Partners escrita por Fe Damin


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Será isso uma ilusão, uma miragem?? Não! Acreditem, é um capítulo novo de Partners!
Eu peço muuuuuitas desculpas pela demora, as coisas andaram meio atribuladas por aqui, mas saibam que eu não desisti nem um pouco da história, espero que vocês também não :)
Esse cap está bem engraçadinho, com a Mione interagindo com a família Weasley.
Espero que gostem



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Hermione Pov

Eu nem sei porque me dei ao trabalho de resistir ao encontro com a família dele, não era como se eu fosse muito capaz de negar qualquer coisa que ele me pedisse no momento. E ao deixar a honestidade falar, eu estava curiosa para conhecer o resto dos Weasley. Já tinha tanto tempo que eu não participava de uma reunião familiar, que a dinâmica ficou quase perdida na minha mente, meu medo era não saber mais me encaixar nesse tipo de situação, porém me peguei querendo saber quem era o Ron perto daqueles que ele mais amava.

Nos arrumamos depressa, mas eu ainda sentia que estava escrito na minha cara em letras brilhantes o que estávamos fazendo apenas minutos antes. Minha apreensão em relação a não causar uma boa impressão só cresceu conforme nos aproximávamos da casa.

—Ron, tem certeza que não é melhor eu ir?

—Essa sua cara de apavorada é uma gracinha – ele continuou me puxando, com o braço enrolado no meu – é só a minha família.

—Eu não tenho muito experiência com “famílias” – confessei, fazendo-o parar e se virar de modo a me encarar.

—Mione, eu sei que foi só você por muito tempo, mas não ia ser ótimo mudar isso? – colocando dessa maneira, as palavras dele faziam sentido, e eu assenti com a cabeça – então vamos começar com as melhores pessoas que eu conheço no mundo, porque eles são, sabe... não é só porque é a minha família. Você vai ver, e qualquer coisa, eu vou estar do seu lado, prometo que se a sua cara ficar muito apavorada, eu te levo pra tomar um ar, mas você tem que tentar de verdade, ok?

—Tá bom – respirei fundo ao ter selado de vez o meu destino para aquela noite.

—Então vamos – ele me deu um selinho a nós percorremos os últimos passos até a porta dos fundos da casa por onde eu tinha passado para encontra-lo.

Mais uma vez eu estava na cozinha dos Weasley, só que dessa vez, apenas a matriarca da família se encontrava no cômodo. Ela mexia vigorosamente numa panela que exalava um cheiro delicioso, tão compenetrada naquela ação, que nem nos percebeu entrar.

—Oi, mãe.

—Olá, querido, então vocês se encontraram... – eu vi um sorrisinho surgir no canto dos lábios da senhora – tudo certo agora?

—Sim – o Ron respondeu sorridente.

—Ótimo, podem ir pra sala, só estamos esperando o seu pai, seu prato já está na mesa querida – ela me deu um sorriso caloroso e eu não soube o que fazer a não ser agradecer – você não trouxe os vegetais, né? – ela olhou de lado para o filho que apenas confirmou encabulado – não se preocupe, pedi para sua irmã – ela o tranquilizou, mas um sorriso de quem estava rindo com os próprios pensamentos estava estampado no rosto dela.

Pronto, simples assim. Sem explicações ou inquisições, ela só precisou saber se estava tudo certo entre nós para me incluir no jantar onde, aliás, eu já tinha um lugar reservado. Naquele momento, eu percebi que Molly Weasley entendia, e muito, de tudo o que se passava com seus filhos, aqueles olhos pequenos pelo jeito viam bem mais longe do que aparentavam. O Ron me conduziu pelo corredor até chegarmos à porta da sala de jantar.

—Respira fundo e vamos – ele me olhou com humor nos olhos, e foi exatamente o que eu fiz.

—Olha quem resolveu aparecer! – disse um dos gêmeos, que pelos vários anos da escola onde eles apareciam em todo lado, eu sabia ser o Fred, da cadeira onde se encontrava sentado.

—Não vem mais esperar a visita dos irmãos é, Roniquinho? – completou o Jorge, lado a lado os dois exibiam expressões de desgosto fingidas.

—Vocês podem se comportar só hoje? – claro que o pedido só fez com que eles se empenhassem ainda mais em fazer tudo, menos se comportar.

