Alice não conseguiu esconder o sorriso bobo quando chegou em casa. Cumprimentou rapidamente os amigos e subiu para seu quarto, antes que questionassem o motivo de chegar cedo em casa.

Pensou em passar a coreografia da apresentação da formatura, mas não queria ouvir as mesmas músicas. Ligou uma lista de reprodução de clássicos instrumentais, enquanto procurava uma roupa para a noite, da qual não tinha ideia de como seria.

Tirou vários vestidos do armário e os colocou na cama, voltando a guardar um a um, conforme eliminava a opção, até restar apenas três. Quando eliminou mais um e foi guardá-lo, encontrou seu collant preto e suas sapatilhas. Deu uma olhada rápida no relógio, apenas para ver que tinha tempo suficiente para uma dança.

Vestiu uma meia calça branca, o collant, uma saia godê branca também e as sapatilhas  de ponta em um tom claro de salmão, ajeitando os cabelos em um coque bem apertado.

Ao som de Clair de Lune, Alice rodopiou pelo quarto, em uma coreografia inventada no momento, onde seus braços se moviam com graça e leveza, mesmo não se dando muito bem com aquele tipo de dança.

Ainda tinha dificuldades com a sapatilha, mas nada a impedia de usar a meia ponta na maior parte do tempo.

Ali só era a música, o movimento e ela. Unidos com maestria, sem cobranças, sem público, sem compromisso. Ali ela era apenas Alice. Apenas ela mesma.

Girou e girou, várias e várias vezes, até que uma silhueta na fresta da porta lhe chamou atenção, fazendo-a parar, ofegante.

Era  o Will.

Ele a observava em silêncio, encantado com a beleza em cada movimento de sua pequena amiga.

Alice jogou o tênis em direção ao rapaz, que fechou a porta rapidamente, antes que o atingisse. Ela não pôde deixar de rir baixinho, se jogando na cama.

Depois de tomar um banho demorado, ela provou os dois vestidos e tirou uma foto de cada, enviando-as para Clair, sua amiga da faculdade. Optou pelo vestido preto e justo, que descia até a metade das coxas e tinha um grande decote.

Desceu animada e encontrou William e Rachel cozinhando juntos.

— O mundo está acabando e eu não fiquei sabendo? — brincou, abraçando a mulher por trás.

— Ele tem ótimas receitas. Tem que provar o molho que ele está fazendo. Maravilhoso! — Rachel balançou a cabeça, enquanto fatiava alguns tomates.

— Acho que ela não vai jantar aqui. — Will comentou, mexendo uma panela.

Era evidente sua decepção.

— Guardem um pouquinho para mim. Vai ser meu almoço de amanhã. — Piscou, indo até a geladeira para pegar água.

— Quem é o maluco da vez? Ou será a maluca? — perguntou a mulher, colocando um pedaço de queijo na boca.

— Luke O’Connor. Agente da Nexus, gordinho, uns quarenta ou mais…

— Quarenta? — William a interrompeu, fitando-a com os olhos arregalados.

— Ele é legal. — Alice  franziu o cenho, tomando a água em seguida.

— Você também diz isso sobre mim, nem por isso… Esquece. Divirtam-se.

— Ah, Will! Vamos começar com isso outra vez?

— Alice, você já deve estar atrasada. Vai logo, vai! — Rachel empurrou a menina para fora da cozinha, suspirando. — Não tem dó do Will? Olha como ele fica toda vez que você encontra um novo “cara legal” — sussurrou, longe do rapaz.

— E desde quando você se importa com ele? Vai defender o Will e me condenar? — Cruzou os braços, levantando as sobrancelhas.

— Vou defender ele sim e me importo, sabe o porquê? Porque somos amigos agora! E amigos não magoam uns aos outros.

— Eu tenho que ir.

— Vai! Depois você chega, estala os dedos e o bobão vai correndo fazer o que você pedir. Devia sentir vergonha! — Falou alto, vendo Alice sair.

Ao se virar, Rachel encontrou William de cabeça baixa, encostado no batente da porta. Ela suspirou e colocou a mão no ombro do rapaz, sorrindo fraco.

