FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 45
3° Colapso


Notas iniciais do capítulo

Yup. São dois capítulos de uma vez. Apenas uma coisa antes de introduzir:
WELCOME TO THE GENOCIDE!
Eu estava louca para falar isso. Adoraria dizer que não teríamos a rota genocida em nossa história, mas... Como podem ver esse não é o caso.
São dois capitulos seguidos para compensar o tempo que fiquei parada. Essa saga é mais emocionante então vai ser mais fácil de escrever... Eu espero.
Aproveitem!



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FusionTale – 3°Colapso

O sentimento familiar de ansiedade voltou a se instalar em suas entranhas assim que a linha voltou a ser redefinida.

A mistura amarga de ansiedade, inquietação, apreensão e iminência acumulando tão profundamente em seu peito que era impossível ignorar, tornando-se difícil respirar e transformando o calafrio que subia por sua nuca tão intenso que parecia que mesmo seu cabelo os havia acompanhado, sacudindo-a de corpo inteiro.

Desamparo e impotência, a certeza que alguma coisa daria extremamente errado a tornando hiper-alerta o tempo todo. Esperando, e esperando, e esperando, e esperando... Esperando o que nunca parecia chegar. Espreitando até o momento que parasse de prestar atenção, quando estivesse vulnerável. Era como ser a presa e o tempo o caçador.

Sendo o tempo, não tinha como fugir e ela era fadada ao fracasso. Ainda assim, era de seu instinto de sobrevivência, mesmo na iminência da situação, continuar lutando em uma vã esperança.

O mais estranho de tudo era reconhecer o sentimento e saber a que ele se derivava, mesmo que não pudesse realmente controla-lo ou minimizá-lo. Ela estava se acostumando a não ter ideia do que acontecia, a não ter controle, a ser colocada no escuro. Saber, pela primeira vez, o que estava por vir, era nada mais do que inusitado e estranho.

Contudo, ela não poderia negar que era difícil esquecer quando a primeira vez que se sentiu assim Gaster foi mandado para o Vazio e, em uma de suas tentativas de impedir, ela acabou sendo enviada para lá.

A marca do desastre ainda estava ali, visível e palpável manchando sua alma com a feia cicatriz escura de anti-magia, constantemente a incomodá-la com a ameaça de seu crescimento, recordando-a de onde esteve, tentando puxá-la de volta, sem pudor açoitando-a com sentimentos que não eram dela, que a faziam perder o controle, o único que ainda lhe restava, procurando consumir sua determinação.

Ela nunca poderia esquecer do olhar no rosto de Sans quando percebeu que não tinha mais uma chance com seu pai, quando sentiu o verdadeiro impacto de sua distância. Ela não poderia esquecer o quão impotente se sentiu na época, o sentimento esmagador de que era sua culpa por ter esse poder e ao mesmo tempo de sua dependência sobre ele para concertar a linha. Concertar seus próprios erros.

Esse sentimento derivasse, ela teorizava, de uma falha na linha do tempo, tão intimamente ligada a sua existência anômala que a sensação se traduzia em sua alma, alertando-a do que estava por vir. O rompimento do fluxo. A falha no cronograma.

Um colapso.

Ainda não tinha certeza qual era sua causa, até o momento em que ocorreu, ela nem ao menos imaginava que algo assim pudesse vir a acontecer em algum momento, e ter certeza agora que poderia se repetir a aterrorizava mais do que poderia admitir.

Talvez tivesse algo relacionado com a quebra do botão de Reset?

Frisk já suspeitava que as redefinições aleatórias e indiscriminadas estavam de alguma forma ligadas ao que viu na parte iluminada do Vazio onde ficava o menu. Poderia não ter ideia de como isso se relacionava ou o que a pessoa que de alguma forma tinha tomado o acesso a sala em questão tinha haver com tudo isso, o que queria ou se mesmo sabia o que estava fazendo, mas não via como não poderiam estar interligados de alguma forma.

Ela precisava descobrir. Talvez sabendo a causa de tudo isso – do rompimento do reset, da pessoa no menu e sua falta de acessibilidade a ele, os colapsos – ela conseguiria, finalmente, parar com tudo isso.

Mas por onde começar?

Teoricamente ir ao menu seria sua melhor escolha, todavia ela não tinha ideia de como chegar até lá sem ser passando pelo vazio e, com toda honestidade, não queria voltar para lá. Sua mente e sua alma não suportariam isso.

Pensando assim, também era uma boa ideia manter Gaster o mais longe de qualquer tipo de experimento relacionado ao tempo que pudesse chegar a pensar alguma vez. Portanto o primeiro que se dedicou a fazer no começo dessa nova linha do tempo fragilizada era garantir que Lance começasse o projeto sobre magia e assim manter a atenção de Gaster totalmente focada a ele.

Determinação voltou a preenche-la com o pensamento, por um instante esquecendo-se da sensação de perigo que preenchia seu interior não muito tempo atrás, jogando-se para fora das cobertas com animação e correndo para começar seu dia talvez pela milésima vez.

Ela tinha por onde começar agora! Ela poderia fazer isso!

