HL: Pocket Girl - How Heroes are Born escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 11
Tequila


Notas iniciais do capítulo

Às vezes você pensa que tudo se baseia em um anel de diamantes.
O amor precisa de testemunhos e de um pouco de perdão.
Muita paciência e um ritmo mais calmo.
E assim eu aprendi a ser forte com meus próprios erros.

Oh, eu senti o fogo e eu, eu me queimei.
Mas eu não trocaria a dor pelo que aprendi.
Não trocaria a dor pelo que aprendi.
[...]

Ironia é odiar o amor.
Pelo que ele fez comigo, pelo que foi feito comigo.
O que foi feito, foi feito.

— Crystal Ball, P!nk.



Eu sou um pouco de solidão, um pouco de negligência.
Uma plenitude de reclamações, mas eu não posso evitar o fato de que todos podem ver essas cicatrizes.

— Faint, Linkin Park.

Boa leitura.



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Quarta base da Nêmesis, Manhattan, Junho de 2012.

 

Ao lado da porta do escritório administrativo de Jared, Alice estava sentada em um sofá de couro bege, lendo um grande livro de Química Avançada, enquanto ajeitava vez ou outra os óculos que escorregavam pelo nariz.

Ao ouvir o som da maçaneta, fechou o livro rapidamente e se levantou, olhando para a porta. Respirou fundo, enquanto tentava parar o movimento involuntário de sua perna esquerda. Mordeu o lábio inferior, tamanha sua ansiedade.

Assim que seu pai abriu a porta, Rachel saiu, despedindo-se do patrão com um breve aperto de mãos. A pequena garota sorriu fraco, esperando a mulher se aproximar um pouco mais.

 

— E então, o que ele queria? — Alice perguntou.

— Não fique chateada, Lice, mas… vou ter que cancelar o vestido da Bergdorf Goodman. — Rachel respondeu baixo, desviando o olhar.

— Não! Ele não pode ter te demitido! Por que vai cancelar o vestido?

— Porque eu vou ficar com aquele do Kleinfeld Bridal! — A mulher de cabelos loiros abriu um grande sorriso.

 

Surpresa, Alice levou as mãos à boca, mas logo a abraçou forte e as duas soltaram um gritinho animado.

 

— O seu pai me indicou para chefe de pesquisas criogênicas e a Nêmesis aceitou! Agora não preciso mais trazer café para o Chato Harper! — Mostrou os dois dedos médios em direção ao escritório de Jared, tirando mais uma risada de Alice.

— Vamos tomar um milkshake para comemorar? — A pequena sugeriu, guardando o livro na mochila.

— Poxa, Lice… Pode ser amanhã? Quero muito contar para o August sobre a promoção. — Mordeu o lábio inferior, implorando com os olhos para que a menina não ficasse chateada. — Agora que eu ganho muito mais, podemos encher a cara de milkshake!

— Relaxa! Posso esperar até amanhã. Tenho umas coisas para resolver no Queens — sussurrou, mostrando parte de seu uniforme no canto da bolsa.

— Não desistiu desse lance de Pocket Girl? Pensei que seu pai tinha proibido — disse no mesmo tom, observando ao redor.

— Proibiu, mas não pode me impedir. Nova York precisa de mim. — Deu de ombros, deixando a mochila sobre o sofá. — Agora vai lá. Aposto que o August vai ficar feliz com o aumento… Quero dizer, promoção.

— Idiota. Se cuida, pouca sombra.

 

Rachel não conseguia disfarçar o sorriso por onde passava. Sentia-se realizada em todas as áreas de sua vida.

Caçula de uma família com cinco irmãos, conseguiu se destacar, sendo o foco de todos os comentários nas confraternizações com parentes distantes. Foi a primeira a entrar na faculdade, a primeira a conseguir um bom emprego e a única a apresentar um namorado que se encaixava nos padrões idealizados pelos pais.

