Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 5
Capítulo 5




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"Desculpe não ter ligado, só cheguei em casa agora.

Depois me conta esse sonho, fiquei curiosa.

Obrigada mais uma vez pela noite, nos falamos amanhã.

Beijos."

Cliquei em enviar enquanto fechava a porta de casa com o pé, quase quatro horas da manhã. Eu ainda vestia o mesmo vestido, o sapato de salto novamente colocado depois que deixei a sala de cirurgia para pegar o táxi em frente ao hospital. Após o banho rápido me enfiei entre as cobertas e acordei já bem depois da hora do almoço.

Como prometido tentei ligar para Harry assim que acordei, mas pela primeira vez ele não pôde me atender e desviou a chamada para a caixa postal.

Trabalhar na noite anterior me tirava a necessidade de ir ao hospital hoje, mas ficar em casa não estava nos planos, apenas decidi não me apressar. Tomei um bom banho para despertar completamente, me vesti já com as roupas que usaria no trabalho e apanhei minha bolsa ainda no mesmo lugar onde havia jogado na noite anterior, decidida a almoçar em algum bom lugar antes de ir ao trabalho.

Ao abrir a porta dei de cara com Hermione entrando no apartamento em frente ao meu.

—Em casa essa hora? - Perguntei confusa.

—Estou de férias desde ontem.

Eu me lembrei com isso que no dia em que jantamos ela comentou algo sobre suas férias estarem próximas, graças a Deus, de acordo com suas próprias palavras.

—Tinha esquecido, desculpe. Já almoçou?

—Ainda não, mas tomei café quase agora.

—Ia perguntar se quer me acompanhar.

—Você não está indo trabalhar? - Questionou confusa, olhando minha roupa branca.

—Sim, mas vou passar em algum lugar antes para comer.

Ela pareceu pensativa por alguns segundos antes de girar novamente a chave e trancar a porta.

—Ok, vamos.

Descemos de elevador até a garagem enquanto ela se desculpava dizendo que não conseguiria comer, mas me acompanharia bebendo alguma coisa. Insisti para que ela fosse de carona comigo e prometi que a traria em casa depois, assim não seria necessário sair com dois carros.

—O que aconteceu para você ficar com essa cara? - Perguntei sem rodeios logo que a garçonete simpática se afastou após anotar nosso pedido.

—Nada, só que... sei lá, tem acontecido algumas coisas. - Informou vagamente, o queixo apoiado nas mãos.

—Coisas ruins?

—Não necessariamente, mas estão me deixando um pouco confusa.

Eu sabia do que Mione estava falando, ou mais precisamente de quem ela estava falando, mas deixei a seu critério me dizer ou não quando quisesse falar sobre o assunto.

—Mas me conte, como estão as coisas? Não tenho te visto em casa. - Mudou de assunto após respirar fundo e se encostar na cadeira.

Respeitei sua decisão de não falar sobre isso e contei a ela que estava tudo bem, apesar da correria de sempre. Aproveitei o tempo que passamos ali para escutar suas novidades, que também eram quase todas relacionadas ao trabalho.

Minha amiga trabalhava com moda, o que justificava seu estilo sempre despojado e moderno, mais precisamente desenhando estampas para as coleções próprias de uma loja de departamentos bastante conhecida. E as coisas estavam sendo um sucesso para ela.

Além da vantagem de vê-la trabalhando no que gosta e feliz com isso, eu sempre ganhava peças das suas coleções novas, que mostravam que o bom gosto dela também ficava muito bem em mim.

—E a campanha ficou boa? – Perguntei quando ela informou que tinham finalizado a coleção no fim da semana anterior, depois de muita correria.

—Gostei muito do resultado, mal posso esperar pelo lançamento. Acho que meus pais vão comparecer esse ano. - Contou com um brilho de empolgação contagiante.

Os pais dela são pesquisadores marinho que vivem na Austrália há oito anos, desde que se convenceram de que a filha sobreviveria sem eles por perto.

—E onde será o lançamento?

—Dessa vez aqui mesmo, se você estiver livre e quiser eu consigo ingressos para você.

