FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 6
Acampamento - 370 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse eu demorei um pouco mais pra concluir, mas pelo menos terminei. Eu não tinha certeza se o colocava na história ou não, mas acabei aproveitando pra introduzir um personagem que... Sem spoiler! Uff, quase deixei escapar.
Bem, esse capitulo é um pouco clichê, mas acho que não tem problema. Então mantenham-se determinados leitores! Aliás, eu fiz um... Tipo de cronograma com uma ideia da quantidade de capitulos da fanfic (isso vai ficar grande) e pode demorar um pouco para sairmos dessa introdução, por isso aguentem aí. Eu estou amando cada um dos comentários!
E para queles que só leem e não comentam, amo a presença de vocês! kkk
Vamos ao cap



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FusionTale - Acampamento - 370 dias para Reset

Começou a ficar um pouco problemático durante o jantar ainda na segunda feira. Frisk havia chegado realmente animada, prontamente fez o trabalho sem qualquer inconveniente e sorriu satisfeita assim que o releu, feliz com seu trabalho. Depois de um merecido banho ela se reuniu com sua família para o jantar, novamente bastante farto graças a Toriel, que sempre estava mais do que feliz em satisfazer seus filhos com uma boa comida depois de um longo dia de esforço.

Frisk estava satisfeita enquanto devorava os pedaços de carne em seu prato, a magia que Toriel, tão especialista em cura, emanava para seus alimentos curando o desgaste de sua alma em cada mordida. Todas as dores do pequeno problema na escola mais cedo haviam desaparecido e Frisk estava pronta para simplesmente derrubar-se na cama e adormecer até o dia seguinte.

Era comum, no entanto, a conversa sobre o dia durante a janta. E Frisk realmente não reclamava, gostava de saber o que seus pais ou seu irmão haviam feito enquanto ela estava na escola. Chara não dizia nada sobre seu dia, ela mantinha um mistério sobre suas atividades, mas ninguém a pressionava a dizer. Ela era uma adolescente, merecia sua privacidade, não? A questão foi que o problema surgiu durante uma dessas conversas, onde Toriel levantou um assunto um pouco delicado.

— Fiquei sabendo que Sans deu uma palestra na escola de vocês meninas. É verdade? - Chara deu de ombros, continuando a devorar sua comida sem realmente se fixar no assunto. Frisk por sua vez assentiu, trazendo um doce sorriso para o rosto de Toriel. - Você chegou a ver, Frisk, querida? - Frisk voltou a assentir, assinalando que teve que fazer um trabalho sobre o que foi dito na palestra. - Que bom, fiquei sabendo que foi muito informativa.

Frisk voltou a assentir, um enorme sorriso surgindo em seu rosto, tentando ignorar a terrível sensação dos olhos desgostosos de Chara ao seu lado. Ela a acusava, tinha certeza disso, por ter tido a mínima interação que fosse com o mais velhos dos irmãos. Mas Frisk ainda poderia argumentar que foi apenas por seu trabalho. Bem, isso até a continuação da conversa.

— É bom que pelo menos um de vocês o conheça. Eu estava precisando de alguns ajudantes para monitorar minha turma de alunos no acampamento no Monte Ebott nesse final de semana, gostaria de saber se poderia contar com vocês. - Frisk prontamente assentiu, tanto por ajudar sua mãe quanto pela brilhante ideia de um acampamento.

— Eu adoraria, mãe. Mas tenho trabalhos para terminar e estudar para provas. Sei que estamos ainda no final de setembro, mas nada como prevenir. - respondeu Asriel com certa tristeza, todavia, sabia que sua mãe estaria orgulhosa que ele estava dando prioridade a seus estudos. Chara, por sua vez, simplesmente negou, sem nunca deixar de encher sua boca com mais colheradas da farta comida.

