Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa eu preciso agradecer à linda da LEvans pela primeira recomendação de DV. Eu já disse a ela no whatsapp tudo o que vou dizer aqui, mas algumas coisas precisam ser públicas: Giks, eu já li o que você escreveu mais de cem vezes e ter vindo de você tem um peso a mais na minha felicidade. Obrigada pelas palavras, pela consultoria, pelas opiniões e por tentar me ensinar quando devo e não devo agradecer, embora não dê nenhum resultado ahahahah. Muito obrigada por melhorar o meu dia, Catilanga ♥

AVISO: Esse capítulo tem spoiler pesado do livro/filme Garota Exemplar. Caso vocês tenham interesse em futuramente ler/assistir a história NÃO leiam a parte em itálico.



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No dia seguinte quando o interfone tocou um pouco depois das seis da tarde eu já sabia o que ouviria assim que o atendesse.

—Boa tarde, Ginny. - O senhor simpático que trabalhava ali desde que me mudei cumprimentou como de costume. - O Sr. Potter está aqui.

—Boa tarde Fint, pode deixá-lo subir, obrigada. - Não freei o impulso que me subiu e o chamei de antes que desligasse. - Aliás Fint, o Sr. Potter pode subir sempre, não precisa mais se preocupar em anunciar.

—Tudo bem, vou anotar. - Confirmou solícito e eu agradeci antes de colocar o aparelho novamente na base.

Nos vimos nesse dia, como combinamos após o cinema, e em todas as outras noites disponíveis que tive nas próximas semanas.

Os horários do Ron eram flexíveis o suficiente para conseguirmos nos ver com frequência durante a manhã ou nas horas mais tranquilas dos meus turnos de trabalho quando ele ia até o hospital para jantar comigo no restaurante em frente. A visão dele debruçado sobre o balcão conversando com Colin enquanto me aguardava já não era estranha para mim e isso me deixava as noites de segunda e sexta para aproveitar quase exclusivamente com uma única pessoa.

Conheci alguns lugares novos em alguns desses encontros, todos com o mesmo perfil descontraído dos que Harry me levou antes, e estabelecemos a regra de que um dos dois nunca beberia nada alcoólico para voltarmos para casa em segurança, ou então já viríamos de táxi para não inventarmos de dirigir depois de algumas doses a mais.

Passamos tempo sozinhos na minha casa e na dele suficiente para eu não estranhar mais estar ali. É claro que não era como estar na minha casa ou na do meu irmão, mas já era como estar em um lugar onde eu me sentia estranhamente confortável o suficiente para não pedir sempre que quisesse um copo de água, por exemplo.

De certa forma me acostumei a ter sempre companhia na segunda depois de um dia inteiro descansando e na sexta a noite quando chegava do trabalho, mesmo que em horários fora do que os planejados, e a acordar enroscada em alguém no sábado.

A convivência frequente com ele nos fez descobrir algumas preferências um do outro, como o que gostamos ou não de comer, e alguns hábitos cotidianos característicos, como eu não ver nenhuma necessidade em arrumar minha cama quando me levantava de manhã e ele fazer isso religiosamente todos os dias antes de sair de casa para qualquer coisa. Normalmente na segunda-feira jantávamos juntos em algum lugar e Harry me deixava em casa ou eu o levava até seu apartamento, mas umas duas vezes acabamos dormindo juntos e foi numa dessas ocasiões que eu soube que ele acordava alguns minutos mais cedo apenas para realizar essa atividade imprescindível em seu dia.

A gente fazia muito sexo também, o que eu passei a considerar uma parte gostosa da minha rotina e a sentir muita falta e cada vez mais expectativa sempre que a semana ia chegando ao fim. Mas mais do que tudo, por algum motivo ele me fazia rir o tempo todo e deixar o resto do mundo da porta para fora.

Eu nem notava o tempo passar, e quando dei por mim já fazia mais de três meses desde que o encontrei com o braço quebrado naquela sala de emergência.

"Vai sair no horário hoje Gin?"

Li sua mensagem um pouco depois das cinco da tarde na sexta-feira e parei o que estava fazendo para responder:

"Daqui uns minutinhos eu saio."

