Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Essa semana a Bibela melhorou o meu dia com uma recomendação linda, que me deixou sorrindo o tempo todo e encheu de inspiração. Espero retribuir pelo menos um pouquinho dessa felicidade toda com esse capítulo. Sinta-se abraçada! Obrigada ♥



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Cheguei ao hospital no dia seguinte sem um pingo de humor, querendo mais do que tudo que a hora se arrastasse o máximo possível, porque trabalhando pelo menos eu pensava em outra coisa.

Eu poderia dizer que estava brava, que estava com raiva, que estava triste e até mesmo que estava bem, mas a verdade é que nada disso fazia jus ao que eu estava sentindo. O que Harry me fazia sentir algumas vezes, como ontem de manhã, estava mais para medo.

Olhando as proporções que tomaram aquela brincadeira de se divertir com o cara bonito e empolgado que queria meu telefone, eu me via cada vez mais afundada numa situação que eu não sabia lidar e não queria sair. Harry fazia uma coisa tão fácil e descomplicada, que era se envolver com uma pessoa, se tornar confusa e meio enlouquecedora as vezes.

A noite, já em casa e olhando o celular comportadamente apagado no horário em que eu sempre recebia sua ligação, cheguei à conclusão de que poderia ser ainda mais confuso quando ele não estava.

Eu queria ligar, ir atrás, me certificar de que estava tudo bem, principalmente por reconhecer o tamanho da minha grosseria, mas eu também queria meu espaço e um tempo para assimilar sozinha o que eu já deveria ter assumido pelo menos para mim mesma: eu gosto dele.

Quanto eu gosto dele é uma parte da questão em que eu ainda nem queria pensar.

A semana se arrastou da mesma forma, achei melhor não entrar em contato por uns dias, deixar as coisas como estavam e ver o que acontecia, o problema era suportar a tristeza e o baixo astral ao meu redor, porque tudo me lembrava dele de alguma forma.

Na quinta-feira encontrei Colin na recepção quando estava me preparando para sair, no meio da tarde. Me aproximei por trás e estalei um beijo em sua bochecha, que o fez se virar para mim com um sorriso bonito.

—Oi, gata. Fico com saudade de você aqui comigo, sabia? - Falou apoiando a mão na minha coxa quando me aconcheguei na cadeira ao lado da dele e deitei a cabeça em seu ombro.

—Também fico.

—Ei, que voz é essa? - Perguntou me olhando de canto.

—Que voz? - Tentei desconversar, mas já era tarde.

—A sua. Você não está animada hoje, o que houve?

Eu não tinha falado com ninguém sobre o que aconteceu, mas não me parecia estar sendo muito útil nem eficiente pensar nisso sozinha, então me virei para ele e soltei tudo de uma vez:

—Eu e Harry brigamos, eu falei para ele ir embora e agora estou com medo de que não volte.

—Mas brigaram feio? - Perguntou avaliador, me olhando com atenção.

—Feio não, mas eu notei que ele não gostou.

—E qual foi o motivo?

—Ai, Colin, isso é tão difícil dizer. - Me lamentei, sabendo que ele entenderia que não quero falar sobre.

—Não precisa dizer para mim, mas ele pelo menos sabe por que vocês brigaram?

—De um modo geral, sim. - Desconversei ao máximo.

—Longe de mim querer me meter, mas eu acho que se ele está participando da briga, deveria saber o motivo todo, não de um modo geral.

Optei por não responder a essa afirmação.

—Fala com ele, gata.

—É o que eu quero fazer, gato. É o que eu vou fazer, na verdade. - Cedi depois de pensar um pouco. - Mas não agora, porque eu não sei o que dizer a ele.

—Você tem que resolver as coisas com ele só se quiser, Gin, só que não acho que tem que ficar longe se isso te deixa mal assim. - Opinou francamente. - E nem acho que você simplesmente deve sumir se decidir que não quer, o cara é o máximo com você e merece toda sua consideração.

A ideia de sumir de alguma coisa nunca me pareceu menos atrativa.

—Sumir não faz parte dos planos, gato. - Confessei e ele sorriu para mim. - Acho que vou para casa.

—Vai sim, descansa. Amanhã vou estar no seu plantão, podemos jantar juntos e conversar mais.

—Que ótima notícia. - Falei animada, era sempre melhor trabalhar com Colin. - Nos vemos então, e tomara que esteja calmo para termos um tempinho. Obrigada.

