Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 18
Capítulo 18




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Harry me deixou no hospital na manhã seguinte e passou na casa dele para trocar de roupa antes de ir trabalhar. Como cheguei num horário bem tranquilo fui até a lanchonete comer alguma coisa enquanto meu primeiro paciente agendado não chegava. Antes de terminar meu copo fumegante de café com leite recebi uma mensagem:

"Você deixou sua chave cair no meu carro, quer que eu leve para você?"

Antes de responder repassei mentalmente minha agenda para o dia e me lembrei que havia uma cirurgia marcada para o fim da manhã, mas que provavelmente se estenderia por toda a tarde, mesmo hoje sendo o dia em que normalmente saia do trabalho mais cedo.

"Tenho uma cirurgia marcada para essa tarde, então não precisa. Se importa de ir para lá quando sair do trabalho? Aí eu pego com você."

Nem me dei ao trabalho de soltar o celular, porque suas respostas eram sempre muito rápidas, como de fato foi.

"Tudo o que você quiser, minha linda. Até a noite, beijos."

Sorri para a tela enquanto finalizava minha bebida e caminhei para fora da lanchonete enquanto digitava:

"Tudo mesmo? Vou cobrar ;) Até, beijos."

O dia todo foi ótimo e nada saiu do cronograma agendado, não houve nenhum imprevisto, nenhuma complicação e consegui terminar a cirurgia um pouco antes das quatro da tarde. O ponto negativo disso é que eu precisaria esperar até Harry sair do trabalho para poder ir embora, porque não tinha como entrar em casa. Me sentei em uma das cadeiras da recepção, preparada para esperar pelo menos mais uma hora, mas quarenta minutos depois meu celular tocou e o nome do Ron apareceu no identificador de chamadas.

—Oi. - Atendi enquanto lia o novo cartaz de incentivo à doação de sangue, colado na parede à minha frente.

—Está em casa?

—Não, ainda no hospital, por que?

—Ia passar rapidinho para te ver, mas deixa. - Explicou sem parecer se importar.

—Você está com a minha chave? - Perguntei, me lembrando que ela normalmente ficava em seu chaveiro.

—Estou, por que?

—Então vai para lá, chego em alguns minutos para te encontrar.

—Ok, até mais.

Quando cheguei ele já estava em frente à portaria esperando e me deu um abraço rápido antes de entrarmos. A primeira coisa que vi quando entrei foi o envelope jogado no chão, provavelmente contendo os convites para o desfile da nova coleção da Hermione, que ela disse que deixaria por baixo da minha porta. O abri enquanto Ron trancava a porta atrás de nós e confirmei minha suspeita.

—Você vai? - Perguntei a ele e mostrei um dos dois papeis de aparência elegante que havia dentro.

—Vou. - Confirmou antes de se virar em direção à cozinha.

—Como estão as coisa, tudo bem? - Perguntei deixando a bolsa  e os convites sobre a mesa, para então acompanhá-lo.

—Sim, e com você? - Falou enquanto abria minha geladeira e apanhava a garrafa de água.

—Também. Cliente novo?

—Por que outro motivo eu usaria roupa social? - Constatou o óbvio, deixando o copo sobre a pia e me seguindo quando saí de lá.

—Pra Mione tirar como presente de aniversário. - Falei divertida, entrando no meu quarto para trocar de roupa.

Quando vi o terno recém usado em sua lavanderia no ano anterior e ele me contou qual era a ocasião, tive vontade de ligar para parabenizá-la pelo feito, mas achei melhor não deixar minha amiga tão sem graça quanto eu sabia que ficaria.

—Também era uma ocasião especial. - Falou malicioso e convencido, se deitando muito confortavelmente na minha cama e afrouxando a gravata de olhos fechados.

—Ronald, tira o sapato do meu edredom! - Exigi, batendo no pé dele com a sapatilha que tinha acabado de tirar.

Deixei meus sapatos de lado e me virei de frente para o guarda roupa, procurando meu traje preferido para usar em casa. Tirei de lá de dentro uma calça de moletom cinza e uma blusa rosa que eu tinha há anos e adorava, deixei as duas peças do lado dele e comecei a me despir.

—Projeto grande?

