FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 43
Especial: Vermelho e Azul


Notas iniciais do capítulo

Yooo!
Sim esse é mais um espécial, sorry, mas eles tão me ajudando a ter um tempo para empurrar um pouco os próximos caps e aliás o próximo cap a aparecer é importante, ele vai dar uma explicação no que será o próximo arco de Fusion.
Eu estou bastante feliz ultimamente porque estou recebendo bastante coisa que eu queria (apenas coincidiu de ser tudo mais ou menos ao mesmo tempo) então algumas das minhas escritas estão saindo bem rápido. Espero ter caps o suficiente para vocês até o final de fusion. E assim talvez eu possa trazer outras histórias também.
Espero que gostem do cap, eu gostei bastante de escrevê-lo.



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FusionTale – Especial: Vermelho e Azul

— E vocês viram mesmo a criatura? E sobreviveram?

— Lance foi o mais incrível.

— Com toda certeza eu fui! Eu sou incrível!

— Uau! Contem como foi! Contem!

O que ele estava fazendo ali?

Quer dizer, de todos os lugares, de todas as situações, sendo quem era, tendo a personalidade que tinha, definitivamente o que estava acontecendo no momento seria o ultimo que qualquer um poderia imaginá-lo, seja da forma que for.

Keith ainda não entendia.

Olhando para todos os rostos sorridentes diante da mesa, conversando alto como um grupo de adolescentes normais, simplesmente a passar um poudo de tempo juntos como amigos era um conceito, uma realidade um tanto estranha para ele. Afinal, era um fato que de todas as características que tinha, social não era uma delas, sua vida não o permitiu ser, então estar ali não era uma de suas atividades mais praticadas, mesmo que ultimamente isso estivesse mudando.  

Quando começou? Por que continuou? Ele tinha certeza que depois de um tempo as pessoas simplesmente se afastavam, ele era quieto, socialmente estranho e algumas vezes assustador. Ele colecionava facas! Pelo amor dos Deuses! Andava armado, sempre a usar roupas normalmente escuras e nunca sorrindo. Toda sua aura dizia facilmente para manter-se longe. Era natural para a maior parte das pessoas se afastarem. E ele nunca realmente se importou, estava acostumado a estar sozinho, compreendia que era uma reação natural de qualquer pessoa normal a se afastar daquilo que achavam um perigo e, se apenas sua magia já não era a prova suficiente para definí-lo como perigoso, suas atitudes e seu emprego com toda seriam. Tinha se acostumado, não conhecia outro estilo de vida.

Mas ali estavam aquelas pessoas.

Desde que tinham se encontrado pela primeira vez no final das aulas no campo desportivo atrás dos prédios escolares aquele pequeno grupo estranho o tinha puxado para cada vez mais adentro de sua pequena vida juvenil corriqueira. Não que estivesse reclamando também, era estranho, novo e inicialmente desconfortável, mas não ruim... Ele não saberia exatamente como descrevê-lo, mas definitivalmente não era algo que imediatamente colocaria para fora de sua vida. Porém isso ainda era ele. O que exatamente fazia aquelas pessoas continuarem a tentar mantê-lo perto era impossível de saber e, sinceramente, ele já tinha procurado todos os motivos e cada vez era provado errado.

Parecia não ter nenhum! Não tinha como alguém, qualquer um que seja, estar perto dele apenas por querer. Era inconcebível!

E com o envolvimento de seu trabalho na situação tudo apenas se tornou ainda mais confuso, mais estranho.

Quer dizer, quem diria que a identidade de sua chefe, sua Rainha, acabaria por ser uma de suas colegas de classe? E que ela sabia, por óbvios motivos, de sua atual proximidade com sua irmã mais nova que por ventura estava involuncrada com a gangue rival a sua? E que agora ela queria que ele fosse um tipo de vigia secreto sobre ela porque não confiava no que sua irmã estava se metendo e queria ter certeza que nada saia de seu controle? Não como se fosse uma revelão que se escutava todo dia.

Ainda assim uma missão era uma missão e ele não seria conhecido como um dos melhores dentro de seu local de trabalho se não fizesse tudo que lhe mandavam com a devida atenção. Não que se descrevesse como um cachorrinho domado, sua Rainha sabia que ele estava mais para um lobo raivoso selvagem do que um filhote doméstico como alguns dos que acabavam por cair em sua mão, contudo, ela também sabia que ele era forçado a respeitá-la. Sua força estava muito acima dele, ela sabia disso, e ele era totalmente dependente do dinheiro que ela lhe dispunha por cada serviço, querendo ou não questionar não era uma opção e falhar menos ainda. Não tinha que saber de nada além do necessário.

Porém a situação o fez questionar-se quantos mais segredos eram mantidos a sua volta. Ele sabia por experiência que cada um tinha sua cota de pecados para lidar, mas nada significava que não poderia ser curioso.