August Miller tinha apenas vinte e cinco anos, era engenheiro e administrava a empresa da família. O rapaz era muito educado e de berço tradicional, assim como Rachel. Sem contar que era um moreno alto, com belos olhos castanho e um sorriso encantador. Romântico como só ele, pediu a mão de Rachel em Veneza, em uma curta viagem que fizeram nas férias dela. Deu-lhe um belo anel que pertenceu à sua avó e à sua falecida mãe, demostrando o quanto ela era importante em sua vida e o quanto queria ela ao seu lado.

Tinha tantos detalhes de seu casamento do qual não queria pedir dinheiro para August, muito menos para seus pais, e agora poderia fazer tudo sem qualquer preocupação. Estava grata pela oportunidade que Jared lhe ofereceu, embora tivesse a impressão de que ele a quisesse longe de seus projetos mais secretos, dos quais ele não confiou em lhe mostrar nos dois anos que trabalhou como sua assistente pessoal.

E foi pensando no sorriso do noivo que ela chegou ao estacionamento sem nem perceber, não contendo a felicidade por tudo o que estava acontecendo.

Entrou em seu carro, pensando em qual modelo poderia substituir sua lata velha. Jogou a bolsa do lado e ligou o rádio, que logo começou a tocar seu CD com as músicas que mais amava da Beyonce, Lady Gaga, Britney Spears e outras cantoras de Pop.

 

— Womanizer, woman-womanizer, you're a womanizer. Oh, womanizer, oh, you're a womanizer, baby. You, You, You are, you, you, you are… Womanizer, womanizer, womanizer — cantava alto, enquanto dirigia tranquilamente pelas ruas de Manhattan.

 

Ao parar em um semáforo, percebeu que um homem de meia idade a observava com o cenho franzido, parecendo incomodado com a cantoria da mulher.

 

— Eu fui efetivada — disse alto, sorrindo para ele — e vou me casar!

— E daí? — resmungou o homem, erguendo o vidro.

— Estresse faz mal para a saúde e ser rabugento dá rugas! — Gritou, vendo-o acelerar, seguindo seu caminho após o sinal abrir.

 

Os carros começaram a buzinar atrás dela, mas estava tendo um dia ótimo para se aborrecer com isso. Apenas colocou o braço para fora e mostrou o dedo médio, voltando a dirigir.

A música seguinte foi Pieces of Me, da Ashlee Simpson. Era a música que estava ouvindo quando beijou August pela primeira vez. Aumentou o volume e cantou com todo o coração, até chegar no prédio onde o noivo morava.

Estacionou na rua detrás, pois não queria correr o risco de ser vista chegando, já que a janela do apartamento dele ficava bem em frente a rua do prédio.

O porteiro gordinho e careca não pôde deixar de sorrir ao ser calorosamente cumprimentado pela mulher que ele já conhecia muito bem. Liberou o acesso dela após confirmar seu cadastro na portaria, apenas para cumprir as ordens do edifício.

No elevador, Rachel passou um pouco de perfume e retocou o batom vermelho que usava, ajeitando os cabelos em seguida, antes de parar no décimo quinto andar.

Encarou a porta do apartamento 156 antes de abri-la, sorrindo ainda mais ao entrar, mas, ao por os pés lá dentro, ouviu um grito vindo da direção do quarto do rapaz.

Não era um grito de dor ou susto, nem ao menos era a voz de August. Era o som repugnante de uma traição.

Caminhou rapidamente até lá, apenas para confirmar o que sua mente esperta havia lhe alertado:

August estava com outra mulher.

Isso era uma coisa da qual nunca pôde imaginar, até aquele momento. Queria não acreditar em seus olhos. Queria acordar daquele pesadelo, mas o rosto molhado pelas lágrimas que não conseguia conter, dizia que tudo era real. Tão real que sentia o peito apertar cada vez mais, ficando difícil de respirar.

 

— Rachel?! — August se afastou da morena que estava em sua cama, cobrindo-se com o lençol.

— Não diga nada — disse simples, jogando a aliança pela janela.

— Você enlouqueceu?! Sabe o valor daquele anel? — O rapaz vestiu a calça e correu até a sacada, olhando para baixo.