—Sempre que precisar.

Trocamos um abraço rápido e eu fui embora, aproveitar a tarde em casa enquanto meus pensamentos se voltavam a cada cinco minutos para o que Harry estaria fazendo, onde estaria, se estaria bem e se também estava com saudades.

O dia seguinte trouxe uma tarde extremamente corrida e uma noite calma o suficiente para eu conseguir dormir três horas seguidas entre duas e cinco da manhã, quando precisei atender uma fratura simples na tíbia. Após o atendimento de praxe, que terminei pouco antes das seis, olhei o sistema de entradas e constatei que já poderia ir para casa.

Troquei os sapatos e deixei o jaleco de lado antes de vestir meu casaco e sair para o ar frio da manhã que se iniciava. Desci os poucos degraus até ao estacionamento e caminhei enquanto soltava os cabelos do rabo de cabalo e os arrumava para que caíssem organizados sobre meus ombros.

Levantei a cabeça quando terminei e dei de cara com aquele sorriso de canto me encarando, as mãos no bolso e casualmente encostado no meu carro. Me senti uma adolescente de novo, porque meu coração acelerou na mesma hora.

Poderia haver uma infinidade de motivos pelos quais Harry estaria me esperando sair do trabalho às seis da manhã, mas a verdade é que estar ali já era suficiente para mim.

Apressei o passo em sua direção e sem nem saber se aquilo era uma visita amigável depois do fiasco da última despedida, lancei meus braços ao redor do seu pescoço em um abraço reconfortante e demorado que ele retribuiu com o mesmo ímpeto. Afundei meu rosto no seu pescoço e não soltei mesmo quando ele afrouxou seu aperto ao meu redor.

—Achei que eu tivesse pedido para você ir embora. - Falei na mesma posição, usando toda minha ironia nessa frase e o fazendo rir como eu sabia que faria ao entender minha brincadeira.

—Achei que eu já tivesse dito que não desisto enquanto sei que tenho chance. - Rebateu desafiador, e foi minha vez de rir.

—Não vou me esquecer. - Garanti e me afastei o suficiente para voltar a grudar nele em um beijo cheio de saudade que durou muito mais do que eu acharia conveniente para meu local de trabalho, mas não me atentei a isso.

—Como você está? - Perguntou após nos afastarmos.

Antes que eu respondesse Harry passou a mão no meu rosto e limpou com o polegar seu rastro úmido no meu lábio inferior, depois o puxou entre os dentes e mordeu de leve, me arrancando um sorriso de satisfação com hábito que eu já conhecia.

—Estou bem, e você?

—Melhor agora. - Afirmou, me deixando satisfeita. - Quer ir para casa comigo?

Respondi que sim sem nem pensar sobre o convite e trocamos mais um beijo rápido antes de cada um entrar em seu carro e dirigirmos para o mesmo lugar.

Nem tentei disfarçar o quanto eu estava feliz por Harry ter ido até lá, porque o tamanho do meu sorriso certamente me denunciaria. Se não isso, todos os beijos que eu dei em seu rosto enquanto subimos de elevador até seu andar.

Passamos pela porta em meio a mais um abraço que eu interrompi porque precisava muito tomar banho depois de um dia e uma noite inteiros no trabalho, e saí do chuveiro direto para me juntar a ele sob seu edredom grosso e confortável.

—Como foi a sua semana? - Perguntou parcialmente deitado em cima de mim e se equilibrando com os braços apoiados ao lado do meu peito.

—Meio parada, nem no trabalho teve muita coisa. Com exceção de sexta, tudo aconteceu na sexta à tarde. - Falei sem dar muitos detalhes. - E a sua?

—A bolsa de valores teve uma alta fantástica essa semana. - Contou com os olhos brilhando. - Lucramos milhões, gata, milhões! - Falou numa imitação péssima do meu amigo.

—Gata não, por favor, só lembro do Colin. - Pedi rindo.

—Eu perguntei a ele se você ia demorar, já te disse que o jeito que ele me olha é meio constrangedor? - Perguntou divertido, o cenho franzido para mim.

—Quer saber o que ele fala de você também? - Falei sugestiva e ele negou rápido.

Passei os dedos por seus cabelos por um tempo, bagunçando seus fios como eu gostava de fazer.

—Estava com saudade de você. - Confessei.

