Bicho-papão. escrita por Secret


Capítulo 7
Rivalidade.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Demorei, mas voltei.
E não estou tão mal nas provas, quem quiser saber.
Estou até bem em algumas!
Sem mais enrolações, o capítulo:
(afinal, enrolar é nas notas finais)



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Gabriel estava com medo. Aquela criatura estava sobre ele na cama o prendendo. Sem saída. Ele passou muito tempo encarando os olhos amarelos e brilhantes sem emitir um único som. Apenas não via motivos para gritar, não é como se tivesse dado certo antes.

O bicho-papão sorriu largamente, seus olhos amarelos brilhando em excitação. Num movimento rápido, ele levou suas mãos ao pescoço do garoto. Logo o silêncio foi substituído por um único som: Risadas.

Gabriel ria e se contorcia na cama enquanto aquilo fazia cócegas nele. Pouco depois o garoto, arfando, pedia em meio ao riso para que ele parasse. Seu pedido foi atendido e o som de gargalhadas deixou o quarto, deixando apenas o garoto com a respiração descompassada tentando retomar o fôlego e o bicho-papão o encarando sem piscar, o sorriso nunca abandonando seu rosto.

— Está melhor? — O ser de escuridão perguntou assim que o garoto retomou o fôlego, este se limitou a assentir com a cabeça. — Ah, eu não ganho nem uma resposta decente? As coisas eram mais divertidas quando você gaguejava e tentava se soltar. — Provocou e estendeu a língua em direção ao rosto de Gabriel, parando-a a meros centímetros da bochecha do garoto.

— Sai. — Ele reclamou e tentou afastar-se, praticamente colando-se à cabeceira da cama.

— Não. — O bicho-papão exclamou em tom brincalhão e, aproveitando o espaço extra que ganhou quando Gabriel se afastou, deitou-se na cama alheia. — Só quando você me contar o que houve para te deixar estranho assim. — Completou com sua cabeça praticamente no colo de Gabriel. O garoto não fez nada para esquivar-se, parecia ainda estar processando o que estava acontecendo.

— Não aconteceu nada. — Gabriel mentiu e tentou afastar-se mais, mas já estava no limite da cama.

— Você só acordou um dia e decidiu não se importar mais com nada? — O outro ironizou.

— É. — Ele insistiu na mentira. — As pessoas mudam.

— Não você. — O sorriso desapareceu da face do bicho-papão, o que o deixava bem mais assustador.

Depois disso o quarto caiu num silêncio desconfortável. Gabriel finalmente percebeu que ele estava conversando com o bicho-papão praticamente de madrugada e que este estava deitado em sua cama.

Qual era o nível de loucura disso?

Percebendo o desconforto do outro, o ser feito de trevas levantou-se da cama e voltou a sorrir, dessa vez um sorriso desafiador:

— Tudo bem se não quer me contar, eu vou descobrir. — Disse com seu tom de voz calmo de sempre e desvaneceu em meio à escuridão. — Boa noite, Gabriel.

O garoto não teve tempo de responder, pois logo se viu sozinho no quarto de novo, além do mais, ele provavelmente não responderia de qualquer jeito. Gabriel não sabia o que o assustava mais, a expressão séria ou o sorriso inumanamente largo e insano.

Ele apenas deu de ombros e foi dormir.

André ainda o visitaria à tarde, ele precisava estar bem disposto para ser ridicularizado repetidamente sem sequer provocar.

Por que essas coisas só aconteciam com ele?

*

— Querido, acorda. Vai se atrasar para a escola. — Gabriel foi acordado por sua mãe, que o sacudia gentilmente. — O café da manhã está na mesa.

O garoto estava desanimado, mas forçou um sorriso ao levantar, pois sabia o quanto sua mãe se esforçava para fazê-lo sorrir. A mulher retribui seu sorriso e mandou que ele se apressasse.

