Sereias apocalípticas escrita por Evil Maknae, RebOS, Laesinha, Ana


Capítulo 22
Brincando com fogo


Notas iniciais do capítulo

~OLÁ~
Tudo bem com vocês? Estão vivos?
As autoras estão, tá tudo bem...
Quem vos fala é Amanda Kyle. Miss Jackson. Evil Maknae. O nome que preferir...

Como de costume, trazer um capítulo na visão da Amanda.
Boa leitura~



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Aquela bomba fora apenas o início de diversas.

Acabamos por decidir que seria melhor se não houvesse movimentação para fora, ficaríamos ali. Se agíssemos como mortos, talvez saíssemos vivos.

Estavam todos perto um do outro, tapando os ouvidos inutilmente com as mãos, tentando se proteger do zumbido constante que os estrondos causavam. Eu, me mantinha encolhida, abraçando Cookie, enquanto protegia seus ouvidos com panos, prestes a chorar tudo guardado dentro de mim.

Olhei ao redor, tentando manter-me entretida com algo além dos pensamentos constantes de morte e destruição. Avistei Jason, que estava encolhido, chorando.

Antes, Jason nunca deixaria que o vissem chorar. O homem másculo, que me sequestrara tempos atrás se fora, junto com o amigo. Eu não o culpava, nem o julgava por isso, muito pelo contrário. Sabia como era perder alguém importante.

Decidi me aproximar um pouco dele, entregando a pequena bola peluda, o observando se acalmar ao acariciar o cachorro com a mão que lhe restava. Mantinha os panos nas orelhas de Cookie.

— Ele está calmo... – Jason comenta, com um pequeno sorriso. Ele ainda chorava, apesar de tudo.

— Sim, eu acho que ele sabe que o desespero não vai nos levar a lugar algum...

— Igual... Igual Woody. – Ele disse, engolindo em seco logo depois.

— Jason, eu sei que é muito difícil lidar com tudo isso, mas eu quero que não desista, ok?

— Por que me diz isso?

— Porque eu te vi ingerindo aqueles comprimidos estragados todos. – Eu disse, baixo. – Você teve sorte de ter vomitado tudo, seu idiota.

Os olhos dele se encheram mais de lágrimas, e por um momento, senti como se fosse mais forte que ele. O abracei fortemente, e ele retribuiu, finalmente soltando mais de suas lágrimas.

— Só não tente de novo, eu não contarei a ninguém. Pense na base. Pense em todos nós. Te amamos, e Woody não ia querer isso. – Eu disse, ainda baixo.

— Tudo bem, eu... Eu o farei. – Ele me apertou mais, e apertou Cookie também.

Apesar de bombas estarem caindo ao nosso redor, me sentia em paz, e segura.

Queria que todos sentissem o mesmo.

Desvencilhei o abraço e segui até Ivy, que pela primeira vez, parecia desesperada. Charles a pedia pra respirar fundo, mas ela continuava a hiperventilar em aflição.

— Ivy? Ivy, olhe para mim. – Pedi, e ela o fez. Seus olhos estavam arregalados. – Tem algum tipo de fobia?

Ela negou rapidamente com a cabeça.

— Eu sei que é quase impossível, mas foque em mim e em Charles, vai ficar tudo bem.

Ivy tentou se afastar dos ruídos e sons, inutilmente.

— Ivy, se lembra daquela vez em que nossos pais nos levaram até o zoológico? E nós vimos todos aqueles animais enjaulados, e tentamos soltar o avestruz? – Charles diz, tentando chamar atenção da irmã.

Ela, em resposta deu um pequeno sorriso, parando de hiperventilar aos poucos.

— Fomos pegos por um zelador, mas ficamos tão perto de soltá-lo. – Ela completou, olhando para mim. – Eu realmente tive pena deles...

Eu sorri forçada, tentando não surtar com o aumento de frequência dos barulhos, e pedi que continuasse a história, e assim o fez.