—Sabe qual é sua sorte, doutora? - Perguntou presunçoso e eu neguei. - Que eu presto muito mais atenção no que você faz do que no que você fala.

Olhei cética para ele, que pareceu nem se abalar.

—Então você não dá a mínima para o que eu digo? - Perguntei com a sobrancelha erguida.

—Ainda bem, não é? - Afirmou como se fosse óbvio.

Sua expressão me fez rir e ter uma súbita vontade de dizer algo legal para que ele prestasse atenção nisso também.

—Nem se eu disser uma coisa legal?

—Tente, vamos ver. - Desafiou com superioridade.

—Eu gosto de você. - Soltei simplesmente.

Sua surpresa foi visível, mostrando que Harry não esperava ouvir isso. Antes que ficasse de alguma forma constrangedor o clima entre nós me apressei a mudar de assunto.

—Me conte algo que eu ainda não sei, Ursinho.

Ele entendeu que eu queria deixar o assunto de lado e fez cara de pensativo por um momento.

—Sei falar alemão. - Contou como se não fosse nada demais.

—Alemão? Por que você quis aprender alemão?

—Meus pais aparentemente acham muito legal crianças alfabetizadas em escolas alemãs, porque pouca dificuldade é para os fracos. - Ironizou, me fazendo rir.

—Diga algo então, mas algo que eu entenda.

—Você fala alemão também? - Perguntou confuso.

—Não, é que nunca ouvi ninguém falando essa língua.

—Então você não vai entender nada. - Afirmou revirando os olhos.

—Ta, então diga qualquer coisa.

Harry nem precisou pensar muito antes de falar com todas as inflexões e sons estranhos a mim:

—Ich liebe dich, also ging ich zurück.

Como ele tinha dito, não entendi nada, mas gostei de como soou e do tom usado.

—Bonito, agora o que significa?

—Não vou dizer. - Falou malicioso.

—Por que? Eu quero saber. - Argumentei sabendo que seria em vão.

—Você não é a única que pode fazer só o que quer, Ratinha, e eu não quero dizer. - Rebateu com o que eu tinha dito a ele quando brigamos, mas usando um tom muito mais amigável.

—Do jeito que você é pervertido, só pode ser alguma coisa suja, não é? - Perguntei desconfiada e ele riu com vontade.

—Muito suja. - Confirmou achando divertido e enterrou o rosto no meu pescoço.

—Eu gosto de coisas sujas. - Tentei mais uma vez.

—Não dessa. - Garantiu, beijando meu queixo.

—Como você está comportado hoje, credo. - Desdenhei revirando os olhos.

—Não estou não.

—Está sim. - Teimei.

—Quer que eu te mostre que não? - Sugeriu se acomodando entre minhas pernas.

—Por favor. - Pedi quando ele já beijava meu pescoço de um jeito mais quente, me fazendo esquecer da tal frase.

Como aparentemente nenhum de nós dois tinha dormido a noite inteira, fizemos isso até o meio da tarde. Acordei antes dele dessa vez e continuei deitada ao seu lado enquanto Harry dormia tranquilamente de bruços e todo largado, demonstrando estar cansado.

Alguns minutos depois o celular dele tocou no criado mudo ao meu lado, anunciando o recebimento de uma nova mensagem. Olhei para o aparelho por um momento, sentindo uma vontade cada vez maior de ver o que era, mas dividida entre saciá-la e a possível invasão de privacidade que isso seria.

Olhei para Harry e o vi ainda completamente imóvel, na mesma posição e ressonando tranquilamente com o rosto virado para o outro lado, totalmente alheio ao que eu queria fazer. Ao invés de me sentir culpada, argumentei comigo mesma que se ele já tinha me feito quebrar as regras uma vez, qual o problema da segunda, não é mesmo? Além disso, ele muda a foto do meu celular uma vez por semana, não tenho motivos para acreditar que nunca tenha mexido no resto.

Convencida de que eu podia fazer isso, estiquei a mão, puxei o aparelho cuja senha eu já o tinha visto digitar inúmeras vezes e abri seu aplicativo de mensagens instantâneas, dando de cara com o ícone escrito "Mãe" e o negrito característico da mensagem não lida. Abri a conversa e li com um sorriso convencido:

"Olá, meu amor. Já está tudo bem com a mocinha?"

