Sereias apocalípticas escrita por Evil Maknae, RebOS, Laesinha, Ana


Capítulo 18
Laboratório


Notas iniciais do capítulo

OLÁ :D CAPÍTULO NOVO
Este aqui é na visão da Rebecca. Boa leitura )O)



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 Anna tratava a flor como um filho recém nascido. Estávamos todos olhando para as pétalas azuladas da delicada plantinha. A felicidade que se acumulava dentro de cada um de nós era indescritível. Anna folheava o seu caderno procurando por mais informações sobre a cura enquanto nós nos sentíamos mais livres do peso do apocalipse.

 Eu estava sentada no chão de madeira afiando o Boris, o meu facão/amigo inseparável, Amanda conversava com Charles e Ivy sobre um assunto aleatório nos colchões da sala, Jason brincava com sua arma numa mesinha de centro que havíamos colocado em frente a uma poltrona, Woody continuava fumando, mas tinha largado a revista para conversar com Layx, que comia biscoitos, no sofá e Misha estava com Anna na mesa de madeira.

 Duck dizia que entendia coisas científicas e observava a flor detalhadamente. Aquele garoto era uma das pessoas mais estranhas que eu já tinha visto em toda a minha vida, mas mesmo assim ninguém duvidava mais do que ele dizia.

 –Será que ela sobrevive por muito tempo? –Ele perguntava para Anna, ainda observando a planta dentro do pote.

 –Com essa máscara feia olhando para a flor, ela vai morrer agora. –Jason zombou.

 Como sempre fazia diante de piadas em relação a sua máscara, o garoto pato ignorou o comentário. Só ouvimos um som seco de fumante vindo do Woody. Todos os olhares foram em direção a ele.

 –O que foi? Não posso tossir? –Ele perguntou. 

 –Tossir pode, mas fumar perto de uma planta rara não. –Respondi.

 –Ela não vai morrer. –O rapaz levou o cigarro novamente até a boca.

 –Não, quem vai morrer é você se não apagar essa droga agora. –Ameacei.

 Woody retirou o cigarro dos seus lábios lentamente me encarando.

 –Bom garoto. –Afirmei com a cabeça.

 Voltei a olhar para Anna que lia algumas coisas no seu caderno, até finalmente abrir um sorriso e olhar para todos nós.

 –Achei. –Ela colocou o caderno encima da mesa ao lado do pote com a flor rara. –Temos que procurar mais alguns utensílios e substâncias para a cura ficar pronta.

 Duck sentou na cadeira e começou a ler rapidamente as palavras do caderno. Amanda foi até a mesa e afastou um pouco a cabeça dele para que pudesse ler também.

 –Essas coisas são difíceis de achar? –Ela perguntou.

 –Creio que em laboratórios seja possível achar a maioria. –Duck respondeu antes de Anna. –Amanhã mesmo eu vou fazer uma busca no laboratório que tem nessa cidade.

 –Você não vai sozinho. –Misha falou. –Anna devia ir, já que é dona do caderno.

 –Todos nós podemos ir. –Minha voz se ressaltou pela pequena discussão que estava se formando. –Quanto mais gente para procurar melhor.

 –Concordo. –Layx falou enquanto colocava a mão no saco de biscoitos. –E temos que procurar comida também.

 –Deve ter umas paradas maneiras nesses laboratórios. –Jason falou enquanto girava sua arma na mesinha. –Tipo bombas de gases perigosos, ácidos que derretem a pele do zumbi...

 –Parece legal. –Ivy comentou.

 –Então o plano de amanhã é uma viagem em grupo até o laboratório? –Charles perguntou enquanto brincava com o Cookie, que emitia rosnadinhos fofos.

 –Exato. –Layx confirmou. –Acho que devemos saber a localização desse laboratório primeiro.

 –Achei. –Duck falou enquanto segurava um livro gigante nas mãos. Ninguém tinha percebido a movimentação dele. –De acordo com a lista telefônica, fica numa rua chamada Boambordleuk e o número é 866.  

 –Não tem um mapa da cidade nisso aí? –Layx perguntou, já que era quem mais conhecia de localização.

 –É uma lista telefônica.

 –Me dá isso ai, garoto. –Ela tomou o livro das mãos do Duck e começou a folheá-lo.