Voltei a olhar os exames pós operatórios de um paciente que atendi no meio da semana, vítima de um atropelamento, e só me convenci a não passar em seu leito quando tive certeza de que os indicativos eram ótimos e não havia com que me preocupar.

Fechei o prontuário e a porta do consultório atrás de mim e saí em direção ao balcão de enfermeiros perto da emergência, onde de longe já consegui avistar os cabelos pretos do Colin por trás do móvel de madeira.

—Oi gato. - Cumprimentei e ele sorriu levantando a cabeça na minha direção. - Aqui está, obrigada. - Passei para ele a pasta que ele arquivaria junto com os demais registros de pacientes.

—De nada. Já está está indo? - Perguntou me vendo soltar o cabelo do rabo de cavalo que usei durante todo o dia.

—Já, tenho compromisso.

—Me leva? - Pediu malicioso, piscando para mim ao fim e me arrancando uma gargalhada. - Divirta-se gata, boa noite.

—Para você também. Joguei um beijo para ele e saí em direção ao vestiário.

Demorei tempo suficiente para trocar o tênis pela sapatilha que usei para vir de casa até aqui, guardar o jaleco e pegar minha bolsa e então já estava cruzando algumas avenidas até meu bairro para em sua rua principal virar o carro na direção oposta à do meu prédio.

Agradeci ao porteiro quando ele automaticamente abriu o portão para mim, eu também já não precisava me identificar antes de subir, e entrei no elevador que estava ali já com as portas abertas.

Segundos depois de tocar a campainha Harry abriu a porta para mim com um sorriso feliz que eu provavelmente retribuí da mesma forma enquanto lançava meus braços em volta do seu pescoço em um abraço empolgado. Beijei sua bochecha enquanto ele fechava a porta e girava novamente a chave

para depois me dar um selinho demorado, seguido de vários outros mais rápidos enquanto me levava até o sofá.

—Tudo bem com você? - Perguntou se sentando e me puxando para seu colo.

—Tudo, e com você?

—Também. - Falou antes de me roubar mais um beijo.

Estiquei a mão e peguei o livro de capa escura que estava jogado ao nosso lado para ler o título: Garota exemplar.

—Para que você está lendo isso? Se quiser saber sobre a vida de uma garota exemplar é só me perguntar. - Falei convencida e deixei o exemplar novamente onde estava, arrancando dele uma risada.

—Deus me livre! - Exclamou me deixando confusa.

—Está dizendo que eu não sou exemplar, Sr. Potter? - Perguntei desconfiada,olhando de canto para ele.

—Você eu acho que seja bastante exemplar, Srta. Weasley, mas o título é irônico e aquela garota exemplar. - Falou apontando para o livro. - É uma psicopata fria que bolou um plano perfeito para acusar o marido de tê-la matado. - Explicou parecendo achar a situação bem divertida.

—Credo, então não sou exemplar, não. - Neguei com o cenho franzido e ele riu com vontade da minha expressão.

—Está com fome? - Perguntou depois de um beijo rápido no meu pescoço.

—Ainda não, mas queria tomar um banho.

Diante dessa palavra seus olhos se abriram como se tivesse se lembrado de algo importante.

—Comprei uma coisa para você. - Contou empolgado e se levantou de um pulo, me arrastando com ele pelo corredor.

—Mas nem é meu aniversário. - Afirmei em dúvida quanto a natureza do presente.

—E qual o problema? - Deu de ombros como se isso fosse insignificante. - Aliás, quando é seu aniversário?

—Onze de agosto. - Informei me sentando em sua cama enquanto ele abria uma das portas do guarda-roupa.

—Pertinho do meu. - Comentou antes de dizer o dia.- Trinta e um de julho.

Esperei enquanto ele puxava de dentro uma sacola rosa com algumas letras bonitas, de uma loja que eu não me lembrava de já ter visitado, e fechava as portas antes de se sentar de frente para mim e me entregar.

—Obrigada. - Agradeci antes mesmo de conseguir desfazer o laço desnecessariamente grande.

Ele se deitou com o cotovelo apoiado ao lado do meu joelho e esperou paciente enquanto eu tirava a caixa de dentro e desgrudava o adesivo antes de finalmente abrir e puxar um robe muito parecido ao que eu usava em casa, mas de um tom um pouco mais escuro de rosa.

