Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Cheguei um pouquinho mais cedo essa semana e com outra novidade!
A linda da Fe Damin, minha amiga e autora de Partners, muito gentilmente aceitou meu convite para escrever o spin off de Déjà Vu contando a história do Ron e da Mione! *--*
O título é Backstage, será toda POV Hermione, o primeiro capítulo já está postado e o link está aqui: https://fanfiction.com.br/historia/692675/Backstage/capitulo/1/
Um ponto importante a saber é que para entender Déjà Vu e Backstage você não precisa ler as duas, são histórias independentes, mas como Ginny e Mione são amigas alguns detalhes acabarão sendo contados apenas em uma delas. Como, por exemplo, quem lembra que a Gin chegou na casa do irmão e viu a louça do jantar do dia anterior para duas pessoas em cima da mesa? Para saber como foi esse jantar você precisa ler o capítulo 1 de Backstage ;)
Não deixem de acompanhar! Nem de fazer parte do meu grupo no Facebook ;)
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Agora ao encontro desses dois!



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O tempo todo eu conseguia ver seu veículo pelo espelho retrovisor, me seguindo de perto pelas ruas tranquilas de fim de noite. Quando estacionei em frente ao pequeno restaurante fui mais rápida e o interrompi antes que descesse do carro.

—Carne ou frango? - Perguntei debruçada na janela ao seu lado.

—Frango.

—Só um minuto, volto já.

Ele assentiu e me seguiu com o olhar quando me debrucei sobre o balcão virado para a rua e pedi dois yakissobas de frango para viagem e biscoitos da sorte extra. Não levei nem cinco minutos até apanhar a sacola com as duas caixinhas, pagar e entrar no carro novamente.

Algumas quadras a frente paramos em um cruzamento que tinha um semáforo demorado e apenas alguns segundos depois de frear completamente o carro recebi uma mensagem de Harry:

"Essa calça branca..."

Ri para o celular e pelo espelho retrovisor pude ver que ele estava rindo também no carro de trás. Meu prédio ficava apenas algumas ruas depois e enquanto ele estacionava em algum lugar rente ao meio fio entrei direto na garagem subterrânea. Subi um andar até a portaria de pedestres e esperei que minha companhia chegasse ali também para informar ao porteiro que poderia deixá-lo entrar.

Harry olhava tudo em volta com curiosidade e sem constrangimento, incluindo a decoração do hall, o interior cromado do elevador e a sala de jantar da minha casa quando abri a porta para que entrasse na frente. Pousei a sacola e a bolsa sobre a mesa grande que havia ali enquanto ele olhava a tudo com atenção.

—Esse lugar só poderia ser sua casa, Dra. Weasley, é a sua cara. - Comentou observador.

—Obrigada, eu acho. - Falei sem ter certeza se aquilo era um elogio ou não.

—Bonito, elegante e discreto. - Esclareceu me olhando e em seguida abrindo um sorriso. - Nada a ver com o meu apartamento.

Eu ri também e o acompanhei até a sala de estar, do lado oposto de onde estávamos.

—Preciso tomar um banho, você se importa de ficar sozinho por alguns instantes?

—Não se preocupe comigo, leve o tempo que quiser.

Assenti antes de indicar o sofá.

—Sente-se, pode ligar a TV, fique a vontade. Quer algo para beber?

—Por enquanto não, obrigado, estou bem.

—Ok, já volto.

Fechei a porta do quarto ao passar e deixei meu traje monocromático e sem graça no chão ao lado do guarda roupas enquanto escolhia algo para vestir. Respeitando o clima quente, optei por uma regata azul marinho justa e uma saia preta que ia até metade das minhas coxas, combinação que normalmente eu usaria para caminhar na praia, mas que também era apropriada para a ocasião atual.

Quando entrei novamente na sala, exalando sabonete e descalça como eu sempre ficava em casa, encontrei Harry rindo para minha TV que exibia um talk show ridículo no qual eu não via graça nenhuma.

