Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 30
Capítulo 30




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Sábado chegou mais rápido do que eu esperava, e quando dei por mim já estava no vestiário me trocando para sair do hospital direto para a casa dos pais dele, pouco antes das seis da manhã. Harry já estava me esperando na recepção e eu sabia que deveria me apressar, mas estava um pouquinho nervosa e me permiti vestir com calma a roupa que separei para esse momento.

Depois de soltar o cabelo e conferir no espelho que estava tudo certo, peguei a bolsa sobre o banco e saí para encontrá-lo. Cruzei os corredores vazios a essa hora da manhã, e o avistei quando dei o primeiro passo para dentro da recepção, minha movimentação chamou sua atenção e ele me  lançou um sorriso animado. Antes que eu conseguisse sorrir de volta, ouvi passos apressados e o chamado às minhas costa:

—Gin!

Quando virei para ver de quem se tratava, dei de cara com Allan Halks, um cardiologista que eu conhecia desde que comecei a trabalhar aqui.

—Oi, Allan. - Cumprimentei e parei para ver o que ele queria.

—Você já está indo embora, não é? - Confirmei com um aceno e ele pareceu levemente desconcertado em me atrasar. - Desculpa te atrapalhar, mas você pode me dar sua opinião sobre um raio-X? Pedi radiografia de tórax de uma criança de doze anos que está internada, e acho que ele tem sinais claros de maus tratos nas costelas.

—Claro, vamos lá. - Confirmei e me virei para sinalizar ao Harry que não iria demorar.

Tive apenas um segundo para registrar seu olhar avaliador antes que meu colega de trabalho apoiasse a mão nas minhas costas, indicando de forma cortês o caminho já conhecido. Pedi mais alguns detalhes e que ele explicasse melhor as suspeitas antes de chegarmos ao consultório dele e estudar com cuidado as radiografias que, segundo minha opinião profissional, comprovavam o que ele achava estar acontecendo.

Expliquei para ele os argumentos que deveria usar e fizemos o caminho inverso alguns minutos depois, eu para ir embora e ele para tomar o elevador que também ficava na recepção.

—Tchau, Gin, obrigado. - Se despediu quando chegamos ao nosso destino.

—De nada, se precisar de ajuda com mais alguma coisa, me avisa. - Ofereci com um sorriso.

Harry não estava sorrindo tanto quando dei mais alguns passos até ele, continuou com a revista que estava folheando aberta no colo e olhando para um ponto fixo atrás de mim com o semblante avaliador. Quando o alcancei, ele deixou de lado a notícia que estava lendo e se levantou para me dar um beijo.

—O que foi? - Perguntei, estranhando a reação.

—Nada, só olhando. - Se inclinou um pouco e me deu um selinho. - Bom dia.

—Bom dia, Ursinho.

—Já podemos ir?

Concordei com um aceno e saímos de mãos dadas para o ar gelado do estacionamento. Ele estava muito calado e pensativo, o que não deixei de achar estranho, mas também não falei nada porque sabia que ele não aguentaria e me contaria o que era. O que aconteceu no segundo seguinte ao que tal pensamento me ocorreu.

—Agora toda vez que vejo um médico aqui eu fico pensando se ele está naquela sua listinha. - Comentou meio contrariado.

Não precisei de maiores explicações para entender que ele se referia à informação de que eu já havia saído com colegas de trabalho antes de nos conhecermos, e sem nenhum constrangimento gargalhei da sua linha de raciocínio, o deixando propositalmente de cara fechada para mim.

—Esse aí faz? - Perguntou depois de um momento de silêncio. - Todo mundo aqui te chama de Dra. Weasley, ele te chama de Gin e você o trata pelo primeiro nome. - Explicou emburrado.

Definitivamente eu gostava de vê-lo com ciúmes.

—Você quer mesmo saber? - Falei olhando para ele, mas seu olhar continuou direcionado ao percurso até o local onde deixou o carro estacionado. - Eu te conto se quiser,mas se lembre que é você que está perguntando.

—Nem precisa mais, eu já entendi. Obrigado. - Agradeceu irônico e a contragosto.

Segurei a vontade de rir de novo e tentei soar o mais séria possível.

—Harry. - Chamei e me olhou, incentivando a continuar. - Se você tiver um ataque cardíaco comigo eu não vou saber muito bem o que fazer, não quer voltar lá e pedir uma consulta? Ele é cardiologista e tenho certeza que arruma um tempinho se eu pedir. Ai! - Reclamei em meio a outra gargalhada quando ele me deu um tapa na bunda.

Nos soltamos para entrar no carro e me inclinei para beijar seu pescoço quando ele se acomodou sério do meu lado.

—Que sorrisinho mais sádico. - Comentou, me olhando de canto.

—Estou me sentindo levemente vingada. - Confessei satisfeita.

