Contrastes escrita por Triz


Capítulo 1
Contrastes - Único


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu nunca fui a fim de Lietbel, mas eu tinha essa história toda na minha cabeça e os personagens couberam tão bem que decidi manter assim. E agora eu shippo eles pra caramba, e olha que não sou de shippar casais hétero em Hetalia HKSBDHBDBH

Ah, e me desculpem se as palavras em russo estiverem erradas!

Mas enfim, aproveitem a leitura! Espero que gostem ♥



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1 - Наталия

Natalia

Natalia escovava seus longos cabelos cor de creme diante do espelho e, como de costume, enfeitava-os com um laço branco acima da franja. Conformava-se com a sua própria imagem refletida, os olhos azuis escuros e sem brilho sobre as olheiras marcadas, a permanente expressão de indiferença mascarando anos de melancolia.

Ela correu os dedos pela superfície da penteadeira, movendo de um lado para o outro as pétalas das rosas que se soltaram das flores murchas que lá decoravam. Umas pétalas eram bem vermelhas, já as outras, brancas como sua pele. Natalia era uma jovem fascinada por contrastes, aplicando-os em todos os seus pertences e até mesmo em suas vestimentas. E aquelas pétalas, que a faziam lembrar do contraste entre a neve e o sangue, a deixavam entretida. Não era muito chegada a flores, mas aquelas tinham seu significado.

A gaveta da penteadeira estava cheia de cartas do pretendente de Natalia, Toris, um jovem de dezenove anos que servia à sua casa. Junto com as rosas, ela recebia as cartas, porém não as lia; e muito menos as descartava. Para Natalia, o amor era venenoso, apenas a traria males. A paixão platônica que nutrira pelo irmão mais velho alguns anos no passado a causou um trauma tão intenso que passou a ver o mundo com desconfiança, o que a obrigava a carregar sempre uma faca escondida nas meias sete-oitavos. Toris inicialmente parecia uma ameaça à Natalia. Aos poucos, suas ações de gentileza foram atingindo seu coração de gelo.

[...]

2 - дары

Presentes

Antigamente, a frequência de cartas e rosas era maior. Todos os dias, no horário em que Toris vinha checar se Natalia estava necessitando de um chá ou quando ele vinha pentear seus cabelos, ele deixava uma rosa sobre a penteadeira e posicionava a carta na gaveta. Durante meses o ritual fora tão comum que Natalia se acostumara a isso.

— Deixe-as na mesa — dizia ela, indiferente, sentada diante da janela em um típico dia de neve. — E as cartas na gaveta. Darei uma olhada mais tarde.

— Sim, senhorita! — respondia Toris, cujos olhos verdes se mostravam esperançosos. Aquela foi a primeira de muitas vezes que faria isso.

Apesar de sempre receber novos presentes, Natalia não abria as cartas ou molhava as rosas, mas não deixava de apreciar o contraste de cores entre as pétalas vermelhas e brancas.

Com o passar do tempo, foram se acumulando os seus ganhos:

— Desculpe-me se estiver incomodando, Nat — Toris vinha com a bandeja de doces na mão. — Mas eu gostaria de saber se está ao menos abrindo as minhas correspondências.

— Talvez eu veja após o jantar com meus irmãos. É sempre importante colocar as conversas em dia. Eu comprei um novo laço de cabelo. Katyusha fez novos amigos e quer nos contar sobre eles. Ivan entrou em mais uma briga.

Toris percebia o quanto Natalia abaixava o tom de voz quando mencionava o irmão mais velho.

— A minha inutilidade é tão... estúpida — esbravejou ela.

O silêncio invadiu o quarto por alguns instantes.

— Eu... hã... espero pelo melhor. Boa noite! — Toris dizia enquanto se retirava do quarto. — Ah, e antes que eu me esqueça, queria dizer que separei o seu melhor vestido para a ocasião.

— Agradeço, Toris.

— Gostaria que eu fizesse o seu penteado?

— Não há necessidade — sorriu Natalia. O coração de Toris falhou uma batida.

— Aposto que Ivan te achará a mais bela menina do mundo hoje — respondeu Toris, nervoso, ao se retirar. Natalia se irritou com sua tentativa de elogio, e por um segundo, segurou a faca em sua meia.

Ao final do ano, o ritmo dos presentes começou a diminuir:

— Hoje não me trouxe nada, Toris? — perguntava Natalia, organizando sua coleção de facas de prata.

— Eu sinto muito, achei que estivesse se sentindo incomodada. Uma senhorita tão delicada como você não deveria se sentir dessa forma, nunca.

— De fato, acumular muito papel pode atrair traças. Eu não gostaria disso.

Toris concordou e, cabisbaixo, saiu de seu quarto.

