HL: Pocket Girl - How Heroes are Born escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 24
Escuridão em mim.


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores.
Recuperados do último capítulo? Bem, prontos ou não, aqui vai.
Espero que gostem e possam deixar seu recadinho de amor ou ódio.
Amo vocês, obrigada por tudo, beijos da Mini =*

Boa leitura.



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O mês de novembro trazia seu típico clima frio de outono, quando as árvores já soltavam suas folhas, aguardando o rigoroso inverno que se aproximava.

Na televisão ligada apenas para quebrar o silêncio do quarto de Benny, a moça da previsão do tempo anunciava as nuvens carregadas que se aproximavam de Nova York e toda região ao redor da cidade, com um sorriso tão forçado que dava a impressão de que ela fazia propaganda de um creme dental barato que se acumulava nas prateleiras de farmácias e lojas de conveniências.

O garoto estava deitado em sua cama que ficava ao lado da janela, tendo a Trajetória estampada em um desenho enorme na parede da cabeceira. Seu braço ainda estava enfaixado, embora o ferimento causado pela flecha da arqueira assassina estivesse quase curado.

Lá fora, o céu não mostrava suas estrelas. Estavam ocultas pelas nuvens tão negras quanto a noite, que trocavam suas cargas elétricas ao tocarem umas nas outras, quando relâmpagos quebravam a escuridão por breves segundos, seguidos por estrondosos trovões assustadores.

Sobre o telhado da casa que ficava na frente da residência dos Johnson, uma luz azul deixou seu rastro, até parar de brilhar completamente.

 

Benny tirou os fones de ouvido, deixando ainda ligada uma das músicas da Starset, quando percebeu que a reportagem a seguir parecia interessante.

 

Hoje, às dezenove horas, a nave espacial Athena deixou os Estados Unidos, rumo à uma expedição de aproximadamente um ano e meio. A tripulação disse estar animada, principalmente por se tratar de jovens recém-contratados pela NASA.

 

A imagem cortou da âncora do jornal para o interior da nave. Os cinco astronautas, sendo três deles bem novos, acenavam para a câmera interna assim que entravam.

 

— Até eu gostaria de ir para a lua com uma astronauta daquela — o garoto resmungou, antes de voltar a mexer no celular.

 

Logo recebeu uma mensagem de um número restrito, dizendo "Coloca o comunicador".

Rapidamente, colocou o pequeno aparelho no ouvido esquerdo, mesmo sem ter ideia de quem tinha mandado aquilo, muito menos o motivo.

 

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou baixinho, ativando o comunicador.

— Sim, aconteceu — Taylor respondeu baixo. — De hoje em diante, você e a Pocket vão ser uma dupla, sem mais Trajetória.

— O quê? Quem está falando? — Olhou pela janela, encontrando apenas a rua vazia.

— Benny, com quem você está falando? — Ouviu a voz da sua mãe, vinda da cozinha.

— Ninguém, mãe. É a televisão — mentiu, levando a mão até a orelha. — Seja quem for, não vou deixar que faça mal à Trajetória.

— Sou eu, Spotlight, a Trajetória. — A garota suspirou, fechando seus olhos ao sentir o coração cada vez mais apertado. — Não dificulta as coisas. Meus poderes estão me matando, não posso continuar com isso.

— Você está brincando comigo? Onde você está? Vou aí agora mesmo. —  Aumentou o volume televisão e foi até a janela novamente, vestindo um casaco pesado e calçando os tênis, enquanto esbarrava eu tudo o que estava em seu caminho.

— Se você sair de casa, eu vou quebrar as suas pernas — disse, com a voz um pouco chorosa, fitando o garoto do telhado da casa em frente.

— Se eu não me quebrar sozinho, eu deixo você quebrá-las. Me encontra atrás da igreja abandonada, perto da minha casa.

— Spotlight, não. Isso só…

— Shiiii. — Silenciou a garota, respirando fundo. — Não ouse me deixar esperando. — Desligou o comunicador e o guardou no bolso, antes que recebesse um “não” como resposta.

 

Olhou para o chão tentando calcular a distância da janela até ele e lembrou do breve treinamento que recebera de Alice. Sentiu um frio na barriga e seu coração dava sinais de pular de sua boca antes que ele mesmo chegasse ao chão.

