Collide I e II [Degustação] escrita por Allie Próvier


Capítulo 5
5. Mudanças




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CAPÍTULO 5

"O que eu estou com medo de encontrar?

Eu sei o que estou pensando, mas as palavras não saem."

Devon Werkheiser – If Eyes Could Speak

Foi estranha a forma como Daniel saiu do ginásio depois do jogo, após me lançar aquele olhar esquisito. Eu e Eve ficamos um tempo conversando com algumas pessoas que estavam por ali, esperando-o sair do vestiário, mas quando se passaram 20 minutos de espera nós duas resolvemos ir embora.

Eu deixei Eve em sua casa, entrei para comer um pedaço de torta de maçã com ela e Vanessa – a sua mãe –, e achei melhor voltar para a minha casa. Após prometer que no dia seguinte iria dormir lá, fui para o meu apartamento. Assim que tranquei a porta e deixei a minha bolsa no sofá, senti meu celular tremer no bolso da calça.

Desbloqueei a tela enquanto retirava as minhas botas e me joguei no sofá, vendo algumas fotos que minha mãe havia me enviado pelo Whatsapp. Ela estava no Egito com a equipe da revista de turismo para a qual trabalhava. Seu sorriso em algumas fotos era contagiante e, como sempre, eu me senti entusiasmada por ela. Mandei algumas mensagens dizendo que amei as fotos e perguntando como estavam as coisas.

Eu sabia que ela iria demorar um pouco para responder, então fui tomar um banho. Suspirei debaixo da água quente e me senti repentinamente sozinha. Eu gostava de ter todo aquele espaço para mim e gostava ainda mais da independência e confiança que minha mãe tinha em mim, mas às vezes eu sentia um certo vazio. Longe de mim criticar a minha mãe, até porque o seu atual trabalho é a realização de um sonho antigo e eu me sinto muito feliz por vê-la feliz, mas...

Balancei a cabeça para dissipar os pensamentos. Eu não gostava de pensar nessas coisas, preferia ignorar. Terminei o meu banho e vesti meu pijama quentinho, logo indo para a cozinha preparar algo para comer. Quando meu olhar captou a caixinha de chá sobre a bancada da cozinha, rapidamente lembrei de Daniel. Será que ele estava bem?

Pensei em ligar para ele, mas eu nunca havia feito isso. Até então havíamos apenas trocado algumas mensagens. Eram todas curtas, apenas para confirmar os horários das nossas saídas e coisas assim. Nunca havíamos conversado por telefone. Até porque, bem... nós não éramos namorados. Porém, nos tornamos amigos. Sendo assim, faria mais sentido eu ligar para ele?

Comi todo o sanduíche pensativa, enquanto olhava a rua pela janela da cozinha ao lado da mesa. Muitos carros passavam, o bairro estava movimentado hoje. Eu dispersei rápido ao focar meu olhar nas luzes da cidade. Ao longe o sol já havia desaparecido, mas o céu ainda tinha tons alaranjados. A ponte Golden Gate já estava toda iluminada, com todo aquele cenário lindo ao redor.

O vazio me atingiu novamente.

Suspirei pesadamente, passando as mãos no rosto e fechando os olhos com força. Eu não iria chorar por nada, por motivo algum. Já estava bem cansada disso. Respirei fundo e tentei controlar todas aquelas sensações esquisitas no fundo do peito.

Joguei a louça suja dentro da pia e fui para a sala novamente. Liguei a TV e vi que passava o filme "A Escolha Perfeita". Eu perdi as contas de quantas vezes havia assistido esse filme, mas era sempre como se fosse a primeira vez. Peguei o celular e vi que minha mãe havia respondido. Também havia mensagens de Eve.

Respondi as duas e mordi o lábio inferior, pensando se deveria mandar uma mensagem para Daniel ou não. Resolvi perguntar para Eve, ela sempre pensava com mais clareza do que eu.

Ally: "Seria esquisito mandar uma mensagem para Daniel perguntando se ele está bem?"

Eve respondeu em instantes:

Eve: "Mais esquisito do que você é, impossível. Como ainda tem essa dúvida a essa altura do campeonato? Manda essa mensagem logo.