— Tudo bem, meu filho. Ainda posso contar com você, não é Frisk? - a garota assentiu novamente o enorme sorriso sem sair de seu rosto iluminado em antecipação. - Que bom. Pelo menos você já está familiarizada com Sans, ele será meu outro ajudante. - Frisk logo questionou, em sua linguagem gestual, como ela poderia conhecer Sans. Toriel apenas sorriu com carinho. - Ora, minha querida, nos encontramos em algumas casualidades em meus períodos de lanches. Ele é um bom companheiro de trocadilhos.

Asgore e Asriel gemeram em desgosto apenas de pensar em um companheiro para os trocadilhos terríveis de Toriel. Ela era uma amante de piadas e não perdia tempo para soltar suas anedotas, mesmo que desagradasse a maior parte dos ouvintes. Frisk sempre ria, não importava qual que fosse e já tinha tomado mais de um cutucão de Asriel, Asgore ou até mesmo Chara por incentivá-la dessa maneira. Todavia, daquela vez, Chara não reagiu. Seus olhos fulminavam Frisk de tal maneira que lhe tornou difícil engolir o resto de sua comida.

O máximo que conseguiu dá-la foi um encolher de ombros e um sorriso de desculpas. Ela não tinha culpa desses encontros casuais que a vida a estava arranjando. E Frisk não seria rude ao ponto de ignorar Sans sendo que estariam entorno um do outro durante o final de semana.

Enfim, os cinco dias passaram, sábado teve seu começo logo no período da madrugada quando foi obrigada a levantar-se de sua aconchegante cama para tomar um banho e se aprontar para viajar em companhia de Toriel e mais sua classe de vinte e cinco alunos para os arredores do Monte Ebott. Deveria admitir que a criatividade para nomear a montanha não era muito boa, colocando até mesmo em questionamento se não tinha sido o próprio Asgore a nomeá-la, todavia as lendas que circundavam aquela região poderiam até mesmo ter extrapolado um pouco em criatividade.

Frisk conteve sua vontade de rir ao constatar que mesmo sem monstros aquele monte ainda mantinha-se como foco das mais mirabolantes fantasias. Sem crianças desaparecidas dessa vez, porém. Ela havia escutado desde aparições paranormais até abduções extraterrestres. Existiam ainda aqueles que afirmavam com unhas e dentes que haviam presenciado com seus próprios olhos tais circunstâncias difíceis de acreditar. Todavia, Frisk não seria aquela que iria julgá-los, afinal, se alguma vez ela fosse contar sua história para alguém, com toda certeza a chamariam de louca ou, no melhor dos casos, diriam que ela possuía uma imaginação muito fértil, mas nunca enganaria ninguém.  

Retornar a aquela montanha era encher-se com uma onda de nostalgia que poderia ser descrita tanto como revigorante quanto como arrepiante. Frisk não queria se recordar dos motivos que a levaram a subir a montanha e cair, consequentemente e literalmente, dentro de um poço cheio de monstros.

Foi uma queda de sorte.

Deveriam ser quase quatro da manhã quando as crianças começaram a chegar no ponto marcado para embarcar no ônibus reservado pela escola. Enormes bolsas contendo utensílios de acampamento, desde roupas reservas até guloseimas e lanches. Alguns, com toda certeza, haviam escondido seus brinquedos favoritos para poder mostrar aos amigos durante o acampamento.

Por alguns instantes Frisk se sentiu completamente perdida durante toda a movimentação dos momentos iniciais da chegada das crianças, todas prontamente correndo para seus amigos e colegas, animadas e tagarelas mesmo que o sol nem ao menos tivesse se apresentado no horizonte. Toriel, com toda sua experiência e maestria com o assunto, facilmente manteve-se firme, indo de encontro a cada um dos responsáveis de seus alunos e pedindo educadamente que Frisk ajudasse a colocar as malas de cada criança em seu devido lugar no ônibus.

A viagem não demoraria a começar, quase todas as crianças já se encontravam ali.