—Você usa muito o seu quando estamos na sua casa, achei que sentisse falta aqui também. - Explicou me olhando com expectativa.

—Esse é seu jeito bonitinho de dizer que não preciso mais trazer roupa para usar depois que tomar banho? - Perguntei desconfiada, mas internamente feliz com a preocupação.

Não que me fizesse uma falta enorme, mas eu realmente gostava da praticidade de não me preocupar com o que vestir entre tomar banho e ir dormir.

—Eu não tinha pensado nessa vantagem, mas pode ser também. - Confirmou sorridente.

—Obrigada, gostei muito. - Agradeci novamente e me inclinei par enfatizar minha gratidão com um beijo.

—Acho que o tamanho está certo, mas eu posso trocar se não estiver.

—Está sim. - Confirmei após olhar a etiqueta.

—Vai tomar banho, te espero.

—Não vai me acompanhar? - Estranhei.

—Adoraria, mas preciso responder um e-mail do trabalho ainda hoje. Vou aproveitar e fazer enquanto isso.

—Ta bom, volto já.

Antes que eu entrasse no banheiro ele puxou um notebook de dentro da mochila que estava ao lado da cama e o ligou já concentrado. Fechei a porta para não atrapalhar com o barulho e tomei um banho quente e demorado, para espantar o ar frio de começo de inverno, e vesti apenas minha nova peça de roupa. Me olhei no espelho antes de sair e notei que este ficava apenas um pouco mais curto do que o que tenho em casa, mas no resto era igual.

Harry ainda não tinha terminado quando voltei, então me deitei ao seu lado e o vi digitar algumas palavras como índices, correlação e lucratividade, coisas que não me faziam o menor sentido, por mais alguns minutos antes de revisar, enviar e guardar o computador novamente.

—Pronto. - Anunciou se virando para mim e levando sua mão quase automaticamente para minha coxa. - Ficou bonito.

—Também gostei. - Afirmei me virando para ele também. - Dia corrido hoje?

—Bastante. E o seu?

—Mais ou menos.

Ouvi enquanto ele me contava algumas coisas que tinha feito e contei também algumas partes do meu dia. O mais legal desse nosso tipo de conversa era que eu não entendia quase nada do que ele me falava, ele entendia ainda menos do que eu dizia, mas os dois prestavam atenção como se entendessem tudo. Antes eu não via nenhum sentido em contar sobre meu trabalho para quem não entendia dele, mas até que era bom apenas falar sobre isso, dando minhas opiniões apenas e não ouvindo nada além de incentivos e parabenizações.

Fomos até a cozinha um tempo depois e eu me sentei em um dos seus bancos mais altos enquanto ele terminava de espalhar algumas fatias de queijo e molho pelo arroz dentro de uma assadeira.

—Eu estava pensando em uma coisa. - Comentei quando ele fechou a porta do forno. - Sexta que vem é feriado, não é?

—Sim. - Confirmou parando entre minhas pernas e apoiando as mãos nas laterais do meu assento.

—Você vai trabalhar?

—Não.

—Acho que vou pedir os três dias de folga, assim podemos passar um tempo juntos. - Informei o que estive pensando nos últimos dias, desde que vi no calendário da minha mesa o último dia útil da semana seguinte pintado de vermelho.

—Eu já marquei de ir visitar meus pais. - Confessou um pouco sem graça, deslizando os dedos pelos cabelos. - Vou na quinta a noite, quando sair do trabalho, e volto segunda.

—Então deixa quieto.

Dei de ombros indicando que não tinha problema. E na verdade não tinha mesmo, eu também me divertiria no hospital.

—Vamos comigo? - Propôs, subitamente empolgado. - Eu adio, podemos ir na sexta de manhã.

—Melhor não, Harry. - Neguei quase antes que ele terminasse o convite.

—Por que não?

—Porque eu sei como os pais são, eles vão pensar que estamos namorando ou algo assim.

—E não estamos? - Questionou visivelmente confuso, quase irônico.

—Não. - Falei como se fosse óbvio. - Eu mal tenho tempo para mim, imagina para ter um namorado. - Expliquei para sua expressão de quem ainda não havia entendido.

