Treinando a Mamãe escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 12
Eu amo você


Notas iniciais do capítulo

*As cortinas do teatro sendo puxadas, então eu apareço na frente de uma platéia gigantesca furiosa comigo, que estou vermelha de vergonha de vocês por ser tão desorganizada*
Não sei o que dizer, apenas sentir. Mil desculpas por eu ter negligenciado tanto assim com esse capítulo, gente. Vocês tem todo o direito de me odiar... Mas ainda sim, espero que gostem do capítulo, que é bem maior — bem maior mesmo — do que o habitual, pois na sexta-feira é pouquíssimo provável que eu consiga postar.
TAM recebeu mais uma recomendação! *estourando fogos de artifício, gritando empolgada* Muito obrigada, Any! Mais uma vez, um suuuper obrigada pelo imenso carinho, nunca sei como agradecê-la! *te abraçando*
Só que tenho mais pessoas as quais dedicar o capítulo de hoje, que são as meigas Jlanaw, Any, Babi, Rayna e Andressa, que me mandaram mensagens. Meninas, muito obrigada mesmo por terem se dado o trabalho de me mandarem uma mensagem no privado, sou extremamente agradecida! Já disse para vocês o quão feliz eu fiquei com a mensagem de cada uma, mas deixo aqui ainda mais fixado! Valeu mesmo! *sorrindo encantada*
Para vocês que comentaram, mais uma vez, um super obrigada pelos comentários, pela gentileza de todos vocês, e quando dizem que vocês são incríveis, acreditem, pois realmente são! Sçao incríveis, são lindos, são adoráveis! *esfregando meus olhos para eu não começar a chorar de emoção por cada um de vocês atrás da tela desse notebook*
Aviso: É um capítulo com muitas palavras. Muitas mesmo, e requer atenção, pois conta algumas coisas sobre o passado da Katniss e do Peeta. Peço perdão por não conseguir mais objetiva ://



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Here Comes The Sun tocava em fones de ouvido, e alguém está de olho em mim.

Abri meus olhos. Queria ter feito isso rapidamente, mas meus músculos latejavam demais. Uma morena está está sentada em um sofazinho perto da cama do hospital, usando máscara.

— Eu por acaso te conheço? — perguntei, esfregando os olhos, sentando-me. Nossa, como meu corpo doía.

— Sim, mas apenas por telefone — respondeu, colocando uma mecha do cabelo liso, liso atrás da  orelha. — Sou a Clove.

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas de... Raiva!

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, querendo cruzar os braços, mas ambos estavam vermelhos. Edward.

— Ele precisou passar por uma cirurgia de emergência, mas está tudo bem — disse, serena, levantando-se. — Você de algum modo finalmente fez algo útil para ele nesses anos todos.

Seus olhos eram castanhos, mas tão eletrizantes como se fossem azuis e lembrassem fios elétricos.

Com certeza meus olhos refletiam medo, não dela, mas do pior ter acontecido para Edward.

— Ele está realmente bem? — Ignorei a verdade em sua segunda fala. Eu já vou ouvir uma cambada de lições de moral do Peeta, mas dessa vez a única coisa que me cabe é abaixar a cabeça e reconhecer meu erro.

— Sim, está. Por qual outra razão eu não teria voado no seu pescoço se ele não estivesse bem? Você já estaria morta pelas minhas próprias mãos — seu rosto branco ficou vermelho, e eu me arrepiei, mas se ela pensa que pode vir aqui e me colocar o terror dessa forma...!

Ela está completamente certa.

Mas não precisa saber.

— O que você está fazendo aqui, Clove? — perguntei. Estou tão cansada, com tantas dores, que não consigo agir com ignorância.

— Porque eu estava com suspeita de gravidez também — disse, suspirando. Parecia contente com a ideia, mas foi apenas uma suspeita. Graças a Deus. — Peeta veio buscar meus exames, dez segundos depois de você ter entrado. Estou aqui porque sua assistente foi comprar algo para comprar e pediu para alguém ficar aqui com você. Só que acho que ela não sabe que eu sou a esposa do Peeta.

Revirei os olhos.

— Ah, Primrose sabe sim! — falei, balançando a cabeça. — Onde você acha que eu descobri que você é irlandesa e não britânica?

Ela riu.

— Talvez. Mas todo meu sotaque é da Inglaterra, e não da Irlanda, por mais que eu goste e faça uma visita todos os anos. Sua amiga já está voltando com uma senhorinha que precisou ir na sua casa dar comida pra os seus cachorros.

— Olha como você fala do Romeu e do Bandike. Eles são os meus melhores amigos e familiares mais próximos — corrigi, irritada. Ninguém chama os meus meninos de cachorros.

— Vamos falar sobre a minha família — seu tom era tão sério, que eu até me arrepiei. Ela tirou a máscara, e eu pude ver melhor o seu rosto fino, com sardas um pouco dilatadas. Talvez pelo calor. Eu tinha algumas quando era mais nova. Sua beleza era inegável, o que é uma grande droga. Ela poderia ser modelo.

— Precisaram cortar a garganta do Edward, para ele conseguir respirar, e depois, ele quase morreu, e o laudo constou princípio de infarto. Sabe o quanto eu quis cortar a sua garganta por quase ter matado Ed e tirá-lo de mim e do Peeta? Fizeram isso com o Ed, a sangue frio. Ele ficou chorando, mas não conseguiu falar na hora, e não recebeu nem uma anestesia sequer.

Senti um sério frio na espinha e um nó na garganta, impedindo a passagem de qualquer coisa naquele instante. Ele sofreu por minha causa. Minha causa.

— Clove, eu juro que não foi a minha intenção. E o Edward é o meu filho. A última coisa que eu gostaria era que ele passasse por toda essa situação — quis chorar, mas não na frente dela. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas não deixei que nenhuma caísse.

— E eu com isso? — perguntou, com os olhos semicerrados, comprimindo os lábios vermelhos pelo batom. — Katniss, eu amo muito esses dois para vê-los sofrer de qualquer maneira. Eu espero que você tenha realmente mudado. Digo isso como esposa, madrasta e principalmente amiga, pois depois do que o Peeta e o Edward passaram hoje, eu seria obrigada a fazer um estrago nesse seu rosto que desfila para a Dior, e da mesma maneira que influenciei para que passasse esse mês com o Edward, eu posso influenciar para você nunca mais nem saber onde ele mora, ouviu?

