FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 47
O caos está a caminho


Notas iniciais do capítulo

Um pouco tarde, mas pelo menos estou aqui. Quase não apareço, para falar a verdade.
E... Lembram quando disse 71 caps? bem, agora são 72. Eu achei mais interessante dividir, assim posso brincar de detalhar mais.
Espero que gostem, o nome já é bem sugestivo e: PARA QUEM NÃO PEGOU PLAYLIST NO CAP PASSADO, POR FAVOR, IR ATÉ AS NOTAS FINAIS E PEGÁ-LO AGORA. TEM PARA O SPOTIFI E PARA O YOUTUBE
aproveitem a leitura



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FusionTale – O caos está a caminho

Seus passos eram suaves, quase dançantes, sem qualquer pressa em seus movimentos, tomando seu tempo doce para chegar a seu objetivo, enorme sorriso satisfeito ainda estampado em sua face, sangue quente em suas bochechas tornando-as coradas pela excitação que sentia no momento. Seus dedos estavam duros pelo sangue seco em suas mãos, ainda que permanecesse a gotejar da lâmina que carregava, marcando discretamente seu caminho pelos corredores claros, iluminados por uma fraca luz noturna.

Não via porque deveria ter pressa. O laboratório estava fechado pela noite, os dois únicos vigias noturnos já tinham sido derrubados, sufocados por suas mãos pequenas e fortes.

Foi tão gratificante!

A forma como se contorceram tentando inutilmente escapar, olhos arregalados em uma expressão de horror e desespero, talvez mesclada a um pouco de surpresa; boca aberta na fraca tentativa de puxar ar para seus pulmões, ou gritar, não importava realmente, ele não poderia fazê-lo de qualquer maneira. A forma deliciosa como seus dedos envolveram o pescoço grosso, apertando a carne e músculos macios como se quisesse se fundir a ela; como a traqueia se contraiu, lutando contra a pressão exercida sobre ela, observando fascinada como a pele mudava de sua tonalidade normal para vermelho, então azul e então roxo. A forma como a vida se escorria dos olhos abertos, seu brilho se apagando tão lentamente, esmagando as esperanças até a aceitação, quando as lágrimas escorriam, a saliva se acumulava na boca até vazar pelas laterais dos lábios e as orbes rolavam para dentro do crânio.

Tomou um momento para observar seu feito. Avaliando a marca visível no pescoço, a forma detalhada de seus dedos desenhada em um colorido hematoma na pele, uma mistura exuberante de verde, roxo, vermelho e preto. Rosto perpetuamente preso em uma expressão de desespero e pânico, o mais perto do puro medo possível, com a boca aberta em um grito silencioso, olhos esbugalhados e em branco, lágrimas ainda manchando as bochechas, que já perdiam suas cores, baba escorrendo para fora e língua enrolada dentro da boca escancarada. Membros contraídos da luta e calças molhadas do relaxamento dos músculos após a morte. 

Regozijou-se em orgulho do trabalho bem feito, a demonstração de sua força e seu poder como detentora da morte. Glorificando-se com o poder ganho do ato, o vicioso sentimento preenchendo suas veias como uma droga.

Reparou, extasiada, que as vozes pareciam se acalmar com cada vida que se esvaía por seus dedos, com cada gota de sangue que espirrava em sua pele, caia de sua faca. Elas aquietavam-se satisfeitas e felizes, não mais empurrando, não mais a incomodando, apaziguadas pela sangria, pela raiva, pela morte.

Talvez mesmo aterrorizadas. Oh! Como ela era temível! Nem mesmo o que quer que estivesse em sua cabeça poderia lidar com ela, poderia enfrentar o que era capaz.

Nunca antes se sentiu tão bem e satisfeita. Deixar de segurar, deixar de se privar. Não precisava mais se importar, andando pelos corredores a sorrir para as câmeras com o rosto descoberto, divertindo-se com o pensamento de alguém a ver, sentindo o arrepio de medo, de pânico, de adrenalina passar por suas costas, o suor frio a escorrer pela nuca, o instinto de sobrevivência a gritar que ela era o predador e ele era a presa.

Tão divertido!

Mesmo que alguém realmente visse, não faria diferença. Ela não se importava, ela ansiava por isso. Destruiria a todos, nada sobraria e se seu expectador pudesse passar a palavra, fazendo com que todos soubessem que ela foi a causa, que ela era o caos que estava por vir, então seria ainda melhor.

Que a temam, que a respeitem, que tremam quando seu nome seja pronunciado! Que corram e se escondam, chorem implorando por misericórdia! Por suas patéticas vidas miseráveis! Quanto mais sofrimento melhor seria para ela, mais saboroso se tornaria. A destruição sendo música para seus ouvidos!

E quando conseguisse colocar as mãos na capacidade de ter magia, a cacofonia de sua sentença, de seu caos, de seus feitos, seria ainda maior, mais poderosa, mais estrondosa!

Todos ouviriam! Todos teriam que parar e ouvir, sendo consumidos por essa deliciosa devastação!

Não poderia esperar.

Talvez estivesse um pouco apressada.

Estava tarde, apenas algumas poucas horas depois do enterro de Asriel, o sol já tendo se ponto e a noite recobrindo a cidade, a maioria já se retirando de seu trabalho, acomodados em casa, ignorantes ao que ela estava começando, o underground não seria nada como aqui. O laboratório estava deserto, o silêncio morto sendo quebrado apenas por leves estalos ao redor, dando uma atmosfera mais condizente com toda a situação. Mas ela não se importava, mesmo que quem procurasse não estivesse ali, poderia facilmente esperar, procurando inicialmente por sua própria conta detalhes sobre o que ansiava.