Por um momento ele me olhou sério como eu nunca tinha visto antes, quase chateado eu diria, mas o timer soou atrás de nós e ele se afastou de repente.

—Já? - Perguntei surpresa, mudando de assunto tão rápido quanto ele fazia.

—Sim, era só para derreter o queijo. - Falou tirando o jantar dali com a ajuda de um pano. - Vem. - Convidou sem muita vontade, saindo para a sala ao lado sem me esperar.

Só demorei tempo suficiente para descer do banco e colocá-lo de novo no lugar certo, mas Harry já estava sentado e se servindo quando cheguei. Normalmente ele colocava comida para mim também, mas começou a comer sem dar nenhum sinal de ter se lembrado disso. Achei um pouco estranho, mas tirei minha porção e me sentei de frente para ele.

—Está muito bom. - Elogiei após o primeiro pedaço.

—Obrigado. - Agradeceu sem dar indícios de que queria continuar aquela conversa.

Eu não via problemas em ficar quieta, mas ele nunca conseguia ficar calado por mais que um minuto ou dois, então seu silêncio durante todo o jantar me causou estranheza. Normalmente eu não pensava muito sobre o que se passava na cabeça das outras pessoas, mas a situação me deixou curiosa para essa informação a respeito do homem à minha frente, quieto e de braços cruzados, educadamente me esperando terminar de comer.

—Está tudo bem? - Perguntei em dúvida, pousando meus talheres sobre o prato assim que acabei.

—Sim. Terminou? - Perguntou apontando para o meu prato.

Assenti concordando e ele o tirou da minha frente, saindo da sala com toda a louça que sujamos nas mãos. Me levantei e peguei a assadeira com o resto da comida para levar para a cozinha, mas seus passos eram visivelmente maiores que os meus e antes que eu desse o meu segundo ele já estava de novo na minha frente.

—Obrigado, pode deixar. - Falou tirando-a da minha mão e sumindo de novo.

Antes que eu tivesse tempo de tentar adivinhar por que tudo estava tão estranho ele voltou e me arrastou para o sofá em meio a um abraço, aspirando o cheiro do meu pescoço.

—Quer assistir alguma coisa?

—Não estou com muita paciência para TV. - Respondi me ajeitando enquanto ele se deitava em cima de mim.

—Para que você está com paciência hoje?

—Para você.

Ele abriu um sorriso malicioso antes de beijar, e tudo estava normal novamente.

No dia seguinte, como já era normal, acordei com preguiça de sair de baixo das cobertas e ir trabalhar, mas o fiz mesmo assim. Nos despedimos antes que eu abrisse a porta para sair e ele esperou encostado ao batente e brincando com meus dedos até o elevador chegar e as portas se fecharem, me tirando do seu campo de visão.

O invés de ir até a sala do chefe de cirurgia pedir meus dias de folga, como havia planejado, me troquei e fui direto para o meu primeiro chamado. Quando cheguei em casa no domingo Harry me ligou e conversamos por alguns minutos enquanto eu comia alguma coisa antes de dormir, depois disso só nos vimos na segunda feira quando ele saiu do trabalho e veio direto até minha casa me buscar para assistirmos a um jogo da liga de baseball que ele não queria perder. Não era muito legal, mas era melhor do que os heróis da Marvel, com certeza.

Quando ele me deixou em casa nos despedimos durante vários minutos dentro do carro e eu desejei boa viagem, porque não nos veríamos mais antes que ele fosse para a casa dos pais. Tentei não prestar atenção na voz que repetia na minha cabeça com um pouco de insatisfação que eu não o veria na sexta-feira, dei um último abraço rápido nele e saí do carro.

Na quinta entre uma consulta e outra recebi uma mensagem de Harry dizendo que já estava na casa dos pais e que sentiria saudades. Respondi que eu também e desejei que ele se divertisse, depois guardei o celular no bolso e voltei a trabalhar.

A sexta a noite pareceu se arrastar ainda mais depois que percebi que nem meu irmão e nem minha vizinha estavam disponíveis para um encontro e que Luna e Colin estariam trabalhando. Lembrei que Harry passava horas brincando com o jogo desenvolvido pela empresa do Ron e o instalei no meu celular apenas para constatar que eu conseguia zerar todas as telas da primeira fase sem reprovar nenhuma vez, o que me deixou frustrada com a falta de desafios e me fez desinstalar o aplicativo.

