Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 3
Capítulo 3




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No dia seguinte, a primeira vez que senti meu telefone tocar eu olhei no relógio rapidamente enquanto checava as radiografias com Luna e vi que era meio dia e cinco. Não precisei olhar o identificador de chamadas para saber que o número que aparecia ali ainda não estava salvo na minha agenda, também não consegui frear o sorriso de satisfação.

Não era raro eu sair mais tarde do que o horário previsto para o término do meu plantão, e nesse dia em específico só entrei em casa quase cinco da tarde e mais duas ligações perdidas depois. Chequei o celular e constatei que o mesmo número desconhecido havia feito as três tentativas, sendo a última delas quarenta minutos atrás.

Me deixei relaxar no sofá por alguns minutos e aliviar parte do cansaço do dia e das horas sem dormir antes de me levantar, tirar a roupa e afundar na banheira sem pressa de sair. Deixei meu aparelho móvel apoiado na lateral e estava quase dormindo quando ouvi o som característico de outra ligação recebida.

—Alô. - Atendi direto no viva voz, na mesma posição.

—Eu já estava pensando aqui em qual lesão inventar da próxima vez. - Harry comentou despretensioso, me fazendo imaginar com perfeição aquele sorriso de canto que ele mantinha quase o tempo todo.

—Se você inventar outra lesão a sua próxima será bem real, e eu que vou causá-la. - Comentei no mesmo tom, mas deixando que ele entendesse que era uma ameaça de verdade.

Ele riu um pouco antes de me fazer a próxima pergunta:

—Você trabalhou até agora?

—Uhum. - Confirmei com os olhos fechados.

—Como você aguenta essa rotina cansativa? No seu lugar eu estaria acabado.

Sua sinceridade me fez rir. A verdade é que todo mundo pensava o mesmo, mas ninguém tinha uma profissão tão gratificante e exigente assim para comparar.

—Eu estou um pouquinho acabada, mas só sinto o cansaço quando paro. - Expliquei sabendo que ele não entenderia.

—Você já está em casa?

—Sim.

— E será que eu posso saber onde você mora?

—O primeiro passo você já deu, não é? Me convença a passar o endereço também. - Desafiei e ele sorriu.

—O que você está fazendo? - Quis saber, mudando de repente de assunto, como eu já reparei que ele fazia com muita frequência e facilidade.

—Quase dormindo na banheira. - Meu tom de voz preguiçoso confirmava isso.

—Devo só imaginar ou também posso oferecer ajuda?

Não tive resposta para isso, então apenas ri e ele me acompanhou.

—Harry, podemos nos falar amanhã? Tem mais de vinte e quatro horas que estou acordada e eu preciso muito dormir. - Fiz questão de deixar claro que ele poderia me ligar novamente.

—Claro, Dra. Weasley. Tenha ótimos sonhos, eu te ligo novamente amanhã.

—Vou esperar.

Me apressei em finalizar a ligação e levantei espalhando um pouco de água pelo banheiro. Escovei os dentes rapidamente depois de me secar e não me preocupei em vestir nada antes de me enfiar embaixo das cobertas e apagar um minuto depois.

Dormir e acordar fora dos horários considerados normais para as outras pessoas fazia parte da minha rotina, e tendo ido me deitar antes mesmo de anoitecer eu levantei antes mesmo de o sol nascer de novo. Vesti o robe jogado sobre a cama e caminhei descalça até a cozinha com o celular na mão. Liguei a cafeteira, coloquei algumas torradas para assar e enquanto esperava me sentei sobre o balcão e salvei nos contatos o mais novo número de telefone da minha agenda.

Eu odiava esse silêncio, então a próxima coisa que fiz foi ligar o aparelho de TV que ficava sobre o armário em frente ao que eu estava e aumentar o volume, assim o som poderia sobrepor a quietude aqui e na rua que se estendia à frente da janela. Quando soou o barulho que indicava que meu café da manhã estava pronto eu precisei apenas esticar a mão para alcançá-lo e comi onde estava, trocando os canais e vez ou outra prestando atenção em alguma notícia apresentada.