Ela tinha todo o tempo do mundo para isso. Era mais divertido assim, afinal.

Foi realmente uma grande coincidência a seu favor, ainda que não soubesse. Gaster tinha o habito de permanecer até mais tarde em seu laboratório e, ainda que esse não fosse o plano hoje, ele não deixaria de lado um projeto tão delicado quando ele lhe ligava comentando sobre complicações.

Lance estava avançando bem, sua magia já tendo mostrando-se em uma elementar de água, tendo uma tendência a inclinar-se para o gelo. Assim como o fogo, era uma magia imprevisível, difícil de controlar, apesar de mais calma, fluída e flexível. Era natural para possuidores desse tipo de magia terem dificuldade para controla-la, variando muito facilmente com suas emoções e, com Lance em um estágio ainda muito recente, poderia facilmente se machucar caso tivesse uma explosão de algum tipo.

Gaster precisava ser atento e por isso deu seu número ao garoto para qualquer tipo de imprevisto, orientando-o a ligar sempre que achasse que sentia algo estranho.

Sans tinha insistido em comparecer, mas Gaster achou que ele precisava de um descanso. Toda essa situação os trouxe bem próximo ao enterro de Mirian e apenas isso era uma descarga emocional suficiente para um único dia. Ele precisava estar com Papyrus, Gaster garantiu que não seria nada demorado. No entanto, não conseguiu convencer Alphys da mesma coisa, sua assistente fiel sendo tão determinada quanto ele a ver os avançar de tal projeto, insistiu em comparecer assim que a informou da situação.

Alguns a seguiram. Sua equipe não era grande, todos fieis escolhidos a dedos, tão dedicados quanto ele, acabando por levar muitos deles a insistirem com unhas e dentes que estivessem presentes. Por mais insignificante que fosse a chamada.

Sendo uma inovação tão grande, Gaster poderia compreender o ponto de vista deles. Afinal, sentia-se da mesma maneira.

Eles tinham se reunido na sala do laboratório reservada para seu projeto, equipada com tudo o que precisavam para averiguar a situação, alguns dos equipamentos em questão já presos ao rapaz para monitorar sua atividade cerebral, cardíaca e motora. Nada parecia estar danificado fisicamente, o que era um alívio, o rapaz reagia e respondia bem, apenas um pequeno susto de tontura, talvez devido ao cansaço de ter usado mais magia do que estava preparado ou mesmo acostumado, mas não o suficiente para realmente danificá-lo.

De acordo com seu relato tinha sido uma pequena discussão. Ele talvez tenha ficado um pouco animado demais e então a água ao redor começo a se mover, ele próprio não tendo reparado, muito focado no que estava falando, até seu companheiro apontar para o pequeno detalhe em ação.

O que, talvez, tivesse sido sua sorte.

Elementares tinham duas vertentes: os criadores e os controladores. Normalmente uma era subsequente a outra, mas não necessariamente essa era uma regra. Quanto mais magia você tivesse mais vertentes você conseguiria acessar e, por tal, era mais natural que elementares fossem criadores, gerando magia suficiente apenas para dar origem a um elemento, mas não o suficiente para controlar um pré-existente como controladores costumavam fazer. Ainda existiam aqueles, apesar de pouco comuns, que apenas conseguiam controlar a matéria e não cria-la; era necessário um nível um pouco a mais de magia para isso, sendo assim, o motivo pelo qual o aumento de energia de criadores os levavam a serem controladores também e a raridade de existirem controladores que não fossem criadores também. E, ainda mais raro, estavam os que poderiam causar ambos.  

Gaster por exemplo estava na ultima classificação, sendo capaz não apenas de gerar sombras, como também manipulá-las a seu favor, tanto para torna-las físicas e tangíveis, como para simplesmente moldá-las. No entanto, ele talvez não fosse um bom parâmetro de comparação, levando em consideração a quantidade peculiarmente absurda de magia que possuía, facilmente podendo ser considerado uma anomalia, mesmo para tempos como agora.

Então, eles talvez tivessem subestimado um pouco as capacidades do rapaz, não acreditando que ele seria capaz de tal, mas, que era de fato um detalhe extraordinário para sua pesquisa, isso com toda certeza era.

Principalmente se tratando de uma magia teoricamente fabricada em laboratório.

Saber que uma alma, que originalmente não era capaz de produzir qualquer tipo de magia, poderia passar a gerar tamanha, era simplesmente fascinante.

O fazia se questionar os limites para essa ciência, para a alma em si. Talvez abrindo a possibilidade de que, se isso ocorresse novamente, a segunda geração de magia, com pessoas induzidas a ela, tivesse a tendência de ter uma maior concentração de magia do que as que naturalmente a liberavam.

Eles não se focariam nesse detalhe agora, é claro. Não estava no momento ou mesmo no clima para isso. Tinham tempo e poderia levar todo o trabalho tão lentamente como precisavam, levando em consideração os diversos resultados que estavam a obter. Por hoje apenas teriam um checkup completo, classificariam se tudo estava em ordem, talvez uma medida de magia, voltariam para casa para descansar e, apenas então, prosseguir mais profundamente nos próximos dias que tiverem.

O amigo do rapaz, o qual o acompanhou até aqui, estava ao lado de fora, pacientemente a esperar que ele fosse liberado para acompanha-lo de volta para casa.

Não importava o quanto dissessem que não precisava ficar, Gaster mesmo se propôs a ser aquele a leva-lo de volta em segurança, o jovem ainda se recusava a sair, teimosamente plantando-se no lugar. Pelo menos havia concordado em se manter do lado de fora, já que toda a situação era de extremo sigilo e já tinha sido ruim o suficiente que ele tivesse visto a magia em ação de alguém que teoricamente deveria ser um não usuário.