Procurou ir o mais devagar e discretamente possível, porém, apressar-se nunca deu bons resultados afinal.

Recordava-se que da ultima vez o cansaço e o desamparo a tinha consumido ao ponto de tornar bastante óbvio que sabia muito mais do que deveria, que alguma coisa estava errada e não da maneira como todos estavam realmente a pensar. Dessa vez ela tentaria diferente, dessa vez ela tinha um pouco mais de conhecimento do que antes, dessa vez ela não deixaria nada acontecer.

Encontrar com Lance no primeiro dia não foi complicado, ela já tinha feito isso antes. Tornar-se amiga dele foi ainda menos complicado. Ele é um garoto empolgado, de bom coração e, assim como ela talvez foi alguma vez, bastante ingênuo, disposto a aceitar qualquer um sem pensar duas vezes.

Não que, em uma certa proporção, ela ainda não fosse. Frisk gostava de acreditar que todos tinham algo de bom, mesmo que soterrado entre os diversos defeitos cruéis de sua alma. Diferente de Sans, ela confiava até o momento de provarem-na o contrário, contudo, depois de tanto tempo a conviver com as menos conceituadas das pessoas, ela havia aprendido que nem todos eram o que aparentavam e, infelizmente, o mal poderia ser muito mais proeminente do que o bem.

Era fácil ser traído, fácil ser esfaqueado pelas costas, essa era a natureza humana, Chara não estava errada quanto a essa podridão. Frisk aprendeu a vê-la e ao mesmo tempo perdeu um pouco de sua ingenuidade característica. Sua esperança se mantinha, mas não significava que abria os braços para qualquer um sem manter a cautela.

A verdadeira questão foram os Skeltons. Frisk já sabia eu precisava ser mais detalhista com eles, levando seu tempo para adentrar o suficiente nas graças da família para demonstrar que sabia determinados segredos. Usar seu pai como desculpa de conhecimento era uma boa ajuda, mas não significava que ela tinha a liberdade de se meter na situação.

Com Sans e Papyrus não havia qualquer mistério. Papyrus era carente de atenção e sua conexão de alma com Sans ainda o fazia querer desesperadamente algum tipo de contato com ela, tornando sua abertura muito mais simples do que inicialmente foi.

Deveria dizer que ainda se impressionava com os reflexos da fusão que haviam feito em várias linhas do tempo atrás. Ele não a recordava, mas... De alguma forma, em sua alma, ele sabia quem era ela e isso... Isso era, em partes, gratificante. Ela gostava de pensar que havia deixado uma parte de si mesma para ele, assim como ele havia dado algo a ela.

Gaster foi um desafio um pouco maior, mas com toda sua convivência com ele nas ultimas linhas do tempo, conhecendo-o mais profundamente, não demorou muito para que ele também cedesse e, com isso, Lance estava dentro do projeto para despertar sua magia. Com isso feito ela não mais teria que se preocupar com Gaster e o colapso teria sido evitado! Tudo antes de fevereiro começar!

Mas então...

Por que a sensação não tinha passado e ela ainda sentisse o perigo tremendo debaixo de sua pele?

O alívio rapidamente transformou-se em apreensão e pouco a pouco ela passou a questionar se os acontecimentos quebrados dentro de um colapso fossem variados e não era Gaster que sofreria dessa vez.

Mas o que seria então? Onde ele atingiria? O que ainda estava por vir? O que ela teria que fazer para impedir? Como ela o iria impedir em primeiro lugar se não soubesse o que seria? Ela realmente teria que esperar a próxima redefinição para concertar o problema? Por que não poderia resolvê-lo agora? Por que tinha que ser assim? Tudo sempre estaria fora do seu controle?

O que ela deveria fazer? Sentar e esperar? Apenas isso? Por que?

O cansaço começou a alcança-la novamente em meados de abril, quando o alerta constante começar a ficar cansativo e passou aperceber que não poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo para impedir que qualquer um se metesse em algum tipo de problema. A ansiedade e o medo pouco a pouco se infiltravam ao ponto da paranoia puxando-a novamente para a insônia.

Para sua sorte, ou azar, depende do ponto de vista, a resposta caiu antes de ter um ataque nervoso, vinda de Asriel, em maio, sugerindo uma viagem, apenas os três irmãos, para a praia ou mesmo uma simples viagem sem lugar para ir, atravessando o estado apenas pelo simples motivo de poder.

Se Frisk pudesse ser sincera, não era uma ideia ruim. Fazia um tempo que não passavam um momento de qualidade juntos, apenas os três a enfrentar o mundo cruel ao redor e seria divertido poder sair de Ebott, mesmo que por tempo limitado.

O que, no entanto, a fazia tornar-se apreensiva sobre o assunto era o fato que não conseguia pensar em nenhuma mudança aparente que pudesse ter feito para causar tal alteração no cronograma.

Asriel nunca antes tinha feito tal sugestão e Frisk não disse ou fez nada que pudesse leva-lo a pensar assim. Quer dizer, mesmo em outras linhas do tempo as quais Frisk realmente se afastou de sua família por conta do peso assustador das constantes redefinições e seu desamparo por não conseguir resolver o problema, ele havia pensado sobre algo assim, então o que, agora, teria feito ele achar que era necessário?