Ally: "Eu tenho a sensação de que o problema dele é comigo."

Eve: "Só vai saber se perguntar."

Ally: "Você não está ajudando, Eveline."

Eve: "Apenas seja prática e envie logo uma mensagem. E NÃO ME CHAME DE EVELINE!"

Num impulso, troquei a conversa e mandei uma mensagem para Daniel. Perguntei se ele estava bem e fiquei parada olhando fixamente para a tela a espera de uma resposta. Após um minuto de espera, eu bufei frustrada e joguei o celular no outro lado do sofá. Estiquei minhas pernas e decidi prestar atenção no filme, mesmo sabendo as falas de cor.

Estava quase cochilando quando ouvi o toque baixinho do celular. Voei até o aparelho, desbloqueando a tela e vendo que Daniel havia respondido.

Daniel: "Eu estou bem."

Hm, e o que mais? Só isso? Sério, Sullivan? Tirei print de sua resposta curta e fria e mandei para Eve, que disse que aquilo era bem a cara dele. Mas não era. Quero dizer, Eve não se tornou tão próxima dele quanto eu me tornei. E tudo bem, não éramos super íntimos, mas eu conseguia perceber quando ele estava bem e quando não estava... E naquele momento ele definitivamente não estava.

Porém, eu não iria insistir se ele não estava disposto a falar. Talvez amanhã eu descobrisse o motivo da sua atitude.

Daniel não apareceu nas aulas.

Vasculhei todo o colégio com os meus olhos de águia. Até onde os meus olhos conseguiam enxergar, eu não encontrei Daniel Sullivan.

— Ele deve ter tirado o dia de folga. – Eve deu de ombros enquanto procurava por um livro em seu armário.

Encostei-me no armário ao seu lado, olhando ao redor e analisando cada cantinho do corredor.

— Ou está doente – falei. – Ou os pais estão doentes, ou teve algum problema em casa, ou sofreu um acidente de carro... Ou morreu. Isso é preocupante, Eve.

— Preocupante é você achar que só porque o cara faltou um dia de aula, ele morreu. – Ela revirou os olhos. – Para de ser paranoica, Ally. Já basta achar que está sempre sendo perseguida na rua.

Suspirei, cruzando os braços e ainda olhando ao redor. Eve parou na minha frente e arqueou uma sobrancelha.

— Você está muito esquisita hoje.

Abri a boca para responder, mas acabei suspirando e dei de ombros. Comecei a andar em direção a aula de biologia e Eve me seguiu em silêncio. Ela não me fez mais perguntas. Apenas continuou ao meu lado, me olhando de forma desconfiada e preocupada.

O restante do dia correu normalmente. Levei uma surra na aula de matemática, como sempre. E quando eu achava que já poderia ir para casa para me afundar debaixo de um cobertor, tive que ir a uma reunião do jornal para discutir as pautas da semana seguinte. Minha mente estava longe, mas nem eu sabia onde. Eu estava muito dispersa.

Eve me esperava no corredor, de frente para a sala de informática, onde sempre realizávamos as reuniões. Fomos para o carro em silêncio e liguei o rádio quando saímos do estacionamento. Minutos depois Eve quebrou o silêncio, parecendo irritada.

— Eu não suporto vê-la assim – ela disse. – Me diz o que está acontecendo, não é possível que você esteja dessa forma só por causa de Daniel.

Suspirei e dei de ombros.

— Eu não sei, não me sinto muito bem – respondi. – Mas não é nada em especial. Quero dizer, eu estou bem preocupada com o Daniel, sim...

— Mas não é apenas isso – ela completou. – O que mais?

— Eu não sei. – Fui sincera, sentindo um desconforto no lado esquerdo do peito. – Talvez saudades da minha mãe ou até mesmo do...

Eu mesma me interrompi ao perceber o que diria. Eve logo entendeu e resolveu não falar mais nada. Engoli em seco, sentindo-me confusa. Estava tudo bagunçado dentro da minha cabeça.