Mocinha é tão coisa de mãe! Pensei rindo e olhando as conversas anteriores, onde eles conversavam sobre coisas diversas relacionadas a ele, a ela, ao pai e, não tão surpreendentemente assim, a mim. A Sra. Potter me chamava Gin, como se me conhecesse muito bem ainda que nunca tenhamos nem nos falado, destoando um pouco do termo usado na mensagem mais recente, mas inexplicavelmente ambos me soaram carinhosos ao extremo.

Ri com vontade ao ver que Harry mandava várias fotos dele para ela e recebia um monte de elogios em troca, e precisei cobrir a boca para não acordá-lo com a minha gargalhada quando descobri que seu apelido materno carinhoso é Fofuxo, provando de uma vez por todas que a mãe dele definitivamente é uma versão mais experiente do mesmo arco íris que o filho. E eu achava que tinha sido suficientemente constrangedora e criativa com Ursinho.

Após conseguir desenhar perfeitamente como é a relação dos dois, e quando as risadas começaram a dar lugar a um saudosismo que não era conveniente, fechei a conversa deles na intenção de colocar o aparelho no mesmo lugar onde estava antes. Antes de bloquear novamente a tela última pessoa com quem ele conversou, naquele mesmo dia um pouco depois das cinco da manhã, me chamou atenção e eu me senti subitamente curiosa de novo.

Olhei para o lado e o vi ainda na mesma posição, sem dar nenhum sinal de que acordaria, e me voltei novamente para o aparelho. Cliquei na foto que mostrava os cabelos em vários tons artificiais de loiro, criando um efeito bonito de luzes, mas o rosto não estava muito visível naquele ângulo, então não consegui ver muita coisa além do perfil meio encoberto pela luz do sol refletindo forte sobre ela e o sorriso aberto e descontraído da "Ka". Mesmo tendo dito o nome apenas em pensamento a ironia estava presente.

Abri a conversa dos dois e vi que apenas duas frases tinham sido trocadas: "Você mal me deu tempo para dizer tchau, gatinho. Revanche semana que vem? ;)", por parte dela e "Eu só deixei para você ficar feliz, gatinha, não se acostuma porque da próxima eu acabo com você ;) Desculpe sair com tanta pressa, boa noite. Ou bom dia, sei lá. Beijos.", como resposta.

Senti meus olhos se estreitarem na direção da tela e aquela sensação de incômodo crescer dentro de mim outra vez. Gatinha? Fazer feliz? E o que Harry estava fazendo com ela até aquele horário antes de sair correndo? A mensagem toda foi uma sucessão de insatisfações.

Rolei a tela já sem tanta calma, vendo que antes disso os dois tinham conversado pela última vez três semanas antes e que fora uma piada ou outra, que para minha consternação eram internas demais para que eu entendesse, o assunto geral girava em torno de horários e nomes já confirmados para o que eu imaginava ser encontros de amigos. Percebi que todas as confirmações envolviam nomes que eu já conhecia, mas curiosamente ela nunca esteve nas vezes em que eu fui também, porque sem sombra de dúvidas eu me lembraria se alguma loira divertida chamasse Harry de gatinho na minha frente, mais ainda se ele respondesse da mesma forma.

Eu já estava aqui mesmo, então abri a galeria de mídias trocadas entre eles e olhei uma por uma as fotos, todas elas em meio a um grupo de mais pessoas e nenhuma nítida ou próxima o suficiente para que eu conseguisse ver seu rosto com perfeição, dando a impressão de terem sido tiradas em meio a risadas ou em ambientes com pouca luz.

Me sobressaltei quando senti o braço dele sobre minha barriga me puxando mais para perto, e aproveitei os segundos que ele sempre levava até abrir os olhos para voltar para a tela inicial e abrir qualquer outra coisa menos comprometedora. Acabei com sua playlist estampada na tela, listando os nomes de todas as músicas que ele ouvia também no carro.

Olhei para ele com minha melhor cara de quem foi pega no flagra, mas não estava fazendo nada demais, e me deparei com seu olhar já meio questionador, apesar de sonolento. Antes de me preocupar em parecer culpada ou tímida, fui acometida por uma vontade súbita e gritante de perguntar o que ele estava fazendo até cinco horas da manhã com uma loira que ele chama de gatinha, mas me forcei a engolir as palavras.

—O que você está fazendo, Ratinha? - Perguntou curioso, a mesma tranquilidade de sempre.

