Treinando a Mamãe escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 18
A vida feliz | Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de dizer que vocês são os melhores, e eu dedico este capítulo à todos os que acompanharam todos os capítulos, mesmo os que nunca comentaram, ou que só passaram uma vez, e tudo mais, babatum para todos vocês. Babatum enorme para todos os que comentaram anteriormente, vocês ocupam um lugar especialzíssimo no meu coração e pensamentos! ♥
Babatum é uma palavra que eu inventei por achar que o "muito obrigada" não é suficiente, juntamente com a frase "eu amo você", por isso eu inventei, porque algumas frases são limitadas demais para sentimentos tão grandes. Espero que gostem. A fic começou em uma segunda-feira, e hoje é concluída em uma segunda-feira também, para não perdermos o costume ♥
*florzinha* GRATIDÃO *florzinha*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686394/chapter/18

— Coloque com muito cuidado, Edward — Florence pediu, com uma mão em meu ombro, fazendo um carinho que só ela conseguia depois da mamãe. — Só mais um pouco...

— Pronto! — sussurrei alto, sorrindo, finalizando a pegadinha que estávamos fazendo no camarim do meu produtor, Charles, que me acompanha desde que eu tinha 17 anos. Hoje tenho 21, e o cara ainda me atura.

Só não sei como vai ficar depois disso, mas estamos aí pra isso, pra testar, fortalecer a amizade.

— Vamos, vamos pela janela — aconselhou a garota, sorrindo, prendendo os fios cacheados e compridos e ruivos naturais, como o Sol nascendo, em um coque desajeitado, mas que a deixava linda aos meus olhos. — Acha que essa água vai cair mesmo na cabeça dele?

Ri, dando de ombros.

— Espero que esse balde funcione, não sei, mas se não funcionar, ou seja, se não cair na cabeça dele, quando for pegar a toalha, a mão vai prender no superbonde. E o pé dele ficar colado no carpete.

Ela sorriu, inclinando-se um pouco para ver o que tínhamos feito. A cola que usamos não era a mais forte, na verdade, sais facilmente com água, mas Charles disse que éramos puros demais para fazer alguma sacanagem dessas com alguém.

Ha, ha, ha. Posso ser cristão, ir a igreja, mas isso não muda o fato de que eu possa me divertir a custa dos outros, desde que não faça mal à ninguém.

— Quando ele for tomar banho — John disse, saindo do banheiro do camarim de Charles, com Samantha, que colocava a mochila nas costas, sorrindo. — Vai cair pó de maizena na cor verde.

Ri, assentindo, já imaginando a cena.

John e Samantha são os meus melhores amigos depois do meu pai e da minha mãe desde sempre, e é claro que quando a turnê passa por Londres, Oxford ou Cambridge, passe livre para eles. Na verdade, todo lugar que tem show, e eles estão por perto, entrada permitida para quem foi, desde sempre, minha primeira platéia. Hoje, por exemplo, o show é em Nova Iorque, no Madison Square Garden, o maior show da minha carreira, tudo esgotado. Óbvio que eu fui até a casa de cada um buscar de mala e cuia. Ou eles me assistem ou eles me assistem, dane-se as provas semestrais. Eu quero eles aqui, e é aqui que eles devam estar, oras.

— Anda, vamos embora, ele já está chegando — Sam nos apressou, rindo, fazendo seu cabelo loiro se mexer, embora atingisse até os seus ombros, eram 101% lisos, o que às vezes, mesmo que eu não me interesse por ela no jeito mais aprofundado, e fico a encarando. Ela toda parece que foi feita pelo mais conceituado escultor, não sei explicar. É a total visão do que chama-se anjo.

John que não vigie e a deixe nesse chove e não molha mesmo, indeciso se pede ou não ela em namoro. Ela mesma disse que tem um cara na universidade que está querendo namorar ela e o trouxa do John não se resolve. Já falei que eu vou rir demais se ela aceitar namorar esse outro cara, por mais que meu amigo vá ficar na fossa. Amizade é isso, né. Rir quando o outro chora e chorar quando o outro ri, na maioria das vezes, porque há uma troca. Hoje ele ri de mim, amanjã ele chora. Tenso.

Pulei pela janela, era apenas um metro e meio, mas Florence pediu ajuda, que não recusei, sorrindo para a minha namorada. Sim, Florence, minha namorada. E há seis meses. Nem eu acredito nisso, que ela ainda esteja comigo depois de conhecer meus únicos quatro melhores amigos, sendo que dois deles são meu pai e minha mãe.

— Muito obrigada — agradeceu, sorrindo. Segurei sua mão, coberta por uma luva, pois realmente estava muito frio hoje, e ela veio do Texas, então não é de se espantar que sinta tanto frio, mesmo que more aqui em Nova Iorque há quatro anos, quase, não se acostumou com o inverno.

— Não sei como você foi criado em um lugar assim, Edward — disse, suspirando, e de sua boca saiu um pouco de ar por causa do frio, fazendo-me rir, abraçando-a apertado, — Eu estou irritada com você agora! Me abraça mesmo! Olha, nem casando eu moro na Inglaterra! Não vejo a hora de terminar a faculdade e ir para a Califórnia!

— Fala sério, Florzinha, você não consegue viver sem mim! Eu sou lindo! Fora que as chances de encontrar alguém com os meus olhos são quase nulas! — revirou os olhos castanhos escuros, mas com um sorriso torto. — E eu tenho uma música para dedicar à você. Na verdade, duas delas.

— Vai mesmo fazer uma coisa dessas? — perguntou, olhando para mim, com a irritação e raiva longe dela, apenas curiosidade. Tantos olhos azuis e verdes por aí, mas eu não trocaria esse par de olhos castanhos por nenhum outro enquanto eu vivesse. Seus olhos passam uma tranquilidade tão grande, que quase me emociono todas as vezes que me sinto triste ou muito feliz, busco alguém, e lá está ela, sempre disponível, por mais que tenha milhares de coisas para fazer, gosta de mim por quem eu sou, atrás do palco, por trás das câmeras. E eu a gosto demais por isso.

— Claro, eu disse que ia te dar um presente de aniversário, e como não vamos poder estar juntos porque você vai estar estudando... Não vou te dedicar apenas essas duas músicas, você sabe que me inspirou para o novo CD e o próximo, e também espere por presentes no seu dia, só volto pra California em uma semana — coloquei o meu casaco que estava na minha cintura, feliz por tê-la ali. Ela não era modelo, não era atriz, não era socialite, ninguém que as capas de revista e sites famosos gostariam de conhecer e tirar uma dezena de fotos caso um dia nós venhamos a terminar, mas para mim, ela é a futura professora de canto mais linda do mundo, com o sorriso mais certo e brilhante, com a voz mais carinhosa e a pele mais macia, com o olhar mais seguro do mundo depois do da minha mãe e pai. Um dia, planejo transformar esse olhar no primeiro que vejo ao acordar e o último antes de dormir, se ela me permitir, é claro. Eu seria o ser humano mais feliz do Universo.