— Uma... Viagem? – Chara perguntou, aparentemente cautelosa ou mesmo curiosa. Era difícil dizer quando ambas as emoções se expressavam da mesma maneira em seu rosto ou mesmo em seu tom de voz. Ela encarava Asriel, sobrancelha erguida, corpo contorcido sobre o sofá para poder olhar por trás dele sem ter que se levantar.

Asriel assentiu animado.

— Durante nossas férias de verão. Podemos voltar antes das provas de seleção de vocês duas, ainda teria tempo para ver bons lugares ao redor. – seu rosto estava alegre, esperançoso e animado, foi difícil dizer como Chara suportou tanto tempo apenas a encará-lo sem que cedesse aos seus desejos de imediato. Frisk não sabia se deveria opinar. Por um lado, novamente, era uma boa ideia, por outro ela estava com medo que fosse exatamente isso que a levasse para o próximo colapso ou mesmo que sua não presença no momento dificultasse de resolver o problema. – Vamos! Passamos nossa vida toda nessa cidade, não é como se estivéssemos presos por algum tipo de barreira mágica que nos impedisse de sair e ver o que tem lá fora. – ironia. – Devemos aproveitar! Dar um tempo de tudo! Seria bom para Frisk, veja como tem estado estressada nos últimos dias! Vocês vão precisar disso para fazer uma boa prova e entrar na faculdade. Será um momento de ligação de irmãos.

Não levando em consideração que Chara e Asriel eram muito mais do que isso, nada do que irmãos na verdade deveriam ser e Frisk seria apenas uma terceira roda nessa brincadeira. Mas tudo bem, Asriel tinha um ponto valido e talvez tivesse sido isso que convenceu Chara a aceitar.

Frisk não tinha mais opinião sobre isso depois.

O resto das semanas até a chegada das férias de verão Frisk passou a se questionar o que aquela mudança poderia significar diante do quadro geral de toda a merda que continuava a cair em seu colo.

Seria pela sua quebra que levou Asriel a pensar nisso? Afinal o cronograma começou como seu eu de antigamente, a animação e determinação lançando um impulso para suas veias e assim retornar um pouco de sua personalidade perdida há varias linhas. Voltar a um estado de cansaço e alerta paranoico tão de repente talvez o fizesse achar que precisavam de uma pausa dessa cidade. Mas e se não fosse? E se esse fosse o colapso? A mudança no cronograma? Então nem toda era ruim? Talvez essa era diferente da anterior. Talvez ela seria apenas isso e não tivesse que se preocupar? Mas então a que se devia a continuidade do sentimento ruim dentro de seu estômago? A que se devia sua ansiedade para algo que daria realmente errado? Seus instintos estavam errados? Estavam certos? Se estivessem, então o que aconteceria? O que poderia acontecer?

— Tem estado muito pensativa ultimamente, Kiddo. – Sans sentou-se a seu lado no sofá, nenhum dos dois realmente prestando atenção no que agora passava na televisão. – Quer me contar o que está te incomodando tanto?

— Apenas um mau pressentimento, nada demais. Não tem que se preocupar. – aconchegou-se a seu lado, pernas ainda presas contra o peito, aproveitando esse breve momento de quietude de sua mente para finalmente se permitir relaxar, nem que seja por um pequeno instante.

— Sobre sua viagem? – Frisk sorriu, assentindo ao mesmo tempo que encolheu um pouco mais quando Sans passou um braço ao seu redor. Eles ainda não tinham nenhum relacionamento que ultrapassasse a amizade intima, mas Frisk sempre apreciaria esse carinho tão peculiar que Sans tinha reservado para ela. A atração entre eles sempre aconteceria e por mais que doesse às vezes pelo fato dele nunca se recordar do que realmente isso deveria significar, ela poderia satisfazer-se com o pouco do que lhe era dado agora. Com o que ela reconquistava a cada vez. – Você sempre poderia escolher por ficar.

— Eu não quero decepcionar Asriel. A ideia foi boa e parece que foi realmente pensando em mim. Eu sei que tenho andado estranha ultimamente, muito vem passando por minha cabeça e isso o está preocupando, mas ainda não consigo deixar de pensar que alguma coisa pode acontecer enquanto estamos fora.

— Adoraria dizer para você ficar porque, admito, vou sentir muito sua falto quando estiver longe e definitivamente tudo vai ir a loucura. Nem ao menos sei o que farei para Carl e Blue calarem a boca, não sei se vou realmente ter vontade de impedir Diane de mata-los. – Frisk gargalhou baixinho, divertida pela confissão. – Mas acho que se preocupar é apenas sofrer duas vezes. Seja o que for que seus instintos estão te dizendo que vai dar errado eu sei que você vai conseguir dar um jeito de concertar. Você é esse tipo de pessoa engenhosa e teimosa.

— E se eu não estiver perto para poder concertar? E se eu não conseguir?

