P.O.V Nick

Dois anos haviam se passado. Eu havia me formado com louvor na academia de policia de Zootopia . Queria tanto que minha mãe estivesse presente para me ver , e ver o que  a Judy fez para  me transformar nesse raposo que está recebendo todas as honrarias que um primeiro raposo deve ter nesse dia especial.

Isso significaria muito para mim.

O Discurso que a Judy fez para nós , os formandos , me deixou impressionado, sem palavras.

Fez eu querer tentar melhorar o mundo assim como ela . Ser como ela , porque são pessoas como Judy é  que fazem a diferença no mundo. 

Durante  a minha colação de policial consegui imaginar claramente minha mãe sentada numa das primeiras cadeiras olhando para mim com orgulho e alegria , acenando para mim enquanto a oficial Judy , minha melhor amiga , colocava minha insígnia com minha identificação.

Tum- Tum- Tum – Tum. 

Todos os animais  que estavam presentes ergueram seus quepes sobre o ar e gritaram de euforia por ter mais um membro no time.

Nunca na minha vida fiquei tão feliz comigo mesmo. E de uniforme novo, e que em minha opinião ainda não chegava aos pés da minha roupa leve e confortável de escoteiro. E vou dizer por quê. Esse uniforme pesa um filhote de elefante , sem querer ofender um filhote de elefante.

Imaginei minha mãe passar em meio aquela muvuca de predadores imensos e vir me abraçar e dizer o quanto estava orgulhosa de mim. E conhecer a Judy  Hopps e dizer só elogios para ela.

—Sua mãe com certeza estaria muito orgulhosa de você, Oficial Wilde. – disse Judy enquanto íamos para a recepção da festa dos novos oficiais da  DPZ.

Eu olhei para o céu antes de entrar , imaginando minha mãe inclinando seu olhar sobre mim , sorrindo orgulhosa  lá de cima.

Depois de terminada a festa , tirei aquela roupa pesada , coloquei a minha habitual camisa verde  e minha calça marrom. E Judy e eu fomos caminhando lado a lado, sozinhos. Ela estava olhando para mim, estranhando o meu silêncio e as minhas palavras contidas enquanto cumprimentava a todos na farra.

Queria ficar um tempo sozinho com ela numa praça que não era muito freqüentada pela bicharada . Quando chegamos vimos uma imensa árvore da vida . E uma grama alta e flores selvagens ao redor dela.

Liguei o som do meu celular . Uma das minhas musicas favoritas do Ed Sheeran Thinking out Loud.

Olhei para ela com aquele olhar provocante que parece sempre saber das coisas . Coitadinha!

Ela foi totalmente pega de surpresa com aquela música .

— A cenourinha aceitaria dançar com esse raposo fraco ?

Ela cruzou os braçinhos , o nariz dela se mexeu como se estivesse com medo daquilo, e aonde isso levaria.

Mas , depois de pensar um pouco , ela estendeu sua patinha da sorte e eu conduzi-a para uma dança lenta.

—Você ... até que dança muito bem, Nick!- A lateral da sua testa fofa descansou sobre meu peito, seu corpo esguio se colou ao meu .

Eu sentia tudo e ao mesmo tempo não sentia nada como a selvageria ou a raiva . Parecia como se minha vida, meu corpo estivesse ligado ao dela.

—Gosto dessa música – sussurrei em suas orelhas felpudas de coelho – Gosto muito, realmente.

—É mesmo? E a musica da Gazella?

—Musica chiclete. Enjoa cedo ou tarde, sabia?! Prefiro musicas dos anos 80, 90 , Ed Sheeran e Hyena Gomez.

Ela riu daquele comentário. -Raposa preconceituosa.

Eu a segurei em meus braços com mais força por ter provocado o meu lado selvagem.

 E Judy ergueu seu rosto, olhou para mim com o seu nariz assustado tremendo.

Não poderia haver momento mais certo para declarar aquilo que sentia em meu peito. Tão longe dela nesses dois anos. Mas ainda nos falávamos no telefone. Eu sempre esperava ansioso para ver aquele lindo rosto falando comigo.

Eu sei que há um milhão de motivos para desistir dela , mas o coração decide o que quer.

—Judy... eu tenho que dizer uma coisa. E eu preciso fazer isso olhando em seus olhos apesar de estar com vergonha...

— Está tudo bem, Nick? Tem algo errado?

—Sim e não. – admiti.

—Não entendi , Nick.

—Você sabe como me sinto quando estou com você , não sabe?

—Acho que eu sei. – Mas não parecia estar certa da resposta.

—O que eu sinto... Judy... é que eu te amo. Muito. E eu não tenho mais escolha para fugir disso. Dês de que contamos sobre os nossos passados, criou um clima entre nós dois. Mas acho que você me deixou claro que gosta de mim apenas como um amigo. – tentei sorrir. Mas queria chorar quando vi em seu rosto uma expressão que não esperava.

Lágrimas começaram escorrer dos olhos violetas dela. Da minha cenourinha . Suas patinhas agarraram bem forte minha camisa favorita.

—Nick... eu  também te amo.  Bobamente . E loucamente. – E em seu olhar me dizia o mesmo que as suas palavras.

Fechei os meus olhos, saboreando cada palavra que parecia um sonho doce. Como eu queria ter usado aquela caneta gravadora em forma de cenoura que estava presa em seu bolso.

Droga!

Por quê eu não gravei aquela confissão como a última vez ? 