Parecia ser um bom garoto, não diria nada, mas ainda teriam que lidar com toda essa situação depois.

Burocracias e tudo mais.

A noite estava tranquila, nenhum deles imaginou que seria mais do que algumas horas perdidas de sono, o silêncio envolvendo a maior parte do edifício. Talvez sendo exatamente esse o motivo que permitiu a Keith escutar os passos em sua direção.

Passos que não vinham de dentro da porta fechada onde todos os outros estavam.

Seus olhos caíram sobre o relógio em seu pulso, averiguando a hora para ter certeza que não seria outro empregado.

Tinham tido uma conversa vaga com a segurança, garantindo sua entrada permitida, apenas assim sabendo que os zeladores responsáveis já tinham terminado o serviço e apenas eles estavam ali. Recordava-se vagamente de um dos cientistas acompanhando-os comentando sobre uma ronda de dez em dez minutos, mas quinze já havia se passado desde a ultima ronda e nenhum guarda havia voltado a aparecer.

Poderiam ter diversas causas, porém.

Talvez algo tenha acontecido em algum lugar do laboratório e eles tiveram que resolver, talvez tivessem perdido a hora ou mesmo cochilando um pouco, era normal, afinal, estava escuro, próximo da meia noite, o tempo se arrastando lendo, sem mais nada para fazer a não ser observar as paredes brancas sem graça. Mas algo no instinto de Keith o dizia que não, que a causa era totalmente diferente e mais macabra, os pelos de sua nuca arrepiando-se em um calafrio de antecipação, seus sentidos indo ao máximo a espera do que quer que fosse.

Estava se aproximando. Ele basicamente poderia sentir.

Foi quando os passos começaram e sua mão desceu prontamente para as lâminas que mantinha quase em todos os momentos, enrolando os dedos ao redor do cabo em um aperto firme, erguendo-se da cadeira a qual estava sentado e girando sobre os calcanhares para encarar o corredor, procurando identificar o recém chegado.

As poucas luzes disponíveis lançavam sombras aqui ou ali, elas não eram tão fortes, dedicadas mais a economizar energia e não deixar tudo no escuro para facilitar o trabalho das câmeras do que iluminar propriamente. Não dava para ver quem se aproximava e talvez nem ao menos a teria escutado se tudo não estivesse em silêncio e seus sentidos não tivessem aguçados.

Seu instinto, com cada passo, com cada eco de movimento, gritava para correr, para fugir, que a presença que se aproximava era muito mais do que poderia enfrentar. Mas não obedeceu, não escutou. Seus pés se pressionaram contra o chão, mãos apertando ainda mais o cabo de sua espada, desembainhando-a para se preparar. Procurou manter sua respiração estável, controlada, os batimentos de seu coração loucos bombeados pela adrenalina, olhos focados, recusando-se a recuar, a deixar o que queria proteger.

Ele disse que esperaria e era isso que faria.

Ele estaria pronto, não importava o que quer que aparecesse.

— Quem está aí?! – vociferou, ansioso, apressado, impaciente, os segundos escorrendo lentamente enquanto esperava instigando sua inquietação. – Mostre-se agora!

Alguns segundos de suspensão ainda se mantiveram, nada se revelando, nenhum som ecoando, os passos tendo parado assim que sua voz tomou espaço do silêncio. Ele sabia melhor do que deixar sua guarda baixa, ainda poderia sentir-se ser observado.

Não poderia ter contado o tempo, mas o brilho do reflexo de algo metálico chamou sua atenção milésimos de segundos antes da lâmina cortar o ar apressada na direção de seu rosto.

A pontaria tinha sido perfeita, direto entre seus olhos, com força e velocidade o suficiente para muito provavelmente perfurar seu crânio e mata-lo ao instante se não tivesse reagido rápido, seus reflexos de luta bons o suficiente para mover o braço antes mesmo de raciocinar completamente o que estava acontecendo, usando de sua própria lâmina para desviar a que foi arremessada, saindo ileso do primeiro ataque.

Porém, descobriu rapidamente que não se tratava mais do que uma distração. Arranjando o suficiente de segundos para que a pessoa responsável pelo lançamento do que supunha ser uma faca jogar-se para frente em sua direção, atravessando todo o caminho que tinha entre eles, aproximando-se o suficiente para proferir um ataque eficaz sem ser barrado por suas lâminas durante o percurso.

Apesar de espadas, como as que estava acostumado a usar, ainda fossem dedicadas a disputas próximas de corpo a corpo, ainda era um fato que possibilitavam uma distância entre os adversários, garantindo um leve espaço de segurança e uma vantagem contra aqueles desarmados, contando como uma extensão afiada do braço. Seja quem for que estivesse a atacar tinha experiência com luta.

Novamente, foram seus reflexos que agiram mais rápido que sua consciência, corpo preparado para lutas, com memória muscular impecável depois de tantas vezes se esforçando para se livrar de situações semelhantes. Bastava segundos novamente para sacar a segunda lâmina, movendo-a pelo ar em uma parábola na direção de seu atacante, pronto para desferir um corte certeiro provavelmente a acertar-lhe o ombro se o ângulo dissesse alguma coisa, contudo, não foi rápido o suficiente.

Seu pulso foi agarrado na metade do caminho, bloqueando seu ataque. Com mais o peso e a velocidade em que o corpo que o atacou foi projetado em sua direção o movimento continuou, empurrando-o para trás, perdendo o equilíbrio e guiando-o para o chão.