— Não vai me dar nem uma pista de qual música do seu CD escreveu para mim? — perguntou, passando os braços pela minha cintura, e eu a trouxe para ainda mais perto, passando um braço por seus ombros, beijando o alto da sua cabeça.

— Claro que não. Mas devo dizer que você vai gostar — riu, balançando a cabeça em negativa, causando-me um frio na barriga só por tê-la tão perto de mim, poder ouvir tão bem o som da sua risada gostosa.

— E que música eu não gosto de ouvir que você canta, Ed? — Sorri. — Acho que é por causa desse seu sotaque sobrecarregado, igual ao do seu pai.

Ela ouvia sempre em primeira mão as músicas, agora antes mesmo dos meus pais, mesmo que eu ainda more com eles, em Los Angeles agora, mas quase nunca fico em casa, então é mais fácil mandar por e-mail para Florence, por mais que more em Nova Iorque, na Pensilvânia. Minha mãe quase matou ela quando deixei escapar que são os segundos que escutam as músicas, mas a raiva já passou.

Eu acho. Digamos que mamãe guarda muito rancor às vezes. Outro dia, ela ameaçou jogar as minhas coisas pela janela se eu mandasse as coisas para a minha namorada primeiro, já que ela pode ser apenas uma babaca que quer me dar algum golpe, e tudo mais. Eu, como um bom filho, e tudo mais, por mais que vá mais para casa para jantar e dormir, o que eu fiz? Sentei a mamãe no sofá, peguei o violão e mostrei minhas músicas novas, é claro. Ou acham que eu sou louco? Mamãe na frente sempre!

— A música eu escrevi faz algum tempo, já está gravada no primeiro CD, escrevi por escrever, mas eu a dou para você, na verdade, já era para eu ter feito isso a tempos... mas você já é dona de todas as minhas canções de amor — ela ficou corada. — Quero vê-la chorar, na frente de todos os meus fãs, é a minha maior e principal intenção. E tem uma música do álbum novo que é 100% sua, você sabe.

Beijei sua boca, devagar, porque não tenho a menor pressa quando estou com ela, muito pelo contrário. Nossos corpos se aproximaram ainda mais, e com nossos olhos fechados, nos beijando, eu poderia imaginarmos em qualquer lugar do mundo quando nos beijamos. Segurei sua cintura, fazendo carinho com a ponta dos dedos, por mais que o casaco fosse um pouco grosso, eu sabia que ela sentia, tanto quando o carinho que eu fazia na sua nuca, trazendo-nos para mais perto ainda. Meu coração disparava no meu peito, seja pela falta de fôlego, seja pela emoção do beijo, mas era mais por ter ela tão próxima ao meu corpo.

Quando nos separamos, beijei seguidas vezes suas bochechas vermelhas e a ponta de seu nariz, fazendo-a rir, me abraçando de lado, assim como eu a abracei, depositando um beijo no alto de sua cabeça, já que o coque tinha sido desfeito.

Rindo, continuamos caminhando, à caminho do meu camarim. Minha mãe está um pouco mal por causa de algumas coisas que ainda não disse, e Oliver é uma criança perigosa, pode-se dizer assim. Aos oito anos, já fomos para na emergência com ele umas cem vezes, em um período de três anos, sem exageros, porque, na minha teoria, ele acha que é um avestruz, colocando tudo na boca, pensando que é comida. Outro dia, ele engoliu uma pedra de aquário. Sim, uma pedra de aquário, porque viu os peixinhos chupando elas. Ele só se esqueceu de cuspir.

Foi muito difícil ter que lidar com ele, a princípio, pois com alguns problemas de coração, ele chegou para nós aos três anos, mas há cinco que transforma de forma nossa vida para cada dia melhor. Sim, Oliver é adotado, nem parece, já que é tão pra frente, amigo de todo mundo, e tudo mais. Estando há cinco anos na família, foi a segunda melhor coisa que nos aconteceu depois que meus pais se casaram mesmo papel e depois nas mais simples das cerimônias na igreja de Liverpool, cidade onde eles se conheceram.

O que impulsionou mamãe e papai de fazerem isso foi que eu tinha avisado que iria morar sozinho, eu acho, e eles ficariam sozinhos. Acabou que eu continuo dando o ar da graça quase todos os dias, pois ainda é a minha casa.

Vi meu pai com alguns amigos, rindo, e às vezes nem eu acredito que ele é mesmo o meu pai, seja porque não temos nada igual em aparência como também que parece ser o meu melhor amigo do que o meu pai, o que é verdade, e tudo mais, mas mesmo assim, não parecia que tinha completado 37 anos em maio, tampouco a minha mãe, que deve estar olhando Oliver por aí.

— Oi, crianças! — Nos cumprimentou, sorrindo, aproximando-se. Florence, embora seja o oposto de mim, toda animada, agitada, sempre com energia para fazer alguma coisa, ficava corada e tímida na presença dos meus pais, o que era realmente esquisitisse, pois eles a amam, e sei pelos olhos dela de que realmente gosta deles. — O que foi que fizeram? John e Samantha estão rindo demais ali.

Olhamos para trás, onde nossos amigos gargalhavam, correndo na nossa direção.

— Tudo funcionou certinho! Ele parece que mergulhou numa piscina cheeeia de tinta! — John exclamou, dando um tapa no meu ombro. Essa desgraça de pessoa podia ter 22 anos, mas nós agíamos como se tivéssemos 12 anos ainda, mas sempre que era necessário, agimos como dois amigos adultos, o mesmo se refere à Samantha. Com eles eu podia ser um garotinho, como também um homem feito ou um idiota de 21 anos.

— SEUS IDIOTAS! — Charles berrou, todo verde, e até meu pai gritou na risada com a gente, literalmente gritamos, precisei me apoiar no meu pai, quase engasguei.

— Ele 'tá parecendo o Hulk! — Florence gritou, batendo palmas. Eu disse que ela é escandalosa e exagerada. Mas ri pra ela também.

— Peeta! Peeta! Faz alguma coisa! Bate nele ou sei lá! — Charles gritou, aproximando-se da gente furioso, com uma arma d'água cheia, fazendo a gente começar um verdadeiro escândalo, correndo, mas ainda rindo.

Meu pai estava com uma chave nas mãos, e me puxou para o carrinho, que se assemelhava muito com o de golfe, entramos e ele meteu o pé no acelerador, gerando berros de Charles, desesperados, xingando a gente de muitos nomes feios.

— DÁ A RE! DÁ A RÉ! — Florence pediu, rindo demais, segurando-se na barra da lateral do carro, enquanto Sam mirava junto com John no produtor, com armas d'água, mas cheias de pó colorido.

