Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 16
Capítulo 16




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Deixei a bolsa e meu casaco na sala e acompanhei o Harry até a cozinha para que ele bebesse água. Me sentei em um dos seus bancos altos, e sem conseguir deixar de sorrir observei seus movimentos mais soltos por causa de toda a cerveja que tomou. Depois de dois copos ele guardou a garrafa na geladeira e se encostou nos meus joelhos, também achando a situação engraçada.

—Me conte algo que eu ainda não saiba, doutora. - Pediu, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e mudando completamente o assunto que estava falando antes.

Diferente da primeira vez que ele me fez a pergunta, a resposta agora escapou antes mesmo que eu pensasse:

—Nunca fiquei bêbada.

—Eu preferia que fosse algo surpreendente, Ratinha. - Zombou como se aquilo fosse a única coisa possível a se esperar de mim e eu o fuzilei com o olhar. - Não sei porque, mas é exatamente o tipo de coisa que eu esperaria ouvir de você.

Seu tom era provocante enquanto dizia.

—Qual é a graça em ficar bêbada? - Perguntei desafiadora, cruzando os braços sobre o peito.

—Fique e veja. - Falou com um sorriso de canto que entregava o quanto ele estava gostando do rumo da conversa.

—Só porque você está bêbado não tenho que ficar também, Harry. - Afirmei por implicância, ele não me parecia nada além de um pouco alegre.

Ele gargalhou da minha afirmação.

—Acredite, não estou bêbado, mas posso te deixar rapidinho. Quer apostar? - Desafiou me olhando de canto.

—Se eu não ficar? - Perguntei no mesmo tom.

—Faço o que você quiser por um dia inteiro. - Concedeu sem parecer acreditar que aquilo fosse acontecer.

—A oferta é muito boa, mas e se eu ficar?

—Se você ficar, e você vai, faz o que eu quiser até dormir. O que vai acontecer em uns quarenta minutos, porque você não vai aguentar. - Falou com segurança e eu o olhei cética.

—Você é tão confiante que até irrita. - Comentei, mas ele não pareceu se importar. - Vamos fazer isso logo. - Aceitei porque não tinha como isso não ser divertido.

Ele fez um gesto de vitória e sem aviso se virou para o armário.

—Mas espera, e se eu vomitar? - Perguntei com cara de nojo.

—Não vai ser a primeira vez que alguém faz isso na minha frente. - Dispensou a possibilidade como se não fosse nada demais. - E eu seguro seu cabelo pra você, prometo.

Ele voltou para perto de mim trazendo uma garrafa com líquido transparente e um copinho daqueles que tem a quantidade exata de uma dose, muito comum em bares.

—Não vá me deixar em coma alcoólico, isso pode ser perigoso. - Alertei.

—Coma alcoólico? - Repetiu descrente. - Para isso precisaria mais que essa garrafa, e eu aposto que você não aguenta cinco doses.

—Nossa, sua fé em mim é tocante. - Resmunguei enquanto ele enchia o copo quase totalmente.

—Vira de uma vez. - Orientou, me olhando com expectativa. - Sério, vira porque você não vai aguentar o gosto. - Alertou quando fiquei em dúvida.

Fiz o que ele pediu e senti o líquido descer queimando minha garganta. Entreguei o copo de volta com o que imaginei ser uma careta muito pouco amistosa e não consegui abrir os olhos de imediato, mas ouvi bem sua risada.

—Pelo amor de Deus, você tá me dando álcool de limpeza? - Reclamei quando consegui me recompor e isso o fez rir mais.

—Quase. - Afirmou divertido. - É vodca. Toma, vira de novo.

—Nem um pouquinho de água antes?

—Ainda não, daqui a pouco te dou. - Negou empolgado. - Vai, Gin.

Virei a segunda dose já preparada para a sensação de fogo que se espalharia pela minha garganta, então consegui evitar a careta apertando os olhos enquanto ele tirava o copo da minha mão. Quando o olhei ele me encarava divertido, aguardando minha reação.

—Só isso? - Perguntei satisfeita comigo mesma. - Me sinto como todos os dias.