A espada em sua outra mão foi arremessada para longe enquanto aquela que tinha sido detida pelo inimigo mantinha-se firme, mas foi remanejada pelas mãos dele, guiando, contra sua vontade, a direção da lâmina para apontar na direção de seu pescoço, pronta para perfurar. Precisou ser rápido para reagir, levando a mão agora livre para junto ao cabo, onde tanto a sua quanto a de seu adversário estavam manejadas com firmeza, tornando um impasse para qual direção a espada deveria ir, prendendo-se a poucos centímetros de seu pescoço inevitavelmente descoberto.

Finalmente podendo se concentrar em seu adversário notou em primeiro lugar o vermelho. Em seus olhos, em seu rosto, em seu cabelo, dos lábios, quase tudo era vermelho escurecido pela falta de luz. O segundo que notou foi o branco, a pele branca da pele pálida em destaque com o vermelho, destacado, quase brilhando. Havia também o branco dos dentes, arreganhados em um sorriso sinistro, insano. Era uma figura feminina, foi o terceiro que reparou, estando tão perto conseguindo reconhecer pequenos detalhes delicados em suas feições que o fizeram acreditar assim; cabelos aparentemente castanhos curtos até o queixo, lisos e retos, corpo magro e ainda assim possuidor de uma enorme força, se a pressão em sua arma dizia qualquer coisa, rosto fino e pontudo, quase impossível de identificar debaixo de tanto sangue.

— Ora, ora, ora, veja o que temos aqui. – a voz era fina, quase infantil, repleta de divertimento e excitação, como uma criança a abrir um presente de natal, mesmo que nessa mesma analogia ele fosse o presente a ser aberto, o que definitivamente não era agradável. – O que faz tão longe de casa cãozinho? Não te ensinaram que não deve mostrar as presas para sua dona?

O mais aterrorizante na voz, talvez, fosse o quão assustadoramente conhecida ela era, para não dizer da familiaridade do comentário. Afinal, existia apenas uma pessoa que se referia a ele como um cão, ainda que a analogia o irritasse, nunca teve a coragem ou mesmo audácia de dizer qualquer coisa.

Avaliando com mais cuidado, olhos apertados imaginando uma máscara branca sobre o rosto do estranho, assustando-se como se encaixava, como todo o personagem era igual... A familiaridade seria explicada se a pessoa que estivesse a sua frente fosse... Por acaso...  

Oh deuses... Oh deuses não... Não, não, não, não. Não poderia estar certo, não poderia ser certo.

— Rainha? – sua voz quase falhou, olhos abertos em pavor. Ele não compreendia, se realmente fosse certa sua linha de pensamento, o motivo de sua rainha estar tão louca, tão perdida em uma insanidade. Quer dizer, ela sempre teve uma pré-disposição a violência, mas o que via agora, o que presenciava, era alguém completamente fora de sua mente e talvez não importava o motivo, talvez fosse apenas pensar de mais sendo que o que importava era que se realmente estivesse certo, se fosse ela, ele não cumpriria sua promessa, ele não sobreviveria a isso, não seria possível, não importa o quanto lutasse porque o fato de ter se submetido a ela em primeiro lugar era exatamente pelo motivo de não ser capaz de vencê-la.

Ele não reparou, mas sua distração, a surpresa, deu a chance perfeita para tornar seu fim ainda mais rápido; escorregou seu controle sobre a lâmina, possibilitando a Chara jogar um pouco mais de seu peso sobre ela, empurrando-a o resto do caminho que faltava para acertá-lo, atravessando sua garganta com força o suficiente para encontrar o outro lado e cavar um caminho pelo chão.

Não foi mesmo capaz de gritar de dor, ainda que, no final, não sentisse mais nada.

O enorme sorriso se tornou ainda maior quando o sangue jorrou da ferida, observando os olhos roxos perolados se abrindo em uma surpresa assustada, não mais conseguindo respirar, engasgando-se com o próprio sangue que agora enchia sua boca, as mãos que outrora seguravam tão firmemente a lâmina agora em sua garganta falhando em seu aperto, não sendo mais capazes de lutar contra o que já havia sido decidido desde o momento que se encontraram naquele corredor vazio.

Chara respirou com satisfação, debruçando-se sobre o rapaz com diversão em seu olhar, desejando tornar seu medo ainda mais avassalador, mais real.  

— Cães que mostra as presas para seus donos devem ser sacrificados. – murmurou, a voz sombria, baixa, tão próxima a seu rosto que sentiu-se mais como uma baforada da própria morte, ouvindo-a rir em seguida, sabendo que não havia mais escapatória.

Chara se ergueu, saindo de cima do corpo moribundo ainda a morrer, sangue vermelho espalhando pelo chão debaixo de seus pés, colorindo o branco enquanto estufava o peito em vitória.

Ela sempre amou essa cor.

Ela o observou por um tempo a se contorcer, talvez pela dor, talvez na tentativa de respirar, mas não demoraria muito a partir de agora. A vida se esvaia rápido, mas ainda lento, não teria socorro, mas deslizaria junto ao sangue, sofrendo, torturado, sem misericórdia, sem saber o que o tomaria primeiro: a falta de ar ou a perda de sangue.

Era tão lindo. Tão poético.

Keith não podia fazer mais nada além de observar.

Em primeiro lugar os olhos vermelhos encarando-o com aquele brilho insano e ainda tão lúcido da verdade do que havia acabado de fazer, divertindo-se com seu sofrimento, apreciando-o enquanto sentia a força deixar seus membros, o ar nunca chegando a seus pulmões agora repletos do líquido viscoso a obstruir suas vias aéreas, gosto metálico por toda sua boca, a essência de sua vida esvaindo-se para fora de seu corpo ou para os lugares errados dele.