— Você que não faz ideia do valor de nada, August! Como pôde? O que eu fiz para ser enganada dessa forma?

— Rachel, não… Olha, isso não significa nada.

— Não significa nada?! — bradou, fazendo-o recuar. — Claro que não significa nada, porque eu não significo nada! Nós íamos nos casar, August. Íamos formar uma família sob um relacionamento cheio de mentiras e traição? Você não presta — disse, pausadamente.

— Família? — Um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto, fitando a mulher com desdém. — Como seria essa família? Só nós dois ou adotaríamos alguns negrinhos para pagar de Angelina e Brad?

— Você não disse isso — sussurrou, desviando o olhar.

— Nunca seria uma família, porque você é seca. Eu seria a chacota da família por não ter  herdeiros, sabia? Sem contar que você nem é tão boa na cama.

 

Cada palavra que saia da boca de August acertaram Rachel como facadas em seu peito, mas a dor de ser engada não era maior que seu ódio.

Secou o rosto bruscamente com as mãos, antes de tirar uma pistola de sua bolsa.

A mulher que estava assistindo a discussão com os olhos arregalados deu um grito, se encolhendo na cama.

 

— Cala a boca, vagabunda, ou eu faço seus miolos grudarem na parede — gritou, apontando a arma para August. — Últimas palavras?

— Calma! Não precisa acabar assim, Rachel. Você não quer fazer isso.

— Não quero? Tem certeza? — Sem desviar os olhos do rapaz, ela apontou em direção da morena, disparando em seguida.

A bala atingiu a parede, a poucos centímetros de distância do rosto da mulher. Ela começou a chorar, encolhendo-se mais ainda, abraçada a um lençol.

— Rachel, para!

— Seis anos, August. Há seis anos eu treino todos os dias. Não erraria um tiro a essa distância. Então me dê um motivo para não acabar com sua existência de merda. — O vento que entrava pela janela aberta atrás dele era o único som no quarto, além dos soluços baixos da mulher assustada. — Foi o que eu imaginei.

O estampido do tiro ecoou pelo quarto.

Assim como August disse, Rachel não queria que acabasse daquele jeito. Ela não queria fazer aquilo e não o fez.

O tiro acertou a janela, mas o susto que ele levou o fez recuar, batendo a parte de trás das coxas na barra de proteção da varanda. Perdeu o equilíbrio e seu corpo pendeu para trás, causando sua queda para a morte.

Rachel deixou a pistola escorregar de sua mão, paralisada. Seus olhos fixos na varanda, agora vazia, ardiam como fogo, mas as lágrimas não chegaram a cair. Sentia o grito preso em sua garganta lhe sufocar, ficando cada vez mais difícil deixar o ar entrar em seus pulmões.

Desesperada, a morena saiu correndo, enrolada apenas no lençol, deixando Rachel em seu estado de choque, enquanto ouvia a aglomeração em frente o prédio, onde os curiosos soltavam expressões de horror ao verem a situação da August.

Poucos minutos depois, o porteiro gorducho entrou no apartamento com cautela, temendo o que iria encontrar. Mas tudo o que viu foi a moça carinhosa e sorridente, que sempre lhe tratava tão bem, sentada no chão, abraçando as próprias pernas. Ela tremia, olhando fixamente para um ponto qualquer, sem expressar nenhum sentimento.

O senhor se aproximou devagar e sentou ao seu lado, sem dizer uma única palavra. Rachel olhou nos olhos do homem, sendo atingida pela realidade dos fatos. Nesse momento, deixou que todo o desespero preso em seu peito se libertasse. Chorou alto, enquanto o porteiro gentil acariciava seus cabelos loiros.

A polícia chegou rápido e Rachel não tentou resistir à prisão. Foi levada à delegacia, onde ligou para Alice, explicando toda a situação. Sabia que a garota de apenas quinze anos não poderia fazer nada, mas era a única em quem confiava no momento. Alice queria usar seus poderes para resgatar a amiga, mas Rachel não aceitou, agradecendo a preocupação da garota.

