Cristal escrita por Mia


Capítulo 5
Capítulo 4 - Infringindo as regras




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Lana abriu todas as portas do seu armário e observou as peças perfeitamente organizadas ali, separadas por tamanho e cor, estava orgulhosa por conseguir manter suas coisas no lugar, em casa os empregados cuidavam até do seu banho, ter um pouco de responsabilidade com ela mesma a fazia se sentir um pouco maior, mais adulta.

Ela olhou pras peças expostas com um olhar clinico e critico, mesmo que quisesse ir a tal festa não poderia, não sabia o que devia vestir em festas clandestinas e nem em festas em geral, os lugares que costumava frequentar com os pais era o tipo de repelente para pessoas jovens e vivas. Fechou as portas e jogou-se na cama. Por que se preocupar com isso? Isaac não iria se importar muito, antes que fosse nove horas já estaria ocupado com o decote de outra garota que não fosse ela, ele era esse tipo de cara, o tipo que se atira pra primeira garota bonita que encontra.

Uma batida hesitante desconcertou os pensamentos pessimistas de Lana, ela ergueu a cabeça minimamente em direção a porta e esperou, logo as batidas ganharam força e impaciência. Não iria abrir. Tinha livros e deveres pra fazer. Sua noite de sexta-feira seria perfeita.

Jasmim não se importou com sua recusa silenciosa quando abriu a porta e entrou, ela estava vestida com uma blusa de manga comprida preta de paetê e um short folgado e curto, suas unhas recém-pintadas seguravam uma bolsa de mão também preta e igualmente brilhosa, seu cabelo estava solto e impecavelmente liso. Ela parecia uma modelo e fez Lana lembrar do pijama velho que vestia.

— O que você está fazendo aqui?

— Por que ainda está assim? – Jasmim fechou a porta com cuidado e andou até Lana, parando a sua frente colocou as mãos na cintura.

— Porque vou ficar por aqui – Lana deixou os braços escorregarem e caiu de novo na cama. O rosto maquiado de Jasmim pairou acima do seu.

— Você não seria burra o suficiente pra isso, certo?

— Me de uma razão pra abandonar meu conforto e vestir algo apertado?

— Esqueceu que você praticamente foi jurada de morte hoje?

Lana revirou os olhos.

— Não exagere. Thor não pode fazer nada grande contra mim a não ser me atormentar com suas frases sem graça e de efeito. Eu posso aguentar isso.

Foi o que passou a tarde pensando e dizendo a si mesma, era mais interessante do que deixar a culpa por não ter ido ver sua analista a consumir.

— Você não o conhece! Não sabe das coisas que ele é capaz de fazer! – Jasmim sentou ao seu lado – Ano passado, antes de eu sumir, Thor me procurou e fingiu que queria reatar, disse que esqueceria o incidente das drogas e eu como idiota acreditei. Mas não era nada disso. Era tudo parte da sua vingancinha. Ele me seduziu e depois me descartou como um pedaço de lixo, eu... – ela pareceu engasgar, Lana sentou e a encarou atentamente – Eu era virgem. Você deve imaginar como me senti no dia seguinte.

Lana sentiu como se alguém tivesse jogado uma pedra no seu colo. Jasmim parecia prestes a romper em um choro, mas não o fez, ela ficou de pé e a encarou com a mesma expressão feroz de sempre, parecia uma leoa loira que brilhava.

— Ele pode fazer algo assim com você também. Aquele garoto que seguiu você pelo corredor naquele dia, ele é o Isaac, ele tem um tipo de parceria estranha com o Thor, se você estiver com ele Thor não vai mexer com você e vai te deixar em paz.

Jasmim não esperou por uma resposta, a resposta que Lana queria dá, ela não queria está com Isaac, ela queria dá um soco na cara prepotente do Thor. Como ele poderia ter feito aquilo com Jasmim? E como ela poderia ter colocado drogas nas coisas dele? Lana nem sabia mais quem era o vilão daquela historia. Viu Jasmim mexer nas suas roupas bagunçando a ordem que ela tinha organizado, mas ela não se importava, ainda se sentia mal por ela, e seu relato conseguiu reviver aquela chama de medo que Lana sentiu assim que Thor á havia ameaçado. Poderia fazer quase qualquer coisa pra não passar pelo mesmo que Jasmim passou.

— Esse aqui parece perfeito! – Jasmim puxou um vestido preto do fundo das coisas de Lana.

— Não é um pouco demais não?

— Tá brincando? – ela quase gritou, mas em seguida, quando pareceu lembrar da sua situação clandestina murmurou – Nada é demais nessas festas, o que essas garotas usam colocam qualquer vadia no chinelo, e esqueceu que nossa missão é agradar o Isaac? Ele é exigente.