—Não acredito que você assiste esse programa. - Comentei com o cenho franzido e só então ele notou que não estava mais sozinho.

Seu olhar me escaneou da cabeça aos pés e um sorriso acompanhou todo esse movimento. Não esperei que ele terminasse a inspeção antes de me virar e ir até o cômodo ao lado apanhar nosso jantar, mas o movimento no sofá quando ele se virou de frente para onde eu estava caminhando me indicou que o fato de eu estar agora de costas mais ajudou do que atrapalhou sua vistoria.

—Você é canhoto? - Perguntei alto o suficiente para que ele escutasse.

—Destro, por que?

—Quer um garfo ou consegue usar os hashis com a mão esquerda?

Questionei encostada na mesa e tirando nosso jantar da sacola.

—Quero um garfo. - Pediu caminhando até onde eu estava.

Senti quando ele se aproximou das minhas costas e me virou de frente para ele com a mão firme na minha cintura.

—Mas antes quero outra coisa. - Afirmou encostando seu corpo ao meu e me empurrou um pouco para trás, de modo que fiquei quase sentada sobre o móvel atrás de mim.

Antes que eu pudesse perguntar que outra coisa, sua boca se encaixou na minha exatamente como da primeira vez, exigente e firme, explorando minha língua com vontade. Ao invés de passear pelo meu corpo dessa vez ele subiu e enroscou os dedos no meu cabelo, ditando o ritmo que deveríamos manter.

Desci minhas mãos para seu quadril, mantendo-o encostado a mim mesmo sabendo que ele não sairia dali por nada e aproveitando o percurso para sentir os músculos retesados de suas costas. Tombei a cabeça para trás e fechei os olhos quando Harry desceu os beijos por meu pescoço, me fazendo ofegar.

—Essa outra mão está me fazendo muita falta agora. - Lamentou com a voz rouca, o braço engessado apenas encostado na lateral do meu corpo.

—A mim também, e olha que eu nem a conheço ainda. - Assumi e o fiz rir contra minha pele, o que me lançou mais uma onda de arrepios.

—Essa saia preta... - Comentou tirando subitamente a mão da minha nuca e infiltrando sob o tecido para apertar minha coxa com vontade.

A falta do seu apoio me fez desequilibrar e precisar apoiar rapidamente as mãos para trás para me manter sentada, ainda assim não consegui evitar esbarrar na sacola atrás de mim e fazer o barulho típico desse tipo de plástico. Ele espalmou a mão na base da minha coluna quando percebeu e por alguns segundos não quebrou o contato da sua boca com meu pescoço enquanto me segurava.

—Não vamos estragar o jantar, doutora. - Murmurou voltando a me beijar e me puxando de cima da mesa.

A mão nas minhas costas desceu tão firme quanto para a minha bunda enquanto ele caminhava decidido na direção do meu sofá sem desgrudar sua boca da minha. Desabotoei sua camisa com pressa para enfim passar as mãos pelos músculos que vi no dia em que nos encontramos pela primeira vez.

Senti ele se arrepiar quando arranhei de leve sua barriga e apertei seus ombros firmes antes de tirar totalmente a peça e deixá-la no meio da sala. Dessa vez eu que interrompi nosso beijo para descer meus lábios por seu pescoço e um pouco abaixo da linha do ombro, onde o cheiro natural de sua pele era ainda mais excitante que o de loção pós barba e até onde nossa diferença de altura permitia sem que eu precisasse me abaixar. Ouvi com satisfação quando ele deixou escapar um gemido baixo enquanto simultaneamente a isso eu me empenhava em arranhar suas costas.

