Treinando a Mamãe escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 15
É isso aí


Notas iniciais do capítulo

Estou envergonhada por aparecer tanto tempo depois, com todo meu coração, mas espero que eu consiga me desculpar com essas quase 8mil palavras, em um dia tão tenso para estudantes do 3° ano, em sua maioria, cariocas, que hoje pela manhã foram fazer prova para a UERJ, em pleno Rio sensação de 4°, não mais 40, no dia dos namorados, quis trazer esse capítulo de presente, juntamente com uma One-shot que postei de mais cedo e mais um capítulo na fic A Seleção da Herdeira, que será atualizada em instantes, basta eu terminar de corrigir os erros.
Gostaria de agradecer imensamente a todos que comentaram, aos que favoritaram e me mandaram uma mensagem. Não sabem o quanto me deixaram feliz com tudo isso, e realmente estou envergonhada por vir postar somente agora, tanto tempo depois, tendo burlado tantas postagens, mas estou aqui! ♥
Embora não seja o tão esperado capítulo para o romance, é o que abre a possibilidade para todos os fãs de Peetniss. Espero que gostem e aproveitem, juntamente com MUITAS fotos e gifs e trechos de músicas ♥ Beijos! Vejo-os lá nas notas finais! *sorrisao*



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16:30

E eu estava caminhando ao lado de Madge e Prim para a casa de Peeta.

— Não acham feio estarmos chegando no horário certo? — Madge perguntou, de cenho franzido, ao meu lado direito.

Suspirei, desacelerando os passos. A vizinhança era bem tranquila, com casas medianas e quintais bonitos e bem cuidados, janelas limpas, música em um volume respeitador. Ideal para quem está começando uma nova vida ao lado de uma pessoa que esboça exatamente este perfil. Só de imaginar que a vizinhança se assemelha à Clove, odiei tudo.

— Só deixar Romeu e Bandike fazer xixi — falei, em um tom ameno, deixando os meninos levantarem a patinha traseira ao lado de um carro.

— Ainda não sei por qual motivo vocês duas não gravaram a apresentação! — Prim exclamou, indignada. — Eu adoraria vê-lo cantar!

— Tivesse ido, oras — respondi, ácida, sem olhar para ela. — Avisei qual era o horário.

— Mas o Mar... — olhei para ela. — Um cara aí que estou ficando, ele está em Cambridge. Precisei ir vê-lo.

— Que seja, não reclame com a gente — eu realmente aborrecida com ela. Arrumei melhor minha bolsa em meu ombro, que tinha apenas duas mudas de roupas, para dormir e a que eu virei embora amanhã pela manhã.

— Hey, pessoal, acalmem-se! — Madge pediu, intervindo. — Olhe, há mais gente na casa do que imaginávamos!

Todas olhamos na direção que ela olhou, e de fato, tinha muita gente. Cato, Annie, tia Effie e tio Haymitch, especificamente, entrando na casa de Peeta, onde Clove estava na porta, acenando, com um sorriso sincero. Todos pareciam muito felizes.

— Droga — murmurei, sentindo um frio na barriga e nas costas. — Com que cara vou aparecer lá? Meu cabelo está bom?

Madge e Prim riram.

— O penteado poderia ser melhor, Katniss — a assessora disse. — Mas está bom. Você está ótima, apenas sorria.

— Exatamente! — Madge concordou, abrindo um sorriso enorme, dando um passo em minha direção, e com os indicadores tocou em minhas bochechas, suspendendo-as um pouco para que eu sorrisse. Ri, achando legal de sua parte. Literalmente havia me posto pra cima.

— Ficou duzentas vezes mais linda! — exclamou. Definitivamente, eu fui uma idiota e vítima das revistas de Hollywood que nos fez brigar tanto.

Meu celular tocou antes que eu pudesse agradecer, mas as duas leram o nome de Finnick no visor do meu celular. Cada uma pegou um cachorro e seguiram na frente, para dar-me privacidade.

Mais uma vez no dia eu fui grata.

— Oi, Finn — atendi, um pouco feliz. Embora não tenhamos conversado melhor desde a noite em que brigamos, ou seja, na noite retrasada, eu sinto vontade de conversar com ele, que sempre me fazia bem.

Hm... Oi, e aí? Liguei para saber como você está, assim como o Ed. Como foi a apresentação? — Parecia um pouco tímido, a princípio, o que me fez sorrir mais, sem contar o quanto estava preocupado.

— Estou bem, obrigada, quase chegando na casa do Peeta para ficar com Edward. Ele se saiu maravilhosamente bem. Você ainda não o ouviu cantar ao vivo, mas deveria. Não é porque é o meu filho, mas é muito talentoso! — ouvi ele rir. — E você e Anny? Como estão?

Nós estamos bem, mas... Quando você volta? — seu tom era como se estivesse extremamente triste ao nosso respeito. Eu também estava.

— Eu volto na terça-feira pela manhã, no LAX às 08:34 — informei, mas como quem não quer nada.

Se eu for, sua resposta será sim? — perguntou, suspirando.

— Você me faria uma proposta que me fizesse dizer sim? — questionei, totalmente parcial.

Depende — disse, mas agora parecia sorrir. — Alguma preferência de flor?

Finnick fazia eu sair alguns centímetros do chão com uma simples pergunta.

— Eu gosto de rosas, Odair. Rosas vermelhas.

Hm... — disse, e com certeza agora ele estava sorrindo. — Posso dizer que você tem grandes chances de dizer um sim, então. Mas não posso dar detalhes. Você deve ir ver o Edward, mande lembranças. Anny está saltitante te mandando um abraço.

Sorri, quase começando a chorar.

— Ok, Finn. Muito obrigada por tudo — agradeci, em um tom baixo, sem muitas forças ou reação para poder lidar com a situação toda. Em um momento estou desabando por dentro, outrora estou sorrindo como uma boba para o celular.

Desliguei o celular, antes que algum de nós pudesse dizer alguma coisa. Respirei fundo, fechando meus olhos, então comecei a ir em passos decididos para a casa de Peeta. Era como se eu estivesse entrando em uma areia movediça.

Apenas toquei a campainha, embora todos parecessem bem animados lá dentro, eu não tinha coragem para abrir a porta. E nem tinha o direito de fazer uma coisa dessas.

— Oh, olá, fique à vontade — Clove disse, abrindo a porta, com um sorriso torto. Não sei se era totalmente sincero, mas não era falso. Agradeci com um sorriso pequeno, acenando com as mãos no bolso da calça jeans surrada. Coloquei os óculos escuros no cabelo, já que não havia sentido usá-los dentro de casa. — Ed está na sala, Cato e Ann nos fundos com o senhor Mellark, dona Effie na cozinha comigo e suas amigas. Para onde quer ir?