 –Onde diabos você achou isso? –Jason indagou.

 –Eu sempre procuro listas telefônicas ou algo do tipo para achar laboratórios. –O garoto pato respondeu.

 –Ah é, esqueci que você é o maluco dos remédios e coisas científicas. –Jason zombou novamente.

 –Não tem nenhum mapa nessa droga. –Layx falou enquanto fechada o livro pesado. –Tenho que procurar essa rua em algum lugar.

 –Deve ter um ponto turístico ou algo do tipo que tenha um mapa. –Ivy falou.

 –E como vamos achar o ponto turístico com mapa sem um mapa? –Woody perguntou.

 –Vamos ter que olhar todo canto dessa cidade? –Outra pergunta que desta vez vinha do Charles.

 –Acho que isso aqui é um mapa da cidade. –Duck novamente se moveu, mas ninguém havia percebido. Ele segurava algo nas mãos.

 –Eu nunca conheci uma pessoa que tinha um mapa da cidade na própria casa. –Jason comentou.

 Layx pegou o mapa da mão do Duck.

 –Mas eu acho que não foi um morador. –O garoto pato falou. –Creio que outro bando apocalíptico tenha passado por aqui. 

 –Faz mais sentido. –Peguei o saco de biscoitos que Layx tinha deixado sobre a mesa. –Não somos os únicos passando por isso.

 –Não somos mesmo. –Jason afirmou. –Eu já encontrei várias pessoas.

 –E você matou todos eles. –Amanda falou. –Parabéns, Jason.

 Eu ri e quase me engasguei com o biscoito.

 –Ou era isso, ou era não ter vaga na base. –Ele respondeu.

 –Que tal correr bastante para chegar lá na frente das pessoas? –Falei me recuperando do engasgo.

 –Nem comecem a tentar falar isso para ele. Eu já tentei e falhei miseravelmente. –A voz grossa do Woody soou.

 –Vamos ter que nos separar em grupos. –Duck interrompeu o momento. –Um grupo seria encarregado de procurar comida e mantimentos e o outro achar a localização do laboratório. Depois o grupo da comida iria para o laboratório para que todos fiquem juntos de novo.

 –Eu tenho algo que pode ajudar nisso. –Woody falou enquanto levantava e pegava sua mochila. –Cada grupo poderia ficar com um desses.

 Eu me aproximei para ver o que ele iria pegar. A mochila do Woody tinha várias caixas de cigarro, umas roupas e isqueiros.

 –Nossa que itens de sobrevivência. –Falei sarcasticamente.

 Ele sorriu, por algum motivo que eu não sabia e continuou mexendo até finalmente achar o que queria. Eram walkie talkies.

 –Os dois grupos podem ter um desse. –Ele entregou na minha mão.

 –Gostei. –Amanda falou. –Onde você achou isso, cara?

 –Jason pegou de uns caras. –Ele falou com pouco orgulho e entregou outro para Amanda. –Mas pelo menos funciona para algo.

 –Verdade. –Ivy afirmou.

 –Como vão ser os grupos? –Charles estava com o Cookie no colo.

 –Estamos em... –Ivy contou cada um de nós. –Dez.

 Eu, Layx, Amanda, Anna, Charles, Misha, Duck, Jason, Woody e Ivy. Sim, eram dez.

 –Cinco pessoas para cada grupo. –Ivy continuou.

 –A Anna precisa ir para o laboratório e eu vou com ela. –Misha afirmou o que todo mundo já sabia.

 –Eu vou com vocês. –Falei.

 –Eu preciso ir também. –Duck também entrou no grupo. 

 –Então eu vou para o grupo de comida. –Jason falou, provavelmente querendo ir para um grupo que não tivesse o Duck.

 –Eu também vou para o de comida. –Ivy anunciou. –Amanda e Charles querem vir comigo?

 Ambos assentiram.

 –Eu vou para o do laboratório. –Woody falou. –Para que vocês não tenham problema no uso do walkie talkie.

 –O que sobrou eu vou. –Layx falou por último.  –E eu não vou negar que gostei.

 Todos riram.

 –Vamos arrumar as coisas e nos preparar, porque amanhã vamos sair deste pequeno sobrado. –Falei enquanto sentava nos colchões.

