Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Semana passada tive um imprevisto e não consegui postar o capítulo, desculpem pelo atraso.
Deixei o aviso no meu grupo do Facebook. Para quem ainda não faz parte, é lá que eu coloco os avisos, novidades e até já postei trechos futuros da história. Segue o link:
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Harry estava particularmente atencioso desde que mudei meu horário e comecei a passar mais tempo em casa, me mandando mensagens regularmente e ligando todas as noites para conversarmos por alguns minutos. Não era ruim, mas era um pouco estranho, principalmente se eu considerar a parte em que comecei a sentir falta e olhar no relógio a partir da terceira vez em que isso aconteceu, me perguntando por que ele não tinha me ligado ainda, se esse era mais ou menos o horário de todos os dias.

Senti meu celular tocar no bolso da calça quando entrei no elevador, saindo de uma cirurgia de cinco horas no final da tarde de quarta. Encostei na parede de inox ao meu lado e levei o aparelho ao ouvido.

—Oi, Ron.

—Ei, tudo bem?

—Uhum, e você?

—Também. Tem compromisso para hoje? - Perguntou enquanto mastigava alguma coisa.

—Não, vou direto para casa.

—Vou aí jantar com você, tudo bem?

—Claro, daqui umas duas horas estarei lá. Eu te aviso quando sair daqui.

—Ok, até mais tarde.

Encerrei a ligação e fui até a recepção entregar o prontuário para o enfermeiro que estava ali atualizar os dados do paciente no sistema.

Uma hora depois do meu horário habitual de saída atravessei as portas do hospital encerrando meu expediente do dia e já informando ao Ron que estava indo embora, assim ele poderia já ir para lá também. Menos de cinco minutos depois que passei pela porta da minha sala precisei abri-la de novo para que ele entrasse.

Enquanto ele trancava a porta eu voltei ao meu quarto para trocar a roupa branca por algo mais informal e confortável para usar em casa. Meu irmão esperou sentado na minha cama e conversando comigo enquanto eu terminava, depois me acompanhou à cozinha e se encostou ao balcão enquanto eu preparava algo para comermos.

—E como foram os finais de semana sem nada para fazer em casa? Tedioso demais para você? - Perguntou quando nos sentamos no sofá, depois de comer.

—Não fiquei em casa. - Esclareci dando uma colherada no meu sorvete. - Aliás, em um deles fiquei, mas não estava sozinha.

Senti seu olhar de canto sobre mim, me avaliando curiosamente quando terminei minha frase normalmente.

—O que foi? - Perguntei quando comecei a me sentir incomodada.

—Nada. - Falou se concentrando na própria sobremesa. - Vou viajar com a Mione. - Contou, parecendo se lembrar de repente.

—Viajar? - Questionei com o cenho franzido, porque isso era inédito na relação deles. - Para onde?

—Não sei ainda, mas vai ser por pouco tempo, só alguns dias.

—Quando vocês vão?

—Semana que vem.

—Divirtam-se. - Desejei, mas não consegui deixar de achar estranha essa quebra de hábito. - Que horas são? - Questionei depois de um momento de silêncio, enquanto ele trocava os canais da TV à procura de algo.

—Oito e vinte.

—Já? - Comentei mais para mim mesma, tirando o celular do bolso e olhando para a tela sem nenhuma notificação.

—Já quer dormir? - Perguntou descrente.

—Não, eu não consigo dormir tão cedo assim.

Fiquei com o aparelho em mãos por mais um tempo, olhando vez ou outra o display, até que ele tocou alguns minutos depois. Soltei uma exclamação que dizia claramente "até que enfim" e abaixei o volume da TV antes de atender. Os olhos da pessoa ao meu lado fixaram meu rosto de novo quando me ouviu atender à ligação.

—Oi, Harry. - Cumprimentei satisfeita.

—Ei, Ratinha, tudo bem? - Ri baixo ao ouvir o apelido e de canto de olho vi meu irmão olhar desconfiado para minha expressão.

—O que foi? - Sussurrei a ele e depois voltei ao tom normal. - Tudo bem, e com você?

—Estou bem também.

—Quer que eu saia para você aumentar o volume? - Perguntei ao Ron, mas não esperei sua resposta e me virei em direção à cozinha.