Arrumei-me na cama, sentindo meu pé esquerdo queimar, enfaixado. Suspirei, fechando os olhos.

— Você poderia por favor me deixar sozinha? Obrigada pela sua companhia, e se não acredita em mim quando digo que não era minha intenção, o problema é seu. Poderia me deixar sozinha?

Antes que pudesse falar, Maggs entrou com Prim – que comia uma coxinha e na outra mão carregava uma lata de coca-cola.

— Oi, Clove, muito obrigada por olhá-la por nós — Maggs disse, serena. A morena foi até ela, assentindo.

— Não foi um incômodo. Vou ir lá falar com o meu marido. Tchau — colocou a máscara novamente, antes de dar um sorriso torto e sincero para Prim e Maggs, mas antes de sair, pelas duas estarem de costas pela porta, Clove me lançou um olhar de "não ouse fazer o que fez de novo", e honestamente, eu não faria, mas se eu fosse um pouco louca, aquele olhar pararia qualquer atitude que eu fosse tomar errado.

Engoli em seco, vendo a porta se fechar, então, com uma piscada dos meus olhos, duas lágrimas pesadas caíram na minha bochecha. Curvei-me um pouco, cobrindo o rosto com as minhas mãos, mas sem chorar.

— O que ela estava fazendo aqui? — perguntei.

— Katniss, nós precisávamos deixar vocês para conversar — Prim disse, tentando disfarçar o desconforto da situação toda.

— E ela é um amor de pessoa — a senhora completou.

— Mas ela é a bendita esposa atual do único cara que eu amei de verdade e cuida do meu filho, inferno! — gritei, olhando furiosa para as duas. — E se ela fosse uma maluca e resolvesse acabar comigo? Vocês não saberiam!

Suspiraram juntas, trocando um olhar que eu não entendi, honestamente.

— Me desculpem... — falei, respirando fundo, depois de esfregar meus olhos. Não consigo mais ficar nesse clima horrível com elas duas. — Foi mal.

— Tudo bem — Prim disse, depois de ter colocado a coxinha na bolsa de plástico com outro salgado. Que raiva de mim. — Nós trouxemos roupas para você.

Colocou com cuidado uma mochila na cama.

— Por quanto tempo eu dormi? Quem colocou essa roupa de hospital em mim? — perguntei, puxando a mochila, abrindo-a.

— Duas horas, apenas, e foram nós quem te trocamos, não se preocupe — Maggs disse, com um sorriso irônico. Ela tem quase sessenta anos, não é incomum que saiba esse tipo de coisa? Sorri.

— Obrigada — agradeci, olhando para elas. Queria que enxergassem nos meus olhos o quanto eu realmente era agradecida. Passei tantos anos da minha vida xingando-as, tratando-as com ignorância, mas agora, de duas semanas para cá, eu podia ver o quanto eu fui idiota. Elas não querem o meu mal.

Ambas trocaram olhares emocionados. Eu sabia que eram amigas, e que eram as minhas também.

— Gente, o Edward... Ele está realmente bem? — perguntei, sentindo um buraco no coração.

— Sim, agora está, no quarto, no entanto, apenas o pai dele está lá porque deu para ver o quanto ele ama o Edinho — Maggs disse, tranquilizando-me. — Depois das 23h você já pode ir visitá-lo.

Olhei para o relógio, que tiquetaqueava 19h43min.

— Dei entrada com ele que horas? 16h30min? — perguntei.

— Por aí. Não sabemos muito bem, só chegamos umas cinco e pouca, não foi, Prim? — a loira assentiu. — Vimos pela televisão. Aí o seu celular não ligava, até que Peeta ligou pra casa. Estava devastado.

Mordi os lábios. O que isso significa, afinal? Foi apenas por Edward, Katniss.

— Tudo bem… — suspirei profundamente, fechando meus olhos, cansada. — Estou com muitas dores. Podem me ajudar a me levantar?

Sem pestanear, e com um sorriso no rosto, as duas me ajudaram a por os pés no chão, auxiliando-me ocasionalmente no banho, onde tudo correu bem.

Enquanto Prim terminava de comer, Maggs penteeou meus cabelos, fazendo uma trança escamada, o que me deixou com um sorriso, então logo depois se despediu, me deixando com minha assessora, apenas. Ninguém ligou a TV em algum canal de fofoca, apenas deixamos no Telecine Pipoca HD, que passava Uma Linda Mulher.

— Eu preciso ir pra casa, Katniss — A loira disse, franzindo o cenho para o celular. — Robert esqueceu as chaves.

Ri, assentindo. Era seu irmão mais novo de 18 anos que vinha ocasionalmente visitá-la.

— Tudo bem, daqui a pouco eu vou ir ver o Ed.

— Vá sim, e me dê notícias. Diga para ele que amanhã receberá muitos presentes, doces e coisas da DC Comics, e um pedido de namoro, pois sabe como é… ele está com um corte na garganta, o que vai deixar uma cicatriz bem sexy. Aliás, mencione o quão sexy ele vai ficar. Pra animar a autoestima.

Revirei os olhos, mas era verdade a primeira parte. Amanhã vai ser um dia de muitos presentes, mas sei que ela já deu um jeito de darmos conta da coisa toda.

— Muito obrigada, Prim. Mandarei lembranças, com certeza — abriu um sorriso gentil, acenou e saiu pela porta, me desejando melhoras e para chamar uma enfermeira no caso de qualquer coisa que eu sentisse a mais, pois com o meu problema de pressão, quase que eu e Edward morremos, literalmente. Eu podia ter tido um enfarto.

Talvez fosse melhor que eu tivesse tido, pois por alguma razão, fui levada a uma lembrança de anos atrás, da qual eu havia me esquecido.

* Flashback on *

— Peeta, eu não estou entendendo essa matéria — falei, suspirando, sentindo meus seios doloridos. Edward não quis mamar hoje, e ontem pareceu que ia morrer de fome.