 Ficamos fazendo coisas aleatórias. O tempo passava bastante devagar. Eu estava com um pano úmido limpando o sangue seco da minha pele. Duck me ajudava, segurando um potinho com água para que eu mergulhasse o pano.

 –Sua pele já está ficando um pouco irritada por causa da força que você esfrega o pano no seu braço. –Ele falou.

 –Eu não quero ter sangue de zumbi nojento na minha pele. –Respondi e continuei esfregando. –Você não faria o mesmo?

 –Sim. –Ele afirmou. –Eu vou precisar que você me ajude depois.

 –Muito sangue?

 –Não, é um corte mesmo. –O garoto pato respondeu. –Eu fiz um curativo, mas ele continua doendo. Acho que vou precisar costurar.

 –Amanda pode fazer isso.

 –Se ela não puder, eu mesmo faço.

  Molhei mais o pano para limpar o braço direito.

 –Esse vírus é fascinante. –Duck quebrou o silencio que ficou por alguns segundos.

 –Fascinante? Eu diria horrível, desnecessário e medonho, mas tudo bem.

 –Não digo fascinante como alguém gosta dele. –Ele soltou uma risadinha. –Eu só acho impressionante o que ele faz com os seres humanos.

 –Por esse lado eu concordo com você. Nunca esperei testemunhar um apocalipse zumbi na minha vida.

 –E eles não são qualquer tipo de zumbis. Nossos zumbis não são como os das fantasias. –Ele deu uma pausa. –Na verdade zumbi é só um apelido porque aqueles que pegaram o vírus realmente parecem com os zumbis criados.

 –Então o vírus não transforma as pessoas em zumbis?

 –Mais ou menos. Esse vírus que foi transmitido no nosso país faz com que os tecidos da derme da vítima fiquem apodrecidos, realmente como mortos. Dá pra perceber que elas não têm cor nos olhos, a pele é esverdeada e ainda tem aquela secreção nojenta. Somado a esse bolo de coisas ruins ainda tem o fato de que ele afeta o psicológico da pessoa, fazendo com que ela tenha desejos carnívoros e canibais. –O garoto pato olhou ao redor e percebeu que todos estavam ouvindo ele, mas mesmo assim ele voltou a olhar para mim. –O que afirma o fato de que eles não comem apenas carne humana, mas sim de qualquer coisa que esteja viva.

 –E a mordida? –Perguntei apenas para confirmar o que eu pensava.

 –Isso também se assemelha as histórias. A mordida deles é bem forte, afinal são canibais. Isso vai fazer com que o vírus presente na saliva entre em contado com o corte e passe para a corrente sanguínea.

 Assenti com a cabeça.

 –Que loucura. –Layx falou.

 –Sim, muita loucura. –Duck confirmou. –Eu vi que até mesmo animais ficavam com esses sintomas.

 –Legal essas histórias de terror, mas que tal um pouco de diversão? –Jason falou girando uma garrafa na mesa. –Vamos animar esse apocalipse.

 Todo mundo observou um ao outro, esperando quem toparia ir primeiro para puxar o resto do grupo. Ivy foi a primeira a topar e Duck o último. Ficamos em um círculo imperfeito enquanto uma garrafa marrom girava no meio fazendo o único barulho que soava pelas paredes da casa.

 –Quem vai dar o primeiro giro? –Jason perguntou.

 –Vai você, animadinho. –Falei sarcasticamente.  

 Jason sorriu e girou. A garrafa movimentou-se rapidamente. Os olhos de todos estavam vidrados esperando em quem pararia. A garrafa passou por Amanda, Charles, Layx, eu, Anna, Misha e parou no Duck. Jason franziu o cenho, parecia ter ficado irritado. A maioria riu da cena, menos os dois que estavam envolvidos no lance.

 –Gira de novo, Jason. –Charles falou entre risadas.

 –Eu ia girar de qualquer jeito. –Ele respondeu nervoso.

 A garrafa girou novamente, fazendo o mesmo trajeto. Desta vez, parou na Ivy, que pagou a penalização. Jason ficou satisfeito.

 –Sua vez, Ivy. –Layx falou.