Quando minhas coxas encostaram no braço do sofá a mão de Harry exploravam por baixo da minha saia, que a essa altura já estava completamente fora do lugar. Mordi de leve sua orelha enquanto ele chutava os sapatos para o lado e contornava o assento comigo ainda grudada a ele. Nos separamos apenas quando ele se virou e sentou exatamente no centro e eu fiquei em pé entre suas pernas um pouco afastadas.

—Infelizmente sou um gatinho com a pata quebrada, então você vai ter que me ajudar. - Falou relaxado, esticando a mão o suficiente para alisar a parte de trás da minha coxa.

Achei engraçado ele se lembrar da analogia que eu usei nas primeiras vezes que conversamos, mas esse pensamento saiu logo da minha cabeça enquanto passava minhas pernas sobre as dele antes de me acomodar em seu colo e sua mão voltar para minha calcinha.

—Sou ótima em ajudar as pessoas, é só me dizer o que você precisa. - Ofereci provocante, próximo ao seu ouvido.

Nos beijamos mais algumas vezes até que ele pediu com os dedos enroscados no elástico da minha saia:

—Me ajuda com isso?

Ataquei de novo sua boca enquanto me levantava e, ao invés de ficar de pé, ajoelhei entre suas pernas.

—Minhas vontades primeiro, já que eu vou ter que fazer quase tudo. - Expliquei diante de seu olhar malicioso enquanto eu abria o botão do seu jeans.

—Achei que fazia parte do seu código de ética priorizar o paciente. - Harry ofegou ao fim da frase quando abaixei devagar o zíper da peça.

—Faz parte do meu código de ética fazer o melhor pelo paciente, e eu vou. - Prometi dando uma mordida leve um pouco abaixo de seu umbigo.

Ele levantou o quadril para que eu abaixasse sua calça e assim que se sentou novamente inclinou o corpo em minha direção e enterrou o rosto no meu pescoço em um beijo gostoso. Notei seu esforço para tirar as meias com a mão esquerda e acabei rindo.

—Eu deveria ter quebrado o braço vinte anos atrás. - Murmurou jogando as duas para o lado e fazendo o mesmo com a peça que eu estava tirando.

Com as mãos espalmadas em seu peito o empurrei para trás e me levantei, levando em seguida os dedos para o cós da minha saia.

—Mas nesse caso eu não teria te conhecido. - Comentou concentrado em olhar o trabalho das minhas mãos ao deslizar a peça para baixo em uma lentidão proposital.

Ele estendeu a mão e me deu apoio para me acomodar novamente eu seu colo e, contrariando toda a pressa que eu achei que ele teria, seus olhos correram preguiçosos pelas minhas pernas abertas ao redor do seu quadril, dando uma bela visão da minha calcinha pink.

—Eu adoro rosa. - Afirmou alisando toda a extensão da minha coxa.

—Nem nessa hora você para de falar. - Observei com um sorriso antes de tirar minha regata e jogá-la para trás, onde estavam o resto das nossas roupas.

Dessa vez ele não falou nada, apenas puxou meu corpo para mais perto e se ocupou em distribuir beijos e lambidas pelo decote do meu sutiã pouco comportado. Tombei a cabeça para trás para dar mais espaço e aproveitar com os olhos fechados a sensação da sua mão percorrendo minhas costas enquanto ele se empenhava em me arrancar gemidos involuntários. Senti seus dedos eu meus cabelos quando ele me forçou a olhar para ele enquanto dizia:

—Você é gostosa pra caramba, doutora.

Não tive tempo de responder antes que ele me beijasse de novo. Sua falta de habilidade com a mão esquerda não se aplicou ao fecho do meu sutiã, que ele abriu com rapidez incrível, nem à minha calcinha, que ele abaixou com pressa enquanto eu também tirava sua última peça de roupa antes de se voltar a se sentar e me puxar para seu colo novamente.

—Vou precisar que você me ajude com isso também. - Pediu me estendendo um preservativo.

—Você já está abusando de mim. - Afirmei com malícia enquanto rasgava a embalagem.