Não me assustou o som da mensagem recebida, tampouco me surpreendeu o remetente.

"Não conheço seus horários, me diga quando posso ligar sem te atrapalhar.

Tenha um ótimo dia,

Harry"

Então ele sabia ser direto e prático também, pensei enquanto digitava minha resposta também direta e prática:

"Agora.

Dra. Weasley"

Pensei em assinar como Ginny, mas gostava de vê-lo me chamar de doutora. Antes que eu colocasse o aparelho novamente ao meu lado ele já estava tocando e o nome dele piscando na tela.

—Bom dia. - Falei ao atender.

—Ótima maneira de começar o dia, eu diria - Respondeu animado demais para seis e meia da manhã. - Desculpe a mensagem fora de hora, não sabia quando poderia te ligar sem atrapalhar.

—Não tem problema, meus horários também são um pouco fora de hora. Mas o que você está fazendo acordado agora?

—Me arrumando para trabalhar. - Respondeu e eu notei o som característico de alguém que estava se movendo. - Quais os seus planos para hoje?

—Vou dormir um pouco mais, depois trabalhar até meia noite.

—Quando vai ser um bom dia para eu te convidar para jantar?

Eu não conhecia esse homem, mas já havia percebido nitidamente que ela sabia ser galanteador até no tom de voz.

—A pergunta certa seria quando vai ser um bom dia para eu aceitar esse jantar. - Corrigi e ele riu.

—É isso que ensinam na faculdade de medicina? Como ser esquiva?

—É isso que ensina na faculdade de... - Hesitei de propósito. - Você fez faculdade de que mesmo?

Dessa vez ele gargalhou com vontade e me fez rir também.

—Não finja que não leu minha ficha de cadastro, Dra. Weasley, você me disse no supermercado algo sobre minha insistência ser boa para um economista. - Ele me lembrou com o tom convencido.

—Uma curiosidade saudável. - Me justifiquei rindo.

Conversamos por mais quinze minutos, até que ele se desculpou e disse que precisaria desligar porque ia dirigir. Carros não eram há muito meu meio de transporte preferido, então me tranquilizava sempre que alguém demonstrava prudência ao utilizar um.

—Quando posso te ligar de novo?

—Ainda nem desligamos e você quer me ligar de novo? - Zombei antes de responder.

—Esse foi o telefone mais trabalhoso que já consegui na vida, pretendo usar bastante.

Sua justificativa me arrancou um sorriso que eu não demonstrei.

—Não trabalharei amanhã. Vou precisar sair, mas estarei em casa a maior parte do dia. - Informei por fim.

—A gente se fala então, Dra. Weasley.

—A gente se fala, Harry. Bom trabalho. - Desejei antes de desligar.

Saltei de cima do balcão, lavei a pouca louça que havia usado e desliguei novamente a TV.

Harry era exatamente o tipo de pessoa com quem eu me envolvia: jovem, divertido, despreocupado, aparentemente feliz vinte e quatro horas por dia e que não levava nada a sério. Eu gostava disso, era quase o meu oposto, o que significa que nos divertiríamos e no fim a única coisa que teria mudado é que perdi um paciente.

Ele me ligou novamente no dia seguinte, como tinha prometido, e nos dois dias seguintes também. Em alguns momentos suas ligações não coincidiam com meus horários disponíveis e quando isso acontecia ele não insistia mais até que eu enviasse uma mensagem dizendo que estava disponível.

Os assuntos eram leves e descontraídos e eu ria o tempo inteiro, não falamos nada além de algumas banalidades e questões superficiais como algumas coisas de que gostamos, filmes e os poucos programas de TV que tenho tempo e paciência para assistir.

Na sexta feira iniciei meu turno pela manhã e não tive nada além de consultas e duas fraturas para atender durante todo o dia. Apesar de dias assim serem mais lentos, de certa forma é bom quando ninguém precisa de atendimentos muito complexos ou de risco. Cinco da tarde eu já estava atravessando novamente o estacionamento em direção ao meu carro para começar o final de semana com uma noite em casa.