— Amor, eu estou tentando te explicar. Preste atenção. Parece que vai fugir ou sei lá... — disse em um suspiro, esfregando os olhos. — Por que não volta para a escola?

De fato, tenho estado muito pensativa, e uma delas é com uma proposta da minha mãe, que foi até a casa da minha avó e sugeriu que eu fosse com ela e o meu pai para os Estados Unidos. Uma descobridora de talentos se interessou por mim.

— Porque o Edward não pode ficar sob responsabilidade da minha avó e da sua mãe, Peeta. É injusto — lembrei, olhando-o. Ele parecia mais velho depois desses meses que Edward nasceu, e agora já está com cinco meses de vida. Mal dá para acreditar o quanto o tempo voou.

— É... Mas eu estou indo estudar. E ninguém fica em cima de mim, entrevistando. É bobeira sua, querida. Vamos, por favor. Vai eu e você, e qualquer coisa eu te protejo e bato em alguém que quiser fazer gracinha.

Estiquei meus braços, com os olhos marejados. Essa semana Effie me forçou a ficar aqui para ela ficar um tempo com o Ed também, então eu vim, e Peeta tem se mostrado cada dia mais calmo e gentil comigo.

Ele me abraçou, então, ouvimos um chorinho sofrido, baixo. Nos separamos, e imediatamente olhamos para a babá eletrônica.

— O que você acha que é? Não me lembro dele ter chorado assim alguma vez — ele disse, enquanto subíamos quase desesperados os vinte e cinco degraus de sua casa que dava no segundo andar. Ed estava no terceiro, no sótão, que agora é o quarto do meu namorado.

— Eu não faço ideia — respondi, entrando correndo no quarto, com Peeta logo atrás, até o berço.

— Shhhh, está tudo bem, está tudo bem... — sussurrei para Edward, cansada, mas o afaguei, só que ele começou a gritar, inquieto. — Calma, bebê, calma...

Senti vontade de chorar por nunca saber o que fazer, honestamente. Não sinto que nasci para essa vida.

— Ai meu Deus, Katniss, ele está ficando vermelho! — Peeta exclamou, pegando o nosso filho no colo, então pude reparar mais. Nunca havia visto ele daquele jeito.

Por puro instinto, arrumei Edward no colo do loiro de forma que ele ficasse totalmente de frente para mim, então abri seu macacãozinho, entreabrindo os lábios, assustada. Tinha marcas de seus dedinhos que provavelmente estavam arranhando seu peito, que estava arroxeado, como se ele estivesse fazendo aquilo a um tempão.

— Pega o carro, Peeta! Anda, vamos logo para o hospital! — gritei, pegando Edward com uma mão, quase voando para buscar a bolsa dele, sempre arrumada para toda e qualquer situação.

Peeta concordou, e desceu as escadas correndo extremamente apressado, indo até o telefone, quando algo ainda pior aconteceu: Edward não estava respirando muito bem.

— ANDA LOGO COM ISSO, PEETA! — berrei, sem nem colocar Edward na cadeirinha, e sim abraçando-o, sem fazer ideia do que poderia fazer.

— Eu estou indo! Espere! Espere! — gritou também, com o rosto avermelhado. — Acha que eu já não estaria lá?! Que saco!

Tentei manter a respiração nos conformes, mas era impossível. Eu quero bater nele, e então, quem sabe, me bater, mas depois que Edward estiver sã e salvo no hospital.

Peeta tirou a carteira de motorista no mês passado, mas como ainda não tem um carro, ele e Cato dividem.

— Peeta? — chamei, vendo-o tamborilar os dedos no painel, sentado no banco esquerdo do carro, sendo que o banco do motorista é o direito, aqui na Inglaterra. — POR QUE VOCÊ NÃO ESTÁ DIRIGINDO?! O NOSSO FILHO ESTÁ MORRENDO!

Assustado com os meus gritos, provavelmente, Ed começou a chorar mais alto, de forma sofrida que eu não consigo lidar. Comecei a chorar também, e acho que é o que o Peeta começou a fazer.

— Precisei chamar alguém — e no instante seguinte, Cato entrou no carro, com o cabelo todo bagunçado e o rosto amassado e vermelho.

— Foi mal, gente, eu estava dormindo.

Não levou mais de dez segundos para o seu Audi estar nas ruas de Liverpool.

— Caramba! Caramba! Como vocês foram tão bobos assim de não perceber uma coisa dessas com o Ed, gente?! — perguntou, com os olhos focados na pista. Parecia que nunca íamos chegar no hospital, que estava a mais ou menos dez minutos de onde nós estávamos.

Cato está cursando Medicina, está no sexto período, pretende se especializar em oncologia, mas ele pode – e muito – jogar algumas coisas na nossa cara.

— Ele só estava se coçando antes, Cato, não pude imaginar que podia chegar a esse ponto! — respondi, em lágrimas, vendo Edward se contorcer todo, aos gemidos baixos, passando a mãozinha no peito, na intenção de fazer parar de doer. Então, paramos em um engarrafamento enorme, com muitas buzinas e luzes à tona.

— Peeta, acho melhor você descer e ir correndo com o Edward — Cato sugeriu, abrindo a janela do carro, inclinando-se para fora.

— Cato, está nevando! Ele pode ficar pior nessa neve toda! — Peeta disse, mas tirou o seu cinto, pegando a bolsa do filho.

Não esperei uma iniciativa de nem um e nem outro. Abri a porta do carro e saí, apertando com cuidado Edward ao meu corpo, para aquecê-lo. A neve caía sobre minha cabeça, e o chão estava branco, com uns bons cinco centímetros de neve, e eu, com chinelos, apenas, o que logo fez meus pés queimarem. Gemi de dor, querendo chorar ainda mais, mas não podia. Edward não estava respirando.

Comecei a correr, e Peeta gritando atrás de mim, assim como Cato, ambos desesperados, mas que se dane, eu sou a mais desesperada aqui.

Corri com o pequeno no colo, protegendo-o com o meu corpo, então logo depois Peeta estava ao meu lado, ajudando-me. Chegamos em cinco minutos no hospital, movidos apenas pelas nossas pernas e desespero.