Passei o sábado e o domingo inteiros pensando a cada momento em como meu final de semana estaria mais divertido se eu estivesse com Harry, e cheguei até a reconsiderar se eu não deveria ter aceitado seu convite, mas rapidamente cheguei à conclusão de que não.

Acordei na segunda no meio da manhã e senti meus olhos se desviando quase com vontade própria para a tela do celular a cada cinco minutos enquanto eu tentava assistir um filme qualquer na TV. A inquietação já estava me deixando irritada, mas esse pensamento desapareceu da minha cabeça tão rápido quanto surgiu porque no exato momento eu recebi uma mensagem que me deixou subitamente bem humorada:

"Oi Ratinha, já estou em casa."

Respondi na mesma hora, já de pé e caminhando em direção ao meu quarto para calçar um sapato antes de sair.

"Vou até ai."

Não era uma pergunta, mas ele também respondeu quase imediatamente:

"Vem, estou te esperando :)"

Devido à proximidade das nossas residências, dez minutos depois eu já estava entrando pelo portão do prédio dele e sorrindo para o porteiro barbudo que liberou minha entrada:

—Boa tarde.

—Boa tarde. - Respondeu antes de me perguntar com ar confuso. - Por que você não usa a segunda vaga do apartamento do menino?

Eu nunca entendi por que ele chamava as pessoas de menino e menina, mas nunca questionei e já até começava a achar engraçadinho.

—Não sei, nunca me ocorreu essa ideia. - Respondi dando um aceno para ele e indo até o elevador.

Na verdade eu nem sabia que Harry tinha outra vaga de estacionamento no prédio, por isso nunca tinha usado.

Ele provavelmente estava me esperando atrás da porta, porque mal toquei a campainha e ele surgiu, me puxando para dentro em um abraço apertado que eu retribuí de imediato. Afundei o rosto em seu pescoço enquanto ele fechava a porta e me perguntei se na semana passada o cheiro dele também já era bom assim, só então nos beijamos.

—Como foi de viagem? - Perguntei ainda abraçada a ele, encostada na lateral da mesa de jantar com seu corpo grudado ao meu.

—Foi ótimo, mas acho que estou mais gordo. - Lamentou, demonstrando não se importar realmente com isso.

Desci minhas mãos por suas costas até o quadril, apalpando todo o caminho:

—Não, está gostoso como sempre. - O tranquilizei e ele riu.

—Como foi o fim de semana?

—Normal. - Respondi dando de ombros, sem ter mais o que dizer a respeito.

—Ué? Não foi incrivelmente legal e fantástico, cheio de sangue e ossos para fora? - Perguntou confuso, prendendo um sorriso.

—Não, eu estava meio cansada.

—Ah, entendi. - Falou cético, como quem não acreditava na minha resposta.

—O porteiro me perguntou porque eu não uso a sua segunda vaga na garagem. - Comentei me lembrando. - Por que você nunca me disse que tem uma segunda vaga na garagem?

—É que eu acho que usar a segunda vaga da garagem é muito coisa de namorados, sabe? - Falou irônico e eu revirei os olhos.

—É só uma vaga, Harry.

Ele riu como se eu não tivesse entendido alguma piada interna, mas voltou a falar antes que eu perguntasse.

—Eu nem me lembrei, desculpe. Me passa a sua placa que eu vou autorizar a entrada.

—Ok, obrigada. - Agradeci e roubei um selinho dele.

—Vem aqui, estava guardando minhas roupas. - Convidou me puxando pela mão até seu quarto.

Deixei meus sapatos do lado e deitei sobre o edredom azul esticado que já me era familiar para observar enquanto ele caminhava entre a cama e o guarda roupa repetidas vezes.

—Tirei algumas fotos, quer ver? - Perguntou se deitando ao meu lado, depois de tudo já no lugar.

Por reflexo me arrastei mais para o lado até encostar nele e peguei seu celular assim que ele digitou a senha de desbloqueio e selecionou a parta de imagens que queria me mostrar.