O que realmente pareceu marcar em seu primeiro contato com as crianças foi a chegada de um garotinho extremamente tímido. Seus cabelos loiros vivos, chamativos e bagunçados sobre sua cabeça, rosto rosado e enormes olhos verdes como o caule de uma planta, era pequeno, não o menor da turma, mas com toda certeza era um dos. Ele lhe havia agarrado pela lateral de sua calça, encarando-lhe com um pequeno sorriso e indicando que queria sentar-se ao seu lado.

Obviamente Frisk não recusou, ela não se importava em sentar-se com aquele pequeno garoto de aspecto tão angelical, mesmo que algo familiar picasse a parte traseira de sua mente bem de leve, facilmente ignorável.

Sans apresentou-se apenas no limite do tempo para partir, seu sorriso relaxado e mochila jogada em apenas um dos braços, ao igual o pesar em suas pálpebras mostravam que, muito provavelmente, havia despertado poucos minutos atrás, arrumado-se enquanto quase dormia em pé e então aparecido ali. Frisk já sabia que ele possuía a magia para deslocar-se de um ponto a outro sem qualquer tipo de esforço, então ele não deveria ser muito preocupado com a hora em que iria despertar.

Ela não duvidaria que foi preciso Papyrus para recordá-lo que ele deveria estar ali agora.

O caminho não durava muito, levava pelo menos meia hora para encontrarem-se no pé da montanha, em uma região destinada a acampamentos, com pequenas casa de madeira que serviriam como cabanas para acomodar turistas ou excursões. Seria pouco dizer que as crianças correram animadas para cada cabana, felizes em montarem seus próprios grupos de amigos para dormirem juntos enquanto Sans, Toriel e Frisk, junto ao motorista do ônibus, descarregavam as malas para que cada aluno, no final, pudesse arrastá-la para dentro de sua própria cabana.

— Atenção, crianças! Um minuto, por favor! - exclamou Toriel, alto o suficiente para que, durante toda a algazarra feita pelos mais novos, todos fossem capazes de ouvir e só então acomodarem-se ao seu entorno. Frisk manteve-se impressionada com o tom que sua mãe havia utilizado, não sendo agressivo, apesar de alto. As crianças também pareciam respeitá-la, prontamente ajuntando-se em um pequeno semicírculo próximo a sua professora, cutucando seus amigos que ainda não haviam se dado conta do pedido da autoridade em questão. - Todos aqui? Ótimo, antes que comecemos nossas atividades gostaria de perguntar quem aqui sabe a lenda que envolve essa montanha.

— A de que extraterrestres montaram uma base de observação aqui? - perguntou um dos garotos provocando risos em toda turma. Até mesmo Sans, sentado em um tronco cortado um pouco mais afastado do grupo soltou uma suave gargalhada, se não fosse o mover de seus ombros Frisk nunca teria notado. Ele estava longe de mais dela para conseguir ouvir o som que produziu. Toriel, por sua vez, sorriu, negando suavemente com a cabeça.

— Não, minhas crianças. A lenda que envolve o surgimento da magia. - todas as crianças soltaram um "oh" sincronizado, olhos brilhando em compreensão depois da pequena dica. Toriel riu divertida. Uma pequena garota, enorme sorriso e longos cabelos, ergueu a mãozinha no ar, quase saltitando entre seus amigos, empolgada em ser escolhida para responder. - A vontade, Dorote. Todos estamos escutando.