—Se ganharmos, sim, mas não sei se vai rolar. - Contou, apoiando as mãos atrás da cabeça e se levantando um pouco para olhar para mim enquanto explicava. - É o projeto de um e-commerce novo e eles têm um orçamento meio apertado, para ganhar eu teria que diminuir muito o preço e não sei se vale a pena, porque o trabalho é pesado.

—Entendi. - Comentei, terminando de tirar a calça e jogando no chão ao meu lado. - Se você não quiser, vê se alguém da equipe quer fazer por fora, se não atrapalhar o rendimento na empresa ainda ajuda a pessoa, sei lá.

—Estava pensando nisso. - Falou pensativo, em seguida se virou para mim com a expressão mais alerta. - Alguém viria aqui antes de você chegar? Acho que ouvi a porta bater.

—Minha chave caiu no carro do Harry, pedi para ele vir trazer quando saísse do trabalho, por isso eu estava no hospital esperando. - Contei normalmente, abrindo os botões do meu cardigan.

Ron abriu a boca para falar algo, mas antes que tivesse a chance ouvimos o grito vindo da sala:

—Como você entrou, Ratinha? - Harry perguntou, provavelmente estranhando minha bolsa sobre o sofá.

Prendi o riso e olhei para o meu irmão, que articulou o apelido sem emitir som, me olhando incrédulo. Antes que eu respondesse qualquer coisa, Harry apareceu na porta do meu quarto e seu sorriso morreu quando viu que eu não estava sozinha, o olhar acusador me fitando sem entender muita coisa.

Na hora me lembrei que eu nunca tinha mostrado uma foto do Ron a ele, então devia estar sendo estranho me encontrar tirando a roupa na frente de um cara de terno, confortavelmente deitado na minha cama e agora o encarando com vontade de rir. Para ser sincera, até eu achei um pouco engraçado como Harry ficou sem graça e emburrado ao olhar de mim para ele, claramente enciumado com a situação.

Antes que um dos dois dissesse algo estiquei a mão em sua direção em um convite e tentei sorrir de uma maneira que eu esperava ser tranquilizadora.

—Vem cá. - Chamei quando ele pareceu em dúvida se vinha até a mim ou não, mas no fim se aproximou e me deu um selinho. - Esse é o Ronald, meu irmão, ele me ligou perguntando se podia passar aqui para me ver e eu aproveitei que ele tem uma cópia da minha chave para vir para casa mais cedo. - Contei o que houve e sua expressão se suavizou de imediato.

—Ron, esse é o Harry. - Apresentei devidamente quando os dois trocaram um aperto de mãos.

Meu irmão parecia estar se divertindo com a cena, e voltou a se deitar exatamente da maneira como estava para continuar nos olhando.

—O cara da sobremesa? - Perguntou sarcástico, olhando de mim para ele avaliador.

—Ele mesmo. - Confirmei sem me abalar, vestindo a calça que havia separado.

Harry olhou confuso para isso, mas não perguntou nada. Eu sabia que era apenas porque ele deixaria para perguntar quando estivéssemos sozinhos, e não porque não estava prestando atenção.

—Ratinha? - Ron continuou os questionamento, sem demonstrar constrangimento algum.

—Não pergunte, você não quer saber. - Falei rindo e o Harry ficou um pouco sem jeito, como pouquíssimas vezes até então.

—Quero sim, adoraria ouvir.

—Acredite, você não vai gostar se eu contar. - Insisti olhando séria para ele, que sorriu debochado e deixou para lá.

—Gin, preciso ir. Só passei para ver você. - Anunciou, se levantando.

—Tudo bem, vou tentar passar na sua casa com mais tempo qualquer dia. - Concordei e esperei ele pegar o celular que tinha deixado sobre meu criado mudo e guardar novamente no bolso.

—Tchau, Harry, foi um prazer.

—O prazer foi meu. - Se manifestando pela primeira vez desde que chegou.

Os dois trocaram mais um aperto de mãos e eu o deixei na sala por um minuto para acompanhar o Ron ate o hall enquanto esperava o elevador.

—Justo você que nunca se apaixonaria, uhn? - Zombou em voz baixa quando ficamos sozinhos. - Gostei de conhecer o namoradinho.

—Ele não é meu namoradinho, Ron. - Argumentei, rolando os olhos para ele.

