Partners escrita por Fe Damin


Capítulo 3
Capítulo 02




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Ron Pov

Xinguei baixinho os indivíduos que decidiram que Hogwarts devia ser um lugar impossível de aparatar. Com certeza eles nunca tiveram que passar cada minuto da viagem até lá morrendo de ansiedade por causa de uma missão. E essa não era apenas “uma” missão, era a minha primeira, não tinha espaços para erros ali. Eu faria de tudo para que esse trabalho fosse executado direito.

Ao ver o castelo ao longe os sentimentos de nostalgia começaram a aparecer e assim que eu entrei novamente, depois de tantos anos, no grande salão foi impossível não relembrar das inúmeras aventuras que eu e o Harry passamos ali. Nos conhecemos no trem durante nossa primeira viagem e nossa amizade foi instantânea. Éramos até bons alunos, mas tivemos nossa cota de deveres não entregues, atrasos e notas baixas, afinal nós tínhamos outras coisas a fazer além de estudar, alguns professores acreditavam impossível que conseguíssemos nos tronar aurores. Os idiotas estavam errados.

Fui recebido pelo olhar azedo do Sr Filch que ainda não tinha esquecido a brincadeira que fizemos com sua gata. Ele já estava esperando minha chegada e me indicou onde eu encontraria o professor que seria escoltado por mim. Quando a porta do escritório apareceu no fundo do corredor eu me arrependi de não ter nem dado uma olhada na ficha que me entregaram, eu não sabia com quem iria trabalhar. E se fosse algum dos que me reprovaram? De repente me deu um calafrio: e se fosse o Snape? Literalmente seria um inferno. Ficar plantado na frente daquela porta não mudaria a pessoa que estava lá dentro, eu tinha que entrar e encarar o que viesse, e com a minha sorte seria a pior possibilidade.

Quando entrei na sala fui surpreendido de várias maneiras, não só eu não conhecia aquele par de olhos castanhos que me encaravam como também pertenciam a uma mulher que era muito mais nova e bonita do que qualquer professor daquele colégio tinha o direito de ser. Eles não deviam ser velhos e empoeirados? Depois do choque inicial, comecei a achar que essa missão seria até muito agradável. Fui me apresentar, mas ela foi mais rápida.

—O senhor está atrasado, estou esperando há vinte minutos – disse com um tom de reprovação extrema.

É, definitivamente eu tinha me animado cedo demais, aquela ali não facilitaria meu trabalho.

—Desculpe, o trem acabou atrasando. Deixe eu me apresentar – tentei começar uma conversa com o tom mais leve, mas novamente fiquei pra trás.

—Sei quem você é Sr. Weasley, li a carta que me enviaram. Não precisamos perder tempo com isso. Agora me ajude com a bagagem e vamos logo, eu tenho um trabalho que precisa do meu retorno o mais rápido possível.

Ela foi até o canto da sala, pegou metade das bolsas que estavam amontoadas lá e saiu sem nem olhar para trás. Eu fiquei ali parado por alguns instantes tentando entender o que tinha acontecido naqueles segundos pra eu já deixá-la tão irritada. Respirei fundo para controlar a vontade que eu tinha de ir atrás dela e exigir uma explicação, mas decidi que seria melhor não forçar a barra. Eu nem a conhecia e precisava dela para completar meu trabalho.

Olhei para a quantidade exagerada de bolsas que ela me pediu, não, pedir não é a palavra certa, que ela me mandou levar e tive uma sensação no fundo do meu estômago de que seria uma longa viagem. De repente a perspectiva de trabalhar com o Snape não me parecia mais tão ruim.

Eu acabei percebendo que não ler a ficha que me entregaram foi um erro, eu não ia conseguir informações fáceis daquela mulher, só respostas ferinas. Rapidamente vasculhei minha mochila e abri a pasta lendo as informações mais importantes. Além de outras coisas, descobri que o nome da irritadinha era Hermione Granger, tinha 23 anos como eu e era expert em feitiços e runas. Fiquei intrigado por nós termos a mesma idade, será que ela foi do mesmo ano que eu em Hogwarts? Não me lembrava dela. Definitivamente ela não era da Grifinoria porque a probabilidade de eu nunca ter notado aqueles olhos brilhantes e aquela língua afiada durante sete anos era próxima a zero, eu teria que perguntar e torcer para conseguir a resposta.