Jared fez de tudo para conseguir um acordo e liberar a funcionária, mas ela recusava qualquer ajuda, pedindo apenas para cumprir sua pena pelo crime que cometeu.

Seu julgamento foi justo, mas, ainda assim, o melhor advogado da Quarta Divisão da Nêmesis não ficou satisfeito com a sentença. Foi condenada por homicídio culposo, a dez meses e vinte e três dias de reclusão em uma penitenciária feminina.

Alice ficou revoltada, mas a condenada apenas esboçou um sorriso, aceitando de bom grado sua sentença.

Os dias lá dentro pareciam uma eternidade, principalmente os que ficava na solitária, por mal comportamento. Sempre arranjava briga com as outras detentas por qualquer motivo e chegou a quebrar quase todos os dentes de uma colega de cela por ter aberto uma carta que recebeu de Alice.

E no fim de sua pena, a pequena Harper estava encostada em seu fusca azul enferrujado, em frente a penitenciária, enquanto trocava a música que estava ouvindo com seus fones de ouvido.

Rachel atravessou o portão que se abriu fazendo um grande barulho, vestida em uma camiseta verde e larga, uma calça jeans velha e um par de tênis escuros.

Alice caminhou rápido até a mulher e a abraçou, mas logo percebeu o desconforto dela e a soltou. Analisou o rosto cansado e sério da amiga, quase não reconhecendo a moça simpática que seu pai contratou como assistente.

Incomodada com o olhar de Alice, Rachel sorriu fraco e começou a caminhar em direção ao carro.

 

— Sem aparelho e sem óculos? O que mais mudou em quase um ano, além de você não parecer uma nerd? — brincou, entrando do lado do carona.

— Estou na faculdade de artes — disse, animada.

— E seu pai morreu. Não acredito que ele tenha concordado com isso. Ou o mundo virou do avesso enquanto eu estava presa. — Rachel levantou uma sobrancelha, fitando a garota que tentava dar a partida no carro velho.

— Não mesmo! — Soltou uma risada abafada, ligando finalmente o fusca. — Eu perdi a prova para o curso de Química. Ele quase infartou. Literalmente. — Alice revirou os olhos, afastando-se daquele lugar. — Fiz o teste para o curso de Artes e passei. Ele quase infartou mais uma vez e depois de muito escândalo, desistiu de me proibir.

— Como você perdeu a prova? Atrasada como sempre?

— Não! Bem… foi quase isso. Eu saí cedo de casa, mas essa coisa estragou no meio do caminho e eu tive que ir de metrô. — Bateu no volante, suspirando. — Mas teve uma confusão e uma garotinha caiu nos trilhos. Se eu não estivesse lá… — Balançou a cabeça algumas vezes, afastando aquelas lembranças.

— Parece que a Pocket Girl não vai deixar Nova York tão cedo, não é?  — perguntou, reparando na expressão decidida de Alice.

— A Pocket Girl só vai deixar Nova York quando ela parar de respirar — respondeu, prestando atenção na estrada. — E você? Está tão séria. Diferente.

— O que você queria, Lice? Que eu estivesse bem depois de tudo o que aconteceu? Sair sem cicatrizes de uma situação daquela é impossível. Mas vou sobreviver, se é isso que você quer saber. — Deu de ombros.

— Eu sei. Sinto muito — disse baixo. — Mas ainda sinto falta da sua risada.

 

Rachel esboçou um sorriso, ligando o rádio. Tocava Faint da banda Linkin Park. Prestou atenção na letra por um instante e suspirou, voltando o olhar para Alice.

 

— Aquele sorriso morreu, assim como a Rachel que você conhecia.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, leitores mais lindos do mundo.
Essa foi a triste história de como Rachel Grey se tornou aquela mulher fechada e rabugenta.
Espero que tenham gostado ♥
Me deixem saber a opinião de vocês nos comentários e também aceito sugestões de flashback. Quer saber mais sobre algum personagem, é só pedir.
No próximo capítulo teremos Benny, Taylor, Annie, lutas... (chega de spoiler, garota!)
Beijos da Mini e até lá =*