Light up, Light up
As if you have a choice
Even if you cannot hear my voice
I'll be right beside you dear

→ Narcisa

Quando Narcisa acordou, ela sentiu como se estivesse completa. A paz plena e uma segurança utópica, era o que sentia. Ainda escorregando para a consciência, Narcisa sentiu o cheiro de baunilha.

Foi quando ela abriu os olhos e viu os cabelos ruivos de Lily espalhados em seu rosto. Lily estava numa distância tão pequena que Narcisa conseguia sentir a respiração quente bater no seu rosto. Draco estava espremido entre as duas mas parecia estranhamente confortável. Ela abriu um sorriso ao ver que a menina respirava calmamente e parecia serena.

Narcisa queria poder manter aquela expressão sempre no rosto dela. Toda a pressão que aquela menina, tão jovem e brilhante, passava fazia Narcisa querer guardá-la dentro de casa e nunca deixá-la sair para se machucar.

Ela sabia que não poderia ficar ali por muito tempo e que Lily precisaria se alimentar quando acordasse, assim como Draco. Por isso, ela delicadamente tirou os cabelos da menina de seu rosto e começou a se afastar de Draco e do braço da menina mais nova.

Ela saiu da cama e bocejou, se sentia mais leve que nos últimos dias. Ela fez o caminho até seu banheiro e fez sua higiene matinal. Ainda se sentia sonolenta mas era menos que antes.

Quando chegou na cozinha, ela começou a preparar o café da manhã. Primeiro ela colocou a água na cafeteira, já que precisaria de uma boa dose para se preparar para o dia. Ela não queria deixar Lily naquela tristeza toda por ter visto Potter e Sirius, ela queria ajudar Lily. Por isso, enquanto preparava o café, Narcisa começou a pensar em lugares que poderiam ir sem serem interrompidas por ninguém e que seria relaxante.

Hyde Park foi a primeira coisa que surgiu na sua cabeça.

O lugar era demasiadamente relaxante e um local de paz no meio daquele momento seria a melhor coisa que Narcisa poderia oferecer. A loira preparou o café da manhã de Lily e Draco e depois preparou uma cesta para um piquenique. Ela sabia que Lily aceitaria já que a ruiva gostava de ir com Draco e uma amiga ao parque. Isso fazia Narcisa sentir uma coisa ruim no peito, mas ela sempre tentava ignorar o sentimento. Ela odiava Draco ao redor de estranhos mas sabia que Lily era extremamente responsável com seu filho. O problema real era amiga de Lily que Narcisa nunca tinha visto, mas quem a ruiva falava muito. Era a única pessoa que ainda falava com ela depois de tudo.

E Narcisa não iria separar a única pessoa que fazia Lily se sentir feliz da mesma, mesmo que não confiasse nenhum pouco na pessoa. A felicidade de Lily era mais importante que suas desconfianças.

Quando a loira terminou, ela olhou a hora e percebeu que tanto Lily quanto Draco tinham dormido mais que normalmente e isso até lhe preocupou um pouco. A loira saiu da cozinha e subiu as escadas rápida mas silenciosamente, não querendo que Lily ou Draco acordassem assustados.

Um suspiro meio aliviado escapou de seus lábios quando viu que ambos ainda dormiam a sono solto, seguido logo de perto por um suspiro carinhoso ao ver que Draco se encolhia contra o peito da menina ruiva. Ela abriu um sorriso antes de caminhar na direção dos dois.

Ela se sentou na cama ao lado de Lily e tirou os cabelos ruivos do rosto da menina antes de parar um segundo para admirar o rosto de porcelana. Narcisa não conseguia entender como Potter podia fazer tanto mal a uma pessoa tão bonita, por dentro e por fora.

Narcisa começou a acariciar o rosto de Lily quase inconscientemente mas quando grandes olhos verdes a encararam que ela se deu conta do gesto de carinho. Ela puxou a mão para uma distância segura enquanto corava e limpava a garganta.

— Bom dia. - Narcisa disse, envergonhada de seu ato. Foi quando Lily ergueu a sobrancelha e Narcisa percebeu que estava inclinada na direção de Lily.

