Pesadelo escrita por Miaka


Capítulo 1
Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ♥



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Sangue.

Havia sangue por toda parte.

Pingando por entre seus dedos, encharcando seus pés e joelhos e até mesmo embaçando sua vista.

Entre seus joelhos, a cintura de uma jovem e bonita mulher. A segunda vida que ele havia tirado - logo após a primeira que havia tomado: a de seu pai. O peito daquela moça havia sido perfurado uma, duas, três vezes por aquela lâmina que a pequena criança mal conseguia segurar. Ele estava tremendo tanto.

Olhos verdes arregalados em pânico. Ele havia matado.

Ele havia matado seus próprios pais.

Seus amados pais que tomaram conta dele com tanto amor...

— Parabéns, você conseguiu.

Ja'far não ouviu a voz que vinha por trás dele. Seu estômago revirava vendo tanto sangue. Os ferimentos abertos no peito de sua mãe faziam tudo parecer vermelho.

Ele não queria aquilo. Mas seus próprios pais haviam pedido. Imploraram a Ja'far para que os matasse porque eles queriam que seu filho continuasse vivo. Era pelo seu próprio bem.

Essas eram as regras da Sham Lash e Ja'far precisava fazer aquilo para continuar vivo. Mas ele não queria viver como um assassino. Ele não queria ter matado seus pais. Ele não queria tirar a vida de ninguém.

Desespero tomou o lugar do choque e Ja'far gritou o mais alto que pôde.

Dor. Sentia tanta dor. Seu coração doía como se fosse o dele que tinha sido atingido por aquelas lâminas, mas seu coração havia sido atingido apenas por sua própria culpa.

— AAAAAAAAAAHHH!!

Subitamente se levantando, Ja'far acordou sentindo fortes mãos que o mantinham seguro à cama. Seus olhos estavam enormes e, ofegante, ele mal conseguia respirar. O escuro naquele quarto não o permitiu ver quem estava ao seu lado.

— Acalme-se!

Aquela voz... Ele estava tão confuso, tossindo quase sem ar. Sua companhia não pôde fazer nada além de abraçar firmemente Ja'far. Deus, o corpo do mais jovem tremia tanto...

Foi quando Ja'far sentiu aquele doce aroma. Aquele perfume...

Sentindo suas costas sendo afagadas, ele fechou os olhos, deitando sua cabeça naquele ombro. No ombro de Sin.

— Foi só um pesadelo, okay? - Sin sussurrou de forma tenra. - Fique calmo... shh...

Ele podia sentir seu próprio ombro ficando úmido. Ja'far estava soluçando.

Sin suspirou, tirando Ja'far de onde ele estava e apoiando a cabeça do mais baixo em seu peito, segurando-o como se ele fosse um bebê.

— Foi aquilo de novo? - ele ousou perguntar.
Ja'far assentiu. Ainda era difícil para ele fazer aquilo, soluçando tanto.

— Shhh! Já passou. Eu estou aqui...

— Eu... Eu não quero te matar... - Ja'far chorava.

— Você não precisa me matar se você não quiser. - Sin afagou os fios esbranquiçados.

— Eu não queria matar eles... Eu não queria! - ele repetia.

— Eu sei... - Sin fechou os olhos enquanto abraçava firme Ja'far. - Você jamais vai ter que fazer algo parecido de novo! Ninguém, jamais fará você fazer coisas que você não quer. Entendeu?

— Ma... Mamãe e papai... eles me odeiam, não é?
Sin balançou a cabeça negativamente.

— Não. Eles te amam tanto que... eles preferiram ser mortos por você do que continuar vivos sem você! Eles tem orgulho de você, Ja'far. Porque você seguiu vivendo com toda essa dor...

— Eu... Eu sou um monstro...

— Não. Você é... uma boa pessoa que foi usada como ferramenta por esse mundo cruel. Mas isso não vai acontecer de novo, ok? Não enquanto eu estiver ao seu lado... - ele assegurou.

Ja'far assentiu e fechou seus olhos, sentindo o doce beijo que Sin depositou no topo de sua cabeça.

Era tão quente... Ele se sentia tão protegido. Subitamente ele, calmamente, adormeceu.

—---xxxxxxx----

Ele definitivamente não conseguia dormir.