Eu a encontrei na saída do castelo me esperando apenas com uma bolsa minúscula, a ingrata me fez carregar tudo aquilo quando ela tinha uma bolsa sem fundo! O sorriso desafiador em seu rosto me dizia claramente que aquele era um castigo pelo atraso. Preferi nem comentar afinal nosso encontro já não tinha começado bem. Fomos em silêncio até a estação, ela não olhou pra mim nem uma vez.

Quando já estávamos instalados na cabine do trem que em três horas nos levaria ao nosso destino eu não aguentava mais aquele silêncio. Ela parecia confortável olhando a paisagem, mas pra mim não dava, além de precisar conferir alguns detalhes da missão, eu tinha que confessar que estava curioso sobre ela.

—Eu vi na sua ficha que temos a mesma idade, não me lembro de você na escola, você foi do meu ano? - eu tentei usar o tom mais gentil que eu consegui, mas mesmo assim a resposta não foi o que eu esperava.

—Logicamente que sim, não entramos todos com a mesma idade? O senhor não se lembrar de mim não quer dizer nada, afinal eu igualmente não me recordo - ela apertava a boca ao falar indicando sua irritação.

—Bom isso é verdade, eu era da Grifinoria, qual era a sua casa? E por favor sem formalidades, pode me chamar de Ron, Hermione - decidi que por hora ia adotar a estratégia de evitar confrontos, eu não podia reagir mal as cutucadas dela.

—Eu era Corvinal, acho que não tivemos muitas aulas juntos, Ronald - notei sua ênfase em me chamar por meu nome inteiro que, aliás, eu detestava.

—Bom isso agora não importa - era melhor eu mudar de assunto - temos algum tempo então seria bom discutir os detalhes finais da nossa missão. Como vamos investigar um objeto que foi descoberto e se encontra em uma área de atuação dos trouxas não podemos chegar lá como representantes do ministério da magia. Vamos precisar de um disfarce, achei melhor irmos como colegas de trabalho, arqueólogos para ser mais exato. - ela pareceu achar algo engraçado

—Colegas de trabalho? Isso claramente nunca daria certo, você não tem conhecimento algum do assunto, o que fará se te fizerem alguma pergunta? - ela retrucou ainda com ironia nos olhos.

Aquilo me irritou acima do limite, ela achava que eu não conseguia fazer meu trabalho? Uma vontade súbita de tirar aquele olhar condescendente de sua cara fez minha língua agir mais rápido do que a minha cabeça e a minha estratégia de evitar confrontos foi por água a baixo.

—Acho que vamos ter que partir para o plano B, você é a arqueóloga e eu sou o namorado que te acompanha, que tal? Não vou precisar de conhecimento nenhum e acho que o papel de namorado apaixonado é fácil o bastante pra mim - respondi com um sorriso maldoso, eu queria mesmo era alterar o equilíbrio dela. E consegui.

Imediatamente ela arregalou os olhos e eu pude ver que suas bochechas ganharam um tom levemente rosado. Parecia que a rainha do gelo não era tão inabalável assim. Porém minha diversão não durou muito, em alguns segundos ela já tinha se recomposto e estava preparada para o round dois.

—Não diga besteiras, isso seria ainda mais inacreditável, eu e você nunca dariamos certo. Seguiremos o plano original e seja o que Deus quiser. Agora não me perturbe mais até chegarmos lá, tenho coisas mais importantes a fazer - ela pegou um livro e começou a ler indicando claramente que não queria mais papo.

Eu continuei olhando para ela pelo canto do olho, eu podia perceber que ela tinha ficado irritada, novamente seus lábios estavam apertados formando uma linha de insatisfação que deixava seu rosto com uma aparência severa. De repente me peguei imaginando como aquele rosto ficaria se fosse iluminado por um sorriso, apesar de não ter certeza nem se ela sabia sorrir. Indo contra toda a pouca sensatez que eu tinha, eu já estava começando a considerar essa a minha segunda missão. 