Papai deu a ré, enquanto eu ria junto, falando para ele o quanto podia ir, já que esse carro não tem retrovisor. — Isso! Agora acelera! AH! VOCÊ MOLHOU O MEU CABELO! EU FIZ HIDRATAÇÃO HOJE DE MANHÃ! ERA PRA FICAR DURANTE TRÊS DIAS! ME DÁ ISSO AGORA!

Aí a coisa ficou séria, e só vimos a visão ficar colorida, enquanto meu pai ria, e ria. Eu não entendo, a gargalhada dele é bonita, sonora, enquanto eu pareço um pato engasgado. Minha mãe ri de forma idêntica a Demi Lovato, é um escândalo, mas muito bonita. Até Oliver ri bonito, sem contar a voz de criança.

— SUA LOUCA! FLORENCE, VOCÊ É LOUCA! — Charles gritou, disparando mais rapidamente água na gente, quando notei que ele estava com carpete na sola dos sapatos, um bom pedaço de carpete. Parecia que tinha fugido de um festival de pó colorido em um hospício. Era, de longe, o top três das coisas mais loucas e divertidas que eu já havia feito.

— Ed! — Sam chamou. — Precisamos de munição! Pega mais pó na sua mochila!

— O que?! — Meu pai perguntou, quase freiando o carro. — QUE PÓ É ESSE, EDWARD?!

E ficou irritado, muito irritado, como se toda a graça tivesse ido pelos ares.

— Calma, papai, é só pó de maizena que a mamãe fez pra mim ontem... Com corante alimentício — semicerrou seus olhos azuis que nunca encontro em lugar algum, muito menos com a heterocromia que ele tem, fazendo parecer, se olhar rápido, que seu olho esquerdo é verde como a campina, como os da tia Annie. — Calma, juro que não é cocaína.

John riu, colocando a cabeça entre a gente.

— É tio, a gente é retardado sem as drogas pior seria com elas. Somos todos crentes aqui, de verdade.

Meu pai olhou pra ele também, abismado, então voltou a olhar para frente, pisando no acelerador enquanto eu ia pra trás e John pra frente, guiando papai por aqui, que era bem grande... Afinal, estamos falando do Madison Square Garden. Quase pude ouvir a gritaria e agitação das pessoas lá fora.

Peguei um punho cheio de pó colorido na cor rosa, e lancei na direção do produtor, que já nem tinha mais a arminha, pois cobria os olhos com uma mão, e ria também. As pessoas que olhavam a cena riam, divertidas. Espero que estejam gravando, pra eu morrer mostrando aos meus filho uma coisa dessas.

— Vai! Admite que a gente pode zoar com a cara dos outros também, seu trouxa! — gritei, com um sorrisão, soprando muito pó colorido, junto com Florence, que parecia ter pintado o cabelo no arco-íris. Sam era quase um unicórnio de tanto que brilhava, só faltava o chifre e o corpo de cavalo. Gritei com o meu pensamento, fechando os olhos. Por um momento, pensei que esse pó realmente poderia ser cocaína. Eu 'tô rindo demais.

— NUNCA! — gritou, correndo, jogando na gente chaves, crachá, o casaco. Eu só ria, apontando, chamando ele de otário.

— CHORA MAIS ALTO, CHARLES! — John gritou, com um sorriso enorme, de joelhos no banco da frente, enquanto meu pai passava a marcha para ir mais rápido, olhando ocasionalmente para trás, sorrindo. Podíamos até parecer um casal se déssemos os braços na rua, ainda mais se a gente risse, e agíssemos como pai e filho, mas chamando pelo nome. Não parecer mesmo que ele está quase nos quarenta.

Meu amigo de cabelo castanho claro e olhos azuis parecia ter quinze anos com toda essa animação e empolgação, pois nós sempre parecemos mais novos quando estamos felizes, e Samantha a mesma coisa. Era como se não tivéssemos crescido nunca.

Conheci Florence em Juliard, aos 17 anos, quando fui para uma audição, e a ouvi cantar Even When It Hurts (Praise Song), que é a minha música favorita do Hillsong, a favorita, e quando é nossa música favorita, geralmente não gostamos de ouvir covers, apenas na voz original, e era o que eu achava até ouví-la ao acaso, pois ela se apresentou no piano cantando essa música antes de mim, que era o último. Meu coração bateu acelerado de uma forma que eu nunca poderia descrever, era como se tudo tivesse ficado lento, e só ela e sua voz existissem naquele refrão.

Quando saiu, até as roupas a davam imagem de uma pessoa que era o meu oposto. Com calça jeans surrada, blusa florida e jaqueta jeans com o encaixe perfeito, os cabelos ruivos e ondulados até metade das costas, com uma tiara de flores, eu sabia que era ela. Nosso olhar durou menos de cinco segundos, mas já fez que eu conseguisse os acordes para a música que mais gosto no novo CD que estou gravando, tendo lançado já três músicas. Thinking Out Loud é uma delas.

Nós nos beijamos pela primeira vez em frente ao Empire State, depois que uns amigos da faculdade nos chamaram para sair com eles, e honestamente eu não esperava, mas quando vi, eu quem dei o primeiro passo, tocando seus lábios cobertos por um batom arroxeado depois de brincar e tocar On The Top Of The World, Imagine Dragons, que é a nossa música, enquanto a banda que marcou os meus pais foram os Beatles.

Anny foi a primeira garota que beijei, aos 14 anos, quando marcamos em um encontro, já que o seu pai, tio Finnick (que até hoje não fala mais com a minha mãe, pai, e nem comigo), ela já tinha 16, mas eu era mais alto. Foi uma experiência indescritível, é claro, mas aquilo me partiu em um milhão de pedaços porque ela tinha que voltar e eu também. Não trocamos muitas palavras pela internet ou pessoalmente depois disso. Hoje apenas sei que ela terminou a faculdade de Ciências Sociais, e é uma pessoa muito conceituada, embora ainda seja jovem.

Anny pode ter sido a primeira garota que eu gostei, que fez minhas mãos suarem, o sorriso surgir no rosto só de ouvir a inicial de seu nome, mas... Florence é sem dúvidas o meu primeiro amor.

Olhando para ela agora, com seu sorriso lindo, cheio de empolgação, realmente feliz, com seus olhos brilhando, os fios cacheados — estavam em ondas quando a conheço pois ela tinha feito escova e babyliss antes da apresentação —, batendo na sua cintura, com calça jeans, blusa branca e um casaco de frio, manchada com pó de Holi Party, era a garota mais linda do Universo, e eu simplesmente não consigo me ver com outra pessoa além dela ao meu lado.

Fico pensando às vezes como meu pai via a tia Clove enquanto eram casados, se agora finalmente eu posso enxergar toda a devoção que ele tem para a minha mãe, que parece aumentar no passar do tempo, assim como a devoção dela para com ele, mesmo nos momentos mais furiosos, onde milhares de coisas quebram dentro de casa, desde vasos de planta até malas, que ela joga pela escada ou vice-versa. Sinistro, eu sei.