—Ainda não, desce daí e vamos para a sala. - Determinou, segurando o copo e q garrafa em apenas uma não e se posicionando à minha frente preparado para me ajudar.

—Mas aqui está bom.

—Esse banco é alto, melhor você sentar no sofá.

Achei aquilo exagerado e revirei os olhos antes de me esticar e saltar para o chão. Assim que me levantei parece que todo o teor alcoólico subiu de uma vez e eu cambaleei levemente quando minha cabeça rodou. Senti o braço dele ao meu redor imediatamente e sua risada ecoou atrás de mim enquanto ele me guiava para a sala oferecendo seu apoio.

—Como todos os dias, é? Acho você bem mais equilibrada normalmente. - Zombou me deixando sentar em um canto do sofá.

Por algum motivo achei isso bem engraçado e ri enquanto o via encher de novo o copo. Minha risada o fez rir ainda mais, mas não me incomodei em perguntar por que e peguei minha bebida.

Virei tudo de uma vez preparada para o gosto que senti antes, mas curiosamente estava mais suave. Olhei confusa para o copo vazio, esperando a vontade de fazer careta, mas nada aconteceu.

—Está ficando gostoso, né? - Falou como quem entende.

Não respondi sua afirmação porque o Harry não precisava de alguém dizendo a ele que tinha razão, só devolvi meu copo e deixei a mão estendida esperando a próxima dose.

Bebi as próximas duas - ou três, ou quatro, não sei direito - em silêncio. A última delas estava com gosto tão bom que bebi devagar, degustando. Acho que ele riu de alguma coisa e me virei para olhar, mas meus movimentos pareciam estar mais lentos.

—Não é mais o álcool de limpeza? Que hora você trocou? - Devolvi o copo a ele. - Me da mais um pouquinho?

—É exatamente a mesma coisa. - Garantiu e colocou o copo e a garrafa sobre a mesa de centro antes de se voltar para mim de novo. - Já está bom, não precisa beber mais.

—Mal começamos um relacionamento e você já está mentindo e negando coisas para mim? - Falei tentando olhar desafiadora para ele, mas estava um pouco difícil focar seu rosto. - Você não deixa as coisas promissoras assim.

—Ah, isso é um relacionamento? - Perguntou com os olhos brilhando e um sorriso divertido.

—Não foi você que veio com aquele papo se que se tem rotina tem um relacionamento? - Tentei imitar a voz dele nessa última parte e ele riu alto.

—Você prestou atenção quando eu disse isso? - Continuou o assunto.

—Eu presto atenção até demais em tudo que você fala. - Afirmei convicta, mas depois fiquei em dúvida. - Não é para prestar? Sinceramente não te entendo.

Ele se virou para o lado e voltou trazendo outro copo cheio.

—É para prestar sim. Toma mais um pouco. - Ofereceu e eu o olhei agradecida. - O que mais você presta atenção?

Bebi e devolvi o copo antes de responder.

—Harry, eu presto atenção em tudo. Sou ótima em prestar atenção... - Parei de falar porque senti uma vontade súbita e gritante de ir ao banheiro. - Ai, eu quero fazer xixi.

Ele colocou os copo de novo sobre a mesa e se levantou com a mão estendida.

—Vem, eu te levo.

—Você não precisa me levar no banheiro, eu estou super bem. - Falei revirando os olhos para ele, que continuou me olhando sem dar importância.

Ignorei seu gesto e apoiei as mãos no assento estofado pra em impulsionar para cima, mas alguma coisa estava impedindo meus pés de se firmarem. Olhei para baixo e vi os sapatos de salto em que eu ainda estava calçada.

—Mas acho que assim eu não vou conseguir, tira o meu sapato? - Pedi me encostando de novo e estendendo a perna em sua direção.

Ele comentou alguma coisa reconhecendo que eu estava mesmo super bem e o problema estava nos sapatos que eu usei o tempo todo sem nenhum imprevisto até quarenta minutos atrás, mas os tirou como pedi e me puxou para que eu ficasse de pé.

Agradeci e um pouquinho cambaleante fui em direção ao banheiro que ficava em seu quarto.