Era um fique à vontade, mas ela deixou de forma indireta e clara que me queria bem longe de Peeta. Ótimo, porque eu não quero ficar muito perto dele e me encher de maus pensamentos dos quais eu me coloco no lugar dela na cama em dias frios e chuvosos quando Edward não estivesse em casa.

— Vou falar com o meu filho primeiro, depois passo na cozinha — respondi, dando de ombros. Ela sorriu, assentindo, já esperando essa minha reação, então caminhou para a cozinha. — Mas espera! — chamei. — Onde estão Romeu e Bandike?

Ela riu.

— Nos fundos, não se preocupe.

Quando saiu de meu campo de visão, permiti-me olhar melhor os quadros de fotos que estavam no corredor estreito que guiava para o resto da casa. Eram fotos de Edward, fotos dos três, fotos de Peeta na universidade — agora vi que cursou Hotelaria em Cambridge —, outras de paisagens muito belas. Não haviam mais de dez fotos, mas em todas causavam uma suave inveja de querer ter vivido tudo o que aquelas fotos demonstravam.

Dei mais olhada em meu cabelo antes de prosseguir a entrar dentro de casa em um dos três espelhos circulares pequenos que tinha aqui no corredor, ao lado de uma porta que dava em um closet pequeno, comum no Reino Unido, para colocarmos nossas roupas de frio. Eu não estava muito lá se parecendo com uma mãe de um garoto de dez anos, não como acho que mães deveriam se vestir, mas para uma quase-provavelmente-noiva, era apresentável.

— NÃO! PARA COM ISSO, PAI! — Edward gritou, rindo, fingindo bater em Peeta. — Era a minha vez de jogar!

Disfarçadamente, esquivei-me na parede, querendo admirando a visão dos dois na sala simples, porém extremamente confortável, com algumas coisas coloridas, e no centro da parede, uma lareira de verdade. Um quadro com o diploma de Peeta estava em um lugar de destaque, ao lado de outras medalhas e troféus de Ed.

— O que? Nada disso, bebê. Era minha vez de jogar. Benfeito, você morreu! Morreeeeu! — O loiro brincou, sorrindo, com um controle de PlayStation 3 na mão, o mesmo que Edward segurava.

— Ah! Tio Cato! Tio Cato! Papai roubou de novo! — No segundo seguinte, Peeta atacou o pequeno com cócegas, rindo. O garoto, surpreso pela atitude inesperada, caiu no chão, me fazendo rir como uma retardada. Seu sotaque inglês predominava totalmente, ainda mais tentando morder Peeta, batendo os pés no chão. — AAAH! SOCORROOOO! SOCORROOO! VOVÓ! VOVÓÓÓÓ!

— Peeta! Largue o Edward agora! — tia Effie interveio, mas contendo um sorriso, ao ver o filho mais novo e seu neto no chão da sala, brincando de cócegas.

— Não, mãe! Ele está me acusando! — defendeu-se Peeta, sorrindo ofegante, sentando sobre suas pernas, mas ainda segurava Edward no chão pelos ombros. O pequeno tentava morder a mão do pai. — E querendo me morder!

Eu comecei a rir, sem conseguir impedir o som. Gosto da minha risada, mas é muito alta, escandalosa.

— Mãe! Mãe! Me ajuda! — Ed chamou.

Contive-me, abrindo um sorriso largo e sincero, dando um passo na direção da sala de estar, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas de vergonha ao ver Effie me olhar. Eu não sabia ler mentes, mas imagino o quanto deve estar me xingando mentalmente, com certeza.

— Como vai, tia Effie? — perguntei, envergonhada.

— Menina! Quanto tempo! — arregalei um pouco os olhos, totalmente surpresa, embora tenham me convidado para passar esta tarde aqui.

Não soube muito bem o que dizer, apenas sorri, piscando para ninguém notar o quão eu quero chorar, me deitar no sofá e ficar abraçada com Ed enquanto Peeta prepara um chá para nós três.

— Você emagreceu tanto! E olhe o seu rosto! Você está linda! — elogiou-me.

— Oh, não mereço tudo isso isso... — tentei impedi-la de vir com novos elogios e eu não ter mais o que dizer para expressar minha gratidão e felicidade por estar aqui.

A mãe de Peeta me abriu um sorriso, com uma não em meu ombro.

— Merece esses elogios por ter entendido que não importa suas qualidades e defeitos... Edward ama você e a quer por perto — ela me olhou bem nos olhos, com um sorriso torto. — Peeta me contou na época que você tinha avisado para ele que iria, e foi ele quem pediu para você ir, já que estava com tanto medo — sussurrou, olhando para ver se mais alguém olhava ou nos ouvia.

Não foi isso o que aconteceu, Peeta não fazia ideia de que eu iria embora... Mas disse que foi uma escolha nossa para que ninguém me odiasse.

Mais uma vez, meus olhos se encheram de lágrimas, e um nó na garganta se formou, quase impedindo que entrasse ar em meus pulmões.

— Não acredito que você está aqui! — Tia Effie saiu da minha frente, também levando um susto ao ouvir a voz do marido, que segurava um prato com diversos pedaços de carne, linguiça e frango, e atrás dele estava Cato, com o cabelo bagunçado. Ambos estavam com expressões sérias.

Meu. Deus.

— E-e-eu... — gaguejei, tendo conhecimento de que Peeta era o filho protegido do tio Haymitch, enquanto Cato era o da mãe.

— Você chega e nem vem falar comigo, Docinho?! — e sua expressão anterior foi substituída por uma de pura leveza e brincadeira, assim como de Cato, que começou a rir freneticamente, pegando o prato das mãos do pai.

— Sua cara ficou branca, Katniss — o loiro mais velho disse, entregando o prato para a mãe. — Aqui, mamãe.

O sotaque britânico deles era assustadoramente apertável e meigo.

Abri um sorriso, aliviada, abraçando tio Haymitch, que sorriu largamente para mim, em um abraço apertado, como meu pai fazia quando eu ainda falava com ele e minha mãe.

— Por que não veio logo para o almoço, querida? — perguntou, pondo um braço por cima dos ombros da esposa, que comia um pedaço de carne e Cato um pedaço de frango. Todos olhavam para mim.

— Precisei voltar porque eu fui com mais pessoas para a Igreja, então precisei ir logo para o hotel. Não tinha posto ração no pote dos meninos também — assentiram, sorrindo. — Mas fiquei muito agradecida e...

Antes que eu pudesse completar, Edward pulou em cima de mim, gritando rindo.

— Mãe, papai quer me atacar! — exclamou, pedindo colo. Já era crescido para isso, mas eu conseguia pegá-lo, e foi o que fiz, vendo Peeta rir, caminhando calmo até a gente.