— Estou me sentindo um pedaço de carne agora – Lana ficou de pé e tomou o vestido das mãos da garota – e eu não disse que vou.

— Eu já não deixei claro o quanto isso é importante pra te tirar dessa situação? Você é o que, idiota?

Lana amaçou a peça cara nas mãos antes que fizesse o mesmo com Jasmim.

— Estou nessa situação por sua culpa!

— Eu não pedi que me ajudasse.

— Ah ótimo. E queria que eu tivesse feito o que? Fugido como suas amigas?

— Eu sei que o que você fez foi nobre, foi por isso que coloquei essa roupa e estou indo pra lá, com você, pra um lugar cheio de gente que me odeia e fala de mim pelas costas. Quer gratidão maior que essa?

Lana respirou fundo e virou de costas pra Jasmim. Ela deveria pedir desculpas agora por ter sido meio estupida, mas não tinha forças pra isso, desamassou o vestido e foi até o banheiro. Ficou por lá o que pareceu uma eternidade.

ººº

— Não fique tão nervosa, você está linda – Jasmim sussurrou enquanto elas esperavam o recepcionista do dormitório masculino sair. Ele parecia um cão guia.

Lana a encarou pelo canto do olho e bufou, impaciente. Ela não estava linda, estava vulgar, e ela sabia o quão distante eram essas duas palavras.

O vestido que usava tinha sido um presente de dezessete anos, apesar de não ter decote e suas mangas compridas havia um corte em v que ia até a base das suas costas, a cada cinco segundos ela sentia o vento gélido arrepiar sua pele ali, lembrando-a constantemente da sua exposição, sua saia era demasiadamente justa e curta, Lana tinha que ficar segurando-a para que não subisse demais, era a segunda vez que o usava, na primeira apenas o reflexo do seu espelho pode ver o quão nua estava, devia ter lembrado desse desconforto enquanto o vestia as pressas e acompanhava Jasmim pra fora.

— Jasmim, por acaso, o Thor estará lá? – perguntou.

Jasmim de inicio não respondeu, o recepcionista enfim saiu e elas aproveitaram a brecha pra se esgueirarem pra dentro do dormitório, quando chegaram na parte final das escadas Jasmim encostou as costas na parede e suspirou.

— Sim. É difícil imaginar que alguém tão charmoso ficaria de fora de algo assim – ela riu, provavelmente da sua ingenuidade.

Lana se sentiu gelar de repente.

— Você realmente acha que isso é uma boa ideia?

Jasmim deu de ombros. – Só tem um jeito de descobrir. Vamos.

Ela andou até a porta e bateu freneticamente. Um garoto meio tonto abriu, ele deu passagem, mas não parecia muito certo de quem ou o que elas eram, apenas resmungou algo e saiu, deixando a porta aberta para que entrassem.

— Fácil não é? – Jasmim disse entre um riso e outro – Luce também está aqui, vamos procura-la.

— Pensei que ela não viria – Lana murmurou, mas a musica estava alta demais, seus saltos vibravam, Jasmim não a ouviu, ela tomou a frente, Lana se espremia nas suas costas.

Ela tentava não respirar muito, tinha uma fumaça doce e estranha a cercando e várias pessoas trocando fluidos corporais por ali. Jasmim acertou quando disse das roupas, tinha algumas garotas quase nuas já, Lana conseguiu se sentir confortável naquele vestido.

— Você chegou!

Alguém gritou no seu ouvido e agarrou seu braço, puxando Lana pra longe de Jasmim, ela se chocou contra um corpo duro como rocha. Ergueu o rosto e encontrou Isaac e seu sorriso, era tudo o que conseguia ver, seus olhos estavam meio nebulosos e suas mãos ousadas demais pro seu gosto, mas naquele espaço limitado não havia muito o que pudesse fazer.

— É, eu cheguei – ela disse séria, esperando que ele a soltasse. Não o fez. Isaac segurava seu braço com firmeza e sua outra mão a segurava pela cintura.

— Não fique nervosa. Você fica uma graça quando esta chateada, fica difícil de me controlar – ele sussurrou no seu ouvido. Lana sentiu um cheiro forte de cerveja na sua roupa e hálito, lembrou do garoto tonto que as recepcionaram.

— Não estou nervosa – mentiu. Tentou se soltar e olhou por sobre o ombro. Achou Jasmim rindo e apontando o polegar como quem aprovava aquela situação, ela pareceu sibilar alguma coisa, mas Lana não se importou em entender, ao seu lado ela reconheceu a cabelereira vermelha e cacheada de Luce. Luce ria descontroladamente do que Ben dizia, e ele a olhava com um sorriso satisfeito.