—Eu odeio essa foto. - Comentei em voz alta assim que passei pelo painel no corredor.

—Qual foto? - Perguntou imediatamente parado atrás de mim e com os braços preparados para me amparar.

Olhei um tempo para o lado, mas não achei a foto que eu odiava, então dei de ombros e continuei andando.

—Sei lá que foto, Harry.

Ele tentou entrar no banheiro comigo, mas me virei e o impedi com a mão em seu peito.

—Você não precisa me levar no banheiro. - Neguei de frente para ele.

Apoiada na maçaneta da porta eu realmente me sentia bem equilibrada.

—Não tranque a porta. - Pediu e eu tentei fechá-la sem responder, mas ele impediu rindo e repetiu. - Sério, Ratinha, não tranque a porta.

—Ta bom, ta bom. - Concordei sem paciência e ele me deixou fechá-la.

Quando fiquei sozinha tentei abaixar a calça e percebi que ela estava fechada, o que eu nunca tinha reparado antes é em como aqueles botões são complicados. Eu estava ficando apertada demais e ainda não tinha conseguido, então pensei que talvez o Harry pudesse me ajudar porque ele nunca teve problema para abrir nenhuma das minhas calças.

—Harry? - Chamei e um segundo depois a porta estava aberta novamente, parecia até que ele ainda estava encostado no mesmo lugar de quando a fechei. Ele estava rindo de alguma coisa, mas apesar de querer saber o que era eu precisava primeiro conseguir usar o banheiro. - Como você abre essa calça?

Ele não pareceu surpreso com o que eu queria, só deu um passo a frente e um segundo depois a peça já estava abaixada até metade das minhas coxas.

—Obrigada, pode sair. - Agradeci indicando a porta de novo.

—Deixa eu ficar aqui?

—Só se você não olhar. - Expus minha condição e ele assentiu. - Promete?

—Prometo. - Confirmou e eu acabei concordando, ele não ia atrapalhar em nada mesmo.

Depois de perguntar onde mesmo estava o lixo para que eu jogasse o papel fora, deixei o Harry pensar que eu precisava de ajuda para fechar novamente a calça e lavar as mãos, porque ele parecia feliz ao fazer isso, e voltamos para o sofá.

—Acho que quero mais um pouquinho. - Falei animada quando avistei a garrafa à minha frente.

—Não quer não.

—Quero sim. - Teimei, mas antes que ele respondesse outra coisa chamou minha atenção e eu desviei meu caminho, indo até sua estante numa velocidade que ele não esperava. - Acho que vou ler um livro seu.

—Não! - Negou alarmado e puxou minha mão quando eu estava pegando um exemplar qualquer. - Você não tem permissão para mexer aí.

O olhei indignada, mas ele não pareceu se abalar com minha expressão e me puxou de volta para o sofá. Eu ia perguntar quem ele achava que era para me permitir ou não a fazer alguma coisa,mas o encontrei rindo de um jeito descontraído e bonitinho.

—Eu acho super lindo o jeito que você ri. - Falei quando ele me deixou cair sentada e me deitei confortavelmente com os pés sobre o sofá..

—O que mais você acha? - Perguntou se sentando entre minhas pernas e apoiando os braços sobre minha barriga para me olhar com expectativa.

—Acho que você poderia me dar mais um pouquinho daquilo. - Pedi com o que parecia ser meu olhar mais convincente e ele gargalhou.

—Não, nós estamos conversando. - Negou e eu revirei os olhos. - Me conta, quem foi seu primeiro namorado?

—Nossa, que assunto chato! Foi o Dino, e só para você saber ele era o cara mais popular da escola.

—Olha, quase estou com inveja. - Falou irônico, mas sem deixar de sorrir. - Ele foi o primeiro?

—Primeiro namorado? Sim, não é disso que estamos falando? - Falei como se fosse óbvio, o Harry não estava fazendo muito sentido nos últimos minutos.

—Não, se foi com ele a sua primeira vez. - Explicou e me impediu quando tentei me inclinar para alcançar um livro que acabei de reparar que estava no braço do sofá atrás de mim. - Deixa meus livros.