—Não conhecia esse seu lado. - Resmungou, dando partida no motor e iniciando nossa viagem.

—Sua sorte é que ele não aflora sempre.

Ele riu com a minha resposta e fez um carinho rápido na minha bochecha antes de voltar a mão ao volante.

—O meu lado vingativo também está aflorado hoje, então vou te contar uma coisa. - Falou com um sorriso de canto e eu o olhei desconfiada. - Até porque você vai saber de qualquer jeito.

—Não sei por que, mas já comecei esse assunto não gostando dele.

Ele riu sem desviar os olhos da rua a frente.

—Sou o padrinho da Meg, Mike e Lisa nos chamaram para jantar duas semanas atrás e fizeram o convite.

Eu nem precisava ouvir o resto para entender, mas perguntei depois de respirar fundo.

—Quem é a madrinha, Harry?

—A titia Kate. - Contou com um sorriso, me olhando de canto.

—Claro, quem mais? - Rolei os olhos. - Quando eu vou conhecer essa garota, hein? Vai acontecer mesmo, prefiro não adiar o inevitável.

Cruzei os braços e olhei pela janela.

—Vou ver quando ela pode e marco alguma coisa. - Prometeu. - Tenho uma fofoca para compartilhar também.

—Lado fofoqueiro também aflorado? O próximo assunto é a novela das nove? - Ironizei e ele gargalhou.

—Ela está apaixonadinha pelo Dave.

—A Kate? - Ele concordou com um aceno. - Coitada.

—Olha só, Ratinha, você já está até tendo empatia por ela. Isso que eu chamo de evolução. - Provocou.

—Fica quieto, Harry. - Pedi tentando soar brava, mas ri com ele ao final.

—Quer dormir um pouquinho? Chamo você quando estiver perto.

—Quero, a noite foi bem agitada. - Me inclinei e dei um beijo no rosto dele. - Dirija com cuidado.

Voltei a me acomodar no meu assento e fechei os olhos, concentrada em relaxar. Contar ao Harry o que aconteceu mudou um pouco a minha forma de encarar algumas coisas com ele, porque agora eu sabia que ele me entenderia e não insistiria se algumas coisas me incomodassem. Não ter que disfarçar ou me preocupar com a reação dele era tão reconfortante que em poucos minutos a inconsciência me levou.

—Gin, chegamos. - Ouvi a voz suave dele me chamando, ainda um pouco distante.

Pisquei algumas vezes e cocei os olhos para conseguir focar o cenário em volta, que havia mudado radicalmente desde que saímos da cidade em que moramos. A rua, repleta de árvores, do que me parecia ser um condomínio fechado, era calma e estava deserta devido o horário, ao longe era possível enxergar algumas inclinações completamente verdes e daqui eu não identifiquei nenhum prédio.

Estávamos estacionados em frente a uma casa de dois andares que parecia muito espaçosa quando vista de fora. As paredes pintadas de bege e com acabamento rústico faziam contraste com esquadrias e portas de madeira, dando um ar de elegância e modernidade que contrastava harmoniosamente com o cenário calmo e de interior.

Harry parou o carro no lugar que provavelmente foi feito para ele, ao lado de outras duas vagas e próximo a um pequeno jardim bem cuidado, mas não tão colorido assim por causa do frio que eu pude sentir ao descer do veículo. Ele abriu o porta malas e me deu espaço para pegar a minha mochila de roupas antes de também enroscar a dele no ombro e caminhar até a entrada com a mão presa na minha.

Antes de alcançarmos a porta, me ocorreu uma coisa na qual ainda não tinha pensado e eu o puxei, fazendo-o se virar para mim.

—Eles vão perguntar dos meus pais, não vão? - Perguntei mordendo o lábio, já incomodada.

—Já perguntaram para mim.

—E o que você disse?

—Que foi acidente de carro e você não gosta de falar sobre isso, não vão te perguntar nada.

Suspirei aliviada.

—Obrigada.

Ele tocou a campainha e se virou para mim com um sorriso enorme e empolgado que eu não consegui retribuir na mesma medida, o que lhe arrancou uma risada.

—Se eu soubesse que para te deixar sem graça era só apresentar a minha mãe, a teria levado no nosso primeiro encontro.

—Você tem uma mania estranha de querer me deixar sem graça que eu não entendo.

—Quando você respondia à altura as minhas investidas e a gente ainda nem se conhecia, eu queria mesmo te ver sem graça só para ver como era. - Falou me puxando para um abraço e eu cruzei os braços ao redor da cintura dele. - Agora eu faço só porque descobri que você fica mais linda com as bochechas vermelhas.

Terminou dando um beijo no meu rosto, no mesmo momento em que a porta se abriu e uma mulher de olhos tão verdes quanto os dele e sorriso enorme nos encarou com expectativa.