Esse apelido me fez fechar a cara, porque foi impossível não comprar com o outro e que não era destinado a mim. O que era isso agora? Harry tinha um zoológico de animais do sexo feminino para chamar pelo diminutivo?

—Nada, só olhando. - Tentei parar a frase aí, mas quando vi já tinha completado. - Por que, não pode?

—Pode, oras. - Respondeu sem se importar, dando de ombros e encostando o rosto no meu cabelo. - Só não é sua cara olhar, mas pode.

Ao mesmo tempo em que eu queria deixar aquele assunto para lá, queria mais ainda que Harry soubesse o que eu tinha visto sem que eu contasse, e me explicasse tudo sem que eu perguntasse. Era meio improvável que isso acontecesse, então decidi contar apenas uma parte.

—Sua mãe te mandou uma mensagem. - Contei sem conseguir forçar minha voz a soar normal e entreguei o celular para ele.

O vi apertar o botão que acendia a tela e não encontrar nenhuma notificação ali.

—Você leu? - Perguntou achando graça.

—Uhum, vai que fosse importante. - Dei de ombros, fitando fixamente o teto acima de mim e evitando seu olhar que estava pregado no meu rosto. - O que foi?

—Nada, não, só acho essa coisa de ler mensagens do outro tão de namorados. - Afirmou irônico, abrindo sua última mensagem recebida e completando com o mesmo tom. - Mocinha.

Enquanto Harry digitava uma resposta que eu não vi porque nossa posição deixava a tela virada apenas para ele, cruzei os braços sobre o peito e fiquei imaginando se ele não achava também que passar a noite fora fazendo sabe-se lá o que com a Ka não fugia um pouco do nosso acordo de exclusividade.

—Tudo bem? - Perguntou com a sobrancelha erguida e o telefone um pouco para o lado para conseguir me ver enquanto aguardava a resposta da mãe.

—Uhum.

Joguei as cobertas para o lado, dei a volta na cama enquanto apertava o laço que prenderia minha peça de roupa ao redor da cintura e senti seu olhar me seguir questionador quando saí do quarto em direção à sala sem dizer uma palavra. Me sentindo inquieta demais para sentar, puxei a cortina para o lado e me debrucei sobre a janela aberta, olhando para o nada apesar de achar bem legal a visão que ele tinha desse ponto do apartamento.

Eu não queria mostrar, mas estava brava porque não me parecia nada justo que ele próprio viesse com aquele papo de sermos só nós dois e depois fizesse isso. Aquele "vai embora" nunca ressoou tão idiota como agora, porque além de tudo ele me tirava todo e qualquer direito de reclamação do que quer que fosse. Eu falei para ele ir embora, não foi? O que eu estava esperando?

Fiquei alguns minutos sozinha até senti-lo se encostar em mim e me enlaçar pela cintura, o braço entre minha barriga e a parede, a outra mão com o celular à nossa frente e a conversa sobre a qual eu estava pensando aberta para nós dois lermos.

—Se você me disser que está morrendo de ciúmes eu te conto tudinho o que aconteceu, com detalhes. - Propôs a troca, sem nem tentar esconder a satisfação enquanto dizia.

—Não estou com ciúmes. - Teimei e ele riu com o rosto encostado no meu.

—Claro que não. - Concordou cético. - Só me pergunte o que aconteceu, então.

—Harry, estávamos separados e o que aconteceu não é problema meu. - Falei com a maior dignidade que consegui reunir.

—Separados? Poxa, Ratinha, eu achei que era só uma briguinha. Deveria ter insistido, então, depois que ela tomou a terceira tequila. - Lamentou sarcástico.

Eu sabia que era brincadeira, mas isso não me impediu de odiar ouvir aquilo.

—Eu te falei pra ir embora, isso é mais que uma briguinha para mim. - Argumentei.

—Sério? Se eu soubesse teria procurado alguém que quisesse brincar de alguma coisa mais gostosa que War.

—War? - Falei com o cenho franzido, mas ele não negou e nem confirmou, me fazendo revirar os olhos para sua intenção e acabar cedendo mesmo assim, sabendo que eu não deixaria de pensar nisso até saber o que queria. - O que aconteceu, Harry? - Perguntei a contra gosto, arrancando dele um sorriso presunçoso que eu vi de canto de olho.