— Você vai. Você é a garota que sempre vê o lado positivo das coisas, que sempre vê uma solução para todo o mal que existe no mundo. Não acho que exista alguma coisa que você não tenha esperança de concertar. De qualquer maneira, sua determinação nunca te permitiria desistir. – suas palavras eram totalmente sinceras. Sans poderia não ter muito tempo como um conhecido de Frisk, mas já poderia dizer perfeitamente bem como ela não desistia facilmente do que acreditava e que apenas com isso, com essa esperança e determinação, poderia resolver qualquer problema a sua frente, mesmo que fosse um que parecesse sem solução. Era o motivo pelo qual ele acreditava que ela ainda não tinha se afastado, que ela tinha se grudado a todas as pessoas que mais precisavam dela, que ela sabia que poderiam ser salvas. Ele mesmo incluído. – Agora pare de ser tão pessimista, esse é meu trabalho. Dar conselhos animadores é o seu. Trocar os papeis é estranho.

Frisk riu novamente, divertindo-se com ele por sua inconformidade em ser o único a estar animando alguém dessa vez. Em sua relação, era realmente mais o papel de Frisk o de ver o lado bom das coisas, não dele.

Sans estava feliz com isso, ele poderia se conformar. Ele sabia que Frisk era apenas mais uma humana e como qualquer um ela tinha seus momentos de desesperança e ele estava disposta a puxá-la novamente para cima se assim precisasse, mas, apesar disso, ele ainda preferia que ela se mantivesse essa pessoa alegre, essa pessoa que poderia ver a luz no mais escuro. Ele gostava que ela pudesse ver alguma coisa boa nele, mesmo que ele próprio não pudesse ver.

Isso o dava esperança também.

Esperança de que um dia ele poderia mudar. Esperança que Frisk poderia salvá-lo. Esperança de que um dia ele não sentiria mais tão ser errado estar com ela. Esperança de que um dia ele poderia dizer a ela o que realmente sentia e talvez, apenas talvez, ter alguma coisa feliz em sua vida novamente. Talvez ter uma vida feliz com ela. Uma vida que seria cheia de esperança. Assim como ela.

Por enquanto ele se contentaria com esse pouco que tinha. Com esse contato tão próximo, mas nunca o suficiente. Ele estaria feliz em ser um amigo, em ser o aquele com quem ela poderia contar, mas nunca ir atrás para ter mais. Se ela fosse feliz, ele também seria e se o dia que sonhava chegasse ele apenas poderia desejar que ela o aceitasse como algo mais, assim como o aceitava como um amigo.

Por sua parte, Frisk deixou-se acreditar nas palavras de Sans. Ela acreditou que, seja o que for que estivesse por vir, ela conseguiria resolver. Ela tinha determinação sobre isso.

Tudo tornou-se mais leve depois. Era como ter um peso levado de seus ombros e agora poderia respirar mais facilmente, a confiança e a animação do começo da linha do tempo tendo retornado para suas veias e impulsionando para frente, sempre para frente.

Ela poderia fazer isso. Ela conseguia. Ela impediria esse colapso.

No dia da viajem, apenas um dia depois de serem anunciadas as férias de verão, os três irmãos tinham suas malas prontas, o carro cheio e as expectativas elevadas. Asriel insistiu que usassem apenas do mapa, não do GPS, acreditando que o se perder fosse a melhor parte de toda a viajem e elas o agradeceriam mais tarde. Toriel garantiu que tivessem todos os utensílios necessários para um apocalipse antes de sair. De acordo com ela não era um exagero, mas garantias de que poderiam lidar com qualquer imprevisto durante a viagem. Asgore sorria, garantindo que tinham comida e dinheiro o suficiente para a viajem, talvez até mesmo mais do que o necessário, animado pela iniciativa de seus filhos.

 Ele nunca havia saído de Ebott. Nunca teve vontade. Nascido e criado aqui, o mundo exterior era apenas contos dentro de fotos para ele e nunca viu qualquer problema sobre isso. Ainda assim, ele sentia-se feliz que seus filhos estivessem procurando por novidades, por novas emoções, para viver suas vidas o máximo que podiam e da maneira como desejavam. Ele os observava, vendo como haviam crescido e como cada um lhe encheu de um enorme orgulho que nem ao menos poderia começar a descrever.

Ele lhes desejou boa viagem, abraçando sua esposa pelos ombros, tentando, ao mesmo tempo, tranquiliza-la sobre toda a situação.

Ele compreendia suas preocupações, o mundo era imprevisível e muito poderia ocorrer enquanto estavam fora da supervisão dos pais. Mas Asriel já vinte, tanto Chara como Frisk caminhavam para seus dezoito e eles deveriam aprender a cuidar de seus problemas sem seus pais. Não seria muito tempo, mas essa poderia ser uma boa experiência para eles. Asgore acreditava nisso.

Era difícil ver seus filhos crescerem, mas ambos, como pais, não poderiam desejar diferente.

Frisk mesmo não se deixou desmotivar pela chegada abrupta de seus pais biológicos afetar sua ida com Asriel, pelo contrário, todos a incentivaram a tomar uma pausa, um distanciamento, de todo esse estresse que parecia se acumular em seus últimos anos do ensino médio.