— Eu queria não gostar dela, Rachel, mas eu não consigo. A Lice só brinca comigo. Eu sou mesmo um idiota! — Fitou a mulher, deixando-a ver seus olhos marejados.

— Algum defeito você tinha que ter! — Ela riu, o puxando para a cozinha. — Não quero que o molho queime.

— Vai me deixar usar o manjericão?

— Nop!

~*~

— Parece que eu consegui te encontrar — Luke comentou ao parar do lado de Alice.

— Uau. Por essa eu não esperava. — Sorriu para o agente, ajeitando os cabelos que estavam jogados para um lado só. — Como me encontrou?

— Não sei. — Ele sorriu. — Só sei que o vestido vermelho estava incrível em você.

— Invadiu minhas mensagens ou estava de binóculos me espionando pela janela? — Fitou o homem com um sorriso travesso, enquanto ia até o bar da boate com ele.

— A primeira opção é menos assustadora. — Riu baixo. — O que vai beber?

— Um coquetel delicioso que eles servem aqui. É sem álcool, então não vou ter problemas pra voltar pra casa ou esquecer das coisas. E você?

— Um uísque é sempre bom — respondeu e pediu ao barman quando chegaram no bar.

— Então, agente O'Connor, você sabe tanto sobre mim e eu só sei que você é muito bom no vídeo game e em ver as mensagens alheias. — Agradeceu ao barman que entregou as bebidas e tomou um gole da mistura vermelha e azul com uma folha de hortelã por cima.

— Bem, faz parte do meu trabalho vigiar os aspirantes a heróis — Luke comentou. — Criar históricos, listar seus poderes, coisas desse tipo. É bem entediante.

— Me senti um animal desconhecido, agora. — Sorriu fraco, olhando para baixo.

— É o que parece em alguns momentos — disse baixo, fitando a mulher. — Mas me responde, por que você faz isso?

— Se você vê uma pessoa pronta pra morrer e você tem como salvá-la, ficaria só olhando? — Observou o agente e logo sorriu. — Independente do pai maluco que eu tenho e que me transformou no que eu sou, não posso cruzar os braços para um mundo perigoso e cheio de Neo-humanos que usam seus dons para o mal.

— O problema é que, mesmo fazendo isso pelo bem, você desrespeita tantas leis quanto eles. — Luke fitou a garota, um pouco sério. — E isso é algo que a Nexus não pode permitir.

— Então a Nexus quer me limitar? Se for isso, perderam seu tempo. — Deu de ombros, terminando sua bebida.

— Na verdade, nós queremos ampliar o seu campo de ação, Lice.

— Lice? — Ela ergueu uma sobrancelha, sorrindo para o homem. — Gostei disso aí. Vou ganhar uma carteirinha estilosa igual a da Nêmesis?

— Não, você vai ganhar um distintivo. Assim como o controle de uma equipe específica da Nexus e da polícia de Nova York — falou, tomando um gole de seu uísque em seguida. — Lógico, isso se você aceitar. Caso contrário…

— Vai me prender, Luke? Eu escapo fácil, sabia? — questionou, com um sorriso sarcástico estampado no rosto. — Ou vai tirar a vida de uma cidadã estadunidense que paga os impostos e ajuda as pessoas?

— Eu não vou fazer nada, sou apenas um membro da inteligência da Nexus. — Sorriu de volta. — Mas bem, caso você não aceite, pediremos gentilmente que você pare com suas ações.

— E se eu recusar? — devolveu, fitando os olhos de Luke.

— Você vai conhecer a Corvo — o tom de Luke ficou um pouco mais sério que o normal. — E você não vai escapar dela. Ninguém escapa.

— Corvo? — Alice soltou uma risada abafada. — Okay, eu sou pequena e fico menor ainda, mas não vou deixar "um corvo" me devorar.

— Não se trata de um animal, Lice. Ela só é a melhor agente em atividade da Nexus. E dependendo de sua resposta, você pode ou não conhecê-la em alguns dias.

