P.O.V Gazelle

 Respiro fundo. Tenho duas horas de show e quero dar o meu melhor para todos os meus fãs, que ficam ansiosos e contam cada segundo, cada minuto e cada hora que passa para , finalmente, ter a oportunidade de me encontrar.Enquanto tento lembrar todas as músicas que tenho que tocar mentalizando os lugares que ajudam-me  a parar de suar em picas e  acalmar as batidas nervosas como os sons pesados de  tambor que saem do meu coração ouvindo as novas duas músicas lançadas  do Ed Sheeran . A minha favorita no momento era Shape of You.

Ela tinha uma pegada que me lembrava o Give me Love quando chegava no  refrão, que era de longe a minha primeira favorita. Estava ouvindo na minha décima quarta vez enquanto batia palmas dançando no meio do camarim vazio, graças ao sol, e sem nenhum maquiador ou técnico chato para estragar aquele momento descontraído .

Campo verde. Creme com cheiro de hortelã do Segredo da Vitória. Dançar....Bofes bonitos como Dom Cruizes e   ....

 Respiro outra vez procurando puxar o máximo de ar no meio da minha dança quando o meu telefone toca.

Quebra-se toda a onda de paz e concentração que eu estava criando para cantar. Desligo o rádio com um clique no controle remoto universal.

Pego o irritante celular , aperto o botão e digo :

—Alô? – como se fosse a musica da Adele.

—Sou eu. – diz uma voz feminina.

Eu reconheci em um picar de olhos de quem era a dona da voz. Era uma das minhas fãs: Judy Hopps, a melhor policial do DPZ .

— Você está bem?

Eu e Judy criamos uma relação de amizade pura e verdadeira depois que ela e seu amigo Nicholas P. Wilde salvaram a minha linda e querida cidade de Zootopia.  E eu havia prometido que faria qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para ajudar ela .

—Eu preciso de um favor !

— Estou ouvindo...

P.O.V Nick

Com toda a certeza isso era uma loucura com L maiúsculo . Estou praticamente a seis metros longe do chão. É tão alto aqui em cima que tenho a sensação de estar numa montanha congelada .

Meus olhos assustados viam aqueles animais lá embaixo e eles pareciam como se fossem pequeninos grãos de arroz. Ou neve.

Meu coração estava palpitando de medo enquanto chegava cada vez mais perto da cabritinha –suicida.

“ Encobrir. Não sentir. Não deixar saber. ”, invoquei as sábias palavras da Rainha Elsa.

Ela tinha cabelos alaranjados e cacheados parecendo aquela textura de algodão felpudo da ex-prefeita de Zootopia. Com certeza, estava deprimida com o dia que teve,abraçando o seu próprio corpo enquanto chorava.

Será que é um bom dia para morrer, cabritinha?

Me ajoelhei naquela bendita e estreita beirada  diante da pequena e comecei a pensar nas melhores maneiras de ajudar, mas nada parecia se formar em meu cérebro. Tudo por causa daquela tremenda vontade de acariciar aquele topete  .

Ela levou um susto ao sentir minha pata tocando em seu pelo. Deve ter pensado que era um agressor dela.

—O que você pensa que está fazendo, algodão ?- disse acariciando ainda mais o pelo da pequena cabritinha.

—Pensando em como poderei desaparecer. Eu não consigo mais suportar os comentários ruins que fazem comigo na escola, fazem todas as minhas noites serem  ruins. Eles acham que uma cabra como eu não deveria ser desenhista porque é coisa vinda do mau.

Eu já conhecia essa sensação , antes.

—Não precisa ser legal comigo porque sei que sou uma estranha.

— Então é aqui os estranhos se encontram?!  Como você se chama?

—Mei Lien. E tenho nove anos.

A mesma idade que eu e Judy sofremos bullying , pensei enquanto olhava a  cabritinha depressiva.

—Você não tem nenhum amiguinho na escola, Mei?

— Tenho. O nome dele é Peter Panda eé o único que me compreende e gosta dos desenhos que eu faço. Os meus colegas acham que eu deveria desenhar dinossauros com dentes afiados e piratas assustadores. Eu não gosto de desenhar isso, me dá pesadelos à noite.

—Do que você gosta de desenhar ?  Eu gostaria muito dever um dos seus desenhos ?

Ela abriu a sua pequena bolsa e revelou para mim um caderninho. Em meio às páginas cheios de desenhos de natureza aparece um grilo de óculos e com uma roupa muito elegante tocando um ukelele.  E do topo de uma árvore tinha uma linda mariposa suspirando. O grilo estava se declarando para ela.

Ela havia desenhado com tanto empenho que parecia que ele saltaria da página a qualquer momento.

—É lindo, Mei.

—Obrigada.

—Você gosta das princesas dos contos de fadas , Mei? Qual é a sua favorita?