Lana lembrou dos avisos de Luce. Ela teria problemas se a encontrasse com Isaac.

— Vamos beber alguma coisa? – perguntou no ouvido do garoto. Os olhos dele brilharam e assentiu.

Talvez aquilo fosse dá certo, Isaac parecia alguém fácil de se conseguir atenção, Lana só precisava mantê-la em si até Thor esquecer seu nome e fim. Estaria livre. Ou tanto quanto os muros de Lorenzo permitiriam.

— Do que você gosta? – Isaac perguntou enquanto a arrastava para o outro lado. Lana levou segundos pra entender a que ele se referia.

— Você não teria refrigerante por ai?

Ele a encarou e por um instante tentou prender o riso. Não conseguiu. É claro.

— Pra você qualquer coisa, menos refrigerante.

Isaac parou em frente um balcão onde uma garota mais velha e peituda estava enchendo alguns copos, ele pegou um e bebeu de uma vez. Em seguida ofereceu outro a Lana, ela pegou, avaliando se tinha alguma coisa suspeita ali.

— Por favor, pare com essas cantadas sem graça – ela pediu enquanto bebericava seu copo, era um pouco mais doce do que sua cor verde fazia parecer ser.

Isaac riu com vontade.

— Ok. Desculpe. Vamos começar de novo então?

Lana conseguiu resistir ao impulso de dizer outra vez?. Ao invés ela sorriu e assentiu.

— Você está linda – Isaac tinha um sorriso diferente agora, seus olhos pareciam dançar enquanto avaliavam Lana de baixo a cima.

Ele estava vestindo uma camiseta jeans clara de botões, abotoados até o pescoço e uma calça escura, suas roupas simples só destacavam seu rosto bonito e seus olhos verdes, ela quase cedeu a vontade de desabotoar sua camisa ou passar os dedos no seu cabelo. Lana bebericou mais um gole e sorriu.

— Você também.

Isaac inclinou-se sobre ela, do mesmo jeito que tinha feito a tarde quando estavam no jardim, mas tinha algo mais perigoso nele dessa vez, uma urgência nos seus olhos que ela não gostou. Ele pegou sua cintura e murmurou seu nome, trazendo-a pra mais perto, encostando seus narizes em seguida sentiu os lábios dele roçarem nos seus.

Ela não era uma garota tola nem ingênua. Um beijo era um beijo, não era um sinal de compromisso nem de sentimentos, e era isso que ela queria fazer desde a primeira vez que o viu sentado tão despreocupadamente naquele banco, Isaac era bonito demais, charmoso demais, pelo canto do olho viu que a garota peituda não estava mais lá, isso desprendeu algo em Lana, ela deixou seu copo em cima do balcão e pressionou seus lábios nos dele com mais força, levantando as mãos e mergulhando os dedos naquelas mechas lisas e sedosas.

Ele gemeu pressionando o corpo dela com força até encostá-la em algo duro, suas mãos passearam pelas pernas de Lana, indo da cintura até suas cochas, apertando com vontade, ela desprendeu seus lábios quando viu que precisava de folego, mas Isaac desceu até seu pescoço e o mordeu, Lana cerrou seus lábios e prendeu um gemido, mesmo que estivessem sendo ignorados e a musica alta abafasse os barulhos que faziam, era constrangedor se agarrarem em publico, ela se deu conta disso e escondeu o rosto com o cabelo enquanto afastava Isaac.

Por um instante ele pareceu uma rocha, não respondia aos seus esforços, ao invés de ir pra longe ele pressionou-se no corpo dela com mais força e tentou capturar seus lábios de novo.

— Isaac... – Lana murmurou, dessa vez pôs toda sua força nos braços e tentou afastá-lo – Para. Agora.

Ele demorou a ouvi-la. Ou fingiu que não ouviu. Lana praticamente gritou no seu ouvido até que recuasse. Parecia aborrecido.

— Fiz alguma coisa errada? – perguntou. Sua voz estava mais grossa agora e seus olhos miravam a boca de Lana.

— Aqui não. – Ela murmurou, baixando a saia do seu vestido. Corou quando percebeu que Isaac a tinha entendido mal – e nenhum outro lugar.

— Você não pode dizer isso enquanto está vestida com isso.