—Jura? Observando eu garanto que parece. - Falou completamente irônico, me olhando de cima com um sorriso de canto. - Ele fica com a chave da sua casa, pode te esperar aqui antes de você chegar e já até te chama por um apelido ridículo. Por favor, Gin, vou ficar muito chateado se não for o primeiro a saber quando vai ser o casamento. Ou devo chamar de Ratinha daqui para frente? - Terminou rindo no momento exato em que o elevador chegou.

No fim eu ri com ele e me estiquei para dar um beijo em seu rosto.

—Cala a boca, Ronald.

Lancei um último aceno antes das portas se fecharem completamente e voltei para casa. Harry estava procurando algo interessate na TV quando entrei, sentado no sofá parecendo tão confortável como sempre parecia na minha casa. Me joguei do lado dele e roubei um beijo bem mais satisfatório e escandaloso do que aquele de quando chegou.

—Isso foi estranho. - Comentou quando nos separamos.

—Você está falando da parte que ele pareceu muito confortável encarando nós dois ou de você ficando com ciúmes quando chegou? - Perguntei rindo e ele me olhou cético.

—Cadê sua moral para falar de ciúmes, doutora? - Falou com superioridade, retruquei mostrando a língua.

Me virei de costas e ele deu espaço quando acomodei a cabeça no seu colo, sua mão foi automaticamente para o meu cabelo, onde ele se deteve por minutos a fio enroscando os dedos em um carinho suave.

—Cara da sobremesa? - Perguntou depois de um minuto em silêncio. - É algo que eu deveria ter entendido?

Ri antes mesmo de contar, apenas com a lembrança.

—Pega meu celular ali para mim, por favor? - Apontei o aparelho deixado sobre a mesa de centro e ele se esticou o suficiente para alcançá-lo e me entregar.

Como eu nunca apagava os históricos, procurei as mensagens que troquei naquele dia com meu irmão.

—Lembra quando saímos uma vez, bem no começo, eu te perguntei se você queria sobremesa e você respondeu apontando para mim? - Ele confirmou com um aceno e eu entreguei o aparelho. - Isso foi no dia seguinte, eu acho, a mensagem chegou quando eu tinha acabado de deitar para dormir depois do plantão.

Ele olhou para a tela por alguns segundos e sua risada solta ecoou pela sala.

—Ele me ligou na hora perguntando que porra de mensagem era essa. Até acordei.

—Não somos muito sutis na maneira de deixar a família descobrir o outro, Ratinha. - Comentou, voltando a me fazer carinho.

—Na verdade eu acho que não somos sutis em nada, Ursinho. - Respondi sorrindo propositalmente meiga, principalmente na hora de pronunciar o apelido.

—Não brinque com a sorte me chamando assim. - Ameaçou, me olhando de canto.

—Ou então o que? - Desafiei.

Antes que ele respondesse, levantei de onde estava deitada e me arrastei até sentar em seu colo.

—Alias, quando vai ser o próximo encontro com seus amigos? - Continuei sem dar a ele tempo de se manifestar e seu semblante ficou tomado de surpresa quando ouviu minha pergunta.

—Não sei ainda, por que?

—Algo me diz que Dave vai amar seu novo apelido. A Jess, então! - Comentei com um sorriso de canto, como quem não quer nada. - Se bem que eu não sei se vou gostar que ela te chame assim. - Observei pensativa e ele gargalhou com isso.

—Essa é a sua ameaça? - Perguntou divertido e eu concordei com um aceno. - Acho que vou correr o risco, porque não dá para não te chamar de Ratinha mais, já é a sua cara.

—Então vou ter que continuar tentando não me ofender com isso? - Lamentei sarcástica, porque no fundo eu também já gostava.

—Você já deveria ter se acostumado. - Opinou, se inclinando para me beijar.

Antes que nossas bocas se encostassem me lembrei de algo que eu deveria avisar e o empurrei com as mãos em seu peito.

—Você tem algo agendado para sábado que vem?

—Não, por que?

—Você vai comigo em um lugar. - Determinei do mesmo jeito que ele fazia comigo as vezes.

—Vou? - Repetiu minha reação.