—Nossa posição sugere o contrário. - Retrucou com um sorriso de canto.

Harry não desviou o olhar de mim nem parou de apertar minha bunda enquanto fiz o que ele pediu, apenas um instante antes de apoiar minhas mãos em seus ombros e finalmente fazê-lo fechar os olhos e morder o lábio inferior, ainda assim sem conseguir conter um gemido profundo.

Adorei velo revirar os olhos embaixo de mim e mais ainda seu olhar quase implorando quando decidi reduzir a velocidade para um ritmo quase torturante, inclusive para mim. Parte da minha graça eram suas reações, mas não dá para dizer que sua boca nos meus seios e a mão firme na minha cintura acompanhando os movimentos foram menos importantes.

Quando terminamos eu estava muito mais ofegante do que ele por causa do esforço, mas ainda assim senti seu coração acelerado embaixo da minha mão espalmada em seu peito. Apoiei a testa em seu ombro enquanto respirava fundo e ele me abraçou um pouco desajeitado por causa do gesso no antebraço direito.

Um tempo depois me levantei o suficiente para que ele saísse de dentro de mim e me sentei mais para trás, próximo aos seus joelhos. Já respirando normalmente tirei o cabelo do rosto e os joguei para trás, desgrudando também alguns fios da minha nuca suada.

—Suas bochechas ficam vermelhas, que bonitinho. - Ele comentou com um sorriso e acariciando meu rosto.

Isso me fez rir com vontade, mas não falei nada. Saí do seu colo e caminhei lentamente em direção ao meu quarto, onde prendi o cabelo em um coque da melhor maneira que consegui e vesti o robe que estava jogado em cima da minha cama, só então voltei à sala.

Harry estava relaxado no sofá vestindo de novo a cueca branca que eu havia tirado alguns bons minutos atrás e lançou um sorriso largo na minha direção quando passei direto para a sala de jantar, de onde retornei trazendo nossa comida, meu hashi e um garfo para ele.

—Esfriou um pouquinho, mas posso esquentar no microondas se você quiser.

—Não precisa, obrigado.

—O que quer beber? Tem cerveja, vinho, suco, refrigerante...

—Já posso beber coisas alcoólicas?

Me surpreendeu saber que ele ainda se lembrava e dava importância a isso, mas não deixei transparecer.

—Não recomendo.

—Então refrigerante, por favor.

Ele se acomodou do meu lado no chão quando voltei com refrigerante para ele e uma taça de vinho branco para mim, e prendeu sua caixinha entre os joelhos para comer. O silêncio estava confortável para mim, até gostoso agora que associado à sensação de relaxamento pós sexo, mas é claro que ele não conseguiria ficar quieto por muito tempo:

—Tenho que dizer que estou surpreso.

—Com? - Perguntei mordendo um pedaço de frango.

—Eu te imaginava uma pessoa diferente.

—Então foi uma surpresa boa ou ruim?

—Muito melhor do que eu esperava. Pensei que você fosse mais tímida, mais fechada, mas agora entendo melhor o que você quis dizer com ser uma ratinha grande demais para um gatinho defeituoso.

Internamente gostei de ouvir isso, mas apenas lancei um sorriso sugestivo em sua direção antes de perguntar com um toque de malícia:

—Você sempre seduz suas médicas?

—Alguns médicos também. - Me lançou uma piscadela após dizer e eu gargalhei com vontade.

—Colin ia adorar saber disso.

—Quem?

—O enfermeiro que te informou que eu estava em cirurgia. No dia em que te atendi ele queria que eu pegasse seu telefone para ele.

—Me sinto lisonjeado, mas acho que não vai rolar. - Falou divertido, comendo seu último brócolis. - Isso aqui é uma delícia.

—Adoro esse restaurante. Passo lá toda vez que saio com fome do plantão, o que é quase sempre.

—Acho que vou começar a passar também.