— Eu disse que se me atacar eu vou atacar — lembrou, fazendo todos nós rirmos.

— Amor, cadê o churrasco?! — Annie perguntou, batendo palmas da cozinha.

— 'Tô levando! Vamos pessoal! — Todos nós fomos para a cozinha, depois que fui ao banheiro com Edward lavarmos nossas mãos, rindo.

Me sentei um pouco afastada na sala, pedindo baixo para Edward não sair do meu lado e deixar eu comer com ele, pois eu estava morrendo de vergonha. Criado por Peeta, é claro que ele não segurou a risada, rindo da minha cara, mas assentiu, feliz por estar perto de mim, e eu por estar perto dele.

O resto da tarde foi tranquilo, a noite também, comigo evitando ficar no mesmo espaço que Clove e Peeta, que pareciam gostar de estar sempre juntos, rindo um para o outro, sorrindo, abraçados, mas parecia ser algo feito longe dos outros também.

— Katniss, você tem que parar com isso — Madge disse, sentando-se ao meu lado nos fundos vastos da casa, que era realmente lindo e grande, com grama aparada. Romeu e Bandike estavam dormindo ao meu lado, suspirando profundamente, depois de terem comido muito churrasco.

— O que? Mas Madge! — meus olhos se encheram de lágrimas. — Eu queria tanto voltar no tempo e nunca ter ido embora! Fico vendo tudo isso, e percebo o quão idiota eu fui. Clove é amada por todos eles, e isso é inegável, assim como o Peeta gosta tanto dela!

Eu iria chorar a qualquer momento.

— Katniss, você precisa se ligar que não é sua atual realidade. Você fez a maior idiotice da sua vida, que foi abandonar isso tudo para viver sua vida. Sabe que não pode mudar o passado, então tente um novo futuro! Finnick está de braços abertos para você, sabendo o que você sente!

Fiquei em silêncio, tentando organizar meus pensamentos.

— Madge? — Annie chamou, gentil como só ela. — Tem um rapaz de olhos cinzas te esperando lá fora.

— Uh, é Gale, meu noivo. Eu preciso ir... Até amanhã, Katniss — e me abraçou apertado, dando um beijo na minha bochecha.

— Valeu, Madge, boa noite — desejei, sorrindo torto. — Até amanhã.

Ela se despediu de Annie com um abraço e risada, avisando que já tinha o Facebook da ruiva, e que manteria contato, e que mandaria presente para Linda. Annie ficou da cor do cabelo, me arrancando uma risada, ouvindo dela que não precisava.

Trocaram mais algumas palavras, como se fossem melhores amigas a uns bons muitos anos, então Madge foi chamar Prim para irem embora. Elas duas pareciam conhecer a tudo e todos, rindo, abraçando, brincando, enquanto eu me ofereci para lavar toda a louça, ficando isolada no sofá, depois. Tive uma conversa subentendida com Peeta, mas interrompemos quando vimos que a gente ia acabar ultrapassando algum limite.

— Ouvi a conversa — Annie disse, suspirando cansada ao se sentar. — Nossa, essa gravidez está acabando comigo. Sorte minha estar no finalzinho. Mal vejo a hora de me ver livre disso e tê-la logo nos braços. Será que vai ser ruiva ou loira?

Ri, balançando a cabeça. Só Annie mesmo, para suavizar tudo.

— Dou o palpite de que será morena — brinquei. — Só por vocês terem cabelos claros.

Riu.

— Acho que no fundo acreditamos nisso também, já que a minha mãe é morena, mas meu pai tem o cabelo loiro escuro. Só esperando ela nascer mesmo, né?

Sorri, assentindo, vendo Romeu correr pelo jardim atrás do Bandike.

— Vai ser o dia mais difícil e gratificante da sua vida, ainda mais se ela nascer de parto normal.

— Você acha que eu sou louca?! — ri. — Você foi louca em ter tido Edward por parto normal! E se ele tivesse um cabeção?!

Gargalhei, me curvando, batendo palmas. O fato era que nenhuma mãe pensa nisso, mas era um risco enorme que corríamos.

— Eu provavelmente morreria, você sabe... Mas no momento em que você pega no colo, vai ser o dia mais feliz da sua vida.

Annie estava na sala de espera, sendo a primeira da qual liguei quando soube que estava em trabalho de parto. Ela entrou no meu quarto, ajudou minha avó, só não pôde ficar comigo na hora do parto.

— Sinto-me tão absurdamente errada te dando algum conselho sobre maternidade, quando fui a que mais falhei.

— Como eu disse quando cheguei, eu ouvi a conversa, e você está arrependida, então, posso absorver algo sobre seus cinco meses presente na vida de Edward. O mais interessante é que Peeta me contou a mesma coisa que ele disse para os pais, que vocês dois decidiram que sua partida seria melhor, etc, no entanto, quando o perguntei se estava mentindo, porque eu sabia que era mentira por tanto te conhecer, ele me contou a verdade, vendo hoje você e Edward juntos é simplesmente como se nunca tivéssemos notado que você foi embora, e sim ficou durante todos esses anos, veio as festas, parabenizou Peeta depois da colação de grau no Ensino Médio, depois quando ele ganhou o diploma da universidade de Cambridge... Parece que nunca foi. Acho que finalmente entendeu o sentido de ser mãe.

Suspirei, esfregando os olhos. Ultimamente, tenho ouvido e pensado nisso, que finalmente aprendi o significado de ser mãe.

— Obrigada, Annie. Eu realmente fico um pouco animada com essas palavras.

— Está na sua cara que não é, vem aqui — disse baixinho, trazendo minha cabeça pra seu ombro, onde comecei a chorar alto, embora não intensamente, as lágrimas vinham uma atrás da outra, com um aperto no peito. Meu remédio, não tomei hoje, mas posso deixar para amanhã.

— Eu amo tanto eles, Annie — solucei, abraçando-a. — Eu quero tanto voltar e nunca ir embora!

— Calma... Shhhh... — sussurrou, fazendo carinho no meu braço, já que sua barriga não deixava que me abraçasse.

Fiquei aqui, chorando, até que Edward me chamou para dormir.

— Por que vocês estão chorando? — ele perguntou, vestido com um pijama azul para o frio. Sendo o oposto de Peeta e eu, que somos mais calorentos.

— Nada, meu bem, eu já estou indo dormir, ok? — avisei, passando as mãos nos olhos. Olhei para minha amiga, que realmente chorava, em silêncio.

— É tão comovente essas coisas, e meus hormônios estão muito desregulados. Ed, pode pedir para seu tio me trazer algum doce?

O pequeno assentiu, depois de dar um beijo na bochecha em nós duas para depois sair em disparada para dentro, recebendo uma advertência de Clove para não correr.