Não existia escapatória para esse resultado e ela sabia disso. Sabia tanto que tomava seu tempo para apreciar como se de alguma obra de arte se tratasse.

Depois a observou, um pouco tonto e cansado, como saia de cima de seu corpo, pés a caminhar na direção de uma das portas ao redor, deixando marcas vermelhas de suas pegadas para trás, como um rastro de seus atos. Vagamente conseguindo reconhecer a porta para a qual ela se dirigia, sentindo, através de seu cansaço, a onda de desespero ao compreender o que ela faria. A pessoa que ela iria encontrar.

Não, não, não, não! Lance estava lá! Lance estava atrás daquela porta e não importava que maldita seja essa magia que ele era capaz de usar agora, ele nunca seria capaz de sobreviver a um ataque da rainha de copas. Não dela.

Lance, a pessoa que ele tinha passado a apreciar tanto a companhia, que o tinha aceitado como ele era, que ele estava realmente aprendendo a amar, estava do outro lado daquela porta e sua rainha iria mata-lo e ele não poderia fazer absolutamente nada! Isso não poderia estar acontecendo, não poderia... Lance não poderia fugir e Keith não poderia protege-lo.

Deuses ele não podia fazer nada!

Sua visão foi ficando cada vez mais escura, conseguia sentir a vida deixando seu corpo, como esses eram seus momentos finais, observando impotente a criatura cheia de um desejo assassino insano entrar no laboratório, sem olhar para trás, não podendo fazer nada além de chorar seus arrependimentos.

Chara sorriu ao observar todos ao redor, congelados pela aparição súbita de sua presença, observando-a com olhos arregalados de surpresa, talvez mesmo medo e confusão. Todas as atividades que supostamente estivessem a executar tinham parado e todas as cabeças giraram para encontra-la assim que ouviram o som da porta sendo aberta e fechada.

Tudo tinha caído em um silêncio fúnebre, ninguém ousando dizer uma só palavra, procurando processar a situação. Os olhos conhecidos de Gaster, Alphys e Lance observando a figura de Chara sem saber o que deveriam sentir ou mesmo pensar vendo-a completamente manchada em vermelho, faca na mão, sorriso maníaco no rosto.

Gaster tomou a frente de seus colegas, sem saber exatamente o que deveria ser feito, mas sabendo que algo estava errado e deveria proteger seus colegas, eu seria o único capaz. Por um lado aquela era a filha de seu amigo, mesmo que a situação estivesse totalmente desfavorável a ela em primeira vista ele não queria supor nada, mas por outro a criança sempre lhe trouxe desconfiança, principalmente sabendo da forma como seu filho a evitava como a peste, ambos nutrindo um ódio tão palpável que era a receita para o desastre deixa-los juntos em um só lugar.

— Então... – Chara começou, seus olhos vagando ao redor, sem poder acreditar em sua sorte, já cansada de esperar qualquer um a sair de seu estupor. – É aqui que tudo acontece. Devo admitir que esperava muito menos levando em consideração que são apenas um bando de nerds reunidos em um só lugar e que aquele ridículo comediante trabalha aqui. Mas essa não é a questão. Realmente não esperava encontrar ninguém a essas horas, mas acho que poderia ter adivinhado depois de me deparar com o pequeno cão de guarda do lado de fora. Deve ser meu dia de sorte!

A mente de Lance disparou, finalmente a dar-se conta que Keith estava a espera-lo do lado de fora e para Chara ter entrado precisava ter passado por ele. Lance duvidava que ele simplesmente a deixasse passar, se Lance, que tinha um péssimo sentido, poderia sentir os arrepios em sua espinha com apenas olhar para a figura erguida confiante a sua frente ele apenas poderia imaginar o que era para Keith com todos os seus instintos e impulsividade loucos.

O que está acontecendo, Chara?” Gaster assinala, cauteloso, seus olhos nunca deixando a figura a sua frente e bem sabendo que ela também estava atenta a ele, mesmo que os olhos vagassem para outros cantos e sua postura fosse relaxada. Ela reconhecia o fato de que ele era o mais forte ali, Gaster poderia dizer isso bem.

— Oh! Nada de mais. Apenas um pequeno trabalho de limpeza. – seu sorriso malicioso se tornou ainda mais sugestivo e Gaster novamente sentiu um arrepio subir por sua coluna, as mãos formigando para tomar algum meio de comunicação, mesmo que seja apenas para alertar seus filhos.

— Keith! O que você fez com Keith?! – Lance questionou antes que Gaster pudesse prosseguir o assunto, precipitando-se para frente forçando o mais velho a contê-lo antes de se aproximar de mais. Seus olhos estavam arregalados, caindo para o sangue ainda fresco nos pés de Chara, desesperados por uma resposta a qual ele definitivamente não queria ouvir.

— O cãozinho do lado de fora? Vamos apenas dizer que ele não vai poder se intrometer tão cedo. – era impressionante como uma pessoa poderia apresentar tanto sorrisos, dessa vez ele sendo cruel.

Lance sentiu algo quebrar. Se em sua alma ou sua mente ou mesmo em algum ponto da sala não importava. Ele tinha vivido entre assassinos tempo o suficiente para saber o que aquilo implicava, para saber que se abrisse a porta não encontraria mais do que o corpo sem vida de seu amigo, da pessoa que crescia para ser tão próxima a um amor como poderia. Eles ainda não tinham chegado lá, mas Lance tinha ficado tão esperançoso nos últimos tempos, com o apoio e a constante companhia de Keith mesmo depois de descobrir sobre sua irmã, sobre as marcas que escondia... Pensou... Pensou que poderia funcionar, que tinha uma chance.  