—Credo, eu só queria olhar. Ele foi o primeiro, fez a maior pose de quem sabia o que estava fazendo, mas eu sei que ele estava super nervoso. - Falei com certeza e sua risada ecoou à minha frente.

—Foi bom?

—Foi super legal, mas eu estava um pouquinho nervosa também e a cor do lençol da cama dele era horrível.

—Foi inesquecível?

—Claro que foi, ele terminou comigo umas três semanas depois. Foi memorável! - Terminei a frase rindo. - E nem tinha motivo, eu era super bonitinha naquela época. Já te mostrei uma foto? Acho que não, pega ali meu celular, acho que tenho uma foto.

Ele se inclinou o suficiente para alcançar minha bolsa atrás dele e me entregou o aparelho.

—Qual é mesmo minha senha? - Perguntei em dúvida, tentando me lembrar da sequência de quatro dígitos que me permitiria desbloquear o aparelho.

—Sete, cinco, nove, dois. - Informou sem titubear.

—Como você sabe? - O olhei desconfiada.

—Você não é muito discreta digitando. Cadê a foto? - Pediu impaciente e eu me lembrei do que ia fazer.

Cliquei no lugar errado algumas vezes e por fim consegui acessar minha galeria de fotos. Procurei até encontrar uma que recebi do meu irmão alguns meses atrás, em que uma Ginny bem mais jovem aparecia dentro de um vestido curto, sorrindo para a foto que ele mesmo tirou. Virei a tela para o Harry e ele olhou por alguns segundos antes de dizer, achando a situação toda muito legal:

—Que idiota esse tal de Dino.

—Muito! Adoro quando você concorda comigo. Guarda lá, e não é para mexer porque é meu! - Ordenei entregando meu celular para ele de novo.

—Eu sempre concordo com você. - Afirmou, colocando o aparelho sobre a mesa de centro.

—Eu sei, por isso eu passo tanto tempo com você. - Isso o fez rir.

—E o que você acha de mim? - Perguntou com expectativa.

—Você é bonito pra caralho! - Respondi sem precisar pensar muito, olhando para ele com satisfação e o fazendo rir alto novamente.

—Não o que você acha da minha aparência, é o que você acha de mim. - Explicou.

—E você poderia tirar um pouquinho dessa roupa, não é? Vem aqui, deixa eu te ajudar.

—Não vamos tirar a roupa, estamos conversando. - Negou alegre, tirando minha mão da barra da sua camiseta e dando um beijo nela antes de segurá-la nem tão firme assim, mas não consegui de soltar de qualquer forma.

—Eu não quero conversar. - Falei e de repente me lembrei de que tínhamos uma aposta. - Eu acho que estou um pouquinho alegre, isso quer dizer que você pode fazer o que quiser comigo.

Tentei soar provocante, mas não acho que funcionou muito bem.

—Estou fazendo. - Afirmou satisfeito.

—Você quer conversar? - Falei decepcionada. - Achei que você fosse aproveitar para realizar todas as suas fantasias para as quais eu falo não, estava até empolgada.

—Você não fala não para nada. - Argumentou e eu pensei por um momento, chegando à conclusão de que é verdade. - Além disso, não acho que você conseguiria interagir muito bem.

—Claro que conseguiria, sou ótima em interação. - Rebati e ele riu de novo. - A gente podia dançar alguma coisa, não é? - Pensei de repente, e me pareceu uma ótima ideia.

Harry não pareceu achar tão boa ideia assim, mas provavelmente achou muito engraçado.

—São quatro da manhã, acho que meus vizinhos não querem ouvir música essa hora.

—Que vizinhos chatos. Então a gente pode deitar lá na sua cama, e você pode me seduzir. - Sugeri piscando para ele.

Ele se levantou e me puxou para irmos até lá, nem tentei me afastar do seu abraço porque o chão da sala estava meio instável. Olhei para baixo só para me certificar se o Harry tinha colocado meus sapatos de volta, mas não encontrei nada.

—Não preciso te seduzir, Ratinha, você já está totalmente na minha. - Falou convencido.

