HL: Pocket Girl - How Heroes are Born escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 21
Maldição de Halloween


Notas iniciais do capítulo

“Eu pensei que nós conseguiríamos
Porque você disse que conseguiríamos superar
E quando toda a segurança falhar
Você vai estar lá para me ajudar?

Explique essa conspiração contra mim
E me diga como perdi meu poder”

Conspiracy - Paramore

Boa leitura.



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Queens, 31 de Outubro de 2015

 

O relógio na parede marcava quinze minutos para às dez horas. A pequena cozinha do sobrado simples estava revirada, com várias louças estilhaçadas pelo chão, assim como o resto do macarrão que sobrou do jantar.

Em um canto próximo a geladeira, uma mulher de meia idade, cabelos loiros, rosto machucado e expressão assustada, estava chorando, enquanto esperava o próximo golpe de seu agressor. Um homem forte e bêbado, do qual tinha o desprazer de chamar de marido.

 

— Por favor, Daniel, para! Por favor! — sua súplica saiu como um sussurro em meio aos soluços de seu choro.

— Parar?! Vou parar quando você deixar de ser uma cadela! — bradou, acertando mais um tapa no rosto inchado da mulher. — Sabe o que eu deveria fazer? Deveria pôr fogo em você! Te matar de uma vez, Mary! Mas a morte é pouco para uma puta desgraçada como você! Eu deveria te jogar na rua com aquela putinha da tua filha!

— Não fala assim, Daniel. A Annie também é sua filha.

— Você sabe que não é! Vadia do inferno! — Mais um tapa acertou Mary, fazendo-a gemer. — Eu fui muito idiota de criar a filha daquele desgraçado. Mas isso acaba aqui! Eu vou ficar com a Meg e você vai sumir daqui, antes que eu mate você e aquela delinquente!

— Isso é verdade?

 

Annie, que acabara de chegar com a irmãzinha depois de buscar doces na vizinhança, ouviu parte da conversa, levando um choque indescritível.

Aquela cena da mãe apanhando de seu pai já era corriqueira para as meninas, mas aquelas palavras as pegaram de surpresa.

 

— Annie, sobe agora! — Mary ordenou, se levantando com dificuldade.

— Não vou! É verdade ou não?! Eu não sou filha desse bêbado nojento? — bradou, se aproximando deles.

— Annie, estou com medo! Ele vai te bater! — Meg segurou a mão da irmã, impedindo-a de prosseguir.

— Calma. Está tudo bem. Vamos só conversar. Toma. — Colocou o celular e os fones de ouvido dentro da cesta de doces e sorriu. — Vai para o quarto e se tranca lá. Liga uma música bem alta, The Clash, você vai adorar, e coloca o jogo que você quiser. Eu já vou ficar com você.

 

Mesmo com medo de Annie se machucar, Meg assentiu e subiu correndo, fazendo os degraus rangerem quando seus sapatinhos encontravam com a madeira velha.

Assim que ouviu o barulho da porta se fechando, a garota se virou para os pais, cruzando os braços.

 

— Vocês vão ficar me olhando com essas caras de idiotas ou vão falar que inferno está se passando aqui?

— Você vai aprender a me respeitar, garota. E vai ser na base da porrada!

— Não encosta em mim! — gritou, empurrando o homem, que cambaleou para trás. — Você não é meu pai, não é mesmo? Vocês mentiram desde que eu nasci?

— Annie, não é nada disso. Seu pai está só um pouco nervoso. Não leve em consideração.

— Um pouco nervoso? — sorriu, fitando a mãe. — Ele nem se aguenta em pé! Está parecendo um mendigo fedorento e bêbado. Está um nojo! — cuspiu as palavras, encarando o homem.

— Não provoca, Annie — Mary implorou, limpando o sangue de sua boca em um pano de prato.

— Não estou provocando. Só dizendo a verdade. Agora é a vez de vocês. Quem é meu pai? — disse pausadamente.

— Annie, esquece isso, por…

— Quem é meu pai, caralho?! Eu tenho o direito de saber! — gritou o mais alto que seus pulmões aguentaram, tentando não chorar. — Qualquer um é melhor do que esse vagabundo!

 

Antes que percebesse, Daniel a puxou pelos cabelos, arrastando a garota até a sala, onde a jogou no sofá.