Agora não existia mais nada e a culpa era sua, totalmente sua. Se não tivesse perdido o controle da discussão, se não tivessem discutido em primeiro lugar, nada disso teria realmente acontecido, nenhum deles estaria ali e Keith estaria bem, provavelmente ainda cuidado de seu irmão, cuidado de sua vida, ele não teria... Ele não teria ficado, não teria permanecido para fazer companhia porque estava nervoso de ter feito alguma coisa errada, para não dizer da tontura que o assolou. Se não tivesse demonstrado o quão fraco tinha se sentido Keith não teria se preocupado, ele não teria...

A temperatura ao redor da sala começou a cair, lentamente tornando-se frio o suficiente para uma pequena camada de gelo começar a se formar no chão. O encanamento do prédio começou a estalar e a trepidar, dolorosamente sendo forçado para áreas as quais não deveriam.

Lance não percebeu, ele não notou a pressão de magia que o rodeava ou a forma como seu corpo já cansado começava a ser forçado. Tão acostumado com a dor parecia apenas mais uma situação qualquer para ele, muito mais concentrado no loop em sua mente.

— L-lance! V-você d-d-deve se acalmar! S-suas e-emoções a-a-afetam sua m-magia! – Alphys tentou, mas o garoto estava longe de mais para escutar, olhos nublados perdidos no chão, a sala ficando cada vez mais fria ao ponto de já começarem a tremer. Jalecos não eram o suficiente para manter a temperatura. – Lance!

Gaster sabia que não funcionaria, tinha lidade muitas vezes com Sans para saber sobre isso, principalmente quando mais novo.

Seu filho tinha um apego, um problema de se ligar demais. Não era exatamente um defeito, principalmente levando em consideração o tempo que ele levava para se ligar a uma pessoa, mas quando o fazia era sempre firme, leal e extremamente protetor, ao ponto de perder a cabeça quando alguma coisa acontecia. Quando sua esposa morreu, foi o pior ataque mágico que ele já sofreu, muito pior do que quando Pap caiu de uma árvore e quebrou o braço. Gaster poderia ver que o garoto agora ao seu lado passava pelo mesmo processo e não existia como parar a partir dali. Emoções de mais para controlar, pensamentos erráticos que não iriam parar.

Só existia uma coisa que poderia fazer nesses momentos e era desacordar o garoto. Por sorte sua magia não era ainda tão desenvolvida, diferente da que era com Sans, protegendo-o instintivamente de qualquer aproximação em seu estado mais frágil, facilitando assim desferir um golpe preciso atrás de seu pescoço, com força e destreza o suficiente para derrubá-lo em seus braços, inconsciente.

A sala voltou a tomar, aos poucos, sua temperatura normal, ombros parando de sacolejar e caindo para baixo em alívio.

— Interessante. – os olhos de Gaster voltaram a subir para sua nova intrusa, observando, cauteloso, o interesse nos olhos vermelhos, queimando na direção de Lance com desejo. – Eu quero isso. Eu quero esse poder. Deem para mim.

— N-não é t-tão simples assim. – Alphys resmungou, em dúvida se devia se preocupar com Chara ou com o garoto inconsciente que agora Gaster carregava.

Chara revirou os olhos.

— Eu li todos os relatórios que vocês mandaram para o meu pai sobre esse projeto. Eu sei sobre tudo o que se trata e vou repetir: eu quero isso para mim. E não me digam que não podem, esse garoto. – Chara apontou para Lance. – Estuda na minha escola, junto com minha irmã, eu posso dizer que ele não tinha magia até esse ano. Vocês deram a ele e vão dar para mim também.

Existem implicações. O processo é lento, se leu os relatórios deve saber. A magia deve ser infundida lentamente ou então existe um colapso da alma que pode afetar o corpo, é preciso muito tempo, além de não existir garantias da libertação da magia ou, mesmo que aconteça, ela permanece descontrolada e perigosa para o portador.” Gaster argumentou, tendo que passar Lance para um de seus colegas para assinalar corretamente. Ele sabia que não deveria divulgar, mas a garota já tinha rolado pelos documentos de Asgore, e algo lhe dizia, talvez pela forma como ela segurava a faca e estava coberta de sangue, que não adiantaria nada reter informações, ela as forçaria para fora.

Se pelo menos ele pudesse arrumar um jeito de derrubá-la. Sua magia era rápida, talvez se esperasse uma abertura...

— Nem pense, velho. – os olhos vermelhos de Chara o perfuraram, perigosos e cruéis, faca apontada em sua direção. – Estive em lutas o suficiente para saber qual a cara de alguém quando começa a pensar em um plano, mesmo pessoas com o rosto de pedra igual você. Na verdade, sua cara me lembra muito a do maldito comediante, não é de se admirar que estejam relacionados. Mas adivinha, eu não me importo com as implicações, ou vocês me dão o que eu quero sem fazer nenhuma besteira ou eu vou atrás de cada um dos que vocês gostam. Seria um prazer para mim, vocês sabem. Eu realmente queria ver principalmente a cara de Sans quando seu irritante irmão não estivesse mais respirando.

A respiração de Gaster congelou, imaginando seus filhos envolvidos em tudo isso, o coração saltando em seu peito no medo de que alguma coisa acontecesse com eles. Sabia que a garota não estava mentido, tudo nela gritava sua capacidade de cometer atrocidades como essa, mas ainda não conseguia ver como passar tal poder para essa garota, a capacidade de usar magia, apaziguava a situação, principalmente sem qualquer garantia de que ela iria sobreviver.