 Ivy segurou a garrafa e girou. O barulho soava forte aos meus ouvidos e me fazia ficar em um pequeno transe. Não prestei atenção na trajetória, apenas voltei à realidade quando ouvi um nome.

 –Amanda? –Charles indagou surpreso. –Ivy...

 Todos soltaram um risinho e várias caras safadas invadiram o rosto de todos. Elas se aproximaram e deram um selinho rápido.

 –IVY! –Charles protestou.

  O Charles sentia ciúmes, era óbvio. Amanda piscou o olho para ele e girou a garrafa, que parou na Ivy novamente. Novamente as caras safadas tomaram conta do semblante de todos.

 –Vai, Charles! –Ivy falou revirando os olhos.

 O garoto sorriu e fez aquilo que queria. O beijo foi meio demorado. Na vez de Charles, ele girou e caiu no Misha.

 –Eu deixo a Anna fazer isso. –Ele falou rindo.

 Todos riram e Anna beijou o seu namorado apaixonadamente. Misha passou sua vez para que Layx girasse. A garrafa girou, levantando o transe novamente até a minha mente. Caiu no Woody.

 –Vai beijar a chaminé ambulante. –Jason zombou.

 Woody mostrou o dedo médio para seu amigo e beijou Layx.

 –E ai, tem gosto de quê? –Jason perguntou com tom brincalhão.

 –Churrasco. –Layx brincou.

 Woody riu e segurou a garrafa, girando-a em seguida. Ela se movimentou rapidamente, diminuiu a velocidade até parar... Em mim. 

 Fiquei de joelhos e me inclinei, tocando meus lábios no do rapaz de tapa olho. Tinha realmente gosto de cigarro. Era o cheiro do Woody. Ele colocou a mão no meu braço e pressionou mais os lábios nos meus. Poucos segundos depois nos separamos.

 –Minha vez. –Falei, enquanto ainda pensava no beijo.

 Girei a garrafa. O beijo, o cheiro forte e a garrafa. Minha mente percorreu em um deja vu e parou nas lembranças de um velho amigo. Olhei para baixo e para o colar. BM. A garrafa girava e o barulho me deixava num transe horrível, relembrando da ferida horrível que estava na barriga do Benjamin.

 –Preciso ir ao banheiro. –Levantei. –A vontade apertou.

 –De novo? –Duck perguntou.

 –Uma garota não pode ir ao banheiro duas vezes no mesmo dia?

 –Desculpe. –Ele falou abaixando a cabeça.

 –Eu volto em alguns minutos. –Respondi tentando segurar o choro. –Misha e Anna dêem um beijo no meu lugar e passem a vez.

 Eu me afastei da minha roda de amigos, deixando o casal apaixonado se beijando e os outros rindo para trás. Entrei no banheiro e fechei a porta. Olhei o meu reflexo no espelho velho e oxidado. Minhas olheiras estavam profundas e escuras, meu rosto estava cheio de cortes e machucados e meus braços tinham alguns pontos roxos.

 Passei os dedos pelos meus cabelos castanhos e cacheados, que estavam embaraçados. Meus olhos, também castanhos, brilhavam com as lágrimas que estavam prestes a cair. Um nó se formava na minha garganta e a única coisa que eu fiz foi agarrar o anel pendurado no meu colar.

 Eu tentava esquecer o que havia acontecido, mas em um momento de fraqueza as cenas voltavam à minha mente e me bombardeavam furiosamente. Em vez de uma garrafa perfeita, minha cabeça imaginava a garrafa quebrada que perfurava a barriga do meu amigo.

 Lágrimas escorreram pelo meu rosto sujo. O cheiro de bebida forte ainda estava vívido em minha mente. Enfiei a mão no bolso da minha calça e puxei um retalho de pano pequeno totalmente sujo de sangue. Era o sangue do Ben. Guardar o sangue do seu amigo morto no seu bolso era algo doentio. Eu sentia que cada vez mais eu perdia a consciência de que estava adoecendo mais e mais.

 Fechei os olhos e respirei fundo. Meus lábios tremiam e mais lágrimas desciam. Um sentimento de vazio preenchia meu corpo nesses momentos de fraqueza. Agarrei o tecido da minha calça com força e chorei silenciosamente.

 Batidas soaram na porta.

