HL: Pocket Girl - How Heroes are Born escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Estou muito feliz de finalmente lançar esse projeto que ficou guardado no fundo de uma gaveta empoeirada na minha cabeça. Espero que gostem e se divirtam assim como eu ao escrevê-la.

Boa leitura.



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Na sala de audição da faculdade de Harvard em Cambridge, Massachusetts, Jared Harper sentiu o corpo todo tremer ao encarar os olhares penetrantes dos cinco professores que formavam a bancada de jurados bem na sua frente. As mãos do garoto de apenas dezesseis anos suavam e poderia jurar que o som das batidas de seu coração ecoava em meio ao silêncio constrangedor.

Um homem grisalho, sentado ao centro da bancada suspirou, retirando os óculos de armação fina e repousando-os sobre a mesa. Encarou o jovem, um tanto incrédulo com o que acabara de ouvir e escolheu as palavras para dirigir-se a ele.

 

— Senhor Harper, nós analisamos seu histórico e ficamos surpresos com suas faculdades intelectuais com tão pouca idade. Seu QI é surpreendente e sua linha de raciocínio é de fato interessante, mas não posso crer que esteja falando sério. Imagino que está aqui sob pressão dos seus pais ou apenas para tomar o nosso tempo.

— Desculpe, senhor. Eu não estou entendendo — disse, observando o professor com o cenho franzido.

— Filho, você nos apresentou uma tese bem elaborada, porém, fantasiosa. Oras. Como quer entrar para o curso de ciências falando de superpoderes?

— São mutações genéticas, senhor. Já foram comprovadas várias vezes e eu creio que, com os estímulos certos, podemos criar...

— Garoto, pare de passar vergonha. — A jovem e atraente mulher que compunha a banca de jurados não se conteve sentada ao dizer com desdém que o garoto foi reprovado. — Tente outra vez ano que vem ou quando você amadurecer o suficiente para não falar sobre fantasias de criança. Agora pare de tomar nosso tempo.

— Agatha?! — Sentindo o olhar de reprovação da colega ao seu lado, a mulher voltou ao seu lugar, mantendo seus pensamentos longe daquele trabalho entediante.

— Desculpem-me.

— Não tem com o que se desculpar, Sr. Harper. Nós...

— Mas eu acredito que minhas teorias são fatos. Todas as pesquisas, todos os cálculos... Não! Eu não estou errado. — Não permitindo que as gotas cristalinas que se acumulavam em seus olhos azuis rolassem por seu rosto ao encarar de cabeça erguida os jurados, deixou sua arrogância dominar suas palavras, com um sorriso cheio de sarcasmo em seus lábios. — Harvard ainda será conhecida como a instituição que reprovou Jared Harper, o homem que desenvolveu a mutação genética, criando supersoldados para o bem da nação. Para o bem mundial. Eu posso parecer apenas uma criança ingênua e com uma imaginação fértil, mas, com patrocínio e pessoas para auxiliar nos trabalhos, eu vou conseguir chegar onde eu quero. E, quando eu chegar lá, você será a primeira pessoa a receber o convite da coletiva de imprensa, Sra. Agatha.

 

Furiosa, a professora fez menção de chamar os seguranças, mas a mulher ao seu lado a impediu, dizendo que ela mesma acompanharia Jared até a saída.

 

— Sinto muito, Harper. Você é inteligente e tem um caminho de sucesso pela frente. Lembre-se de que os maiores cientistas foram chamados de loucos e sonhadores. — Segurando os ombros do jovem, ela sorriu com ternura. — Sei que logo você terá o apoio e o investimento que precisa, então nos veremos de novo.

— Acredita mesmo?

— Sim, acredito. Até breve, Harper.

— Até breve. — Ele não conseguia conter o sorriso cheio de esperança que se formava em seu rosto. Agora que alguém reconhecera seu potencial, nada o poderia deter.

 

Depois de observar o garoto ir embora, a mulher de longos cabelos castanhos virou-se para um vaso de flores murchas no canto da recepção. Certificando-se de que não havia ninguém ali, estendeu o braço sobre elas deixou que uma tênue luz esverdeada saísse da palma de sua mão, revigorando as delicadas pétalas coloridas das plantas, que inundavam a entrada da instituição com seu doce aroma do campo.

 

— Você será muito útil, Jared.

 

Esta foi só a primeira conquista do jovem cientista. Com o incentivo de que precisava, ele conseguiu seu próprio laboratório e uma pequena equipe em que poderia confiar suas descobertas no campo da genética e química, tendo a Nexus como patrocinadora.

Trabalhava dia e noite, tendo sempre em mente o sorriso sarcástico da mulher que duvidou de seu potencial. Queria esfregar seu sucesso na cara de todos os que o chamaram de sonhador e fantasioso quando formasse o primeiro exército de primários, como carinhosamente chamava as pessoas com mutação genética que não alterava a aparência física.