No final da história sobre o avestruz, tomei que não havia prestado nenhuma atenção sequer a ela, mas assentia arduamente, e ria quando Charles ria. Consegui mantê-la distraída e calma, e esse era meu objetivo. Murmurei palavras sobre ela ser corajosa, e me afastei, sentando ao lado de Brendon.

— Como está? – Perguntei, olhando para a janela que ele olhava.

— Como eu poderia estar... Fodido.

— Ajuda se eu te disser que estamos todos no mesmo barco?

Ele esboçou um sorriso. Um sorriso agradavelmente doce, que sumiu rapidamente.

— Amanda? – Ele me chamou, sério.

Eu respondi por meu nome.

— Acha que essas bombas são de quem...? – Ele me perguntou, sem desviar o olhar da fumaça constante.

Engoli em seco. Alguém que saberia responder isso, com certeza seria Cian.

— Eu... Eu acho que são do país inimigo...

— Eles teriam coragem pra dizimar a população toda? Somos humanos afinal... Me incomoda saber que isso só se passa no nosso país. Só nós estamos assim, quebrados, traumatizados, com fome... É tão cruel que eu mal posso acreditar. Eu nem tenho nada a ver com essa maldita guerra.

— Não sabemos se somos apenas nós, Brendon... Digo, deve ter se espalhado...

— Aqueles caras dos aviões nos provam o contrário. Eles querem afundar a ilha, e parecem bem saudáveis.

Suspirei, concordando.

— A vida não é justa, nem nunca será.

Voltei minha atenção a fumaça.

Fazia algum tempo que não ouvíamos nada.

— Vocês acham que estamos seguros agora? – Anna perguntou, com a voz tremendo.

— Acho que não devemos sair. Não agora. – Rebecca suspira, parecendo calma. – Temos algo? Suprimentos? Procurem algo em suas mochilas.

Abri minha mochila velha.

Sorri ao encontrar um último livro de Edgar Allan Poe, o qual havia pego na biblioteca da mansão, junto com Cian. No dia em que encontramos Charles e Ivy.

Surpreendi-me ao lembrar que toda a coleção de quatro livros havia sido deixada para trás por mim, seja para marcar caminho, ou para me livrar de peso.

Não queria me livrar desse, tinha boas lembranças. Limpei de leve a capa da coletânea de O Corvo, e pensei no que poderia fazer com ela no futuro.

Talvez eu nem sobreviva.

Continuei retirando coisas, e achando algumas facas extras, uma blusa, alguns remédios de dor, uma maçã velha, o canivete azul e colar de Cian.

Ambos os objetos me trouxeram tamanha felicidade.

Não sabia onde havia pego tantos pequenos tesouros, mas as lembranças vieram a tona.

Dei um pequeno sorriso, e contei ao restante do grupo sobre a maçã e os remédios, guardando o restante.

— Se dividirmos, dá pra todos. – Disse, esperançosa.

— Eu também achei comida. – Jason disse. – É sopa. Enlatada.

Ouvi barulhos de desgosto, mas sopa enlatada era melhor que nada.

— Mais alguém? – Perguntei

— Achei faixas, antibióticos, e uma lata de atum. – Charles disse, orgulhoso de seu pequeno tesouro.

— Mais uma lata de sopa. – Jason anuncia, desanimado.

— Então parece que vamos comer sopa com atum e maçã. – Duck diz, quase com felicidade.

—---

Após dividir tudo em partes iguais, comemos quase tranquilos, com o zumbido dos ouvidos diminuindo aos poucos.

Parecia uma maré de sorte, ter sobrevivido, e ter comida apesar de sermos bombardeados.

Eu estava grata, acima de tudo.

Esperava que a munição e suprimentos se resolvessem depois, com o tempo.

Mas aparentemente, não seria fácil assim.

As explosões voltaram, mais perto. Sentíamos o impacto desta vez, e o som aumentava.

Em desespero, peguei Cookie, que havia acabado sua porção de sopa, e o escondi em minha blusa.

Receava que tivéssemos de fugir dali.