—O que? - Harry perguntou confuso.

—Ah não, estava falando com meu irmão. - Esclareci e me debrucei sobre o balcão antes de perguntar. - Tudo bem no trabalho hoje?

Conversamos por vários minutos até que eu dissesse que precisaria desligar porque meu irmão estava aqui e eu não queria deixá-lo sozinho, mandamos beijos e nem me preocupei em trazer meu celular de volta comigo quando retornei à sala.

—Ele te liga todo dia agora, é? - Perguntou desconfiado.

—Algumas vezes por semana.

—Algumas vezes tipo só nos dias em que não está aqui ou você não está lá?

Olhei para ele sem entender a pergunta, então dei de ombros e voltei a prestar atenção na TV.

—Mas qual o problema dele me ligar?

—Problema nenhum, oras, é que você me disse que só estavam saindo juntos algumas vezes.

—E estamos só saindo juntos algumas vezes. - Esclareci revirando os olhos para sua implicância.

—Sei. - Finalizou o assunto sem demonstrar que confiava no que eu disse, mas depois disso não falou mais nada a respeito.

Nos despedimos um tempo depois, e assim que fiquei sozinha apaguei as luzes e fui me deitar.

Faltando alguns minutos para a uma da tarde no dia seguinte, fui chamada na emergência e encontrei vários outros médicos também por ali, assim como alguns enfermeiros, e o Dr. Lupin à frente aguardando que todos chegassem para o aviso que ele daria.

—Pois bem, pessoal. - Começou ele, alguns minutos depois que parei entre Colin e Luna. - Tivemos uma explosão de gás em um restaurante que fica dentro de um prédio comercial aqui perto e as vítimas estão sendo direcionadas para nós. Ainda não temos informações sobre quantas pessoas serão, ou a extensão dos ferimentos, mas com certeza precisaremos nos preparar principalmente para queimaduras. As ambulâncias começarão a chegar em breve, então vamos nos organizar. - Finalizou e todos nós assentimos e nos viramos para sair dali.

—Acha que você precisa ficar, Gin? Normalmente não tem muita coisa para nós em acidentes como esse. - Luna perguntou quando paramos os três encostados ao balcão da recepção.

—Vou esperar e ver, de qualquer forma não tenho nada para fazer em casa a tarde então não tem problema sair um pouco depois. - Falei e me virei para a enfermeira sentada atrás de nós. - Mary, você pode ligar a TV, por favor? Deve estar passando alguma coisa a respeito.

—Em compensação para mim acho que vai sobrar paciente. - Colin opinou.

—Ninguém mandou ser tão bom, gato, assim todo mundo te quer. - Falei rindo e o fazendo abrir um sorriso convencido. - Nossa, acho que o dia vai ser cheio. - Comentei assim que a imagem do estrago surgiu na tela e me calei para prestarmos atenção na cobertura feita pelo jornal.

Assistimos atentos a jornalista bem vestida dizer para a câmera que a explosão aconteceu no horário mais movimentado do restaurante, por volta de meio dia e vinte e que ainda não se tem notícias de vítimas fatais, mas que há uma boa quantidade de feridos. A equipe de resgate está trabalhando nesse momento para a retirada de todas as pessoas, o prédio já foi evacuado e nesse momento estão aguardando a perícia para começar a avaliar se a estrutura da construção foi abalada com o impacto do que aconteceu.

Assim que ela terminou de falar a imagem ao redor se abriu para mostrar a fachada elegante do prédio revestido com pedras marrons e grandes letras cinzas colocadas à frente, onde se lia o nome do edifício comercial. Meu estômago despencou quando o vi, senti meu corpo imediatamente se enrijecer e tateei o bolso de trás da calça às cegas, sem conseguir desgrudar os olhos da imagem.

—Não pode ser. - Tentei soar indignada, mas acho que acabei choramingando um pouco enquanto desbloqueava o celular o mais rápido que conseguia e digitava o número que eu já sabia de cor.

—O que foi? - Luna perguntou sem entender, ela e Colin me olhando alarmados.

—É o prédio em que o Harry trabalha. - Contei com o aparelho encostado ao ouvido, concentrada no som da ligação sendo completada pela operadora e sentindo o coração acelerado enquanto o esperava atender e me dizer que estava tudo bem.