—Oras e não estamos nos comportando, Fred? – o Jorge olhou irônico para o irmão.

—E eu que achava que estávamos sendo um exemplo até aqui... – deu de ombros o Fred – agora, por que será que o Roniquinho quer que a gente se comporte? – ele coçou a cabeça num teatro que até eu já estava achando engraçado.

—Algo me diz que tem tudo a ver com a amiguinha dele, ali do lado.

Agora os dois me olhavam com um sorriso maroto no rosto, claro que eu não estava escondida da visão deles, mas eu pensei que tinha conseguido escapar de uma interação tão direta.

—Essa é a Hermione – ele apontou em minha direção.

—Claro que é, a Ginny aqui já contou a história pra gente, apesar de que a gente pensou ser mentira não é, Fred? – o irmão assentiu efusivamente – porque pra você arranjar uma namorada, deve ser o fim do mundo – agora o Ron olhava de cara feia para os irmãos, que estavam abertamente tirando sarro às custas dele, o mais engraçado era como ele deixava aquela bobeira incomodá-lo, o que era evidente pelo tom de vermelho que tingia as suas orelhas.

—Querem parar de ser dois trasgos? Assim a Mione vai achar que somos uma família de loucos – a Ginny que até o presente momento ficou apenas observando do seu lugar à mesa, resolveu entrar na conversa.

—Trasgos? Não podemos deixar as coisas assim!

—Jamais, Jorge – eles se levantaram, deram a volta na mesa e vieram se colocar na nossa frente – você acha que somos trasgos, Hermione? – a cara de inocência era tão fingida que me peguei rindo antes de responder.

—Não, Fred, por enquanto vocês ainda parecem normais – percebi que eles cerraram os olhos para mim, e pensei ter dito algo errado – o que foi?

—Você acertou o nome do Fred – o Ron me explicou achando aquilo engraçado.

—Ah – respirei aliviada, mas os gêmeos ainda me olhavam como se eu fosse uma atração turística.

—Foi chute, né? – o Jorge perguntou desconfiado.

—Eu me lembro de vocês do tempo da escola – expliquei.

—Até a nossa mãe às vezes confunde os dois – a Ginny disse levemente admirada.

—Sou boa com detalhes – dei de ombros, porque era verdade, depois que se notava as pequenas diferenças entre eles, não dava para errar mais, mesmo com as roupas idênticas que aparentemente eles faziam questão de usar.

—Já gostei da sua namorada, Ron, vem pode sentar aqui com a gente – o Fred  voltou a mesa e apontou para o assento entre ele e o Jorge que agora estava vago.

Eu dei um passo à frente para acatar a oferta, mas o Ron segurou o meu braço me impedindo.

—Podem tirar o cavalinho da chuva que ela vai sentar do meu lado – ele passou o braço pelos meus ombros antes de continuar – arranjem as próprias namoradas.

Meu coração deu uma pirueta ao ouvi-lo me chamando de namorada, e eu nem dei atenção à parte mais hesitante de mim que não sabia bem dizer se as coisas estavam indo rápido demais. A verdade era que eu queria ser a namorada dele, então qual era o problema em simplesmente aceitar? Dessa vez eu faria as coisas de maneira um pouco diferente, tentando dar lugar a opiniões além daquelas que vinham direto do meu cérebro.  Fomos até as duas cadeiras que estavam vagas ao lado da Ginny e nos acomodamos, eu ficando no lugar diretamente ao lado dela.

—Que bom que a conversa de vocês deu certo – ela se inclinou na minha direção para que apenas eu pudesse escutar, enquanto os meninos discutiam calorosamente a última partida de quadribol do campeonato nacional.

—Sim – afirmei com um sorriso, sem negar o entusiasmo.

—Claro que outras coisas parecem que deram certo também – ela me olhou com um sorriso maldoso e eu fiquei confusa quanto ao que ela queria dizer, porém ela esticou a mão até o meu cabelo, e tirou um pedaço de grama que estava preso entra as mechas.

Dizer que eu fiquei mortificada seria um eufemismo, senti as minhas bochechas corando, enquanto o sorriso dela aumentava, brincando com a grama entre os dedos. Eu abri a boca para dar alguma desculpa, qualquer coisa, mesmo sabendo ser inútil, porém fui salva ao ser chamada para a conversa que estava acontecendo paralelamente à nossa.