—Sim, e você vai vestir uma roupa social completa, inclusive gravata. - Exigi, me levantando e caminhando até a mesa, onde estavam os convites.

—Uma semana inteira de roupa social já é suficiente, não acha? - Argumentou, alto o suficiente para que eu ouvisse.

—Dessa vez é realmente necessário. - Expliquei me sentando novamente sobre suas pernas e entregando os convites para que ele pudesse ler. - Você vai comigo.

Seus olhos correram rapidamente sobre as linhas escritas e sua expressão foi se tornando cada vez mais incrédula.

—Você quer que eu vá em um desfile de moda?

—Eu fui com você assistir aquele filme estranho, um monte de jogos do seu time no campeonato, encontrar seus amigos e até deixei você me embebedar com álcool de limpeza. - Numerei meus argumentos diante do seu olhar desconfiado. - É óbvio que você vai comigo no desfile da Mione.

—Você nunca pede nada, mas também quando resolve pedir é detonando, não é? - Comentou olhando de novo para o papel em suas mãos, e eu soube que ele já tinha concordado.

—Vai ser legal, você vai ver. - O tranquilizei e ele me olhou cético. - Além disso, você disse hoje de manhã tudo o que eu quisesse e eu avisei que cobraria.

—Achei que você estivesse falando de coisas gostosas.

—Posso falar de coisas gostosas também, nada me impede. - Me levantei e fui em direção à cozinha, na intenção de preparar algo para comermos. - Nunca falei, quando você me pede pra contar algo que ainda não saiba, que tenho uma tara não reprimida por gravatas?

Sua risada soou atrás de mim quando ele se encostou no balcão para esperar.

—Se o que você quer é uma gravata, posso ir buscar em casa rapidinho.

—Não é tão simples, precisa de um contexto. - Esclareci como se fosse óbvio.

—Pensarei em um contexto decente, então. - Prometeu com um sorriso de canto.

—Agradeço desde já. - Falei sorrindo de volta e voltando a me concentrar no que estava fazendo.

Harry se despediu de mim depois que jantamos e foi para casa, assim que fiquei sozinha demorei tempo suficiente para tomar banho e fui dormir.

A semana seguinte passou sem que eu percebesse, quando dei por mim já era quinta a noite de novo e eu estava sentada no sofá, comendo o último pedaço da lasanha congelada da noite anterior e assistindo um filme em cujo nome sequer prestei atenção. Meu celular tocou na mesa de centro à minha frente e eu me estiquei para alcançá-lo. Pelo horário, não precisei olhar para saber que era Harry.

—Oi, Ursinho. - Atendi rindo.

—Quase tenho vontade de desligar assim. - Contestou, mas notei que ele ria também.

—Mentira, você adora. - Garanti.

—Faz tempo que você chegou?

—Mais ou menos. - Respondi, deixando meu prato vazio onde antes estava o telefone. - Estava terminando de comer.

—Que cor é a sua roupa? - Perguntou mudando de assunto.

—Minha roupa? - Falei confusa, mas olhei para baixo mesmo assim. - Estou com uma blusa azul e...

—Não! - Me interrompeu rindo. - A roupa que você vai usar sábado.

—Para ir no desfile? - Questionei meio confusa e ele concordou. - Sei lá, Harry, eu escolho quando for me vestir.

—Adoro essa sua praticidade, mas dessa vez você vai escolher antes. - Falou achando divertido, mas não demonstrando estar surpreso. - Vai escolher.

—É sério isso? - Perguntei já me levantando e indo em direção ao meu quarto.

—Sim. - Confirmou e ficou em silêncio, aguardando.

Ainda com o telefone no ouvido, abri a porta do meu armário onde eu deixava os vestidos que raramente usava e passei os olhos por eles rapidamente, pensando no que seria ideal. Sem mangas, muito festivo, descontraído demais, muito comprido... até que cheguei a um verde de mangas longas que descia justo até minha cintura e se abria levemente em uma saia rodada que ia até metade das minhas coxas. Puxei o cabide e olhei por um momento, então me decidi que com uma meia preta, sapatos de salto e sobretudo da mesma cor ele ficaria ideal.

—Verde. - Anunciei por fim.

—Já?

—Sim. - Confirmei fechando a porta do guarda roupa, apaguei a luz e voltei para o sofá.

