O Melhor Dia Do Beijo escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste. Boa leitura!



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“(...) sou um teimoso. Há quem tente me aprender, há quem tente me entender, há quem tente me explicar, nada disso é muito fácil.”

            Assim que terminou de ler este parágrafo, Mariana soltou uma risada involuntária, se sentindo incomodada. Lia o livro “Queria Ver Você Feliz” de Adriana Falcão, onde o narrador, vejam só, é o próprio amor. O livro lhe chamara a atenção desde o primeiro momento em que o viu, por ter uma capa destoante, de cor marrom-papelão e palavras escritas a caneta, formando o desenho de duas pessoas. Quando abriu o livro e viu quem seria o narrador, correu para o caixa da livraria.

“É hoje que descubro um jeito de controlar este maldito sentimento!” Pensou, ao sentar-se num banco para ler. Porém, esse trecho em questão, foi um dos primeiros a aparecer.

Desanimada, resolveu guardar o livro e checar se tinha alguma atualização em seu facebook. Só faltou jogar o celular na parede quando viu que por ser dia do beijo, o facebook sugeria que ela deveria sair distribuindo-os.

“Quem inventa esse tipo data?! Não faz nada da vida, só pode.” Suspirou irritada.

Você já deve ter percebido que “amor”, “gostar”, “paixão” e “beijo” não são assuntos fáceis para Mariana. Bem, se você estiver apaixonado(a) por alguém inalcançável, como ela imagina estar, a entenderá.

O que mais a irrita não era o gostar em si, mas sim o lembrar dele toda vez que alguém menciona pizzas, chaveiros, livros, séries, nuvens, folhas ao vento e qualquer outro tipo de assunto. Ter se apaixonado pelo melhor amigo que já conhecia há quatro anos não foi um bom negócio.

Mas logo que a tristeza lhe abateu, Mariana tratou de pegar o livro de volta e continuar a ler, para se distrair. Pensar no problema só a daria dores de cabeça, as quais ela preferia evitar.

Quando o relógio marcou sete horas da noite em ponto, Mariana já estava para chegar a sua casa. Só precisava antes passar no mercado e comprar algo para o jantar. Durante todo o dia recebeu mensagens no whatsapp e facebook sobre ser o maldito “dia do beijo”. Ela não sabia se ficava mais irritada por saber que era uma data idiota para as pessoas comemorarem, ou porque sabia que ela mesma não tinha com quem comemorar.

O engraçado, é que parece que quanto mais reclamamos, mais as coisas parecem piorar. Quando estava na fila do mercado, já com sua lasanha a bolonhesa de microondas na mão, seu melhor amigo, sua paixão proibida, o feliz dono de seus pensamentos, entrou no mercado.

“Não me veja. Por favor, só por hoje finja que eu não existo. Não me veja. Não me veja. Não me veja... Droga.”

— Mari! Oi, tudo bem? – Caio sorriu assim que viu a amiga, e foi logo a cumprimentar.

— Tudo sim, e com você? – Mariana respondeu sentindo seu estomago se revirar. Precisava achar uma desculpa para ir logo embora.

— Bem também. Você está livre agora? Eu e o Juca estávamos combinando de ir lá na casa dele fazer uma roda de violão. Vim comprar algo para bebermos – Sugeriu Caio com um brilho malicioso nos olhos castanhos. Não que Mariana tenha reparado. Afinal, mesmo se ela reparasse, tentaria convencer a si mesma de que não passava de sua imaginação e que ela deveria parar de criar ilusões.     

— Ah... Então... É que eu tenho que estudar. E ainda vou lavar a cabeça hoje, então nem dá. Você sabe que eu demoro para secar meu cabelo – Mariana se embolou nas palavras. Era incrível como que quando estava com ele, se perdia e inventava as piores desculpas possíveis. Como se Caio, que é seu amigo, não fosse perceber que tudo não passava de uma mentira.