Estacionei meu carro atrás do carro de Vanessa e peguei minha mochila com roupas no banco de trás. Resolvi dormir na casa dela hoje para espairecer a mente. Quando entramos na casa, o cheiro da torta de limão que Vanessa sempre fazia nos atingiu em cheio. Senti a minha boca salivar. Em breve eu sairia daqui rolando, tenho certeza.

— Chegaram bem na hora! – Vanessa falou do outro lado do balcão da cozinha, sorrindo abertamente ao nos ver. – A torta acabou de sair do forno.

Eu a abracei e beijei seu rosto. Eu sempre sentia saudades dela. Vanessa era amiga da minha mãe há muitos anos, por isso eu e Eve somos amigas de infância. Quando minha mãe resolveu seguir o seu sonho, há um ano e meio, Vanessa se prontificou a cuidar de mim. Mesmo vivendo em outra casa, nós éramos muito unidas.

Ficamos um bom tempo na cozinha conversando e comendo torta. Quando eu e Eve subimos para o quarto, para vestir nossos pijamas de sempre e assistir um filme, eu já me sentia mais tranquila. Mas no meio do filme, quando apareceu um ator muito parecido com Daniel, eu não pude evitar mandar outra mensagem para ele.

Ally: "Aconteceu alguma coisa? Por que não foi à aula hoje?"

— Ok, agora você está mesmo parecendo namorada dele – Eve disse de repente, pausando o filme. – Ally, não precisa se preocupar tanto.

— Mas eu sinto que o problema é comigo – gemi, afundando o rosto no travesseiro da cama. – Você sabe que eu não gosto quando alguém tem algum problema comigo!

— Que problema ele teria? – Eve perguntou confusa. – Você não fez nada.

— Exatamente!

Ela voltou a olhar para a TV. A imagem estava pausada no rosto bonito e escultural de Paul Rudd. De repente, o rosto de Eve se iluminou e ela sorriu abertamente, rindo para si mesma. Eu a olhei desconfiada e ela disfarçou, balançando a cabeça negativamente.

— Eu já imagino qual é o problema dele. – Ela deu um tapinha em minha coxa ainda sorrindo e deu play no filme. – Fique tranquila, ele vai ficar bem.

— Qual é o problema dele? – perguntei enquanto sentava na cama, curiosa até a raiz dos cabelos.

Eve apenas balançou uma mão no ar como se não fosse nada demais e me fez sossegar para assistir ao filme. Ela sempre percebia tudo antes de mim e eu odiava quando não me contava o que era.

O celular vibrou em minha mão e eu olhei rapidamente achando que era uma resposta de Daniel, mas era apenas um colega do colégio perguntando algo irrelevante. Quando abri minha conversa com Daniel, vi que ele havia visualizado minha mensagem, mas não respondeu.

Ótimo. Se ele quer que seja assim, será assim. Joguei o celular longe e vi Eve me olhando com um sorrisinho nos lábios. Ignorei e voltamos a assistir ao filme.

Mais dois dias se passaram. Daniel não deu sinal de vida.

Definitivamente ninguém deixa de ir às aulas por três dias consecutivos sem motivo. Ao menos não alguém como Daniel, que tem toda aquela pose de jogador e aquele sorriso cínico, mas na verdade é muito inteligente. Todo esse mistério estava me corroendo por dentro.

Eu não havia mandado mais mensagens, mas precisava saber o que estava acontecendo porque estava realmente preocupada. Então, tomei uma atitude bem corajosa: fui conversar com o Benjamin.

Porque, bem, ele é amigo de Daniel. Sendo assim, provavelmente sabia alguma coisa sobre o desaparecimento dele. Então, quando o treino dos Lions terminou naquele dia, lá estava eu sentada na primeira fileira da arquibancada de braços cruzados e as pernas balançando nervosamente. Eve havia ido embora para ajudar sua mãe em algo, então fiquei sozinha.

Eu e as garotas que adoravam olhar os bíceps dos meninos, é claro. Elas estavam sempre ali no canto, cochichando umas com as outras e dando risadinhas. Bem previsíveis. Eu estava tão ansiosa com toda aquela situação que mal me dei conta quando Benjamin parou bem na minha frente, todo suado, só de bermuda e tênis e com a blusa jogada em um dos ombros enquanto suas mãos seguravam uma toalhinha para secar o rosto.