Ficamos em silêncio por alguns poucos minutos enquanto eu terminava meu jantar.

—Me fale mais sobre você, doutora. Não consigo não ficar curioso sobre tudo a seu respeito.

Harry pediu isso se virando para mim e me olhando como se eu fosse a pessoa mais interessante do mundo. Associei o arrepio que subiu pelas minhas costas com a pouca roupa que ele usava.

—Não acho que tenha muito o que te dizer, mas o que você quer saber?

—Qualquer coisa que você queira me contar. - Deu de ombros ao responder.

Me virei de frente também enquanto pensava no que dizer, e ele esperou paciente enquanto isso.

—Gosto muito de filmes de ação, raramente ouço música, sei lá, não sei o que pode ser interessante.

Tentei ser casual ao finalizar a frase, mas o jeito que ele me olhou indicava que minha relutância só havia instigado mais sua curiosidade.

—Me fala então o que foi a emergência de hoje. - Sugeriu diante do meu desconforto.

—Uma amputação de perna.

Sua cara de nojo me fez rir.

—Deixa isso para lá, é melhor eu falar de mim. - Tomei um gole da minha bebida enquanto o ouvia com atenção, mas o que ele disse a seguir não dizia respeito exatamente a ele. - Você não é justa, sabia? Eu adoro vinho, e você sabe que eu não posso beber.

Terminei de um gole e deixei a taça no chão antes de me arrastar pelo tapete macio e sentar mais perto dele.

—Você não pode beber, mas pode me dar um beijo e sentir o gosto se quiser.

Aparentemente ele gostou da minha ideia, porque mal terminei de falar e sua boca já estava na minha de novo. Antes que o beijo se tornasse mais urgente o afastei com a mão apoiada dos dois lados do seu rosto.

—Você precisa me contar seu sonho.

—Para que? Ele não chega aos pés do que você fez agora há pouco.

Sorri convencida antes de me inclinar de novo para frente e recomeçar de onde paramos.

Pisquei algumas vezes antes de despertar completamente e mirar o lustre da sala no teto acima.

—Bom dia. - A voz animada ao meu lado saudou me fazendo dar um pulo no lugar.

—Que horas são?

Harry olhou tranquilamente no relógio de pulso antes de dizer:

—Meio dia e vinte.

—Droga, estou atrasada. - Resmunguei me levantando do chão onde acabamos dormindo.

—Você trabalha hoje? - Perguntou confuso, agora sentado.

—Sim, tenho plantão de vinte e quatro horas até amanhã.

—Uau, que disposição. - Comentou mais para ele mesmo do que para mim.

—Eu juro que te convidaria para tomar banho comigo, mas realmente preciso me apressar.

Meu lamento não era muito sincero, porque seguindo meus padrões ele nem deveria ter ficado para passar a noite, mas eu não diria isso a ele. Não esperei sua resposta antes de me enfiar embaixo do chuveiro e sair cinco minutos depois, já limpa e mais desperta. Meu guarda roupas já tinha uma parte exclusiva para roupas de trabalho, então não foi demorado escolher minha roupa e prender o cabelo em um rabo de cavalo firme e prático.

—Desculpe, não vou ter tempo para te convidar para o café da manhã. - Entrei na sala me desculpando, mas ele não estava ali.

Nem tive tempo de estranhar e já o vi retornar da cozinha, completamente vestido.

—Fui até a cozinha levar as coisas, espero que não se importe.

—Claro que não, obrigada. - Só então me atentei a olhar em volta, não havia mais nada fora do lugar, exceto minhas roupas cuidadosamente colocadas em cima do sofá. - Vamos?

—Sim.

Ele me acompanhou em silêncio até estarmos dentro do elevador, onde me informou:

—Preciso ir ao hospital mais tarde, é o dia do meu retorno.

—Já faz trinta dias? - Perguntei surpresa com como o tempo havia passado rápido.