Desfiles de moda não eram meu programa preferido, mas eu não perderia a chance de comparecer e prestigiar o trabalho dela.

—Claro, vou adorar. Me avisa quando agendarem e eu vou tentar ficar em casa.

Ela me lançou um sorriso empolgado enquanto eu terminava meu suco.

—Vamos? - Convidei depois de olhar no relógio e ver que já passava um pouco das três da tarde.

Paguei a conta e a deixei em casa antes de finalmente ir ao trabalho.

Quando Harry me retornou, algumas horas depois, eu que não podia usar o celular e o aparelho vibrou algumas vezes abandonado no meu bolso enquanto eu atendia um garoto com fratura na clavícula.

Consegui sair do hospital pouco antes do meu horário normal na terça-feira, então cheguei em casa apenas alguns minutos depois da meia noite e com o celular descarregado. Pluguei o aparelho na tomada enquanto tomava um bom banho e o levei comigo para a cozinha a fim de preparar alguma coisa leve para comer antes de dormir.

Tão logo o sistema operacional do meu telefone móvel iniciou a tela indicou que eu tinha uma nova mensagem, cujo texto me fez rir:

"Não conheço nada mais incompatível do que nossos horários.

Boa noite, beijos."

Bem, com isso eu tinha que concordar.

"Amanhã tentamos de novo, quem sabe temos sorte."

Enviei a mensagem e deixei o aparelho de lado para preparar um sanduíche. Mal dei dois passos e recebi uma ligação.

—Finalmente! - Harry exclamou empolgado demais para o horário.

—Boa noite. - Cumprimentei sorrindo, mas em um tom bem mais contido que o dele.

—Como foi ontem?

—Um sucesso, mas trabalhoso. Fiquei me perguntando o tempo todo onde estão os pais de uma criança que consegue se jogar da laje aquela hora da noite.

—Ninguém está mais bravo com esses pais do que eu. - Garantiu enfático.

—Acordado essa hora?

—Não costumo dormir cedo.

Seu tom despretensioso e desperto indicava que aquilo era verdade.

—Mas você acorda muito cedo, não te incomoda dormir pouco? Dormir menos do que o necessário não faz bem para a saúde.

—É suficiente para mim. Além do mais você não tem moral com isso, com certeza dorme menos do que eu. - Contestou me fazendo revirar os olhos. - E sempre há a esperança de que você me ligue, como agora, isso me incentiva a continuar acordado. - Comentou galanteador.

Ela falava tudo isso de forma quase ininterrupta, como se só o fato de falar já fosse bom o suficiente, não sendo necessária nem a minha resposta. Eu achava difícil que um dia alguém fosse mais entusiasmado que ele com assuntos tão bobos.

—Eu não te liguei, você me ligou.

—Da no mesmo.

—Então, já que você está acordado vai me contar aquele sonho?

—Não.

Sua negação carregava um ar de sarcasmo e malícia que me fez arquear a sobrancelha em desafio, mesmo sem ninguém por perto para ver.

—Por que não?

—Porque eu preciso dormir pelo menos um pouquinho, e falar com você sobre isso não vai ajudar. Mas você pode me dizer quando será sua próxima noite livre e eu te conto pessoalmente depois de mais um jantar.

—Em detalhes?

—Todos eles.

—Minuciosos?

—Sou bem detalhista, acredite. - Afirmou com segurança.

—Sexta à noite. - Informei por fim.

—E que horas posso te buscar em casa?

—Pode ser no mesmo horário.

—Já estou ansioso. - Falou com a voz suave, me causando um arrepio involuntário.

—Aonde vamos? Preciso saber o que vestir.

—Não sei ainda, mas com certeza algo no mesmo estilo. Está bom para você?

—Perfeito. - Concordei dando uma dentada no meu lanche recém-tirado do microondas.

—Bom, como já cumpri a missão do dia acho que vou me deitar, doutora.

—Tenha uma boa noite. - Desejei, com esforço para não parecer que estava falando de boca cheia.

—Você também. Até sexta.