—Claro ou escuro?

—Escuro.

—Obrigado. - Agradeceu sem que eu entendesse completamente o motivo.

A partir daí ele me perguntou se meu dia tinha sido bom, falou do trabalho e conversamos coisas aleatórias por alguns minutos.

Sete da noite no sábado, horário em que combinamos que ele viria me buscar, eu já estava devidamente vestida com a roupa que informei a Harry, com a maquiagem digna do evento para o qual estava indo e os cabelos soltos sobre os ombros. Quando meu celular tocou com a mensagem dele informando estar me esperando na portaria, olhei mais uma vez no espelho e saí depois de me certificar que estava tudo certo.

O comprimento do vestido era exatamente como os que normalmente eu usava, mas o decote mostrava bem mais do que a maioria das minhas roupas e os olhos dele se detiveram ali por vários segundos antes de se desviarem para o meu rosto.

—Você está linda, mas estou achando difícil olhar para o seu rosto hoje. - Comentou divertido diante do meu olhar irônico quando finalmente me encarou.

Trocamos um beijo rápido e eu afivelei o cinto de segurança quando o carro começou a andar. Chegamos no local marcado e encontramos uma decoração digna da minha vizinha, porque tudo ali, desde as cadeiras estofadas em cores diferentes e simétricas até a roupa dos garçons servindo águas e coquetéis, gritava moda e tendência.

—Hermione arrasa, não arrasa? - Comentei baixinho para ele, assim que entramos.

Entreguei os convites para a moça desnecessariamente bonita que sorriu para nós na entrada e caminhamos de braços dados até a fileira que ela nos indicou. O local estava quase completamente cheio, com exceção da cadeira que ficou livre ao meu lado e uma ou outra, espalhadas ao redor da passarela adornada com pendentes de luzes dando foco a cada dois metros.

Pousei o casaco no colo e alisei o vestido para ajustar o caimento nos lugares certos. Harry passou o braço por trás do meu ombro quando cruzei, pronta para esperar o início.

—Obrigado por me dar uma coisa para olhar caso esteja muito chato. - Sussurrou no meu ouvido.

Sorri cúmplice para ele e estufei o peito um pouquinho mais, fazendo-o rir.

—Você também não está nada mal. - Comentei passando a mão pela gravata verde em contraste com sua camisa preta. - É da mesma cor? - Perguntei, notando só agora que o tom era o mesmo da minha roupa.

—Estou criando um contexto. - Piscou para mim ao final da frase.

—Tem final feliz? - Falei sugestiva.

—Sempre tem. - Prometeu, me dando um beijo no rosto.

—Oi, casalzinho. - Ouvimos uma voz, por mim já conhecida, dizer acima de nós.

—Oi, Ron. - Cumprimentei e estiquei meu rosto para que ele beijasse assim que se sentou na cadeira vazia ao meu lado.

—Oi. - Harry também falou quando trocaram um aperto de mãos na minha frente.

—Já começou? - Perguntou me olhando.

—Não. - Respondi me virando para ele. - Olha, um terno de novo. Vai atender algum cliente aqui também? - Zombei, mas ele me ignorou e se encostou virado para frente.

—Vai demorar uma eternidade. - Resmungou no momento exato em que as luzes laterais ficaram mais baixas, anunciando o início.

Quando o time de homens e mulheres dignos de estampar capas de revistas começou a desfilar suas roupas impecáveis à nossa frente eu me concentrei em olhar com o máximo de atenção possível, mas o tédio se instaurou nas duas pessoas sentadas cada uma de um lado. Ron se encostou e cruzou os braços, totalmente desligado do mundo, Harry se virou para mim e ficou realmente olhando meu decote enquanto brincava com uma mecha do meu cabelo.

—Senta para lá. - Meu irmão falou, se levantando de repente e me indicando a cadeira em que antes ele estava. - Você também. - Ordenou para Harry, indicando a cadeira que até então eu estava ocupando.

Quando pulamos um assento ele se acomodou no lugar vago, deixando Harry entre nós dois. No segundo seguinte os dois começaram a conversar em voz baixa sobre algo que não consegui identificar, a mecha do meu cabelo foi deixada de lado e o braço saiu de trás das minhas costas quando ele se virou para o outro lado. Olhei desconfiada por alguns segundos, mas voltei minha atenção para a passarela a nossa frente.