—Sim. O que eu digo quando chegar lá? - Seu tom de voz foi surpreendentemente infantil.

—Você não gosta muito de hospitais, não é? - Perguntei com um sorriso de zombaria, e ele fez uma careta de desagrado muito graciosa.

—Menos do que você imagina.

—Me procura, eu te oriento.

—Obrigado. - Ele foi realmente sincero ao me agradecer, no momento exato em  que o elevador abriu as portas na garagem. - Eu não tinha que descer no andar de cima?

—Sai comigo, eu te deixo lá fora. - Ofereci já andando rápido em direção ao meu carro.

Ele se acomodou em silêncio no banco do passageiro e não se deu ao trabalho de colocar o cinto de segurança apenas para sair da garagem.

—Tchau, Harry. - Falei sem me virar assim que parei o carro atrás do dele para que descesse.

Ele me olhou por um momento e eu não entendi o que havia de errado até ele revirar os olhos e com a mão na minha nuca me puxar para um beijo.

—Agora sim. - Comentou com um sorriso de canto, ainda segurando meu rosto próximo ao dele. Seu sorriso se transformou em brincalhão um momento antes de ele se despedir, lançando mão de todo seu sarcasmo: - Tchau, ratinha.

Nós dois acabamos rindo da piada interna, que Harry provavelmente não esqueceria, enquanto ele saía apressado do carro, sem querer me atrasar mais.

Quando passei direto pela emergência em direção ao vestiário não avistei meu amigo ali sentado, o que indicava que ele provavelmente estaria ocupado com algum paciente. Demorei o suficiente para guardar minha bolsa e trocar os sapatos, depois segui para minha sala onde algumas fichas já me aguardavam para consultas.

No meio da tarde recebi uma menina de doze anos com uma fratura no antebraço que deveria ser colocada no lugar e, diferente de Harry, eu duvidava que ela conseguiria aguentar aquilo sem que alguém a segurasse.

—Vamos precisar colocar no lugar, mas não é um procedimento indolor. - Informei para a mãe sem que ela ouvisse. - Vou buscar um enfermeiro para segurá-la e volto num minuto, ok?

Ela assentiu enquanto eu me levantava e saía da sala, deixando as duas lá dentro para que se preparassem para o que viria a seguir. Para minha alegria Colin estava por ali quando cheguei e não me deu tempo de dizer nada antes de exigir:

—Vamos, me conte tudo!

Eu ri e neguei com a cabeça, indicando uma enfermeira antipática parada ao lado dele e com quem eu certamente não gostaria de dividir detalhes da minha vida sexual.

—Conto, mas não agora. Preciso da sua ajuda, está disponível?

—Claro, gata. O que foi?

Antes que eu dissesse a que se referia ele sorriu para algo atrás de mim e eu me virei confusa a tempo de ver Harry caminhar em nossa direção.

—Olá, Dra. Weasley. - Cumprimentou com um sorriso muito feliz e eu dei dois passos para o lado para discretamente sair do alcance de sua mão apoiada nas minhas costas.

—Sexy! - Colin comentou não tão baixo assim.

Eu ri, mas Harry ficou levemente sem graça e o cumprimentou com um aceno de cabeça.

—Gato, chama a Luna para mim e vê se ela está livre, por favor? - Pedi ao meu amigo e ele concordou apanhando o telefone e ligando para ela.

Esperamos em silêncio enquanto ele verificava o que pedi.

—Ela está livre, está na sala dela. - Falou sem encerrar a chamada e eu sinalizei indicando que estava indo até lá. - Gin está indo aí. Ok, beijo.

—Vamos? - Convidei Harry e ele assentiu.

—Ainda vai precisar da minha ajuda, gata? - Colin perguntou irônico, com um sorriso de canto.

—Sim, vem você também. E pega a pasta do Har... Sr. Potter para mim, por favor?

