Sereias apocalípticas escrita por Evil Maknae, RebOS, Laesinha, Ana


Capítulo 9
Contos de Antes de Dormir


Notas iniciais do capítulo

BOM DIA/TARDE/NOITE

Exatamente uma semana depois do ultimo capítulo (eu acho), aqui estou eu, Amanda Kyle, trazendo mais um capítulo sem ação igual aos que eu SEMPRE faço.
Por isso, tentei fazer umas paradas de explosão, e treta, e desespero, e MORTE.
...
Mentira, morte não.
...
Ou será que sim?

~Inseri uma imagem de base pra esse capítulo, pra conseguirem imaginar o que eu tentei descrever. Link nas notas finais.


De qualquer forma, perdão pela empolgação e pelo LONGO capítulo.

Boa leitura.



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Eu estava entrando em pânico, graças as circunstancias. Anna estava desacordada no chão, Misha estava desesperado, sacudindo seu corpo, Cian tropeçou com a garrafa de água e caiu de cara, e Layx estava mandando todo mundo se acalmar.

Claro. A calma.

Nem lembrava mais o que é isso.

Fora que havia um sujeito medonho, cuja face era invisível sob o capuz preto. Seu corpo era bem alto, e ele era meio gordinho. Não dava para identificar se era homem ou mulher.

Ele atirou nos últimos zumbis que restavam, e parecia olhar para nós com curiosidade.

É obvio que vai nos olhar com curiosidade. Parecíamos um circo.

Seja lá quem fosse, ele deixou os zumbis entrarem, mas ajudou Layx a exterminar o resto deles. Fica tudo silencioso por um período. Exceto pelos ruídos de Cian, ainda caído.

Tudo bem. Está tudo bem. Respirei fundo e me livrei da tremedeira.

Eu ajudo Cian a levantar, e ele observou a cena por alguns segundos e diz:

—- Que porra é essa...? – Ele olha para a pessoa que ainda estava perto da porta. – Quem é você?

—- Desculpe. – Era uma voz feminina. FINALMENTE UMA GAROTA NO APOCALIPSE. – Eu... Foi sem querer... Eu estava checando o local e fui descuidada... Adeus.

E ela simplesmente abre a porta, sai, a fecha e some...

Tudo bem.

Isso foi extremamente estranho.

Ela podia se juntar a nós. Isso seria bom.

Mas ok.

Só irei ignorar esse incidente porque no apocalipse, não podemos nos preocupar com coisas estranhas.

—- O que tá acontecendo? – Layx pergunta, saindo do transe, ainda com a arma levantada.

—- AJUDEM ANNA – Misha gritou, com a voz trêmula, ainda bêbado.

—- SE ACALME, ELA TÁ BEM. – Layx, gritou de volta, com firmeza, mas logo depois, caiu de joelhos, largou a arma e passou a mão pelos cabelos. – Caralho, que desespero da merda.

Misha olhou para mim, desesperado, em busca de mais respostas.

—- Não se preocupe. O vírus não se espalhou pelo corpo dela. Se estiver sóbrio, carregue-a até o carro. Senão, Cian pode fazer isso. – Eu respondi.

—- Eu estou sóbrio o bastante. – Ele disse, se levantando, e logo tropeçando nos próprios pés e caindo. Eu entendi. Ele tinha uma queda por Anna. Não me impedi de fazer shipps. Mishanna. Annisha.

—- Acho que não hein. – Layx disse. – Cian... – Ela parou no meio da frase quando viu Cian caído de cara de novo, roncando no chão. – Amanda...

Assenti, e ajudei a carregar Anna. Layx segurava seus braços e eu, seus pés. Sim, era um jeito bem estranho de levar uma pessoa desmaiada, mas é o que temos pra hoje.

Saímos do ginásio em alerta, e fomos até o carro de Layx. Colocamos ela deitada no banco de trás e fomos chamar os outros. E talvez acordar Cian.

 Depois de tudo isso, todos concordariam em sair pra um lugar seguro.

Só que não.

Preferiram esperar mais, para ficar mais perto do amanhecer, e como não poderíamos ir embora e deixa-los, ficamos também, mas fomos dar uma volta, eu e Layx, enquanto os outros e Cookie vigiavam Anna.