O café da manhã era um suco de caixinha e sanduíches comprados já prontos. Gabriel comeu em silêncio enquanto sua mãe terminava de se arrumar para sair, ele o beijou na testa e prometeu que estaria em casa para o jantar. Gabriel sorriu, mesmo que não acreditasse. Uma coisa que aprendeu cedo foi que sua mãe está sempre ocupada com o trabalho. Ela sempre saía cedo e voltava depois das 23h00min.

Pouco tempo depois o garoto também saiu. Ao contrário da mãe, ele estava bastante desanimado, não queria ter que encarar André logo de manhã. O caminho de casa até a escola pareceu irritantemente curto.

— Bom dia, Gabriel! — Uma voz feminina o abordou assim que ele entrou na escola. Era Vanessa.

— Bom dia, Van. — Ele devolveu desanimado, mas forçando um sorriso. Não que ele não gostasse de ver a garota, muito pelo contrário. Mas a perspectiva de passar uma tarde inteira com André somada a seus “problemas noturnos” envolvendo seres que “não existem” simplesmente drenaram o que restava da energia de Gabriel. Ele apenas não se importava.

— Chegando cedo? Que estranho! Nem parece você! — Ela brincou, não percebendo a falta de animação do garoto.

— Pois é... — Ele disse vagamente. — Agora tenho que ir para a sala. Te vejo depois! — Completou com outro sorriso amarelo e saiu. Ele não estava de bom humor para conversar.

Ao chegar à sala, sentou-se ao lado de Daniel, seu único amigo na classe.

— E aí, como foi sua tarde ontem com o André? — Daniel perguntou casualmente.

— Péssima. — Gabriel não fazia questão de eufemismos. — Por que você não pediu para fazer dupla comigo quando eu faltei? Pelo menos eu não teria que fazer um trabalho com ele! Não consigo nem ficar perto dele! — Reclamou.

— Foi mal, cara. A professora quem formou as duplas. — Deu de ombros. — Pelo menos está acabando. Você sobrevive!

— É, acho que sim.

A conversa dos dois foi interrompida por André, que chegou de repente perto dos garotos:

— Bom dia, idiota. — Zombou e bagunçou o cabelo de Gabriel. — Passo na sua casa lá pelas seis. Não esqueça. — Completou e se afastou com um sorriso irritante.

— Falando no diabo... — Daniel sussurrou assim que André foi embora. — Melhor mudarmos de assunto, ele dá muito azar. — Brincou.

— É. — Concordou. — Mas o professor já chegou. Melhor deixar pra depois. — Cortou a conversa.

Gabriel não prestou realmente atenção nas aulas, o que já era de se esperar. Quando o sinal bateu, fez questão de ficar o tempo todo no canto mais isolado do pátio, assim evitaria as conversas superficiais e sorrisos forçados. Ele apenas não estava com paciência para aquilo. Até pensou em se esconder na biblioteca, mas depois do que aconteceu na última vez, descartou logo a ideia.

Depois do recreio, as aulas passaram praticamente voando. Ninguém na sala puxou conversa com ele, o que era bem normal até, e os professores não pareceram se importar com a óbvia falta de atenção do garoto. Ele era apenas invisível como sempre. Quando deu por si, as aulas haviam acabado e ele já podia ir para casa.

Não que isso o animasse.

A primeira coisa que fez quando chegou em casa foi ligar o computador. Ele queria adiantar bastante o trabalho para que André ficasse o mínimo possível, se preocupou tanto com isso que acabou esquecendo-se de almoçar e, ao reparar esse detalhe, já eram quase três e meia da tarde.

— Ah, já? — Gabriel reclamou para si mesmo. — Acho que vou lanchar alguma coisa.

Depois de pegar uma fruta qualquer na geladeira, ele voltou ao estudo. O que era bem impressionante, se considerar que ele é um dos alunos mais desleixados da sala! Mas é claro que toda essa concentração não durou muito. Antes das quatro da tarde Gabriel já havia esquecido completamente o trabalho para jogar uma partida de videogame, que ficou “só mais uma”, e depois “só mais outra”. Quando percebeu, já era praticamente fim da tarde.