A partida foi tranquila, animada e ansiosa depois de uma demorada despedida, principalmente por parte de Toriel a qual insistir em dar cada um, um longo e apertado abraço, perguntando, uma e outra vez, se não tinham esquecido nada. Pobre Chara, foi exposta a muito mais emoção do que deveria gostar, seu rosto vermelho cada vez que Frisk apontava o fato de talvez existir algum amor diferente do LOVE nela.

Na estrada Asriel dirigiria os primeiros quilômetros e então Chara tomaria seu lugar.

Ela não apreciava muito o dirigir, mesmo que já tivesse carteira, mas não podiam deixar Asriel ao volante durante toda a viagem, seria exaustivo para ele e era necessário um intercambio. Como Frisk ainda não tinha carteira por ter optado por tirá-la mais tarde acabava sobrando apenas para Chara tomar outro turno.

Depois de tudo isso, sinceramente, Frisk não esperava o que aconteceu.

Na verdade, ninguém esperava.

Frisk tinha muitas ideias adversas sobre essa viagem ou o que consequentemente ela poderia desencadear e, de todas as situações que poderia chegar a imaginar, essa, talvez, fosse a última.

Isso porque, apesar de ser uma ocorrência bastante comum, em um certo aspecto, era também o ultimo que ocorria a pessoa até realmente acontecer. Era o tipo de situação que ninguém espera, o tipo que apenas se imagina ocorrendo com outros e nunca a si mesmo. Era o tipo de situação que sempre era possível, tão assustadoramente plausível que, de alguma forma, tornava-se impossível aos olhos de quem nunca a realmente sofreu.

“Por que aconteceria comigo?”

Foi muito rápido.

A maior parte da memória de Frisk se tornava confusa a partir dessa parte.

Ela recordava-se de estar no banco de trás do carro, bem ao meio, enquanto Chara e Asriel estava a frente. Chara havia tomado conta do rádio prontamente, o motivo exato pelo qual havia sentado a frente, Asriel tinha um enorme sorriso em seu rosto e não estava a se importar muito mesmo que o som estivesse mais alto do que era realmente necessário. Era bem cedo e poucos carros estava na estrada junto a eles, tudo ainda muito calmo dando livre passagem para sair de Ebott.

Alguns assuntos vieram, Frisk recordava-se de rir de algum comentário de Chara sobre Asriel e seus tempos de infância não muito gloriosos. A diversão distraindo-os e enchendo o clima com a sensação suave e tranquila de nada mais do que paz. Parecia um daqueles momentos que se manteriam em sua memória por anos, os risos e sorrisos, aquela sensação de pertencer, de estar realmente vivo.

Frisk gostava de momentos assim.

Ela deveria ter previsto, então, que não ia durar.  

Calmo de mais, tranquilo de mais...

Recordou-se de ter ouvido Chara gritar em alerta, os risos parando, Asriel guinando o carro para o lado, mas não rápido o suficiente para evitar o impacto. A pressão em seu corpo sendo projetado para todos os lados, o som de vidro e metal partindo e quebrando, o mundo virando de cabeça para baixo, rodando e rodopiando, sons muito altos para serem registrados, dores em todos os lugares, sendo criadas cada vez mais e tornando seu cérebro confuso, sem poder se concentrar em uma única por vez.

O mundo se tornou escuro não muito depois e permaneceu assim.

Ela recordava-se, porém, de alguns breves momentos de lucidez, onde sua consciência retornava por alguns momentos antes de desvanecer novamente, nunca permanecendo.

— Frisk! Frisk! Maldição! Frisk, acorda! Asriel?! Asriel! Puta merda. Asriel!

Seu primeiro despertar, o que se recordava pelo menos, foi com Chara aos berros. Seu mundo ainda estava virado, seus braços pendiam para cima, sem forças, moles. Podia sentir muito vagamente o metal do teto na ponta de seus dedos, pequenos pedaços do que sua mente fracamente raciocinou como cacos de vidro roçando aqui ou ali. Sua visão estava embaçada, mas o pouco que via eram destroços, o para-brisa quebrado, um leve movimento em um dos bancos frontais dependurado de ponta cabeça, no outro não existia nada, mas vermelho se destacava no chão, queimando sua visão apesar de todo o cinza, preto e branco ao redor.

Onde foram parar o resto das cores?

A próxima vez que se viu consciente de um despertar estava sendo arrastada por uma superfície dura, cascalhos machucavam sua pele, mas mal poderia senti-los, muitas dores sendo registradas ao mesmo tempo, era complicado associar apenas uma. Conseguia ver suas pernas, ou pelo menos o que acreditou ser suas pernas a partir do rumo, não conseguia senti-las então não poderia ter certeza e, pelo estado, se realmente fossem suas, estava agradecida por não poder sentir.

Arranhões e machucados sangrentos se mostravam por toda a extensão da coxa a canela. O pé encontrava-se em um ângulo assustadoramente estranho enquanto o outro o sapato havia se perdido deixando um pedaço de carne vermelha. Se era seu sangue ou não isso não tinha como saber.