Mas o tempo foi passando e os resultados não foram satisfatórios. Em tubos de ensaio, os genes humanos respondiam bem às modificações, mas as cobaias animais nunca sobreviviam. Seu pedido por voluntários humanos, mesmo que fossem réus no corredor da morte, eram sempre negados e, a cada falha, seus recursos eram reduzidos, até serem cortados de vez.

Tudo que lhe restou foi a fiel Meredith Ward, uma cientista de sua equipe. A jovem delicada e muito inteligente era mais que uma colega de trabalho, era a mulher que Jared queria ter ao seu lado até envelhecer e esse sentimento era recíproco.

Os dois permaneceram juntos na busca por respostas das lacunas em suas teorias, desenvolvendo mais do que uma fórmula química, mas um sentimento forte e inabalável. E foi na primavera em que Jared completava vinte anos que trocaram seus votos perante o altar.

Mesmo após apresentar novas fórmulas e tecnologias para a Nexus, a agência não recontratou o cientista. Sem recursos e com um novo integrante na família chegando, Jared deixou os experimentos de lado e aceitou lecionar em uma escola primária.

Apesar de não ter atingido suas metas, nem estar onde sempre sonhou, ele era feliz e sentia-se abençoado por ter Meredith como esposa.

Seu coração quase saiu do peito quando ouviu do médico que teriam uma garotinha. O que resultou em várias discussões sobre o nome que dariam a ela quando nascesse.

Pena que nem tudo na vida são flores e, como eu costumo dizer, nada é tão ruim que não possa piorar.

A lua estava escondida entre as nuvens carregadas quando um clarão iluminou o quarto, seguido de um estrondo, e pesadas gotas de chuva caíram sobre a cidade.

 

— Jared? — Meredith acordou assustada com o barulho e logo percebeu que estava sozinha no quarto ao passar a mão do lado da cama onde o marido deveria estar. — No laboratório de novo, não é? — questionou já sabendo a resposta.

 

Levantou-se com dificuldade, recebendo um chute da garotinha em seu ventre bem próximo às costelas, o que a fez gemer com o desconforto. Subiu cada degrau com cuidado, segurando firme no corrimão e apoiando a outra mão nas costas. A barriga pesava bastante, pois já estava aproximando-se da trigésima sexta semana de gestação.

No topo da escada, ficava o sótão, onde Jared improvisou um pequeno laboratório. Ela o encontrou ali, escrevendo em seu caderno de anotações com um largo sorriso nos lábios.

 

— Sabia que o encontraria aqui. Amanhã você tem de levantar cedo, querido. Vamos dormir. — Após acariciar os cabelos negros do marido, depositou um beijo suave no topo de sua cabeça.

— Não posso agora, Mery. Eu finalmente desenvolvi aquela fórmula. Eu... Eu consegui, Meredith! Eu consegui! — Os olhos do cientista brilhavam como nunca antes. Levantou-se de sua cadeira sem tirar os olhos do rosto da amada e puxou-a para perto, encostando sua testa na dela. — Eu consegui! — A voz de Jared ecoou pelo cômodo apertado e os dois riram, comemorando o seu sucesso.

— Tem certeza de que não quer terminar isso amanhã?

— Tenho sim, Mery. Pode ir dormir. Você precisa descansar mais do que eu.

— Tudo bem, mas não demore — advertiu. — Boa noite, Jared. Eu amo você.

— Eu também amo você, Mery. — Ele beijou a mão da esposa e esperou que ela fechasse a porta antes de pegar a caneta. Suspirou, ainda com um sorriso bobo no rosto e levou a mão até o papel, quando ouviu um estrondo abafado pelo som de um trovão ao mesmo tempo que um raio iluminou o rosto assustado do jovem.

— Jared!

 

O grito de horror de sua mulher o deixou paralisado por alguns segundo, enquanto a caneta caía no chão.

 

— Meredith — balbuciou antes de correr para fora do laboratório. Ao olhar para o fim da escada, viu a sua pequena no chão, rodeada por uma poça de sangue.

 

A ambulância chegou após alguns minutos e a gestante foi levada com urgência para a sala de cirurgia. Jared andava de um lado para o outro na sala de espera, enquanto pesadas lágrimas corriam por seu rosto.

Não demorou muito para que um enfermeiro trouxesse noticias para o marido aflito. O parto forçado foi complicado e Meredith não estava nada bem, mas a pequena garotinha não sofrera nada com a queda da mãe.

Só depois de insistir várias vezes, ele conseguiu uma autorização para ver a mulher, sendo advertido de que ela estava muito fraca por perder uma quantidade considerável de sangue. Após uma higiene completa das mãos, Jared pôde entrar no quarto onde a esposa estava. O monitor cardíaco indicava que os batimentos dela estavam um pouco fracos e um cateter preso em sua mão injetava soro em sua veia.

Ele ficou ali, apenas observando a amada, que estava com os olhos fechados, emoldurados por uma mancha atropelada, que contrastava com sua pele pálida e os lábios sem cor, enquanto acariciava os cachos dela. Mas seus pensamentos foram interrompidos quando o bip do monitor começou a acelerar.