— Aham. Sei. – Concordou levantando uma das sobrancelhas e cruzando os braços. Ele tinha preparado todo um esquema para que hoje conseguisse roubar um beijo da amiga, mas ela estava começando a dificultar as coisas. – Estou achando mais é que você vai é aproveitar o resto da noite para pegar algum boy e deixar de ser bv bem no dia do beijo.

— Caio! – Mariana sentiu as bochechas corarem. Caio sorria de modo provocante só porque sabia que isso nunca iria acontecer com ela. Julgava a conhecer como ninguém e sabia que ela não iria sair com qualquer garoto. Pena que achava que já sabia tanto que não reparava quando a moça suspirava de amores por ele. – Até você está com esse negócio do “Dia do beijo”? O que isso tem demais?

(Acho importante informar que Mariana estava corada justamente por ter imaginado algo como ela o beijando no dia de hoje. E que também, estava dizendo mentalmente para Caio: “Vai.Se.Ferrar.”)

— Sei lá. Mas se as pessoas comemoram, devemos comemorar também. Beijar faz bem. – Caio riu e piscou com apenas um dos olhos. A inocência dava a ela um delicado toque de pureza, mas de lerdeza também. Qualquer pessoa olhando de fora diria que o apaixonado em questão era ele, não ela.

— Tanto faz. – Mariana revirou os olhos. Ela odiava quando recebia esses tipos de indiretas. Nunca soube decifrá-las corretamente. – Nunca soube se é bom, e provavelmente vou demorar mais um pouco para saber, então não faz diferença.

Caio viu aí uma oportunidade. Ele tiraria dela o porque era tão fechada ao amor, e de quem gostava.

— Não é assim também, Mari. – Começou a falar, e entrelaçou seu braço no braço da amiga, conduzindo-a para fora do supermercado, rumo à casa de Juca. – Porque você é tão fechada pro amor? Se você se abrisse mais, tenho certeza que ia aparecer alguém pra você...

(Mente da mariana: “Vai. Se.Ferrar.E.Quando.Acabar.Se.ferra.De.Novo.Idiota.”)

— Não acho que eu seja fechada. Acho que sou mais trouxa do que fechada. – tentou explicar. Ela não queria ter aquela conversa, ainda mais com ele, mas já que ele estava cutucando a onça com vara curta, caso ela acabasse por contar seus sentimentos, ela jogaria todo o peso do término da amizade em cima dele.

— Por que trouxa?

— Porque eu sempre gosto de quem não gosta de mim, e isso cansa.

— Mas você também não deixa que as pessoas gostem de você. Lembro que tinha o João que uma vez tentou falar com você e na lata dura você disse não.

— Não foi na “lata dura”! E não tinha como eu gostar dele, então não tinha o porque enrolá-lo fingindo que um dia eu gostaria dele. É mais fácil cortar o vínculo antes dele ser criado para não ser trouxa igual a mim que se ilude com qualquer coisa.

— Então você está gostando de alguém.

Sabe quando você se arrepende amargamente do que falou? Pois é. As mãos de Mariana começaram a tremer de modo involuntário. Ela não devia ter deixado esse assunto rolar.

— Estou.

— De quem?

— Isso não é importante.

Caio estava levemente irritado. E com ciúmes. Não esperava que ela estivesse a fim de alguém, isso só complicaria as coisas para ele (bom, na ilusão dele só).

— Claro que é. Eu sou seu melhor amigo e você nunca me contou de quem já gostou!

— É diferente. Não tem porque te falar.

— Aposto que a Laura já sabe.

(Laura, outra amiga de Mariana, a qual nunca se deu muito bem com Caio)

— Er... já. Mas ela é menina.

— E daí?! Eu sou teu amigo! – Caio ficou com tanto ciúmes misturado, que até parou de caminhar por uns segundos. Mariana sentiu toda sua garganta se fechando.

— Ai Caio... Mas você também nunca perguntou ué. Vamos mudar de assunto? Olha como a lua está bonita hoje!

— Mari... Se eu nunca perguntei, estou perguntando agora. – Caio suspirou, se controlando. Parou de andar e se colocou de frente a Mariana. Ele tinha percebido o quanto ela ficara mexida e nervosa com a situação, e isso lhe acendeu uma chama de esperança. – É tão grave assim seu melhor amigo saber?