Em suas vestes de dormir, ele caminhou pelos longos corredores que estavam tingidos de prata pela luz da lua. Sin havia ido para a cama cedo naquela noite.

Eles haviam passado longos dias trabalhando em novos acordos com os países da Aliança, então Ja'far decidiu dar uma folga para seu rei. E ele também precisava descansar apropriadamente, mas ele simplesmente não conseguia fechar seus olhos e relaxar. Seria algum tipo de mau pressentimento?

Ja'far caminhou até o jardim externo do palácio e se surpreendeu quando viu um candelabro aceso no chafariz central. Quem estava ali?

Mesmo pronto para dormir, ele não abandonava seu household vessel. As lâminas deslizaram por seus braços diretamente as suas mãos, as quais as seguraram firmemente. Ele precisava estar pronto a qualquer momento. Era impossível acreditar que os guardas não haviam visto aquilo.

Mas assim que Ja'far se aproximou daquela fonte, ele encontrou seu rei. Também vestido em um robe branco, os fios púrpura soltos em suas costas, Sin estava segurando uma taça de vinho. A garrafa ao lado dele já estava pela metade.

— S-Sin? - Ja'far recolheu suas linhas vermelhas e escondeu seu household vessel.

— Ja'far? - ele se levantou. - Por que não está dormindo? Você parecia muito cansado hoje.

— Eu... Eu não consegui dormir. - Ja'far sorriu. - E você?

— Eu também não. - seu rei riu. - Então pensei em vir aqui fora e comecei a admirar a lua e as estrelas...

— Eu fiz o mesmo. - Ja'far disse, evitando encará-lo.

— Por que não se senta ao meu lado e bebe um pouco? - Sinbad perguntou, sentando-se na mureta do chafariz.

— Já que não há nada melhor para fazer...

Ja'far se sentou ao lado de seu rei enquanto Sinbad enchia aquela única taça que eles tinham ali com o líquido rubro, oferecendo-a em seguida para seu conselheiro.

Assim que o mais baixo pegou o copo em suas mãos, ele o bebeu em um único gole. Os olhos dourados de Sin se arregalaram. Ele se assustou. Ja'far não estava acostumado a beber tanto e daquele jeito... ele jamais havia visto antes.

— Ei...

— O quê? - Ja'far limpou seus lábios com as costas de sua mão enquanto devolvia a taça de volta a Sin.

— Você está bem? Aqueles pesadelos... - ele sussurrou. - voltaram?

O conselheiro ergueu uma sobrancelha antes de sorrir para seu rei.

— Não. Aquilo... nunca aconteceu mais. - Ja'far respondeu.

— Sério? Isso é bom... - Sinbad sorriu em alivio.

— Depois de encontrar você... - os olhos verdes evitaram o homem mais alto. - Eu passei por tantas coisas boas que... Se eu sonhar sobre meu passado hoje, sonho apenas sobre os bons momentos que passamos. - ele explicou.

— Ja'far...

— Nós passamos por coisas ruins também. - Ja'far sorriu, admirando a lua cheia. - Mas... toda vez que penso sobre eles... os bons momentos parecem mais fortes e... eu não me arrependo de nada mais. Isso é graças a você, Sin. - suas bochechas coraram, mas ele encarou seu rei. - Eu sou muito grato por ter te encontrado...

— Eu também, Ja'far... - Sin se aproximou e depositou sua mão sobre o joelho de Ja'far. - Obrigado por tudo o que você passou comigo.

— Obrigado por me querer ao seu lado. - Ja'far sorriu, verdes e dourados refletindo um ao outro.

— Eu não poderia ter ninguém melhor.

Eles estavam próximos o bastante para sentir a respiração do outro. Fechando seus olhos, eles decidiram sentir o sabor de seus lábios. Tão doces.

Depois de se afastarem, Ja'far se deitou na mureta daquele chafariz, sua cabeça sobre o colo de seu rei que, suavemente, afagava seus cabelos.

Ele poderia ficar ali para sempre com a garantia de que Sin afastaria seus pesadelos. Afinal, ele era o maior sonho de Ja'far.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dessas one shots curtinhas, pessoal!
Sugestões, elogios e críticas sempre são bem-vindas! ♥



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