Os cabelos lisos e loiros colavam um pouco na testa e na nuca. E tudo bem, eu não sou uma fã de homens suados, mas devo admitir que eu não ligaria de ser Mia Campbell por um dia e passar a mão naquele peitoral todo. Que garota sortuda...

— Aconteceu algo, Ally? – Benjamin perguntou de uma forma quase íntima. Ele nunca havia pronunciado "Ally" daquela forma tão mansa e sedosa antes. – Não é normal você sozinha aqui.

— Ah. – Fiquei de pé sentindo minhas mãos suarem um pouco e sorri sem jeito. – Na verdade, eu queria falar com você.

Benjamin sorriu lentamente e pareceu satisfeito em ouvir aquilo. Ele passou a toalhinha em seu pescoço e ombros devagar, enquanto olhava no fundo dos meus olhos.

— E o que quer falar?

— Eu queria saber se você sabe algo sobre o Daniel... – falei, tentando não desviar a atenção para o caminho que a toalha percorria. – Quero dizer, ele faltou todos esses dias e não responde as minhas mensagens. Eu estou preocupada, você sabe se aconteceu algo?

Benjamin riu fracamente, balançando a cabeça.

— Isso é bem a cara dele – ele disse mais para si mesmo. – Ele está bem. A mãe dele veio à cidade, é por isso que faltou às aulas.

A mãe dele veio à cidade? Como assim? Ele não vive com ela? Nem deu tempo de perguntar tudo isso a Benjamin, porque antes de eu abrir a boca para questionar, ele pegou o meu celular das minhas mãos e começou a escrever algo no bloco de notas. Mordi o lábio inferior, tentando não prestar muita atenção naqueles braços e naquelas mãos e no restante do pacote inteiro.

Meu Deus, eu nunca deixaria que me sentir assim em relação a ele?

— Aqui está. – Ele estendeu o celular para mim e eu o peguei rapidamente. – Salvei o endereço da casa no bloco de notas. Pode passar lá depois de sair daqui, acredito que ele gostará de te ver. Acho que ele ainda não percebeu que a melhor companhia nessas horas é a da namorada.

Eu o olhei um pouco confusa, mas assenti. Na verdade, eu não havia entendido tudo aquilo muito bem, a começar pela parte da mãe de Daniel ter vindo à cidade, mas... eu logo descobriria.

Agradeci a Benjamin pela ajuda e peguei a minha mochila, saindo do ginásio rapidamente.

O endereço que Benjamin havia me passado não ficava muito distante da minha casa, então foi bem tranquilo para encontrar.

Fui andando com o carro pela rua bem devagar, olhando cada uma das casas até que a encontrei. Era branca e com vidros azuis espelhados, muito bonita. Estacionei em frente e pendurei a minha bolsa no ombro.

Andei até a porta de entrada me sentindo um pouco tensa. Era um pouco esquisito estar ali, eu não sabia muito bem como agir. Não tinha ideia do que me esperava. Toquei a campainha e uma voz feminina soou de dentro da casa pedindo-me para esperar.

Segundos depois uma mulher loira que parecia ter a idade da minha mãe – cerca de 40 anos – e muito bonita abriu a porta. Ela sorriu estranhamente ao me ver, como se me reconhecesse.

— Ah, você é a Allison, certo? – ela perguntou. – Ally?

— Sim... – murmurei confusa.

Ela parecia loira demais para ser a mãe de Daniel.

— Oh, desculpe. – Ela riu. – Eu sou a Tanya, tia do Daniel. Entre, querida, por favor.

Ah, ele vive com a tia! Agora as coisas faziam mais sentido. Eu entrei na casa e ela me cumprimentou com um abraço. Bem receptiva e calorosa, gostei dela instantaneamente.

— Daniel me mostrou uma foto sua há alguns dias – ela se explicou. – Por isso te reconheci tão rápido. Veio visitá-lo?

— Sim – eu disse, enquanto a seguia até a cozinha. Pelo cheiro, ela parecia estar cozinhando algo. – Ele faltou às aulas nesses dias e eu fiquei preocupada.