—Oi, mãe. - Harry se virou imediatamente e a envolveu num abraço carinhoso.

Ela era um pouquinho mais alta do que eu, mas ainda assim muito mais baixa do que o filho, e precisou se esticar um pouco para pregar-lhe um beijo demorado no rosto e fazer um carinho rápido nas bochechas dele, olhando-o como se ele fosse a coisa mais linda do mundo.

—Tudo bem, meu amor?

—Tudo. - Falou já se virando para mim, involuntariamente senti meu rosto quente. - Mãe, essa é a Gin.

—Olá, muito prazer. - Cumprimentei com um sorriso contido.

Me adiantei e parei em frente a ela meio sem saber o que fazer, mas Lily não me deu tempo de pensar muito e me puxou pra um abraço daqueles tão carinhosos que não há outra coisa a fazer que não retribuir da mesma forma. Quando nos soltamos, ela colocou as mãos no meu rosto e me olhou por alguns segundos antes de me dar um beijo também.

—Olá, querida, eu estava ansiosíssima para te conhecer, o prazer é todo meu. - Afirmou radiante. - Vamos, entrem.

Ela se afastou e eu senti a mão do Harry nas minhas costas, me guiando para dentro da ante sala decorada apenas com um espelho, duas poltronas beges e um pequeno aparador. Eu tinha a intenção de esperá-la fechar a porta e seguir na frente, mas ele não viu a mesma necessidade e continuou me arrastando até a sala ampla ao lado, decorada de um jeito que meu primeiro pensamento foi de que Hermione adoraria o bom gosto desse lugar.

Harry tirou a mochila do meu ombro e jogou junto com a dele e a minha bolsa em cima do sofá, acabando com a organização imaculada. Lily não viu ou já estava muito acostumada, porque pareceu não se importar quando passou por nós.

—Estão com fome? Eu os esperei para tomar café.

—Estamos. - Ele respondeu por nós dois e me guiou até a sala de jantar, onde a mesa já estava posta.

Harry se sentou ao meu lado e ela de frente para nós.

—O que você come pela manhã, Gin? Eu não fazia ideia, então variei um pouco o cardápio.

—Não precisava se incomodar, Lily. - Respondi um pouco sem graça pela atenção completamente voltada para mim.

—Café com leite? - Harry percebeu e me chamou.

—Por favor. - Lancei um olhar agradecido e peguei a caneca cheia que ele me entregou. - Obrigada.

—Cadê o meu pai? - Perguntou apertando minha coxa por baixo da mesa, num gesto familiar e reconfortante.

Lily o informou que o pai precisou sair por alguns minutos para resolver algum problema inesperado no carro dele e que voltaria em breve, mas ela não parecia muito interessada em conversar com o filho nesse momento e logo se virou para mim de novo, a satisfação e a curiosidade estampadas no rosto, e eu me vi respondendo e fazendo perguntas, cada vez mais confortável em meio aos dois.

Ela parecia cada vez mais satisfeita com tudo o que eu falava e me olhou maravilhada durante todo o tempo em que dei os detalhes que ela perguntou a respeito do meu trabalho e da rotina no hospital, o tempo todo pontuando a conversa com comentários apropriados e elogios. Harry, por sua vez, acompanhou nossa conversa quase sem dizer nada, nos dando espaço para conhecer uma a outra e parecendo muito relaxado, mais feliz impossível.

A conversa se estendeu por vários minutos após terminarmos de comer, e por mais que estivesse interessante, a noite em claro no trabalho começou a me deixar com sono. Eu estava dividida entre ouvi-la me contar sobre o trabalho como historiadora e pensar numa forma de dizer que precisava dormir um pouquinho sem parecer mal educada, mas novamente não precisei fazer isso.

—Mãe, a Gin deve estar com sono, ela trabalhou desde ontem de manhã. - Harry falou quando ela deu uma pausa entre finalizar esse assunto e começar o próximo.

—Ah, é mesmo, você me disse que ela viria direto do hospital. - Falou alarmada e com a expressão culpada. - Me desculpe, querida, está sendo tão legal finalmente te conhecer que eu acabei esquecendo.

—Não se preocupe, eu também me distraí e até esqueci um pouco o cansaço. - A tranquilizei. - Mas se eu não descansar um pouco agora, vou morrer de sono mais tarde.

—Mas é claro, nem sei como consegue ficar tanto tempo acordada, precisa repôr essas energias. - Concordou sensatamente. - Mostre seu quarto a ela, Fofuxo. - Precisei de um esforço muito grande para não rir quando ele a repreendeu com o olhar. - Fique a vontade e descanse, Gin, se precisar de qualquer coisa basta me avisar.

—Obrigada, Lily, mais tarde continuamos o assunto.