Em seu quarto, Meg tentava aumentar o volume de Should I Stay or Should I Go, que já estava no último, mas não era o suficiente para abafar o som do cinto de couro acertando sua irmã, nem os palavrões que ela gritava em meio ao choro alto. A garotinha de apenas dez anos não conseguiu segurar as lágrimas, sentindo-se impotente e indefesa, com medo de ser a próxima a levar uma surra, mesmo sem motivos.

Tomada por uma forte sensação de indignação — ou até mesmo loucura —, Annie reagiu, acertando um chute na região íntima de Daniel e o empurrou sobre a mesa de centro, estilhaçando o móvel velho.

Correu para fora, pegou sua bicicleta e pedalou o mais rápido que conseguiu. Estava com tanto medo de que ele machucasse sua irmãzinha, mas não conseguia permanecer ali nem por mais um instante. Ignorou as dores no corpo e pedalou como se no fim do caminho, não existisse mais nenhum resquício de seus demônios.

Quase uma hora depois, bateu com força em uma porta, após tocar várias vezes a campainha. O esforço foi muito grande para seus pulmões, que já alertavam uma intensa crise de asma. Usou a bombinha, mas aquele aperto em seu peito continuava.

 

— Meu Deus, Annie, o que aconteceu com você?! — Benny foi surpreendido por um abraço da garota assim que ele abriu a porta.

 

Deixando todas as suas defesas no chão, Annie chorou alto, chamando atenção das crianças e adultos que ainda comemoravam o dia das bruxas, brincando no meio da rua.

Sem saber ao certo como reagir, Benny retribuiu ao abraço e acariciou os cabelos coloridos dela, a guiando para dentro da casa.

 

“Onde eu posso ir? Porque eu preciso de algo mais.
Cercada pela incerteza, eu sou tão insegura.
Me diga o porquê de me sentir tão sozinha.
Porque eu preciso saber a quem eu devo.”



Jessica rapidamente preparou um chá quente e relaxante, e deu para a garota, assim que ela parou de chorar.

Annie explicou tudo o que aconteceu e mostrou as marcas roxas nos braços de pele branquinha.

Após aconselhar a garota, dizendo como ela deveria reagir àquela situação, Jessica ligou para Mary, apenas para avisar que Annie estava bem e passaria a noite ali, para evitar mais problemas. Esperar Daniel ficar sóbrio era a melhor coisa a ser feita.

Benny levou a amiga até seu quarto e tentou animá-la com alguns jogos e vídeos idiotas que encontrou na internet, mas nada funcionou.

 

— Desculpa, Benny. Eu sou uma péssima visita hoje. — Deitou na cama do garoto, fitando o teto.

— Tecnicamente você é uma invasora, não uma visita. — Riu baixinho, deitando ao lado dela. — Relaxa. Amigos são para isso. Só não entendi por quê eu. Sei lá. Não seria mais lógico você procurar a Tay, que é menina ou o Clark, que mora mais perto?

— O Clark está em Princeton. O time de lá já quer reservar uma vaga para ele. A Tay… você sabe. Ela ia querer bater no meu ex pai. Não que eu não goste da ideia, mas não seria muito legal depois que ela fosse embora. — Deu de ombros. — Mas de qualquer forma, você seria minha primeira opção.

— E por que?

— Você é calmo. Me acalma também. Gosto disso em você, orelhudo. — Assentiu, desviando o olhar para o rapaz.

— Obrigado. Eu acho. — Sorriu para ela, segurando em suas mãos. — Vai mesmo procurar o outro pai?

— Sim! Enquanto o Daniel me batia, ele disse que meu pai era um mercenário e trapaceiro. Phillip Madson o nome. Acho que não vai ser difícil de achar.

— Não é algo que você possa colocar no jornal. “Procura-se Phillip Madson, assassino de aluguel”. — Riu baixo, tirando uma risada da menina também.

— Não sei como, mas eu vou achá-lo. Você não imagina o alívio que eu sinto só de saber que aquele bêbado asqueroso não é nada meu. — Suspirou, sentindo o toque leve e quente de Benny em seus hematomas.

— Logo as coisas vão melhorar, Annie. — Abraçou a garota, virando-a de costas para ele.

— O que você acha que está fazendo? Não tem amor aos dentes? — Ela franziu o cenho, enquanto Benny a ajeitava e seus braços.

— Sossega aí, mente pervertida. Não vou te agarrar se é isso que está pensando! Você precisa de um pouco de carinho depois de tantos maus tratos.

— Juro que você vai se arrepender pelo resto da vida se tocar, se sonhar em tocar onde não deve, Johnson! — ameaçou, entrelaçando suas mãos.