 –Rebecca? –Era a voz do Duck. –Eu posso entrar?

 –Não. –Falei tentando parecer que não estava chorando.

 –Eu sei que você não está fazendo o que diz.

 –O que você quer?

 –Entrar. –Ele respondeu como se fosse óbvio.

 Levantei, destranquei a porta, ainda deixando ela fechada, e me virei. Duck a abriu e então fechou atrás de si, trancando-a novamente. Eu fechei a tampa do vaso e me sentei, cobrindo o rosto com as mãos. Deu para perceber que o Duck se ajoelhou na minha frente.

 Ele segurou as minhas mãos e as afastou do meu rosto, fazendo com que eu passasse a encarar sua máscara de pato.

 –Eu não sei como começar isso, mas eu vejo que precisa de ajuda. –Ele começou. –Suas amigas sabem o que você sente, mas você não dá chance para elas te aconselharem. Como eu não tenho medo de perder minha vida, eu vim aqui falar com você.

 Franzi o cenho e limpei as lágrimas do rosto.

 –Você precisa esquecer esse cara. Eu não sei como ele morreu, ou o que ele significou para você, mas momentos passam. Eu perdi meus pais com cinco anos de idade e passei três anos em um orfanato, eu sei como é se sentir um inútil e assim como aprendi a me virar sozinho no apocalipse, aprendi também a tentar não sofrer com isso.

 –Eu tento esquecê-lo, mas em coisas simples aparecem as lembranças ruins e voltam a atormentar minha cabeça como as vozes que atormentavam a cabeça dele.

 –Era esquizofrênico?  

 Assenti com a cabeça.

 –Você está fazendo a coisa toda errada. –Ele se sentou para ficar mais confortável. –Você nunca vai esquecer completamente de alguém, ela estará sempre vagando pela sua mente, mas você pode tentar esquecer os momentos que passou com ela. Eu não vi o momento que meus pais morreram, mas vi o corpo deles num caixão e eu passei o primeiro ano todo do orfanato com isso na minha cabeça, mas percebi que eles não iriam mais voltar e tive que me conformar com isso. Eu não sei o quão duro isso vai soar, mas você PRECISA colocar na sua cabeça que ele não vai mais voltar.

 –Ótimo conselho. –Mais uma lágrima desceu.

 –Quando você se conformar com isso, todas as lembranças ruins desaparecerão e ai só vão ficar as boas. Você é uma das garotas mais fortes que eu conheci. Suportou a morte dos seus pais e está sobrevivendo a um apocalipse. –Ele segurou meus ombros. –É só se conformar.

 Surpreendentemente, o garoto pato enfiou a mão no meu bolso e retirou o retalho com o sangue do Ben. Meu coração bateu rapidamente. Era um susto. Como ele sabia daquilo?

 –Livre-se dessa doença que está fazendo peso em suas costas.

  Duck levantou e olhou para mim. Eu levantei e dei um abraço nele. Envolvi os braços no seu corpo magro. Ele retribuiu o gesto e me envolveu também.

 –Obrigada. –Sussurrei enquanto apoiava o rosto em seu ombro.

 Por fim, apenas percebi que ele havia tirado a mão da minha cintura e levantado em direção a máscara. Ele levantou um pouco e me deu um beijo no pescoço.

 ******************************************************

 Estávamos no carro do Woody, indo em direção ao laboratório. Ele dirigia e eu estava sentada ao seu lado, segurando o walkie talkie, esperando que alguém falasse algo. Duck, Anna e Misha estavam no banco de trás. Já fazia um tempo que estávamos rodando a cidade seguindo as localizações dos mapas. Woody era bem melhor que eu em localização, então ele sempre me ajudava para fazer com que nós não nos perdêssemos. 

 –Agora vire à direita. –Falei. –Vire naquela rua ali e siga em frente.

 Passei vários minutos, ou até horas, dando comandos. Nossos amigos, do grupo da comida, estavam no centro da cidade, procurando mantimentos. Nós seguimos para o oeste da cidade, já que o mapa indicava que o laboratório ficava por ali. Finalmente vimos uma placa na esquina dizendo Rua Boambordleuk.

 –Nós estamos perto desse laboratório? –Duck perguntou com a voz de cansaço. –Eu já tirei uns dois cochilos.