— Você é tão frustrantemente cauteloso como seu filho. – Chara bufou, observando Gaster hesitar. Não importava como, ele a daria magia, querendo ou não. – Faremos o seguinte, você me dá o que eu quero e não machuco suas famílias idiotas, o que acha?

Muitos de seus colegas pareciam inclinados a concordar. Gaster, por sua vez, não confiava, ele sabia que isso não era um contrato seguro, ainda assim não via outra escapatória, seus olhos escorregando para Alphys a seu lado, vendo a mesma insegurança em seus olhos, o mesmo medo, seu corpo tremendo descontroladamente. Ele sabia que se ela tentasse falar gaguejaria muito mais do que era normal.

Não há garantias de que você sobreviva”

Chara parou para pensar sobre isso. O ultimo que queria arriscar era morrer e não ter a garantia que o save a traria de volta. Mas ela ainda ansiava por esse poder e se recusaria a sair sem ele, então... O que fazer?

Ela podia sentir o poder. Era como se estivesse ali, esperando para ser usado, mas ao mesmo tempo não tendo acesso direto a ele. Era difícil de explicar, afinal, não conseguiu acessar o reset para voltar e impedir que Asriel morresse, o que garantiria que estava imune a morte como antes? Estava em um universo diferente, vai se saber como foi parar ali, talvez mesmo seus poderes não funcionassem direito.

Ela iria arriscar.

— Apenas façam. Temos a noite toda.

Logo estava sentada em uma cadeira de frente para Gaster, o único que tinha controle além de Sans capaz de fazer o trabalho como deveria. Chara insistiu que apressassem o trabalho, dê-lhe magia agora, nessa noite sem falta, o que exigiria uma quantidade bem maior do que originalmente eles estavam trabalhando.

Não se pode dizer que não foi doloroso. Era como jogar sua alma em um mar tempestuoso, jogado de um lado para o outro, pressionado pelas ondas e pela pressão da água, afogado com muito mais do que era capaz de suportar. E não parava, ela era empurrada e empurrada penetrando cada vez mais fundo, entrando em conflito com o tumor de anti-magia já existente ali.

Gaster não comentou ao vê-lo, mas sentiu uma enorme vontade de esfregar o peito, a preocupação crescendo, perguntando-se se teria a mesma insanidade nos olhos da garota se tivesse chegado a seu estágio tão avançado.

A morte foi dolorosa, diferente da quebra natural de sua alma para voltar a se juntar. Era mais como se ela explodisse e então voltasse a se unir.

Pelo menos estava provado que o save funcionava.

Gaster a encarou com confusão, sentindo o enorme deja vu, suas mãos se afastando apressadas da alma a sua frente, como se soubesse o resultado que aquilo teria se continuasse. Chara rosnou em sua direção, ainda um pouco afetada pela volta no tempo.

— Continue. Não importa quanta magia gaste, apenas continue.

Chara ganharia esse poder e, agora sabendo que o save funcionava ela não precisava mais se preocupar com coisas inúteis como morrer. Gaster hesitou em continuar, porém, não tendo certeza do que exatamente aconteceu, mas depois de ter uma faca apontada para sua garganta decidiu que era melhor não provocar a garota, se ela queria tanto sofrer quem seria ele para discordar.

Os impulsos de magia continuaram por horas, ou talvez tivessem sido minutos, as voltas deixavam Chara confusa, tantos saves aconteceram que ela perdeu a conta, mas já podia sentir o poder agora, a concentração maciça em sua alma, crescendo e crescendo, se juntando a seu LOVE e a fazendo se sentir invencível.

Não precisava ser-lhe dito que precisava de uma emoção forte para liberar. Chara estava carregada de emoções conflituosas e fortes por si mesmas, carregadas em sua alma e revolvendo a magia que agora se acumula ali, empurrando-a para sair. E, assim como tudo parece estar acontecendo relacionado a ela ultimamente, ela sai com um estouro, um suspiro de determinação a mais, simplesmente empurrando a magia para fora quando as vozes começam a ficar altas novamente.

Foi um desastre, assim como tudo que ela era. Caos espalhando-se ao redor, quebrando as paredes, infiltrando-se no chão, arrastando-se pelos ossos daqueles presentes. A destruição sendo sua magia, tão avassaladora e devastadora que todo o prédio tremeu com sua fúria, ainda que mesmo seu corpo sofresse as consequências a sensação era deliciosa e ela simplesmente deixou fluir, não acumulou, não tentou impedi ou controlar e talvez por isso não tivesse tido consequências tão doloridas como retorno.

Ainda assim com consequências.

As marcas de destruição, rachaduras negras profundas, devastando tudo até o pó, se alastraram não apenas pelo lugar, mas também por sua pele, marcando sua carne com todo o pecado que sua alma cometera. O LOVE aumentando desenfreadamente quando a magia se arrastava pelo corpo dos cientistas ao redor, devorando carne, osso, pele, sangue, tudo que poderiam encontrar, a dor tão profunda que os gritos eram uma cacofonia constante junto aos tremores do lugar, misturando-se com o som alto de concreto rachando e caindo, alguns até mesmo sobre a cabeça daqueles que corriam desesperados na tentativa de fugir, sem sucesso.

Foi simplesmente brilhante. Talvez se tivesse sido intencional não seria tão perfeito.

Cansada, Chara se ergueu, a magia finalmente se apaziguando pouco antes de derrubar o lugar. A maior parte dos humanos ao seu redor já tendo se esvaído, contorcidos com membros faltando, buracos em seu corpo como se de pó se tratasse. A magia sendo uma deterioração, a destruição pura e encarnada. Chara achou que não poderia ser mais qualificado, observando orgulhosa o que havia feito.