Ela sabia o caminho de volta, então resolvemos ir bem longe.

Fomos andando, por ruas destruídas e horríveis, com o asfalto quebrado e sangue espalhado.

A cada passo dado, baratas e insetos nojentos saíam de seus esconderijos – destroços de carros virados por uma multidão de zumbis, faminta por carne humana – e fugiam de nós. Ratos passeavam, mesmo num cenário tão devastado, e urubus se aproveitavam do trabalho feito pelos envenenados. O pior, é que esse tipo de local já estava se tornando costumeiro. Eu não me surpreendia mais com sangue ou mortos, e eu só pensava em matar e sobreviver.

Alguns zumbis se aproximavam de nós, e foi aí que percebemos nosso grande erro.

Eles

Ficam

Mais

Fortes

De

Noite.

Tirei a arma da jaqueta pra me proteger, mas eles estavam muito rápidos, e acabaram derrubando-a da minha mão pra longe. Layx e eu estávamos de costas uma pra outra, cercadas por zumbis.

Eles eram horrendos. Tinham pele tão pálida que era meio esverdeada, e era cheia de feridas, causadas pelo próprio vírus. Os olhos não tinham mais a íris, e a boca era sempre aberta, geralmente com insetos dentro, sangue, ou restos de carne humana. Os membros eram feridos, sem alguns pedaços, e as roupas eram rasgadas.

—- Layx...

—- EU ESQUECI MINHA ARMA NO CARRO.

E os zumbis se aproximavam mais. Eu me virei, e nos entreolhamos.

Correr.

—- Sua frente. – Ela disse, indicando a direção na qual devíamos correr.

E então, eu chutei um zumbi, que estava na minha frente, pra ele liberar a passagem, e ele caiu no chão. Corri e puxei Layx junto, antes que outro zumbi entrasse na frente.

E eles dispararam atrás de nós. Rápidos, fortes e famintos pela noite.

Mesmo com obstáculos no caminho, eles nos alcançavam rapidamente, e tínhamos que correr mais rápido.

E foi assim durante cinco longos minutos, até virmos um pedaço de caminhão, equilibrado por uma pequena base embaixo dele. Se empurrássemos e derrubássemos, os zumbis não conseguiriam nos alcançar, porque o resto da pista estava bloqueada. Ultima chance.

Começamos a empurrar, e o destroço começou a pender, e caiu, mas no momento em que ele caiu, um poste caiu ao nosso lado também. E desse poste, vieram faíscas, e aquele destroço de caminhão, era na verdade, uma parte do tanque de gasolina dele.

Em contato com as faíscas, uma explosão foi gerada.

Não houve tempo pra correr, então fomos lançadas pra trás no asfalto, com toda força de uma explosão.

Vivas? Vivas.

Layx e eu nos entreolhamos de novo.

—- Tem algo errado conosco hoje. – Eu disse, e ela apenas pôde concordar.

Levantei-me, e ela também. Andamos, mancando, raladas, com os cabelos bagunçados e traumatizadas até o ginásio de novo, afinal, ele não estava tão longe.

Quando chegamos, Layx pegou as chaves de seu carro e disse:

—- Vou sair daqui. Esse lugar é a pior coisa que já existiu.

—- O que diabos aconteceu com vocês? – Rebecca perguntou horrorizada, com nossa aparência.

—- Nós explodimos um poste e um pedaço de caminhão. – Eu disse. – E perdi minha única arma. – Era verdade. Eu só tinha uma faca e um canivete agora. As outras armas, eu havia perdido de formas parecidas.

Todos ouviram, surpresos nossa história de desgraça.

E agora sim, concordaram em ir embora dali.

—___ //____

Eu estava no carro de Ben, no banco de trás, junto com Cian. Rebecca estava no banco da frente, e Ben dirigia bêbado. Já sabemos que mais tarde vai haver uma ressaca em grupo. Que incrível.

Vendo e sentindo Ben dirigir torto, eu tive muita vontade de pular da janelinha e ir a pé. Não cheguei tão longe pra morrer em um acidente de carro.

...

Caralho, que curva fechada.

...

Ai meu Deus, tem um cone logo à frente

...