Os dois me olharam com expectativa e tentaram ao máximo esconder a preocupação quando a chamada caiu na caixa postal. Ignorei o desespero que se mostrava no fundo da minha mente e ouvi a voz da razão que dizia que ele não ouviu o celular tocar porque estava ocupado se preocupando com os colegas, então disquei novamente. Ao fim do sexto toque ouvimos a sirene da primeira ambulância chegando e eu soltei um palavrão quando novamente a ligação não foi atendida e eu precisei guardar o telefone.

A primeira coisa que olhei foi o nome do paciente na prancheta que a paramédica me entregou, e o fato de não ser alguém conhecido me deixou sem saber se sentia alívio ou mais preocupação ainda. Eu e Colin o levamos para a sala vazia de trauma e eu me concentrei em colocar as luvas e cortar a camiseta que já começava a grudar em algumas queimaduras superficiais em sua pele. Quando meu amigo terminou de fechar as cortinas para garantir a privacidade do paciente e se dirigia ao carrinho de equipamentos para também proteger as mãos pedi um tanto desconcertada:

—Colin, tenta de novo para mim, por favor.

Ele não questionou nem fez nenhuma gracinha, só levantou meu jaleco o suficiente para alcançar meu bolso e tirou de lá o celular cuja senha de desbloqueio ele já sabia. Olhei com expectativa quando ele discou o último número chamado mais duas vezes, mas novamente não houve resposta.

—Tudo bem, vamos trabalhar. - Falei antes que ele dissesse alguma coisa e senti meu telefone móvel sendo colocado no mesmo lugar de onde foi tirado.

—Você conhece alguém que trabalha lá? - O jovem de pouco mais de vinte anos sob meus cuidados perguntou puxando assunto.

—Sim, tenho um amigo que trabalha lá. - Respondi tentando soar despreocupada.

—Tomara que ele esteja bem. - Desejou, fazendo uma careta de dor quando despejei um pouco de soro sobre sua barriga exposta e machucada.

—Eu também espero que sim. - Falei e troquei um olhar esperançoso com Colin, que ele retribuiu tentando parecer confiante.

Nosso primeiro paciente não teve nenhuma fratura ou lesão ortopédica, o que reduziu nosso trabalho apenas aos primeiros socorros.

—Colin, chama alguém da plástica, por favor? - Pedi depois de constatar que não havia mais nada que eu pudesse fazer ali e me virei para o paciente tentando soar tranquilizadora. - Suas queimaduras são bem superficiais e fora isso não há nenhuma lesão, então pode ficar tranquilo que você irá para casa logo.

Como de praxe não o deixamos sozinho até que o médico responsável chegasse e iniciasse os atendimentos. Fechei a porta atrás de mim já com o celular no ouvido novamente, para outra vez ser decepcionada com a voz simpática da secretária eletrônica.

—Ele está bem, gata. - Colin falou, passando a mão nas minhas costas enquanto caminhávamos de volta para a emergência.

Nem me dei ao trabalhar de tentar responder, então só acenei concordando. Forcei minha mente a ignorar todas as terríveis possibilidades do que poderia ter acontecido, e muitas das quais eu vi pessoalmente nos últimos sete anos, e me concentrei em convencer a mim mesma de que havia um motivo muito bom e convincente para ele ter ignorado todas as minhas tentativas de contato.

—Mary, cadê a lista de pacientes que deram entrada? - Pedi apressada, antes que mais algum paciente fosse direcionado a mim.

Peguei o tablet que ela me entregou e rolei a tela rapidamente, me atentando apenas à primeira letra de cada nome e parando sempre que encontrava algum H, mas cheguei ao final sem ver o nome dele. Mais uma vez o misto de alívio e preocupação me atingiu.

—Weasley, recebemos mais um. - Ouvi a voz da enfermeira responsável pelo pronto socorro me chamar alguns metros a frente.

—Obrigada. - Agradeci e devolvi o aparelho a ela sem desviar os olhos da nova ligação que eu tentava fazer, mas que novamente não foi atendida.

—Merda! - Xinguei quando apertei o botão de encerrar a chamada, antes de ter que ouvir de novo a voz irritante daquela secretária eletrônica que eu já queria matar.