Ele mandou um beijo antes de encerrar a chamada, mas não me deu tempo de fazer o mesmo. Larguei o aparelho de lado e fechei os olhos um momento, sentindo a sensação do cansaço se manifestar. Terminei meu jantar enquanto repassava mentalmente as atividades de hoje e me programava para o que eu sabia que me esperava no dia seguinte: uma cirurgia agendada que me prenderia o dia inteiro, isso caso não houvesse nenhuma complicação.

Infelizmente houve complicações, e o que era para ser um procedimento demorado, mas apenar ortopédico, acabou se tornando algo com risco de óbito devido a uma reação inesperada do paciente com a anestesia. Salvá-lo e finalizar o procedimento necessário levou horas a mais do que o inesperado, demandou um cardiologista e deixou a todos exaustos.

Quando cheguei ao hospital na quinta-feira, depois de apenas oito horas em casa, fui recebida com um dia tranquilo que me permitiu sair mais cedo e esticar um pouco a noite no bar próximo ao hospital com Luna e Colin, que eram companheiros de trabalho, mas também haviam se tornado amigos pessoais.

—Como está seu paciente delícia? - Ele me perguntou com um sorriso quando Luna pediu licença e foi ao banheiro.

—Acho que está bem, faz uns dois dias já que a gente não se fala. Os últimos dias têm sido um caos para mim, não tive tempo nem de pensar nisso.

—Ainda vão se ver?

Colin tem um entusiasmo enorme para algumas coisas, inclusive minha diversão. Ele diz que eu trabalho demais, então sempre que alguma possibilidade de sair da rotina aparecia para mim sua ansiedade era quase maior que a minha.

—Provavelmente amanhã, mas não confirmamos ainda. - Respondi antes de beber um pouco mais da minha marguerita.

—Não esqueça de me contar tudo.

—E perder a chance de ouvir seus comentários? Jamais.

Avistamos os cabelos loiros claros de Luna chegando até nós e mudamos de assunto. Uma das vantagens de conviver com Colin era sua discrição, outro ponto que eu adoro nele e me fazia ter certeza de que o que eu dissesse apenas a ele ninguém mais saberia.

—Acho que vou querer mais uma dessa sua. - Ela comentou se encostando entre o espaço deixado por nossos bancos.

—Outra marguerita, por favor. - Colin pediu ao garçom, alto o suficiente para o bar inteiro escutar.

—Vocês já estão alegres demais, não acham? - Sorri para eles enquanto perguntava e virei o resto da minha bebida ao fim da frase.

—E você de menos. Quer mais uma? - Ela me perguntou no momento exato em que o barman colocou o copo cheio em sua frente. - Obrigada!

—Não, valeu.

—Recatada. - Ela zombou dando um pequeno gole em seu novo copo.

—Sou uma diva. - Entrei na brincadeira e os dois reviraram os olhos para mim.

—Vou ser igual a você quando crescer.

—Isso quer dizer que também vai pintar os cabelos de vermelho? - Colin interrompeu enquanto Luna passava um braço pelo meu ombro, me dando um meio abraço enquanto dizia.

—Como assim também? Nunca pintei os cabelos.

—Isso quer dizer que eu também vou ser fantástica. - Ela continuou como se não tivesse sido interrompida.

—Puxa saco.

Rimos do modo como Colin revirou os olhos com desdém ao falar, e antes que eu pudesse dizer algo eles mudaram de assunto e ouvi com atenção enquanto ela nos contava detalhes sobre o salto de paraquedas que tinha feito com o namorado meio aventureiro em seu último dia de folga.

Luna morava perto dali e foi embora andando, Colin e eu deixamos os carros no hospital e dividimos um táxi que me deixou em frente ao meu prédio antes de levá-lo para casa. Cheguei alguns minutos depois do que deveria se estivesse trabalhando até o horário normal, mas mais relaxada com o desfecho divertido da noite.

No dia seguinte, enquanto pagava o taxista que me deixou no trabalho, senti meu celular vibrar anunciando uma nova chamada. Bati a porta atrás de mim antes de levar o aparelho ao ouvido e cumprimentar a pessoa que provavelmente animaria minha noite de hoje:

—Bom dia, Harry.