—Então, Mione – o Jorge chamou a minha atenção, e eu fiquei mais do que feliz de dá-la, notei que já nem me incomodava de ouvir o meu apelido sendo usado repetidas vezes – conta aí, como foi que você salvou a bunda do Ron nessa missão de vocês?

A conversa foi interrompida antes que eu pudesse responder, pela chegada do Harry, que veio descendo as escadas.

—Pensei que você ia chegar só pro café da manhã – zombou a Ginny.

—Você não falou que era para eu dar um jeito no cabelo? Eu estava tentando até agora – ele respondeu no mesmo tom, antes de se aproximar da namorada e cumprimenta-la com um beijo.

A Ginny que eu tinha visto até o momento, tinha um olhar afiado e a postura decidida, mas eu notei que bastou o Harry entrar no ambiente que tudo nela se suavizou ao acompanha-lo com o olhar, ali estava em primeira mão, um casal apaixonado.

—Harry, o Ron trouxe a “namorada” hoje – o Fred falou em tom conspiratório.

—Ah, sim – percebi uma troca de olhares entre ele e a namorada que deve ter dado a pista que ele precisava, pois ele se inclinou para frente a fim de poder me enxergar – Oi Hermione – ele sorriu ao me cumprimentar.

—Olá, Harry – respondi também sorrindo, até que aquele encontro estava indo melhor do que eu imaginava, todos estavam sendo simpáticos, e algo me dizia ser impossível o patriarca daquela família ser nada menos do que agradável também.

—Vocês já se conhecem? – o Jorge perguntou injuriado.

—Sim, nos esbarramos no dia em que eu fui dar o meu relatório no ministério – expliquei.

—E quem não conhece essa cara feia dele? – zombou o Ron, ganhando uma careta do amigo e risos do resto da mesa.

—A Mione estava pra contar pra gente como ela conseguiu fazer o Ron sair vivo da missão, amor – a ruiva explicou ao namorado.

—Pois pode continuar, essa história eu também quero escutar – ele incentivou.

—Vocês estão achando o que, hein? Que eu fiquei gritando de medo o tempo todo e ela teve que me dar a mão até terminarmos a missão? – o Ron perguntou exasperado.

—Espero que você não tenha manchado o nome da família assim, Ronald! – exclamou o Jorge.

—Nós Weasleys nunca gritamos de medo! – completou o Fred.

—Não se preocupem, ele não gritou de medo, só... – comecei a defendê-lo, mas acabei me lembrando que de fato aquilo tinha acontecido.

—Só? – quatro rostos me encaravam na expectativa de uma história embaraçosa.

Olhei para ele, pedindo desculpas com o olhar, mas ao mesmo tempo não conseguindo esconder o riso dos lábios.

—Vai conta logo – ele suspirou, conformado com os acontecimentos.

—Ele só gritou, quando eu tive que pegar a agulha para dar os pontos no machucado dele.

—Pontos? – os três ruivos me olharam meio confusos, e eu me lembrei que aquilo não era em nada comum no mundo mágico onde eles viveram a vida toda.

—É quando você tem que se costurado com a porcaria de uma agulha e linha! – bradou o Ron, se defendendo.

—Credo, mas pra que isso? – a Ginny nos olhou meio perturbada com a noção.

—Ele estava com um corte profundo na barriga e a floresta tinha sido banida de magia, expliquei.

—Só o nosso Roniquinho para conseguir um feito desses bem na hora que não tem magia para ajudar – zombou o Jorge, o que deu corda mais uma vez ao Ron.

—Agora conta porque eu em machuquei – ele me olhou altivo, exigindo o complemento da história.

—Eu ia cair de um barranco e ele me segurou, mas acabou caindo no meu lugar – expliquei, ligeiramente encabulada.

—Ora, ora, e não é que você serviu pra alguma coisa, Ron! – foi a vez da Ginny de tirar sarro do irmão.

—No final o Roniquinho foi um fofo, não é Fred?

—Roniquinho o fofinho – completou o Fred, o que se tornou alguns instantes dos dois entoando o que seria o apelido do Ron até eles esquecerem o assunto.