Lily começou a gargalhar baixinho da expressão de Narcisa que saiu de perto envergonhada. A loira coçou a cabeça quando percebeu que estava inclinada na direção da mais nova, encostando o tórax na ruiva.

— Eu… hum… só queria dizer que o café está pronto. - Ela disse, se afastando. Lily riu um pouco mas logo assentiu e começou a se soltar de Draco que logo despertou. Lily quase voltou pra cama para pegá-lo, mas Narcisa balançou a cabeça como uma indicação de que ela iria ficar com ele.

Lily sorriu discretamente quando Narcisa se inclinou na cama e pegou sua miniatura.

— Hey, Cissy. - Ela chamou, na porta do quarto. Narcisa ergueu a cabeça a olhando interrogativa. Lily sentiu como se devesse dizer milhares de palavras para a loira. Mas a única coisa que saiu foi um envergonhado: - Bom dia. - Narcisa abriu um sorriso enorme, que Lily tinha certeza que nunca tinha visto sendo direcionado à alguém que não fosse Draco.

— Bom dia. - A loira respondeu e Lily sentiu que era o momento de deixá-la à sós com Draco.

Narcisa começou a amamentar Draco quase sorrindo. Fazia alguns dias que não tinha um momento como aquele com o filho, pois o trabalho na Vogue atrapalhava seus momentos com seu bebê e, embora ela estivesse satisfeita e soubesse que àquilo iria trazer coisas boas no futuro para ela e Draco, era impossível não sentir saudades do seu pequeno.

O sorriso tomou seus lábios quando Draco começou a brincar com seus cabelos. Uma atitude tão simples para algum mas que fazia seu coração vibrar de amor. Era seu apesar de tudo. Seu amor de mãe, que nutria pelo filho.

*~*

Narcisa ficou extremamente satisfeita quando Lily quase gritou de animação por ela chamar para irem ao Hyde Park. Era seu local favorito de toda Londres, afinal de contas.

Após tomarem café, ambas tomaram banho e se agasalharam para ir para o parque.

A caminhada até o parque foi com Lily andando quase pulando, e Narcisa ao seu lado, também animada.

Desde que tinham se mudado para o apartamento, não tiveram tempo de irem juntas ao parque mais famoso de Londres. Isso era uma ironia, já que moravam juntas.

Draco andava com as mãos ligadas as duas mulheres, por vezes tropeçando, o que fazia Narcisa o olhar com adorabilidade. Draco andando e correndo significava que ele estava crescendo. Logo, estaria indo para Hogwarts. Depois, faculdade. (Que Narcisa desejava, secretamente, que fosse Oxford, assim como todos os Black’s.)

Algumas pessoas as olhavam estranho, principalmente quando Narcisa os encarava. O olhar de julgamento frio e sem sentido era algo que não suportava e enfrentava sem medo.

Elas finalmente chegaram ao parque e procuraram um lugar para se sentarem. O clima era frio mas o Sol estava impotente sobre suas cabeças. Narcisa gostava daquele clima. Era melhor que um clima impossivelmente frio que as impedia de sair de casa, como tinha sido os finais de semana anteriores.

Ela se abaixou após estender a toalha no chão e começou a separar algumas coisas para deixar no chão. Foi quando viu Lily e Draco correndo pela grama. Aquilo lhe fez abrir um sorriso. Tanto pelo sorriso de Lily quanto o de Draco, eram lindos e faziam as batidas de seu coração irem mais rápido ainda. Era bom ver aquilo em Lily.

Narcisa resolveu apenas observar os dois brincando no parquinho ao invés de se juntar. O dia era destinado aos dois de qualquer jeito.

A loira tirou um livro de sua bolsa e começou a ler enquanto ocasionalmente olhava Lily e Draco. Por um momento, Narcisa ficou extremamente entretida no livro. Quando levantou o olhar, ela encontrou uma loira alta do lado de Lily. A ruiva tinha Draco nos braços e a loira conversava com a ruiva e a fazia sorrir. Narcisa apertou a mandíbula, quem era aquela garota?