— A lenda conta que acreditava-se que no topo da montanha existia um grande tesouro e aquele que a alcançasse primeiro seria o único a possuí-lo, mas por culpa de todos os animais selvagens que infestavam o lugar era quase impossível chegar ao topo, muito menos descer. Duas crianças, no entanto, estavam determinadas a chegar ao topo, elas eram competitivas e ambiciosas, queriam o tesouro apenas para si, por isso, ignorando todos os avisos, subiram a montanha. - a criança narrava, um enorme sorriso orgulho desenhado em seu rosto. Ela parecia ter ouvido aquela história milhares de vezes, decorando cada palavra de cada momento daquele pequeno folclore. - Desafiando a natureza eles conseguiram chegar ao topo, onde encontraram, não um tesouro, mas um anjo que, como recompensa por terem, tanto chegado ao topo como poupado a vida de cada animal que encontraram, deu-lhes, a cada um, um dom especial, facilitando a decida dos dois pela montanha. Assim surgiram os primeiros usuários de magia e os que a podem usá-la atualmente são descendentes de ambos.

— Muito bem, Dorote! - aplaudiu Toriel, um enorme sorriso desenhado em seu rosto. - Essa, como todos já sabem, é a lenda por trás da magia, no entanto, não podemos acreditar nela tão cegamente como verdade. Alguém poderia me dizer o motivo? - um pequeno rapaz de confusos cabelos negros ergueu a mão, hesitante, encarando todos a sua volta a procura de mais alguém que estivesse disposto a responder, todavia, ele era o único. - Jim?

— Porque... - ele engoliu, a boca provavelmente seca pelo nervosismo, voz embargada e rouca. - Porque é apenas uma história, uma forma mais fácil de explicar o que não conseguimos entender.

— Muito bem. Isso é verdade, no final o conto continua sendo apenas um conto, mas toda a lenda tem seu fundo de verdade e essa não seria uma exceção. Sans. - Toriel voltou seu rosto para o rapaz sentando alguns metros do grupo de crianças, todos os olhares voltados para o pálido rapaz que preguiçosamente estava deitado sobre o tronco, o que parecia um pirulito brincando dentro de sua boca. - Poderia nos dizer a teoria científica dessa história?

— Bem, não me importaria, apesar que o tutoriel deveria estar em sua responsabilidade. - Sans piscou divertido, trazendo uma risada animada de Toriel, gemidos desgostosos dos mais novos e um bufo sufocado de Frisk. Obviamente Sans não perderia a chance de usar trocadilhos. - De qualquer maneira, a teoria é que realmente dois garotos subiram a montanha, talvez apenas por brincadeira, talvez realmente com a ideia de achar um tesouro, vai saber o que se passa na cabeça de crianças. Enfim, a fauna e flora do Monte Ebott é bastante variável e agressiva, seria difícil para apenas duas crianças sobreviverem a hostilidade que teriam que enfrentar na floresta ao redor. Somando a teoria que bolamos recentemente, acreditamos que o estresse emocional desencadeou uma reação em cadeia que forçou a magia para fora do compartimento da alma, dando assim a habilidade para as duas crianças de sobreviverem e voltarem para casa seguras. Quanto a descendência, eu pessoalmente não acredito nisso, apenas acho que, de alguma forma, a magia dos primeiros usuários conseguiu forçar, de forma indireta, outras almas a liberar seus compartimentos. Todavia, como cada alma tem uma "memória" de funcionamento diferente da outra, algumas não foram capazes de receber a influência da magia excessiva de outras almas, permanecendo "normais".

Novamente o "oh" escapou entre as crianças. Sans realmente era impressionante quando começava a explicar, Frisk gostava desse seu lado, o de um professor, de um mentor. Nas poucas vezes em que conseguiu viver na superfície com ele, antes dele odiá-la com toda sua alma, seria sempre com ele que ela procuraria as respostas de duvidas as quais não tinha coragem de pedir a mais nenhum monstros. Curiosidades sobre a biologia monstro que sua mente inocente formulava, todavia, em plena consciência de que poderia ser embaraçoso para o monstro responder. Sans nunca demonstrou estar constrangido, porém. Talvez por simplesmente associar a mentalidade infantil que ela tinha na época.

Ela o admirava ainda mais agora.