— Ele não está respirando! — gritei, correndo até mais que Peeta ao nos aproximarmos mais da ala de emergência. Prontamente vieram socorrer o bebê, então, eu teria desabado se os braços de Peeta não tivessem me pego no colo meio segundo depois, onde caí em desespero absoluto.

— E se ele morrer?! E se ele morrer?! — minhas pernas latejavam, como se tivessem sido moídas, assim como todo o resto do meu corpo, mas ainda sim eu encontrava forças para chorar.

Ele se sentou em uma das cadeiras da sala de espera, distante de outras pessoas, enquanto duas enfermeiras cuidavam dos meus pés, que pareciam que ia cair.

— Não sei, mas nunca vou te abandonar, ouviu? — sussurrou no meu ouvido, como se fosse um segredo. — Eu ainda Flocos de Neve você, e o Teddy vai se sair bem. Ele é forte. É o nosso bebê, Katniss.

Fechei meus olhos, acalmando o choro, mas me apertei mais ao seu peito, em busca de segurança. De alguma forma, eu encontrei.

* Flashback off *

— Você já pode vê-lo — disse a enfermeira, sorrindo gentilmente, indicando o corredor do quarto das crianças, e o clima dava realmente como se fosse um pedaço do Céu, com as paredes pintadas de azul, com pequenos desenhos de nuvens, que pareciam reais, e acalmavam tudo.

— Obrigada — minha voz não saiu muito alta, mas ela ouviu, lançando-me um sorriso solidário.

Me reconfortou, mesmo que tão simples fosse este gesto.

Caminhei com um pouco de dificuldade até a última porta, que tinha desenho do mar. Suspirei profundamente, fechando meus olhos. Meu coração batia forte no peito, não era como amor de amantes, e sim um... Um amor que uma mãe tem para seu filho. Meu pé direito latejava com os enfaixes, mas não liguei muito para isso.

De alguma forma, quando eu descobri que Edward tinha Cianose, eu entrei em estado de estopor, não sabia como lidar, não mesmo, e uma semana depois, bati na porta da minha mãe com uma mala na mão, dizendo:

— Estou sozinha.

Eu, ela e o meu pai pegamos o primeiro voo para Nova York, onde eu não consegui chorar, apenas me sentei na cadeira da primeira classe e abracei minhas pernas, colocando o rosto sobre meus joelhos, olhando uma foto que eu, Peeta e Edward estávamos juntos, tirada quando o nosso filho tinha dois meses de vida. Todos nós sorríamos. Ed não foi uma criança que deu necessariamente muito trabalho, mas aquele dia era especial. Era o meu aniversário de 16 anos, e ele parecia saber que era um dia especial. Quase morri de tanta dor no peito por aquilo tudo, então sinto que foi daí que a coisa toda começou a mudar. Eu comecei a mudar.

E Peeta também.

Quando eu ia abrir a porta, dei uma olhada na janela de vidro, ouvindo risadas, risadas de pessoas que eu tanto amo. Edward e Peeta riam. O loiro estava sentado ao lado da cama, brincando com os mãos do pequeno, que ria, usando uma espécie de pregador no indicador, e tinha um curativo na garganta, onde fizeram o corte para ele respirar, o que fez meus olhos se encherem de lágrimas mais uma vez, porque a culpa havia sido toda minha. Completamente minha.

Não entrei. Dei dois passos para trás, com uma mão na boca e outra no peito, sentindo o choro vir lentamente, escorrendo com dor pelas minhas bochechas.

Katniss Carter Everdeen, a quase queridinha de Hollywood, sempre muito agressiva com as pessoas ao seu redor, hoje chora porque finalmente descobriu que é uma grande filha da mãe, egocêntrica e mesquinha. E quase matou o próprio filho.

Em minha mente, elaborei uma manchete. Sem dúvidas seria a revista mais comprada e a notícia mais circulada do mês, a menos que algum ataque terrorista aconteça.

— Katniss! — Ouvi a voz de Finnick, o que me fez abrir os olhos e levantar a cabeça para olha-lo. Estava com o cabelo molhado e roupas sociais. Por ser oito da noite, imagino que tenha saído do trabalho e vindo direto pra cá. Me conhecendo mais do que eu poderia imaginar, caminhou até mim, e me deu um abraço carinhoso, beijando o alto da minha cabeça. — Foi mal, eu juro que fiz o possível para vir mais cedo, mas Chaff me encheu de trabalhos e...

Apenas encostei meus lábios nos dele, que tocou meu rosto com cuidado. Era tão gentil feito uma nuvem cobrir cuidadosamente o Sol durante a primavera.

— Obrigada por vir. Ainda não fui falar com ele, estava indo fazer isso agora — eu disse, passando as mãos nos olhos.

— A Anny está sozinha em casa, porque tem certos traumas com hospitais, então não posso demorar, mas olha — segurou meu rosto com suas mãos suaves, e me fez olhar em seus olhos verdes como a campina, que me deixavam sempre muito emocionada. — Qualquer coisa você me liga. É porque realmente não posso ficar aí para esperar você falar com ele, e depois eu cumprimentá-lo, mas quero que saiba que eu me importo.

E nem precisava dizer. Seus olhos entregavam o seu carinho, e isso acabou com mais algumas paredes ao redor de mim que foram construídas ao longo dos anos.

— Só tenho o que te agradecer. Peço desculpas pela forma que eu agi com você no restaurante ontem, assim como com a Anny. Eu não sou a pessoa certa para você chamar de noiva na recepção do hospital, não sou — eu queria parar de ser tão vulnerável quando o assunto era família e relacionamentos sérios.

O mais próximo que tive nesse tempo todo foi com o Nicholas Hoult. Brigávamos constantemente, e eu era a única que fazia alguma coisa para melhorar nossa relação, tentava fazer que a coisa ao menos se tornasse paixão, até fiz a maior estupidez da minha vida inteira que foi mandar fotos minhas quando ele pediu. Me fazia bem, eu fazia bem para ele, mas não funcionou. Meu coração nem sequer batia forte de surpresa, a menos que estivéssemos na cama.