Lily logo percebeu o olhar de Narcisa e chamou a garota para se aproximarem de Narcisa. Lily colocou Draco no chão e o bebê veio correndo para a loira que o pegou e abraçou possesivamente. O sentimento de raiva com a súbita aparição daquela garota porém, não se dissipou. Era como se a garota fosse uma ameaça.

— Ei, Cissy! - Lily disse quando chegou perto da loira mais velha que permaneceu sentada. - Essa é Marlene McKinnon. Lene, essa é Narcisa Black. - Ela apresentou as duas e se sentou com o sorriso brilhante. Marlene abriu um sorriso para Narcisa que sorriu forçadamente.

— É um prazer conhecê-la. - Narcisa disse, cordialmente.

— Digo o mesmo. - Marlene respondeu e Narcisa também percebeu que a garota tinha falado forçadamente.

A tensão, embora palpável, não foi sentida por Lily que começou a conversar com Marlene sobre a escola. A garota loira tinha mudado para estudar no mesmo turno que Lily e as duas eram colegas de classe.

Narcisa não via graça em conversar sobre química ou física, até porque sempre foi desligada quanto a essas matérias.

Draco começou a brincar com alguns brinquedos que Narcisa tinha trazido enquanto estava no colo de Lily. Narcisa tentou não ficar irritada quando a outra loira ficou brincando com seu filho. Ela respirou fundo e recebeu um olhar de Lily que entendeu logo o ciúme para com Draco. A ruiva pediu delicadamente a amiga o bebê de volta e o manteve em seu colo. Lily estava mais perto de Narcisa, e se aproveitando disso Draco se inclinou para a mãe como se pedisse para brincar com ele. Isto, Narcisa fez de bom grado.

A manhã passou lentamente e Narcisa brincava com Draco em todos os lugares possíveis. Mas o incômodo ainda permanecia lá.

Marlene McKinnon tinha olhos encantadores e um cabelo loiro belíssimo além de um corpo bonito. Narcisa não só se sentia intimidada como ameaçada por ela. Era um sentimento confuso pois McKinnon não parecia nenhum pouco interessada em Draco. Ela parecia ter uma queda por Lily. E isso era um problema para a loira mais velha.

→ Lily

De todas as pessoas no mundo, Lily sabia que Marlene McKinnon era decididamente uma das cinco primeiras na sua vida.

Desde que tinha onze anos e ingressou em Hogwarts, a afeição por Marlene foi imediata. Ambas as meninas se sentiram confortáveis em torno uma da outra.

E Lily, obviamente, achava que deveria apresentar uma das partes mais importantes de sua vida para outra. Foi o que ela pensou quando introduziu Marlene à Narcisa. As duas mulheres mais importantes de sua vida parecia tudo que ela precisava para ser feliz.

Infelizmente,a antipatia foi imediata. Lily percebeu imediatamente nas feições de Narcisa. Apesar da cara suave da loira, Lily já a conhecia bem demais para desconhecer o desprezo que passou pelos olhos da outra. Mas ela pensou que poderia ser apenas por estar conhecendo alguém novo. Quando esse sentimento não foi embora após duas horas com Marlene, Lily percebeu que a antipatia que ambas - a de Marlene ela só foi capaz de saber após alguns minutos - sentiam não era passageira.

Para sua sorte, no entanto, Marlene logo a chamou para conversarem à sós. Lily não gostou do tom de voz da loira, mas a seguiu prometendo a Narcisa que voltaria logo. Ela contaria à loira mais velha de qualquer jeito.

Marlene parou momentos depois, longe dos olhos e ouvidos de Narcisa e Lily não se sentiu confortável.

A loira se encostou num tronco de árvore para depois desencostar, nervosa. Lily ergueu as sobrancelhas.

— Pra que você me chamou aqui, Lene? - A ruiva questionou, um pouco confusa. Antes que pudesse pensar em outra coisa, os lábios de Marlene encostaram nos seus.

A ruiva se sentiu imediatamente confusa, os lábios de Marlene eram suaves e tinham sabor morango, mas ela não queria aquilo. Por isso, ela empurrou Marlene e a loira se afastou. Marlene logo percebeu que tinha feito uma coisa errada, pois a ruiva tinha uma careta no rosto.

— Por que você fez isso? - A ruiva exclamou, irritada.