Segui o Harry até a sala, pegamos as coisas que ficaram sobre o sofá e fui na frente quando ele me indicou a escada. Ao fim, me deparei com um corredor longo por onde caminhamos até entrar na segunda porta à direita, no cômodo que não podia ser outra coisa que não o quarto dele.

—Não sei por que não me surpreendo. - Comentei assim que entrei e ele me acompanhou rindo, fechando a porta atrás de nós.

A parede ao fundo, onde a cama de casal estava encostada, era azul marinho, do mesmo tom da cortina que contornava a janela aberta com vista para um quintal espaçoso e repleto de grama. A estante ao lado tinha muito mais livros do que na casa dele, e eu já achava que lá ele tinha muitos, duas prateleiras baixas continham fileiras de CDs muito bem organizados e abaixo da TV grudada na parede, em frente a cama, havia um nicho sobre o qual repousava um vídeo game de última geração e uma coleção do que suspeito serem jogos.

—O que está achando depois que parou de achar estranho? - Perguntou se jogando de lado na cama, o cotovelo no colchão para servir de apoio.

—Adorei sua mãe, ela consegue ser ainda mais amável pessoalmente do que pelo telefone. - Me sentei com as costas apoiadas nele. - E não querendo ser indelicada, mas ela é muito jovem. - Comentei impressionada.

—É que você ainda não conheceu meu pai, os dois são. Eu sou o acidente mais legal da vida deles, Ratinha, estava totalmente fora dos planos. - Contou divertido, me arrancando uma risada.

—Quantos anos eles tinham quando você nasceu?

—Dezoito, ele é só três meses mais velho que ela.

—E não quiseram ter mais filhos?

—Não, mas eu queria ter tido um irmão, é chato ser filho único.

—Eu e o Ron começamos a nos entender e conversar quando eu já era adolescente e ele casado, então fui praticamente filha única a infância inteira e eu não achava chato.

—Mas hoje vocês dois têm um ao outro e a melhor relação de irmãos do mundo, eu continuo sendo filho único. - Deu de ombros ao final da frase, pensativo.

—Coitadinho. - Zombei e prendi o rosto dele no meu peito, em um abraço forçado.

Ele se afastou rindo e deitou de costas na cama.

—Obrigado por ter vindo, me deixou muito feliz. - Falou com a mão no meu rosto, acariciando minha bochecha.

—Você me convida de novo da próxima vez que sua mãe for fazer aquele bolo gelado? - Ele gargalhou do meu pedido e me puxou para um beijo rápido.

—Convido. - Prometeu sorridente. - Ela ia amar o elogio e saber que você pensa em voltar, só pelo jeito que ela te tratou já sei que adorou você.

—Então se surgir o assunto eu digo a ela. Eu vou tomar banho, ta bom?

—Ta bom. Acho que minha mãe deixou toalha pra gente no banheiro, se não tiver, me avisa que eu pego. - Indicou a porta ao lado, onde eu encontraria tudo. - Vou te esperar aqui, quando você terminar eu desço.

—Obrigada. - Dei mais um selinho demorado nele e me levantei.

Quando voltei ao quarto, poucos minutos depois, encontrei a janela e as cortinas fechadas, deixando-o confortavelmente escuro. Deixei minhas roupas sobre a mochila no chão e me deitei ao lado do Harry, que estava me esperando.

—Quer mais alguma coisa? - Perguntou prestativo, me acomodando num abraço.

—Não, obrigada.

—Se precisar ou quiser, me avisa, ta bom?

—Pode deixar.

—Vou descer e ficar com a minha mãe um pouco, ouvir todos os elogios que ela vai fazer a você e jurar que estou me alimentando direito. - Contou e me deu um beijo enquanto eu ria.

—Me acorda daqui umas quatro horas? - Pedi, me acomodando embaixo do edredom esticado.

—Não é muito pouco, não?

—Não quero passar o tempo todo dormindo, é suficiente até a noite quando todo mundo for dormir.

—Ta bom, então. - Se inclinou e me deu mais um beijo. - Durma bem.

Ele fechou a porta ao passar e eu me acomodei confortável na cama dele. Quando eu pensava no momento de conhecer esse lugar, não imaginava me sentir a vontade, mas a questão é que eu estava me sentindo tão confortável em meio a toda aquela demonstração de cuidado, rodeada por jogos de vídeo game e tudo que mais tinha a cara dele, que não tive nenhuma dificuldade para cair no sono.

Acordei lenta e espontaneamente, totalmente perdida quanto ao horário e me sentindo muito descansada. Pisquei algumas vezes no quarto escuro e ouvi vozes indistintas e alegres vindas do andar de baixo. Me arrastei para fora da cama e puxei o celular de dentro da bolsa para ver as horas, me surpreendi quando percebi que já passava das duas da tarde e Harry não tinha me acordado no horário que eu pedi.