— Muito obrigada pela explicação, Sans. - agradeceu Toriel, recebendo um aceno de cabeça como resposta. Seus olhos amáveis então voltaram-se para as crianças, inquietas em seus lugares. - Agora que sabemos a importância dessa montanha e que aprenderam uma coisa nova, podem divertir-se pelas redondezas, mas recordem-se de não ultrapassar as grades de segurança.

Foi como apertar um botão, um botão que estourava a bolha de contenção de uma enorme massa instável de animação. Sem precisar de mais uma palavra e quase sem esperar o termino da frase as crianças saltaram para suas cabanas, apressadas em pegar brinquedos, guloseimas ou mudar suas roupas para explorar as redondezas.

Frisk nunca foi forçada a correr de um lado para o outro tanto quanto foi naquele dia.

Parecia que sua presença amável e disposta a juntar-se a cada brincadeira infantil que as crianças poderiam inventar atraia a atenção e o interesse dos mais jovens que prontamente a arrastavam para suas atividades. Era esconde-esconde, pique-pega, amarelinha, fingindo ser o monstro da montanha, o anjo da montanha, dançando com as garotas... Não importava qual era a brincadeira, Frisk sempre seria arrastada para participar.

Todavia toda turma possuía seus encrenqueiros. Poderiam não ser como no ensino médio, que atormentavam seus colegas com intimidações pesadas, mas ainda eram os mais bagunceiros e desobedientes, difíceis de se lidar, qualquer adulto responsável perderia sua cabeça para controlar as pragas que rodavam energéticas ao redor. Aquela turma, mesmo sendo de Toriel, não seria uma exceção a essa regra e Frisk foi obrigada a lidar com as brincadeiras infantis e ligeiramente humilhantes que eles insistiam em fazer. Partindo desde o levantar de sua saia até derrubá-la constantemente em possas de lama que se acumulavam em algumas partes mais úmidas do lugar.

No final, Frisk foi forçada a deixar a brincadeira por alguns instantes para tomar um banho e trocar sua roupa completamente perdida por culpa da sujeira que haviam se impregnado em cada canto profundo do tecido. Ela teria que pedir desculpas a Mettaton quando retornasse, aquele conjunto foi um presente de aniversário vindo dele, mas Frisk tinha quase certeza que ele estaria encantado em comprar-lhe outro, mesmo que ela insistisse no contrário.

Obviamente ela preferiu retornar a brincadeira com shorts ao invés de outra saia. Ela sabia que, por mais que sua mãe procurasse interferir e impedir tal brincadeira indecente os garotos não se deteriam, somado aos incentivos brincalhões de Sans ela preferia optar pelo seguro.

Outro ponto importante em destacar foi a insistência do pequeno garotinho loiro em manter-se a seu lado, independente das circunstâncias. Foi complicado explicar-lhe que deveria esperar do lado de fora de sua cabana enquanto ela se trocava, mesmo assim ele parecia ser obediente, mantendo-se nas escadas de madeira a esperar pacientemente que ela retornasse. Não que tal fato incomodasse Frisk, ela achava fofo, mas a fazia questionar-se o motivo por tal apego inesperado.

Ela tinha certeza que o garoto era familiar, mas ela não o conhecia, nunca tinha visto a turma de alunos de Toriel e tinha certeza que nunca chegou a encontrar-se com o pequeno garoto em qualquer lugar na cidade. Então de onde partia a familiaridade? Ela cutucava sua mente com tanta insistência, não conseguia mais ignorá-la, talvez...

— Desistiu de suas saias? - questionou Sans, de repente ao seu lado próximo da mesa rústica de madeira situada no centro do acampamento para lanches ao ar livre. Ela não tinha notado quando ele se aproximou, o pequeno rapaz loiro em seus braços com os braços enrolados em seu pescoço, mas, novamente, Sans tinha a capacidade de ir a onde quisesse sem qualquer esforço ou aviso.