Ainda no caminho decidi que seria um ótimo dia para usar o mais novo número salvo nos meus contatos, então saí do elevador já com o celular nas mãos e fechei a porta enquanto ouvia o som característico da chamada sendo feita.

—A que devo tamanha honra? - Harry perguntou de imediato, sem ao menos dizer “alô”.

—Como vai, Harry? - Questionei me sentando no sofá e jogando as chaves e a bolsa ao meu lado.

—Muito bem, e você?

—Muito bem também.

—Eu não sabia que teria tempo livre hoje, por isso não te liguei. Você me disse que as sextas e sábados são os piores dias. - Desculpou-se sem motivo.

—São mesmo, mas hoje foi atípico. - Expliquei e ele não me interrompeu. - Já estou em casa, e por isso estou te ligando para convidá-lo para sair.

—Sair? - Perguntou quase com um grito, se comparado ao tom calmo com o qual fiz o convite.

—Sim, sair. - Confirmei prendendo o riso.

—Ah meu Deus, não acredito nisso. - Falou em tom de profunda lamentação, o que me deixou confusa, mas não o interrompi. - Dra. Weasley, tudo o que eu mais queria na vida é dizer sim ao seu convite, mas nesse momento eu estou deitado na minha cama, do meu quarto na casa dos meus pais, em uma cidade que fica a duas horas daí.

Era uma informação simples, quase irrelevante, mas que me fez pensar nele pela primeira vez como alguém que tinha uma vida além das conversas por telefone onde ele era só um cara engraçado e interessante.

—Péssima hora para ligar, então. - Comentei brincando.

—Não, péssima hora para ser um bom filho. - Corrigiu, demonstrando todo seu arrependimento por não ter ficado em casa.

—Nunca é uma péssima hora para ser um bom filho.

—Até dez minutos atrás eu também pensava assim.

Ri da sua afirmação e ele me acompanhou.

—Me desculpe ser obrigado a dizer não, espero muito poder me redimir na próxima semana.

—Não se preocupe Harry, haverá uma próxima oportunidade. - O tranquilizei.

—Vou ficar o final de semana inteiro pensando em como posso ter tanta sorte e falta de sorte ao mesmo tempo. - Se lamentou.

—Eu recomendo que você aproveite a viagem, já que não poderá aproveitar o encontro. - Ouvi quando ele bufou contrariado diante da minha afirmação.

—Estou curioso agora, aonde iríamos?

—Eu estava totalmente aberta a sugestões, tenho certeza que sua vida social é muito mais agitada que a minha e suas recomendações mais confiáveis.

—Então vou aproveitar esses dias para pensar em algo que a surpreenda. - Prometeu com a voz sugestiva.

—Nada muito requintado, por favor.

—Parte da graça será eu poder me vestir como você gosta. - Esclareceu divertido.

—Isso, assim está ótimo. - Aprovei me levantando e caminhando até meu quarto. - Harry, vou deixá-lo agora. Preciso tomar um bom banho e encontrar algo para fazer com meu tempo livre, você aproveite bastante sua viagem.

—Tarde demais, agora só vou pensar em você e no seu tempo livre. - Ri do seu tom divertido ao dizer isso.

—Então aproveite pelo menos um pouquinho sua viagem. - Recomendei e ele riu dessa vez. - Bom final de semana.

—Para você também, Dra. Weasley. Até mais.

Desliguei o celular e o joguei sobre a cama, tirei a roupa em frente ao guarda roupas e a joguei no chão ao meu lado. Apanhei uma toalha e lingerie limpas e me dirigi ao banheiro.

Quando desligue o chuveiro pude ouvir meu telefone tocando através da porta aberta. Me apressei para atender, mas ainda assim cheguei a tempo apenas de ver a chamada perdida de Ron. Terminei de me enxugar e vesti a única peça de roupa que já tinha escolhido antes de retornar sua chamada.