A frente, não muito distante, estava um carro virado, repleto de metal retorcido, vidro quebrado.

Vagamente percebeu que era daquela argamassa de metal que havia saído.

A próxima vez que despertou tinha muito barulho, zumbidos em todos os lugares, seu corpo levemente sacolejava e tinha uma vaga noção de pessoas se movendo a sua volta.

Reparou nas máquinas e na máscara de oxigênio em seu rosto. Seus olhos, ainda embaçados e pesados, vagaram ao redor, talvez sendo o maior momento que se manteve acordada, observando como os socorristas se moviam rápido ao seu redor. O espaço era apertado e talvez por isso não existissem mais do que dois junto a ela, mantendo-a estável. Ainda assim não sentia dor, apenas cansada... Tão cansada...

O rosto de Chara logo veia a sua frente, tomando toda sua visão, olhos vermelhos arregalados, tão assustados quanto Frisk jamais pensou em ver. Curativos enfeitavam suas bochechas e seu cabelo estava desgrenhado, sujo e ligeiramente chamuscado.

Era sangue em sua testa?

— Frisk? Frisk fique acordada! Você vai ficar bem, ok?! Apenas fique acordada! Fique acordada até chegarmos lá! Está quase! Apenas... Apenas aguente um pouco... Só mais um pouco...

Sua consciência se esvaiu não muito depois.   

Seus próximos despertares foram fugazes. Pequenos lapsos de tempos em tempos dentro do hospital. Às vezes sozinha, às vezes com uma ou outra pessoa.

Viu Mettaton a chorar abraçado fortemente a Blooky. Viu seus pais sentados em seu leito, Toriel a agarrar-lhe a mão, talvez com força, talvez fraco, não conseguia sentir, não conseguia saber. Asgore a seu lado, enorme mão a brincar com alguns fios de cabelo em seu rosto. Despertou para um monólogo a meio caminho andado com Papyrus. Um fugaz momento de consciência para ver Undyne apertando o ombro de Sans o qual mantinha-se de cabeça baixa, ar sombrio. Teve um momento em que viu Gaster sentado ao seu lado, lendo silenciosamente um livro. Outro em que viu Diana, Carl e Anabelle pairando ao seu redor, rostos sombrios e doloridos, sussurrando baixinho palavras de encorajamento. Mais uma onde viu Lance, Tinn, Keith e Blooky, sendo os dois primeiros a tagarelar esperançosamente enquanto os dois últimos mantinham-se calados, ombros caídos, olhar perdido em seus rostos.

Ela não tinha certeza de quanto tempo havia se passado entre cada lapso. Tudo parecia questão de segundos, como um piscar de olhos, e ela sabia que muitos deles ela tinha esquecido, sua mente longe de mais para manter a memória presa.

Também, vagamente, sabia que o save a traria de volta quando seu corpo finalmente desse ou que o resert voltaria a acontecer e ela estaria de volta ao começo, talvez por esse breve conhecimento instintivo ela não tinha medo, ela não se sentia preocupada, ou triste, ou sem esperança. Ela só tinha que esperar para o sofrimento acabar e ela ter a chance de começar novamente.

Em outra perspectiva o panorama da situação era mais desolador.

 Por alguma ironia eles realmente não tinham chegado a sair de Ebott quando o acidente aconteceu. Um carro perdeu o freio na estrada contrária e, por consequência, perdeu o controle da direção, acertando-os do outro lado em uma curva próxima a saída da cidade. O impacto tinha sido em velocidade e força suficiente para empurrar ambos os carros pela estrada, capotando em algum ponto pela forma como bateram.

O motorista do carro desgovernado foi arremessado para fora do veículo, morto ao instante. Infelizmente a pancada também não foi favorável ao carro dos três irmãos e Asriel, mais afetado por estar bem no ponto de impacto, também faleceu na batida. Frisk foi presa no banco de trás, amassada na lataria dos bancos frontais do carro, a cabeça tendo tido uma pancada forte no topo do carro causando uma concussão, o cinto tendo quebrado sua clavícula e costelas. Chara, por algum motivo, talvez milagre, talvez apenas sorte, saiu com apenas alguns arranhões, sendo exatamente aquela a pedir ajuda e arrastar Frisk para fora dos escombros.

Toda a notícia foi desoladora, assustadora.

Frisk ficou internada no hospital enquanto o enterro de Asriel era feito. Ninguém sabia se ela seria capaz de acordar algum dia, sua situação ainda era instável. Os médicos diziam que a batida na cabeça foi o suficiente para causar danos no cérebro que, por consequência, poderia, por ventura, chegar ao falecimento. Ninguém queria pensar nessa possibilidade, porém. Todos ainda se agarravam a pequena fagulha de esperança, aquele pequeno fiapo de esperança, que ela ia melhorar.

Era Frisk!

Ela sempre... Sempre dava a volta por cima. Ela sempre saia das situações mais inusitadas. Ela sempre terminava sorrindo e dizendo que tudo estaria bem. Eles tinham que acreditar que seria assim agora também. Que ela despertaria, os olharia e sorriria, dizendo que estava bem, que nada estava errado, mesmo que fosse uma mentira, apenas para não preocupa-los, pois saberia que já teriam sofrido de mais na espera. Tinha que ser assim. Eles precisavam disso. Frisk era... Frisk era uma parte tão preciosa da vida de cada um. Ela costumava marcar, o tipo de pessoa que você simplesmente não poderia esquecer.