Puta merda, como eu queria estar com Layx, aquela linda sóbria. Em seu carro estavam Anna e Misha, porque ele insistiu muito em ir naquele veículo (já sabemos o motivo).

Rebecca e Ben pareciam fazer piadas internas, davam risinhos e eu, Cookie e Cian segurávamos vela.

Olhei para ele. Ele estava claramente incomodado com os risinhos do banco da frente.

—- Está olhando o quê? – Ele perguntou, agressivo, para mim.

—- Sua beleza, seu delícia. – Eu falei, e mordi o lábio.

Ele revirou os olhos. Agradeci por ele entender a brincadeira.

...

Silêncio de novo.

...

Ah, que tédio.

...

—- Ciaaaaaaan. – Chamei, entediada – Não tenho nada pra fazer.

—- Que pena, não é mesmo?

—- Você é mesmo um chato.

—- Aprendi com a melhor. – Ele deu uma piscada, e sorriu da própria piada.

Não consegui me impedir de rir, mesmo sendo uma ofensa a mim.

Ben desviou bruscamente de um raio laser invisível, que só ele via.

AAAAAAAAAAH, essa viagem vai ser longa.

—___ //____

Nós decidimos parar em uma casa aleatória. Estava amanhecendo, e todos estavam desgastados, então a escolha foi uma pequena casa bege e fofa, daquele estilo de casa aconchegante da vovó, com um andar só, e uma pequena garagem.

Fiquei triste ao pensar que talvez uma senhora tenha morado ali. E que talvez ela tenha morrido.

Ah droga.

Peguei minha mochila, meu cachorro, saí do carro e entrei na casa.

Eu fui primeiro porque Cookie tinha super-sentidos, e poderia nos alertar de qualquer coisa. Entrei pela sala e revistei tudo. Havia alguns quadros com fotos de crianças pendurados nas paredes cor de creme, e alguns porta-retratos acima de uma cômoda, com fotos sépia de um casamento. Ao lado deste, estava mais um, com um senhor e uma senhora de idade e três crianças, todos sorrindo.

Algumas lágrimas saíram de meus olhos, inevitavelmente, ao imaginar uma família feliz, com avós que amavam seus netos. Limpei-as rapidamente e saí da casa, pra avisar todos que a barra estava limpa,  apesar das plantas terem dominado a casa toda, faltarem pedaços do telhado e ter um belo cheiro de mofo.

 Misha estava segurando Anna, com facilidade em seu colo, e Ben segurava algumas garrafas de cerveja, enquanto Rebecca protestava sobre seu vício.

—- Pessoal, está tudo bem. Podem entrar.

—- Você está com alergia de novo? – Cian perguntou, vendo meus olhos avermelhados, de quem havia acabado de chorar por pessoas que não conhecia.

—-... Sim. Mas tudo bem, não está tão ruim assim. – Menti.

Assentiram, e entraram. Trancamos a porta de madeira avermelhada e nos aconchegamos. Por curiosidade, ligamos a TV que havia lá. A maior parte dos canais não funcionava mais, e apenas um deles exibia um noticiário internacional, falando sobre nossa desgraça. Ninguém tomava atitudes. Deixavam o circo pegar fogo.

Depois de um tempo, fui dar uma olhada em Anna, que estava deitada no sofá velho, ainda desmaiada.

Suas olheiras estavam gigantes, e aparentemente, sua ferida estava se curando. Ela ia provavelmente acordar em pouco tempo.

Olhei pra baixo e vi Cookie, sentado, me olhando como se eu fosse má.

—- O que eu fiz? – perguntei, alto, atraindo a atenção de todos.

—- Sabemos que a loucura domina a pessoa quando ela fala com o cachorro como se ele fosse responder. – Ben disse, com uma garrafa na mão, rindo.

—- Eu peguei ela de você . – Ri e voltei a olhar Cookie.

Ben fez uma cara de dama vitoriana ofendida e riu também.

E Cookie deu as costas e pulou no colo de Cian, que descansava tranquilamente no segundo sofá rosado da sala, e se assustou com o pulo repentino. Parecia mais avoado que o normal. Não estava rindo dos comentários engraçados que faziam. Tinha algo errado.