 

— Pula e rola. Pula e rola. Pula e rola. — Repetiu algumas vezes antes de se jogar na escuridão, rolando assim que atingiu o solo. — Estou melhorando. — Sorriu com a conquista, limpando do casaco algumas folhas que se desprenderam do carvalho.

 

Correu pela rua de trás de sua casa, usando o capuz da jaqueta para se proteger do vento gelado até chegar onde marcou com a heroína.

Não demorou para que a garota chegasse nas ruínas da pequena igreja abandonada, embora não quisesse ter ido.

— Qual parte do “isso está me machucando” você não entendeu? — falou, um pouco irritada, enquanto tentava não chorar.

— Eu entendi. — Fitou a garota com calma, ajeitando os óculos, quando um raio iluminou o céu e o trovão que veio em seguida quebrou o silêncio que os cercava. — Essa é a última chance que eu tenho de descobrir quem é você, porque talvez a gente se cruze todos os dias daqui para frente, sem eu ter ideia do seu nome.

— Isso não vai acontecer. — Deu alguns passos para trás. — Essa é a última vez que nos vemos.

— Por quê? — Sua voz um pouco trêmula mal saía de sua boca. Sentia seu estômago revirar, temendo que a vida da heroína estivesse em risco.

— Eu vou sair da cidade. — Desviou o olhar, impedindo que as gotas que se acumulavam em seus olhos escorressem por seu rosto. — Não quero nada que me lembre a vida de heroína. Ver a Pocket, você… Isso vai me machucar mais do que o próprio reator que está detonando com o meu corpo.

— Eu entendo, Trajetória. — Afastou os cabelos da franja da garota antes de abraçá-la. — Nova York não vai ser a mesma sem você.

 

Não soltou a garota de seus braços e nenhum dos dois queria. O vento gelado batia contra o rosto de Benny, mas ele não permitiu que fizesse o mesmo em Trajetória, protegendo-a como um tesouro valioso e frágil o suficiente para se desfazer com apenas um sopro. E de certa forma, era assim que estava o coração de Taylor. A ponto de se desfazer a qualquer momento, tamanha a tristeza que sentia ali. Temia também a reação do garoto ao descobrir que ela escondeu por todo esse tempo quem realmente era.

 

—  Agora vai me dizer quem é a minha heroína favorita? — Sorriu fraco, levando as mãos até o rosto da menina, acariciando suas bochechas quentes.

 

Fitou os olhos cobertos pelos óculos protetores de lentes amarelas, pedindo uma permissão silenciosa para tirá-los.

Taylor abaixou o rosto, se afastando um pouco. Ainda mais corada e o coração batendo cada vez mais forte, sentiu as gotas frias que se desprendiam das nuvens sobre eles, que elevaram os olhares ao mesmo tempo para o firmamento em luto, voltando a encarar um ao outro em seguida.

O tempo pareceu parar por um instante e acelerar consideravelmente logo depois, de uma forma que Taylor já não conseguia seguir o próprio raciocínio, ficando à mercê de seus sentimentos.

A heroína deixou seus pés se elevarem, equilibrando-se na ponta deles e puxou o rapaz pela nuca, selando os seus lábios aos de Benny, em um beijo calmo e apaixonado.

O garoto nunca esperava aquilo de Trajetória, o que o fez ficar sem reação por um breve instante, em que seus olhos surpresos e arregalados se fecharam lentamente e seus braços trouxeram o corpo molhado de Taylor para perto do seu.

Foi indescritível a sensação da garota ao ter os lábios finos do rapaz que roubara seu coração colado aos dela.

Benny levou a mão até o rosto da garota, acariciando-o delicadamente, sentindo sua pele macia ficar fria ao ser atingida sem piedade pelas gotas que caíam rápido do céu.

Com o coração acelerado, como se queimasse em seu peito, sentiu como se todos os seus sentidos ficassem apurados de uma forma sobre humana.

Aquele toque, aquele perfume, aquele sorriso, aquela voz.

Tudo se misturava em sua mente, para logo depois deixar tudo claro, ressoando dentro de si, ao ritmo das batidas de seu coração.