É horrível pensar dessa maneira, mas é como eu me sentia. Três anos perdidos, gastos com idiotice, e ele ainda apareceu em rede internacional dizendo que era uma vergonha sobre as minhas fotos, enviadas para ele.

No entanto vem Finnick, arrancando risadas de mim com apenas uma expressão, deixando Edward feliz e é recíproco, com os olhos transbordantes de carinho e gentileza, enquanto eu sou um poço sem fim de ignorância.

É injusto que ele fique comigo. Injusto.

E porque não estou incluindo o amor de pessoa que Anny é.

— O que você está querendo dizer? — perguntou, me olhando intenso. — Katniss, não somos adolescentes. Eu entendo muito bem essas coisas. Só estamos ficando faz uma semana, mas saiba que eu realmente tenho muito carinho por você, e que a qualquer momento, se precisar de um amigo eu vou estar com você — e me deu mais um daqueles seus beijos que me deixam com a sensação de que vou levantar voo, com tantas borboletas no estômago, mesmo que não acelere o coração.

— Vou dizer para ele que você veio — falei baixinho, com os olhos fechados. — Eu gosto muito de você.

Senti que ele sorriu, e eu abri meus olhos, confirmando.

— É ótimo saber disso, porque eu também — beijou o topo da minha cabeça mais uma vez, então nos despedimos. Peeta e Edward ainda conversavam aos risos, mesmo que a voz do pequeno estivesse mais baixa.

Vou entrar, falei para mim mesma, então, tomei coragem de entrar, fazendo o assunto parar na mesma hora.

— Oi... — falei baixinho, em um fio. Vou começar a chorar a qualquer segundo.

— Mãe, estávamos falando agora sobre a senhora! — Ed disse, abrindo um sorriso largo para mim, o que me fez sorrir no mesmo tom, mesmo que eu quisesse chorar e pular nele, soluçando e dizer o quanto ele é importante.

Eu e Peeta trocamos um olhar intenso, e o sorriso ainda dançava em seus lábios, mesmo que bem mais contido agora.

— Amor, eu já volto — desviou nossos olhares, beijando o alto da cabeça de Ed, que sorriu carinhosamente para o pai. O amor entre eles era tão real como o ar que respiramos. Peeta passou pela porta, fechando com cuidado, passando ao meu lado sem nos encostarmos. Engoli o choro.

Fui até o meu filho e o abracei, sentando-me na cama, de frente para ele, permitindo que meus braços rodeassem sua cintura e pescoço. Como são meus últimos momentos de vida, com certeza, porque o loiro vai me matar, deixei o corpo leve, fechando meus olhos, sentindo seu perfume de bebê.

— Me perdoe, sério, Ed, me desculpa — pedi, começando a chorar, sem ter coragem de soltá-lo.

— Calma, mãe, eu estou bem! E agora tenho uma cicatriz maneira! — ri sincera, com a voz embargada. Nos distanciei por alguns instantes, e olhei em seus olhos perfeitos. Um cinza e um azul, fazendo um contraste detestável entre tempestade e mar caribenho, mas eu aprendi a amar esses olhinhos, que puxaram exatamente a personalidade de mim e Peeta.

— Não peça desculpas! Papai me contou o que a senhora fez, e eu me lembro também. Como conseguiu me pegar no colo? Mães não são como a Mulher Maravilha, no entanto, acho que vocês são bem mais incríveis.

Ele falou tudo rápido demais, mas eu sorri, emocionada.

— Ed, uma mãe faz qualquer coisa pelo seu filho. Podemos ser mais fortes que a Mulher Maravilha — brinquei, sorrindo torto, dando um soquinho em seu ombro. Ele riu, assentindo. Seu sorriso estava ainda mais bonito. Tudo nele estava mais bonito diante os meus olhos. Era como se ele tivesse uma auréola sobre sua cabeça, mas eu finalmente pudesse enxergar melhor agora.

— E de onde vem a força de vocês? Pai me disse que você é uma heroína para mim, aí sua força é dada conforme eu preciso, como era com Sansão na Bíblia, aí o Espírito Santo dava forças para ele, e tudo mais.

Seus olhos eram curiosos.

— Vem desse sorriso aqui — toquei suas bochechas com os indicadores, e ele sorriu, bobo. — Vem daí. E eu não sou sua heroína. Apenas consertei algo que eu jamais poderia ter deixado acontecer.

Eu ia voltar a chorar, e não sei se seria capaz de parar.

— Mas mãe, é isso o que os verdadeiros heróis fazem — mexeu-se um pouco na cama, parecia querer se sentar, mas tinha agulha em seu bracinho direito e o "pregador" no indicador esquerdo.

— Ah, Edward... — o abracei apertado mais uma vez, segurando com todas minhas forças as lágrimas. — Eu amo você.

Falei.

Essa frase parecia ter sumido do meu vocabulário há muitos anos, e esse sentimento, esse amor, não pensei que sentiria por alguém que eu julguei ser um problema tão grande para mim, quando na verdade ele é a solução para tudo, embora eu e Peeta tenhamos feito isso no tempo errado.

Esse amor era diferente. Era um amor que ardia o peito, mas sem fogo. Gelava a barriga com um simples sopro.

O corpo de Edward deu uma tremida, então ele começou a chorar, chorar muito, trazendo-me para ainda mais próximo.

— Você está machucado? – perguntei, preocupada, levando um susto com seus soluços, mas ele não me deixava soltá-lo.

— Mãe, não precisa se desculpar comigo, não hoje, com tudo isso acontecendo. Não precisa. Eu amo a senhora também, e eu sempre imaginei o dia que ia ouvi-la dizer isso, apenas conversas da tia Clove discutindo com o meu pai que eu não deveria mais ligar para você, que nunca me amou, nunca se importou, mas agora a senhora está aqui. Salvou a minha vida, mesmo que a culpa de eu quase ter morrido tenha sido sua... — olhou em meus olhos. Seu rosto estava avermelhado, o que com certeza não está muito diferente do meu. — Eu amo a senhora também.