Mariana Olhou para a árvore a esquerda dela, a loja à direita, ao céu noturno com poucas estrelas, aos carros que passavam por eles, e, por último à face ansiosa de Caio.

— É que... Eu sei quando amo sozinha. Sei quando não há chances de algo acontecer. Por isso sempre que penso nessas coisas, tento afogar o sentimento e fingir que ele não existe. Para mim, o que já tenho me basta. – Iniciou sua declaração desastrosa, em meio a algumas lágrimas. – Mas já que você quer saber tanto, a única coisa que te peço é que nossa amizade não mude por causa disso.

— Não tem motivo pra mudar, Mari. – Caio estava um pouco arrependido. Não queria fazê-la chorar, só queria lhe beijar.

— Tem sim... – Mariana fungou, tentando se controlar. Olhar para a sacola da lasanha parecia mais atrativo do que nunca. Mesmo assim, ela levantou o olhar e calmamente disse:

— É que eu gosto de você.

Ao mesmo tempo em que o vento continuou a bater nas folhas das árvores, os cachorros continuaram a passar e uma velhinha passeava com seu cachorro, tudo parou na mente de Caio. Ele precisava processar corretamente o que Mariana tinha dito. Ela gostava dele? E falou assim, diretamente? Por isso que não comentava sobre essas coisas com ele. Por isso que rejeitou quando outro menino foi falar com ela. Por isso que brigou com ele quando ele ficou com uma das garotas do colégio dela. Por isso que sempre ficava vermelha quando alguém dizia que os dois combinavam. Por isso que toda vez que ele a elogiava, seu sorriso parecia mais sincero.

É, a lerdeza não era só parceira de Mariana.

— Mas você não precisa se preocupar, eu vou me livrar desse sentimento, eu estou me livrando, eu... – Diante da falta de reação Mariana começou a ficar desesperada.

— Não, espera. Eu só... Estou surpreso. – Disse ainda sem reação. A vontade que tinha era de beijá-la, mas sabia que se tentasse fazer algo como isso no nada, ela o empurraria. Precisava falar alguma coisa antes. Ser romântico no mínimo. Todo o plano da noite tinha desaparecido de sua mente. Será que isso era se sentir apaixonado?

— Eu... Acho melhor ir para casa logo. – Mariana arrumou a postura, e começou a olhar para os lados a procura de algo que pudesse esconder a cabeça. Essa era a coisa mais vergonhosa que já tinha feito na vida.

— Tá bom... Só não esquece uma coisa.

— O quê?

— Que hoje é dia do beijo.

Não, Caio não foi romântico. Mas como sua mente estava travada, decidiu agir pelo instinto e deixar o romantismo para depois.

Foi um beijo longo e um tanto estranho. Como se nenhum dos dois esperassem que acontecesse, apesar de quererem. O êxtase era tanto que não sabiam como lidar com aquilo.

— Isso quer dizer o que exatamente? – Mariana ria e sorria ao mesmo tempo em que suas mãos tremiam. Uma situação inesperadamente agradável.

— Isso quer dizer que você estava errada e certa ao mesmo tempo. Nossa amizade vai mudar sim, mas para melhor. – Caio fala, colocando um dos braços em volta dos ombros de Mari.

— Er, acho que não. Você ainda não disse o essencial, senhor “vamos-falar-sobre-o-amor”.

— O.K., O.K. Achei que você já soubesse, mas a cargo de dúvida... Eu te amo. E estou apaixonado por você.

De um jeito meio torto, foi o que precisava ser dito para que o segundo beijo acontecesse, seguido de muitos outros.


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Notas finais do capítulo

*não coloquei direito as imagens do caio e da Mariana porque vocês podem imaginá-los como quiserem. Quem sabe você não seja um "Caio" ou uma "Mariana" da vida, né? Essas coisas acontecem shuashuash Obrigada por ler! Beijos!



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