Pela segunda vez Lana se arrependeu pela escolha da sua vestimenta. Então ele era aquele tipo de cara? Ela se afastou quando ele fez menção de se aproximar de novo. Lana girou nos calcanhares e tentou refazer o mesmo caminho que tinha feito, quando olhou por sobre o ombro viu Isaac parado, encostado no balcão e esvaziando outro copo daquela bebida verde. Ela precisava encontrar Jasmim e Luce, queria chegar ao seu quarto e tirar aquele vestido que agora fedia a cerveja e a fazia se sentir suja e vulgar.

— Fugindo? – perguntou.

Lana gelou, quando olhou por sobre o ombro o encontrou parado, como se estivesse ali o tempo todo com os braços cruzados em cima do peito e um dos ombros encostado á parede, seus olhos passearam pelo corpo de Lana no final encontrando seu rosto, satisfeitos com algo que encontrara na sua figura imóvel. Provavelmente o medo que ela estava sentindo agora e devia está escrito na sua testa.

— Mais ou menos – ela murmurou, não queria confessar que estava fugindo dele, era patético demais.

Thor tinha um sorriso frio colado em seu rosto e um cigarro gasto preso em meio aos seus dedos. Se antes Isaac pareceu perigoso, Thor parecia conseguir dominar a obscuridade, sua imagem desleixada e seu rosto rude e grave dominava qualquer um e espantava qualquer ameaça, de repente Lana entendeu a razão do pavor de Jasmim, ele era temível, mas ainda sim, ele nunca esteve tão lindo e irresistível.

Ele se aproximou devagar, como se estivesse testando-a.

— Eu acho que você me deve alguma coisa, não?

— Não sei nada disso.

Ele maneou a cabeça de lado e de novo seus olhos a seguiram de cima a baixo, parando em seu rosto. Ele não devia fazer isso, Lana ainda se sentia acesa pelo que acabara de acontecer com Isaac, ela só queria encontrar as garotas e ir embora, passar a noite escondida dentro de uma bola de cobertas.

— Que tal lembrar de uma certa divida que você pegou pra si? Consegue lembrar agora?

— Isso é problema de vocês. Não tenho nada a ver com isso. – Lana virou pra ir embora, mas a voz dele a parou.

— Então está dizendo que devo voltar a cobrar da sua amiguinha? Pensei que você fosse do tipo nobre.

Ela lembrou da Jasmim tensa e tremula que viu sentada na sua cama, seus olhos perdidos e marejados. Lana nunca odiou tanto sua maldita compaixão como agora.

Virou de frente pra Thor de novo, seus punhos agora estavam fechados e tudo que queria era mirá-los naquele sorriso cínico.

— Você não presta! Por que não nos deixa em paz? Está tão desesperado assim por companhia?

Thor a encarava indiferente. Jogou o resto do seu cigarro fora e chegou mais perto de Lana.

— Quem você pensa que é pra falar assim comigo? – seu rosto estava fechado, seus olhos nebulosos, Lana sentiu suas pernas tremerem – Não passa de uma cadela irritante.

Ela sentiu as paredes e a musica alta se expandirem pra além da sua compreensão, tudo que conseguia ver eram aqueles olhos cinzas e hostis que perfuravam os seus. Talvez pela primeira vez, verdadeiramente, sentiu medo de alguém. Lana andou um pouco pra trás afastando-se, mas Thor segurou seu pulso com firmeza quando percebeu o que pretendia fazer.

— Você ainda me deve, e nem pense que vou deixar de cobrar, talvez isso te sirva de lição pra quando pensar em se meter no meu caminho de novo. – Thor a puxou com brusquidão e a arrastou pra fora. Lana tentou impedi-lo, olhou por sobre o ombro e não reconheceu ninguém naquele mar de rosto, todo mundo parecia alheio a eles, pensou em gritar, mas por alguma razão sua voz estava presa.

Quando Isaac viu Thor arrastar Lana pra fora do seu quarto pareceu se despertar da auto miséria em que tinha afundado. Ele ainda estava excitado pelo tempo que teve a garota pressionada contra si, e também não estava 100% sóbrio, não queria dá um passo em falso de novo e por tudo a perder, como quase fez a pouco, por isso ficara ali, remoendo seus infortúnios e bebendo, mas Thor estava arrastando-a pra fora. O que aquilo significava realmente? Ele realmente iria fazer? Ali? De um jeito tão desleixado? Não parecia ser o seu estilo. Mas de qualquer forma Isaac os seguiu, e teria liberado Lana se seu celular não tivesse vibrado e uma mensagem enviada do numero que pensou que jamais o procuraria de novo. De repente não existia mais Lana, nem Thor, nem ninguém que o impedisse de ir até ela.

Isaac apressou-se tomando o caminho contrário que pretendia ir e quase correu noite a dentro. Aquelas palavras estavam queimando seu cérebro.


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