Eles continuaram fazendo perguntas e pedindo por mais detalhes da nossa missão, e com o clima descontraído pelas observações zombeteiras dos gêmeos e os ocasionais comentários irônicos da Ginny e do Harry, eu acabei falando sem nem perceber. Não me pareceu nada difícil dividir o que tinha acontecido com eles, que escutavam a tudo com muita atenção. Depois de ter colocado o Ron numa posição desconfortável, eu tentei enfatizar os melhores momentos dele, porém foi inevitável entrar nas partes pelas quais ele teria que aturar uma boa dose de gracinhas.

Ele não tinha exagerado quando falou que a família dele era ótima, pois eu percebia que mesmo brincando com a situação, os irmãos estavam orgulhosos dele, assim como o amigo. E ele, por debaixo da cara feia e dos resmungos – que era a resposta mais comum para o deboche dos outros – estava se divertindo com a situação e com o fato de que podia dividir aquela parte da vida dele com eles. Para mim, isso era o maior significado de família: pessoas com as quais você não se importava de mostrar até mesmo o seu lado menos edificante, pois saberia que eles estariam dispostos a aceitar o que quer que viesse. O amor ali não era condicional, mesmo em pouco tempo eu consegui enxergar a constante que era o carinho que eles tinham uns pelos outros, e com um misto de tristeza e vergonha, eu me vi desejando ter um pouquinho daquilo para mim.

A bagunça toda foi diminuída quando a Sra Weasley chegou à sala com uma panela nas mãos, pedindo para os meninos trazerem o resto da comida. De acordo com ela, o marido estava chegando, eu só não fazia a menor ideia de como ela sabia. No entanto, alguns minutos depois, o barulho de passos no corredor que vinha da porta da frente, anunciou que a senhora ruiva não estava nada além de certa. Fiz uma nota mental de algum dia descobrir a explicação para aquilo.

—Até que enfim, Arhur, pensei que ia ter que matar todo mundo de fome – a voz dela denotava um ligeiro tom de irritação, as mão na cintura apenas a confirmavam, porém no rosto ela tinha um belo sorriso ao encarar o marido.

O Sr Weasley, entrou apressado, ainda usando um longo casaco e segurando a pasta do trabalho. Como eu esperava, ele tinha a mesma disposição amável da esposa e só de olhar os dois juntos interagindo enquanto se cumprimentavam, me deu vontade de sorrir, ainda mais com as memórias, que eu por costume mantinha guardada, vindo à tona.

—Não precisava ter esperado por mim, Molly, se as crianças estão com fome, podiam ter jantado – ele se desculpou e eu notei como ele ainda chamava de “crianças” uma sala cheia de adultos, pais eram pais, quanto a isso não havia discussão.

—Claro que não começaríamos sem você, ainda mais que temos visita hoje – ela terminou a frase empolgada, olhando diretamente para mim.

—Ah, mas que falta de educação a minha, nem me apresentei – ele veio em minha direção e eu me levantei para apertar a mão que ele me estendia – Arthur Weasley, muito prazer, minha querida.

—Hermione Granger, o prazer é meu Sr Weasley.

—Nada de senhores por aqui, Arthur está ótimo – ele parou por um momento, me olhando mais de perto – da onde eu conheço você, já nos vimos?

—Não que eu me lembre...

—Ela estava comigo na missão, pai – o Ron explicou.

—Ah, é isso! Levamos vocês para o hospital aquele dia, que bom que você se recuperou bem – ele completou sorridente.

—É a namorada do Ron, pai – interrompeu o Fred, claramente tentando arranjar um fator de surpresa.

—Melhor ainda que você está bem, então! – ele respondeu para o desgosto do filho que se decepcionou pela falta de estardalhaço, já eu adorei a reação.

—Querido vá se lavar para começarmos de vez esse jantar, continuamos as introduções depois.

O Sr Weasley fez como a esposa pediu e eu notei mais uma coisa: quem mandava nas coisas de baixo daquele teto sem sombra de dúvidas era ela. Pouco tempo depois ele voltou e a comida começou a ser servida. Estava tudo tão gostoso quanto parecia, e a família Weasley não fazia cerimonias para aproveitar o que tinha na mesa. A conversa foi divertida, com o Arthur contando alguns incidentes do dia de trabalho no ministério, os gêmeos descrevendo as mais novas invenções para a loja de logros das quais eram donos, e claro várias perguntas que eu respondi sem problemas, o que não deixou de me surpreender.