—Gata, calma. - Colin falou do meu lado, já puxando nosso novo paciente para uma sala vazia.

Era uma mulher um pouco mais velha do que nosso paciente anterior e chegou em estado bem pior também, inclusive desacordada, mas sem nenhuma fratura ou lesão aparente. De qualquer forma, ainda que houvesse uma ou outra torção elas não seriam prioridade, e sim seu excesso de queimaduras.

O processo novamente se repetiu, mas quando meu amigo terminou de fechar as cortinas precisei apenas lançar um olhar suplicante para que ele pegasse meu celular e tentasse novamente antes de colocar de novo no meu bolso e dizer:

—Nada, Gin.

Assim que a deixamos sob os cuidados do profissional responsável por suas lesões fui correndo ao balcão perguntar novamente sobre os pacientes que chegaram na última hora e tentei mais três vezes antes de atender uma criança de pouco menos de dez anos com arranhados decorrentes dos destroços que voaram e nada mais.

Colin já não falava nada e nem me pedia que ficasse calma, só fazia seu trabalho com perfeição e tentava entrar em contato com Harry enquanto eu fazia o meu.

Enquanto atendia meu último paciente do dia, e único que realmente era um caso ortopédico, eu já não conseguia mais disfarçar o desespero nem no tom de voz, então evitei até falar e deixei a cargo do meu companheiro de trabalho distrair o paciente enquanto me lançava alguns olhares furtivos que se dividiam entre compreensão e confusão.

Desejei melhoras quando o encaminhei para a sala de gesso e nem me preocupei em sair do seu campo de visão antes de apanhar o telefone no meu bolso e tentar mais uma ligação que foi novamente em vão.

—Mais alguém? - Perguntei à responsável.

—Já recebemos todo mundo, nenhum caso ortopédico. Obrigada pela ajuda, doutora, pode ir para casa se quiser. - Respondeu educada e apressada, voltando aos seus afazeres.

Me voltei para a TV ligada e vi a jornalista dizer que aparentemente todas as vítimas já haviam sido socorridas, mas que as equipes responsáveis ainda estavam tirando alguns destroços de dentro do prédio. "Aparentemente" se tornou nesse momento a palavra que eu menos gostava no mundo.

—O que você vai fazer? - Colin perguntou me acompanhando quando caminhei rápido até o vestiário.

—Vou para casa, se eu ficar aqui vou enlouquecer. - Respondi com o celular no ouvido.

A essa altura eu já não achava que ele atenderia, mas ainda assim esperava desesperadamente que sim.

Meu amigo se sentou e me olhou em silêncio enquanto trocava o tênis pelo sapato de salto que optei por calçar hoje de manhã e soltava o cabelo em gestos muito urgentes para os meus padrões.

—Você me liga se por acaso ele der entrada, por favor? - Pedi por precaução, mas já tendo certeza que ele faria isso imediatamente se fosse o caso.

—Claro, gata. Mas não se preocupe, ele está bem. Tente se acalmar um pouquinho. - Me tranquilizou enquanto passava os braços pelos meus ombros e me acompanhava porta afora.

—Espero que sim. Obrigada. - Dei um beijo em seu rosto e saí.

Assim que entrei no carro eu tentei de novo, e quando não consegui lancei o celular com raiva no banco do meu lado. Dirigi para casa tentando prestar atenção no trânsito e pensar em coisas boas, mas infelizmente coisas boas estavam se recusando terminantemente a passar pela minha cabeça.

Assim que fechei a porta atrás de mim, me forcei a parar por um momento e respirar fundo, repetindo para mim mesma que não havia motivo para tanto desespero.

—Está tudo bem. Ele está bem. Eu também estou bem. E todos vamos continuar assim. - Falei pausadamente com os olhos fechados, tentando transmitir o máximo de segurança para mim mesma com aquelas palavras.

"Mas o prédio foi evacuado, ele já deveria estar em casa se está tudo bem", foi o que me ocorreu subitamente assim que terminei as palavras.

Desisti de me manter calma e peguei o celular de novo. Antes de completar a ligação olhei rapidamente no relógio e vi que era quase seis da tarde, o que quer dizer que ainda que ele estivesse trabalhando normalmente também já deveria ter saído de lá há quase uma hora.