— Certo. Não viemos falar sobre isso, viemos? Pelo menos não foi essa minha intenção. — Piscou para ele, antes de se levantar e o puxar para a pista. — Sabe dançar, gorducho?

— Eu sei fazer muita coisa, pequena — respondeu, a seguindo.

Alice começou a mover o corpo no ritmo da música, enquanto puxava Luke para perto de si. Mantinha seu olhos presos aos dele e um sorriso cativante.

O agente a tomou pela mão e a girou, puxando-a pela cintura em seguida. A música e as luzes piscando em todas as direções faziam os pensamentos da garota irem para longe, aproveitando ao máximo do momento e da companhia. Deslizou a mão que apoiava no peito de Luke, até a nuca do agente, desviando rapidamente os olhos para seus lábios.

Luke a fitou, colando seu corpo ao dela, enquanto se mexia junto ao ritmo da música.

— Você é bom no vídeo game, um ótimo agente, sabe dançar... Mas estou mais interessada em descobrir outra qualidade sua.

— Que seria? — Fitou a mulher, erguendo uma sobrancelha.

— Essa. — Ficou na ponta dos pés para alcançar os lábios de Luke.

O agente se inclinou um pouco para frente e correspondeu ao beijo, enquanto acariciava o rosto de Alice com a mão esquerda.

Ela sorriu entre os beijos, acariciando os cabelos do O'Connor. Sentia-se bem ao lado dele.

Separaram-se buscando oxigênio e Alice sorriu, voltando a dançar devagar.

— Sabe, a Nexus não está me parecendo uma escolha tão ruim assim.

— Eu te disse. — Luke sorriu, fitando a mulher. — E fica tranquila, não vou colocar isso no relatório.

— Eu sou uma vigilante. Quem disse que eu ligo pra... Relatório! — Bateu na testa, lembrando-se de que tinha marcado com Taylor de pegar os relatórios sobre sua família. — Eu tenho que ir, Luke. Desculpa

— Hora de salvar o dia? Bem, a noite no caso.

— Não, bobo. Hora de tomar algumas decisões e enfrentar um passado que eu tenho medo. — Suspirou, antes de olhar para ele. — Nos vemos de novo?

— Eu espero que sim. — Luke piscou, sorrindo. — Vai lá.

— Tchau, gorducho. — Deu um selinho rápido no homem e saiu buscando espaço entre as pessoas que dançavam.

***

Liam estava deitado no sofá, jogando videogame quando Luke entrou no apartamento. Estava com os cabelos bagunçados e os lábios um pouco mais vermelhos que o normal.

— Não, eu não trouxe seu hambúrguer, Liam. — Luke falou, sentando no braço do sofá.

— Quem era a garota?

— Do que você está falando?

— Você está com brilho nos lábios e cheirando a perfume feminino. — Liam riu baixo quando viu o amigo cheirando a roupa. — Você foi conferir. Que idiota.

— Às vezes eu acho que você ficou preso no ensino médio.

~*~

Alice já estava sem os sapatos quando bateu na porta de Taylor, torcendo para que a aluna não estivesse na cama.

Ela demorou um pouco para atender. Estava usando uma calça cor de rosa e uma blusa com estampa de unicórnio.

— Achei que não fosse mais aparecer — comentou ao abrir a porta. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto um pouco molhado, o que indica que a garota estava chorando minutos antes.

— Taylor, o que aconteceu? — Alice abraçou a menina instintivamente, acariciando seus cabelos curtos.

— Deu tudo errado. — A garota respondeu, abraçando a professora de volta. — Vem, eu te mostro.

Taylor trancou a porta do apartamento, guiando Alice até a sala logo depois. Um pote de pipoca pela metade estava ao lado dos relatórios a respeito da Pocket Girl.

— Olha isso, mataram a Gwen. — A garota apontou para a televisão, que estava passando o Espetacular Homem-Aranha 2.

— Essa cena sempre me mata. — Alice se sentou, fitando a tela com pesar. — Enfim. É só por isso mesmo que você está chorando?