Quando a Molly foi buscar a sobremesa, eu notei o Ron me olhando pelo canto dos olhos, com um sorrisinho no rosto.

—Que cara é essa? – perguntei curiosa.

—Nada, só estou gostando de ver que você ainda não quis sair correndo – ele falou baixinho perto do meu ouvido.

—Você estava certo, eles são ótimos – concedi, e o sorriso dele se completou para enfeitar o rosto todo.

Com a quantidade de assunto que surgia entre as pessoas naquela mesa, ao terminarmos a sobremesa, o relógio já marcava mais do que dez da noite.

—Estava tudo uma delicia! – elogiei a comida para a Sra Weasley, enquanto ela mandava a louça voando para a cozinha – mas já está tarde, é melhor eu ir.

Olhei para o Ron, transmitindo o fato de que agora eu realmente precisava ir.

—Você tem que estar em Hogwarts amanhã? Não tem mais trem uma hora dessas – ele me olhou preocupado.

—Hogwarts? – indagou a mãe dele.

—A Mione é professora lá, mãe.

—Nossa, tão novinha assim? Parabéns – ela me olhou admirada, o que encheu de felicidade o pedacinho de mim que era muito orgulhoso das minhas conquistas.

—Obrigada, mas na verdade eu não trabalho mais lá – eu sabia que aquilo pegaria o Ron de surpresa, então não deixei de procurar o rosto dele com os olhos e apreciar a cara de confusão escrita no semblante dele.

—Não, como assim? Eles te demitiram? Que absurdo! Não podem fazer isso, o velho Dumbledore deve estar ficando gagá e... – ele parecia tão desnorteado que não estava mais falando coisa com coisa, acabei caindo na gargalhada antes de explicar.

—Claro que não fui mandada embora, Ronald! – eu não ia deixar ninguém achando que eu era o tipo de pessoa que era despachada de Hogwarts.

Percebi vários pares de olhos se focando no nosso diálogo, todos numa contemplação silenciosa, como se assistissem a uma peça de teatro.

—Não foi? Não estou entendendo...

—Eu pedi demissão.

—Hã? Mas você amava o lugar e o seu trabalho – cada segundo o deixava mais confuso.

—Acho que eu não amava mais tanto assim – encarei-o no fundo dos olhos e ele finalmente pareceu se conformar, entendendo o peso e o significado das minhas palavras, a confusão foi substituída por um sorriso.

—Mas você tem lugar para ficar, querida? – a senhora Weasley quebrou a bolha em que nos encontrávamos e nos fez lembrar de que existiam outras pessoas na sala.

—Você vai ter que encontrar outro emprego, não? Posso ver se existe alguma demanda no ministério se você tiver interessada – o Arthur ofereceu.

—Se quiser trabalhar na nossa loja já está contratada – o Fred se apressou em dizer, sendo endossado pelo irmão.

—Muito obrigada pela preocupação, mas na verdade eu já tenho um novo emprego.

—Você é rápida, hein? – a Ginny comentou num tom bem humorado.

—Vai trabalhar no que agora? – quem fez a pergunta foi o Harry, sendo mais rápido do que o Ron que abriu a boca segundos mais tarde.

—Na verdade consegui uma vaga no ministério, eles haviam me feito uma proposta algum tempo atrás, decidi aceitar.

—Que ótimo, é um lugar maravilhoso para trabalhar – o Sr Weasley falou animado – pelo menos a maior parte do tempo... – ele completou um tanto pensativo.

—Em qual departamento? – quis saber o Ron.

—Num bem pertinho do de vocês – indiquei ele e o Harry com a mão, fazendo o suspense de propósito.

—Na Seção de Controle do Uso Indevido da Magia?

—Não.

—Na Suprema Corte dos Bruxos, então? – ele levantou a sobrancelha.

—Também não.

—Ué, mas não tem mais nenhum departamento perto do nosso, tem Harry? – ele se virou para o amigo.

—Não que eu me lembre...

Ele voltou a olhar para mim procurando respostas, e eu tive que morder a língua para não cair na gargalhada novamente.

—Por Merlin, vocês são lerdos, hein! Ela vai trabalhar na seção dos Aurores – a Ginny falou exasperada, mas eu percebi o olhar rápido de aprovação que ela lançou em minha direção.