Vinte minutos depois eu já não sabia se deveria estar preocupada ou com raiva e me forcei terminantemente a parar de tentar falar com ele. Precisei de alguma força de vontade para deixar o telefone parado sobre a estante da sala, mas nada conseguiu me fazer sentar e ao menos tentar relaxar.

Depois da terceira volta na sala a campainha tocou me fazendo dar um pulo e acelerando meu coração novamente. Abri a porta apressada e dei de cara com Harry, de pé à minha frente, uma mão casualmente no bolso e na outra o celular para onde ele olhava com uma expressão clara de confusão, como se tentasse entender algo cujo significado lhe escapava.

Minha primeira reação foi respirar aliviada e olhar rapidamente para ele inteiro, me certificando de que estava realmente tudo bem. Quando terminei minha avaliação e tive certeza de que nem um fio de cabelo sequer estava fora do lugar senti minha expressão se fechar e dar lugar à minha melhor cara de brava.

—Você me ligou quarenta e sete vezes? - Foi o que ele disse, soando como se aquilo fosse um absurdo total da minha parte. - O que foi? - Perguntou quando viu meu rosto nada amigável.

—E por que você não me atendeu? - Tentei soar calma, mas até aos meus ouvidos ficou um pouco ameaçador.

—Porque eu estava trabalhando. - Falou como se fosse óbvio e deu um passo à frente, me empurrando para dentro da minha sala com ele e fechando a porta atrás de si.

—E desde quando isso é um problema para você me atender ou me ligar? - Questionei no mesmo tom. - E onde é que você estava trabalhando até agora? E pare de me olhar como se eu fosse louca. - Exigi exaltada e ele riu, o que não melhorou meu humor.

—Você me ligou quase cinquenta vezes, não da para achar isso muito normal mesmo. - Tentou brincar, mas voltou a ficar sério quando viu minha expressão quasse assassina. - Passei o dia no escritório de um cliente, por isso não pude atender nem te ligar.

—Puta que pariu, Harry! - Xinguei indignada e ele me olhou espantado. - Eu estava preocupada, sabia?

—Preocupada com que? - Se encostou no canto da minha mesa de jantar e me olhou como se tentasse desesperadamente dar algum sentido àquilo.

—Com você, oras, com o que mais eu estaria preocupada? - Respondi encarando-o de braços cruzados.

—Obrigado pela preocupação, mas por que você está tão brava?

Seu tom foi tão confuso que me fez pensar pela primeira vez que se ele estava trabalhando o dia todo em outro lugar provavelmente não estaria sabendo do que aconteceu.

—Você não ligou a TV? - Perguntei para confirmar minha hipótese.

—Ai meu Deus, eu juro que estava trabalhando e não em qualquer lugar que tenha uma TV para eu poder assistir. - Falou como se não acreditasse no que estava ouvindo e apoiou o rosto nas mãos.

Revirei os olhos para sua interpretação, porque tudo o que eu precisava depois de um dia como o de hoje realmente era o Harry achando que eu estava com ciúmes.

—Houve uma explosão de gás no restaurante do prédio em que você trabalha. - Expliquei e ele me olhou alarmado.

—Você está brincando?

—Estou, Harry. Te liguei milhares de vezes porque sou louca. - Afirmei sarcástica e ele acabou rindo. - Ninguém te ligou?

—Não. Droga, deixei o computador no carro. - Se lamentou e eu me virei para pegar meu notebook no sofá e entregar a ele. - Obrigado.

O apoiamos na mesa entre nós e eu digitei a senha que iniciava o sistema antes de virar o aparelho para ele pudesse acessar o site de notícias.

—Alguém morreu? - Perguntou preocupado enquanto esperava a página carregar, ambos inclinados para a tela à nossa frente.

—Até a hora que eu saí do hospital não havia nenhuma vítima fatal, mas a quantidade de feridos foi bem grande.

Ele assentiu rolando os olhos rapidamente pela tela e lendo o que foi divulgado. Depois que terminou tirou o celular do bolso e selecionou um número em sua lista de contatos antes de levá-lo ao ouvido.