—Ei, estava tomando banho. - Me explique assim que ele atendeu.

—Já está em casa? - Perguntou entre surpreso e confuso.

—Sim, cheguei faz um tempinho. Você está bem?

—Estou, e você?

—Também. Vai sair hoje? - Eu quis saber.

—Não, vou ficar por aqui mesmo.

—Acho que vou aí te ver então, estou com saudades. - Me convidei para sua casa, que ficava apenas a minutos da minha.

—Também estou, vem. Amanhã você trabalha que horas?

—Entro meio dia, plantão de 24 horas até domingo.

—Dorme aqui e vai direto, a gente pede algo para comer mais tarde e vê um filme, sei lá. - Sugeriu o que fazíamos de vez em quando.

—Ok, vou só me arrumar e saio.

Me vesti, apanhei as roupas de trabalho para o dia seguinte e saí de casa apenas alguns minutos depois. Toquei a campainha e fui recebida com um abraço apertado e um beijo carinhoso no rosto.

—Em casa na sexta tão cedo, achei até estranho. - Comentou fechando a porta enquanto eu caminhava até o quarto que normalmente ocupava quando estava aqui para deixar minhas coisas.

—Também achei estranha a calmaria hoje. - Gritei do corredor. - Podia ser assim todos os dias.

Voltei para a sala e me sentei no banco alto ao lado do balcão da cozinha. Sobre ele havia duas taças e dois pratos sujos, ao lado uma garrafa de vinho pela metade.

—Vinho? Quem esteve aqui?

—Sua vizinha. - Respondeu normalmente e ainda de frente para a pia, sem se virar para mim.

—Que romântico. - Comentei como uma constatação irônica e o vi balançar a cabeça negando.

A opinião do meu irmão sobre relacionamentos amorosos era muito semelhante a minha, e nenhum dos dois estava interessado em um.

—Vocês estão se vendo com frequência?

—Vez ou outra. - Respondeu se virando com dois copos em mãos e me entregando um. - Quer beber o que?

—Água, por favor.

—Água, Ginny? É sexta à noite, você nunca está em casa na sexta à noite e quer água? - Desdenhou indo até a geladeira e voltando de lá com a jarra em uma das mãos e uma cerveja na outra.

—Quando formos comer eu te acompanho. - Prometi me servindo enquanto ele se sentava à minha frente. - Como está a empresa?

Ron é dono de uma empresa de criação de sites e programação de jogos já há alguns anos, um emprego que o faz trabalhar bastante, mas não necessariamente o prende em um escritório todos os dias.

—Não dá para reclamar de nada, melhor do que eu esperava. E o hospital?

—Sempre ótimo. Fiz uma cirurgia muito legal na semana passada, não é um procedimento que usamos com frequência, então é sempre empolgante. Eu te mostraria as fotos, se você quisesse. - Ofereci já rindo da sua expressão de asco.

—Credo, Gin.

—Vai fazer o que no final de semana? - Perguntei terminando o conteúdo do meu copo e o deixando de lado.

—Acho que nada, ainda não sei. Provavelmente ficar em casa mesmo, assim aproveito e adianto um site que tenho que entregar no final desse mês. E você?

—Saindo do hospital domingo eu só vou querer dormir.

—Como você aguenta esse ritmo? - Perguntou pela milionésima vez.

—Eu gosto.

—Vamos assistir o que?

—Põe alguma coisa bem sangrenta aí, pelo menos é animado. - Sugeri sem realmente me importar com o gênero do filme.

—Você vê sangue a semana inteira, não se cansa disso?

Ri do tom que ele usou para dizer isso, e por fim ele riu comigo.

—Estou com fome.

—Vou pedir uma pizza pra gente. - Anunciou antes de se levantar para buscar o celular.

Me levantei também, coloquei novamente a jarra de água na geladeira, deixei meu copo na pia e me deitei em um dos sofás da sala espaçosa que ele tem.

