Bicho-papão. escrita por Secret


Capítulo 8
Quem é ele?


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo!
Alguém sentiu minha falta?
Bem, vamos deixar o blá blá blá para as notas finais.
Bom proveito!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688157/chapter/8

 — Uh... O quanto você viu? — Gabriel perguntou temeroso.

— O bastante. — O bicho-papão respondeu com seu característico sorriso afiado. — Quem é ele?

— Ele quem? — Se fez de desentendido.

— Você sabe. — Afirmou. — Quem é ele? — O ser se aproximou a passos lentos do garoto, parando a poucos metros dele. O largo sorriso parecia estranhamente forçado. — Vamos, Gabriel, pode me dizer. — Insistiu.

— Ninguém. — Gabriel deu um passo para trás. Aquilo não iria acabar bem!

— Ninguém... —Repetiu ironicamente. — Você é um péssimo mentiroso, sabia?

— É-É só... Um cara da minha sala. — O garoto tentou desconversar enquanto olhava para os cantos. Ele não entendia porque o bicho-papão não avançava e se aproximava dele, e a ansiedade se mesclava ao ressurgido medo.

— Você não vai me dizer o nome daquele idiota, vai? — O outro suspirou impaciente, o sorriso sumindo de seu rosto. Nessas horas ele lembrava como os humanos eram irritantemente complicados.

— Não era ninguém. — Gabriel insistiu evitando contato visual. Aquele ser era bem mais assustador sério que com o sorriso predatório.

Após algum tempo o computador, já esquecido pelo garoto, entrou em espera e a tela se apagou, deixando o quarto completamente escuro. O bicho-papão sorriu novamente e avançou em direção a Gabriel, então o garoto entendeu o porquê daquilo não ter se aproximado: a luz do monitor o repelia. Ele tentou alcançar o computador para trazer a luz de volta, mas o bicho papão foi mais rápido e o agarrou.

— Não vai me mandar embora agora, vai? Achei que estávamos conversando. — Brincou enquanto envolvia Gabriel em seus braços, o apertando o bastante para que ele não escapasse.

— Me larga! — Exclamou o garoto enquanto se contorcia para fugir do aperto. Em vão.

— Só se você prometer não ligar nenhuma luz.

—... Tudo bem. — Gabriel suspirou. Não é como se fosse a primeira vez que ele encarava o bicho-papão.

Assim que se viu livre das garras daquele ser, o garoto deu um passo para trás, encostando-se à parede. Os olhos amarelos o encaravam sem piscar, mas isso surpreendentemente não o incomodava mais.

— O que você quer agora? — Gabriel perguntou direto, não querendo que a conversa durasse mais que o necessário.

— Um nome. — Ditou o bicho-papão e se aproximou levemente do outro. — Quem era aquele garoto irritante?

Gabriel suspirou. Estavam de volta àquele tópico.

— Já disse. Não era ninguém. — Ele insistiu. Não sabia por qual motivo, mas não queria que aquele ser soubesse sobre André. Mesmo que ele fosse uma verdadeira tormenta na vida de Gabriel, o garoto não queria que ele fosse estraçalhado pelos dentes do bicho-papão ou algo do tipo.

— E voltamos ao “ninguém”... — O ser feito de escuridão suspirou e revirou os olhos. — Sabe que mais cedo ou mais tarde eu vou descobrir, certo?

— Não! — Gabriel exclamou instintivamente, sem saber ao certo por que queria tanto proteger André. Diante do olhar curioso do outro, emendou: — Quer dizer... O que você quer para esquecer esse assunto? Não é nada, sério. — Disfarçou.

O bicho-papão continuou o encarando confuso. Mas logo a expressão confusa deu lugar a um largo sorriso zombeteiro:

— Eu quero um beijo. — Concluiu e se aproximou ainda mais de Gabriel, invadindo seu espaço pessoal.

— O-O que...? — Gabriel tinha a esperança de ter ouvido errado. Ele não havia pedido aquilo mesmo, havia?

— O nome dele ou um beijo. — Aquilo confirmou, seu sorriso se alargando.

O garoto hesitou. Ele detestava André, e não tinha a menor intenção de dar um beijo naquela coisa. A resposta era óbvia, certo?

Mesmo assim, quando encarava o ser a sua frente, Gabriel simplesmente não conseguia delatar André. As garras afiadas e dentes pontiagudos com certeza fariam um bom estrago, o bicho-papão era um predador no fim das contas. Nem André merecia isso, o garoto decidiu.

— Tudo bem. — Concluiu desanimado e se obrigou a chegar mais perto do bicho-papão. — Só um beijo...

A criatura permaneceu imóvel, seus olhos brilhando em curiosidade. Gabriel iria beijá-lo apenas para proteger aquele moleque irritante? Isso causava um misto de satisfação e ciúmes no bicho-papão.

— Estou esperando. — Afirmou ao perceber a hesitação do garoto.