Eu achei que já tinha visto o Ron com cara de surpreso, mas nada se igualou ao semblante dele quando ouviu o que a irmã disse.

—É isso, mesmo? – ele procurou a minha confirmação.

—Eu falei que era bem pertinho – dei de ombros.

—Olha só, Ron! A namorada vai estar por perto até na hora do trabalho – os gêmeos zombaram em uníssono.

—Morram de inveja vocês dois! – ele vociferou mostrando a língua para os irmãos, mas se voltando em minha direção com um sorriso radiante.

—Bem vinda ao departamento então, Mione – o Harry me parabenizou e eu agradeci.

—Depois você vai ter que me contar isso tudo direito – o Ron exigiu.

—Claro, mas agora eu tenho mesmo que ir, está realmente tarde.

—Nada disso, você tem onde ficar em Londres? – a Sra Weasley me interrompeu quando eu tentava me levantar para partir.

—Vou ficar num hotel até achar um lugar permanente, começo só na segunda -expliquei.

—Os meninos só voltam a trabalhar na segunda também, não é? – o Harry e o Ron confirmaram com a cabeça – você pode ficar aqui conosco até lá, eles te levam no primeiro dia e já mostram tudo no caminho – a Sra Weasley me olhava como se tivesse tido uma ideia brilhante que não teria nem como ser refutada.

Ficar ali? Agora quem estava sem chão era eu. Ser convidada para jantar era uma coisa. Algumas horas de conversas e distração era muito diferente de passar uma semana ali com eles, convivendo por tantos dias. Eu não sabia o que pensar sobre aquilo e nem se saberia lidar com a situação. Por mais que eu tivesse me saído bem até ali, aquilo era um território totalmente não descrito nos meus mapas. Acabei buscando a minha reação padrão: desviar e fugir.

—Não posso, Sra Weasley, tenho que procurar um local para morar essa semana, não vou ter tempo depois que o trabalho começar, melhor deixar tudo arrumado – me desculpei, porém eu vi que precisaria mais do que isso para convencê-la.

—Você está pensando em alugar um apartamento ou dividir? – a Ginny perguntou do nada, o que eu achei meio estranho.

—Não sei ainda... talvez dividir não fosse uma má ideia – eu na verdade não tinha pensado a respeito, mas se eu encontrasse um local que eu pudesse dividir, seriam menos despesas já que eu não tinha muita ideia de quanto gastaria para viver em Londres, mas com toda a certeza seria algo inusitado para mim, que nunca me dispus a compartilhar o meu espaço com outras pessoas.

—Ah, então está resolvido – ela declarou.

—Como assim, amor? – o Harry perguntou.

—Lembra que eu falei que a Eliza teve que sair? – ele assentiu – assim fica perfeito.

—Hã? – se aquilo fazia sentido para ela, para mim estava bem longe disso.

—Eu divido apartamento com duas amigas, mas uma delas, a Eliza, se mudou no mês passado, eu e a Luna estamos procurando alguém para preencher a vaga – ela me explicou como se não fosse nada demais.

—E você nem vai falar com ela antes? – eu estava seriamente considerando aquilo, tão de repente? Parece que eu já nem me reconhecia mais, depois de ser jogada para fora do meu mundo tão cuidadosamente cercado, eu estava sendo engolida por situações nas quais não me imaginaria pouco tempo atrás, e o mais impressionante era que eu não me sentia apavorada.

—Não precisa, a Luna é ótima, se dá bem com qualquer pessoa e, além disso, você deve conhecê-la.

—É a Lovengood? – era a única Luna que eu conheci na vida.

—A própria, somos amigas há muitos anos.

—Ela era da minha casa, sei quem é – confirmei.

A Ginny estava certa, ela era uma pessoa muito meiga, e na verdade uma das poucas que falava comigo por livre e espontânea vontade, por mais que nossas maneiras de encarar a vida fossem drasticamente diferentes.

—Vai dar certo então, querida, vocês até já se conhecem, assim não me preocupo com o tipo de pessoa que você pode encontrar por ai para dividir a casa – a Sra Weasley concluiu satisfeita, e eu não deixei de notar ela falando que ficaria preocupada.