Por exemplo: Frisk sabia que sua irmã era líder de uma das maiores gangues da cidade? Assim como Chara sabia que ela fazia parte de outra? Mais alguém estaria envolvido? Tinn? Blooky? Lance? Por que exatamente ambas as irmãs tinham caído em gangues diferentes? O que as fez entrar em primeiro lugar? O quão fundo ele estava se enfiando e por que exatamente ele deveria ser aquele encarregado?

Claro ele tinha se demonstrado bastante fiel e capaz em todas as suas atividades desde seu ingresso nos Navalhas Vermelhas. Seus poderes e sua força física junto a habilidade o tornaram cobiçado no submundo. E tudo bem também que ele fosse o aparente mais perto daquela que deveria ser observada, mas ainda assim ele era um assassino e não um informante. Estava acostumado a trabalhar mantendo a distância até o momento que deveria dar o bote e não manter-se como um estúpido agente duplo.

— O que você acha, Keith? – o rapaz ergueu a cabeça ao uso de seu nome, deparando-se com o intenso mar azul que eram os olhos de Lance. Ele tinha um sorriso em seu rosto, muitas vezes Keith se viu perguntando se suas bochechas não se sentiam doloridas de tanto sorrir, brilho de curiosidade reluzindo em seus olhos, parecendo realmente interessado no que Keith tinha a dizer.

— O que?

— A besta. O que você acha? – o moreno insistiu, atenção totalmente concentrada nele. Keith reparou que os olhos da maioria também o estavam focando, em expectativa ansiosa. Apenas Frisk parecia um pouco desinteressada, brincando distraidamente com seu copo.

Apesar de toda sua presença acolhedora para a maior parte das pessoas e sua atenção considerável em todas elas Keith sempre teve a impressão que ela resguardava muito mais do que aparentava. Algumas vezes chegou a pegá-la a olhar para o nada, como se apenas a pensar em vai se saber o que, ou as vezes a direcionar seu olhar para todos os cantos, como em uma visível paranoia. Keith não conseguia entende-la e seus instintos ficavam loucos próximos a ela.

Era frustrante.

— Não creio que seja uma besta, mais como algum tipo de projeto que está sendo encobertado.

— Oh! Tipo uma conspiração do governo?! Isso seria tão legal! – Tinn exclamou com animação, seus olhos reluzindo em uma exitação que poderia ser facilmente comparado ao de uma criança. Pelo canto do olho Keith juro ter visto Frisk congelar por alguns segundos, tensão visível em seus ombros antes de, poucos segundos depois, voltar ao normal, quase como se nada tivesse acontecido. – Mas Lance disse que parecia um enorme animal feito de ossos e fumaça. Como algo assim poderia ser feito?

— Temos magia. É mais fácil perguntar o que não poderia ser feito. – Keith argumentou.

— Cara, você parece aqueles nerds de conspiração que ficam atrás de evidências sobre pé grande, o monstro do lago Ness ou que o pouso na lua é falso. – Lance zombou com uma leve risada, rosto apoiado sobre a mão que, por sua vez, tinha o cotovelo sobre a mesa.

— O pouso na lua é falso! E obviamente tudo isso existe! Existem provas!

— O Deuses, você totalmente é! – dessa vez Lance estava realmente rindo, tão alto e forte que quase se derrubou da cadeira. – Quem diria que o grande Keith Gyong com toda essa pose de cara mau fosse na verdade um grande nerd! O Deuses isso é ouro!

— Eu não sou! – o rosto de Keith estava vermelho, tão quente que por instantes pensou que sua magia pudesse estar em ação. Mesmo com todo o treino, em momentos de fortes emoções, ainda era complicado controla-la.

Lance apenas riu mais forte.

— Você totalmente é! Como não vi isso antes?! Tudo ficou tão claro agora! Está estampado na sua cara!

— Cale a boca! Eu não sou!

Lance continuou rindo, tão divertido como jamais se viu. Sua risa contagiosa fizeram tanto Frisk como Tinn começarem a gargalhar também, para não mencionar que o rosto frustrado de Keith era deveras engraçado, assim como adorável, como um gato irritado, era impossível não rir junto. Principalmente quando o dito alvo amuou em descontentamento em ser o alvo da brincadeira.

Porém, era estranho para Keith. Em tal situação ele costumava encontrar-se irritado, muitas vezes a ignorar com um olhar escuro sobre aqueles que o estavam a zombar, outras vezes, um pouco menos comum, dependendo do comentário a ser usado, ele tornava-se irritado, jugando-se para uma possível briga sem pensar duas vezes. Com sua habilidade e LOVE era basicamente impossível perder contra pessoas normais. Ele nunca, em hipótese alguma, viu-se a aceitar tão comodamente uma brincadeira como essa. Era quase como se não se importasse e, pensando bem, ele realmente não. Não sentia-se incomodo, como se fosse um insulto.