—Eu já volto. - Ouvi a voz dele no meu ouvido uns dez minutos depois. - Segura aqui para mim, por favor.

Antes que eu tivesse a chance de perguntar onde ele ia ou o que eu deveria segurar, paletó, celular e a carteira foram deixados no meu colo e ele saiu com meu irmão, pedindo licença para as pessoas enquanto passavam em sua frente.

Por um momento fiquei observando-os se afastar, me decidindo se eu deveria me sentir indignada por Ron levar minha companhia sem ao menos avisar ou por Harry socializar assim com meu irmão sem nenhuma dificuldade e me deixar aqui sozinha.

Cheguei à conclusão de que se eu fosse me ater a com quem Harry socializa sem dificuldade nunca teria paz, então deixei o assunto para lá e pousei com cuidado sua roupa na cadeira ao meu lado. A carteira e o telefone foram colocados no meu colo sem muita atenção e eu voltei a olhar para a frente. Por quase uma hora me concentrei no evento a que fui convidada e minutos antes do final os assentos ao meu lado voltaram a ser ocupados por seus donos.

Quando senti novamente o peso confortável do braço do Harry sobre meu ombro, estendi para ele seus pertences e pousei a mão na sua perna, como era de hábito.

Após a última modelo passar por nós, Mione e mais quatro pessoas invadiram a passarela para receber os aplausos. Minha amiga estava no mínimo radiante em um vestido vermelho impecavelmente cortado e ajustado a ela, que descia até cobrir o que eu podia jurar ser um salto, no mínimo, enorme. Os criadores agradeceram e saíram novamente, dando espaço para que as luzes se acendessem.

—Não foi tão chato. - Harry comentou quando paramos em meio ao salão destinado à recepção dos convidados.

Ergui a sobrancelha em sua direção, desafiando-o a continuar elogiando o evento que ele nem assistiu. Em troca ganhei uma risada descarada e um selinho.

Ao longe vi minha vizinha caminhando entre os convidados e me adiantei para abraçá-la quando chegou até nós.

—Mione, estava tudo impecável! - Falei, aumentando ainda mais seu sorriso.

—Gostaram mesmo? - Perguntou radiante, me soltando e dando um beijo rápido no Harry.

—Maravilhoso e encantador. - Ele confirmou sem um pingo de constrangimento e eu prendi uma risada.

—Fico muito feliz que vocês tenham podido vir. - Agradeceu mais uma vez e olhou em volta, procurando alguém.

—Ron foi ao banheiro, ele já retorna. - Informei sem que ela precisasse fazer o esforço de perguntar.

—Ah, obrigada.

—Seus pais vieram? - Mudei de assunto antes que ela ficasse sem graça.

—Ah, sim. Estão lá atrás conversando com o resto da equipe. Mamãe adora se informar sobre os bastidores. - Falou revirando os olhos.

—Caso eu não os veja, diga que mandei um beijo.

—Direi. - Confirmou se virando quando alguém a chamou. - Gin, preciso ir. Fiquem o tempo que quiserem e obrigada por comparecerem.

—O prazer foi nosso. - Respondeu o homem excessivamente simpático ao meu lado.

—Maravilhoso e encantador. - Comentei quando ficamos sozinhos, me virando de frente para ele e deixando seus braços enlaçarem minha cintura. - Você estava falando das três primeiras peças que viu, do Ron ou do drink que tomaram juntos?

—Tudo isso que você disse estava quase tão maravilhoso e encantador quanto, mas o que roubou a minha cena mesmo foi esse seu decote. Era dele que eu estava falando. - Respondeu no meu ouvido.

—Lisonjeiro.

—Quer ir embora daqui? - Propôs, apertando mais os braços ao meu redor.

—Será que já podemos?

—Ela disse para ficar o tempo que quisermos, infelizmente queremos pouco. - Se lamentou falsamente, me fazendo rir.

—Vamos logo, então. Depois aviso o Ron que saímos mais cedo.

—Toma, você pode dirigir. - Me entregou a chave do carro, já sabendo que eu pediria por causa da bebida que ele ingeriu. - Para a minha casa, ok?