— Katniss, você se incomoda de dormir com Edward? — perguntou a morena, com uma calça de pano e blusa de malha de Oxford. — Porque deixamos o quarto de hóspedes para os pais de Peeta, enquanto Cato e Annie vão dormir no meu quarto e de Peeta.

— Mas onde vocês vão dormir? — Annie perguntou antes de mim.

— Na sala. Você não pode dormir no sofá — a baixinha respondeu, calma.

— Não, Clove, deixa que eu durmo na sala, então você dorme no quarto com Peeta e Ed.

— E Clo, você mesma disse que não pode colocar em risco sua saúde, por causa da gripe suína. Olha, está tudo bem para mim dormir na sala com o Cato. Eu uso ele de travesseiro mesmo.

Não consegui não rir, assim como Clove.

— Eu durmo na sala — avisei. — E eu quem estou "sobrando". Só gostaria de tomar um banho antes.

Era claro que Clove queria dormir na sala. Peguei duas vezes ela e Peeta em cantos da casa se beijando, o que significa que tinha algo para acontecer à noite.

Mas não comigo aqui.

— Ok então, vou preparar uma cama para você, e Ann, Cato está te chamando.

Então entrou.

Annie suspirou, balançando a cabeça.

— Preciso ir, mas saiba que estou orgulhosa de você. Muito bom saber que se arrepende. Mas quando é o seu caso, não há como restaurar, só se Clove cair com outra pessoa, ou morrer e...

— Annie, nem me fale nela... — interrompi, suspirando. — Nem consigo imaginar como vai ser quando ela engravidar. Talvez eu tenha uma cirrose ou hepatite.

Minha amiga riu, balançando o corpo.

— Você não muda mesmo, não é?

— Ah... — suspirei mais uma vez, endireitando a postura. — O que eu posso fazer?

— Aceitar o passado, mas mudar o presente, começando por tomar um banho e pentear o cabelo do Edward, que está um ninho. É uma guerra tremenda fazer ele pentear aquele cabelo, e parece que foge de Clove e Peeta, o que piora.

Sorri, mas ainda com o choro engasgado.

— Valeu... — dei mais um abraço nela, antes que se levantasse. — Boa noite.

— Boa noite, fique com Deus. Até amanhã de manhã!

Sorrindo para mim, se virou, entrando em casa. Eu podia ver de longe a beleza de Annie, mas com seu temperamento, sua postura, era algo ainda mais especial. Cato era a pessoa mais improvável para ela, mas eu não posso pensar em alguém que possa um dia ser tão boa para ela, não mesmo.

— Boa — desejei, me deitando no banco. — Ah, essa vida...

Não fiquei por muito tempo aqui, pois começou a chover, e precisei arrumar melhor o lugar que Romeu e Bandike dormiriam, já que estão habituados a dormir comigo. Não foi difícil, e eles se acomodaram com facilidade. Senti-me ofendida.

Entrei, fechando a porta e passando a chave, esfregando minhas mãos na coxa, pelo frio que fazia. Fiquei parada por um instante, observando/admirando Peeta ligar a lareira com Cato. Como podem uma coisa dessas? Eles são tão perfeitos, que nem com tanta beleza são feios.

Balancei a cabeça para disseminar meus pensamentos, tirando de minha bolsa roupa de dormir, depois de agradecer sincera à Clove por arrumar um lugar bem confortável para eu dormir. O relógio já sinalizava 22:47.

A morena perguntou se eu ia querer mais alguma coisa, e eu respondi que não, pedindo para que se deitasse. Parecia muito cansada, assim como eu, que ainda não sei lidar com o fuso-horário.

Ela foi, bocejando, chamando Peeta, que a seguiu, logo depois Cato. Todos me desejaram uma boa noite, assim como eu, então, peguei minha roupa e fui para o banheiro.

Discreto, pequeno e muito bem arrumado era o que definia, mas eu estava tão cansada, tão exausta, que nem reparei em detalhes, mas sorri quando a água perfeitamente morna caiu em minha cabeça e costas.

Trouxe shampoo, condicionador e sabonete do hotel, para não correr o risco de causar algum transtorno, mas mesmo com uma renda bem mais baixa do que a minha — se é que há como comparar —, tudo é de muita qualidade. Isso me fez sorrir, um pouco melancolia, claro, mas eu estava feliz por Peeta ter conseguido isso. Nunca foi uma pessoa que pensou em milhões e milhões para meta de vida. Queria ter uma vida maravilhosa, mas não necessariamente luxuosa. Fico realmente feliz que tenha conseguido.

Mesmo que bem longe de mim.

Suspirei, tirando todo o vestígio de condicionador do cabelo. Sequei-me com uma toalha que eu trouxe do hotel — anotando mentalmente para devolver —, e vesti as roupas devagar, sem muito ânimo. Eu costumo dormir tarde, lá pelas 01h da manhã, mas hoje eu estou exausta demais.

Quando sai, acompanhada de uma onda de aroma do shampoo e do vapor devido a água quente, o relógio marcava quase meia-noite.

Penteando meu cabelo com os dedos, sem muitas complicações, caminhei de volta para a sala, gelando meu estômago e coluna ao vê-lo sentado no sofá com a folha que Prim me entregou no aeroporto.

*Pensamento Censurado*

— Peeta? — chamei, incerta, colocando minha roupa suja na bolsa maior, deixando a toalha por cima, já que eu tomaria banho de manhã. Talvez.

— Você quer tirar o meu filho de mim? — Sua voz era bem baixa, quase não poderia escutar, ainda mais pelo crepitar do fogo na lareira.

— O que? Não, Peeta, isso foi um mal entendido! — Me apressei para dizer, tentando tirar o papel de sua mão, mas ele não deixou, ficando de pé, lendo mais uma vez ou as entrelinhas do documento. — Peeta, jogue isso fora, queima, por favor. Era o que eu queria fazer com isso, mas esqueci.

— Você já leu isso? Aqui diz que você vai ter a guarda integral dele. Tem até a sua assinatura e você acha que eu vou acreditar que não é verdade?! — sua voz aumentou o volume, mas não alto o suficiente para alguém se incomodar. — Mas que droga, Katniss!

— Eu estou dizendo a verdade! E eu não assinei nada disso! Peeta, eu quero o Edward mais do que tudo, mas sei o quanto você ama ele, cuidou e amou ele por todos esses malditos anos que eu estive ausente!

— Então quem foi que assinou essa droga? Essa daqui é a sua assinatura, o seu nome, e diz que eu não posso cuidar dele por ser o pai!

Prim. Como ela pôde?

— Por favor... — Senti vontade de chorar, sentindo meu peito se apertar. — Me escuta, acredita em mim...