—- O que foi? – Ele perguntou, também para Cookie.

—- Ai meu Deus, a loucura está se espalhando. – Ben voltou a dizer.

Cookie cheirava o bolso da calça jeans de Cian loucamente.

—- Ah. – Cian enfiou a mão no bolso e tirou um saquinho com uma porção de ração. – Esqueci disso. Peguei quando íamos naquele bar chique. Tinha um petshop no caminho. Tem mais na mochila. E, Amanda; eu tenho uma arma extra. Vocês me deram uma a mais. – Ele tirou do casaco e jogou uma pistola, parecida com a minha antiga, e balas, para mim.

Todos ficaram comovidos.

—- Anw, você ama o Cookie. E além disso, é gentil. – Layx fez um coração com as mãos.

—- Não exagere. – Ele disse, sério. – Foi uma dívida. Por vocês me... Ah deixa pra lá.

—- Agora diga – Rebecca surgiu das sombras e falou. – Você falou demais! Não pode voltar atrás.

—- Por vocês me acolherem. – Ele disse, relutante.

Todos, incluindo Ben, soltamos um “Anwwwwww” coletivo, fazendo Cian corar.

—- Parem, vocês estão me assustando. – Ele disse, corado.

—- Obrigada Cian. Sério. A comida dele estava acabando. E eu não tenho mais armas. – Sorri pra ele, e ele sorriu de volta, mas logo esse momento de fofura acabou, porque ele disse:

—- Agora façam comida, eu tô com fome.

Reviramos os olhos, ele deu o saquinho para Cookie, que saiu feliz e radiante, e fomos preparar macarrão instantâneo.

—___ //____

Depois de comermos e tomarmos banho, fomos todos dormir.

Mas dessa vez nosso acampamento era diferente; como a casa era pequena, todos nós dividíamos o mesmo cômodo. E dividir o cômodo em um local quente, mofado e caindo aos pedaços não era nada bom.

Era bem apertado, na verdade. Anna e Rebecca estavam em uma cama de casal, Layx estava em um colchão pequeno, no chão. Misha e Benjamin estavam em poltronas grandes e confortáveis, empurradas até o fundo do quarto, para ocupar menos espaço, e Cian... Bem, Cian dividia uma cama de solteiro comigo. Sim. Uma cama de solteiro.

Nós tínhamos feito uma grande gambiarra pra cabermos. Ele dormia em uma ponta, no lado da cabeceira, enquanto eu dormia do lado do fim da cama. Como ele era realmente gigante, os pés dele alcançavam meu rosto. Tentei não vomitar vendo suas unhas encravadas e joanetes amarelados.

Cookie dormia na cabeça de Layx, que estava de bruços. Ele tinha se apegado bastante á ela, o que era bom, já que Cian não quis que meu cachorro ocupasse o mesmo ambiente que ele, porque apesar de estar grato pela nova família, ainda era fanático por limpeza. Claro que aconteceu uma grande briga mais cedo, mas eu tentei não mata-lo.

Vendo aquela lancha que ele chamava de pé, me arrependi de não ter o feito.

Eu me distraía observando meu grupo, afinal, não conseguiria dormir tão cedo. Anna desacordada. Rebecca dormindo profundamente. Layx com uma bola peluda na cabeça. Benjamin com garrafas vazias a sua volta. Misha encolhido em um cobertor. Cian acordado. Seus pés se contorciam.

Argh.

Não aguentando mais, me levantei e fui dar uma volta. Pisei com cuidado para não atrapalhar o sono profundo dos outros, mas uma mão me impediu. A mão agarrou meu braço, e em um gesto de pânico, dei uma cotovelada em seja lá o que fosse que havia me pegado.

Era o rosto de Cian, que ainda estava deitado. Ele se impediu de gritar com uma careta engraçada. Eu me impedi de rir feito um porco e ele se impediu de rir da minha careta para me impedir de rir da careta dele. Não, pera...

—- O que estava fazendo? – Gritei em forma de um cochicho, me recuperando.

Ainda segurando o riso, ele respondeu:

—- Te parando (?)... Você é tão graciosa quanto um pinguim com diarreia, então vai acordar os outros.

Revirei os olhos.

—- Mais alguma comparação?