—Muito bom dia, Dra. Weasley. Como tem passado?

—Essa semana foi um caos, mas estou bem, e você?

—Estou muito bem também, obrigado. Estou ligando para confirmar nosso encontro de hoje, espero que não tenha desistido.

—Por mim, confirmadíssimo.

—Ótimo! Agora vou desejar o dia inteiro que ninguém se acidente. - Ele riu da própria piada e eu ri de sua risada descontraída enquanto atravessava as portas automáticas do hospital.

—Vou me juntar a você nessa prece. - Falei andando a passos rápidos até o vestiário, parando no meio do caminho apenas para dar um beijo no rosto do Colin. - Oi, gato.

Ele apenas piscou para mim e continuou andando em sentido contrário, mas Harry falou divertido:

—Oi.

—Não você, é outro gato. - Ele riu com a minha resposta.

—Preciso desligar, doutora. Confirmado então às oito e meia na sua casa?

—Confirmado, até lá.

Coloquei o aparelho no bolso e calcei os sapatos apropriados para começar o dia.

A tarde se arrastou tranquila e eu tive vários momentos de tédio entre uma e outra consulta. Faltando apenas meia hora para que eu fosse embora e sem nenhum paciente mais para o dia, me sentei ao lado do meu amigo para jogar conversa fora por um tempo.

Colin estava sozinho ali, então não tivemos problemas em conversar sobre assuntos mais pessoais e divertidos e ele não perdeu a oportunidade de me dar conselhos nada ortodoxos para o jantar de hoje. Quando o relógio indicou cinco horas em ponto anunciei que estava indo embora e ele deu um beijo estalado na minha bochecha antes de eu me levantar.

O balcão da enfermaria fica de frente para a porta da emergência, um local estratégico visto que normalmente são os enfermeiros que identificam o problema antes de chamar o médico com a especialidade correta para atender ao paciente. Por isso antes mesmo de me virar para sair dali a agitação do lado de fora me chamou atenção.

—Preciso de um ortopedista. - O paramédico anunciou empurrando a maca pelo corredor em nossa direção.

—Está de brincadeira. - Comentei para ninguém específico antes de sair correndo em direção a eles.

—O mundo não está te ajudando, gata. - Colin falou quase com um sorriso, sem precisar se esforçar para me acompanhar.

Nos encontramos no meio do caminho e ele despejou as informações sem que eu precisasse perguntar:

—Homem de aproximadamente trinta anos, acidente com fratura na tíbia e grande exposição a bactérias. Ele caiu em um canal de esgoto.

—Cruzes! - Colin exclamou baixinho atrás de mim e eu soube que ele também estava olhando para o tecido empapado de sangue e sujeira na perna dele, cujo mau odor era notável.

—Assumimos daqui, obrigada.

Após o paramédico se virar e sair, nós dois levamos a maca para uma das salas desocupadas na emergência e fechamos a porta. Colin foi direto apanhar luvas e máscaras para nós dois, mas antes de colocar as que ele me entregava tirei o celular do bolso e liguei para Harry, sendo atendida no segundo toque:

—Olá, a que... - Seu tom era receptivo como sempre, mas o interrompi antes que terminasse a frase.

—Harry, você se importa de me buscar no hospital e não em casa? Tive uma emergência e não vou conseguir sair antes. - Falei apressada, indicando que estava com pressa.

—Não, claro que não. Mesmo horário? - Seu tom ficou imediatamente mais sério.

—Sim. - Confirmei com o aparelho preso entre a cabeça e o ombro enquanto prendia melhor o cabelo.

—Tudo bem, é grave?

—Sim. Tenho que ir, tchau.

Enfiei novamente o telefone no bolso antes de proteger as mãos e me virar para o paciente que, ainda bem, estava desacordado.

—Que objetiva. - Meu companheiro observou.

—Tenho que ser, você não tem noção de quão tagarela ele é.