Meu irmão se acomodou também após pedir nosso jantar e assim que o recebemos eu peguei a garrafa de vinho que ele e sua visita não haviam acabado enquanto Ron me acompanhava com mais uma cerveja. Comemos ali mesmo enquanto ele lançava mão de toda sua habilidade de me fazer rir com coisas bobas e sem sentido.

Era já madrugada quando desligamos a TV e fomos cada um para seu quarto dormir. O vinho, o horário já bastante avançado e a tranquilidade de não estar sozinha em casa me fizeram apagar para valer e quase perder a hora.

—Ei, Gin, já é mais de onze horas. - O ouvi dizer enquanto me balançava levemente para que eu despertasse.

Dei um pulo quando ouvi o horário e fui direto ao banheiro tomar um banho rápido. Ele estava deitado na cama em que dormi quando voltei ao quarto para terminar de vestir minhas roupas e ficou o tempo todo insistindo para que eu comesse algo enquanto eu repetia que não teria tempo para isso.

—Ron, sério, não tenho tempo. Preciso ir. - Sentenciei de uma vez enquanto terminava de fechar o botão da calça branca e enfiava os pés em uma sapatilha, simultaneamente. - Eu como alguma coisa lá mesmo.

—Tudo bem. - Se conformou por fim e levantou para me acompanhar até a porta. - Cuidado no caminho. - Recomendou quando me virei para abraçá-lo.

—Pode deixar. Obrigada. - Retribuí e dei um beijo demorado em seu rosto antes de entrar no carro.

Quando atravessei correndo as portas da emergência, Colin veio ao meu encontro e me acompanhou até onde ficam os armários enquanto eu trocava a sapatilha pelo tênis, vestia o jaleco e prendia meu cabelo.

—Quem foi o cara da noitada? Porque essa tua cara não engana que você dormiu pouco e andou bebendo. - Perguntou malicioso e eu o encarei com cara de nojo.

—Eu dormi na casa do meu irmão, seu inescrupuloso.

Sua risada preencheu o local e eu acabei o acompanhando.

—Mas se quer saber a novidade, adivinha com quem eu ando conversando diariamente pelo telefone?

—Mentira?! - Sua expressão de choque diante do meu semblante sugestivo foi cômica. - Bandida, você me disse que não ia passar o telefone porque é um paciente.

—Ele é muito insistente, e eu sou fraca. - Justifiquei e ele deu um tapa na minha perna. - Ai!

—Vocês já saíram?

—Ainda não, nossos horários não coincidem nunca.

—Mas vão?

—Provavelmente sim. - Respondi guardando minha bolsa e a sapatilha no armário e saindo com ele em meu encalço.

—Como ele é?

—Muito agradável, uma pessoa super divertida e interessante.

—E gostoso. - Fez questão de me lembrar.

—E gostoso. - Concordei sorrindo.

—Ginny. - O chamado de Luna o interrompeu quando ele abriu a boca para dizer algo mais.

—A gente se vê depois. - Me despedi de Colin e parei para esperá-la enquanto ele continuou seu caminho até a recepção.

—Me ajuda num diagnóstico? - Pediu assim que me alcançou.

—Claro, vamos lá.

Peguei o prontuário que ela me entregou e enquanto eu lia as informações iniciais fomos juntas em direção ao primeiro paciente do dia.

O que sexta-feira teve de tranquilo, sábado e domingo compensou com uma agitação incomum. Consegui uma hora e meia para cochilar durante a noite, depois disso a correria do acidente com um ônibus me fez ficar no hospital até oito da noite, e não apenas até meio dia como era previsto. Pelo menos eu normalmente ficava em casa nas segundas-feiras.

Acordei já no final da manhã e enquanto comia um pão com frios acompanhado de uma xícara enorme de chá meu celular tocou. O nome no identificador de chamadas me dizia que era Harry ligando pela primeira vez desde que o convidei para sair e ele não pôde ir.