Ri, começando a chorar, trazendo-o para o meu peito, deixando minha cabeça no alto da sua. Era o momento mais clichê e idiota para se dizer uma coisa dessas, e fácil, inclusive, pois quando finalmente sentimos o arrepio de poder perder quem a gente se importa, logo dizemos que é amor, que amamos, e que sentimos falta, porém Edward me ensinou a amá-lo durante essas quatro semanas, me treinou como ser mãe, finalmente, e aqui estávamos nós.

Depois de um tempo fazendo carinho em seu braço, as lágrimas dele cessaram, e o relógio marcavam 23:49 da noite. Ele ressonava baixo e tranquilo, dormindo sereno quanto uma garoa.

O acomodei melhor na cama, cobri seu corpo até um pouco acima da cintura, aumentando a temperatura do ar para que não sinta frio. Beijei sua testa, depois deslizei com todo o cuidado do mundo os polegares por debaixo de seus olhos.

Sentei onde Peeta estava, e abracei meu corpo, ficando de lado para a cama. Fechei meus olhos, depois de tanto lutar para me manter acordada e ficar ao lado dele, preparada para qualquer coisa. Dormi.

*

— Hey, Katniss, Katniss, oooo, acorde! — ouvi alguém dizer, me empurrando levemente. O simples toque da ponta de seus dedos me causavam arrepios.

— Uhum — balbuciei, sabendo que era Peeta. Nem abri os olhos.

Até sonolenta eu tenho um alto senso de defesa.

— Oh, cale a boca! Anda, acorda! — e me deu um empurrãozinho mais forte, que me fez abrir os olhos, esfregando-os. Seus olhos azuis me encaravam — sendo um deles com heterocromia, o que acarretou em uma mancha verde como a campina —, preocupados.

— O que foi? — perguntei, rouca.

— Nada. É que eu quero ficar aqui também, chega pra lá.

Revirei os olhos, bufando, indo para o lado esquerdo da poltrona, que era quase um mini-sofá, onde até que dava para eu e ele ficarmos sentados, mas a lateral de nossos corpos se encostavam.

Em silêncio, passou para mim um saco com pães de queijo quente.

— Sua assessora me disse que você não quis comer nada o que a enfermeira trouxe e não aceitou nada que ofereceu — nenhum de nós ousava olhar um para o outro. — Teddy precisa de você saudável para ligar para ele todos os dias e visitá-lo no mínimo duas vezes no mês em Cambridgeshire, pois as férias acabam em uma semana.

Entendi o que quis dizer, o que me fez esboçar o mínimo dos sorrisos, mas eu estava feliz.

— Ela disse que queria rasgar a minha garganta — falei, no mesmo tom baixo. — E eu apenas senti vontade de fazer o mesmo que... — coloquei um pão de queijo na boca, inclinando o saco de papel para ele, que pegou um também — ela.

— Acontece que Clove ficou com raiva — respondeu, suspirando. — Eu corri para te pegar no colo, enquanto ela estava no carro sofrendo porque o exame de gravidez deu negativo.

Foi minha vez de suspirar, mas eu senti um formigamento na ponta dos dedos de alegria. Claro que foi ele quem me pegou no colo. — Sorte sua que eu voltei para buscar a carteira. Ou eu já teria ido no The New York Times dizer que você quase matou o nosso filho.

Nosso filho.

Minha respiração acelerou, mas agi de forma que ele não notasse minha agitação por tudo isso.

— Eu juro que foi sem querer, Peeta, sério — falei, e sem querer, toquei em sua coxa, em busca de apoio. Preciso pedir perdão. Ele olhou assustado, um pouco, olhando primeiro para minha mão na sua coxa, depois para meu rosto.

— Eu acredito em você, pelo amor de Deus — disse, calmo, mas eu vi a tempestade atrás de seus olhos. — Nós já passamos por isso uma vez, lembra?

Suspirei, assentindo.

— Parece que foi ontem.

Ele suspirou mais uma vez, relaxando as costas na poltrona. 02:40 da madrugada.

Edward dormia de lado, de costas para nós dois, mas seu bracinho com a agulha não corria o risco de machucá-lo.

Se eu fechasse meus olhos, podia sentir os lábios de Peeta no meu pescoço, e trocando energia, com os corpos quentes depois de uma noite acordados, juntos, mas ao abrir, mesmo que a lateral de nossos corpos estivessem encostadas, nós estávamos conectados por alguns fios, e a fonte de energia que nos mantinham ligados, juntos, era Edward.

Mas meu coração terrivelmente palpitava de amor pelo loiro.

— Quero que ele venha para me visitar aos feriados — falei, baixo, olhando para os fios de cabelo castanhos de Ed no travesseiro. — Por exemplo, no dia de Ação de Graças, ele fica com você, mas no Natal e Ano Novo, comigo.

— Só se você pagar a passagem aérea — respondeu. — Até o ano que vem, para eu poder quitar todas as contas do hotel e a hipoteca da casa.

— Claro, não se preocupe com isso — garanti, balançando a cabeça. — Olha, sinto que ele não vai acordar pelas próprias horas.

— Tem um ótimo jardim nos fundos — sugeriu. Não nos olhávamos, e sim para Edward, o que seria cômico se estivesse sendo passado no cinema.

Me levantei, sendo seguida por ele. Demos uma última olhada no Ed, mas ele quem se aproximou mais, tirando alguns fios insistentes que caíam no rosto do pequeno, sussurrou alguma coisa carinhosa, pois mesmo dormindo Edward sorriu, mexendo-se um pouco. Peeta sorriu, então veio até a porta, fechando com cuidado.

Seguimos lado a lado pelo corredor vazio, mesmo que alguns quartos estivessem ocupados, parecia que o mundo havia ficado em silêncio para nós dois não darmos quaisquer desculpas para não conversar.

— Ainda gosta dos Beatles? — perguntou, risonho, notando a blusa da qual eu estava, que o pertencia. Pertencia, pois agora é minha propriedade. É a única coisa física que tenho dos nossos tempos. Nem senti que era a blusa que Maggs me trouxe, mas gostei. Era a blusa que ele vestiu no nosso primeiro encontro. Depois da nossa primeira noite, ele também usou, pois eu vesti sua camisa social. Peguei para mim na noite em que parti, vestindo-a, depositando um beijo casto em seus lábios finos e macios, e mesmo que ele estivesse dormindo, não deixada de ser tão lindamente convidativo.