—Estou mesmo, mas todo mundo sabe que você precisa me seduzir todo dia pra gente não cair na rotina. - Disse com sabedoria, o dedo em riste.

—Então você está mesmo totalmente na minha? - Me virou rápido de frente para ele e minha cabeça girou totalmente, me fazendo cambalear muito.

—Eu estou te dando uma aula de relacionamento e você tentando me derrubar. Puta que pariu, que ingratidão. - Comentei me deixando cair de costas na cama e tentando de novo abrir minha calça para tirar a roupa, o teto girando sem parar acima de mim.

—Você está totalmente na minha? - Perguntou de novo, os pés no chão e as mãos apoiadas do meu lado, pairando sobre mim.

Eu estava muito ocupada não conseguindo tirar a roupa, e seria mais difícil seduzi-lo vestida, então não prestei atenção.

—Tira minha roupa aqui de novo? - Ele riu negando com a cabeça e não demorou um minuto para tirar minha calça e abrir os botões da minha camisa. - Obrigada, agora pode tirar a sua, vou olhar com atenção. Quer que eu bata palmas e coloque umas notinhas na sua cueca? Ah, mas para isso você vai ter que me emprestar dinheiro, não tenho nada na bolsa. - Me lamentei com sentimento de culpa, porque eu realmente deveria recompensá-lo se ele fosse me fazer um show.

Sua risada novamente ecoou pelo quarto, mas eu percebi que ele não gostou de eu ter esquecido o dinheiro e só deixou a calça e a camiseta de lado, sem nem dançar um pouquinho. Harry me virou para que eu deitasse direito e subiu na cama ao meu lado. Eu queria dizer que estava confortável daquele outro jeito, mas realmente me sentia melhor agora.

—Você não vai mesmo realizar nenhuma fantasia sua? - Perguntei chateada quando vi que ele ainda estava deitado comportado do meu lado.

Achei que sua risada era um bom indício, então olhei com expectativa.

—Estou achando que essa fantasia na verdade é sua. - Constatou chegando perto e se deitando parcialmente sobre mim. - Amanhã trate de se lembrar que você estava pedindo. - Alertou antes de afundar o rosto no meu pescoço e descer a mão pela minha coxa em direção ao meu bumbum.

—Eu estou totalmente consciente. - Afirmei arranhando suas costas e fechando os olhos com a sensação.

Bem que dizem mesmo que a gente fica mais sensível quando está um pouquinho alegre, nunca uma passadinha de mão daquelas tinha sido tão gostosa. Pensei que talvez eu devesse demonstrar claramente que estava gostando só para ele saber que estava tudo bem.

—Para, quer acordar o prédio inteiro? - Falou alarmado e rindo, colocando a mão sobre minha boca e impedindo minhas demonstrações de satisfação. - Definitivamente não é uma boa ideia, vão pensar que eu estou cometendo um crime sexual aqui. - Determinou e saiu de cima de mim sem conseguir parar de rir.

Assim que ele se deitou de costas de novo do meu lado eu me virei e não tão rápido quanto eu gostaria consegui passar a perna sobre ele e me sentar sobre seu quadril.

—Claro que é uma boa ideia.

—A única coisa que seria uma boa ideia agora é dormir, Ratinha. - Negou me segurando e mantendo equilibrada em cima dele.

Eu ia teimar com isso, mas o apelido me chamou atenção e eu me debrucei sobre seu peito.

—Se eu te arrumar um apelido ridículo o suficiente para fazer ameaças você para de me chamar assim?

—Ratinha é muito fofo e carinhoso. - Argumentou passando a mão no meu rosto e levando os cabelos para trás. - Mas depende do apelido, quais são suas ideias?

Eu não tinha nada em mente, então falei a primeira coisa em que pensei, e que sem explicação foi a camisola que eu estava usando quando ele chegou na minha casa naquela tarde.

—Ursinho.

—Graças a Deus amanhã você não vai se lembrar disso. - Afirmou rindo e eu revirei os olhos. - Vamos dormir, por favor?

—Você precisa praticar melhor essa coisa de ficar acordado a noite inteira.