— Annie, você nem tem nada para pegar. Qual a graça?

— Idiota! — Ela riu baixinho, se aconchegando ao lado do garoto.

 

Benny tinha razão, afinal. Ali, nos braços dele, Annie se sentiu especial e amada como nunca se sentiu antes. E se havia sentido algo assim, fazia tanto tempo que não conseguia se lembrar, exceto pelo carinho de Meg, o qual lhe dava forças para continuar.

O efeito relaxante que Benny tinha sobre ela funcionou bem e em pouco tempo, os dois pegaram no sono.

No dia seguinte, Annie acordou primeiro e estranhou o quarto, mais ainda os braços ao seu redor. Virou-se para Benny devagar e sorriu, observando a expressão serena do garoto enquanto ele dormia.

Seus pensamentos desapareceram em um instante, sendo tomada por uma paralisia repentina, enquanto seus olhos fitavam o nada. Poucos segundos depois e o ar de seus pulmões havia se esvaído, fazendo-a acordar do transe. O som que saiu de sua garganta ao puxar o fôlego fez Benny acordar, assustado.

Ao perceber do que se tratava, pulou da cama, pegou a bombinha dela sobre a mesa e a ajudou a se sentar, acariciando suas costas.

 

— Viu alguma coisa, Annie?

— Vi! Me empresta o telefone, Benny. Rápido! — Gesticulou depressa, só aumentando o nervosismo do garoto.

 

Ele jogou o celular na mão da menina e a observou discar para o celular dela, ficando cada vez mais impaciente.

 

— Alô? — A voz doce de Meg foi um alívio momentâneo para Annie, enquanto ao fundo conseguia ouvir a música que a garotinha ouviu na noite anterior.

— Ai, Meg. Graças a Deus. Onde você está?

— Oi, Annie. Estou com o pai e a mãe no carro.  Vamos buscar você — disse, animada.

— Não! Vocês não podem sair de casa. Passa o telefone para o pai agora!

— Espera um segundo. Amo você, Annie.

— Também te amo. Agora passa para ele, é urgente. — Um breve silêncio ocupou a linha, antes de Annie ouvir um conhecido pigarreado.

— O que você quer? — disse simples, esbanjando sua estupidez.

— Pai, pelo amor de Deus, para esse carro. Você não pode vir aqui, pai.

— Agora eu sou seu pai? Engraçado. Pensei que eu fosse um bêbado nojento — interrompeu a garota. — Não vou te bater mais. Não vou nem esfolar as orelhas desse vagabundo aí que você foi correndo igual uma cachorra. Mas é aquele ditado. Tal mãe, tal filha!

— Pai, não é nada disso. Me escuta. Eu vi um acidente. Por favor, pai. Para esse carro.

— Eu já disse para você parar com essa esquisitice de ver o futuro, Annie! Não vai acontecer nada! Eu nem bebi pela manhã, não vou bater essa droga de…

— Pai! — Annie gritou, ouvindo uma série de estrondos e pneus freando na pista.

 

Por último, o som uma explosão a fez soltar o telefone, encerrando a ligação.

O desespero tomou conta de seu peito, dificultando sua respiração.

 

~*~

 

Poucos dias após o acidente, Annie foi levada para um abrigo em Manhattan, onde ficaria até encontrarem o misterioso Phillip Madson que ela afirmava ser seu pai biológico.

Aquele lugar era um verdadeiro inferno. Crianças barulhentas e mal educadas tiravam a garota do sério, fazendo-a se isolar dos demais.

Vê-la deprimida em um canto só fez com que as garotas maiores do que ela a vissem como um alvo fácil para bullying. Tentaram a tirar do sério, fazendo piadas com seu cabelo, seu tamanho, seu corpo magro, seu jeito nada feminino.

Annie aguentou tudo calada. Cada ofensa, cada trocadilho ridículo. Perguntou-se, na verdade, se aquilo era o melhor que elas conseguiam. Enjoada daquilo, se afastou do grupinho, mas ao passar por elas, uma das garotas colocou o pé em sua frente, fazendo-a cair.

Ela se levantou e olhou para os joelhos ralados, balançando a cabeça devagar. Virou-se rápido para a garota e acertou um belo soco em seu nariz, derrubando-a do banco em que estava.

Aquilo foi o suficiente para as garotas pensarem que poderiam bater em Annie, mas ela não deu chances para lhe acertarem um único tapa, até porquê elas só sabiam grudar nos cabelos da pequena ruiva.