—Mike me convidou para ir até a casa dele ontem a noite, para jogar com ele, Lisa e a Kate. - Falou indicando o celular para enfatizar que era de quem se tratava. - Que é a irmã dele.

—Uhn. - Foi meu único comentário, mas a verdade é que eu nem sabia que Michael tinha uma irmã.

—E dessa vez ela ganhou, por isso está contando vantagem, mas quem normalmente ganha sou eu, porque sou ótimo em estratégia e nesse jogo. - Falou convencido e eu quase ri. - Foi só isso.

—Uhn. - Repeti e tentei ignorar minha vontade de perguntar mais, mas falhei. - Cinco da manhã?

—Você nunca jogou War? - Neguei com a cabeça. - Vou comprar um para te ensinar. - Prometeu antes de me responder. - As partidas demoram muito quando todo mundo é bom.

—Uhn.

—O que mais? - Perguntou quando repeti minha interjeição monossilábica.

Já tinha começado mesmo, então nem tentei negar.

—Gatinho?

—Aah, é uma piada. Toda vez que a mãe deles me vê fala que eu estou um gato, desde que tinha uns catorze anos, e ela imitava para irritar, só que aí ficou. Nunca reparou que o Mike me chama de lindinho as vezes?

—Já.

—É pelo mesmo motivo, aí eu acabei chamando de volta também.

—Ah, tá. - Falei e continuei como estava, olhando para frente e a cabeça encostada em seu ombro.

Harry ficou um momento em silêncio antes de se manifestar de novo.

—Gin, me sinto meio na obrigação de te tranquilizar sobre uma coisa. - Seu tom não mentia que o que viria a seguir era engraçado pelo menos para ele.

—Tranquilize, então.

—É bem normal sentir ciúmes quando a gente gosta de alguém, não precisa se preocupar com seu estado de saúde. - Terminou a frase já rindo.

Olhei ameaçadora para ele, o que contribuiu para seu sorriso bem relaxado e feliz.

—E ter impulsos violentos em alguns momentos, é normal também ou isso deve preocupar? - Perguntei irônica.

O celular ainda na mão dele e estendido à nossa frente tocou e o nome do Michael surgiu na tela.

—Deve ser normal também, porque as vezes eu tenho vontade de te dar uns tapas. - Respondeu levando o aparelho ao ouvido, me fazendo rir. - Oi, Mike.

Virei para frente de novo e esperei enquanto ele conversava com o amigo, perguntando detalhes do que me parecia um convite e confirmando alguma coisa.

—Espera aí. - Pediu e se virou para mim. - Quer sair hoje a noite?

—Para onde? - Virei apenas o rosto em sua direção.

—Um bar estilo cassino, é bem legal, vai todo mundo. - Informou com os olhos brilhando de empolgação.

—Quero.

—Vamos, Mike, que horas? - Ele riu com vontade de alguma coisa que o amigo falou, apertando mais o braço ao meu redor enquanto isso. - Até mais tarde. - Encerrou a ligação e me puxou para desencostar do parapeito da janela. - Sai daí, está frio.

Fechei outra vez a cortina antes de me afastar e me sentei no sofá, deixando minha coxa de apoio para sua cabeça e vendo-o se acomodar no meu colo.

—O pessoal gosta de jogar um pouco, mas eu fico com você para não ser chato.

—Pode jogar com eles, Harry, não vai ser chato.

—Eu não sei muito bem. - Assumiu sem se importar em demonstrar a falta de habilidade.

—O que eles jogam?

—Poker.

—Sério? - Falei surpresa.

—Uhum, acho super legal, mas não entendo muito bem a lógica, então eu fico com você.

Abri a boca para dizer que não precisava e explicar o motivo, mas desisti, achando melhor deixá-lo surpreso também.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal. Tudo bem?
Resolvi chegar mais cedo essa semana, a ansiedade de postar esse capítulo não me ajudou a esperar até amanhã.
O que acharam da reação dos dois após a semana sem se ver? Parece que a distância faz a Ginny pensar, não é? Mas não o suficiente para sequer cogitar se abrir...
Ansiosa para saber a opinião de vocês, não deixem de comentar!
Beijos e até o próximo.

Dica: Usem o Google tradutor ;)

Crossover: Esse capítulo é independente de Backstage, mas coisas importantíssimas estão acontecendo por lá, então não deixem de acompanhar.
https://fanfiction.com.br/historia/692675/Backstage/