Era tão estranho.

Normalmente, agora que parava para pensar, tudo envolvendo Lance era estranho.

O grupo em si era, mas Lance parecia ser o mais estranho, pelo menos aos olhos de Keith.

Ao final do encontro, quando estavam prestes a se separarem cada um para seu lado, o alto moreno lhe deu um leve empurrão no ombro, chamando-lhe a atenção para os olhos azuis agora preocupados, mesmo que o sorriso ainda se mantivesse em seu rosto.

— Hey cara, tudo bem? – Keith não conseguia entender aquele garoto, quer dizer, quem zombava de uma pessoa e em seguida preocupava-se se ela estava bem ou não? Era sempre assim, em todas as situações, e Keith simplesmente não via a lógica.

Lance o incomodava, o irritava sempre puxando seus nervos, fazendo-o retaliar, sem medo da forma como Keith poderia retribuir, sem medo de Keith, o que em si já era uma surpresa para o rapaz. E quando sua amizade parecia nada além disso, se é que poderia chamar o que tinham de amizade, momentos seguintes ele estava a defender-lhe de idiotas, falando a seu favor, preocupando-se com seu estado... Isso era tão estranho. Todas as pessoas agiam assim com seus supostos amigos? Ou isso era particular de Lance?

— Sim, apenas cansado. – não uma mentira. Seguir uma garotinha de sua escola e então fazer seu trabalho a noite, sendo que mesmo com uma missão em mãos sua Rainha ainda não lhe abria qualquer momento de folga era complicado, para não dizer que o estado mental de seu irmão estava piorando e Keith não mais sabia o que fazer. Tinha medo que o perdesse por completo, o único que lhe tinha sobrado...

— Entendo. – não, ele não entendia. O que alguém como Lance poderia saber sobre ele afinal? Mas Keith não argumentou, deixando o rapaz apertar-lhe o ombro como uma forma de conforto. Não era ruim, pelo contrário, Keith estava começando a... Apreciar? – Precisando de qualquer coisa não hesite em pedir. Amigos não estão aqui apenas para momentos felizes, você sabe. Você tem meu número, qualquer coisa é só ligar, não vai ser problema algum. Bem, eu tenho que ir, até nerd!

Keith não teve tempo de responder de qualquer maneira, o morneo já tinha corrido para longe, deixando-o plantado no lugar de frente para a loja de Muffet.

Amigos, hein? Keith não sabia o que era ter um amigo, desde sua infância nunca teve tempo de se concentrar nesse tipo de coisa, sem falar que as pessoas costumavam evita-lo, o máximo que chegou a ter foi seu irmão e ainda assim ele se afastou tão rápido que Keith pegou-se perguntando mais de uma vez se não foi apenas uma maneira de evitar estar ao seu redor. Ele trazia o infortúnio, se convenceu uma vez, nunca poderia ter nada que era relativamente legal, tudo lhe era tirado de alguma forma. Chegou ao ponto em que ele procurou evitar, evitar tudo que caía em suas mãos, evitar as pessoas e suas relações.

Mais um motivo pelo qual ele não entendia porque continuava ali. Porque continuava suas guerras com Lance, porque continuava a dizer sim para tudo que ele pedia, porque continuava a ceitar sua presença a seu lado... Porque apenas parecia certo, porque ansiava cada encontro, cada momento junto. Keith não entendia nada disso. Ele estava bem sozinho, lidar com as pessoas era tão estranho... Lidar com Lance era estranho, mas ainda fácil...

Keith estava cansado de pensar sobre isso. Cansado de lidar com isso.

— Lance é um cara tão altruísta. – Keith saltou com a subta voz ao seu lado, seus olhos estranhamento roxos descendo para encarar a morena que agora mantinha-se em pé poucos passos de onde estava, enorme sorriso no rosto enquanto observava o caminho pelo qual Lance havia desaparecido. – Não importa quanto ele tente parecer o garoto egoísta e egocêntrico, ele sempre acaba colocano tudo isso de lado para oferecer uma ajuda, mesmo quando ele está mal.

— Ele é apenas um idiota que nunca passou por um problema em sua vida e um dia vai se dar muito mal por continuar a ser tão aberto assim. – Keith resmungou, irritado. Ele não entendia porque estava assim, algo em seu peito sentia-se frustrado, o que exatamente ele não poderia dizer e ele odiava não ter controle sobre suas emoções, o que normalmente o levaria para a raiva novamente.

— É isso que você pensa? – olhos dourados brilharam em sua direção, um posso de ouro reluzente e derretido que parecia guardar muito mais segredos do que poderia realmente escavar. Era como se vissem sua alma, soubesse de muito mais do que diziam ou demonstravam, olhos velhos... – Uma pequena dica para você, Keith: não é porque uma pessoa sorri muito que ela tem pouco em sua vida. As pessoas mostram apenas o que querem mostrar, se você julgar apenas pelo que pode ver vai perder muita coisa.