Entrei no banheiro resmungando, e após espantar o melhor possível a cara de sono, me vesti e abri de novo a janela antes de sair do quarto, deixando tudo como estava. No corredor as conversas ficaram mais nítidas e pude ouvir com clareza o Harry respondendo o que me pareciam dúvidas sobre variação cambial, ou alguma dessas coisas chatas que ele entende.

—Você não olhou o último extrato que te mandei?

—Eu nem olho essas coisas. - Uma voz que até então eu desconhecia respondeu.

—Pai, tem que olhar! - Ele o repreendeu. - Como você vai saber que está tudo investido certinho?

—Você disse que está, por que vou ficar conferindo isso?

Terminei de descer as escadas a tempo de vê-lo revirar os olhos para o pai, despreocupadamente deitado no sofá. James estava de costas para mim, ao lado da esposa, e por isso não me viram, mas o sorriso do Harry foi suficiente para fazê-los me olhar.

—Pronto, pai, mate sua curiosidade. - Apontou na minha direção. - Essa é a Gin.

Um homem muito mais jovem do que eu imaginava como pai dele se levantou e me olhou animado, dando alguns passos na minha direção com os braços estendidos num convite claro para um abraço. Depois de me soltar, ele continuou segurando minhas duas mãos.

—É um prazer finalmente conhecê-la. - Quando abri a boca para falar ele me interrompeu. - E nada de senhor, por favor, me chame de James.

—O prazer é meu, James. - Respondi um pouquinho sem jeito.

Ele voltou a se acomodar do lado de Lily e Harry me deu espaço para sentar e apoiar a cabeça no meu colo.

—Dormiu bem? - A mãe dele me perguntou e eu desviei a atenção para ela.

—Muito bem, obrigada.

—Eu ia te chamar, mas minha mãe não deixou. - Ele se adiantou, sabendo que eu perguntaria.

—Claro que não, ele tem que te deixar dormir o suficiente depois de uma noite em claro. - Afirmou incisiva. - Estávamos te esperando para almoçar, acho que já vou colocar a mesa.

Ela e James se levantaram e saíram em direção à cozinha, nos deixando sozinhos na sala.

—Quem ditava as horas da refeição era eu, sabia? Não roube meu protagonismo, Ratinha. - Me ameaçou com o olhar e eu ri com vontade.

Não me surpreendeu o cardápio ser a tão famosa macarronada de família que, segundo o Harry, era ainda mais gostosa quando feita pela mãe, opinião com a qual eu fui obrigada a concordar depois da primeira garfada. Mas o destaque gastronômico ficou por conta do pudim de brigadeiro que ela preparou para a sobremesa.

—Lily, isso está maravilhoso! - Elogiei e ela pareceu radiante ao ouvir. - E eu achando que o bolo gelado era a melhor coisa que já tinha comido na vida.

—Que bom que gostou. Resgatei essa receita quando o Harry me disse que você adora brigadeiro, fiz uma vez pra ele quando era criança, mas ele não gostou.

Ela pareceu afrontada pelo filho não gostar de algo que ela preparou, e eu indignada que ele não gostasse de uma coisa tão boa.

—É muito enjoativo. - Justificou para o meu olhar incrédulo.

—Eu como a sua parte. - Dei de ombros ao apontar a vantagem, a mãe dele riu satisfeita.

James me impediu veementemente quando tentei ajudá-lo a tirar as coisas da mesa, e eu voltei a me acomodar ao lado do Harry, que nem tentou se mexer de onde estava, para continuar conversando com a mãe dele, que parecia ter uma reserva de assuntos para todos os momentos.

—Amor, vou buscar meu carro. - James falou para a esposa minutos depois, quando voltou. - Quer ir comigo, filho?

Ele me olhou parecendo desconcertado por me deixar sozinha.

—Vai. - O incentivei.

Harry me deu um beijo rápido e se levantou para alcançar o pai que já estava na sala.

—Tchau, mãe. - Gritou antes de fechar a porta.

Quando ficamos sozinhas, ela continuou me contando sobre a pequena cidade em que morava e que, segundo suas próprias palavras, estava mais do que satisfeita em sair daquela correria e agitação para aproveitar a tranquilidade do interior.

—Demoramos mais para nos decidirmos de vez porque já sabíamos que o Harry não viria junto e teríamos que deixá-lo lá sozinho, mas ele se vira bem. - Deu de ombros, talvez um pouco ressentida por ele não precisar mais dela.

—Essa calmaria daqui é ótima de vez em quando, mas não me parece ser a cara dele para passar todos os dias.

—Não é mesmo, até quando era criança ele parecia entediado quando ficávamos muitos dias em lugares assim. - Ela se iluminou com uma ideia e me olhou conspiratória. - Eles provavelmente ainda vão demorar, quer ver algumas fotos?