 

Taylor

 

Não. Não havia mais dúvidas. Era ela. Tinha que ser. Mas se fosse…

Em um movimento inesperado, Benny tirou o visor do rosto da menina, iluminado por mais um relâmpago.

 

— Era você esse tempo todo! — sussurrou, enquanto se aproximava mais uma vez.

— Parece que seu corpo deu muito foco para as orelhas e esqueceu do cérebro. Sinto muito por isso. — Taylor sorriu fraco, se afastando. — Adeus, Dumbo.

 

Sem deixar o garoto dizer mais nada, ela ativou os seus propulsores e saiu, deixando seus rastros azuis tão característicos.

 

— Taylor?! — balbuciou o nome da garota, finalmente caindo em si. — Taylor! — chamou mais alto e começou a correr na direção dos rastros, mas eles desapareceram tão rápido quanto surgiram. — Tay!

 

Sua cabeça rodava, como tudo ao seu redor. Sentiu o estômago dando nós, enquanto seu coração era esmagado cruelmente pela última frase que ouvira da boca da Trajetória. Suas pernas vacilantes foram de encontro ao chão e de sua garganta, explodiu um choro pesaroso

Lembrou do comunicador em seu bolso e o colocando na orelha, implorou:

 

— Tay, fala comigo. Eu sei que você está escutando. Volta aqui, Taylor. Você não pode ir embora. Não pode me deixar, Taylor!

 

Ela o escutou, há muitos metros de distância. Tirou o aparelho do ouvido, o lançamento no asfalto. Mais uma palavra que ouvisse a faria desmoronar. Ouvi-lo em desespero era angustiante demais para a garota.

Benny poderia jurar que ouviu um soluço baixinho, antes do som de algo se quebrando, encerrando a transmissão.

O frio daquela noite já fazia seu corpo molhado tremer, então resolveu voltar para casa, com o sentimento de impotência invadindo completamente seu ser. Já não tinha pressa, então caminhou devagar, sentindo as gotas cada vez mais pesadas e o vento cortante açoitar seu rosto descoberto.

Ao entrar em casa, não se importou com o chão que estava brilhando antes que ele o molhasse completamente.

Ignorou os gritos da mulher dona de belos olhos verdes que havia terminado o jantar e já planejava chamá-lo para a refeição.

Sentia-se anestesiado e, ao mesmo tempo, quebrado de todas as maneiras. Sua única vontade era de gritar até não sentir mais aquela dor.

 

“Como fui tão burro?”, pensou, condenando-se.

 

Quando chegou ao banheiro, despiu-se o mais rápido que as peças de roupa grudadas em seu corpo permitiam e logo sentiu a água quente arder em sua pele alva.

Mas aquilo não aliviava. Nada aliviava.

Todas aquelas cenas, aquelas frases se repetiam incessantemente em sua cabeça.

Terminou seu banho duas vezes mais demorado do que o normal e voltou para o quarto, arrastando o próprio corpo até a cama, onde desmoronou.

Fitou o teto por um longo momento até que sentiu seu celular enrolado no fone de ouvido próximo a sua mão. Ligou o aparelho apenas para se arrepender segundos depois, ainda estava pausada a música que escutava e agora fazia todo sentido.

Seus olhos imitaram as nuvens, derrubando lágrimas amargas que desciam pelo seu rosto.

Em silêncio, repetiu várias e várias vezes a mesma canção, sentindo ainda seus lábios queimarem com a sensação do beijo que marcou o fim de algo que nunca teve um início.



Não há ódio, não há amor.
Apenas céus escuros, que estão suspensos acima.
Eu chamo o seu nome enquanto eu ando sozinho.
Envie um sinal para me guiar para casa.

[...]

Você é a causa, o antídoto.
O navio afundando, que eu não poderia deixar ir embora.
Você deixa o meu caminho, em seguida, desaparece.
Como você pode simplesmente ir embora e me deixar aqui?

 

Ilumine a noite.
Você é minha estrela negra.
E agora você está caindo.

Mas eu encontrei em você, o que foi perdido em mim
Em um mundo tão frio e vazio.
Eu poderia ficar acordado só para ver você respirar.
Na calada da noite, você tornou-se escuridão em mim.”

 

Dark on Me - Starset


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