Como uma pessoa tão brilhante, tão alegre, tão cheia de vida... Poderia ser tão facilmente reduzida a isso? Um corpo moribundo deitado inerte em uma cama, sem saber se iria acordar?

Por que coisas assim ainda deveriam acontecer?

As semanas se passavam e logo se tornou um mês. De um mês veio o segundo. As esperanças que tentavam manter tornavam-se escassas, tão ralas que a cada passar de hora sem qualquer tipo de melhora ou mesmo mudança fazia-a se esvair para tão próximo do vazio que chegava a doer. A cada visita, a cada dia de espera, a cada esperança quebrada...

Ninguém queria parar, ninguém queria desistir, mas a luta era cada dia mais difícil, mais árdua e tirava tanta energia, tanta dor...

Além de Asgore e Toriel, Sans era o que mais a ia visitar no hospital. Normalmente em horários onde sabia que ninguém poderia estar, onde poderia ficar sozinho para quebrar. Ele sabia que muitos tinha plena consciência de seus sentimentos, sabiam o que ele tentava esconder e agora tinham pena dele. Ele não queria isso, nunca quis. Apenas... Apenas queria poder sofrer sem receber olhares, chorar sem ouvir as mesmas palavras de consolo, queria, por um momento, deixar a ferida exposta para lamber sem se preocupar com o que outros poderia pensar.

Frisk sabia o que fazer nesses momentos.

Ela não o julgava e não procurava consolá-lo como outras pessoas. Ela sempre sabia o que dizer a ele, o que fazer para ele, sempre estava lá... Ele não conseguia entender como ela se tornou tão importante em tão pouco tempo. Era assustador pensar em sua dependência a ela agora, como ele havia apoiado seu emocional sobre ela, como ele havia se aberto tanto para ela que não sabia mais como atuar sem ela? Como lidar com o peso do mundo sem ela?

Tudo tinha ficado tão estranho depois desse acidente. Depois que não pôde mais tê-la por perto. Não tinha reparado o quanto ela era presente em sua vida até que ela não pôde mais estar ao seu lado. Era como se em todos os lugares tivesse alguma relação com ela. Em sua casa, Grillby, na gangue, mesmo em seu trabalho. Ela estava em todas as partes e sua ausência parecia ser um buraco negro a devorar todas as cores ao redor. Ele não entendia, mas sentia necessidade de tê-la ali. Era simplesmente tão fácil conversar com ela, tão simples estar ao lado dela, tudo parecia mais leve, mais fácil. Ela sabia seus segredos, sabia quem ele era, era alguém para conversar, para aliviar o peso, era alguém que mostrava que existia esperança, que existia chance, que poderia mudar.

Sem ela, talvez ele não tivesse mais bons tempos com Pap. Sem ela, talvez ele e Gaster nunca mais teriam se visto como pai e filho, sua relação tão degradada que pareciam dois estranhos debaixo do mesmo teto. Ele talvez não tivesse tido forças para continuar com seus segredos, continuar a lutar contra Ralph, se não tivesse o tão fervoroso apoio dela.

Deuses, ele amava essa garota. Quando e porque ele nunca saberia dizer, ele apenas fazia e agora ele se arrependia de não ter dito nada antes.

— Eu não sei se você pode me escutar. – sussurrou, a garganta apertada enquanto segurava sua mão fria no leito de sua cama. Não tinha certeza se deveria encará-la ou não. Por um lado queria ver se poderia ter alguma reação, queria ver se ela acordasse, mas ao mesmo tempo não queria dar-se essa ilusão, não queria ver seu rosto adormecido, como se estivesse morta já. – Eu nem sei se você ainda está viva ou se apenas essas máquinas estão prolongando o inevitável. Eu... Droga! Eu não sei sobre nada! Você não sabe o quanto isso me assusta. O quanto me assusta ver você aí, tão frágil, e não posso fazer nada... Eu... Eu não sei o que fazer Frisk. Você é a pessoa da esperança, já falamos sobre isso, era você que deveria ser a positiva, deveria ver o lado bom de tudo, não eu. Mas aqui estou eu, tendo que manter o que não tenho de esperança por você... Invertendo nossos papeis novamente... Eu... Eu não sei se posso fazer isso, Frisk. Todos estão sofrendo com sua falta, todos esperam que você acorde algum dia, mas... Eu quero acreditar nisso, eu preciso acreditar nisso!