— Só, por que? — Taylor perguntou e sentou no sofá, pegando o pote de pipoca.

— Pensei que fosse por causa disso. — Apontou para os papéis, tremendo por dentro.

— Não, isso aí está bem suave. — Parker esticou a mão até a mesa e pegou os papéis, os entregando para a mulher. — Sua mãe era um amor de pessoa. Uma espiã respeitada, mas um amor de pessoa.

— Sério? — perguntou, sorrindo aliviada. Leu a primeira folha que tinha os dados de sua mãe e uma foto anexada.

Os traços de Meredith eram muito parecidos com os de Alice.

— Ela tinha a mesma altura que eu. — Deixou uma gota cair de seus olhos, molhando o papel. — Obrigada, Tay. Eu te devo uma.

— Não precisa se preocupar com isso. — Sorriu, entregando um lenço para a professora. — E então, já se decidiu?

— Mais confusa, impossível. — Afundou o rosto nas mãos, bagunçando um pouco os cabelos. — Seguir os ideais da minha mãe, ir contra o monstro que eu chamei de pai e ficar do mesmo lado que o Wallace e o Luke me parece bem atrativo, mas eu gosto da minha liberdade e tem todas as mentiras que a Nexus já usou contra mim. Não sei o que fazer.

— Você pode optar pelo bom e velho cara ou coroa. — Deu de ombros. — Mas saiba que eu vou te apoiar em qualquer que seja a sua decisão, não sabe?

— Obrigada, Tay. Eu ainda tenho um tempo para pensar. Mas o cara ou coroa não parece uma má ideia. — Riu, fitando a aluna.

— Cara ou coroa é o melhor jeito de decidir as coisas. — Riu fraco, se perdendo um pouco em seus pensamentos. — Tia Lice, posso te fazer uma pergunta?

— Até duas.

— Quando você sabe que está apaixonada por alguém? — Sentiu o rosto corar um pouco. — A Annie me perguntou isso hoje, mas eu não soube responder.

— A Annie está apaixonada? Que bizarro! O mundo vai acabar! — A mulher riu com a aluna, mas logo voltou a ficar séria. — Bem. Se apaixonar é quando tudo fica mais colorido e divertido quando está do lado de quem faz seu coração bater depressa. E também quando tudo fica cinza ao estar longe dessa pessoa e você conta os minutos para estar ao lado dela. Quando percebe, já está à horas pensando na pessoa e lembrando dos momentos que ficam juntos. Você sabe que está apaixonada quando cada centímetro mais próxima da pessoa amada faz você ter uma mini parada cardíaca. E quando está próximo o suficiente... Ah! Você só pensa em não se afastar nunca mais. — Explicou com um sorriso bobo. — Acha mesmo que o que a Annie está sentindo é paixão? — Levantou uma sobrancelha ao perguntar

— Quem? — Taylor fitava as mãos com um sorriso bobo, enquanto ouvia a explicação. — Ah, a Annie! Sim, acho que está.

Alice observou a garota por um instante e logo percebeu do que se tratava.

— Bem, diga a Annie que se precisar de conselhos, estou aqui para isso. — Se levantou após calçar os sapatos novamente e sorriu para a garota. — Vai descansar, vai. Garotas apaixonadas tendem a dormir menos. Ah! — Bateu na testa teatralmente. — Por que estou dizendo isso a você? É a Annie que está apaixonada!

— Isso, é a Annie que está apaixonada. — Taylor revirou os olhos, enquanto se levantava para acompanhar a mulher até a saída. — Tenta descansar um pouco também, tá?

— Depois de beijar um gordinho charmoso e descobrir tanto sobre minha mãe, dormir é a última coisa que eu vou fazer agora. — Piscou para Taylor

— Eu realmente não precisava saber do gordinho. — Taylor riu, dando um abraço apertado em Alice. — Até amanhã.

— Até! — Alice correspondeu ao abraço e logo se foi, deixando Taylor com seus pensamentos.

Quando chegou em casa, tudo estava silencioso e escuro. Tirou os sapatos antes de entrar, como quando saía sem a permissão de seu pai para agir como a Pocket Girl.