Quanto tempo fazia desde que eu ouvi pela última vez os meus pais dizerem o mesmo para mim? O gesto dela tocou nos locais mais protegidos do meu coração, e eu me vi sem saber como reagir. Ali estava uma senhora que tinha acabado de me conhecer – a namorada do filho – e me olhava como se eu fosse alguém que ela colocaria debaixo das asas num piscar de olhos. Eu não consegui identificar de primeira se aquilo me apavorava ou se era tudo o que eu mais queria. Existem vários tipos de amor no mundo: amigos, namorados, irmãos, mas amor de mãe era um tipo extra especial do qual eu sentia mais falta do que gostaria de admitir.

Ela percebeu que eu engasguei nas minhas palavras, me concentrando apenas na minha respiração e em conter qualquer anuncio de lágrimas que pudesse aparecer. O Ron passou a mão pelos meus ombros, mas ela se levantou e estava do meu lado num piscar de olhos.

—Está bom assim então? Você fica aqui com a gente – ela pegou a minha mão na dela e eu senti minha cabeça confirmando a afirmação quase que por vontade própria.

Ela sorriu com a minha resposta, e eu vi no fundo dos olhos dela, a percepção de que eu tinha mais na minha cabeça do que estava deixando passar.

—Você pode ficar comigo no meu quarto, assim já fazemos um teste para o apartamento – a Ginny sugeriu e novamente eu apenas assenti.

—Vai arrumar as coisas então, Ginny – a mãe pediu, e ela foi, acompanhada pelo Harry.

—Bom, nós já vamos mãe, pai – os gêmeos se levantaram, despediram-se de todos – fazendo mais alguns testes para ver se eu acertava quem era quem, o que claro, eu fiz – e foram embora.

—Também já vou para a cama, o dia amanhã começa cedo – falou o Arthur – boa noite, crianças.

—O Ron te mostra onde é o quarto da Ginny, e ela te empresta o que precisar, mas qualquer coisa é só chamar, querida.

—Muito obrigada pelo convite – agradeci.

—Não foi nada, estou feliz que você tenha decidido ficar – pensei que ela fosse se dirigir ao quarto, mas ela veio se despedir de nós e me envelopou num abraço antes de subir as escadas, o que me deixou novamente estática.

—Agora você quer correr? – o Ron murmurou no meu ouvido.

—Não sei se eu quero correr ou nunca mais ir embora – confessei, antes de filtrar os meus pensamentos, mas me toquei logo do que tinha dito e olhei encabulada na direção dele – quer dizer, eu...

—Não precisa consertar – ele levantou a mão colocando o dedo indicador nos meus lábios – eu falei que eles iam adorar você – completou convencido.

—Ainda não entendi muito bem como...

—Vou fingir que nem escutei isso – ele revirou os olhos.

—Sua mãe... – eu não sabia como explicar o que eu estava sentindo.

—Eu sei – ele passou a mão pelos meus cabelos, parando os dedos na minha bochecha – tudo bem?

Ele ficou me olhando, esperando pela minha resposta. Estava tudo bem com aquilo tudo? Levei alguns segundos para me dar conta que sim, estava de fato tudo bem. Passei tanto tempo da minha vida focada nos meus objetivos, que esqueci como era fácil ser simplesmente feliz. Não custava nada, requeria apenas deixar o caminho aberto, e era isso que eu iria fazer a partir daquele momento.

—Está – respondi sorrindo.

Ele se aproximou, juntando os nossos lábios num beijo carinhoso, fechando a noite da melhor maneira possível.

—Vamos, eu tenho que te levar pro quarto da Ginny. Se a minha mãe descer e ainda estivermos aqui, vamos levar uma bronca, não importa que a gente tenham 23 anos e não 3 – ele zombou.

Levantamos e ele pegou a minha mão me guiando pelas escadas até o local onde eu dormiria, bateu na porta sinalizando para a irmã que eu havia chegado antes de se despedir com um abraço e mais um beijo e seguir o corredor até o quarto dele. Eu entrei no quarto da minha nova colega de apartamento, começando o que viria a ser uma semana inteira de família Weasley.


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Notas finais do capítulo

E então, meus amores, o que vocês acharam?
Não esqueçam de me dizer nos comentários, cada mensagem de vocês me dá um pouco mais de ânimo para continuar essa história :)
Até o próximo capítulo
Bjus



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