"Eu aprendo minha lição. E pessoas como você não ajudam a solucionar o problema." Frisk fez um beicinho irritado, um pouco de dificuldade em assinalar com as mãos quase completamente ocupadas em sustentar o garoto em seus braços, todavia Sans compreendeu o que queria dizer, sorrindo divertido.

— Ora, eu não posso negar que era um show interessante. E admito que azul combina com você. - o rosto de Frisk tornou-se vermelho com a informação da cor de sua peça intima. Seu cenho se franziu profundamente e o pé acertou o chão em um ataque de fúria de constrangimento obrigando ao rapaz mais velho a gargalhar levemente. - Ok, ok, desculpe, Kiddo. Foi errado da minha parte. Mas então, arrumou um filhote? Não vi o rapazinho em seus braços desgrudar de você em nenhum momento desde que saímos da cidade.

Frisk sorriu com carinho, encarando o pequeno em seus braços que não parecia muito feliz em estar perto de Sans. O motivo ela não poderia saber, mas seu rosto ligeiramente enfurecido e desconcertado era deveras adorável.

"Acho que ele simplesmente gostou de mim." respondeu Frisk, ajeitando o pequeno garoto em seus braços, percebendo apenas então que a maior parte das crianças haviam sumido. "Para onde foram as outras crianças?"

— Para um lago nos limites do terreno, eu acho. Toriel os guiou até lá. - respondeu, um tom desinteressado e preguiçoso, bem natural de sua pessoa. Frisk, por sua vez, animou-se com a ideia de poder afastou um pouco o calor que sentia. O sol estava em seu pico naquele momento, em plenas uma hora da tarde, sem qualquer indícios de nuvens no céu. Ela sabia que deveria aproveitar enquanto o inverno ainda não dava as caras e o outono não estava sendo tão rigoroso quanto deveria.

"Vamos também?" Sans deu de ombros, erguendo-se como um indicativo de que a seguiria até o lugar.

O lago não era muito distante da área das cabanas, pequeno e de água cristalina, uma piscina natural que formava-se entre rochas bem enterradas ao solo. Frisk não duvidava que era a pedra matriz do solo, completamente pura e sem muito desgaste a sua volta, o pouco que poderia ter sido degradado com o tempo deveria ter formado a areia no fundo do lago. Crianças brincavam ao seu entorno, com Toriel sempre vigilante para prevenir, se preciso, qualquer desastre que por azar chegasse a suceder.

Frisk não demorou-se a se juntar aos outros garotos, coração pulando em antecipação em seu peito. Com cuidado deixou o pequeno garoto em seus braços no chão, alegre que tinha tido a brilhante ideia de vestir roupas de banho debaixo de sua roupa apenas no caso de qualquer imprevisto. Toriel havia mencionado sobre o lago, Frisk não tinha certeza se poderiam realmente nadar nele, mas preferiu prevenir, sempre era bom estar preparado.

— Wow... - Sans murmurou um pouco atrás, Frisk não tinha escutado, mais preocupada em apressar-se para a água do que nos dois que havia deixado para trás. Todavia, o pequeno garoto loiro sim havia escutado e, com um cenho profundamente franzido, chutou a canela do mais velho. Sua indignação estava evidente em seus olhos e seus braços cruzados. Sans não pareceu se preocupar com o chute, se doeu, ele não demonstrou. Seu enorme sorriso nunca escapando de seus lábios. - Não pode me culpar por isso, garoto. Quando crescer vai entender que certas paisagens são muito bem apreciadas.

Uma piscadela por parte do mais velho e um bufo indignado em resposta. Foi a maior interação que ambos tiveram durante aquele momento.

Frisk achou que seria divertido molhar aqueles que estava fora do lago, juntando-se as crianças para espirrar água naqueles que se encontravam próximos ao lago, levando broncas divertidas de Toriel, uma escapada ágil de Sans e diversas reclamações daqueles que tiveram suas roupas encharcadas.