—- Não, só durma... Na verdade, você também é doce igual um limão estragado...

—- Com esse pé maldito na minha cara não dá. – Ignorei a ofensa.

—- A culpa de eu estar acordado e me remexendo é toda sua!

—- Ué, e o que eu fiz?

—- Você está rolando feito uma minhoca indo pro abate.

Eu me segurei pra não meter meu dedo médio dentro do olho dele, e me contentei apenas em mostra-lo.

Ele pareceu muito ofendido, como se o gesto fosse um pecado, fez a mesma cara de dama vitoriana ofendida de Ben, e logo me lançou um olhar de advertência, me mandando deitar.

—- Você não manda em mim. – Eu disse, e continuei andando pra fora.

—- Seu nível de infantilidade me surpreende a cada dia.

Revirei os olhos novamente, ignorei e saí andando.

—- Amanda Lacroix Jordan, se você se atrever a dar mais um passo, eu vou te trancar pra fora dessa casa. – Ele cochichou, bravo.

—- Como diabos você sabe meu nome todo? – Perguntei, indignada, e ele levantou a mão, com uma carteirinha de estudante plastificada que eu possuía na minha mochila. Minha foto nela estava horrível. – E onde pegou isso?! – Eu peguei rispidamente da mão dele.

—- Só queria saber mais sobre você. Peguei na sua mochila.

—- E o que pretendia ao fuçar na minha mochila?

—- Eu já disse; queria saber mais sobre você.

—- Você é tão chato o tempo todo que, quando é legal, parece que está flertando.

—- Abaixa essa bola. E a propósito, que tipo de sobrenome é esse?

—- Não me julgue. É francês.

—- Não vou te julgar. O meu é muito pior.

Nesse momento Layx acordou com nossa pequena discussão, e nos mandou dormir com gemidos e murmúrios cansados.

Mas eu dei razão á rebeldia e continuei:

—- Cian, qual seu sobrenome?

—- Yukinohara – Ele respondeu.

—- Ãhn?

—- Engraçadinha.

—- É japonês?

—- Sim. E eu sei que eu não tenho traços orientais. – Ele disse, tirando as palavras da minha boca.

Um longo momento de silencio aconteceu. Eu estava ainda em pé, olhando os olhos verdes dele. Ele estava deitado.

A situação era muito embaraçosa.

—- Amanda. Vá deitar.

—- Eu perdi o sono. Por culpa sua.

—- Dá... Pra vocês calarem... A boca (?) – Ben acordou, e parecia muito mais bêbado com o sono. Ele se enrolava pra falar e dava longas pausas.

—- Não acredito que vou dizer isso, mas... Vou dar uma volta com você. Mas fique calada.

Não respondi, apenas assenti e esperei ele se levantar para sairmos. Ele ia dormir com a mesma roupa que andava por aí: uma camiseta preta com um decote grande, que permitia ver sua clavícula, uma calça jeans, e um casaco fino azul marinho. Ele calçava seus tênis all star. Totalmente despreparado para um apocalipse.

Eu sempre me prevenia de tudo pela roupa. Eu usava um casaco estilo aviador marrom velho que peguei no armário do meu irmão, que por sinal, era grande demais para mim. As mangas eram maiores que meus braços, e era bem grosso, uma camiseta branca e grande o bastante para Cookie estar ali, botas grossas (pra correr e escalar), e calça jeans. Tudo para não ser mordida e virar um daqueles monstros.

Ele se levantou finalmente, pegou seu revolver e saiu do quarto.

Como as janelas daquele quarto estavam fechadas, estava tudo escuro, mas nos outros cômodos, estava de dia. Sentamos no sofá, visto que não tínhamos nada pra fazer.

—- Cian, pode me contar sobre você?

—- Por que eu deveria?

—- Porque você pegou a minha carteirinha escolar e viu minha pior foto existente.

Ele riu.

—- Verdade. Você parece uma foragida por tráfico de drogas. – Ele riu mais.

—- Apenas conte.

Ele suspirou e relutou um pouco.