 –Sim. –Woody afirmou. –Agora estamos.

 No final da rua havia um grande estabelecimento com um portão acinzentado e oxidado, que estava quase todo destruído. O lugar era enorme e tinham paredes brancas, mas que agora estavam sujas de sangue. Havia um carro queimado chocado em uma das paredes. Algum tempo atrás, algum acidente deveria ter acontecido ali.

 –Acho que chegamos. –Falei.

 Estacionamos perto da calçada e caminhamos até o portão. Entramos com facilidade. O local tinha vários estabelecimentos dentro. Eram como casinhas científicas com paredes, que antes eram brancas, e portas de vidro embaçado. 

 – Olha o tamanho disso. Deve ter de tudo aqui. –Misha falou. –Lanchonete, laboratórios, academia...

 –Cientistas malhando? –Indaguei.

 –Por que não?

 Continuamos caminhando. O espaço não tinha teto, então dava para ver as nuvens acinzentadas de chuva se formando acima de nós. Também era possível ouvir algumas trovoadas baixas.

 Em algumas partes, tinha gramados e árvores, bancos de praça, que agora estavam destruídos. Alguns corpos mortos e cheios de sangue estavam jogados pelo local. Alguns estavam apenas em ossos, como se zumbis tivessem comido a carne.

 –Vocês estão ouvindo?—Era a voz do Charles no walkie talkie.

 –Estamos aqui. –Respondi aproximando o aparelho da minha boca.

 –Aperta o botão. –Woody caminhava na frente.

 Fiz o que ele mandou e repeti a mesma frase.

 –Conseguimos pouca comida.—Charles falou. –Conseguimos algumas armas e munições, mas a comida está pouca. Precisamos da localização do laboratório.

 –Em que rua vocês estão? –A pouca comida estava me entristecendo.

 –Rua Kandriell.

 Busquei o mapa na minha mochila e localizei a rua que o Charles havia falado.

 –O Duck vai guiar vocês. –Falei, enquanto forçava o Duck a segurar o mapa e o walkie talkie.

 –Mas eu não quero... –O garoto pato suplicou.

 –Por favor.

 Ele suspirou e fez o que eu pedi. Já havíamos ficado para trás. Woody, Anna e Misha estavam mais a frente que nós. Acelerei o passo e Duck fez o mesmo. Caminhamos até um local grande, tecnológico e escuro. Buscamos nossas lanternas para nos guiar no escuro.

 O local era bem grande e tinha várias salas. O chão era branco e empoeirado. No meio havia um grande balcão em forma de circulo, como uma recepção. Do lado de dentro do balcão havia várias cadeiras e computadores, que agora estavam velhos e desligados.

 –Pessoal! –Anna nos chamou segurando o seu caderno. –Vamos ver logo o que precisamos achar.

 Concordamos e iluminamos o caderno que estava sobre o balcão. As páginas eram amareladas e a escrita rápida, porém legível. Havia várias coisas com nomes estranhos e alguns desenhos também. Duck havia acabado de dar as informações. Nós nos separamos e procuramos de sala em sala. Não havia nada. Tudo estava destruído e quebrado.

 Rodamos todo o espaço durante praticamente uma hora até que nossos amigos do grupo da comida chegaram. Jason mostrou as novas granadas que havia achado e quase fez com que todo mundo explodisse. Nada como uma pequena ameaça para fazê-lo parar.

 Rodamos as “casinhas científicas” do lado de fora. A chuva começava a descer pesada molhando nossas vestimentas. As trovoadas começavam a ficar fortes e a esperança ia se esvaziando cada vez mais. Procuramos em todos os locais possíveis.

 Duck deu a ideia para que deixássemos potes em áreas abertas para conseguirmos água, já que estava sendo difícil encontrar isso também.

 A única coisa que conseguimos encontrar foi um vaso especializado para fazer porções.

 Todos estavam tristes. Sentamos todos juntos em um local apertado. Cada um recebendo o calor do outro. E a única coisa que tínhamos era um ao outro. Eu tinha vontade de chorar e gritar.

 Apenas ficamos olhando os pingos de chuva caindo.

 Tudo isso valia a pena?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e até o próximo :)