheios de machucados pelo corpo, mostrando o conflito físico pelo qual haviam passado até chegar àquele lugar.

— Geraldo, meu querido. – disse doutora Ruth se levantando e indo até o homem. – Parece que o jogo virou, não é? – falou apertando o rosto do mesmo.

— Cobra peçonhenta!

— Obrigada pelo elogio. – disse apertando o rosto dele com mais força e em seguida o soltando. – Bem vindos ao meu laboratório. Podem ficar à vontade porque é onde vocês irão ficar pelo resto de suas vidas. Aqui é o lugar onde crio as minhas amadas criaturinhas que será muito importante para o futuro do planeta Terra.

— Do que você está falando, Ruth!? Eles são humanos! E você os transforma em monstros! – exclamou Lúcia irritada.

— Ah, Lúcia, falando assim você me deixa triste. – disse se aproximando da mulher e apontando para o próprio olho. – Está vendo? Tem até uma lagrima aqui.

— Vocês não têm sentimentos, sua lagartixa imprestável! – gritou cuspindo no rosto da loira.

— Nós não temos sentimentos? – perguntou limpando o rosto com a manga do jaleco. – Ironia. Não fomos nós reptilianos que assassinamos mais de cinquenta milhões de seres da própria espécie no século passado. Admitam, vocês humanos são tão podres quanto nós. – e gargalhou ao ver as expressões dos Ferraz. – Mas não se preocupem, sua espécie não vai durar por muito tempo porque, com o Projeto Genesis, nós iremos destruí-la muito em breve com o grande exército que estamos criando. Porém chega de conversa. Guardas, os levem para os seus novos aposentos. Quero que sejam muuuuito bem tratados, está bem?

— Sim, senhora! – disseram os guardas em conjunto. Em seguida todos deixaram a sala, deixando Ruth sozinha novamente.

— Humanos são tão hipócritas. – disse a mulher olhando para a mesa toda cheia de papéis. – É, chega de trabalho por hoje.

Geraldo e Lúcia foram levados pelos guardas por um corredor estreito e muito bem iluminado. Havia portas numeradas dos dois lados de onde era possível ouvir o choro de muita gente. Eles atravessaram uma grade e pareceram chegar a um lugar que parecia uma área restrita, já que até a numeração havia se modificado para letras. Quando já estavam praticamente no fim do corredor um dos guardas abriu uma porta e jogou-os lá dentro.

Era uma sala do tamanho de um quarto. As paredes eram de um branco já amarelado, mostrando há quanto tempo não mexiam ali, havia duas beliches e uma porta que deveria levar para o banheiro. Mas o que chamou a atenção dos Ferraz foi um homem magrelo, barbudo e com a aparência bastante envelhecida que estava sentado no chão parecendo dormir. Porém quando percebeu a entrada de Geraldo e Lúcia os olhou com espanto e os dois fizeram o mesmo incrédulos.

— Marcelo!?


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Notas finais do capítulo

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