Sua risada ecoou pela sala fechada enquanto eu tirava as ataduras provisórias que estavam ali e o que vi por baixo não me deixou nada animada. O corte era profundo o suficiente para ver que embora a fratura não tenha sido exposta alguns fragmentos de ossos se soltaram e a carne em volta já indicava que a infecção estava se espalhando rapidamente, deixando com aspecto avermelhado e quente uma área considerável.

—Esse aí vai perder a perna, coitado. - Colin afirmou.

—Vamos fazer o possível para que não, mas acho que já era. - Confirmei antes de ministrar os antibióticos e ajudá-lo a limpar a ferida.

A tarefa foi bastante demorada, e o fato de precisar de gesso sobre o machucado não tornavam suas chances melhores. Passamos as horas seguintes debruçados sobre ele, fazendo o possível e monitorando os sinais de que estava surtindo algum efeito, mas nada nos levava a crer no sucesso da tentativa de manter seu membro inferior intacto.

—Não vou esperar mais. Quanto mais demoramos, maior o risco e se chegar à corrente sanguínea perdemos ele. - Decretei por fim e ele assentiu antes de ligar para o centro cirúrgico.

Quando passamos com o paciente ainda adormecido pela emergência em direção aos elevadores havia duas pessoas da família esperando e Colin seguiu em frente enquanto eu parei para dar notícias. Avisar uma pessoa já abalada que a única chance de sobrevivência de alguém que ama é amputar parte da sua perna não é uma das partes que mais gosto da minha profissão, mas eu não tinha como evitar esse momento.

Ele já havia preparado o paciente quando cheguei, mas não participaria da cirurgia comigo, então me desejou sorte e saiu enquanto eu higienizava as mãos. Quando entrei no centro cirúrgico o encontrei já sedado e anestesiado e a partir daí o resto mundo ficou do lado de fora.

Quando finalmente saí de lá joguei as luvas no lixo e fui avisar aos familiares que tudo tinha corrido bem e orientá-los a estar aqui quando o paciente acordasse, o que provavelmente aconteceria em duas ou três horas. Eles me agradeceram e tiraram algumas dúvidas antes de seguir na direção indicada por mim e eu me encostei ao lado de Colin, que estava ali por perto.

—Como foi?

—Um sucesso, apesar do estrago. Ele vai conseguir adaptar bem a prótese.

—Que bom. - Comentou e se debruçou para mais perto de mim. - Que horas você tinha marcado seu encontro mesmo?

Só então me lembrei que eu supostamente deveria estar em um jantar agora, ou, se tivesse sorte dessa vez, em um lugar que não envolvesse tanta gente e nem tanta roupa.

—Merda! Que horas são? - Perguntei apressada, já puxando o celular do bolso.

Eu odiava até mesmo me atrasar, imagina deixar alguém esperando sem nenhum tipo de satisfação.

—Quase onze. Ele esteve aqui, perguntou por você umas oito horas e eu disse que você estava em cirurgia, depois saiu e eu não o vi mais. - Informou enquanto eu completava a ligação. - Bonito e educado, uma raridade.

—Finalmente! - Ele atendeu sem me parecer incomodado por ter sido esquecido.

—Desculpe Harry, as coisas se complicaram um pouco e eu não consegui avisar. – Me apressei a explicar.

—Não tem problema, eu perguntei de você para um enfermeiro da emergência e ele me informou que estava no meio de uma cirurgia. Deu tudo certo?

Colin fingia olhar o movimento em volta, mas eu sabia que ele estava prestando atenção em cada palavra que eu dizia.

—Sim, foi tudo bem. Desculpe mesmo te fazer vir aqui à toa, espero que não tenha esperado muito antes de ir para casa.

Ele deu uma risada baixa antes de dizer:

—Mas eu não fui para casa, só não achei que seria apropriado te esperar aí dentro já que você falou antes a respeito daquela coisa toda entre médico e paciente. Estou te esperando no estacionamento.

—Você está me esperando até agora? - Questionei surpresa e Colin imediatamente parou de fingir não prestar atenção e me olhou boquiaberto.

—Sim. - Falou como se fosse óbvio. - A menos que você esteja cansada e queira ir para casa, aí eu vou embora, mas para mim ainda há um encontro.