Olhei ao redor, e todos pareciam compartilhar do mesmo medo, mas antes que alguém pudesse dizer algo, a explosão próxima atingiu a casa onde nos abrigávamos.

Destroços e pedaços de paredes voaram em todos os lados, e fogo começava a se espalhar rapidamente, junto com gritos e terror.

Consegui, instintivamente, sair de perto de tudo com a mochila. Quando pensei que estava segura, observei para ver se alguém havia se ferido, e aparentemente, ninguém estava.

— A estrutura ficará fraca com o fogo – Duck gritou. Ele ajudava Rebecca a se levantar. – Temos que sair. Agora.

Não pensei duas vezes antes de sair, mas nem todos foram rápidos.

Com pedaços do teto incendiado caindo, Ivy acabou por ficar presa entre uma parede. Ela não parecia nada calma, e procurava um jeito de sair de lá, enquanto o restante do grupo não havia notado a cena.

Eu me aproximei, sentindo o calor e o crepitar do fogo violento, enquanto mais estrondos ocorriam ao nosso redor. Precisava ajuda-la, mas era impossível. Chamei por Brendon, o mais próximo, para tentar ajudar.

— Eu acho que consigo tirá-la. Ivy? – Ele gritou. – Já estou indo.

— Como vai fazer isso?

— Eu vou pular por onde o fogo está menos denso. – Ele disse, sem hesitar, e pulou com sucesso.

Mais paredes caíam, e eu ouvia os gritos do restante nos chamando.

Brendon envolveu Ivy com os braços fortes, e sua volta pareceu em câmera lenta.

Seu pulo virou um tropeço, e uma chama acabou pegando em sua camisa.

O fogo espalhou-se enquanto ele ainda estava no ar, por toda sua camiseta, e consequentemente, por Ivy também.

Quando ele aterrissou, gritei para que ambos rolassem no chão, para o fogo se apagar, mas Ivy não o fez.

Não soube identificar impotência, incapacidade ou desistência. Ela simplesmente continuou a queimar no chão. Seus cabelos já estavam todos dizimados, mas com esperança, tentei salvá-la, batendo em seu corpo com um cobertor do chão.

Notei que eram tentativas falhas quando o corpo de Ivy parou de se debater, carbonizado, com o rosto em agonia.

Tremendo, me afastei. Brendon estava seriamente queimado, mas vivo, e capaz de correr. Todas suas palavras seguintes foram como zunidos inaudíveis para mim. Só voltei do choque quando estava junto ao grupo correndo a pé, tentando inutilmente desviar das explosões.

Eles nos acharam. Sabiam que estávamos vivos, e só iam parar quando morrêssemos.

Nosso caminho foi aleatório, mas acabamos em direção a uma floresta, provavelmente a que Duck havia citado mais cedo. Meus músculos ardiam, e pediam socorro, mas eu precisava estar viva, com todas as forças.

Na floresta, fomos recebidos com uma ladeira, e um caminho de lama, envolto de árvores densas e o clima úmido. Se conseguíssemos nos esconder bem entre a vegetação, o avião desistiria. Corria o mais rápido possível, deslizando e escorregando na lama, enquanto ouvia o som quase longínquo das bombas. Felizmente, um caminho sem zumbis, apenas com o som do desespero.

Meus pés vacilavam no chão incerto e grudento, mas em nenhum segundo eu parei, ou pensei em parar.

Apenas quando o som já não era mais ouvido.

Aliviados, todos caíram de joelhos na lama, não se importando com a sujeira.

A perda de Ivy, quando processada, transformou-se em lágrimas ardentes, de raiva, medo, e tristeza. Mais uma. Um após o outro.

Não houvera paz em segundo sequer, eu me enganara.

Estavam todos desesperados, ofegantes, desorientados e abalados.

Mas vivos.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Querem me matar? -qq
Obrigada se leu até aqui.
Até o próximo (rezemos pra que não demore 84 anos, rs)
Beijinhos~