Passei por uma quantidade enorme de fotos dele sorrindo entre os pais, de um jantar em um restaurante com garçons vestidos com roupas típicas de algum lugar que eu não consegui identificar, de um rapaz gordinho o abraçando pelo pescoço e de coisas aleatórias como uma árvore cheia de folhas secas.

—Você é muito parecido com seu pai. - Comentei aproximando o rosto dos dois com o zoom do aparelho e olhando com atenção.

—Mas tenho os olhos da minha mãe. - Completou divertido, me fazendo olhar para ele e rir concordando.

—Sim. Você já ouviu muito isso, não é?

—Mais do que você pode imaginar.

Voltei a olhar as fotografias até ser interrompida por sua voz de novo.

—Posso perguntar uma coisa? - Questionou meio incerto, se apoiando no cotovelo para me olhar.

—Pode.

—Você não se dá bem com seus pais? - Senti meu sorriso morrer com a pergunta, mas esperei que ele terminasse. - É porque você não tem nenhuma foto na sua casa, mas eu sempre te vejo falar do seu irmão e você nunca mencionou seus pais.

Devolvi o celular para ele, odiando o rumo daquela conversa e enrolando o máximo possível.

—Não precisa falar, se não quiser. - Apressou em se retratar.

—É porque não tem nada para falar, Harry. Eles morreram há um bom tempo. - Soltei a informação de uma vez, não fazia sentido ficar enrolando para contar o que ninguém nunca espera ouvir.

Sua cara de pena me dizia que ele também não esperava essa resposta.

—Eu sinto muito.

—Por que? Já faz muito tempo. - Tentei soar normal ao dizer isso, mas acho que falhei.

Passei as mãos no rosto e me levantei de supetão, o fazendo se afastar para me dar espaço. Enfiei os pés nas sapatilhas ao lado da cama e me inclinei tempo suficiente para dar um selinho que mal encostou em sua boca.

—Já vou para casa.

—Mas por que? - Perguntou se levantando e andando rápido para me acompanhar enquanto eu já atravessava a sala apressada.

—Está ficando tarde, amanhã nós dois trabalhamos e você deve estar cansado da viagem.

Depois me ocorreu que essa era a desculpa mais ridícula do mundo, porque ainda não passava das quatro da tarde.

—Não estou. - Tentou argumentar enquanto eu pegava minha bolsa sobre o sofá.

—Outro dia a gente se vê. - Falei já abrindo a porta e dando um passo para fora.

—Ei, Ginny. - Ele chamou, me puxando pelo braço e me deixando de frente para ele. - Desculpe por perguntar.

—Não tem problema. - Afirmei com o que certamente foi o sorriso menos convincente do mundo.

Ele soltou meu braço e eu me virei imediatamente para o elevador, que tive que esperar por uma eternidade enquanto sentia seus olhos grudados em mim.

Harry me encarar daquele jeito, mesmo que eu não estivesse vendo, não fazia nada além de aumentar minha vontade já enorme de virar e gritar que tinha problema sim ele perguntar aquilo, que era um problema meu, ninguém tinha nada a ver com isso e que eu não queria seu olhar de pena, porque mais pessoas do que eu gostaria já o dirigiram a mim.

Eu já tinha respondido assim a outras pessoas antes, mas não consegui me forçar a dizer nem a primeira palavra para ele. Apenas dei um passo para dentro do cubículo de aço e apertei o botão que me levaria para o térreo e depois para a minha casa, onde ninguém fazia perguntas que eu não queria responder.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal! Tudo bem com vocês?
Finalmente nossa mocinha falou um pouquinho mais da vida dela, e que não é necessariamente uma parte muito feliz. O que acharam disso?
Justo quando ela estava ficando mais receptiva...
Louca aqui para saber a opinião de vocês, não deixem de me dizer nos comentários ;)
Obrigada por acompanharem!
Beijos e até semana que vem.

Crossover: Adivinhem quem o Harry conheceu nesses dois meses que se passaram no capítulo acima? A cena desse encontro você vê no capítulo 7 de Backstage, que foi postado ontem:
https://fanfiction.com.br/historia/692675/Backstage/capitulo/7/