— Ele não te disse o motivo? – Ela pareceu surpresa enquanto ia mexer em uma panela no fogão.

— Não. Eu mandei algumas mensagens, mas ele não respondeu. – Dei de ombros, fingindo não me importar enquanto olhava ao redor. – Sua casa é muito bonita.

— Obrigada. – Ela sorriu, parecendo feliz por ouvir aquilo. – Daniel está no quarto dele, pode ir até lá.

Ir até o quarto de Daniel não parecia uma boa ideia, considerando que ele estava claramente me ignorando durante todos esses dias. Eu não queria que ele ficasse ainda mais esquisito comigo. Tanya pareceu perceber a minha expressão receosa e sorriu de forma compreensiva.

— Eu vou chamá-lo – ela disse. – Pode ficar à vontade e ligar a TV da sala.

Eu fui para a sala enquanto ela subia as escadas. Liguei a TV e coloquei em um canal de desenhos. Mexi em meus próprios dedos, um pouco nervosa. Meu Deus, o que faço aqui? Ele nem é meu namorado de verdade, eu estou sendo muito intrusiva e insistente. Não é à toa que ele está me ignorando. Eu também me ignoraria, sinceramente.

Tanya desceu um pouco depois avisando que ele estava vindo e sumiu em direção a cozinha novamente. Fiquei olhando fixamente para a TV fingindo me concentrar, mas por dentro estava prestes a enlouquecer. Planejei pegar minhas coisas e sair correndo porta afora antes que Daniel aparecesse, mas assim que toquei na alça da minha bolsa, o dito cujo apareceu de bermuda de moletom e camiseta branca.

Ele ficava muito bem de bermuda e camiseta branca, devo frisar.

— O que faz aqui? – ele perguntou, me olhando como se eu fosse um extraterrestre.

Tão receptivo... totalmente o contrário de sua tia.

— Eu vim te ver – respondi rapidamente, balançando a cabeça em seguida. – Quero dizer, eu... eu vim ver se você estava vivo. Mandei algumas mensagens, mas...

Daniel cruzou os braços e seu olhar desviou para a entrada da cozinha. Olhei para a mesma direção que ele e não vi nada. Ele suspirou, parecendo preocupado e irritado ao mesmo tempo, e fez um sinal com a mão para que eu levantasse. Eu o fiz prontamente e peguei a minha bolsa. Quando ele subiu as escadas, eu o segui.

Seu quarto era bem diferente do que eu imaginava. Era todo em tons claros e neutros, muito organizado. A cama era espaçosa e ficava encostada na parede. No outro lado havia um guarda-roupa espelhado e uma escrivaninha organizada, com uma TV acoplada na parede sobre a mesma. As paredes eram de um cinza bem claro e o chão de madeira clara, assim como os móveis. Ele trancou a porta assim que passei por ela e eu senti um arrepio subir pela espinha.

Tudo bem, ele não fará nada comigo. E isso ficou bem óbvio quando ele passou por mim totalmente indiferente e sentou na frente da escrivaninha, voltando a mexer em seu notebook como se eu nem estivesse ali. Eu me balancei um pouco sobre meus pés, incerta do que fazer.

— Pode ficar à vontade – ele disse. – Se ficar se balançando no meio do caminho vai me irritar.

Céus, o que houve com ele? Sempre foi meio irritante, mas não insuportável. Revirei os olhos e fui até sua cama, deixando minha bolsa sobre ela e me sentando no colchão macio. Respirei fundo, sentindo o seu cheiro impregnado em todo o cômodo. Era o cheiro do perfume que ele sempre usava. Como a TV estava ligada e ele parecia bem concentrado no que fazia no notebook, eu resolvi ficar quieta e assistir o que passava enquanto ele resolvia as suas coisas.

Fiquei cerca de vinte minutos assistindo "Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge". Já estava praticamente deitada e bem confortável no meio das almofadas cinzas e quadriculadas, totalmente concentrada no filme, quando o moço bonito finalmente terminou seja lá o que ele estava fazendo e fechou o notebook, virando-se para mim sobre a cadeira giratória. Eu o olhei de relance e em seguida voltei a olhar para a TV.