Natalia ainda se lembrava do dia em que recebeu sua última carta. Era o dia mais frio do ano, e ela estava pronta para um passeio com Katyusha e Ivan. Seu casaco verde-musgo combinava com o cachecol branco, criando o seu tão fascinante constraste. Toris estava lustrando suas botas de couro marrons. Natalia via a carta e a rosa vermelha saírem de seu bolso do casaco.

— Ivan gosta muito do frio — mencionou Natalia, encarando a intensa nevasca do inverno russo pela janela. — Mas o sonho dele é ir morar num lugar quente, mesmo. Eu gostaria de realizar esse sonho por ele.

— Nat, é desnecessário viver o sonho de outra pessoa — respondeu Toris, calçando a bota em sua tão amada madame.

— Não tente me aconselhar, Toris.

— Com toda a licença, mas você precisa deixar a sombra do seu irmão. Ele já te causou tanto sofrimento, e isso é algo que você certamente não merece.

Natalia sentiu o seu coração apertar, como na época em que Ivan havia quebrado-a por inteiro.

— Tire o seu nariz disso. Essas suas palavras podem parecer gentis, mas sei o quanto quer se aproximar de mim e não vou permitir que isso aconteça.

— Talvez você devesse permitir que eu te ajudasse. Eu quero te ver sorrindo como você fez no dia do jantar com seus irmãos. Essa é a Natalia que sei que vive escondida por essa camada de medo e desconfiança.

— Essa Natalia só existe nesse mundinho imaginário da sua cabeça. Sai fora, Toris. Eu não preciso de você ou dessas suas cartas que só servem de alimento para as traças na minha gaveta.

Sem ao menos calçar a outra bota no pé de Natalia, Toris se levantou e, de maneira brusca, jogou a carta e as rosas na penteadeira. Seu nariz adquirira um tom avermelhado, e seus olhos estavam marejados. A sua voz, embargada, soou séria quando ele disse:

— Eu, sinceramente, não sei mais o que fazer por você.

Após bater a porta do quarto, Toris nunca mais voltou com presentes. Apesar de vê-lo com certa frequência pela casa, Natalia e ele não trocaram mais nem uma palavra.

[...]

3 - Торис

Toris

Os dedos de Natalia já passeavam pelas pétalas há algum tempo. Ela se sentia como as rosas, murchas e abandonadas. O seu coração palpitava em dor, da mesma forma que ocorrera com Ivan anos atrás. Antes que segurasse a faca em sua perna, Natalia resolveu, pela primeira vez, abrir a gaveta de cartas. Eram mais de setenta, com certeza. Decidiu começar a lê-las pela ordem que havia recebido.

Na primeira, bem superficial, Toris descrevia a beleza de Natalia, comparando-a com uma figura angelical de cabelos louros e olhos azuis. Já na carta seguinte, Toris elogiava a decoração de seu quarto, nos tons de contraste que ela tanto amava. E, na terceira, ele ressaltava de todas as formas possíveis o quanto ela merecia sorrir mais. As cartas foram se seguindo e, com elas, os assuntos atingiam cada vez mais uma certa profundidade. Na carta de número vinte e seis, Toris mencionava que ela se sentia deprimida pelo amor impossível por seu irmão, mas que ele a faria se sentir melhor. Na quarenta e dois, ele lamentava pelos cortes no pulso de Natalia, citando que ele mesmo portava cicatrizes nas costas. Na sessenta e oito, ele escreveu três páginas de tópicos de hobbies que a ajudariam a se livrar da depressão. Mas foi na última carta, a setenta e três, que Natalia se desfez em lágrimas:

Minha amada Natalia Arlovskaya,

Tenho consciência de que não trocamos muitas palavras, mas sinto que, a cada vez que lhe escrevo uma carta, aprendo mais sobre você. Desde as pequenas coisas, como a mania de contrastar cores fortes e claras em absolutamente tudo o que faz; quanto as grandes coisas, aspectos da sua personalidade que talvez nem você esteja ciente. E eu posso, sem contestações, te nomear como a mais forte mulher que conheço. Ao longo dos anos segurando o peso de um amor proibido, cercada de espinhos venenosos criados pela sua própria família ao te confinar nesta casa, e ainda tendo apenas a si mesma como apoio. A forma muitas vezes fria como você me trata é totalmente compreensível, mas o meu amor pode se sobressair a isso.

Eu quero mudar você. Posso às vezes parecer inconveniente, mas quero te fazer enxergar essa mulher tão linda e forte que é. Te ver dessa forma, inexpressiva, apenas observando a neve cair durante o dia inteiro me parte o coração. Observar você todos os dias apenas me faz te amar cada vez mais.