—Olá. - Atendi brevemente enquanto mastigava um pedaço do meu café da manhã.

—Bom dia, Dra. Weasley, como vai?

—Muito bem, e você?

—Estou ótimo. - Respondeu animado. - Como foi o final de semana?

—Cansativo, e como foi a viagem?

—Totalmente o oposto do seu final de semana, relaxante e desestressante. Tudo o que fiz foi descansar.

—Pelo menos alguém está disposto então. - Brinquei e ele riu.

—Mas passei o tempo todo pensando em te perguntar uma coisa.

—Que seria?

—Quando é sua próxima noite de folga? Preciso te recompensar por ter sido obrigado a negar seu convite.

Dividida entre descansar um pouco mais e ter um bom momento de diversão, a segunda opção venceu.

—É hoje.

—Sério? - Questionou surpreso e a empolgado.

—Uhum.

—E você já tem compromisso?

Eu não podia vê-lo, mas podia imaginar aquele mesmo olhar entusiasmado que vi em todas as vezes que nos encontramos passar pelo seu rosto enquanto dizia isso.

—Não tenho nenhum compromisso para hoje.

—Então eu posso ser o cara de sorte que vai animar a sua noite?

Eu ri da informalidade e pretensão do convite, mas aceitei mesmo assim:

—Sim, você pode.

—Isso! - Comemorou e eu revirei os olhos sozinha na cozinha enquanto tomava um pouco da minha bebida. - Eu saio do trabalho as cinco, preciso de uma hora e meia para chegar em casa e me arrumar. Que horas posso te buscar?

—Marcamos às oito e meia? Não precisa me buscar, me diga aonde iremos e eu vou até lá.

—De jeito nenhum, faço questão de te buscar e levar em casa.

Isso me fez revirar os olhos novamente, mas não contrariei.

—Eu te passo o endereço por mensagem. - Prometi e ele concordou. - Mantemos esse horário, então?

—Por mim está perfeito. - Concordou animado.

—Então nos vemos a noite.

—Nos vemos. - Se despediu e antes que eu desligasse ele me chamou. - Dra. Weasley?

—Sim?

—Eu disse que ia resultar em um passeio. - Afirmou convencido e eu me esforcei para não demonstrar que achei aquilo engraçado.

—Harry, eu ainda posso desistir. - Ameacei divertida.

—Não está mais aqui quem falou. - Foi rápido em retratar-se e nós dois rimos. - Até mais tarde.

Faltando duas horas para o combinado tomei um banho demorado e me vesti como havia planejado ainda naquela tarde. Um vestido preto e justo que terminava no meio das minhas coxas e um sapato alto da mesma cor compuseram minha escolha simples, mas elegante para qualquer que fosse o lugar onde ele me levaria. Deixei os cabelos soltos e passei um perfume de que gostava particularmente.

Na hora exata Harry mandou uma mensagem dizendo que estava me esperando em frente ao prédio e eu informei que já estava descendo. Não demorei em olhar no espelho uma última vez, pegar minha bolsa, fechar a porta e sair do elevador direto na portaria. Ele estava parado do lado de fora do carro, me esperando com um sorriso convencido no rosto e uma das mãos no bolso, a outra ainda suspensa pela tipoia.

—Boa noite, doutora. - Me cumprimentou assim que parei em sua frente.

—Boa noite, Sr. Potter. - Sorri de volta e ele se adiantou até mim, pousando a mão na minha cintura e me dando um beijo no rosto.

—Vamos? - Convidou ainda com a mão apoiada ali.

—Sim. - Confirmei e me acomodei no banco ao lado do dele.

Ele parecia tão verdadeiramente feliz ao dar a partida e sair dali comigo que eu não consegui frear meu sorriso também.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal. Como estão?
Então ela finalmente topou sair com ele!
O que acham que vai acontecer agora?
Aguardo ansiosa a opinião de vocês.
Obrigada a todos que estão acompanhando e mais obrigada ainda a quem deixa comentários lindos *--*
Beijos e até o próximo.



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