Quando olhou para mim, vi o quão claramente ofendido e abalado havia ficado com aquele papel. Peeta estava chorando. Não dava sequer para me concentrar vendo seus olhos azuis mais intensos, no entanto, um com uma mancha verde — com a exata tonalidade dos de Annie – na íris.

— Eu não aceitei o que Prim propôs, eu juro... Quero ficar com Edward todo o tempo do mundo agora, mas Peeta, ele é seu.

Algumas lágrimas caíram dos meus olhos, trazendo uma súbita vontade de vomitar de tanto nervosismo, causando desconforto no seio esquerdo. Coração. Não tomei o remédio.

Droga.

Mil vezes droga.

— De acordo com isso, dia 01º vai haver uma audiência pública para discutir quem vai ficar com o Edward e você me diz que não sabia...? — Quando uma pessoa como Peeta fala em baixo tom e com lágrimas nos olhos, como em um momento assim, pode-se ficar emocionado com um sorriso, como pode estremecer. Significa que o magoou, mediante essa segunda opção, que se aplica a mim.

— Eu juro... — sussurrei, sem conseguir falar em tom mais alto sem que soluce. — Eu não sabia. Apenas da existência do documento, mas não vi nada, apenas pus em minha bolsa. Por favor, você tem que acreditar em mim.

Uma lágrimas escorreu por seu rosto, enquanto outra centenas caiam do meu.

— Sai da minha casa antes do Sol nascer — seu sotaque britânico perfeito ficava bem mais intenso quando estava em momentos assim. — Saia, e nunca mais volte. Isso é o mesmo referente a Edward. Esquece.

Solucei, cobrindo a boca com minhas mãos.

— Por favor, não faz isso, Peeta — pedi, sentindo minhas pernas falharem. — Eu amo nosso filho, não faz isso, por favor...

Quis correr, rodear seu corpo com meus braços e fazê-lo desistir, mas eu não tinha débito para fazer isso.

— Você, Katniss, quer tirar ele de mim! Se isso for verdade ou não, droga, ainda tem uma audiência pública para daqui a três semanas! Para você ficar com a guarda integral dele!

Então fomos surpreendidos por um soluço alto. Oh, não.

Nos olhos foram imediatamente para Edward que chorava mordendo o lábio inferior, olhando para nós dois.

— Vocês não cansam disso não? — perguntou, fungando. — Não percebem que eu só quero vocês dois juntos e a gente seja uma família? Não quero ter que escolher um ou outro.

Não consegui me manter de pé, sentando no sofá, cobrindo o rosto com as mãos e meus cotovelos no joelho. Céus...

Peguei minha bolsa, procurando logo meu remédio, mas não encontrava de jeito nenhum.

— MÃE! OLHA PRA MIM! — Edward gritou, me fazendo largar a bolsa no susto. — ESTOU FALANDO COM A SENHORA!

— Eu sei! Eu sei! — exclamei, chorando, deixando o remédio pra lá. — Vocês dois não entendem?!

— Eu entendi tudo, Katniss — Clove disse, pondo uma mão no ombro de Edward, lançando-me um olhar de pena e raiva. — Mas acho que a melhor alternativa é você ir pra casa hoje.

Peeta estava com uma mão na cintura, e outra na testa, com os olhos fechados. Eu não queria deixá-lo assim. Nunca, nunca.

— Vocês precisam entender que eu não quero tirar o Edward de vocês, por mais para mim que eu o queira — falei, engolindo em seco, suspirando. Deixei minha voz em um tom contido. — Não assinei nada, Prim me dá muitos documentos diariamente para assinar, então esse eu nem vi.

— Pessoal, o que está acontecendo? — tia Effie perguntou, trazendo para mais perto de si o robe.  — Por que essa gritaria toda? Vão dormir, crianças.

Edward olhou para a o pai, que o olhou meio sem ter o que dizer, depois olhou para Clove, então foi para os braços da avó, escondendo-se atrás dela.

Todos os olhares vieram para mim.

Mesmo com minhas pernas mostrando que falhariam, me pus de pé, em passos decididos até Edward, então me ajoelhei a sua frente, tentando segurar suas mãos, mas ele não deixou, arrancando mais lágrimas dos meus olhos.

— A senhora quer me ver longe do papai? — perguntou, com os olhos cheios de lágrimas. Ele sofria, eu podia sentir.

— Claro que não — garanti, em um sussurro. Minha voz não queria sair. — Ele...ele cuidou de você, coisa que eu não fiz. Vocês... — engoli saliva, na intenção de tirar o nó na garganta. — Vocês não podem ficar separados, eu sei disso, Edward, e não quero vê-los longe um do outro. Quero você do meu lado todos os dias, mas sei que não é o melhor para você.

— Eu quero passar todos os dias com o papai... — disse, esfregando os olhos, chorando baixinho. — Mas com a senhora também. Odeio vocês sepalados — errou uma letra, por tentar falar, não se importando com as palavras certas. — Mãe, vai pra casa.

Suas palavras tiraram de mim um soluço que doeu todo o peito. Ele estava me mandando ir embora. Ir embora.

— Edward, por favor...

— Mãe, eu nunca deveria ter ido para Los Angeles, nunca — disse soluçando, começando a chorar alto no colo da tia Effie, que tinha os olhos marejados. — A tia Clove pode um dia ser a minha mãe, eu posso aceitar. Só vai embora, por favor. Isso tudo me faz ficar mal.

Peeta estava chorando agora, eu também, e Clove ao lado do marido, parecendo sem saber o que fazer.

— Ok, eu vou embora, mas Edward... Olha pra mim — pus-me de pé, tocando seu braço. Tia Effie estava arrasada, entendendo tudo. Mexi os lábios em um pedido de perdão.

— Fala — ele não olhou para mim, com o rosto na curva do pescoço da avó, ainda chorando.

— Você uma vez me perguntou o que eu mais amava na vida... Essa coisa que eu mais amo é você.

Falei, com todo o meu coração. Fui até os fundos da casa, buscando Romeu e Bandike, ainda com lágrimas nos olhos.

— Vamos, entrem aqui... — coloquei cada um em uma casinha, dos quais entraram sem pestanejar.

Não troquei de roupa, já que usava uma calça de moletom e uma blusa branca de manga comprida, apenas coloquei a bolsa de forma transversal, calçando minha sapatilha e sai, sem nem dizer um tchau, apenas mantendo por cinco segundos o olhar de Peeta, que era totalmente legível: ele tinha entendido que eu falei a verdade, mas não podia voltar atrás por causa de Edward.

— Não seja uma estranha de novo — sussurrou, o que foi mais um mover de lábios. Só estávamos nós dois no corredor que levava para a saída. Apenas assenti, de modo quase imperceptível, abaixando minha cabeça, suspirando.