Confirmei curiosa pelo que veria, e ela me convidou para acompanhá-la quando subiu as escadas. Passamos direto pelo quarto do Harry e entramos no último aposento ao fundo, muito mais amplo, com uma pequena varanda e a decoração muito mais adulta e amena, onde eu supus ser o quarto dela. Olhei discretamente em volta quando Lily sumiu por uma porta onde imaginei ser o closet,  de onde voltou com uma caixa média nas mãos.

—Senta aqui. - Ela me chamou e colocou a caixa sobre o colchão entre nós.

Dentro encontrei vários álbuns organizados em fileiras e esperei ela encontrar o que estava procurando para me entregar. A primeira foto era de um bebê gorducho com olhos verdes enormes, usando apenas fralda e sentado em cima de uma mesa, atrás uma Lily muito mais jovem e sorridente o segurava e olhava maravilhada enquanto ele mordia a própria mão.

—Que coisinha mais linda. – Comentei rindo para a foto e chamando a atenção dela.

—Ele era mesmo, olha essa carinha. – Falou saudosa. – Você atende crianças, Gin?

Virei a página antes de responder, olhando as próximas.

—Pequenas assim é bem difícil, só quando não tem nenhum pediatra disponível, mas atendo as maiores, a partir de sete anos.

—E você gosta?

—De crianças, sim, mas eu prefiro atender adultos.

—Crianças choram, não é?

—Não por isso, adultos também, o Harry mesmo gritou nem um pouco discretamente quando eu coloquei o braço dele no lugar. – Ela riu com vontade e me entregou o próximo álbum. – Os pais é que deixam o atendimento difícil, eu entendo que eles tenham dó, mas alguns não entendem que as vezes dói mesmo, mas tem que ser feito.

—A fratura dele foi grave? Ele me disse que não, mas sempre diminui as coisas.

—Não, foi bem simples, apesar de ter saído do lugar, e ele seguiu todas as recomendações de cuidado, então é ainda mais rápido.

—Olha essas! – Mudou de assunto, me entregando as próximas fotos. – Ele já tinha uns cinco anos.

Não havia uma foto sequer que ele não estivesse rindo abertamente, mostrando todos os dentes que ainda não tinham caído.

—Que criança mais feliz. – Comentei mais para mim mesma.

Quando chegamos nas fotos de adolescente, eu já conseguia reconhecê-lo entre o grupo de amigos, apenas a falta de barba e a expressão ainda um pouco infantil o diferenciavam de agora.

—É o Mike? – Perguntei, apontando um garoto ao lado dele numa foto de grupo.

—Sim, eles tinham uns dezesseis anos aí.

Pelas camisetas iguais, deduzi ser a turma da escola, depois disso não consegui evitar olhar mais atentamente para cada um dos rostos femininos, tentando identificar quem era Catia Bell.

Lily e eu olhamos para a porta quando ouvimos passos no corredor, e Harry surgiu um segundo depois, mas a expressão dele se fechou quando viu o que estávamos fazendo.

—Mas já, mãe? – Reclamou se aproximando e deitando atrás de mim. – Não podia esperar mais um pouco?

—Por que esperar? Você era uma gracinha. – Perguntei e continuei virando as páginas.

—Cadê o seu pai? – Lily quis saber, estranhando que apenas ele tenha entrado.

—Está lá embaixo, já faz um tempo que chegamos. – Respondeu, batendo os dedos na minha coxa enquanto cantarolava bem baixinho, quase sem emitir som.  – Não íamos sair pra jantar?

—Ainda vamos, que horas são?

—Quase sete.

—Já? – Eu e ela perguntamos em uníssono e ele assentiu.

—Você nem terminou de olhar, Gin. – Lamentou.

—Não tem problema, Lily, eu termino da próxima vez.

Esperamos ela guardar novamente a caixa no lugar onde estava e voltar até o quarto.

—Mãe, vamos nos arrumar e esperamos vocês lá embaixo. – Harry falou se levantando e estendendo a mão pra mim. – Vem, Ratinha.

Senti minhas bochechas ficando quentes assim que o apelido foi pronunciado.

—Ratinha? – A mãe dele perguntou divertida.

—Eu demorei um pouco pra me acostumar também. – Falei sem graça, fazendo os dois rirem.

Harry foi direto tomar banho quando entramos no quarto e eu gastei apenas cinco minutos para vestir uma roupa simples e bonita e calçar minha sapatilha, confortável o suficiente para não haver problemas caso eles quisessem fazer alguma outra coisa além de jantar. A franja estava me atrapalhando um pouco, então de frente para o espelho do banheiro a puxei para trás e prendi com um grampo decorado com algumas pedras.

Eu já estava pronta, então o esperei terminar de tomar banho e se vestir para descermos juntos até a sala vazia. James e Lily demoraram um pouco ainda para aparecerem e por isso nem se sentaram, apenas nos chamaram e saímos de casa.