— Algumas coisas a gente não pode mudar. O bom gosto é uma delas — respondi, fazendo-o rir um pouco.

— Eu procurei igual um maluco essa blusa durante uma semana todinha, então me dei conta de que você tinha levado consigo. Odiei eles por uns seis, sete anos, e acho que ainda odeio, mas gosto de ouvir o Teddy tocando no violão.

Esbocei um sorriso, continuando a caminha, aprovando o silêncio, eu e ele comíamos pão de queijo, sem sentir.

— Eu ouvi ele tocar e cantar Hey Jude.

— Violão ou teclado?

— Violão — senti ele sorrir. — Como ele se interessou por isso?

— Não sei bem... Talvez por causa do Cato. Ele costumava tocar Elvis Presley quando a época de provas se aproximava, lembra? — ri, assentindo.

— Claro, mas ele canta e toca muito bem. Aliás, como ele está?

— Bem, obrigado. Casou-se com a Annie, acredita? — fiquei boquiaberta, olhando para Peeta, que olhou para mim também e riu. — É... Também não acreditei até o dia em que colocou uma aliança no dedo dela na Igreja. Cato sempre foi muito calmo e respeitador, mas ele ficou ainda mais depois que terminou com a Glimmer, e começou a namorar a Annie. Ela continua a mesma coisa, mesma serenidade de sempre. Vão ser pais no mês que vem. Uma menina para minha mãe encher de lacinhos.

— Nossa! — eu estava realmente surpresa. — Annie sempre disse que ele era bonito, e tudo mais, mas nunca imaginei uma coisa dessas! Nunca!

Automaticamente, fiquei feliz. Annie fora minha primeira amiga, já que minha personalidade forte não batia com muitas pessoas, ela era a calmaria pra toda a minha frequente raiva, e nos dávamos sempre muito bem. Nos momentos mais marcantes da minha adolescência, ela estava lá, sempre de braços abertos para me receber.

E eu a deixei para trás.

Com esse pensamento, mais uma vez me senti culpada.

— Ela sente sua falta ainda, mas não comenta nada — Peeta falou, baixo, como se alguém fosse nos ouvir nesse jardim vazio, preenchido apenas por nós dois e as flores.

— Eu também sinto — falei, enfiando as mãos no bolso da bermuda jeans, e suspirei. Nos sentamos em um banquinho de madeira, e dessa vez ficamos um pouco distantes, com mais ou menos dois palmos de distância, mas estávamos próximos. Algumas tomadas dentro de nós haviam sido conectadas.

— Por qual razão você nunca mais voltou? — perguntou, com as mãos no bolso da calça jeans que usava. Estava à vontade, com uma regata degradê em tons amarelos, que davam a impressão de um pôr-do-Sol. Suspirei. Pôr-Do-Sol.

— Nunca tive coragem de encarar seus olhos novamente, e quando fui ver você e o Edward, no seu aniversário de 18 anos, nossa... — eu senti minha pele esfriar, de tanta dor que o dia 07 de maio de 1996 me trazia. — Eu acertei em cheio a sua cara, lembra?

Riu.

— Como me esquecer se Annie me ajudou a não assustar ninguém no meu trabalho? Clove descobriu por revistas que você havia ido na minha casa, e ficamos duas semanas sem nos falar. Katniss, eu ia te bater se Cato não tivesse me segurado.

— Acho que era o que todos ali queriam fazer comigo. Comecei a te bater pra caramba, e nem me recordo a razão. Acho que eu estava um pouco chapada.

— Um pouco?! — exclamou.

— Ok! Eu não estava, mas eu estava com muita raiva. Ódio, na verdade. Não sei o que deu em mim daqueles tempos pra cá. Nunca voltei porque tudo me remetia a você. A primeira semana de maio é sempre a que Prim não me deixa ir a lugar algum, pois eu fico insuportável. Sei que é a semana do seu aniversário. E eu acabei com todas as possibilidades que haviam entre nós dois na sua festa de 18. Sinto a culpa toda vez que olhou para o brilho na sua mão esquerda e a propriedade que Clove tem para falar sobre você e Ed. Não conseguiria lidar com as coisas.

Ele suspirou, soltando ar pela boca. Devia fazer uns 16ºC, mas nós não sentíamos frio. Esse é o verão na Inglaterra.

— Era só você ter ficado que não estaríamos aqui — disse, bem baixo, quase em um murmúrio. — Você sabe.

Meu coração batia rápido demais.

— Peeta, tudo é fácil de falar, difícil fazer.

Bufou, batendo um pé no chão, conectando nossos olhares.

— E acha que foi fácil os últimos nove anos e um mês? Não! Se fosse um de seus filmes, eu passaria duas horas chorando, segurando a barra toda. Meus pais quase se divorciaram umas cinco vezes nesse período, por minha causa, já que nunca que a culpa vai ser do Edward. Isso sem contar as diversas vezes que eu fui parar sozinho na emergência com ele por causa de pneumonia e crises de sinusite, e essas coisas. Mas é o que a minha mãe disse: paciência. Você não teve isso na noite em que foi embora, e nem um pingo de amor por mim e Edward.

Um silêncio se instalou entre nós.

— Se você tivesse ido para ajudar, mas nem isso. Só depois de cinco anos começou a mandar presentes, como se fosse isso o que precisássemos.

Essa frase acabou com tudo o que eu tinha, todas as barreiras, não escondi dele isso, eu não podia mais fazer isso.

Deitei minha cabeça em seu ombro, mas não com segundas intenções, e sim em busca de um amigo. Ele me conhece suficiente bem para saber disso, mas dadas as circunstâncias, eu nunca poderia prever seu ato seguinte.

Peeta passou um braço pela minha cintura e outro por debaixo dos meus joelhos, trazendo-me para o seu colo. Não olhei em seus olhos, mas logo passei meus braços ao redor do meu pescoço, escondendo-me.