Do lado de fora um táxi me esperava, e minhas desconfianças indicam que foi Peeta quem chamou, mas estou arrasada demais.

Como uma sonâmbula, foi exatamente deste modo que agi, chegando no hotel, perseguida por paparazzis desde Cambridgeshire até o centro de Cambridge, sem esconder meu rosto, era claro meu desconforto, sem contar em segurar Romeu e Bandike que se movimentam impacientes.

Ao chegar no quarto, não me surpreendi ao ver Madge dormindo abraçada com Gale, que também dormia abraçado a ela, com a Tv ligada em Titanic. Suspirei, deixando Romeu e Bandike entrarem, mas não fiquei dentro do quarto. Me sentei do lado de fora, fechando a porta, abracei o corpo, e logo digitei uma mensagem para Prim.

"Já sabe que está demitida."

Não aguardei por resposta, sem aguentar mais chorar hoje. Guardei os soluços para amanhã.

Adormeci, de algum modo, sem ter pesadelos, afinal, eu vivia o pior deles.

Dois dias depois

Oi, Katniss, me desculpe, eu não pude atender sua ligação e nem ir te buscar no aeroporto pois estava acumulado de trabalho, meu chefe não aceitou me liberar... — suspirou. — Posso ir na sua casa?

Assim que cheguei no aeroporto, quase fui cega por tantos flashes, mas consegui lidar. O problema foi que não havia ninguém me esperando, ninguém que eu me importasse. Finnick não apareceu, nem Prim — essa me ligou 79 vezes, onde atendi a última, demitindo-a oficialmente do cargo de minha assessora, sem dar detalhes —, mas o maior problema não foi esse, quem dera. O maior problema foi que meu voo adiantou, o que me fez chegar mais cedo em casa, um dia depois dela, que disse precisar voltar na segunda-feira de manhã pois tinha uma reunião com diretores para mim.

Tudo verdade, mas uma parte ele não deixou de me contar, da qual consistia estar fazendo coisas selvagens com Marvel no sofá da minha sala, sem o menor pudor.

Meu escândalo foi inevitável, quebrei muitas coisas, pus meus cachorros para correrem atrás deles, seguranças e polícia foram chamados, e aqui estou eu, com dois pares de assistentes técnicos na minha sala pondo um sofá novo e diferente, pintando as paredes com um tom mostarda em plena terça-feira à noite, já que eu cheguei de manhã.

Finnick deixou três mensagens na minha caixa de mensagens, das quais escutei, mas não estou disposta a responder. Descobri que esse atraso que ele teve para me buscar foi porque passou a noite em uma boate. Sim, Finnick Odair. Em um Night Club.

É tanta desgraça para uma pessoa só... Talvez até o final de semana eu descubra que tenho câncer, tamanhos sentimentos ruins que tenho carregado no coração e sobre minhas costas.

Não podemos atender no momento, sinto muito se for importante, deixe seu recado depois do sinal! — A voz de Edward preencheu meu ouvido pela incontável vez, me arrancando mais uma vez vontade de chorar.

Aliás, no dia seguinte que sai da casa de Peeta, dormi no corredor do quarto do hotel, mas acordei com Madge e Gale preocupados, depois de terem me posto na cama para descansar. Chorei toda a tarde de segunda, já que passei a manhã dormindo, mas de noite aceitei jantar com eles no restaurante do próprio hotel, mesmo que o que eu tenha consumido foi apenas um pouco de batatas fritas e beberiquei um Del Vale de uva, que nem é o meu favorito. Chorei a viagem inteira, assim como antes de ir para o avião, no colo de Madge, que mostrou-se uma ótima ouvinte.

Senhorita Everdeen — deram dois toques na porta do meu quarto e me chamaram.

— O que foi?! — perguntei, ignorantemente.

Terminamos a obra, a senhorita já pode sair.

E efetuar o pagamento.

Peguei minha carteira, suspirando, e tirei algumas notas de cem dólares e outras de cinquenta, no valor certo, com uma gorjeta para eles.

— Boa noite — acompanhei-os até a porta, entregando o dinheiro. Desejaram uma boa noite para mim também, pedindo para que eu aproveitasse a nova sala. Quem se importa?

Para mim, o boa noite foi mais uma profecia, pois estavam um tanto distante de ser boa, necessariamente.

Peguei o telefone, discando o número de Peeta mais uma vez, chamando até o final, mas mais uma vez, caiu na caixa-postal. Deus, misericórdia de mim, vou morrer desidratada.

— Parem de latir! — exclamei, pegando um ossinho para cachorro para jogar para eles brincarem e pararem de latir e arranhar uma porta, mas quando vi qual era a porta, suspirei. Era a porta do quarto de Edward.

— Saiam daí... — pedi, indo até lá, em passos um pouco dengosos. — Saiam...

Mas eles insistiam, arranhando com força. Abri a porta que deixei fechada desde o dia em que ele voltou para a Inglaterra, e ao abrir a mesma, veio o aroma de seu perfume que se assemelha com algo entre cheiro de bebê um pouco amadeirado, não sei dizer. Era tão suave quanto uma brisa na primavera.

Romeu e Bandike correram animados, fungando tudo, para depois pularem na cama perfeitamente arrumada por Maggs e Edward, quando de repente Bandike desceu da cama, indo para debaixo da mesma, fazendo-me revirar os olhos.

— Fiquem aí, seus bobos... — mas no instante seguinte a mochila de Ed era empurrada pelo cachorro até mim. — Obrigada.

Agradeci, abraçado meu bichinho, pegando a mochila, sentando-me na cama. Abri, tirando de lá um caderno com o símbolo do Batman, como o esperado, já que era o seu super-herói favorito, que tinha muitas anotações, todas sobre como poderia me aproximar de Peeta e vice-versa, fazendo-me dar um sorriso um pouco emocionado. Devo ter pego alguns hormônios chorosos de Annie quando a abracei, porque não é de meu fetiche chorar assim.

A letra dele era cursiva, certa, o que me faz acreditar que tia Effie o ajudou na alfabetização, já que a letra de Peeta era apenas legível. A de Cato não passam de rabiscos, por sempre ter muito o que anotar durante a faculdade.

Deixei o caderno na cama, explorando mais o que ele carregava lá dentro, encontrando um estojo, um livro de inglês e um jogo de cartas. Mas o que me chamou atenção foi uma câmera com cabo USB. Com desespero, procurei com meus olhos um computador, mas me lembrei que Edward usa, na verdade, um notebook. Corri para a sala, conectando o cabo na TV, sendo seguida por Romeu e Bandike.