—Vou praticar, mas agora vamos dormir. Deita aqui. - Me puxou e eu deitei a cabeça em seu peito. - Boa noite, Ratinha.

—Boa noite, Ursinho. - Rebati e tentei me levantar para ver sua cara, mas ele me impediu.

—Dorme logo para se esquecer disso, vem. - Determinou rindo e me prendeu ali em um abraço.

Pensei em tentar me soltar, mas estava tão confortável ali em cima do peito dele que acabei mudando de ideia. Nessa posição tudo parecia rodar mais, então fechei os olhos para evitar ficar tonta e por fim acabei dormindo.

—Gin, acorde. - Ouvi a voz do Harry ao fundo, parecendo um pouco alarmado. - Você precisa acordar, vai.

Ele estava me chacoalhando apenas o necessário para me despertar e eu abri os olhos lentamente. Pisquei algumas vezes e o vi ajoelhado do meu lado com meu celular nas mãos, olhando como quem se desculpa.

—Acabei de dormir, Harry. - Reclamei e ele riu um pouco.

—São quatro da tarde. - Falou antes de me entregar o aparelho. - É o Colin, achei melhor atender porque sei que é do hospital, desculpe.

—Imagina, fez bem. - Me impulsionei para sentar e caí de novo com as mãos cobrindo o rosto. - Ai minha cabeça!

—Ele está na linha, o que eu digo para ele? - Perguntou sem saber o que fazer.

—Eu atendo, da aqui. - Pedi de olhos fechados e senti quando ele colocou o celular na minha mão. - Obrigada. Oi, gato.

—Noite boa, é? - Perguntou rindo, porque ele tinha acabado de ouvir toda a conversa.

Eu ia dar uma resposta à altura para isso, mas me toquei de que eu não me lembrava de boa parte do que aconteceu, então optei por não soar alarmada e mudei de assunto:

—Você está em casa ou aconteceu alguma coisa?

—Sei que é domingo e você não trabalha, mas precisamos de você. - Até seu tom de voz indicava o desconforto por ter que me dizer isso. - Tivemos um atropelamento com várias vítimas e pediram para te chamar.

—Justo hoje? - Me lamentei, sentindo minha cabeça latejar. - Só um minuto, Colin. - Pedi e olhei para o Harry, sentado do meu lado. - O que eu tomo para isso passar em cinco minutos?

—Sei lá, você que é a médica! - Respondeu alarmado

—Mas você que começou com essa história de me deixar bêbada, agora vai ter que consertar! - Respondi da mesma forma e ouvi Colin gargalhar do outro lado.

—Gata, eu te dou remédio na veia quando chegar aqui, é mais rápido. E acho que o caso que você vai ter que atender não é demorado, então você volta para casa hoje ainda, não se preocupe.

—Obrigada, Colin. Daqui a pouco chego aí então. - Confirmei e desliguei. - Você me leva?

—Claro. - Respondeu prontamente e se levantou para vestir de novo a roupa que estava por ali e que era a mesma da noite anterior.

Com bem menos agilidade fiz o mesmo, maldizendo a hora em que quis usar aquele bendito sapato de salto, e me acomodei com os olhos fechados no banco do passageiro enquanto ele dirigia até meu local de trabalho.

—Quer que eu te espere aqui? - Perguntou prestativo.

Em qualquer outro dia eu teria achado totalmente desnecessário, mas tudo o que eu queria agora era terminar logo o que precisava fazer ali e voltar para casa o mais rápido possível.

—Você se importa se eu disser que sim?

—Lógico que não, eu te espero. Já consegue andar ou quer ajuda?

—Consigo, obrigada. Até daqui a pouco. - Desci do carro e caminhei até a recepção onde Colin me esperava com a maior expectativa.

—Gata, você está parecendo um zumbi! - Zombou assim que cheguei até ele e antes que eu conseguisse me apoiar no balcão me puxou pelo braço até uma das salas vazias da emergência, levantou a manga da minha blusa e aplicou na veia do meu braço alguma coisa que nem perguntei o que era. - Vai melhorar rapidinho, enquanto isso me conta tudo porque essa sua noite deve ter sido milhares de vezes melhor que a minha.