—- Meus pais... Eles foram pegos. Pelos zumbis, digo. Mas... Foi estranho. – Ele disse. – Eles não viraram zumbis depois de mordidos. Só morreram e apodreceram. Parece que você precisa de certa resistência pra aguentar a transformação. Eles não tinham uma boa imunologia... Eu... Eu vi tudo. – Ele estava lacrimejando. – Mas eu supero. – Ele fez uma pausa – Minha mãe, ela era incrível. Sinto sua falta.

—- Como ela era?

—- Ela se chama... Chamava Dialo Ziegler Yukinohara. Ela era linda, também. – Ele suspirou, enfiou a mão no bolso, e tirou uma foto de uma mulher linda. Ela parecia ser jovem, apesar das rugas. Tinha um cabelo curto e vermelho vibrante, e seus olhos eram claros. Ela era bem pálida, e se parecia muito com Cian.

—- Ela era linda mesmo. – Disse, com a voz baixa, sentindo muito sobre a tragédia. – E seu pai? – Me arrependi no mesmo instante de ter perguntado.

—- Meu pai... Eu tinha problemas com ele, mas... Eu o amava também. Ele se chamava Caleb Shimada Yukinohara. – Ele tirou a foto do pai do bolso também. Ele era oriental, e tinha os cabelos pretos iguais ao do Cian, mas eles não se pareciam em quase nada, a não ser no nariz.

—- Por que tinha problemas com ele? – Perguntei, e me arrependi de novo.

—- Esqueça. É meio pessoal. – Ele não parecia querer me atacar, como sempre fazia. Estava na defensiva.

Ótimo. Deixei meu amigo na bad.

—- Cian, não fique assim. – Tentei ajudar – Você tem a nós agora. Não está sozinho.  – Sorri, e coloquei minha mão sobre seu ombro.

—- Você realmente acredita que vamos sobreviver a isso? Todo mundo está morrendo ou se transformando, conosco não vai ser diferente. – Ele já estava chorando.

—- Vai sim. Temos esperança. Vamos pra Base. Vai dar tudo certo, ok? Confie em mim...

—- Eu nem te conheço pra confiar em você. – Ele limpou as lágrimas, mas outras saíram.

—- Você não precisa. Eu sou sua amiga.

—- Amiga? – Ele deu um sorriso triste, ainda em meio ao choro. – No meio do inferno não existe amizade.

—- No meio do inferno, a amizade é a única coisa que nos mantem vivos.

E ele desabou mais. Eu não tinha certeza do que fazer, mas respeitei o espaço dele, e esperei ele parar.

—- Você nunca me viu chorar e nós nunca tivemos essa conversa. – Ele ia se levantar, frio como sempre, mas eu  impedi.

—- Cian, espera. – Ele se virou, no meio do caminho. – Eu te pressionei pra contar coisas pessoais. O mínimo que posso fazer é contar minha história Você vai me conhecer agora. – Ele voltou e se sentou de novo, interessado.

—- Sou todo ouvidos. – Seu rosto ainda estava avermelhado por causa do choro.

—- Meus pais... Eles viajaram para o exterior. Eles foram antes do vírus se espalhar. Ninguém sabia que as fronteiras estariam fechadas, e eles ficaram lá. Eu sobrevivi com meu irmão mais velho por anos, até o vírus chegar até nós... Um zumbi tentou me atacar e ele... Pulou na frente.

“Eu era jovem e ingênua da maldade do apocalipse. Samuel estava comigo. Ele tinha 19 anos na época, e eu 12. Foi logo depois dos meus pais saírem para o exterior .Eu já falava com Layx.

Samuel me explicou que nossos pais não poderiam voltar. Choramos, mas depois de algumas semanas, ficou tudo bem, até o vírus chegar até nossa cidade... Ele preveniu tudo; nós fomos pra um pequeno apartamento, no segundo andar, com o cachorro, mantimentos, e esperança. Nos mantemos lá por dois anos, Samuel tinha armas, e me ensinou algo sobre medicina, já que fazia faculdade, mas o vírus teve um ápice, e quase todos estavam sendo infectados. Era o verdadeiro inferno.

Trancamos portas e janelas, pra nos protegermos, mas não foi o bastante. Zumbis começaram a bater e quase arrombar tudo. Até que... Um conseguiu entrar. Ele vinha em minha direção, e eu não ia ter tempo de me defender ou algo assim... Estava me preparando pra morte, até que um vulto loiro pulou na minha frente, e teve um pedaço do pescoço arrancado no meu lugar. Ele caiu no chão, e eu tive tempo de pegar a arma e matar o zumbi.