—Por mim tudo bem. - Respondi meio em dúvida sobre o que dizer. - Me dá um minuto só para eu pegar minha bolsa e te encontro aí. Em qual setor do estacionamento?

—No mesmo lugar onde te deixei. - A empolgação em sua voz era totalmente oposta ao que eu esperava de alguém esperando há quase três horas.

—Ok, até daqui a pouco.

Quando encerrei a ligação meu amigo ainda me encarava com surpresa e tenho certeza que eu o olhava da mesma forma.

—Ele está te esperando até agora?

—Sim, e eu não sei se fico honrada ou com medo, porque não sei se isso quer dizer que ele é perseverante ou psicopata. - Colin riu com vontade quando eu expressei minha dúvida.

—Aquele ali não tem nada de psicopata, gata, acredite em mim.

Como ele havia trabalhado por anos na ala psiquiátrica antes de vir para a emergência eu acreditei, afinal ele provavelmente conhecia esse tipo de gente melhor do que eu.

—Então nesse caso já vou indo, ainda tenho um encontro. - Pisquei em sua direção e recebi um beijo no rosto em troca.

—Divirta-se. - Ele desejou quando me virei para ir até o vestiário.

Soltei o cabelo em frente ao espelho e deixei o jaleco no armário onde antes estava minha bolsa. Troquei o tênis pela sapatilha confortável e bonita com que cheguei aqui pela manhã e saí em direção ao local onde Harry estava me esperando. Ao longe o vi encostado no capô do carro com a mesma pose despretensiosa em que já o tinha visto outras vezes: a mão no bolso e o braço quebrado apoiado em frente ao corpo dentro da tipoia.

—Olá, doutora. - Me cumprimentou com um sorriso enorme e lindo quando cheguei perto o suficiente para tocar nele, caso esticasse a mão.

—Desculpe de novo por não ter avisado.

Ele revirou os olhos enquanto se encostava melhor e então disse:

—Você não precisa se desculpar, eu entendo que não foi por mal e na sua profissão nem sempre te dá tempo. Além do mais não vejo problema em esperar alguns minutinhos e eu consegui passar várias telas do Animanix enquanto isso. - Harry foi modesto ao falar do tempo em que o deixei plantado, mas o que me chamou atenção foi seu passa tempo.

—O joguinho de celular?

—Sim, você também joga?

—Não, mas foi meu irmão que desenvolveu.

—Ah meu Deus, já sou fã do seu irmão! - Exclamou com os olhos brilhando diante da notícia.

Ri da sua felicidade por um motivo tão bobo e troquei o peso de uma perna para outra antes de convidar:

—E então, vamos?

—Claro, mas temos um problema. Essa hora minha reserva já era, então temos que pensar em algum outro lugar.

Sua expressão não dizia que ele considerava aquilo um problema, e eu suspeito que seja porque o desfecho mais previsível dessa história seja exatamente aquele que eu sugeri:

—Quer ir para minha casa? Compramos qualquer coisa para comer no caminho e jantamos lá.

O sorriso presunçoso e cheio de expectativa que Harry abriu me fez sorrir de volta, e embora não tenha expressado nenhuma reação além dessa eu pude ver que por dentro ele repetiu o mesmo gesto de vitória que fez quando o elogiei no supermercado.

—Ótima ideia.

—Gosta de comida chinesa? - Questionei a única opção de restaurante que eu sabia estar aberto essa hora e que servia para viagem.

—Adoro.

—Então me segue, conheço um lugar que vende um yakissoba ótimo.

Ele concordou e entrou no carro, o meu não estava muito longe dali e eu andei apenas alguns passos até fazer o mesmo e finalmente irmos em direção ao nosso encontro.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal.
E então, agora sai esse encontro? ;) Parece que as circunstâncias estão adiando cada vez mais, mas uma hora vai acontecer!
Espero que tenham gostado do capítulo, aguardo ansiosa para saber o que acharam.
Não deixem de comentar e me dizer!
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Beijos e até semana que vem.



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