Puxei Florence para o banco da frente, jogando John para o banco detrás, um tanto desesperado, com medo de ela cair, então começamos a explicar para o meu pai a situação toda, fazendo-o rir ainda mais, depois de pedir para Sam e John se segurarem pois estávamos subindo uma rampa.

— Vocês às vezes parecem que tem 10 anos outra vez, ainda bem que você fica pouco em casa. E a sua mãe está uma calma que só Deus. Ela está feito uma garoa, temos que aproveitar para fazer coisas que a gente quer, senão você sabe — ri, assentindo. Minha mãe perdeu o medo de um jeito ou de outro, porque está grávida agora. Depois de tanta preocupação comigo longe e Oliver indo parar no hospital, o hotel do papai aberto em outros lugares, trabalho dela... Ficou grávida.

— Mas é gostoso vê-la tão calma e feliz, não é? — Meu pai sorriu mediante minha fala, e eu também.

Em primeiro lugar, eu ri. A forma que ela achou para contar para mim e o meu pai não foi a mais convencional de todas, na verdade, nem sei se alguém um dia imaginou em contar como ela nos contou que está grávida. Papai me ajudou a arrumar minhas malas, depois que passei um mês com eles, só que ela se esqueceu, eu acho, que era o dia da minha partida, então, começou a chorar, desesperada, falando que era um absurdo eu estar indo embora novamente, que não podia ser assim, um drama todo, ai quando meu pai se irritou, porque Oliver estava querendo fazer o dever de casa, ela ficou vermelha de raiva, e gritou aquelas palavras:

— PORQUE EU ESTOU GRÁVIDA, DROGA!

Aí eu ri, porque meu pai e Oliver ficaram sem reação, e depois eu fiquei no mesmo estado. Ai papai esboçou uma reação, a de rir e abraçá-la. Se era intenção dela parar o mundo com a notícia de que estava grávida e me fazer ficar em casa por mais uma semana, sem sair apenas para fazer tudo o que ela queria, conseguiu.

Minha mãe disse para mim, quando meu pai saiu para comprar algumas coisas com Oliver, que estava com muito, muito medo, pois quando estava grávida de mim, passou por maus bocados, sem contar os olhares de deboche, reprovação, e por mais que eu seja o "orgulho" dela, por eu ser tão feliz e não cometer as mesmas bobagens, ainda tem alguns traumas. Parei tudo o que fazia para escutá-la, depois a abracei e beijei o alto de sua cabeça, deixando que chorasse em meu ombro. É bem diferente quando o "jogo vira", pois geralmente é ela quem me aconselha junto com o meu pai, me afaga, dessa vez, a levei para o meu quarto, cobri com um edredom, e a deixei me abraçar. Acabou que ela quem me pôs para dormir.

Obviamente que não quero passar por toda a estrada que os meus pais passaram para ficarem juntos finalmente, depois que fui com meu pai até o aeroporto de Montreal, e tudo mais, onde eles se casaram em Cambridge seis meses depois para começarmos a morar todos juntos na mesma casa novamente. Não, eu não queria esperar passar por tudo isso para entender que não fui feito para outra pessoa, mas eu desejo arduamente um amor como o deles. O amor que nada consegue apagar, nem o tempo, nem as pessoas, nem as brigas, embora possa ficar um pouco desbotado.

Aprendi que pequenas demonstrações de carinho são como tinta que restauram tudo novamente.

— Ele parou de seguir a gente, tio. Pode levar a gente até o camarim desse ser aí — Sam pediu, sorrindo, ofegante, sentando-se no banco detrás, de frente para John, que estava do mesmo jeito, mas mais largado, com um sorriso brilhante, como se tivesse ganhado a carteira para exercer a função de advogado, que era o seu curso na universidade de Cambridge, enquanto Sam cursava Medicina, lá também. Florence fazia música em Juliard, enquanto eu fechei minha matrícula por hora, faltam apenas dois anos, que vou voltar para terminar quando finalizar essa turnê mundial. Faltam apenas três meses, tempo certo para eu ficar mais tempo com os meus pais, aproveitando o início do segundo trimestre da Eleanor (nome que escolheram para o bebê, que na verdade é a bebê), e eu me organizar para fazer um pedido formal à uma certa garota de olhos castanhos escuros e pele parda, que está ao meu lado, meio virada, conversando com Samantha sobre as fãs.

— Uma disse que se eu não casasse com o Ed, ela ia — Flo contou, com os olhos brilhando.

— E quantos anos ela tinha? — Minha amiga perguntou, feliz.

— Sete.

— Acho que a minha mãe vai ter que esperar um pouco por netos, pai — brinquei, e ele riu, assim como todos. — Sinto muito, Florence.

— Só desculpo se eu for a madrinha de casamento — piscou, com seu sorriso torto, dando ressalva para suas covinhas lindas demais. Causava-me uma vontade absurda de fazê-la rir, passando os dedos por essas duas falhas genéticas perfeitas. Ela disse que tinha vontade de me dar uma lente preta, porque a cor dos meus olhos são perfeitas demais.

Ah, eu sei que sou lindo, e meus olhos são apenas um charme. Porém, tem vezes que eu fico com a autoestima lá embaixo por causa de alguns comentários nas redes sociais, e meus olhos se tornam, para mim, a coisa mais feia do mundo.

— Acho que vocês vão parar de rir — tia Madge logo apareceu, balançando a cabeça em negativa, um pouco séria. — Katniss está uma pilha de nervos. Oliver comeu papel. De novo.

— Ah, droga — meu pai murmurou, um pouco decepcionado. — Tudo o que é bom sempre dura pouco.

Não aguentei e ri de novo, ainda mais porque se trata da minha mãe.

— Cadê ela? — Meu pai perguntou, franzindo o cenho, claramente preocupado. — E ele também.

Saiu do carro, indo na direção da tia Madge que apenas indicou a porta à esquerda, que era do meu camarim enorme. Saímos do carrinho, beijei a bochecha da tia Madge, que pouco havia mudado nos últimos anos, mesmo depois do Tyler, seu filho de quatro anos. Ela me lançou um sorriso carinhoso, beijando minha bochecha também.

Entramos no camarim, e era uma cena o que podemos chamar de engraçada. Oliver estava no segundo andar do camarim, na escada, minha mãe de pé no chão, braços cruzados e a barriga de seis meses de Eleanor ressaltada por um vestido, com as bochechas avermelhadas. Meu pai ao lado dela, balançando a cabeça em negativa, sério, com as mãos na cintura.

— Oli, desça já daí! Agora! — minha mãe gritou, e o pequeno negou-se, fechando os olhos, balançando os fios pretos e lisos. — Seu babaca! Desce!

— Não quero! — exclamou. — Quero ficar aqui! Por favooooor!

— Mas daqui a pouco é o show! Desce! Agora! Eu vou subir aí e te deixar do avesso, seu abusado! Oliver! — ela bateu um pé no chão, deixando os braços ao lado do corpo. — Peeta, eu vou matar ele! Faça alguma coisa antes que a minha mãe e o chinelo façam!