Peeta, pode explicar para as gerações futuras o que raios você está fazendo? — Assim que marquei a opção para abrir pasta, e como só há fotos e vídeos, logo a voz divertida de Cato preencheu o ambiente, com a cena de Peeta balançando o carrinho de bebê com Edward com uma mão, enquanto com a outra fazia anotações no caderno, focado.

Vá se ferrar, Cato. Não tem dever de biologia pra fazer não? Porque eu tenho muitos de química! — Peeta respondeu, irritado com o irmão mais velho.

Está vendo, Edward? Essa é a forma da qual o seu papai me trata. Com descaso e agressividade — Cato disse, mostrando Ed no carrinho, sorrindo sem dentes. Parecia ter seis meses, aproximadamente. — Ele 'tá sorrindo, Peeta. O que eu faço?

Ri do som da voz de Cato, embasbacado.

Claro que sim. Desde pequeno sabe disfarçar o incômodo que é você, seu otário — ri, abraçada a mim mesma no sofá novo da sala, que era bem mais confortável que o anterior.

Ignorante — então, pulou para a próxima cena.

Vem aqui, meu amor, vem! — Peeta chamou, sentado no chão da sala dos pais, com roupas de natal, bem pra inverno, e do outro lado da sala, Edward, bem agasalhado, suspenso pelo tio Haymitch, que ria.

Peeta, ele parece um marshmelow. Vai rolar feito uma bolinha de gude!

Todos na sala riram, enquanto Peeta apenas sorriu, fazendo um gesto chamando o filho.

Vem pro papai, Teddy! Como a gente ensaiou!

Fiquei apreensiva, prestando atenção nos acontecimentos. Não queria perder nada. Mas mesmo com um espaço temporal de nove anos para aquela cena, aproximadamente oito, pois Edward tinha alguns dentinhos, por volta de um ano e meio, eu me emocionei hoje, todo esse tempo depois, como se presenciasse a cena todinha com meus próprios olhos, sentisse o carpete azul escuro da sala dos Mellark's e sentisse o aroma do chester, chocolate quente e pinheiro, ouvindo os risos da família e toda a emoção que exclusivamente Peeta sentia, por ser o pai.

Mais uma vez eu chorei, quando em passos tropeços e desengonçados Ed chegou em Peeta. Poderia ter sido nos meus braços, se eu não tivesse vindo embora.

Fui até a cozinha, tirando do armário uma garrafa fechada de vodka, sem querer saber, e me sentei novamente no sofá da sala.

Dei continuidade para a apresentação, vendo fotos de Edward pequeno, onde uma delas eu aparecia, sentada no sofá da sala da minha avó, e o pequeno olhava um pouco sério para a câmera que Peeta segurava. Eu não me lembrava dessa foto, e nem da que veio depois, que Peeta também tirou, de Edward mamando, olhando para o pai, com seus olhos héteros brilhantes. Era o orgulho da família, embora tenha vindo de um erro que cometemos.

Em outra ele vestia uma bermudinha, tênis minúsculos e regata, com o cabelo bem bagunçadinho, em cima de um skate, olhando para baixo, como se tentasse entender.

Mais uma dose de vodka, queimando tudo meu corpo por dentro.

Apareceu uma foto que eu tirei, dele deitado de lado, dormindo, com um ursinho. Peeta mais uma vez bagunçou os cabelos da criança, mas dessa vez com um pouco de creme. Oh, Deus, como eu pude ter sido tão burra e abandonado tudo isso para trás?

Tinha diversas fotos, diversos vídeos rápidos, como de Peeta ajudando carinhosamente Edward a escrever, os dois rindo, ele com o bebê no colo dormindo no sofá da sala mesmo, então chegou um de uma apresentação de Ed, e o painel escrito 2005 atrás, sinalizando que fora apenas a dois anos.

E com vocês, Edward Sheeran Mellark! — disse um senhor, sorrindo, aplaudindo, assim como toda a arquibancada.

Está gravando, meu bem? — Clove perguntou no vídeo. Senti meu coração ficar furioso, mas ao abaixei a crina. Culpa minha.

Ela foi para onde eu deveria estar.

Claro, aqui — sorri. A voz dele era tão calma, mas a câmera tremia levemente, quebrando toda a pose forte com o nervosismo.

Ed entrou, corado, com um sorriso torto bem tímido e o baixo nas mãos.

Logo que aproximou-se do microfone, Peeta se endireitou, pegando o melhor ângulo.

Os acordes todos conhecem, Hallelujah. Meus olhos marejaram.

Eu soube que havia um acorde secreto

Que Davi tocava para louvar ao Senhor

Mas você não liga muito para música, não é?

Bem, é assim: a quarta, a quinta

A menor cai e a maior ascende

O rei frustrado compondo Aleluia

 

Aleluia, Aleluia, Aleluia, Aleluia

A platéia aplaudiu, mesmo que na primeira parte da música, e eu comecei a chorar, com a garrafa já vazia, vendo o quão talentoso era o meu filho, e que eu malditamente abri mão por orgulho, ego!

Querida, já estive aqui antes

Vi este quarto, andei neste chão

 

Sabe, eu costumava viver sozinho antes de conhecer você

E eu vi sua bandeira no arco de mármore

E o amor não é uma marcha de vitória

É uma fria e sofrida Aleluia

 

Aleluia, Aleluia, Aleluia

 

E o amor não é uma marcha de vitória.

Pude sentir as lágrimas nos olhos de Peeta, mesmo que a câmera só focasse em Edward, pois era o mesmo sentimento: orgulho. Ed era a criança mais incrível do mundo, por mais que hajam momentos em que eu apenas sinto vontade de arremessá-lo do décimo andar — todo responsável já sentiu essa vontade pelo menos uma vez em toda a vida, ninguém é de aço —, mas era em momentos assim que nós percebíamos o quão importante é estarmos presentes para não perder esses momentos, tão simples, mas tão cheios de significado.

Bem, talvez haja um Deus lá em cima

Mas tudo que eu tenho aprendido sobre o amor

É como atirar em alguém que desarmou você

E não é um choro o que você ouve à noite

Não é alguém que tenha visto a luz

É um frio e sofrido Aleluia

Cada nota Aleluia que ele cantava, com os olhos fechados, sem errar uma nota sequer, era como se fosse o personagem descrito na música, e cantava em um tom teatralmente sofrido, arrepiando todo meu corpo. Como pude botar alguém tão... Inexplicável no mundo?

A apresentação chegou ao fim, e uma chuva intensa de aplausos tomou a sala, juntamente com assobios, todos de pé, alguns emocionados, como eu. Peguei uma garrafa de uísque, bebericando.