— Agora você vai esperar o filme acabar – falei baixinho, mas alto o suficiente para ele ouvir. – Porque eu realmente quero saber o final.

Sua expressão, anteriormente séria, suavizou. Ele sorriu levemente e abaixou a cabeça, esfregando a nuca. Logo ficou de pé e foi até a porta do quarto.

— Eu vou pegar algo para comermos, já volto.

Ele saiu do quarto enquanto eu mantinha meu olhar na TV. Eu já havia visto aquele filme antes, mas nunca consegui assistir o final. Anne Hathaway estava divina, assim como o Christian Bale. Assim que a cena final estava chegando ao fim, Daniel voltou com uma bandeja em mãos. Funguei baixinho, passando as mãos no rosto para limpar as lágrimas, mas Daniel percebeu que eu chorava e ficou rindo de mim.

Ele pôs a bandeja sobre a cama ao meu lado e desligou a TV. O silêncio caiu entre nós. Eu me sentei na cama e ele se colocou no outro lado da bandeja, de frente para mim. Havia dois sanduíches de peito de peru e dois copos de suco de laranja.

Começamos a comer em silêncio, enquanto eu me distraía observando todo o quarto com mais atenção.

— Seu quarto é tão legal – falei, bebendo um pouco de suco em seguida.

— Foi minha tia que decorou quando vim morar aqui. – Ele deu de ombros. – Não faz muito o meu estilo, mas eu gosto. Então, por que veio aqui?

— Eu já disse o motivo.

— Só porque eu não respondi as suas mensagens? – perguntou, arqueando uma sobrancelha. – Anda tão carente de atenção assim?

Parei de mastigar e deixei metade do sanduíche de lado, incomodada com a sua forma de falar.

— Daniel, se você quer que eu vá embora, eu vou. Agora mesmo – falei, vendo-o engolir em seco e colocar seu sanduíche na bandeja também. – Eu vim até aqui porque fiquei preocupada com você, mas você anda mais irritante do que o normal.

— Desculpe – ele disse, passando uma mão no cabelo. – Eu só... aconteceu algumas coisas e eu estou um pouco nervoso, apenas isso.

— Quer conversar?

Ele ficou me olhando por um tempo, parecendo pensar sobre isso, e por fim assentiu. Mas quando abriu a boca para começar a falar, Tanya bateu na porta e o chamou.

— Dan, pode ajudar Benjamin a trazer algumas compras para dentro?

— Já vou! – Daniel gritou. – Vamos descer, vai ser rápido.

Espere, espere aí! Antes que eu pudesse perguntar o que diabos era aquilo, Daniel já estava fora do quarto. Pulei da cama, totalmente confusa, e o segui escadas abaixo. Como assim o Benjamin... Era quem eu estava pensando? Não era possível.

Daniel saiu de casa e foi até um carro vermelho que estava estacionado na garagem. Eu conhecia aquele carro... ah, merda, eu definitivamente conhecia aquele carro.

Fiquei parada na entrada tentando raciocinar com clareza, quando senti alguém cutucar o meio das minhas costas. Olhei para trás rapidamente e dei de cara com Benjamin O'Neil.

Ele sorriu para mim sem dizer nada e saiu da casa quando liberei a passagem, dando um passo para o lado e acompanhando-o com o olhar totalmente em choque. Daniel já voltava com algumas sacolas de mercado nos braços. Eu o olhei totalmente pasma, sem entender o que estava acontecendo. Ele não parecia surpreso.

Andei em seu encalço até a cozinha, onde Tanya ainda cozinhava algo que cheirava divinamente bem. Daniel deixou as compras sobre a bancada da cozinha e segundos depois Benjamin reapareceu com outras sacolas.

— Obrigada, meninos. – Tanya sorriu carinhosamente para eles e logo percebeu a minha presença ali. – Ally, imagino que você já conheça o meu filho Benjamin.


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Notas finais do capítulo

ÚLTIMO CAPÍTULO DA DEGUSTAÇÃO DO LIVRO I.

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