—Até a parte que me lembro foi ótima, eu estava rindo e achando tudo muito engraçado e tomando o que eu acho que deve ter sido a sexta dose de vodca.

—Você bebendo vodca? - Questionou descrente, gargalhando ao final. - Desculpe, gata, não consigo imaginar.

—E não foi uma boa ideia, devo dizer, porque não lembro de quase nada que eu fiz.

Forcei minha memória a trazer detalhes da noite anterior, mas só restavam alguns pontos desconexos que não me faziam muito sentido, então optei por deixar isso para lá por enquanto.

—Qual o caso? - Perguntei mudando de assunto.

—Duas fraturas que eu acho que não precisam de cirurgia, mas tem que colocar no lugar. - Informou depois de um momento de silêncio. - Está melhor?

Balancei a cabeça de um lado para o outro para testar se estava tudo bem e confirmei me levantando da maca onde estava sentada.

—Estou, vamos.

Colin estava certo em todas as suposições, nenhum dos dois casos precisou de cirurgia, mas ambos estavam fora do lugar e fizeram os pacientes gritarem de dor quando fiz o procedimento necessário para colocá-los em suas posições corretas. Por fora eu sorri tranquilizadora para eles, mas por dentro os mandei calar a boca em alto e bom som porque minha cabeça estava explodindo de novo.

Terminei meu trabalho e sorri calorosa para o último paciente, desejando melhoras e indicando aonde ir para imobilizar seu braço. Assim que ele saiu joguei as luvas no lixo e saí da sala para ir para casa novamente. Quando passei pela recepção avisei à pessoa responsável que não estava me sentindo bem e no dia seguinte era para ligar para mim caso houvesse alguma emergência, porque eu ficaria em casa.

Tirei o jaleco enquanto atravessava o estacionamento em direção ao local onde Harry me aguardava jogando no celular e parecendo bem relaxado.

—Já? - Se surpreendeu quando me sentei ao seu lado apenas três horas depois.

—Uhum. Me leva para casa? - Pedi me acomodando e deitando a cabeça no seu ombro enquanto ele dirigia.

Ele fez carinho no meu rosto durante todo o percurso e parou no meu restaurante chinês preferido para comprar yakissoba para jantarmos, só então chegamos na minha casa.

Comi assim que chegamos e tomei dois comprimidos para dor de cabeça a caminho do banheiro. Tomei um banho de dois minutos e quando saí o encontrei no meu quarto com um copo de água.

—Toma, vai ajudar com a dor de cabeça. - Me entregou e eu tomei tudo, apesar de não estar sentindo a menor vontade.

—Eu avisei no hospital que é para me ligar se houver alguma emergência, não vou trabalhar amanhã. - Informei a ele me enfiando sob o edredom. - Você dorme aqui comigo?

—E você acha que eu ia te deixar aqui assim? - Respondeu como se fosse óbvio. - Já volto. - Falou sumindo pela porta do banheiro.

Escutei o barulho do chuveiro por alguns minutos e em seguida as luzes se apagaram e eu senti quando ele se deitou do meu lado. Normalmente trocamos um beijo de boa noite e cada um se acomoda como gosta para dormir, mas dessa vez me aninhei em seu peito e determinei:

—Foi você que me deixou assim, pode fazer carinho.

Sua risada baixa ecoou ao meu lado por um minuto e ganhei um beijo na testa antes da sua mão pousar na minha bochecha e me acariciar até eu dormir.

Acordei algum tempo depois com ele se desvencilhando de mim.

—Bom dia. Está melhor? - Perguntou baixo e eu assenti. - Preciso ir trabalhar, está se sentindo bem mesmo para ficar sozinha?

—Estou, obrigada, não precisa se preocupar. Pode levar a chave que está na porta, se eu precisar sair uso a reserva.- Falei e me aconcheguei para voltar a dormir.