Mas percebo que você é como as rosas que sempre lhe entrego. De clássica e charmosa aparência, mas os espinhos fazem meus dedos sangrarem. Talvez você precise apenas ser admirada. Com outras palavras, é possível que a melhor opção para mim seja que me afaste. E penso que estou pronto para isso. Sei que demorará, mas quando ler esta carta, quero que saiba que te amarei para sempre, não importando o que acontecer no futuro.

Toris Laurinaitis

 

[...]

4 - контраст

Contraste

Natalia, com lágrimas correndo velozes por sua face, se afastou da penteadeira e massageou as têmporas. Ninguém jamais havia a compreendido como Toris fez. A forma como ele insistia em transformá-la numa garota feliz fez Natalia perceber o quanto estava sendo individualista, ao recusar por tantas vezes a ajuda de seu servo. O seu coração correu tão rápido que criava um ritmo dolorido em seu peito. Ela tinha de fazer algo por Toris pelo menos por uma vez. Talvez um favor a ele, para que nunca mais sofresse por seu ingrato amor.

Abriu o seu guarda-roupa e retirou o vestido que utilizou naquele jantar com Ivan e Katyusha. Era um belíssimo vestido branco, longo e esvoaçante, preenchido por flores azul-marinhas bordadas ao longo de seu comprimento e que deixava suas costas nuas. Saiu em disparada e correu pelos corredores do casarão até alcançar o térreo. Nenhum dos servos se atreveu a pará-la, mesmo com os olhares de desconfiança que lançavam a ela.

Como de costume, a neve cobria o jardim por completo. Ao correr ao ponto mais distante do casarão, seus pés começaram a formigar devido ao contato com o frio, já que suas finas meias não a protegiam do gelo. Já perto do portão de saída, Natalia parou e deixou a violenta brisa de inverno machucar seu rosto. Ela se sentiu fraca, desprotegida e amedrontada. Suas pernas bambearam e ela desabou em direção ao chão coberto de neve, encolhendo-se em posição fetal e liberando o restante das lágrimas que estava segurando.

Pensou em como sua existência era patética. A essa vida tão cheia de decepções só restava uma solução. Natalia sacou a faca de sua meia e se ajoelhou na neve. Posicionou a lâmina em direção a seu peito.

Aquele era seu favor a Toris. Livrar-se do mal que o incomodava. No caso, ela mesma.

E, assim, Natalia se libertaria da vida melancólica que a fez sofrer tanto.

Ela imaginou o contraste do sangue na neve e ficou fascinada. Essa seria a mais encantadora forma de morrer. Natalia encostou a faca em seu peito, mas antes que pudesse finalizar a situação toda, foi empurrada para o lado com força, sendo lançada na neve. A faca saiu voando de suas mãos. Havia alguém acima dela, prendendo-a para que não se movesse. Ela reconheceu os cabelos castanhos um tanto longos e os olhos verdes.

— NATALIA! Meu Deus, Natalia! O que achou que estava fazendo? — perguntou Toris, visivelmente desesperado. — Ah, Natalia, por quê?

— Não vê que estou tentando te ajudar? Eu te fiz sofrer. Devo pagar por isso.

Toris retirou o peso de cima de Natalia e se sentou na neve. Ela se levantou lentamente e sacudiu o gelo de seus braços, cruzando-os em seguida para se proteger do frio. Toris retirou seu casaco, envolveu-a nele e em seguida a abraçou com toda a paixão, garra e vontade que sentiu nesse enorme tempo doloroso de amor não recíproco.

— Jamais faça isso.

Natalia apertou os braços ao redor do corpo ainda quente de Toris e encostou sua testa na dele, olhando fundo em seus olhos e enxergando todos os sentimentos que ele colocara em suas cartas por trás deles.

— Eu li todas as suas cartas. Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo...

— Não importa. Se você permitir, posso resgatar a verdadeira Natalia que vive em seu interior. A que merece sorrir. Que precisa de compreensão e gentileza.

Os braços de Natalia ainda estavam firmes ao redor de Toris, mas mesmo assim ela o puxou para mais perto, juntando-os num beijo quente e apaixonante que contrastava com o frio. E foi então que Natalia entendeu. Ela, tão gelada e insensível e ele, tão caloroso e determinado, eram o contraste perfeito. E era isso o que ela precisava.

Ao se separarem, Natalia e Toris sorriram ao mesmo tempo.

— Eu permito que você me faça feliz, Toris.

конец

FIM

 

"Ei, eu já te disse que você fica linda nesse vestido?"


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Notas finais do capítulo

É bem raro que ninguém morra/desapareça/tenha um final triste quando estou escrevendo uma fic. E essa foi tão melosa que colei na cadeira. Mas me diverti muito escrevendo, completei a fic em só duas horas! Enfim, ainda tenho planos para fics de Hetalia e prometo que aparecerei mais vezes. Até algum dia o/



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