E olhou para o meu pai, que suspirou, exausto. Minha mãe, depois que se casou com ele, quer resolver tudo ao que se refere a mim e Oli, pois disse que se ausentou de muito por muito tempo, e meu pai já ajudou o bastante, mas é claro que nessas horas, ele quem precisa resolver. Acho melhor assim, pois da última vez que ele pediu para ela resolver, eu terminei com duas marcas de chinelo no braço por responder a professora, quando eu tinha 15 anos... Até hoje, nunca mais respondi ninguém no tom de debate, a menos que não fosse irônico. Nunca mais.

Digamos que mamãe tem a mão pesada, e com o chinelo, o problema é agravado.

— EEEEEEEEDDDDDD! — Oliver gritou, fechando os olhos.

— Cara, desce logo daí, para de gracinha — pedi, um pouco chateado, por ele saber que a mamãe está em uma gravidez um pouco arriscada, pois faz muito tempo desde a gravidez que teve para me ter, e eu tenho o maior show da minha carreira pra apresentar. — Por favor, Oliver. E o que você está fazendo aí em cima?

— Eu vi no filme — respondeu. — Capital Mérica.

Franzimos o cenho, com exceção do meu pai, que revirou os olhos.

— Capitão América. Eu disse que não era para levar ele para assistir ao filme! Eu disse! — Papai traduziu, subindo as escadas. — Anda, Oliver, vem, por favor, pelo amor do Santo amor de Cristo, sossega. Daqui a pouco tem o show do Ed e você não tomou banho. E você não é, pela centésima vez, uma criança mutante! Você não pode voar e nem ficar se pendurando feito um macaco nas escadas! Desce daí, por favor!

O garotinho olhou para mim, olhou para o pai, olhou para a minha mãe, então suspirou e desceu dois degraus, onde meu pai podia pô-lo no colo.

— Desculpe — pediu, fungando, pronto para chorar. — Mamãe — Abriu os braços para a minha mãe, que o pegou no colo, enquanto podia fazer isso. — Desculpe.

— Avestruz, você não pode fazer isso. Você não tem super-poderes. E nem a mamãe e o papai.

Quem conheceu minha mãe dez anos atrás nem acredita que possa ser a mesma pessoa, embora haja muitos momentos em que ela xinga demais, quebra as coisas e briga comigo, mas depois que o meu pai e eu fomos ao aeroporto no Canadá — depois de uma burocracia que só Deus na causa para conseguir os nossos vistos a tempo, mas por sorte nós dois já tínhamos por querermos ir antes —, nunca mais foi embora, apenas para ir buscar as suas coisas.

Ela não conseguiu voltar no tempo, porém, conseguiu acompanhar os outros melhores momentos da minha vida até hoje. E eu sou grato por isso.

Chamei os meus amigos para a pequena copa que tinha, e nos sentamos, cada um de qualquer modo. Eu me sentei em cima da mesa, Florence ao lado do fogão, John no chão e Samantha na cadeira, porque ela tem educação. Começamos a comer as comidas que tinha lá, tudo vindo da Inglaterra, mas o chocolate em barra era da Suíça, pedi um especial de lá. Era divertido comer assim com eles, à vontade. Lembra quando eu não era conhecido por quem eu sou, e sim por quem a minha mãe é.

— Ed, eu vou dar banho nele, que horas é o show mesmo? — Minha mãe perguntou, segurando na mão de Oliver, que estava escondido na barra de seu vestido delicado e todo cheio de flores. Ela fica bem em qualquer roupa, mas agora grávida, parecia que os vestidos era suas roupas ideais.

— Só em quatro horas, pode ficar despreocupada, amorzinho — ela sorriu, deixando-a com impressão de mais nova. — Te amo.

— Que seja, Edward, não esquece Lego House — ri, assentindo, vendo-a se virar.

^*^

O momento mais animador é o momento em que vou entrar no palco, sempre, onde toda a minha vergonha e timidez vem à tona. Não importa o que eu faça, com quem eu fale, sempre é uma pressão gigantesca estar aqui.

Uma oração rápida é feita, depois que formam um círculo de abraços ao meu redor, e eu oscilo os pés, com meus olhos bem fechados, pedindo forças ao Espírito Santo para eu não cair duro e morrer de tanta vergonha que eu sinto, e para que essa noite seja inesquecível para as outras pessoas, que sacrificaram uma parte do tempo que é tão sagrado para me assistirem.

— Má sorte! — Meu pai desejou, depois que fizemos nosso toque único com as mãos, fazendo-me sorrir, bem próximo ao local onde eu sairia para o palco. Meu pai é o meu melhor amigo, sempre foi, mas vejo o quanto todo o medo que senti disso mudar foi estúpido.

— Obrigado — agradeci, tentando ficar tranquilo. Meu pai e eu sempre desejávamos má sorte ao outro antes de algo importante, para termos uma descontraída e por não acreditarmos em sorte, apenas no que se ganha por esforço.

— Você está muito nervoso... — falou, franzindo o cenho de preocupação. Já podíamos ouvir os gritos com facilidade, todos empolgados, gritando pelo meu nome. Não havia um músculo em mim que não estava em desespero e tensão. — Teddy, isso é para o que você nasceu. Cantar, tocar, transformar sua vida e alcançar a vida de outras através de estrofes sonoras. E você já fez isso milhares de vezes.

Suspirei, como se tivesse uma bolsa de gelo na minha barriga.

— Edward, escuta o seu pai — ouvi a voz da minha mãe, olhei na sua direção, atrás de mim, sem Oliver, apenas ela, com outro vestido, um pouco mais longo, na cor bege com detalhes azuis. Ela é tão linda, que não surpreende que ainda seja modelo da Dior. Katniss Everdeen é o tipo de pessoa que vai ficando mais bonita com o passar dos anos, e juro que não é porque é a minha mãe e melhor amiga, mesmo que me ameace de morte as vezes.

— Viu? — Papai disse, como se fosse óbvio. — Vai ficar tudo bem.

— E as pessoas não ligam se você errar... desde que você dê o seu melhor — mamãe completou, vindo me dar um abraço bem apertado, e mesmo que agora eu fosse mais alto do que ela, mesmo que só um pouco, escondi meu rosto na curva de seu pescoço, sentindo o seu perfume doce, que sempre fazia com que eu me sentisse em casa, lá em Cambridge, no natal que eu tinha 10 anos, nosso primeiro natal em família.

Isso me acalmou.

— E a gente te canta sempre — disse, sorrindo. Sorri também. Eu te canto é a forma que eles tem de dizerem que me amam. Não entendo muito bem algumas coisas que eles dizem, como por exemplo, minha mãe diz para o meu pai que ela "pôr-do-Sol" e ele a "flocos de neve", então, resolveram encontrar uma expressão só para mim, enquanto para Oliver é que nós o desenhamos, pois é o que ele mais gosta de fazer e tem talento para. Não seguir clichês é naturalidade exclusivamente nossa, com toda certeza.