—Oi, Pati? Sou eu, Harry. - Cumprimentou e eu o olhei de canto na hora, imediatamente mais atenta à conversa. - Só agora fiquei sabendo o que houve, alguém do escritório se feriu? - Ele aguardou a resposta e eu tentei parecer desinteressada rolando novamente a página que já tínhamos lido e avaliando novamente a decoração da minha própria casa. - Mas ele está bem? Que bom. Os escritórios já estão liberados? - Mais um momento de pausa, na qual ele me olhou parecendo achar graça de alguma coisa e eu fingi não perceber. - Ok, então vou entrar em contato com ele amanhã. Obrigado, boa noite. Outro, tchau.

Quando ele ficou em silêncio notei o barulho do meu sapato batendo ritmadamente no chão de madeira e imediatamente parei o movimento repetitivo da minha perna.

—Só uma pessoa de lá se machucou um pouco, mas não foi nada grave. - Informou deixando o celular de lado e se encostando novamente na lateral do móvel. Em seguida enroscou os dedos no cós da minha calça e me puxou para a frente dele. - Obrigado pela preocupação.

—Tá, mas por que você não me falou que não estaria lá hoje? - Perguntei cruzando os braços entre nós.

—Porque... - Começou a responder, mas parou a frase no meio e me encarou novamente como se minha pergunta não fizesse muito sentido. - Mas porque eu te falaria isso? É uma coisa tão besta e não faz diferença nenhuma. Quase toda semana eu tenho reuniões fora de lá, é normal para mim.

—Fez toda a diferença hoje. - Argumentei.

Passada a raiva do momento eu só conseguia sentir um alívio enorme. E agora também uma pequena mágoa por ele nunca ter dito que trabalhava em outros lugares de vez em quando.

—Descruze esses braços, por favor? - Pediu enfático e eu acabei rindo e fazendo o que ele pediu. - Se eu for te falar toda vez que sair do escritório por algum motivo profissional é melhor te mandar minha agenda por e-mail. - Falou me puxando para um abraço.

—Pare de ser paranoico, não quero saber sua agenda. - Neguei o absurdo.

—Você me liga quarenta e sete vezes e eu sou o paranoico? - Perguntou divertido.

—Eu estava preocupada, é diferente. - Esclareci me soltando, transmitindo toda a dignidade do meu gesto nessa frase. - Vou tomar banho, hoje o dia foi cansativo.

—O que você está fazendo de salto em casa? - Questionou confuso, olhando para os meus pés dentro de um sapato azul claro.

—Esqueci de tirar quando cheguei.

Ele insinuou mostrar seu sorriso convencido, mas meu olhar de alerta o deteve a tempo e ele me seguiu até o quarto em silêncio e sem correr perigo.

—Você tem algum compromisso hoje? - Perguntou se sentando na minha cama enquanto eu tirava a roupa que usei para trabalhar.

—Não, por que? - Respondi jogando de lado minha camisa branca de cetim e ficando só de calcinha e sutiã.

—Quer sair para jantar?

—Se não for muito demorado pode ser, estou exausta.

—Tudo bem, vou pesquisar alguma coisa enquanto você toma banho. - Afirmou e segurou meu pulso quando passei por ele para ir até o banheiro.

Voltei dois passos e caí sentada em seu colo quando ele me puxou.

—Oi. - Falou antes de me dar um beijo e só então me toquei de que a gente ainda nem tinha se cumprimentado desde que ele chegou.

—Oi. - Respondi quando nos separamos e envolvi seu pescoço em um abraço confortável e carinhoso, que ele retribuiu com os braços ao redor da minha cintura e o rosto encostado próximo à minha clavícula. - Não demoro. - Afirmei quando nos soltamos e dei um selinho rápido em sua boca antes de me levantar e entrar na porta ao lado.


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Notas finais do capítulo

Esse é um dos capítulos que eu não me aguentava de ansiedade para postar desde quando terminei de escrever!
Amo quando a Ginny sai do auto controle tão bem ensaiado dela, e foi tão óbvio que até ela notou. Será que agora ela aceita que isso não é só um monte de encontros casuais que acontecem com muita frequência?
Ansiosa pelos comentários, não deixem de me dizer o que acharam!
Até a semana que vem.
Beijos!

Crossover: As histórias não se encontram essa semana, mas na próxima sim, então não deixem de acompanhar! O próximo capítulo chega até sexta.
https://fanfiction.com.br/historia/692675/Backstage/