—Por que? - Perguntei desafiadora, mas nem cogitando a possibilidade de não obedecer.

—Porque vai valer a pena. - Promete cheio de segundas intenções.

Durante os minutos de trajeto ele se atentou em fazer carinho na minha coxa, o que teria me desconcentrado se não fosse isso já um hábito. Quando Harry abriu a porta para entrarmos, não o esperei fechá-la e já fui tirando o casaco em direção ao sofá.

—Você esqueceu as luzes do canto acesas. - Me referi às lâmpadas mais baixas que ele acendia quando queria criar um clima diferente.

Fui até o interruptor para substituir pelas luzes centrais, mas ele segurou meu pulso antes que eu alcançasse.

—Não esqueci, faz parte do meu contexto. - Afirmou com um sorriso atrevido. - Hoje nada além do que está aceso.

E isso correspondia exatamente apenas a elas, no apartamento inteiro. Sorri de volta da mesma forma e o puxei mais para perto pela gravata.

—Sem problemas, você vai determinar quando, como e onde também, ou tenho algum poder de decisão?

—Você decidiu vir para cá, já é o suficiente. - Afirmou subindo as duas mãos para os meus seios e olhando com vontade para eles.

O beijo que se seguiu a isso não foi calmo e fez minha expectativa ainda maior. Me senti ser empurrada para o lado e acompanhei sem nenhuma resistência, parando apenas quando ele me levantou pela parte de trás das coxas e me sentou sobre a mesa de jantar.

Minha meia calça foi a primeira a ser retirada, em uma lentidão proposital enquanto Harry corria os dedos pelas minhas pernas, me deixando ofegante. Depois o zíper do meu vestido foi abaixado da mesma forma, me deixando alguns segundos depois só de calcinha e sutiã.

Quando a peça foi deixada de lado, o puxei para mais perto e abri os botões da sua camisa, que logo também estava no chão, mas a gravata que finalizava o traje foi deixada cuidadosamente ao meu lado. Sua calça foi tirada diante do meu olhar avaliador, e só quando ele também usava apenas a última peça de roupa se postou novamente entre minhas pernas e beijou meu pescoço.

—Posso usar isso aqui? - Perguntei, mostrando o tecido verde preso entre meus dedos.

—Eu que vou usar isso aqui. - Determinou, tirando de mim e se afastando com ela esticada na frente do meu rosto. - Divirta-se, e não tire. - Falou com um sorriso de canto e vendou meus olhos.

Mordi os labios com expectativa enquanto ele fazia o laço que a prenderia sobre meus olhos, mas não consegui manter a boca fechada quando suas mãos voltaram sem aviso para o meu corpo. Por um tempo que não consigo dizer quanto, Harry se dividiu entre dar atenção ao meu pescoço e meu decote, enquanto eu continuei com os cotovelos apoiados na mesa atrás de mim e as pernas ao redor dele, mantendo-o preso entre elas.

Minhas duas últimas peças de roupa foram tiradas sem que ele falasse nada e ainda em silêncio o senti se afastar sem aviso. A falta de visão aguçada os outros sentidos, então eu tinha certeza que ele estava andando por ali e senti quando voltou a se acomodar onde estava antes, menos de um minuto depois.

—Abre a boca. - Ordenou e eu fiz o que ele disse.

Me espantei um pouco quando, sem aviso, ele colocou uma colher entre meus labios, mas sorri assim que senti o que ela continha.

—Brigadeiro. - Sussurrei alto o suficiente para que ele ouvisse.

—Não é seu prato preferido? - Questionou à minha frente e eu concordei. - Hoje vai ser o meu também. - Afirmou e eu estremeci quando senti uma porção pegajosa do doce cair sobre minha barriga.

Soltei um gemido profundo quando a língua dele capturou o chocolate que eu sentia escorrendo lentamente.

—Uma delícia. - Comentou sem desgrudar a boca da minha pele. - Quer mais?

—Uhum. - Pedi já com a boca aberta, a excitação fazendo o gosto da segunda colherada ainda melhor. - Não posso provar em você também? - Perguntei apertando mais as pernas ao redor do seu quadril, me encostando ainda mais a ele.