Suas patinhas me envolveram contra o meu corpo, e deixei meu nariz encostar naquele pescoço que mordi uma vez. Seu coração batia rápido como um tambor africano em meus ouvidos.

— Então... – tomei coragem. – Vamos imaginar por um momento que você possa ser minha namorada, está bem?!

—Tudo bem.

— E quisesse ser minha para sempre ... – Ah, santo raposo, aquele não era o melhor jeito de oferecer uma coelha em namoro . Que patético eu sou.

— Nick, eu não entendo aonde você quer chegar .

Tomei fôlego . Ainda bem que minha mãe não estava aqui para ver isso.

—Imaginando que fosse possível,  você ser uma raposa ou eu ser um coelho, desconsiderando o fato que relacionamento entre outras espécies é completamente associado a amizade,  eu ...

— Você...?

Não estávamos mais dançando, e a música já tinha acabado, Judy me encarava  com uma ansiedade evidente.

— Judy, acreditaria que eu possa fazê-la feliz?

— Muito feliz . A coelha mais feliz  do mundo! – Um sorriso se formou aquecendo o meu peito. – A coelha mais feliz de toda a Zootopia!

—Poderia ser feliz comigo?  Por que pensei que detestasse raposas . –Sobretudo depois que descobri o principal causador daquele medo.

—Detestava. Mas meus sentimentos mudaram depois que te conheci melhor. EU NÂO TENHO MAIS MEDO DAS RAPOSAS, NEM DE VOCÊ . E ver que você passou por situações parecidas que passei durante o minha infância  na Tocas . Vejo, agora, que o que eu sinto por você se transformou em algo que não tenho mais controle.

O retumbar do meu coração estava tão alto ...

— Então,  se pudesse ser minha... por toda a vida. Se...

—Sim, Nick. – ela respondeu antes que eu concluísse. Seus olhos lilases brilharam com novas lágrimas brotando subitamente. – Se nós pudéssemos , seria sim.

Coloquei minha mão naquela bochecha felpuda que aquele cretino do Gideon Gray , um raposo do mal  arranhou uma vez, e beijei levemente o local para que ficasse marcado que eu, um raposo bom curei aquela cicatriz . Judy deu um leve suspiro.

Com aquela boquinha entreaberta , eu a beijei. Foi algo completamente inevitável . Eu levaria um tiro de mirtilo se não a beijasse.

Judy retribuiu com doçura e  paixão. E suas patinhas  quentes  se envolveram em meu pescoço.Mergulhei fundo em sua boca procurando a flor de seu amor , que tinha sabor gostoso de morango . Agora eu podia morrer feliz .

—Oh ..Nick , meu amor. – suspirou minha única cenourinha.

Aquele foi o nosso primeiro beijo. O primeiro de muitos, e muitos.

Acabamos deitados na grama fresca. Deixando o tempo nos levar para outro lugar.  Contamos mais dos nossos segredos, pensamentos ,e medos  .Havia pegado uma pequena flor ,  ela seria perfeita para ser um anel que mais tarde colocaria no pequeno dedo de Judy.  Sua cabeça estava deitada em meu peito. Fiquei acariciando sua cabeça .

Ela havia abrido dois botões da minha camisa verde . Estava acariciando meu peito. Sinto a pata suave dela , acalmar todos os meus pensamentos.

—E tão bom estarmos juntos , Nick .- sussurrou depois de um longo tempo.  - Mas acho que está na hora de sairmos daqui , está ficando tarde.

Assenti . Queria mais tempo com ela. Engraçado , não é ?!

Nossas vidas são sempre tumultuadas de deveres, momentos de solidão e frio  que levam questões de horas  ou dias, às vezes até uma eternidade para se acabarem .

Mas os  momentos especiais que passamos com as pessoas que amamos passam às vezes por questões de minutos. Não temos como agarrá-los com as patas. 

 Procurei em meu bolso o meu estilete ,  que foi do meu pai . Ele entregou à minha mãe pedindo que ficasse comigo, antes de falecer  . Quando eu o  achei , tomei a decisão que faria uma lembrança que marcaria o nosso namoro.

— Espere. Preciso fazer uma coisa antes. – Toquei no tronco da arvore e rezei para que ela aceitasse aquele sacrifício em nome do nosso amor .

Eu ia colocar nossas iniciais na árvore que nos ofereceu sua sombra e o vento agradável .

Primeiro desenhei o coração , que representava o nosso sentimento. E depois o nome dela e o meu.

J.H + N. W

 A  minha cenourinha não esperava por aquilo. Ela estava impressionada.

—Eu ainda não terminei de impressionar você. – disse chegando perto dela.

Eu me ajoelhei sobre os pés dela. Peguei em sua pata e coloquei o anel sob seu dedo de coelha. E falei com todas as palavras que consegui encontrar em minha língua , expressar o porque de dar o  anel que simbolizava o nosso namoro. Nosso compromisso .

Judy me olhou profundamente em meus olhos, com todo amor .

—Ooohh Nick foi um belíssima tarde, só nós dois juntos . Eu queria tanto mais momentos assim...

—Eu também. Pode ter certeza que arrumarei um jeito de nós termos, cenourinha. Nem que levem mil anos para isso acontecer. – digo pegando em sua pata e  fomos andando para a estação central de Zootopia pegar o trem - expresso .

Quando disse aquelas palavras , uma sensação de descanso, de lar tomou conta de mim.