Meredith abriu os olhos, assustada. Já sentia que sua vida estava se esvaindo e nada poderia impedir aquilo.

 

— Jared, não. Eu não posso morrer agora. Nossa filha precisa de mim. — Sua voz quase não saía e seus olhos apavorados gritavam por socorro.

— Shiiii! Calma, meu amor. Não se esforce. — O homem segurou a mão da esposa, dando-lhe apoio. — Ela vai ficar bem. Eu vou cuidar dela. Não se preocupe. Agora descanse. Eu vou chamar os médicos e você vai ficar bem. — Antes que saísse correndo para buscar ajuda, sentiu o leve aperto em sua mão.

— Eu... Eu te... — Antes que pudesse dizer sua última mensagem ao marido, a bela jovem deu seu último suspiro. Seus olhos vidrados já não brilhavam mais. Jared acabara de perder a mulher que tanto amou.

 

Ele só deixou o quarto após ser expulso pelos médicos. Mal podia aguentar -se em pé ao caminhar sem direção pelos corredores monocromáticos do hospital. Foi até o berçário e recebeu autorização para pegar sua filha no colo. Era um bebê muito pequeno e frágil. Tinha cara de joelho, como todo recém-nascido tem, mas, para Jared, não havia criança ali mais linda que sua pequena.

 

— Como vai chamá-la, paizinho? — perguntou a enfermeira de plantão.

— Alice. — Beijou o rosto delicado da bebê, que dormia tranquila em seus braços. — Seremos uma grande dupla e faremos grandes coisas juntos, minha pequena.

 

Vinte anos depois.

 

O sol já se despedia de Nova York, iluminando, com seus últimos raios dourados as edificações dos dois lados da Fifth Avenue, que estava movimentada naquela tarde de terça-feira. Os táxis davam seu colorido à fila de carros que se formava por um extenso pedaço da avenida. O barulho de buzinas e motores, combinados em perfeita desarmonia com os demais sons urbanos, era de irritar qualquer ser que tivesse um dia estressante e cansativo.

Esse era o caso de uma pequena jovem que caminhava a passos rápidos pela calçada repleta de pessoas mal-humoradas e sem educação.

Tentava convencer o pai pelo telefone de que não se atrasaria mais uma vez para um compromisso importante, que no caso, era seu próprio aniversário.

 

— Pai, tenta me ouvir. Eu preciso pegar o carro no conserto e já vou para casa. Eu já estou com o bolo aqui e, se ele cair, a culpa é sua.

 

Equilibrava o confeito com uma mão. A mesma que também carregava uma bolsa cheia de provas a serem corrigidas pela professora estagiária de artes. Os sapatos de salto já estavam a ponto de provocar-lhe bolhas nos dedos e o sobretudo bege na altura dos joelhos enroscava vez ou outra nas bolsas da Prada e da Chanel, pertencentes às madames que passavam pela garota, dificultando ainda mais seu percurso.

 

— Logo os convidados vão chegar. Não os faça ficar esperando — a voz firme recomendava do outro lado da linha.

— Não farei, pai. Agora vou desligar. Amo você.

— Eu também te amo, querida. Tenha cuidado no trânsito. E não se atrase.

— Está bom! — Já não aguentava as advertências do pai. Suspirou profundamente, revirando os olhos e agradecendo por ele não ter visto aquilo. — Tchau.

— Tchau, filha.

 

A garota tirou alguns fios castanhos de seus longos cabelos ondulados que grudaram em seu batom depois de jogar o smartphone no bolso do casaco. Usou as duas mãos para segurar o bolo, facilitando e muito na hora de esquivar dos pedestres apressados.

Mas aquilo já nem era tão importante e incômodo. Pensar que em poucas horas estaria em casa e na companhia de um certo alguém, fazia com que milhares de borboletas brincassem em seu estômago, deixando aquele friozinho na barriga percorrer todo seu corpo com aquela sensação prazerosa de quem está apaixonado pela primeira vez. Não pôde impedir que seus lábios formassem um delicado sorriso, daqueles que contagiam quem quer que olhe para ele.

Seus pensamentos logo foram interrompidos quando o som de cinco disparos alguns metros à frente ecoou nos ouvidos da pequena.

“Ah! Sério que isso vai acontecer logo hoje?” pensou enquanto entrava no primeiro beco que encontrou.

“Ser a vigilante da cidade tem seu lado ruim. Não me dão folga nem no dia do meu aniversário. Vou ter de chutar bundas de forma rápida e eficaz.”

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Estou sentindo as mesmas borboletas no estômago ao terminar de preparar esse prólogo. Gostaria muito de saber o que vocês acharam da história, então espero vocês lá nos comentários. Muitos beijos da Mini e até o próximo.

Editado: Esse capítulo foi oficialmente betado pela A Diferentona, meu anjo da língua portuguesa ♥
Obrigada pelo trabalho incrível ♥