— Desculpe! - Marlene respondeu, levantando as mãos envergonhada. - Eu… - Marlene perdeu a fala e Lily revirou os olhos. - Eu sou apaixonada por você, Lily. Desde que nos conhecemos. - Revelou e Lily ofegou, se afastando.

— Você não pode! - Lily exclamou, em choque. Marlene nunca tinha mostrado, em nenhum segundo, sentimentos românticos para com Lily.

— Tanto posso, como tenho. - Marlene retrucou. - Lily… Eu sou muito apaixonada por você! Você tem que me perdoar mas eu não consigo parar de pensar em você. - A loira se aproximou e Lily sentiu vontade de vomitar. Era assim que perderia sua melhor amiga? - E, desde que eu impedi você de abortar naquele dia, não consigo parar de pensar em você e nesse bebê como uma família. Nós seríamos a família perfeita! Eu sei que você não me ama desse jeito ainda, mas você poderia com o tempo. - Marlene divagou e Lily quase chorou, relembrando o dia que que estava tão desesperada que achou que era sua última saída.

— Lene… - Ela começou mas o olhar de Marlene a faz parar. Lily sabia que não poderia deixar aquilo daquele jeito e por isso continuou. - Eu nunca tive nenhum sentimentos românticos em relação a você. Você sabe disso… Aquele dia, você me impediu de fazer a maior besteira da minha vida mas isso é diferente. Você é minha melhor amiga, e eu apenas tenho sentimentos fraternais por você. Eu nunca senti nada romântico em relação a você… - Ela disse e imediatamente sentiu-se um monstro. Sua amiga começou a chorar silenciosamente. Ela precisava falar a verdade para a melhor amiga. O que tinham era amizade e nada mais, Marlene ter confundido isso talvez só tivesse acabado com a amizade delas. - E eu sou hetero, Lene, você sabe disso. - Ela terminou, mesmo sabendo que sua sexualidade não importava muito.

— Não é o que parece ser quando você começa a falar de Narcisa. - A outra retrucou. - Você pode até não gostar de mim romanticamente, Lily,mas você sabe que eu sou a melhor opção que você tem. Logo Narcisa terá condições o suficiente para pagar uma pessoa que confie de verdade e lhe deixará, assim como Potter e seus pais. E quando isso acontecer, lembre-se quem é que lhe ofereceu apoio e você agiu como uma vadia. - Marlene deu um sorriso de puro veneno para Lily que estremeceu com as lágrimas que tinha em seus olhos. Em um segundo, Marlene tinha ido de garota com o coração quebrado para uma escrota.

Com um último olhar, Marlene saiu de sua vistas limpando o rosto.

Lily se abaixou ali onde estava até estar sentada no chão e começou a chorar silenciosamente. Obviamente sabia que quando Narcisa voltasse a ter condições suficientes, ela iria contratar uma babá nova para Draco e lhe abandonaria como todos.

Não era só isso que estava fazendo o ar engatar na sua garganta e se recusar a sair. Era também o sentimento de desamparo que sentia. Quando achava que não tinha mais ninguém para perder, a vida fazia uma dessas com ela. Ela nunca teria percebido os sentimentos de sua amiga antes, e se tivesse percebido antes de James talvez até teria tentado algo com ela. Mas ela agora era outra, ela tinha um filho á caminho. Uma criança que precisaria de Lily por completo.

O pensamento do filho fez Lily perceber que sentia uma ligeira pontada no ventre. Isso abraçar a própria barriga tentando parar.

— Por favor, não… - Ela suplicou baixinho para a barriga mas não adiantou muito, a pontada continuava.

Lily se ergueu com dificuldade e caminhou lentamente até onde estava com Narcisa antes e viu a loira andar de um lado para o outro com Draco no colo. Quando viu a menina voltando, a loira parou de andar e lhe observou. Algo na sua expressão fez Narcisa se adiantar e ficar na sua frente. Lily não precisou falar muito mais, pois logo Narcisa lhe guiou na direção da rua para pegar um táxi.

Assim que entraram, a loira pediu para lhe levarem para o hospital mais próximo enquanto ligava para Andrômeda para ir até elas.

Em algum momento disso, Lily perdeu a consciência.