O dia apenas teve sua conclusão depois de um delicioso jantar envolta de uma enorme fogueira no centro do acampamento, com direitos a histórias que poderiam variar de terror à comédia, algumas crianças pareciam bem criativas e detalhista em cada conto que vinham a contar, Frisk chegou a grudar-se como nunca antes no pequeno em seus braços com determinadas histórias de terror,  quase morrendo de um ataque do coração quando Sans apareceu a suas costas de repente.

Deveriam ter ido para suas cabanas aproximadamente por volta das 11h da noite. Frisk chegou a cochilar por alguns minutos, o corpo desgastado pelo dia animado que teve. Todavia seu descanso não perdurou por muito mais tempo do que um hora, os sonhos que ainda lhe incomodavam a mente rastejavam traiçoeiros por sob suas pálpebras, tornando-a irrequieta em seu sono. As sensações familiares de seu corpo morrendo, das mais variadas maneiras que se poderiam imaginar. No final o resultado, porém, era sempre o mesmo.

Despertar agitado, suor escorrendo pela testa, respiração engatada em um ritmo estranho, coração bombeando desenfreado o sangue para suas veias, cabeça latejando de dor e o cansaço deslizando pelos músculos de seu corpo. A incapacidade de voltar a dormir por um tempo era apenas um brinde que se seguia de tais ocorrências, adrenalina ainda correndo por seu corpo com a perspectiva de uma nova ameaça evidente, mesmo que tudo tivesse sido uma brincadeira de seu subconsciente.   

Frisk ergueu-se da cama, retirando os lençóis de seu corpo e arrastando-se para fora da cabana, tão silenciosamente quanto poderia em seu estado de pavor embriagado. Estava longe da cidade, sem luzes artificiais que ofuscavam o céu estrelado, ela com toda certeza poderia alinhar-se em um monte de grama que teria por aí e encarar as estrelas e suas diversas formas até que seu sono retornasse.

O lado de fora estava tão escuro como era de se esperar do começo da madrugada, seus olhos já acostumados com a penumbra, no entanto, identificaram uma forma estranha deitada na enorme mesa de madeira feita para os lanches ao ar livre. E Frisk estaria mentido se dissesse que, depois de todas as histórias de terror que havia escutado, não tivesse sentido seu coração saltar para sua garganta, por um minuto vacilando em pavor.

Levou-lhe alguns segundos de respiração pesada para finalmente dar-se conta que quem estava deitado sobre a mesa nada mais era do que uma pessoa normal, respirando e tranquilamente encarando o céu com brilhantes olhos azuis que se destacavam na escuridão do lugar, afiados e tranquilos.

Frisk se aproximou, os pés pisando suavemente na escassa grama do acampamento até finalmente postar-se ao lado daquele que se encontrava deitado sobre a mesa.

— Não conseguiu dormir também, Kiddo? - a voz profunda e rouca não a surpreendeu. Por algum motivo ela sabia que Sans não estaria em sua cabana. Talvez fosse por suas poucas memórias na superfície em seu próprio universo, onde, na maior parte das vezes, Sans saia a noite de sua casa, postava-se em um lugar longe da cidade, normalmente no Monte Ebott, e mantinha-se a observar as estrelas o resto da noite. Naquele universo ele também tinha pesadelos com as linhas do tempo em que Chara havia tomado o controle, pesadelos em que, depois de um tempo, ele passou a associar odiosamente a Frisk. - Quer me fazer companhia?

"Se não for incomodar."

Frisk se acomodou ao lado do rapaz que, apesar de robusto, conseguiu abrir espaço o suficiente para os dois na mesa. Por instantes o silêncio foi tudo que compartilharam, olhos voltado-se para o mar de estrelas que dançavam sobre suas cabeças. Uma visão reconfortante, Frisk sempre amou ver as estrelas.