Impressionantemente um dos poucos sobreviventes a devastação foi um celular, jogado ao chão perto de alguns escombros onde Gaster estava meio soterrado, livre dos efeitos de sua magia o que era interessante visto que ele foi o que se encontrava mais perto. Ela supôs que o aparelho pertencia a ele, tanto pela proximidade no momento como pelo número em questão na tela.

A chamada que estava a ser executada e exatamente o motivo pelo qual chamou a atenção de Chara para o aparelho, caiu no correio de voz.

Gaster? Gaster atenda o telefone, por favor, por favor, é urgente! Chara perdeu o controle! Eu não sei o que aconteceu, mas ela matou mãe e pai e saiu daqui e... Ela tem os documentos sobre o seu projeto! Eu sei que ela vai querer magia e, por favor, Gaster, não dê a ela. Independente do que ela prometer, não dê a ela. Ela vai estar mentindo! Ela não...

Chara encerrou a chamada, uma gargalhada mistura a um suspiro enquanto abaixava-se próxima ao rosto de Gaster.

— Frisk, Frisk. Ela nunca sabe quando parar. Ela simplesmente não compreende que o que faço é o melhor para ela, mas acho que isso não importa. Ela não vai conseguir fazer nada para parar o que está por vir. O que eu vou trazer para esse mundo podre. – Chara riu, seu divertimento, apesar do cansaço, sendo tangível. Gaster não compreendia e ao mesmo tempo entendia, como alguém poderia se divertir tanto com o desastre. – Mas, você sabe o que, Gaster? Apesar de ser um pouco atrasado, Frisk tinha razão. Você não deveria ter me dado tanto poder, porque eu menti. Eu vou atrás de cada um nessa maldita cidade, e eu já tenho um especial para começar a brincar.

Gaster sentiu seu sangue deixar seu rosto, a implicância no sorriso da garota a sua frente indicando-o perfeitamente de quem ela iria atrás.

Ele se contorceu, tentando sair de debaixo dos escombros, mas apenas conseguiu causar-se ainda mais dor. Ele tentou se arrastar, choramingando, vergonhosamente, de dor em cada movimento, desesperado para sair, para fazer alguma coisa.

— Isso mesmo, você entendeu! Vejo que a esperteza veio do seu lado da família, afinal. Eu vou atrás de Sans e pode ter certeza que vou me divertir bastante fazendo ele me assistir matar Papyrus bem diante de seus olhos. Ele dá tanto por aquele irmão idiota dele, imagina o que vai acontecer quando colocar as mãos deles, quando souber que você me deu o poder para fazer isso, imagine seu rosto! Hahaha! Vai ser simplesmente delicioso! Tão perfeito! E tudo graças a você! – Gaster se precipitou em sua direção, mão erguendo-se na tentativa fútil de agarrá-la. Mesmo em sua dor ele sentia a raiva preenchendo sua alma, o desejo de massacrar qualquer um que ameaçasse de alguma forma seus filhos. Chara riu divertida de sua incapacidade, de sua impotência. – Ahaha~! Não seja assim. A diversão ainda nem começou. Tenho que guardar um pouco de espaço para seu filho. Tenho certeza que nada poderá desabilitá-lo tanto quanto ver seu irmão morrendo, a abertura perfeita para me livrar dele antes que seja um problema. Mas não se preocupe, ele não estará muito atrás em seguir você também.

Chara levou uma mão até o rosto de Gaster, agarrando-o com brutalidade enquanto concentrava novamente a sensação de sua magia para fora de seu corpo, forçando-a para Gaster e observando a pele deteriorar contra seus dedos, rachando e ressecando, lentamente apodrecendo até finalmente ser destruída e não sobrar mais nada, até o corpo cair sem vida, a cabeça separada do pescoço simplesmente pelos músculos estarem definhados de mais para poder segurar.

Era definitivamente um poder esplendido, ainda que pudesse já sentir o cansaço tomando-lhe o corpo, talvez devesse descansar um pouco, mas onde estava a graça nisso? Queria testar todas as novas possibilidades abertas, queria brincar com o que era capaz e incrementar ainda mais seu poder com seu LOVE crescente.

Seus olhos novamente caíram para a tela brilhante do telefone ao lado, persistindo em tocar. Sua irmã realmente mantinha a determinação que tanto a caracterizava, mas não importava.

Não importava o que Frisk fizesse, não seria capaz de parar Chara e, com o tempo, Chara acreditava que ela entenderia e veria o que tinha a mostrar. Apenas deveria quebrar sua determinação para deter sua teimosia.

— Eu sei o que você está pensando, Frisk. Mas igual antes, eu não tenho salvação. Ninguém tem. As pessoas apenas não podem mudar o que elas já são em sua alma e isso, irmãzinha, é uma lição que eu vou ter que te ensinar, seja da maneira que for. Mas primeiro... – seu pé bateu com força sobre a tela do telefone, quebrando-o como se de um pedaço de cascalho se tratasse. – Eu tenho que me livrar de um certo comediante que está indesejavelmente muito próximo de você.  


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Notas finais do capítulo

youtube - https://www.youtube.com/playlist?list=PLIEQ4KYvFP3fUeMAEzwHEy49bzUmU0aX8
Spotify - https://open.spotify.com/user/missbaby_doll/playlist/0eeWYmSYGOUXQZCrBRcpDX?si=Be47CiDhTSuj5EGFTrMK5g
Eu gostaria muito que a internet me ajudar a postar isso. Por favor, muito obrigada. Deu trabalho, poderia pelo menos facilitar o colocar para todos lerem.
Mas ok, espero que tenham gostado, até o próximo capitulo!



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