Desde hoje mais cedo, ele havia feito coisas que me surpreenderam.

— Eu me arrependo muito de não ter voltado, Peeta, eu me arrependo! — falei, chorando, sem me importar com mais nada naquele instante.

— Eu sei disso do momento em que você entrou com ele nos braços, e todos na rua olhavam pra você, que estava claramente cansada, e que iria desmaiar a qualquer momento. Olhe para o seu pé enfaixado. Eu nunca imaginei, depois que foi embora, que poderia demonstrar algo bom pelo Edward.

— Eu amo muito ele, Peeta, amo demais, como eu nunca pensei que poderia um dia amá-lo — olhei em seus olhos, que estavam marejados. — Ele é o nosso filho.

Mediante tantos momentos, tantos acontecimentos que eu não esperava que ele fosse fazer, juro que pensei que ele fosse me beijar, e dizer que não estávamos bem, mas poderíamos voltar para o lugar em que eu freiei, então, acabamos feridos.

E ele beijou.

Mas a minha testa.

Minhas pálpebras pesaram, e meus lábios entreabriram, surpresa. Com meus olhos fechados, eu me sentia com 15 anos novamente. Era como se o tempo estivesse congelado, e a bolha em que nos encontrávamos era impenetrável. Senti como na noite em que fingimos que nos casamos, quando eu estava com sete meses de gravidez, ele fez um jantar especial, com a ajuda da minha avó.

Clove Barrow Mellark.

Ela é a agulha que nos furou, afinal, mesmo que tenha ido para o hotel, longe do hospital nesse momento, é a atual esposa dele.

— Sim, ele é o nosso filho. E eu devo dizer que ele adoraria ouvir você dizendo isso.

— Sua calma toda está acabando comigo — sussurrei, com medo que alguém descobrisse tudo, a nossa idade, o nosso passado. Eu tinha medo que tudo voltasse a ser como era quatro semanas atrás.

— Talvez seja porque eu estou arrasado demais com tudo isso para te jogar no chão e xingar — ri, com o choro estampado na voz, dando mais um abraço nele, que fez um carinho nas minhas costas, deslizando as mãos de cima para baixo, mas não como quando éramos namorados. Era como quando algo muito ruim acontecia a algum de nós dois, e ficávamos simplesmente assim: abraçados. Claro que eu colocava minhas pernas ao redor de sua cintura, e os seus lábios roçavam meu ouvido e pescoço, mas dessas situações era apenas uma estreita amizade.

— Clove deu muita sorte de ter você ao lado dela — falei, suspirando, sem ousar sair de seus braços. Nem ele parecia querer que eu me afastasse.

— Sim, é claro. Eu amo ela — falou, com a voz um pouco sonolenta, mas um de seus braços estava em minhas costas e outro atrás dos meus joelhos.

Aquilo era sufocante, pois ele não podia ser meu, e eu não podia ser dele novamente, no entanto, eu mereço essa situação, pois deixei tudo ir embora.

— E ela te ama demais — não que eu quisesse reforçar isso, no entanto, era o melhor a se dizer: a verdade.

Ficamos em um longo silêncio, apreciando a respiração um do outro, mas o sono tomou conta de mim aos poucos.

— Peeta — chamei, quase dormindo.

Hm — ele não estava muito diferente de mim, com sua cabeça sobre a minha, tranquilo. Parecia ter 15 anos outra vez, só que bem mais bonito. Nunca vou entender de onde ele e Cato puxaram tanta beleza, mesmo que Effie e Haymitch sejam pessoas muito bonitas, a beleza de seus herdeiros é digna de estudos.

 

— Vamos voltar para o quarto — ele sugeriu. — Não vou te carregar.

A essa altura da conversa, eu estava novamente sentada ao seu lado no banquinho, no entanto, sem retirar minha cabeça de seu ombro, e nem ele a dele de sobre a minha cabeça.

Uhum… — concordei, querendo continuar como estávamos, só em busca de um amigo mesmo, mas não foi possível no momento.

O caminho de volta para o quarto foi silencioso, mas sem necessariamente incomodar. Já tivemos muitos assuntos, é claro, mas dadas essas circunstâncias, o melhor a se fazer é limitar as nossas conversas apenas ao Edward e seguirmos com nossas vidas, como bons amigos e não os maiores arqui-inimigos um do outro.p


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Notas finais do capítulo

Fico até com vergonha de mancar tanto com vocês e aparecer aqui, mas é que eu realmente queria ter postado antes, mas acabei desmaiando de sono na segunda, aí na terça eu escrevi, mas não parecia bom, aí na quarta-feira, faltava finalizar, mas eu passei muito mal na escola, de tanto estudar, muita dor de cabeça. Passei a tarde passando mal ainda, sem conseguir mexer em nada, com muita dor dentro dos ossos, uma sensação horrível, então eu fui pra Igreja de noite já, voltando 22h já, aí minha mãe como estava meio triste, fiz companhia, por isso só estou postando agora, às 01:37 da madrugada!
Não sei se vou conseguir postar amanhã, sexta-feira, mas eu vou acelerar as coisas aqui, para na segunda-feira postar regularmente mais uma vez, juro.
A cada dia eu respondo mais comentários, aí chegam novos, mas se eu ainda não respondi o seu, pode ter certeza de que eu vou responder, em nome de Jesus, nem que leve um ano (literalmente), eu prezo muito isso de responder vocês e as mensagens, que por mais que passe 40 dias, eu vou responder, eu vou! Juro! E amo demais, demais, quando as recebo.
Valeu imensamente pelo carinho, estou muito feliz, e vocês sem sombra de dúvidas são parte disso.
Mais um obrigadão à Any, que recomendou a fic, e estou super ansiosos para saber o que acharam acerca do capítulo!
Um milhão de beijos, espero que tenham gostado, e um trilhão de desculpas caso tenha ficado chato e monótono. Dei o meu melhor para trazer o melhor para vocês, e digo que o próximo vai ser bem rápido e cheio de acontecimentos bem a la o filme Treinando o Papai! *sorrisão* Estou com o capítulo em mente, e mal vejo a hora de vocês lerem. Até, Chucrutes! ♥