—- Samuel... Não. – Eu me ajoelhei ao seu corpo caído, ignorando o zumbi morto ao lado.

Ele tocou meu rosto. Estava com dor. Eu conseguia ver veias estouradas em seu pescoço, e carne viva, apodrecendo pelo vírus.

—- Se... Cuida... Não vou mais estar com você. – Ele disse, chorando. Deu-me um sorriso triste e gemeu baixinho de dor.

—- Eu posso te ajudar, Samuel. Você me ensinou. – Eu comecei a chorar, ao imaginar a cena: Eu sozinha, cercada de zumbis com o cachorro.

—- Não... Não o faça. Não vale a pena. Vai te atrasar tanto... Por favor, só me prometa que vai viver... Fuja desse lugar. Eu... Eu fiquei sabendo de uma... – Ele tossia sangue, e quando falava, engasgava.

—- Samuel, eu posso te salvar. Só me deixe pegar o kit e-

—- Para. Eu não preciso. Apenas viva. Isso vai me ajudar. Eu... Eu te amo, ok?

—- POR QUE VOCÊ NÃO ME DEIXA FAZER ISSO POR VOCÊ, SAMUEL? – Gritei, em desespero.

—- Eu vou me transformar... Apenas me mate... Love ya – Ele soltou meu rosto, finalmente, fechou os olhos e... Sua respiração cessou. Eu coloquei minha testa sobre a dele, e chorei o máximo que pude; de raiva, de tristeza, por perder minha última força, e mais mil motivos. Cookie ficou perto do corpo dele também, até ele começar a tremer, e eu ter que atirar no meu próprio irmão. Depois de semanas, eu me encontrei com Layx.”

Cian estava boquiaberto.

—- Eu... Sinto muito. – Ele disse.

—- Não precisa sentir. Não foi culpa sua. Foi culpa minha.

—- Não foi. Ele fez isso por você porque te amava. Foi escolha dele.

E dessa vez, eu quem comecei a chorar mais. Eu me lembrava de seu rosto. De seu cabelo curto e macio. Dos seus olhos castanhos expressivos.

Eu sentia tanta falta dele.

Eu devia ter salvado ele, mesmo sem sua vontade.

... Isso seria egoísmo?

... Que se dane o egoísmo! Ninguém se importa com o egoísmo.

...

Ele se importava.

... Odeio o altruísmo.

Quando me dei conta, Cian estava me confortando e me abraçando, enquanto eu chorava em seu ombro.

Às vezes era bom desabafar as emoções.

Chorei até sentir que ia secar. Até todo o medo, a raiva e a tristeza saíssem em forma de água.

E então me afastei. Sequei meu rosto, e o agradeci por me ouvir.

—___ //____

Anna tinha acordado depois de dois dias. Mas ela estava bem.

Sua perna doía, e ela cambaleava um pouco, mas ela estava viva. Eu senti o mesmo quando torci o tornozelo, a gente supera.

Nós resolvemos voltar pra estrada. Nossa estadia lá já tinha se estendido. Estávamos perdendo tempo.

Dessa vez, voltamos a nossos respectivos lugares nos carros; garotas no de Layx, garotos no de Benjamin.

Era bom voltar a cantar Sereia do mar de novo. Suspirei, olhando pela janela.

O verão estava chegando.

A Base estava perto.

Estava tudo perfeito...

 Por enquanto.


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Notas finais do capítulo

LEMBREM DE UMA FRASE INSERIDA NESSE TEXTO.

ELA SERÁ ÚTIL ¬u¬


Obrigada se você chegou até aqui SEM PULAR A HISTÓRIA...
Se você pulou... PÔ *se joga no chão e chora* POR QUE ME ODEIA???

Beijos e obrigada por ler

*Passa a bola pra Tia Becks* É COM VOCÊ!

>> Link: http://i.huffpost.com/gen/1108142/thumbs/a-ABANDONED-FARMHOUSE-640x468.jpg?4


~Byeeeeeee~



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