O garoto se preocupou um pouco com o horário. Com certeza não daria tempo de terminar o trabalho antes que André chegasse! Logo seus pensamentos foram interrompidos pelo som de batidas na porta.

Obviamente, você já sabe quem era.

Gabriel suspirou, mas foi abrir a porta, não é como se ele tivesse muita escolha.

— Oi, André. — Ele cumprimentou sem expressão.

— Olá, inútil. — André, por outro lado, sorria irônico. — Como está nosso trabalho?

— Ainda estou na página três. — Gabriel informou, tentando não deixar seu desânimo transparecer. A professora havia passado um trabalho de oito páginas.

— Então temos muito trabalho pela frente. — André sorriu e se aproximou demais de Gabriel, invadindo seu espaço pessoal. O outro apenas deu um passo para trás e mirou o chão, evitando provocações.

Gabriel continuou a pesquisa praticamente sozinho, pois seu “parceiro” servia mais para fazer comentários maldosos sobre tudo que para realmente ajudar. Depois de mais ou menos uma hora, André mudou seu foco, pois nenhum comentário surtiu o efeito esperado, e as observações malvadas passaram a ser sobre as fotos que via no quarto de Gabriel:

— Olha só, que gracinha. — Ele zombou pegando um porta-retrato com a foto da família de Gabriel reunida, de antes do divórcio. — Esse é o seu irmão? Acho que já vi na escola, mas não sabia que eram parentes. Ele tem tanta vergonha de você que disfarça? — Ele alfinetou.

Gabriel cerrou os punhos, mas não respondeu, se esforçando o máximo para manter-se neutro. André percebeu a raiva contida do outro e sorriu, agora sim ele estava gostando do rumo daquela conversa.

— Você e seu irmão não são nem um pouco parecidos. Tem certeza que ele é seu irmão? Ou será que a mamãe andou pulando a cerca? — Continuou. Seu sorriso aumentando ao ver Gabriel morder o próprio lábio para não retrucar.

Após analisar a foto por mais algum tempo, André teve a ideia perfeita para o “golpe final”. Algo que realmente mexeria com o garoto:

— Esse é o seu pai, não é? Que bonitinho. A família perfeita dos comerciais de margarina. O que houve? Seu papai achou uma vadia mais gostosa que sua mãe e decidiu largar vocês? — Completou com uma risada sarcástica. Essa foi a gota d’água.

— Não fala assim da minha mãe! — Gabriel exclamou e se levantou, tentando acertar um soco em André. Puro impulso.

André sorriu, seu objetivo completo. Ele segurou os pulsos de Gabriel e olhou o garoto nos olhos:

— Não posso falar da biscate da sua mãe? Ela fica fora o dia todo, certo?Por acaso sabe o que ela faz? — Provocou mais.

— Cala essa sua maldita boca! — Gabriel gritou e tentou chutar o outro sem sucesso. André parou de sorrir e apertou com força os pulsos do garoto, depois o empurrou para o chão.

— Olha lá como fala comigo. Tenho que lembrar quem manda aqui? Você não tem chances numa briga contra mim, pirralho. — Disse sério. Gabriel ficou em silêncio e não fez nenhum movimento para se levantar do chão. Com o calor do momento passando e a razão voltando, ele via como era estúpido tentar brigar com André, não importando o que ele insultasse.

Sim, tentar brigar com André. Gabriel sabia que seria massacrado.

— Levanta e volta ao trabalho. — André ordenou como se nada tivesse acontecido. — Daqui a pouco tenho que voltar para casa.

Essas palavras não poderiam deixar Gabriel mais feliz! Ele olhou a hora no computador, já havia passado um pouco das 20h00min. Aquilo realmente estava demorando.