—##-##-

Hermione POV

Acordei sobressaltada, sonhei novamente com um epísodio que passei na escola do qual eu realmente gostaria de esquecer, há anos esse sonho nao me atormentava, mas se havia um momento mais propício para sua reaparição seria esse. Ainda desnorteada levei a mão automaticamente ao pescoço para me certificar que minha corrente continuava lá e foi nessa hora que notei aquele par de olhos azuis me encarando.

Como eu pude me esquecer de onde estava? Acabei por um instante baixando minhas defesas, mas já estavam lá todas levantadas novamente. Eu ainda não acreditava que acabei dormindo, foram as besteiras que ele disse que me impediram de me concentrar no livro que ainda estava pousado no meu colo. Ele me olhava como se quisesse perguntar alguma coisa, mas aparentemente foi esperto o suficiente para permanecer calado.

Apenas algumas horas haviam se passado e eu já sabia que não ia dar certo, essa consultoria seria um problema. Era um simples fato o de que não iriamos conseguir trabalhar juntos. Eu o vi lendo às pressas informações sobre a missão antes de partimos, não funciono bem em conjunto com pessoas irresponsáveis e me parecia certo de que Ronald Weasley não levava seu trabalho muito a sério. Além disso, ele era evidentemente curioso demais e se achava muito engraçadinho.

Continuei a enumerar mentalmente as razões pelas quais eu achava que estavamos caminhando para o fracasso, o tempo todo no fundo da minha mente ecoava “você nem queria ele por perto, está se sentindo ameçada?” – mas como sempre escolhi ignorar. Não gosto de me sentir de qualquer outra forma que não seja no controle de tudo. Eu apenas iria manter distância e impedir que ele pudesse ter sequer um vislumbre das minhas inseguranças.

O som dos freios do trem conseguiu me animar um pouco, ficar confinada em uma cabine sendo alvo de um olhar curioso não estava na lista dos meus passatempos preferidos. Rápidamente pegamos nossas coisas e desembarcamos.

Embora o caminho para chegarmos ao parque onde se encontrava a razão dessa nossa expedição não fosse muito longo, me pareceu uma eternidade. Será que existia um botão para desligar as funções de fala daquele intrometido? Ele foi o tempo todo fazendo perguntas e tentando puxar conversa, tudo que conseguiu foram respostas curtas e olhares de desagrado, não estávamos ali para socializar e sim para trabalhar, o quanto antes ele percebesse isso melhor, decidi responder sua última pergunta de uma maneira que o fizesse entender isso.

—Parece que você não conseguiu notar, mas não tenho a intenção de ficar saciando sua curiosidade, Ronald. Essa é uma viagem estritamente de trabalho!

Ele parou de falar e me olhou como se eu fosse de outro planeta, mas logo um largo sorriso surgiu em seu rosto.

—Qual é, Mione? Não é possível que você só pense no trabalho, ele também é importante pra mim, mas não dá pra ficar mudo o tempo todo, as pessoas não funcionam assim – seu tom de zombaria parecia ter por objetivo me irritar, eu não lhe daria essa satisfação.

—Primeiro, eu posso lhe assegurar que é completamente possível meu interesse estar somente no trabalho que tenho a fazer, não me importa como as “pessoas” devem funcionar e, segundo, meu nome é Hermione! – acabei me exaltando mais do que eu esperava, ele realmente estava me irritando. Quem era ele para saber como as pessoas funcionavam?

—Ah! Que bom que você me avisou, é terrível ser chamada de um jeito que a gente não gosta, não é? E eu sou Ron, não Ronald – sua resposta veio cheia de uma ironia que eu não esperava.

Pela primeira vez fiquei sem palavras, continuei parada vendo-o entrar no parque enquanto eu tentava entender como ele tinha ganhado aquela batalha.


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Notas finais do capítulo

Agora que eles se encontraram as coisas começam a ficar mais interessantes! Comentem e deem a sua opinião, adorarei saber o que vocês estão achando da história.
Beijos