A cidade não era muito grande, o clima ali era calmo e agradável. O restaurante que eles escolheram tinha uma varanda externa espaçosa e ainda assim estava cheio, revelando-se um espaço aconchegante e animado na medida certa. James se adiantou para informar que esperaríamos uma mesa e se juntou a nós logo depois para aguardar.

Harry passou os braços à minha volta e se encostou atrás de mim para continuarmos conversando enquanto aguardávamos um lugar disponível. O pai dele era bem piadista e tinha um senso de humor engraçado, então os minutos que ficamos ali de pé foram cheios de risadas.

Senti minha franja cair no rosto quando o grampo escorregou e levei a mão imediatamente ao cabelo para tentar segurá-lo, mas não encontrei.

—O que foi? – Harry perguntou quando me afastei um pouco para conseguir tatear o cumprimento dos fios.

—Meu grampo escorregou.

Ele deu um passo atrás e senti quando o desenroscou de uma mecha para me entregar.

—Obrigada. – Coloquei no bolso da calça e joguei o cabelo para trás, o que agora eu teria que repetir a cada poucos minutos.

—Não vai colocar?

—Sem espelho é ruim

—Eu coloco pra você, Gin. – Lily se desvencilhou do abraço do marido e parou na minha frente com a mão estendida.

Entreguei o grampo para ela um pouco sem graça, e virei a cabeça para o lado em que minha franja caía. Ela separou a mecha que prenderia e deslizou os dedos pelos meus cabelos de um jeito tão suave e carinho que me deu vontade de fechar os olhos para aproveitar melhor. Não era nem de longe como o Harry fazia, não tinha o peso familiar da mão do Ron, nem a precisão profissional de um cabeleireiro.

O toque dela era paciente e gentil de um jeito que eu já tinha sentido antes, tanto tempo atrás que a memória já começava a apagar. Talvez fosse a familiaridade que me fez engolir em seco o nó que tomou conta da minha garganta de repente. Tentei pensar em outra coisa, mas um lado muito carente dentro de mim insistia em se concentrar completamente na mão que agora deslizava com cuidado o grampo pelos fios arrumados no lugar.

—Pronto. – Anunciou, olhando orgulhosa para a minha franja firmemente presa no lugar. – Se soltar de novo você me avisa.

—Obrigada. – Respondi sorrindo para ela e tentando me decidir internamente se eu queria que meu grampo escorregasse a cada dez minutos ou não.

Dei um passo atrás e voltei para o abraço do Harry enquanto ele conversava com o pai, o que felizmente me tirava a necessidade de dizer algo até que eu estivesse segura de que minha voz sairia normalmente outra vez.

Conseguimos uma mesa poucos minutos depois e estendemos nosso tempo ali muito mais do que o necessário para apenas jantar. Enquanto conversávamos em meio a muitas risadas e um prato e outro, me toquei que os três eram muito bons em me fazer sentir como da família, porque eu estava completamente confortável.

Voltamos para casa já bem tarde, por isso James e Lily nos deram um beijo de boa noite e foram direto para o quarto. Assim que eles sumiram pela escada, Harry se sentou no sofá e me puxou para o colo dele.

—Para quem estava achando rápido demais, você está se saindo muito bem. – Zombou, me prendendo em um abraço e afundando o rosto no meu pescoço.

—Agora eu entendo porque sua mãe te chama de Fofuxo, você era uma gracinha quando bebê.

—Eu ainda sou uma gracinha. – Corrigiu convencido.

—Só que agora não tem mais todas aquelas dobrinhas.

—É só passar uma semana aqui que eu ganho.

—Agora eu posso concordar com você. Tem alguma coisa em que sua mãe não seja boa? Porque em cozinhar e fazer filho bonito ela é ótima.

Sua gargalhada me fez cócegas e eu afastei um pouco meu pescoço da boca dele.

—Em fazer filho bonito ela é espetacular.

Rolei os olhos para ele, mas não discordei.

—Vamos subir?

Ele concordou com um aceno e apagou a luz antes de subirmos as escadas. Assim que entramos no quarto dele, troquei a roupa pelo pijama e me deitei ao lado dele, já confortavelmente acomodado sob o edredom.

No dia seguinte descemos juntos para tomar café com os pais dele, que já estavam sentados à mesa, e fomos recebidos com o que eu imagino ser o melhor humor matinal do mundo. Enquanto eu me revezava entre todas as coisas gostosas à minha frente, o assunto não demorou a se tornar mais pessoal e voltar para todas as coisas que Harry fez quando era criança.

—Meu Deus, você era impossível! – Acusei depois de ouvir algumas coisas que ele nunca tinha dito.

—Quando se juntava com o Mike, então! – Lily assumiu uma expressão quase de desespero ao dizer isso. – E depois me dizia que queria um irmão, eu ia ficar louca.