Na próxima foto, Peeta se barbeava, e Edward ao seu lado, com aparentemente cinco anos, uma do meu ex-namorado ensinando  o pequeno a andar de skate, outra apenas de Ed olhando com os olhos pidões para a câmera, onde a cor mais predominante é o azul em ambos os olhos, então, uma de Clove, com uma expressão "e agora", mas brincalhona, com as sardas ridiculamente perfeitas para seu rosto em destaque. Outra ela estava descontraída, como se estivesse fazendo uma brincadeira com quem estava do outro lado da câmera — não sei qual deve ser a razão, mas sinto que é Peeta —, e outra ela estava olhando para o lado, com um sorriso torto curioso. Não basta ser gentil, delicada e paciente. Ela tinha que ser bonita e casada com o único cara que eu amo, depois de Edward.

Mais fotos de Ed bebê, outras um pouco mais crescido, um pequeno vídeo dele tocando bateria, e mesmo tão pequeno, possuía ritmo, com um sorriso. Tinha algumas fotos realmente de emocionar e tirar um sorriso de nossos rostos, como por exemplo, dele segurando uma mamadeira, outra comendo entrou de uma caixa. Outra mordia um ursinho, olhando atentamente para a câmera. Ri, mergulhada em lágrimas, afogando em tristezas e angústias. Ah, e também tinha umas de Peeta e ele, que simplesmente são de derreter o mais congelado coração.

O celular tocou, logo atendi, como uma louca, na expectativa de ser Peeta ou Edward dizendo que ouviram todas as minhas mensagens de voz, mas a única coisa que percebi era que Rue quem me ligava, minha nova assistente pessoal.

— Katniss, olha, sei que são 21h da noite, uma terça-feira, mas preciso tratar de algo muito sério com você. Prim estava te colocando em vários lugares bons, com salários exorbitantes, mas há desvios de dinheiro claros para a conta dela! Eu contratei um bom advogado, mas esqueci de te avisar antes, está tudo bem?

Eu já estava bêbada, meus cachorros dormiam em suas caminhas em algum lugar do apartamento, Clove estava consolando Peeta em Cambridgeshire com seus beijos e paciência enquanto tia Effie cuidava de Ed. Duas garrafas de bebida alcoólica estavam vazias no chão da sala, e a apresentação de fotos parada em uma em que Peeta ria, com os olhos fechados, divertido, sentado na areia da praia sob um guarda-sol, sem Ed, sem Clove, apenas ele feliz com alguns amigos, aparentemente entre 21 e 23 anos.

— Faz o que achar melhor, desde que não me dê dor de cabeça — falei, em um tom baixo, arrasada. Nem todo o álcool que eu ingeri me fazia ter coragem para falar ou ânimo para retomar a vida. Meus olhos estavam na televisão.

Katniss? Você está bem? Quer que eu vá aí? Estou perto da sua casa — contou, preocupada. — Sua voz está estranha... Bebeu?

— Só um pouco.

Estou indo ai — e desligou. Lancei o celular na parede, com fúria.

Quem eu queria que estivesse aqui, não está.

 


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Notas finais do capítulo

Oi, xeeeennnnte *me espreguiçando,sonolenta*
Bem, sem mais delongas, sei que a leitura acabou muito cansativa, afinal são quase nem sei mais quantas palavras.
Amanhã eu estarei postando normalmente de manhã, com um pov Peeta bem mais curto do que esse, prometo. Já está tudo pronto, só postar. Peço apenas que não desistam da fic, está no finalzinho, e eu já até mesmo contei qual será o final dos personagens, mas gostaria mesmo que todos lessem, já que chegaram até aqui. Não obrigo ninguém a ficar, pode deixar de acompanhar se quiser, mas olha, só faltam mais dois capítulos para a conclusão da fic, então o bônus, aí acabou, fic concluída, vou focar mais em ASDH. Pensei em escrever uma fic em um ambiente tipo O Menino de Pijama Listrado e O Diário de Anne Frank. Alguém leria? *sorriso torto, em busca de alguém em meio a centena de pessoas acompanham essa fic*
Hey, gente, espero que tenham gostado, isso é tudo, mais uma vez peço perdão por ter vindo postar tanto tempo depois, mas eu ganhei uma viagem de estudos para a Califórnia em Agosto, para ficar lá estudando durante meu mês de férias - olha ai as vantagens de se estudar em um colégio estadual! 4 semanas em casa por causa das Olimpíadas! -, então está tudo muito corrido, comigo precisando tirar as maiores e melhores notas possíveis em tudo, evitando faltar qualquer aula, e embora eu tenha terminado curso de inglês, ainda estudo aos sábados e domingos, sem contar com essa bendita greve dos professores, e meu calendário escolar está indo até o dia 24 de dezembro já, acreditam? Estou com muuuita coisa para fazer, muita gente para responder, muita coisa para estudar *parando, puxando ar, por eu ter falado muito rápido todas essas coisas* e essa semana agora, provas.
Sei que ninguém me perguntou a razão de minha ausência, mas eu gosto sempre de explicar, sei lá. Acho muito importante sempre manter essa relação de amigo com vocês.

OOOOPAAAA! *berrando, atraindo a atenção de todos vocês (nossa, me imaginei como professora da faculdade agora)* Gente! *risada envergonhada, porque me esqueci de passar o recado* ENTÃO, segurei vocês mais um pouco para divulgar uma coletânea de one-shot's onde eu participo, e as escritoras que estão fazendo parte são tipo, sinistras. Ellen, Manu, Leeh, Hannah, Ester, são só algumas das quais fazem parte, e outras vão estreiar (Sugar, Paçoca, finalmente, né? *revirando os olhos, mas com um sorriso sincero, feliz por vocês* tava na hora já!) como escritoras no Nyah!, o que é muito show. Eu tô nervosa pra caramba quando chegar minha vez, que vou falar do Brasil (algum mineiro e nordestino aqui?) e Peru, mas vamos que vamos! Esse é o link https://fanfiction.com.br/historia/696132/Quando_O_Mundo_Se_Tornou_Amor/ sejam super bem-vindos! ♥ Mesmo quem não quiser ler, ainda é super bem vindo e amado por todas, que estamos muito felizes mesmo por estarmos levando um projeto tão diferente para todas nós adiante!
Mas mesmo que eu não estivesse participando, eu divulgaria *risos, abraçando as meninas* Ainda não li a primeira one, mas o farei com alegria quando terminar de postar ASDH, porém posso adiantar que as meninas estão fazendo um trabalho incrível e vocês nem vão querer realmente ler o que eu escrever.
E por hoje, isso é só pessoal. Fiquem com Deus, boa noite *mandando beijo, piscando com um sorriso* Até amanhã, caso eu acorde, e um bom restinho de domingo!

Link da minha nova one-shot, para quem quiser: https://fanfiction.com.br/historia/696009/Cataflor_-_OneShot/