— Sabe, eu sempre gostei das estrelas. - começou Sans, a voz não mais do que um sussurro que apenas Frisk conseguiria ouvir. Ela ficou surpresa que ele tivesse sido aquele que quebraria o silêncio, mas apenas dedicou-se a ouvir. - Eu não sei bem o motivo, mas sempre que olho para o céu, é como se nunca antes o tivesse visto, como se tivesse estado preso no subterrâneo durante toda minha vida e apenas agora pudesse apreciá-lo. Louco não? - Frisk negou fervorosamente com a cabeça. Ela compreendia, mais do que qualquer um, aquele sentimento. Ela sabia da onde vinha, e agora, com mais certeza do que nunca, ela tinha certeza que as outras partes da alma de Sans, assim como a dela, estavam formando uma alma inteira. - Eu nem sei por quê estou contando isso...

Frisk ergueu-se, de forma que Sans pudesse ver o movimento de suas mãos a formar as palavras que queria passar.

"Seria ainda mais louco dizer que entendo, completamente, em minha alma, o sentimento que está dizendo?" um sorriso gentil tinha se formado em seu rosto e pela primeira vez, desde que o havia conhecido nessa dimensão, o sorriso de Sans vacilou.

Foi tão rápido, Frisk quase não conseguiu ver. O brilho de conhecimento, aquele reconhecimento que via em cada redefinição, o brilho que ela tinha se esquecido que poderia ver nos olhos do que antes era um esqueleto. Ela não sabia o que poderia ter causado isso, ela não teve nenhuma sensação de nostalgia, ela não viu semelhança com nenhum momento que havia vivido em outra dimensão, em qualquer outra que conseguisse se lembrar. Mas a alma de Sans parecia ter reconhecido alguma coisa.

E tão rápido quanto veio, desapareceu. O sorriso estava de volta a seu tamanho normal, uma mão pálida ergueu-se e bagunçou seus curtos cabelos castanhos, obrigando-a a amuar em desgosto.

— Você conhece as constelações, Kiddo?

O resto da noite passou-se com a indicação das formas que cada ponto brilhante no céu poderia formar em conjunto. Frisk tinha a pouca noção que se encontravam no hemisfério norte, por isso, como Sans havia explicado, não existiam constelações como o Cruzeiro do Sul, mas sim a Ursa maior. Ela conseguiu ver Escorpião, que, se estava aparecendo no céu, significava que ela não poderia ver a constelação de Orion. Existiam algumas, porém, que estavam longe de serem identificadas por seus olhos, e levavam uma boa gargalhada de Sans, cada vez que tentava.

Frisk estaria mentido se dissesse que não havia se divertido.

O dia seguinte, por sua vez, nada mais foi do que o findar da diversão. Era de se esperar que algumas crianças estivesse relutantes em simplesmente voltar para casa depois de toda diversão que tinham conseguido, mas o fim de semana estava acabando, o sol já se punha quando todos estavam dentro do ônibus com o destino de volta a cidade. Frisk teve um pequeno problema em se separar do pequeno rapaz loiro, mas prometeu visitá-lo algumas vezes na escola, sempre que possível pelo menos.

E para Frisk, ela se sentia tão leve quando voltou para casa, caindo sobre sua cama e deixando o sono levá-la, sem sonhos dessa vez.  


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Notas finais do capítulo

Falei que era um pouco clichê, mas quero fazer a aproximação do Sans e da Frisk ser bem lenta. O proximo teremos uma interação maior de outros personagens e vai ser mais fácil para mim escrever, estou com ele na minha cabeça já faz um tempo.
Aliás, eu talvez possa aumentar a classificação. Eu não sei a idade dos meus leitores, mas vocês já devem ter visto nos alertas de "sexo" na história. A questão mesmo é como eu vou fazer, por isso, eventualmente, dependendo da minha decisão, pode aumentar.
Bem, deixarei vocês por aqui, até semana que vem!
Bye bye