—Eu ia ser mais quietinho se tivesse um irmão pra brincar. – Argumentou, mas não convenceu a nenhum de nós.

—Harry me disse que você tem um irmão, Gin. – James comentou e eu concordei com um aceno.

—Tenho, mas ele é dez anos mais velho que eu, então tive que fazer sozinha quase todas as minhas bagunças.

Minha resposta os fez rir e Lily me olha avaliadora.

—Você não tem cara de que era uma criança bagunceira.

Harry gargalhou com a afirmação e eu o olhei com olhos semicerrados, fazendo-o rir mais.

—Bagunceira e mimada.

—Não fala assim, Harry! – Ela me defendeu com um sorriso divertido.

—Na verdade, mimada ela é até hoje. – Os pais dele riram.

—Agora eu quero saber o que tanto você aprontou. – Lily falou curiosa. – Preciso de uma comparação para saber em que nível o Harry estava.

Contei para eles algumas histórias de quando era criança e arranquei muitas gargalhadas e algumas expressões de preocupação acompanhadas de interjeições de surpresa. Harry já tinha ouvido todas elas, mas prestou atenção mesmo assim.

—Mas a história que o meu irmão mais gosta de jogar na minha cara até hoje é que quando eu tinha uns sete anos, eu acho, peguei minha tesoura da escola e tentei cortar o dedo dele para ver como era por dentro.

James tinha acabado de beber um gole de café e precisou se segurar para não cuspir o líquido quando riu, Lily me olhou espantada e o Harry gargalhou abertamente.

—Dessa eu não sabia.

—Gin, você era uma criança ótima! – O pai dele elogiou quando se recompôs.

—Ótima e perigosa. – Meu namorado acrescentou.

—O Harry era quase quieto perto de você. – Lily opinou rindo. – Devia ser uma pimentinha.

Meu sorriso congelou um pouco com o adjetivo, o do Harry se fechou de vez e senti ele me olhando sem saber o que esperar.

—Mãe... – Chamou cauteloso.

Pelo tom eu sabia que ele a repreenderia, mas o chutei por baixo da mesa quando ela o olhou e não dei a ele tempo de dizer.

—Algumas pessoas diziam que sim. – Comentei despreocupada e a atenção se voltou de novo para mim.

De canto de olho vi que ele estava me olhando meio sem entender, mas não falou mais nada e o assunto continuou por bastante tempo ainda.

Nos despedimos um pouco depois do almoço, porque o Harry não queria chegar tarde em casa. Depois de abraços apertados, convites para eu voltar quando quisesse e agradecimentos pelo ótimo final de semana, entramos no carro para nossa viagem de volta.

—Você vem visitá-los com frequência? - Perguntei deitando a cabeça no ombro dele e vendo a rodovia se estender à nossa frente.

—Sempre que possível, e de vez em quando eles vão passar uns dias comigo também. Você falou sério sobre voltar mais vezes?

—Sim.

—Você gostou mesmo, não é? - Harry me perguntou depois de um tempo pensativo.

—Gostei e me senti muito à vontade, com a sua mãe principalmente.

—Ela deve ter algum tipo de carisma que não herdei pra te fazer ser tão receptiva logo de cara.

—Não é carisma, ela só é muito… - Me interrompi sem saber direito como completar a frase.

—Mãe? - Ele arriscou, como se tivesse entendido tudo.

—É, mais ou menos isso.

—Quer dormir lá em casa hoje e eu te deixo no hospital amanhã cedo? - Mudou de assunto de repente.

—Quero, mas só porque não tem miniaturas de herói no seu quarto lá também, eu já estava me assustando toda vez que identificava um diferente. - Debochei e ele rolou os olhos.

—Essa sua falta de hobbies é entendiante, doutora.

—Eu tenho hobbies, mas eles são todos adultos. - Argumentei sugestiva.

—Posso enumerar vários deles que também estão na minha lista, e ainda sobra espaço para os outros.

—Prefiro ocupar meu pouco tempo livre com coisas mais gostosas.

—Tipo sentir ciúmes de mim? - Me olhou de canto, convencido.

—Lá vem você! - Resmunguei e voltei a encostar no meu banco.

—Meses até você confessar, Ratinha, tenho o direito de me sentir especial.

Rolei os olhos para ele, mas eu sabia que não adiantaria pedir para parar, então continuamos o assunto pelo resto do caminho.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal! Como estão?
E finalmente ela conheceu os sogrinhos! E parece que gostou muito mais do que esperava, não é?
Ansiosa para saber a opinião de vocês, então não deixem de comentar!
Beijos e até o próximo.

Crossover: Esse capítulo é independente, mas logo as histórias se cruzam novamente. Não deixem de acompanhar Backstage.
https://fanfiction.com.br/historia/692675/Backstage/



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