Não demorou até elas saírem correndo, fazendo ameaças e chorando.

 

— Corre para o colo da mamãe! Ah é! Vocês não tem uma! — Annie gritou, ajeitando a gola de sua jaqueta.

 

Ao sentir que alguém estava atrás dela, virou-se, lançando o punho em sua direção, mas o golpe foi aparado sem nenhuma dificuldade.

 

— Belo cruzado! — o homem alto comentou e soltou a mão dela, sorrindo. — Annie White?

— Quem é você?

— Phillip Madson. Parece que eu sou seu pai. Pelo menos é o que falaram no telefone.

 

Por impulso, Annie lançou os braços ao redor da cintura do desconhecido e apertou com força, enquanto chorava baixinho.

 

— Wow! Calma aí, pestinha.

— Desculpe, Sr. Madson. — Se afastou, limpando o rosto. — As coisas não estão fáceis nos últimos dias.

— Eu imagino. — Assentiu, pensativo, levando as mãos até a cintura. — É incrível como você se parece com sua mãe! Exceto pelo temperamento. Isso é igualzinho ao meu! Não entendo porquê ela não me disse nada sobre você.

— Então é verdade? Você é mesmo meu pai?

— É o que vamos descobrir agora. O conselheiro tutelar vai nos levar para fazer um exame de DNA. — Indicou a direção com o braço e começou a caminhar.

— Sr. Madson, você não está… eu não sei, assustado? Quer dizer, há pouco você não sabia que tinha uma filha adolescente com ficha criminal. — Deu de ombros, o seguindo. — Sua família não vai ficar um tanto… chocada?

— Sou um lobo solitário, Annie. Precisava mesmo de um herdeiro para a minha coleção de tacos de baseball. — Olhou para a menina, suspirando com pesar. — E invasão de propriedade, agressão e desacato nunca foram crime! Esses tiras são muito exagerados!

— Gostei de você!

 

Eles seguiram até a secretaria do abrigo, onde o conselheiro tutelar informou todos os procedimentos, desde o exame, até a possível guarda de Annie.

Todo o tempo que passaram juntos, trouxe mais a certeza de que não precisavam de um papel para comprovar a paternidade. Sentiram a ligação no primeiro instante.

A demora foi de quase um mês até que a juíza assinou todos os documentos, entregando a menina para Phillip. O exame constatou o que já era óbvio e, por mais que fossem completos estranhos, não tiveram receio de começar um relacionamento de pai e filha, sob o mesmo teto. Pelo contrário, cada vez mais um preenchia o vazio do outro.

 

~*~

 

31 de Outubro de 2016

 

Na noite de Halloween, Annie estava esperando por Madson, enquanto girava alguns tacos de baseball, admirando a coleção do pai.

Quando a porta se abriu, a menina se virou rápido, abrindo um grande sorriso. Correu até o homem e o abraçou forte, sentindo o perfume que já conhecia muito bem.

 

— Estava com saudades, pai.

— Eu também estava, pequena. — Se afastou dela e voltou para o corredor, trazendo um embrulho grande dessa vez. — Feliz Halloween!

— Não sabia que se presenteava as pessoas no Halloween. — Ela franziu o cenho, rasgando o papel.

— Acho que não preciso de datas para agradar a minha filha favorita.

— Diz isso porque eu sou a única. — Annie riu fraco, tirando um violão preto do embrulho. — É lindo, pai! Obrigada!

— Não precisa agradecer. Ele vai ser útil na hora de compor suas músicas. Tem uma linda voz. Precisamos investir nisso. — Apontou para a menina, antes de caminhar em direção a cozinha.

— Wow! O outro pai sempre dizia que isso era uma idiotice.

— Idiotice é ignorar uma mina de dinheiro! Quando você ficar famosa, vou poder me aposentar e viver da mesada generosa da minha filhinha. — Piscou para ela, antes de beber um pouco de água.

— Bobo. Obrigada, de qualquer forma. Eu amei. — Ergueu o violão, antes de o deixar sobre o sofá. — Vou preparar uns sanduíches. Vai querer do quê?

— Bem, eu já estou de saída mais uma vez, mas volto em duas horas no máximo. Pode preparar um igual ao seu. Quando eu voltar, eu como.

— Você não vai voltar, porque você não vai sair — Annie disse baixo, puxando um dos tacos do suporte e o colocando atrás do pescoço, enquanto apoiava os braços nas extremidades.

— O que é isso? Fantasia de Arlequina? Não vou deixar você sair com um shorts curto daquele. — Philip riu, pegando as chaves do carro.