Gabriel murmurou algo apenas para demonstrar que ouviu e encarou o ser sorridente, ele não era exatamente desagradável, apenas estranho. O garoto não sabia se era por que, depois de tantas coisas estranhas acontecendo, já havia se acostumado com a aparência e a presença daquilo; mas a ideia de beijá-lo não era tão ruim quanto parecia no primeiro momento.

Ele se inclinou mais, eliminando a distância entre os dois completamente, e colou seus lábios aos do bicho-papão. A primeira sensação foi esquisita, como se algo não se encaixasse, mas Gabriel ignorou, afinal não duraria muito. Era só um selinho, certo?

Errado.

Assim que o garoto fez menção de se distanciar, sentiu os braços daquilo o puxando de volta e as mãos com garras o segurando mais forte, mas sem feri-lo. Então o bicho-papão retomou o beijo com avidez e lambeu seus lábios, mas Gabriel os cerrou firmemente, rejeitando o toque. Ao notar a relutância do garoto, o bicho-papão afrouxou o toque e o soltou.

— Satisfeito? — Gabriel bufou com as bochechas um pouco rosadas. Aquilo com certeza foi estranho...

— Na verdade não. — O outro sorriu. — Eu ainda vou descobrir quem era aquele moleque que mexeu com você. — Afirmou com um sorriso assustador. — Mas, como eu prometi, não vou mais te perguntar sobre isso.

O garoto deu de ombros e se sentou na cama, ao menos teria sossego por um tempo. Aquele dia realmente foi cansativo. Mas logo percebeu que aquilo ainda o encarava com seus olhos amarelos, e não parecia ter a menor intenção de ir embora.

— Você não vai... Você sabe, desaparecer agora? Já conseguiu o que queria. — Gabriel perguntou cansado. Ele só queria que o dia acabasse logo e pensou na chance de sua mãe o deixar matar aula amanhã. Mas percebeu que isso não aconteceria.

— Por que eu faria isso? — O bicho-papão retrucou. — A noite ainda é uma criança.

— Eu quero ficar sozinho.

— O que aquele garoto fez com você? — O sorriso deixou o rosto do ser.

— Por que a culpa tem que ser dele?! — Exclamou irritado.

— Ora, eu te conheço, Gabriel. — O outro suavizou a voz para falar com o garoto, tentando confortá-lo, e não amedrontá-lo. — Te conheço desde que você era uma criancinha com medo do escuro. Você é quieto, mas se importa com as pessoas e gosta de tentar coisas novas. De repente você para de se importar com tudo, não quer mais sair da cama e deixa um garoto te tratar daquele jeito. Não acredito em coincidências.

Gabriel decidiu encarar a parede do quarto, não que ele pudesse ver algo com a escuridão, mas qualquer coisa era melhor que encarar aqueles olhos brilhantes que o analisavam. Ele não conseguiu responder algo, então o quarto mergulhou num silêncio desconfortável. O que ele poderia dizer? Não conseguia negar o que foi dito, mas também não iria confirmar. Ele só queria esquecer tudo isso!

— Não precisa falar disso agora. — O bicho-papão concluiu, percebendo o desconforto de Gabriel com o assunto. — Mas eu não vou te deixar sozinho.

— Por que você se importa? — Gabriel exasperou-se. Ele não podia nem ficar sozinho?!

— Pode me ignorar se quiser, mas eu não vou embora. — Sorriu. — E achei que já tinha dito, mas se quer que eu repita: Eu gosto de você. — Finalizou com seu largo sorriso afiado e sentou-se na borda da cama do garoto.

Gabriel apenas murmurou algo ininteligível e o ignorou, deitando-se na cama, já devia ter passado das 22h00min. Estranhamente, a presença daquele ser não o incomodava tanto quanto ele esperava. Dentro de poucos minutos ele adormeceu sob a vigilância daqueles olhos amarelos. Assim que o garoto ficou inconsciente a criatura desfez o sorriso e tomou para si uma expressão vingativa, ele não havia esquecido o garoto estranho que ameaçara Gabriel, e aquilo com certeza não ficaria impune.

*

— Hora da escola, meu bem. Você tem que acordar. — A voz doce de sua mãe o acordou. Ela sorria para ele, já maquiada e vestida para o trabalho.

— Bom dia, mãe. — Gabriel sorriu. — Já vai sair?

— Pois é, querido. Vou precisar ir para o trabalho mais cedo hoje, mas já deixei o café da manhã na mesa. Não se atrase para a escola.

— Está bem, mãe. Prometo que não vou perder a hora. — Ele forçou o sorriso. Como o previsto, ele não poderia fugir da escola.

Quando se vestiu para a escola e desceu, sua mãe já havia saído. O café da manhã foi um pacote de torradas com requeijão e um suco de caixinha, depois de comer Gabriel se lembrou de um pequeno detalhe: ele não terminou o trabalho!

André, com certeza, iria matá-lo!