Respirou fundo, cotovelos agora apoiados sobre a cama, testa a tocar a mão que segurava, sentindo os pequenos dedos frios tocando-lhe a pele. Apertou os olhos com força, tentando evitar as lágrimas, colocar os pensamentos no lugar. Toriel não passava um dia sem chorar, não querendo tirar seus olhos de Chara, a única que lhe sobrava agora. Asgore se sentia culpado de alguma forma, talvez por ter incentivado a viagem, mesmo que não fizesse sentido, talvez ele só quisesse alguém para por a culpa. Papyrus estava desolado, sua primeira e melhor amiga estava nessa situação e ele não sabia o que fazer. Carl, Diana e Anabelle quase não falavam mais, muitos na cede tinham perdido um pouco as cores que tinham ganhado quando Frisk chegou. Blue... O pobre parecia estar perdendo um membro de sua própria família.

Sans sentia-se egoísta e injusto por mergulhar em seu próprio sofrimento, sabendo que nem ao menos deveria ser o pior. Deuses, Toriel e Asgore estavam perdendo dois de seus filhos! O que doeria mais do que isso?

Mas ele ainda não poderia evitar. Frisk foi a luz que começou a guia-lo para fora do buraco que cavou para si mesmo, ainda que acreditasse não merecer. Ela lhe disse sobre o mau pressentimento... Ela avisou! Ele não escutou e agora isso acontecia...

— Eu... Eu sinto sua falta. Todos sentimentos. Chara anda estranha, mas não sei se posso culpa-la, ela viu tudo. Algo em seus olhos me assusta, eu não sei como ela está lidando com isso. Ela não visita muito. Tori não a deixa muito longe de seu lado também, ela está com medo de perder ela também. E eu sei que todos estão sofrendo, eu sei que todos tem sua dor, mas Frisk... Eu... Eu queria ter te falado antes. Eu não achava que merecia de alguma forma... Mas não acho mais que quero segurar isso. Eu pensei... Pensei que você estaria sempre aqui e sei que foi estúpido da minha parte por pensar isso, mas eu... Droga, o que eu estou falando? É só dizer de uma vez. – repreendeu-se baixinho, procurando desesperadamente as palavras. – Eu quero acreditar que você vai acordar. Eu quero acreditar mesmo que seja tão difícil porque.... Porque eu... Eu amo você. Eu amo você e não quero que me deixe ainda, não depois de ter se metido na minha vida e ter me tornado tão dependente de você. Eu só... Preciso que você acorde para tudo ser normal de novo. Por favor, Frisk... Por favor...

Novamente respirou fundo, tendo tirado isso de seu peito, mas não se sentindo melhor. Pensou que dizer ajudaria, mas nada mudou, ela ainda estava dormindo e tudo ainda estava errado. Ele não sabia o que deveria esperar, não sabia o que queria esperar, talvez que ela acordasse, que respondesse, talvez que o chamasse de idiota. Qualquer coisa, mas o silêncio.

O contrair da mão contra a sua o fez erguer o olhar, olhos arregalados em descrença, deparando-se com semicerrados olhos dourados, brilhando ligeiramente com a luz.

— Frisk... – erguendo-se da cadeira, aproximou-se para ter certeza que não era uma ilusão, uma brincadeira de seu cérebro cansado. Ela não sorriu, ele mal sabia se poderia se quer se mexer ou quanta dor estaria sentindo, mas ela o encarou e parecia o suficiente.

Os dedos se contraíram de novo, esforçando-se para se mover. Ele aliviou a pressão sobre sua mão, permitindo-lhe mais movimento, observando maravilhado como ela usava o indicador para desenhar sobre sua mão. Ele sabia que deveria correr a chamar um médico, ela estava acordada isso deveria ser alguma coisa, mas seu corpo não se movia, concentrando apenas nela, sem acreditar ainda que estava acontecendo.

Lentamente ela desenhou um traço em sua palma, um único mover de dedo em uma linha reta de uma ponta a outra. Em seguida ela se afastou, esperou alguns segundos e então voltou a desenhar, dessa vez uma forma curvada, duas curvas, uma para a direita e outra para a esquerda... Um coração. Novamente ela afastou o dedo, esperou alguns segundos e fez uma curva única para baixo que ele adivinhou sem um U.

A mão caiu novamente, como se as ultimas forças que tivessem foram gastas formando esses simples três símbolos, mas foram o suficiente para fazê-lo parar, congelado no lugar, sem conseguir respirar. Seus olhos subiram para os dela novamente, observando a satisfação em seu olhar antes de novamente fechá-los em um suspiro lento, tranquilo.

Ele percebeu então, assustado, como ela não mais respirava depois, como as batidas no monitor paravam em uma linha reta.

Desesperado correu para o corredor, gritado por ajuda, sem saber o que mais fazer.

Não poderia terminar assim.

Não muito longe do corredor olhos vermelhos observavam, determinação queimando no olhar, arma na mão. Seus passos guiaram para o corredor, encarando-se no espelho por um instante, ignorando os passos apressados no corredor, observando as olheiras profundas debaixo de seus olhos agora vazios.

Sem pensar ergueu o braço o qual carregava a arma, colocando-a na direção da cabeça e então, apertando o gatilho.

Redefinindo...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Muita coisa vai acontecer nesse arco da história e quem queria mais emoção com toda certeza é aqui.
Também preparem seus corações pq não fico feliz até arrancar pelo menos uma lágrima de alguém.
Até o próximo capitulo que eu espero que seja semana que vem.
Bye!



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