Entreabriu a porta do quarto de Jared, apenas para conferir se Rachel estava dormindo. Saiu de fininho, indo para o próprio quarto, onde encontrou William.

Ela deu a volta na cama e se ajoelhou na frente dele, apoiando o rosto na mão ao observá-lo dormir. Ficou ali por um bom tempo, reparando em cada detalhe do rosto que já conhecia tão bem, mas não cansava de admirar. Acariciou os cabelos claros dele, olhando os fios azulados entre os loiros.

Se levantou em silêncio, trocou de roupa e pegou seu edredom, voltando para a sala. Dizia para si mesma que não queria acordá-lo, mas sabia que o real motivo para não deitar-se ao lado de Will, era a culpa por magoá-lo mais uma vez.

~*~

No dia seguinte, Taylor entrou na sala e foi direto para seu lugar, onde se sentou. Olhou para onde Benny deveria estar, apenas para constatar que não havia ninguém. Sobre sua mesa, havia uma caixa marrom, amarrada com uma fita vermelha que formava um belo laço no centro.

Ela tirou o cartão que estava fixado debaixo do laço e viu a caligrafia bem desenhada.

"Obrigado por tudo e me desculpe por ontem. Aí está seu presente. Você merece."
Ao abrir a caixa, encontrou vários bombons de chocolate branco, decorados com detalhes pequenos e delicados.

Não pode conter o sorriso ao sentir o coração acelerar, lembrando da descrição que Alice deu sobre a paixão.

— Bom dia. — Benny disse ao sentar ao lado da garota, sem olhar para ela.

— Bom dia. — Taylor respondeu baixo, enquanto guardava o seu presente na mochila. — E obrigada por isso. — Sorriu de canto.

— Não precisa agradecer. — Benny fitou as mãos e um silêncio constrangedor os deixou desconfortáveis.— Tay, você está melhor? Digo, da febre de ontem, sabe? — Após muito pensar, conseguiu olhar para a garota que mexia em seu  telefone.

— Sim, acho que eu só precisava descansar um pouco — respondeu, enquanto olhava as playlists do celular.

— Ah! Que bom. O que você está ouvindo? — perguntou, na tentativa que quebrar aquele clima estranho entre eles.

— My Demons, do Starset. — Ergueu uma sobrancelha, fitando o garoto. — Conhece?

— Não. Posso? — Apontou para o fone pendurado sobre a blusa da garota, aproximando-se um pouco com a cadeira.

— Claro, por que não? — Taylor colocou o fone que usava na orelha direita, entregando o outro para o garoto.

Após escutar um pouco da música, sorriu para a garota.

— Gostei. Pode passar pra mim depois?

— Gostou?

— Gostei. — Olhou confuso para ela, devolvendo o fone e se afastando um pouco. — Não deveria?

— Pode. — Riu baixo, pausando a música. — Só não achei que fosse seu estilo de música.

— Tenho me interessado por coisas diferentes nos últimos dias. — Fitou o rosto da garota, sentindo as mãos suarem frio, enquanto borboletas de todas as espécies faziam uma revoada em seu estômago.

— Bom dia, classe. — O professor do primeiro turno entrou na sala, fazendo com que os alunos se ajeitassem em seus lugares.

Taylor não respondeu, embora tivesse ficado um pouco confusa com o comentário do garoto. Virou para frente e tirou o caderno de história da mochila.

— Esses dois vivem brigando, mas não passam um dia separados. — Clark comentou com Annie, um pouco mais atrás.

— Vão terminar juntos, com dois filhos e um cachorro.

~*~

Os dias passaram rápido demais na perspectiva de Alice. Sentia que, em um piscar de olhos, já havia chegado o domingo.

Acordou tarde e demorou para se levantar, tentando adiar ao máximo o encontro que teria com os agentes da Nexus na hora do almoço.