Gabriel voltou para o quarto e foi em direção ao computador, percebendo que este ainda estava ligado, mas em hibernação. Ele se esqueceu de desligar na noite anterior por motivos óbvios.

Apressadamente, o garoto escreveu mais duas páginas para terminar praticamente copiando e colando de outros sites sem sequer ler ou mudar algumas palavras. Quando acabou criou uma capa chamativa com as letras do World, na esperança de que a capa colorida tirasse a atenção do trabalho meia boca. Ele imprimiu, juntou as folhas e correu para a escola, com certeza tinha perdido a primeira aula!

Mais tarde ele pensaria em como explicar isso para sua mãe, no momento a única preocupação era chegar logo na escola.

Depois de correr mais rápido do que Gabriel acreditava ser possível, ele encontrou Vanessa logo na porta de entrada.

Por que parecia que a garota esperava por ele?

— Ah... Oi, Van! Como você está bonita hoje!

— Sem papo furado hoje Gabriel. — Ela cortou com uma cara preocupada. — Você perdeu a primeira aula inteira! Isso é demais até para você! Está tudo bem?

— Tudo bem! — Ele sorriu falso. — Só esqueci um trabalho e tive que terminar de última hora, é para entregar hoje. — Ele escondeu o fato de ter feito o trabalho em dupla sozinho e ainda ter que aturar as implicâncias de André.

— Devia tomar mais cuidado. — Vanessa sorriu, aquilo soava como algo que o garoto faria. — Agora estou mais tranquila. Ok, entra. Mas vou ter que anotar o atraso, não dá mesmo para deixar passar essa! — Explicou.

— Tudo bem. Mas agora tenho que correr para a sala, tchau! — Gabriel exclamou enquanto se apressava pelas escadas. A aula de biologia era a próxima.

— Até mais! — A garota gritou em resposta.

O garoto entrou na sala ofegante, pois havia corrido todos os lances de escada até lá. Além do mais, estava realmente fora de forma. Assim que abriu a porta, todos os olhares se voltaram para ele, incluindo o de André, que praticamente o fuzilava com o olhar.

— Bom dia, Gabriel. Está atrasado. — A professora de biologia o cumprimentou com um sorriso irônico. — Eu já ia perguntar do trabalho de vocês. — Completou e apontou para ele e para André.

Isso explicava porque o outro parecia querer matar Gabriel.

André levantou e foi em direção ao garoto, ainda com uma cara de poucos amigos:

— Você trouxe o trabalho, certo? — Gabriel achava que poderia ser enforcado em plena sala de aula se respondesse “não”.

— C-Claro. — Disse enquanto entregava as folhas, ainda soltas, para a professora. Ele não achou o grampeador na pressa para sair de casa...

A professora revirou os olhos e juntou o trabalho com um clipe enquanto recolhia o restante dos trabalhos. Toda a atenção que Gabriel conseguiu ao chegar atrasado já havia se dissipado, afinal, adolescentes não mantém a atenção por muito tempo.

O garoto se sentiu aliviado. Tudo estava de volta ao normal, ele era invisível e não precisava mais aturar André. Percebeu Daniel, seu único amigo na sala, o chamando e apontando para a cadeira vazia atrás dele. Mas, antes que Gabriel tivesse a chance de responder ou sequer pensar em se mover, André o puxou pelo braço:

— Antes que eu esqueça, idiota, vou ter que passar na sua casa hoje, esqueci uma coisa lá. — Informou rudemente e, antes que Gabriel pudesse retrucar, completou: — Passo lá à noite. Não tenho a tarde livre para desperdiçar com você dessa vez. — Sorriu zombeteiro e largou o garoto.

Gabriel processou o que estava acontecendo e pressionou suas têmporas, sentindo o início de uma dor de cabeça. Será que ele não podia ficar um dia sem ter algo para se preocupar?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora preparem seus travesseiros que eu gosto de tagarelar.
Mas, antes, vamos tratar do mais importante:

Fanart incrível feita pelo Fábio Roberto!
Se bem que dá para ver pela assinatura.
Acho que a frase "Você tem medo do escuro?" pegou.
Legal.

Agora sim!

Não sei se repararam, mas eu demorei um século para atualizar isso!
E, como eu não escondo nada dos meus leitores, aí vão minhas desculpas.
Vai que cola!

1: Alguns dias eu tenho tanto ânimo para a vida quanto o Gabriel, e não dá para escrever algo decente assim.
2: Fui ao circo ontem e pesquei hoje. Fim de semana agitado!
3: Talvez eu abandone esse perfil no futuro por motivos idiotas. E pensar nisso dá um leve incômodo!
4: Tive uma prova sexta, mas nem estudei, então não é desculpa.
5: Pirulito que bate bate, pirulito que já bateu...
6: Estou só inventando coisas mesmo.
7: Alguém realmente lê tudo isso?
8: Ok, já deu, tchau!

P.s: Enquete parte 2: Como vocês imaginam (fisicamente) o bicho-papão?
Só curiosidade mesmo.

Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bicho-papão." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.