Apaguei novamente minutos depois, antes mesmo que ele saísse. Acordei com o celular tocando do meu lado na cama quando o Harry me ligou em seu horário de almoço para saber se estava tudo bem. Ele sugeriu que eu bebesse bastante água e a noite ele passaria aqui e a gente iria jantar em algum lugar, assim eu não precisaria me preocupar em fazer nada.

Não consegui mais dormir depois disso, mas fiquei na cama o dia todo com o estômago um pouco embrulhado. A sensação de mal estar melhorou no fim da tarde e um pouco antes do horário normal que Harry saía do trabalho eu me vesti e fui esperar deitada no sofá. A campainha tocou e eu me levantei para atender estranhando o ato, porque ele estava com a minha chave. Abri a porta e o vi parado do lado de fora, sorridente em sua roupa social.

Me adiantei para cumprimentá-lo com um abraço, mas parei no meio do caminho quando vi o que ele estava segurando e sem que eu pensasse minhas mãos foram parar atrás das costas, se negando a pegar o que ele me entregava.

—Trouxe para você, já que fui eu que te deixei assim, presente de melhoras. - Falou com um sorriso enorme, me entregando o buquê pequeno de flores rosas.

Mordi o lábio sem saber o que dizer, porque eu simplesmente não conseguia receber aquilo e também não queria chateá-lo, então só dei espaço para que ele entrasse segurando e fechei a porta para ganhar tempo. Quando me virei ele ainda estava me estendendo.

—Põe em cima da mesa pra mim por favor? - Pedi saindo apressada. - Preciso terminar de me arrumar.

—Você não gostou? - Perguntou ressentido.

—São lindas. - Respondi o que todo mundo diz quando ganha flores, mas até para mim soou forçado.

Voltei do quarto minutos depois exatamente do jeito que entrei e sem nem olhar para o embrulho sobre a mesa

—Vamos?

—Claro, sua chave. - Esticou meu chaveiro de metal com o símbolo da medicina e eu agradeci, trancando a porta atrás de nós.

Todo o clima relaxado do dia anterior se foi, nenhum de nós dois conseguia agir normalmente mais. Não tenho dúvidas de que ele percebeu que aquilo não era o presente ideal para mim, mas eu não conseguia fingir que estava tudo bem. Ele não tinha como saber, eu não tinha como evitar, e isso não era uma boa combinação.

Jantamos quase em silêncio total, com exceção de alguns comentários soltos, sem nenhuma atenção por parte do outro e ele me deixou em frente ao prédio menos de uma hora depois.

—Tem certeza de que não precisa de companhia de novo? - Seu tom não demonstrava que ele estava com muita vontade de ficar, e eu não tirava sua razão.

—Tenho, não se preocupe. Qualquer coisa eu te ligo. - Prometi tentando não fazer com que ele se sentisse tão mal.

Trocamos apenas um selinho rápido, apanhei a bolsa e me virei para sair do carro, mas no último momento decidi que se eu não queria que aquilo se repetisse deveria avisar de alguma forma.

—Harry? - Chamei me virando para ele, que ainda me olhava. - Se eu te pedir uma coisa você não me pergunta o motivo - Ele pareceu confuso com o pedido, mas concordou mesmo assim. - Nunca mais me dê flores, em hipótese alguma, por favor.

Isso não pareceu surpreendê-lo, mas é claro que ele não conseguiu não perguntar o motivo.

—É por causa do que aconteceu com seus pais?

Por mais que eu tentasse soar normal, minha voz saiu muito mais irritada do que pretendia ao responder:

—Você prometeu, caramba. Tchau. - Bati a porta atrás de mim e passei pela portaria sem olhar para trás.

Assim que atravessei a porta do meu apartamento peguei o ramalhete que estava enfeitando grotescamente minha sala e o joguei no lixo olhando o menos possível para ele, tomei mais um remédio para dor de cabeça e fui dormir.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal, como estão?
E não é que eles tiveram pelo menos uma primeira vez juntos?! hehe O que acharam desse momento fofo que termina meio desastroso?
Não deixem de me dizer nos comentários, ansiosa para saber a opinião de vocês.
Beijos e até semana que vem.

Crossover: Adivinhem quem está indo viajar no capítulo de amanha?! ;)
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