 

Ao passar pela menina em direção a porta, ela impediu sua passagem, entrando em sua frente, enquanto girava o taco.

 

— Annie, eu não tenho tempo para brincadeiras agora. Preciso ir traba…

— Matar a tia Lice não é um emprego. É loucura!

— Annie, eu já te expliquei mil vezes qual o meu trabalho. Agora sai da frente — disse pausadamente, fitando a garota.

Não saio — respondeu no mesmo tom, o encarando de volta. — Vai me matar também, agente Madson?

— Nunca faria isso, Anninha. Mas eu preciso cumprir minha missão. Sinto muito por isso.

— É. Eu também.

 

Dito isso, Annie acertou o taco no joelho de Phillip, fazendo-o cair, gemendo baixinho. Ela tentou acerta-lo na cabeça, mas seu pai foi mais rápido e segurou o taco, o tirando de suas mãos.

Após jogá-lo para longe, ele a puxou pelas pernas e, antes que ela caísse, se levantou e a colocou sobre seu ombro.

 

— Me solta! Você não pode sair, pai! Me escuta! — gritou, tentando se soltar.

— Desculpa, filha, mas é para o seu bem.

 

Levou Annie até um pequeno quartinho de vassouras e a trancou lá, onde ficou chutando a porta e gritando, desesperada.

 

— Eu vou te tirar logo daí. Não se preocupe.

 

Ouvindo as batidas e os palavrões, Phillip saiu do apartamento, deixando a porta apenas encostada. Sabia que com aquele escândalo todo, logo algum vizinho a tiraria dali.

 

~*~

 

As nuvens escuras já gritavam seus trovões pelo céu, anunciando uma tempestade que logo viria.

Em uma área mais afastada do cemitério, apenas o coveiro e Annie fitavam o túmulo recém fechado, onde o nome de Phillip estava gravado em uma lápide.

A menina não conseguia apagar de sua memória o som dos gritos de Jared ao telefone quando recebeu a notícia da morte do amigo. Apesar de tudo, se perguntava porquê o homem do qual Madson sempre falava, não compareceu ao enterro. Ela não imaginava que o homem em questão era o pai de Alice.

Antes de se afastar, o coveiro colocou sua mão cheia de calos sobre o ombro de Annie, fitando-a com pesar.

 

— Sinto por sua perda, menina. Mas agora é melhor a senhorita ir embora. Vai chover logo, logo.

— Obrigada. — Ela sorriu fraco,  voltando o olhar para o túmulo. — Posso ficar mais alguns minutos? Por favor.

— Claro. Mas não demore.

 

Annie assentiu, vendo o desconhecido se afastar.

Caminhou até a lápide, onde se ajoelhou, sujando a calça com a terra recém revirada. Chorou em silêncio, tentando encontrar um ponto de sua vida, antes de sentir-se amaldiçoada. Quando as coisas eram menos complicadas.

 

— Sabe, pai. Você foi a melhor coisa que me aconteceu nesse ano. Talvez na minha vida, eu não sei. Só queria que você estivesse aqui, pedindo para cantar enquanto lavo a louça ou só para jogar vídeo game juntos. — Secou o rosto, embora as lágrimas continuassem caindo. — I thought that we'd make it. Because you said that we'd make it through — começou a cantar baixinho, quando o céu chorava com ela. — And when all security fails. Will you be there to help me through? Explain to me this conspiracy against me. And tell me how I've lost my power!

 

Sua voz era um canto de dor e desespero, buscando por qualquer sinal de esperança, onde via apenas solidão.

Sentiu que a chuva não a molhava, embora continuasse a cair. Ao olhar para cima, viu Richard de pé logo atrás dela, segurando um grande guarda-chuva preto.

 

— Vem cá! — Ele estendeu a mão, dando-lhe um sorriso tristonho.

 

Annie apenas segurou em sua mão para se levantar e jogou-se nos braços do amigo, molhando-o com suas roupas encharcadas e suas lágrimas.

 

— Eu perdi meu poder.







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Notas finais do capítulo

É de cortar o coração, né? A história da Annie sempre me deixou triste. A menina que sempre sorri, mesmo com tantos problemas. Uma guerreira.
Esse foi o último flashback da fic. A partir de agora, já começamos a nos encaminhar para o final. (apenas mais dez capítulos)
Aguentem firme, meus amores.
Obrigada a quem leu até aqui e logo tem mais.
Beijos da Mini e até o próximo =*



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