Por pensar em Oliver, ele nos separou, pedindo meu colo, fazendo-me rir, assentindo, beijando sua bochecha. Não suporto ler os comentários maldosos nas nossas fotos que dizem que ele é um bastardo, adotado, doente, o que não é verdade. Oliver pode ter sido adotado aos dois anos, com sérios problemas cardíacos, mas isso não faz a gente "desenhá-lo" menos do que se fosse de sangue, não mesmo. É o meu irmãozinho, e vai ser tão adorado por mim quanto Eleanor, que vai nascer em Abril, assim como eu nasci.

Meu pai abraçou a minha mãe, pegando Oliver, que sorriu para mim, como todos, e demos um abraço em família, por mais que ainda estivesse faltando uma ali ajudando no abraço, passei um braço pelas costas da mamãe, abraçando Eleanor também, e o meu pai, colocando o rosto no pescoço de Oli, que me abraçou bem apertado.

— Vai lá, Ed! Você vai arrasar! — Oli exclamou, abrindo um sorrisão, batendo palmas.

Nossa mudança para Los Angeles é recente. Até seis meses atrás nós morávamos em Cambridge, mas o sotaque desse baixinho já estava se assemelhando ao norte-americano, diferentemente da minha mãe, que tinha perdido um pouco depois de tanto tempo morando aqui, mas dois anos depois falava de forma tão sobrecarregada quanto eu e o meu pai, mas era melhor assim. Britânicos tem o melhor inglês!

Ri, com meus pensamentos, e pela janelinha na boca do meu irmão.

— Sim, cara, eu vou — prometi, arrumando sua blusa do Homem de Ferro.

— E não se esqueça de acender as lanternas do celular! — pediu, enquanto minha mãe arrumava meu cabelo pela décima vez, com o cenho um pouco franzido e o meu pai morria de rir com a cena, onde eu fingia tédio, revirando os olhos.

— Não vou — jurei, deixando um beijo em sua testa. — Vou falar pra todo mundo que é só para você essas luzes!

— Fale mesmo! — exigiu. — Igual no último show que eu fui!

Sorri. Era a minha parte favorita do show, quando todos levantavam os celulares com as lanternas ligadas, e nos tornávamos um Céu cheio de estrelas ao som de Kiss Me e Lego House.

— Edward, trinta segundos — Carlos avisou, sorrindo. Era o diretor dos shows. — Sua hora, cara.

— Tudo bem. Tchau, pessoas, nos vemos no carro direto para o KCF! — Bati na mão da minha mãe, em um toque simples mesmo, ela disse que tem muitas coisas para memorizar – principalmente depois da terceira estatueta do Oscar, onde eu e meu pai tivemos em todas elas estarmos com ela —, porém, o que ela queria esquecer nunca o fazia, que era do tombo que levou quando foi anunciado que era a vencedora por O Lado Bom Da Vida. As pessoas ficaram meio sem reação, depois nós a aplaudimos de pé, mas eu e meu pai quase morremos de tanto rir da cara dela e da vergonha que tinha passado, depois a zoamos – e muito, muito mesmo – na volta para casa. Só paramos quando ela começou a chorar mesmo, pedindo para a gente parar. Mas eu ainda faço questão de jogar na cara dela quando manda eu andar direito, claro.

— Florence está te esperando com seus amigos, vá, vá — lembrou-me meu pai, sorrindo, me empurrando. Sorri para ele, depois de entrar no túnel transparente que me deixava no centro do palco, por mais que fosse um show bem discreto e tímido, ao som do meu violão inseparável que ganhei da minha mãe aos nove anos, adaptado para o meu tamanho, apenas, que está nas minhas costas pendurado, pronto para ser usado a qualquer momento.

E ali, olhando para a minha família, o sorriso no olhar de todos os três, sabendo que Eleanor também vai sorrir quando nascer pois é só comigo que ela mais interage, ainda na barriga da minha mamãe, sorri, quase chorando, pois foi muito difícil termos chegado até esse ponto de felicidade.

Foram muitas lágrimas, muitos soluços, mesmo depois do casamento de mamãe e papai, até perdi a conta de quantas vezes fui dormir soluçando, pedindo desculpas a Deus por ter insistido tanto na união deles, desejando a volta da tia Clove, que ela terminasse o noivado com o seu marido agora, e outras vezes desejando o Finnick no lugar do meu pai também. Mas hoje não me arrependo de nenhuma oração, de nenhuma lágrima, de nenhum soluço, de nenhuma tristeza que a relação deles pode me causar, porque tudo nos trouxe até aqui.

Quando apareci no palco, aqueles gritos em meus ouvidos me trouxeram ainda mais para a realidade, todas aquelas luzes, todas aquelas pessoas no show esgotado no Times Square Garden, me fizeram recordar que nenhum esforço é em vão se te impulsionar para a coisa certa.

Mais uma vez, em pensamentos, agradeci a Deus, aproximei o microfone dos lábios, e abri o meu maior e mais sincero sorriso, indo até o outro microfone, plugando meu violão, gerando mais gritos e risos, empolgadíssimos.

— Boa noite, Times Square Garden! — Desejei, antes de tudo, rindo com a gritaria. Era como se eu fosse a coisa mais incrível do mundo. Toda a minha timidez sumia aqui. — Eu espero que aproveitem essa noite!

Comecei com You Need Me, I Don't Need You, depois Sing, onde as pessoas pareciam saber todas as letras, e isso me animava.

Fiz um cover de Drunk In Love, e só na primeira frase cantada, fui aplaudido, o que me deixou um pouco nervoso, pois a música é da Beyoncé, e tudo mais, porém todos também cantaram juntos. O show foi dando continuidade, entre risos, suor, brincadeiras, eu dançando ao som de Where Are You Now do meu amigo Justin Bieber, que fez uma apresentação surpresa, onde só eu sabia que ele apareceria, depois, acalmei mais as coisas, aproximando os lábios do microfone, cantando Photograph, e o vídeo tinha sido divulgado a exatamente um ano atrás, um dos mais comprados no iTunes e uma das músicas mais ouvidas no Spotify.

Quem estava com seu par, cantou junto, abraçados, mas eu não estava tão certo de que olhavam com para mim pois sempre fecho os olhos em músicas tão pessoais assim. Essa foi a primeira que escrevi depois que beijei Florence, me marcou demais, pois depois que a beijei no Empire State, a deixei em casa, na rua Seis, debaixo de alguns postes de luz, ela quem se inclinou para me beijar.

Infelizmente, o show estava caminhando para o seu final, eu já tinha cantado The A Team, que escrevi com base na mamãe, depois Give Me Love, de acordo com o que vi e ouvi dos meus pais conversando um com o outro, cheguei à conclusão que tudo o que eles queriam era Amor. Minha mãe costumava beber, antes do casamento e de ficar noiva do papai, quando passei um mês lá, que mudou tudo, e o meu pai chorava à noite, quando pensava que eu dormia, ele sentava no sofá abraçado as pernas. Era muito sofrimento.