Não teve coragem de falar com Luke desde a noite em que o beijou. Temia ser influenciada e se amarrar no coroa era algo que ela queria evitar. Sentimentos profundos eram complicados demais para uma garota indecisa e instável como ela. Jurou para si mesma que Dean seria seu último caso de paixão e decepção. Dali para frente, iria curtir.

Desistiu de procrastinar ao olhar no relógio que marcava onze e quarenta, e vestiu a primeira roupa que encontrou, colocando uma jaqueta mais grossa por fim.

Quase uma hora depois, Alice entrou na Mortal Burger, onde havia marcado de se encontrar com Liam e Luke para decidir seu destino. Carregava o envelope que recebera há três dias atrás e caminhou rápido até à mesa afastada, onde estavam os agentes.

— Desculpem pelo atraso. Não vou mentir. Eu perdi a hora mesmo. — Sorriu fraco, sentando na frente dos dois.

— Não tem problema. — Liam sorriu, colocando as mãos no bolso da jaqueta.

— E então, o que decidiu? — Luke a fitou, com um sorriso de canto.

— A Nexus cuidou de mim durante meus vinte anos e eu nem sabia. Minha mãe foi fiel a instituição até sua morte e eu a admiro muito por seguir seus ideais. — Suspirou, fitando as mãos. — E é isso que eu quero pra mim.

— Por que eu tô achando que não vai vir um "sim" depois disso? — Liam comentou, tomando um gole do uísque que estava à sua frente.

— Bem, você fez a sua escolha. — Luke sorriu fraco, um pouco chateado. — E agora eu te peço para que encerre suas atividades como heroína.

— Isso não vai acontecer. — Fitou os agentes, sem humor algum

— Vai ser pior pra você, Lice. — Luke comentou baixo. — Suas ações serão consideradas ilegais e nós teremos que te prender.

— Pensa um pouco nos seus alunos. — Liam a fitou. — Como eles vão ficar quando você entrar na sala de aula com um olho roxo ou com cortes pelo rosto?

— Não venham com essa! — Tentou disfarçar o desconforto ao pensar nos alunos surpresos. — Entrar para Nexus significa abandoná-los também? Ser professora é a única coisa que faz eu me sentir normal. Comum.

— Você não é normal, Alice. Não mais — Liam respondeu. — No instante em que você recebeu seus poderes, sua vida normal acabou. Não tem volta. Acredite, eu sei.

— Eu não pedi por isso, tá legal? — Bateu os punhos na mesa, sentindo os olhos arderem. — Eu não vou entrar pra Nêmesis, Nexus ou seja lá quem vier me importunar. Minha resposta é não. Se quer me prender, vai ter que me pegar primeiro.

A garçonete que se aproximava se assustou um pouco ao ouvir o barulho. Deixou o hambúrguer de Liam em cima da mesa e saiu, apressada.

— Sinto muito por isso, Lice — Luke comentou, um pouco triste, enquanto se levantava. — Vamos, Liam.

— Meu hambúrguer acabou de chegar — respondeu, recebendo um olhar ameaçador do amigo, que saiu em seguida. — Tá, tanto faz.

Liam se levantou e pegou o lanche, deixando uma nota de dez dólares em cima da mesa.

— Alice, para o seu bem. Se precisarem da Pocket Girl novamente, não apareça. — Morgan comentou antes de sair. — Vai ser melhor para você.

— Não conte com isso.

— E antes que eu vá embora, só queria dizer que eu sinto muito pelo o que aconteceu com a Jordan. — O moreno assentiu.

— Você também a conhecia? — Desviou o olhar, lembrando da tutora.

— Ela me treinou, antes de me colocar na equipe do Knoxx. Assim como treinou a mulher que vai te caçar.

— Bom saber que terei uma oponente à minha altura. — Esboçou um sorriso, embora seu olhar não transmitisse humor algum.

— Sem querer ser ofensivo, você não está à altura dela... em nenhum sentido. — Liam desviou o olhar ao ouvir o amigo lhe chamar. — Bem, tenho que ir.

Alice revirou os olhos, fitando o movimento da rua por um instante.

— Vai lá! Não esqueça de dizer à Corvo que eu estarei esperando.