Provavelmente seria mais rápido se ambos trabalhassem juntos, mas o garoto nem pensou em comentar isso. Não valia a pena.

Passaram-se dez minutos de um silêncio desconfortável antes que André se levantasse e murmurasse uma despedida qualquer, alegando que devia voltar para casa.

— Já terminou o trabalho ou vou ter que voltar amanhã também?  — Ele sorriu sadicamente.

— Já está praticamente terminado. Pode deixar que eu termino sozinho. — Gabriel respondeu irritado. Ele começava a pensar se não seria melhor ter aceitado um zero ao invés de tentar fazer esse trabalho.

— Se faz questão... — Sua dupla sequer tentou esconder a satisfação em sua voz. — Te vejo por aí, pivete. — Completou e se dirigiu à porta. Assim que esta foi fechada e o som de passos se tornou distante, Gabriel sentiu um tremendo alívio, quase como se um peso fosse tirado de seus ombros.

Mas é claro que esse alívio não durou muito. Assim que conseguiu relaxar e passou a prestar atenção ao ambiente a seu redor, o garoto reparou duas coisas:

Primeiro: A noite havia caído e a única coisa que iluminava o cômodo era a luz do computador, ele não tinha certeza de há quanto tempo havia ficado tão escuro.

Segundo: No canto mais escuro havia uma figura com olhos amarelos e brilhantes o encarando, mas uma expressão séria substituía o sorriso habitual. Gabriel também não tinha certeza de há quanto tempo ele estava ali.

Tudo que o garoto conseguiu fazer foi encarar os olhos amarelos, perguntando-se o quanto aquilo teria visto e o que aconteceria dali em diante. Ao perceber que era observado, o bicho-papão retornou a sua típica expressão sorridente:

— Finalmente me notou. Estava demorando... — Comentou. — Eu disse que descobriria o que aconteceu com você.

 


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Notas finais do capítulo

Agora sim! Posso tagarelar à vontade!
Quem quiser ler que leia.
Afinal, muita gente pula as notas finais mesmo.

Primeiro: Viva! Acabou a semana de provas!
Mas eu ainda tenho uns trabalhos...
Enfim, dá para levar tudo praticamente numa boa.

Segundo: Pessoas para agradecer!
Se eu pudesse agradeceria todo mundo que comenta aqui, mas vamos ter foco!

Primeiro agradeço a Imperfect Girl pela fanart.
Afinal, a garota gastou metade do lápis de cor preto com esse fundo!
Valorizo o trabalho!
E o detalhe do lençol ficou demais, não?

Agradeço a Lady S.
Por quê? ela recomendou minha história!
Sabe a alegria de chegar no site não esperando encontrar nada e se deparar com uma recomendação?
Dica: É muito bom!
Depois dessa, não ligo se ela decidir nunca comentar! A recomendação já valeu!
Mesmo que a parte de "o autor é legal e deixa todos a vontade" me deixou com uma leve paranoia. Sei que é elogio, mas fiquei pensando se é um modo de dizer que eu forço demais a barra. Porque, bem, eu forço! Chamo pelo nome, falo da vida e, se reclamar, dou apelido!
Mas é meu jeito de ser. E garanto que os comentários ficam, no mínimo, mais interativos!

E é justo agradecer ao LugaFox também, já que me deu o ótimo conselho de largar a escrita por um tempo e focar nos estudos.
Valeu, Luga! Sem você talvez minhas notas estivessem um pouquinho piores.
Em compensação, esse capítulo teria saído lá pelo domingo.

Eu escrevi esse capítulo em dois dias. Literalmente. De ontem para hoje.
Então, pessoinhas, se alguém achar um erro ou achar que ficou corrido demais/confuso demais/etc, por favor me avisa!

Acho que já deu de notas por hoje.
Até o próximo!

P.s: Não preciso ter poderes sobrenaturais nem uma bola de cristal para prever que vai ter muita gente xingando o André!



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