Já peguei minha mãe sem blusa na cama, assim como o meu pai, deitada na cama, de costas para mim, como também eles se beijando, com ela sobre a bancada da cozinha, o que sempre me deixou muito constrangido — sendo uma razão de eu nunca nem ter passado uma noite na casa da Flo e nem vice-versa, embora não tenhamos feito nada, sequer chegado perto de uma coisa assim —, só que o que mais marcou foram as incontáveis vezes que peguei, e ainda pego, meus pais dormindo abraçados, seja na sala dormindo depois de um filme, seja no quarto (devidamente vestidos), como no carro, esperando eu sair.

Pedi com carinho para que todos ligassem a lanterna do celular. Eu podia sentir o cansaço tomando conta de mim, o suor no corpo, mas o sorriso ainda dançava em meus lábios, feliz, grato, orgulhoso por deixar tantas pessoas com um sorriso no rosto.

Meus olhos procuraram Florence no camarote, onde ela estava com Samantha e John, todos de banho tomado, com roupas leves e para frio, pois acho que hoje as temperaturas chegaram à cinco graus celsius, então, abri um sorriso, e os olhos dela se encheram de lágrimas. Cobriu a boca com as mãos, como se me perguntasse se eu ia mesmo fazer o que tinha dito. Mas a minha garota estava excepcionalmente linda com os cabelos bem cacheados soltos, uma casaco de Julliard e uma calça de moletom perfeita para sair, estava à vontade, e era o mais importante. A fina tiara prateada brilhava na sua cabeça, que eu tinha lhe dado de presente de um ano de namoro. Isso me deixou mais feliz, embora soubesse que ela gostasse dos presentes.

Os acordes de Kiss Me começando a escorregar dos meus pensamentos, sendo tocados pelos meus dedos, antes mesmo que eu pudesse racionar. Não tirei os olhos dos dela, que eram um verdadeiro abismo, sendo quase na cor preta, mas era o meu abismo, e eu sabia que mesmo que não chegasse ao fundo, ela sempre me traria à tona com os seus beijos, seus abraços apertados e os sorrisos sinceros.

Fique comigo

Me proteja, me abrace carinhosamente

Se deite ao meu lado

E me envolva em seus braços

E seu coração encostado em meu peito

Seus lábios pressionados ao meu pescoço

Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem

E com um pressentimento de que esquecerei, agora estou apaixonado

Cantei, com todo meu coração, com todos meus sentimentos, olhando dentro dos olhos dela, que chorava, rindo. Ela sabe que é pra ela, assim como All Of The Stars. Escrevi essa música nela, totalmente, para um dos seus livros favoritos, e nas férias, viajamos junto com Sam e John para Amsterdã, dividindo o mesmo quarto, passando noites em claro abraçados, próximos à janela, vendo as estrelas enquanto tomávamos chocolate.

Então abra os olhos e veja
O modo que os nossos horizontes se encontram
E todas as luzes vão te guiar
Pela noite comigo
E sei que essas cicatrizes irão sangrar
Mas os nossos corações acreditam
Todas essas estrelas vão nos guiar para casa

Eu posso ouvir seu coração
Na batida da rádio
Tocaram "Chasing Cars"
E eu pensei em nós
De volta ao tempo
Em que você se deitava do meu lado
Eu olhei para o lado e me apaixonei
Então peguei a sua mão
E pelas ruas de Londres, eu soube
Tudo me levava de volta à você
Você pode ver as estrelas
De Amsterdã ?
Você é a canção para a qual o meu coração
Bate

Sua espontaneidade foram uma das coisas que mais me chamaram a atenção. Foi um ano de amizade, para finalmente pedi-la em namoro, no entanto, não me arrependo, não me acho idiota por ter deixado que ficássemos por um ano sem quaisquer contato além do visual depois que terminou de se apresentar no auditório de Julliard. Esse ano que não nos vimos - a começar que eu nem sabia seu nome –, passou rápido, como uma eternidade, por seu rosto não abandonar de forma alguma os meus pensamentos, e quanto mais falava sobre os meus sonhos com ela para o meu pai — que assim como a minha mãe e Oliver  vinham me visitar no Campus em Nova Iorque de quinze em quinze dias, e no final do mês, eu voltava com eles na sexta-feira à tarde para Cambridge, mas retornava para NY no domingo à noite depois que comecei a estudar —, mais ela aparecia na minha cabeça.

O que senti foi tão forte, que quando a vi com seus insubstituíveis cachos ruivos na aula da História da Música, minha timidez não existiu ali quando perguntei seu nome e número de telefone.

Se Florence não era a garota que ia ser a mulher da minha vida, ia ser o meu grande E Se, mas o que sinto por ela continua sendo tão forte depois de todo esse tempo que duvido muito que seja a segunda alternativa. E uma coisa ainda mais incrível é que dividimos os mesmos pensamentos sobre fé, Deus e Salvador, ela também é cristã.

Me beije como se quisesse ser amada

Quisesse ser amada, quisesse ser amada

É como se eu estivesse me apaixonando

Me apaixonando, nós estamos nos apaixonando

 

Fique comigo

E eu serei seu guardião, você será minha dama

Estou aqui para manter seu corpo aquecido

Mas eu sou tão gelado quanto o vento que sopra

Então me envolva em seus braços

Senti meus olhos clarearem com a quantidade de celulares com suas lanternas ligadas, minha voz estava quase sendo abafada por causa das pessoas que cantavam junto, mas lá estavam direcionado meu olhar com heterocromia, para a garota mais linda e improvável do mundo de acordo com as revistas populares. Ela se assemelha com a personagem Valente do filme da Disney, dona dos mesmos cachos ruivos indomáveis e longos, o formato do rosto semelhante, mas a cor da pele era bronzeada, como se tivesse passado coca-cola, mas pouca. A garota mais linda que eu já vi, a mais adorável, a dona da melhor voz, dona dos meus pensamentos e coração.

Queria poder saber se consigo expressar tudo o que sente o meu coração e alma através do olhar, não sei se consigo fazer isso, mas eu tento, com toda a sinceridade. Pergunto-me às vezes se o meu olhar brilha quando olho para Florence como acontece com o meu pai e minha mãe, tio Cato e tia Annie (que não puderam vir, infelizmente, porque Linda está com pneumonia e Kevin é muito novo para viajar de avião ainda, com dois meses de vida, mas sei que acompanham tudo em casa).

A música acabou, e foi quando olhei para a platéia, que estava muito emocionada, mais lanternas foram acesas, e apenas o suficiente para me enxergarem estavam acesas no palco. Somos um Céu, cheio de estrelas, e por isso comecei a cantar All Of Stars, sendo aplaudido intensamente.

Fechei o show com Lego House.