—A minha é a Mulan, senhor.  Por quê?

— Porque ela não permitiu que a opinião da casamenteira influenciasse a sua vida ser com desonra ,  e  seguindo o seu coração ,  Mulan  foi na guerra no lugar de seu pai e consegui realizar o seu sonho!

— Falar sobre as dificuldades das princesas é fácil . O difícil é você tentar ser lembrar que as NOSSAS dificuldades irão acabar algum dia , porque tenho que ouvir os comentários deles, e é MUITO difícil .

— Assim como minha Rainha favorita : - Elsa . – admito para ela.

A cabritinha ficou boquiaberta.

Eu sei. É uma surpresa um raposo macho gostar de uma rainha que faz gelo.

—Você não tem sua mãe e seu pai para conversar sobre os seus sentimentos , Mei ?

—E de que isso iria adiantar ?! Não quero preocupar eles com os meus problemas. São terríveis .

— Ah Mei, você apenas deixou ser influenciada pela opinião de pessoas que não sabem o que dizer e que não conhecem você como eles. Você deveria contar aos seus pais como se sente . Acredite em mim. Sei como é sentir assim como você. A minha insegurança de ser uma raposa me levou a guardar todo o meu passado feliz com os meus pais , um presente muito feliz com minha madrinha Saphira e meu primo Zack. E esses bons momentos acabaram virando velhas cinzas , e desapareceram com o vento . E eu deixei com que a opinião de outros animais estragassem quem eu fui, mas não o que sou agora, Mei.

—E por que você acha que devo contar os meus sentimentos escuros , senhor raposo ? Para ser chamada de dedo- duro e os meus colegas maus me baterem ?! – ela me ameaça tirado a sua pata do local seguro.

E foi naquele momento que minha raiva tomou todo o meu ser.

— Se você quer mesmo saber deveria pensar no quanto os seus pais adotivos lutaram e sacrificaram para terem você . Deveria pensar também no quanto eles sonharam para conseguir realizar o sonho de terem uma família. VOCÊ ESTÁ TIRANDO O SONHO DELES.

E então o inevitável aconteceu. A cabritinha me abraça bem apertado e começa a chorar como se o arrependimento tivesse entrado em seu coração.

— Desculpe...Desculpe !  Você tem razão .- diz chorando e  berrando.

Apertei a pequenina e fiz a única coisa que poderia fazer para acalma - lá : Cantar a única música que me veio na cabeça .

— I messed up tonight

I lost another fight

Dusting myself but I'll just start again

I keep falling down

I keep one hand on the ground

I'm always scared I'm not seeing what's next

Birds don't just fly

They fall down and get up

Nobody learns without giving

It won't

I won't give up, no I won't give in

Till I reach the end

And then I'll start again

Though I'm on the lead

I wanna try  everything

I wanna try even though I could fail ...

O engraçado é que eu não vi o microfone . Não vi as câmeras em foco no meu rosto. E não vi os bombeiros vindo nos resgatar ou também...

Tudo o que eu fiz foi deixar levar pelos meus sentimentos.

— I won't give up, no I won't give in... – A linda cantora Gazelle aparecendo numa escada de uns dos caminhões  de bombeiros e estava fazendo  um dueto comigo .

Quando ouvia o Garramansa chamando a Gazelle de anjo com chifres, acredite, achava que era um exagero, um absurdo. Mas naquele momento em que ela pegou na minha pata enquanto cantávamos juntos , me senti sendo salvo por um anjo.

Vou contar um sonho de escoteiro que eu tinha : - Eu sempre sonhava em dar uma volta num caminhão de bombeiros.

 Com a minha mãe.

Quando descemos da escada de incêndio e nossos pés tocam o chão do palco , meus olhos saltam  ao ver os milhares de  animais que vieram no show.  Todos juntos, de uma vez, soltam lanternas,  como no filme Wrangled para o aniversário da Rapunzel, enquanto Gazelle e eu terminamos de cantar o nosso dueto improvisado :

—Oh oh oh oh

Try everything

Oh oh oh oh

Try everything

Oh oh oh oh

Try everything

Oh oh oh oh

Nunca gostei de dançar. Achava que era um péssimo dançarino , mas Gazelle disse que nunca havia visto um raposo com os pés leves como nuvens.

— Raposo bonito – solta outro elogio dirigido amim o anjo com chifres.

Eu agradeço o elogio e uma cenourinha pula em meus braços  chorando de felicidades e com o coração palpitando de medo.

Eu, finalmente , me senti em casa de novo. Abraço a minha Judy bem apertado em meus braços com intenção de nunca mais deixá-la preocupada.

— Depois de tantos anos , você  nunca se esqueceu do que havia dito no seu juramento de escoteiro, não é , Nick?

Eu tinha pesadelos com AQUELA VOZ .Fazia eu ficar passando frio quando acordava .

Era...