—Hoje a festa é só minha. - Negou no momento exato em que senti mais um pouco do brigadeiro cair sobre uma das minhas coxas. - Mas assim você ajuda bastante. - Falou se afastando.

Antes que Harry me lambesse ali também, ouvi a cadeira ser puxada e ele se sentar à minha frente para ficar mais confortável e fazer o seu trabalho.

Eu ainda estava ofegante quando o ouvi se levantar e ficar novamente em pé, como estava anteriormente.

—Mais?

Nem tentei responder, mas abri a boca confirmando. Diferente das outras vezes, minha parte não veio na colher, mas em um beijo quente e com uma mistura de gostos, acompanhado dos seus dedos entrelaçados em meus cabelos e o metal frio do talher subindo devagar pelas minhas costas, deixando difícil controlar os arrepios.

Quando o senti me invadir sem aviso nem rodeios, arqueei as costas em sua direção e por reflexo mordi forte seu lábio.

—Devagar. - Pediu entre divertido e satisfeito, o tom de voz mais baixo que o normal.

—Deixa eu tirar isso, por favor. - Pedi entre gemidos, a mão já quase alcançando o tecido.

—Hoje só eu vou ver, doutora. - Segurou meu pulso e prendeu de encontro à mesa.

O ritmo adotado por ele nada tinha de devagar, como ele me advertiu, mas fazia jus à toda a pressa que eu sentia de senti-lo por inteiro. Quando terminamos e Harry finalmente parou, o rosto afundado no meu pescoço e as mãos segurando minhas coxas ao redor dele, nossas respirações estavam pesadas e descompassadas.

—Uau. - Murmurei quando me senti confiante para falar alguma coisa.

O senti rir baixo e dar um beijo estalado no meu pescoço antes de se levantar e me puxar para que eu sentasse direito. Por reflexo minhas mãos foram para a gravata que ainda bloqueava minha visão, mas fui impedida novamente.

—Ainda não disse que podia. - Ouvi sua voz próxima ao meu rosto. - Ainda tem seu prato preferido, quer?

—Estou satisfeita, obrigada. - Respondi no mesmo tom. - Você quer?

—Meu prato preferido? Acho que ela está um pouco cansada agora. - Zombou me puxando para descer dali.

Senti quando ele se esticou para trás e o barulho do interruptor indicou que as poucas luzes ainda acesas foram apagadas.

—Você tinha que ter visto isso. - Contou no meu ouvido enquanto me fazia andar para trás em meio a um abraço.

—Eu adoraria, se tivesse tido permissão.

—Essa era a minha festa, faça a sua. - Desafiou, e mesmo sabendo que ele não veria, arqueei a sobrancelha.

Ele me virou de costas quando parou de andar, assim que chegamos ao que eu achava ser seu quarto.

—Sugestão interessante. - Falei enquanto o nó do tecido era desatado.

Abri os olhos apenas para ver tudo tão escuro quanto estava antes, salvo pelas luzes da cidade que entravam pelas pequenas frestas.

—Vem. - Me chamou já se arrastando para o meio da cama.

—Eu deveria tomar um banho, não? - Perguntei apenas para confirmar a resposta que ele certamente me daria, mas também já me acomodando ao seu lado.

—Te garanto que não ficou absolutamente nada do doce em você, fique tranquila. - Falou exatamente o que eu esperava, o tom convencido sempre parente.

—Não duvido, você foi muito meticuloso em limpar tudo. - Confirmei relaxada sobre seu travesseiro e o ouvi rir. - Boa noite.

—Ótima noite, Ginny. - Me corrigiu, deu um beijo no meu rosto e se acomodou também.

O abraço gostoso e já familiar me ajudaram a pegar no sono quase imediatamente.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal, tudo bem?
Ele conheceu o Ron!!! Não foi de um jeito muito típico e acho que nem como esperava, mas conheceu! haha
E parece que se deram bem, não é? Apesar de todo o ciúmes de irmão mais velho...
Ansiosa para saber a opinião de vocês, não deixem de comentar.
Beijos e até sexta que vem.

Crossover: Algo me diz que umas coisinhas legais vão acontecer nesse desfile depois que Harry e Ginny forem embora, afinal a Mione está planejando isso há meses! Então não deixem de ler o próximo capítulo de Backstage ;)
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