Estou sem saber de você, estou sem amor

Eu vou te animar quando você estiver ficando pra baixo

E de todas as coisas que eu já fiz

Eu acho que eu te amo melhor agora

Estou escondido, perdi a cabeça

Eu faria qualquer coisa por você, em qualquer hora

E de todas as coisas que eu já fiz

Eu acho que te amo melhor agora, agora

Olhei para minha família, composta pelos meus pais, Oliver, Sam, que estava bem abraçada à John, que piscou, sorrindo, o que me fez acreditar que a pediu em namoro, e Florence, sorrindo torto para mim, com aquele sorriso que, embora pequeno, tinha um significado imenso. Tia Madge, tio Gale e Tyler também estavam ali, juntamente com a tia Rue que acenava junto com a tia Maggs, que é como uma avó materna para mim, e uma quase mãe para a mamãe.

Papai uma vez, ao me colocar para dormir, olhou dentro dos meus olhos, enquanto minha mãe colocava os meninos (Romeu e Bandike, que estão ainda com a gente, embora com 13 anos de idade os dois, moram conosco em Los Angeles, mas vieram para Nova Iorque com a gente também, estando em um camarim que é só deles que a tia Rue, assessora da mamãe até hoje, conseguiu) para a sala, sem que ele pudesse ser atacado por algum, me disse uma das coisas mais importantes do mundo.

Ele me disse que família é tudo o que a gente tem e precisa, que sucesso não é absolutamente nada se não tivermos alguém para dividir, assim como o dinheiro, fama. É melhor se que viva acompanhado, seja dos pais, seja dos amigos, seja de um parceiro. Eu tinha tudo ali ao meu lado, no camarote, olhando-me com sorrisos verdadeiros, olhos empolgados e orgulhosos, com rastro das lágrimas.

Mas em pouco tempo, em um espaço de tempo mais curto do que todos podem esperar, provavelmente quando eu concluir a faculdade, já estarei mais certo sobre as coisas ao meu redor, fazer parte dos principais acontecimentos na vida de Eleanor, ajudar meus pais com a garotinha que estava vindo, ser um irmão ainda melhor para Tyler, eu penso seriamente em poder formar uma família também, ao lado de Florence, se ela permitir e o tempo, a vontade de Deus confirmar os nossos sentimentos e desejos. Só que ainda temos tempo, e querendo ou não, ela já faz parte da minha família, e talvez não seja para nós ficarmos juntos, mas eu a escrevo tanto, tanto nesse momento, que tudo aponta ser impossível.

O nosso "eu te amo" não é dito assim, é como o que os meus pais me ensinaram. É uma palavra e uma frase clichê demais, devemos ser diferentes o tempo todo, sermos autênticos. A frase "eu te escrevo" saiu dos meus lábios de forma que eu nem esperava, depois de fazermos a janta para a família, onde eu ia me apresentar formalmente para os seus pais, foi tão sincero, olhando diretamente nos olhos dela... e a mesma sorriu, com os olhos cheios de lágrimas e me abraçou, ficando na ponta dos pés, dizendo que "me estrelas".

Eu a Escrevo no sentido literal, pois as minhas maiores e melhores composições vem dela e de seu jeito diferente das outras, e ela disse que me Estrelas porque os meus olhos parecem duas estrelas, independentemente se há Lua ou não. Quando ela me disse isso, nem eu consegui segurar as lágrimas e o riso, levantando-a do chão, sem me incomodar quando a sua mãe e pai perguntaram a razão da demora toda e o sorriso em nossos rostos. Estávamos no segundo mês de namoro, mas ainda sim, eu já estava certo do que sentia e sobre o quanto ela mudava as coisas ao meu redor com sua presença. E tenho até hoje.

Por isso a importância desse momento no show para ela, para mim, para todas as pessoas. Nós somos todos estrelas, estrelas perdidas, procurando uma constelação para nós ficarmos. Já encontrei a minha, desde que nasci, meu pai me colocou ao lado de si, depois outras pessoas foram se juntando, e hoje somos uma constelação brilhante que de longe podem saber de onde somos, quem somos. Apenas espero conseguir ajudar os outros a encontrarem as deles através do que escrevo, do que vivo, do que sinto e transmito através dos acordes. A vida dos meus pais eram filmes diferentes, até que resolveram formar uma sequência juntos. A minha vida e de Florence são melodias, e hoje formam uma música, uma música viciante que toca serenamente em nossos ouvidos quando estamos juntos ou muito separados.

Nesse momento, eu podia jurar que o mundo iria acabar, pois eu estava no clímax da vida que eu não planejava, mas se fosse diferente, com certeza não ia ser tão boa e feliz assim. Foi através de muitas lágrimas, de muitos gritos, de muita oração, de muita caminhada embaixo de Sol e chuva... mas estamos aqui, juntos, todos nós, e isso é o que mais importa, e que todos nós nos amamos, ou nos Pôr-do-sol, nos Flocos de Neve, nos Cantamos, nos Escrevemos, nos Desenhamos, nos Estrelas, como preferir. E se nós nos amamos igual, mesmo com tantas expressões diferentes, do que importa os dias ruins? Eles é que nos fazem perceber que a única coisa que precisamos são de pessoas que nos amam, ou seja, da nossa família, que é composta por quem nós quisermos e por quem quiser fazer parte da nossa história, ou melhor... da nossa constelação.

Porque somos todos estrelas que brilham sozinhas, mas o show só é completo se estivermos juntas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que dizer? Não tenho nada para falar, só sentir... eu pôr-do-Sol, flocos de neve, desenho, canto e estrelas todos vocês, e espero ter deixado vocês felizes, ajudado-os a distrair, sei lá, eu escrevi no intuito de ajudar as pessoas, passar alguma mensagem, e essa foi a minha, menos romance do que as outras histórias que escrevi, pois queria dar ênfase na família, pois está tudo tão mudado, tão diferente, e as famílias a cada dia tornam-se mais palavras do que o sentido verdadeiro, que são pessoas que dividem do mesmo sentimento de amor, carinho, afeto, e até a minha família hoje é apenas uma palavra, infelizmente, mas gostaria de dizer que a gente não pode desistir de duas coisas: da nossa família e do amor. Os sonhos estão dentro dessas duas coisas, e independentemente da religião, nunca percam a Fé de que as coisas no final dão certo, e se não deram, é porque ainda não é o fim. *fazendo sinal de paz, sorrindo* Beijos, pessoal. Foi um prazer gigantesco escrever para vocês, como sempre. Peço desculpas por qualquer coisa aí que não tenham gostado, que eu tenha citado, não sei, mas peço desculpas.
*Sorrindo torto, com uma mochila nas costas, acenando* Até a próxima história, quem sabe *entrando no avião*

Edward agora: https://www.berlinale.de/media/bilder/2016/starportraits2016/2016-02-14-9863-1429_Logan_Lerman_IMG_FIX_1200x800.jpg