A enfermeira ao lado me lançou um olhar de reprovação que eu ignorei com sucesso enquanto apanhava os prontuários que pedi, e caminhamos os três em silêncio até parar em frente ao nosso consultório de destino.

—Licença, Lu. - Pedi já entrando, após duas batidas rápidas na porta. - Tenho um paciente para você.

Colin e Harry ficaram logo atrás enquanto eu mostrava para ela as radiografias anexadas ao histórico e explicava que aquele já era o trigésimo dia de imobilização.

—Ok, eu cuido daqui para frente, obrigada. - Me agradeceu antes de se virar a ele. - Sente-se por favor, Sr. Potter.

Ele me lançou um olhar apreensivo enquanto se dirigia à maca de exames que ela indicou e eu revirei os olhos para isso antes de me despedir.

—Já vou indo, me chama se precisar. Obrigada, Lu.

Antes mesmo de fechar totalmente a porta Colin exclamou, não tão discretamente assim:

—Bandida, você deu para ele!

—Dei, muito! - Confirmei no mesmo tom e ele riu.

Desviamos de algumas pessoas no corredor e ficamos em silêncio até não ter tanta gente em volta.

—Vai ter que me dizer, é tudo aquilo mesmo ou a propaganda é melhor que o produto?

—O produto é definitivamente melhor que a propaganda.

—Desculpe gata, sei que é feio, mas estou com inveja.

Nós dois rimos até estarmos na frente do meu consultório, onde entramos já com a mesma postura profissional de sempre.

Colin me ajudou no que foi necessário e acompanhou as duas até onde o braço da garota seria imobilizado, então fiquei sozinha na sala. Eu não tinha nenhum paciente por enquanto e até que me chamassem eu tinha tempo livre, por isso fiquei ali aproveitando um pouco o silêncio. Alguns minutos depois recebi uma mensagem que me fez rir:

"Você deu muito para mim? Que linguajar mais chulo, doutora."

Mantendo um sorriso desafiador respondi:

"Meu linguajar chulo não pareceu te incomodar ontem a noite."

Sua tréplica não demorou a chegar:

"De forma alguma isso é uma reclamação da minha parte, na verdade já estou com saudade das suas palavras de incentivo, mas a coitada da Dra. Lovegood ficou completamente vermelha com seu comentário."

Isso me fez gargalhar com vontade e imaginar com perfeição a cara da Luna ouvindo isso ao lado de um paciente. Antes que eu tivesse tempo de responder fui chamada para a emergência e saí da sala já com o celular no bolso. Caminhei a passos largos até lá, mas parei no corredor seguinte ao ver Harry saindo do banheiro ainda com o braço imobilizado.

—O que aconteceu? - Questionei confusa, porque supostamente hoje seria o dia de remover seu gesso.

—Ela acha melhor manter mais alguns dias. - Informou com o semblante entediado, claramente achando aquilo desnecessário.

—Entendi, que pena. - Comentei por hábito de mostrar empatia ao paciente. - Tenho uma emergência e preciso ir. Tchau, Harry.

—Você não vai me dar um beijo? - Perguntou quase ofendido.

—Aqui? Claro que não. - Respondi como se fosse óbvio, já de costas para ele e caminhando rápido. - Cuidado com o braço.

Me virei apenas tempo suficiente para recomendar que ele se cuidasse, mas tenho quase certeza de que o que vi em seus olhos era mágoa. No entanto não tive mais tempo de pensar nisso alguns segundos depois, onde o paciente me esperava.


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Notas finais do capítulo

Finalmenteeee! o/
Perder tempo definitivamente não é a cara dos meus personagens, como vocês podem ver! hahaha
O que acharam do encontro? Espero ter atendido às expectativas de vocês *--*
Agora como será que fica o contato deles depois disso, hein?! Não deixem de me dizer a opinião de vocês!
Aguardo a todos nos comentários.
Beijos e até semana que vem.



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