— O que você sabe? Apenas um bando de garotos a curtir a vida. Nada do que se preocupar!

— Sei muito mais do que você. Veja, não é o único que tem problemas, todos nós temos nossas cruzes a carregar. Blooky é autista e ansioso, uma mistura não muito legal. Tinn, além de sua perda de braços tem ADHD. Lance... Bem, Lance tem depressão, ansiedade e ADHD. Você vê, cada um de nós temos nossos problemas, nossos carmas, não é porque não agimos como você que significa que não sofremos. – Frisk não parecia com raiva, seu rosto encontrava-se neutro. Keith não sabia como retribuir. – Vamos fazer uma aposta. Se eu conseguir provar que Lance guarda muito mais do que você pode imaginar, você me deve um favor, mas se no final você continuar com o mesmo pensamento sobre ele, então eu que te devo um favor. Tudo bem?

— Você não parece ser do tipo que aposta.

— Somos dois membros de gangues, por que não? Nada como fazer dentro de termos normais para nosso pequeno mundinho sujo.

— Como você...

— Eu sei muito mais do que você pode imaginar, Red. Agora, aceita a aposta ou não? – Frisk lhe estendeu a mão, rosto ainda não neutro como desde o começo da conversa. Keith se pôs a pensar, um pouco cauteloso e desconfiado pelo modo como aquela garota agia, por instantes vendo o mesmo ar autivo de sua rainha, o mesmo poder, mas não era possível, Frisk tinha uma personalidade totalmente diferente, ambas eram diferentes, aquela garota não seria capaz de assustá-lo. Então, para provar-se sem medo, ele apertou-lhe a mão, selando o acordo. – Muito bem. Vá até a casa de Lance amanhãs as... 18 horas, não se atrase, seria um problema se chegasse muito tarde ou não fosse. Veja o que tem para ver e então diga-me se realmente ele é o que você imaginava.

E assim ela se foi...

Keith estaria mentindo se dissesse que não perdeu a noite em curiosidade e desconfiança.

Por que um lugar e hora tão específicos? Como ela poderia ter certeza de que o que veria mudaria sua opinião? Ele sempre desconfiou que aquela garota sabia muito mais do que dizia, mas havia algo sobre essa aposta que deixava seus intintos em alerta. Ela faria alguma coisa? Não, ela nunca machucaria Lance, parecia ser contra sua natureza e isso já tinha sido provado mais vezes do que ele poderia contar. Frisk apreciava Lance e ia contra seu caráter machucar de qualquer forma um amigo. Então Lance faria parte disso? Fingiriam algum esquema? Por que eles fariam isso? O que eles ganhariam? Keith não compreendia... O que sairia daquela aposta? O que ele veria as dezoito horas na casa de Lance? Por que ele precisaria ver isso para mudar de opinião sobre o rapaz? Se não fosse uma armação como Frisk poderia realmente saber que algo aconteceria? O que ela planejava com tudo isso?

Sua cabeça explodia de diversas questões diferentes e nunca uma resposta que pudesse chegar a responder corretamente cada uma delas. Ele tornou-se ansioso e quando a manhã seguinte surgiu por sua janela ele já estava de pé, do lado de fora de sua casa, suor a escorrer pela testa com mais um treinamento árduo.

Com mais energia por conta de sua agitação mental viu-se forçado a praticar um pouco, como sempre. Kendo costumava aliviar a tensão em seus ombros, aliviar a mente para que pudesse pensar com mais clareza, em seguida uma corrida matinal apenas para tornar-se cansado o suficiente e voltar para descansar um pouco antes de ter que sair. Ele ainda precisava cuidar de seu irmão, sem um dos braços, a instabilidade de suas memórias e dor nas pernas era impossível fazer qualquer tarefa domestica, por mais simples que fosse, deixando tudo a cargo de Keith.

Não reclamava, Keith gostava de cuidar de seu irmão, parecia como uma retribuição pelo lar e família que ele lhe deu, por ser acolhido, porém lhe doía pensar que alguém tão capaz como seu irmão poderia cair a um estado tão assustadoramente deplorável.

Deixando esse spensamentos de lado, com todas suas tarefas prontas e o horário do relógio quase na hora marcada, Keith preparou-se para sair. Sinceramente mais de uma vez ele pensou em não ir, não arriscar cair em uma possível armadilha e manter-se na cautela. Porém, Keith nunca foi conhecido por ser cauteloso e sua curiosidade queimava-o mais do que seu medo.

Antes que pudesse pensar estava de frente para a porta da casa de Lance.

Recordava-se de ter vindo aqui algumas poucas vezes, na maior parte delas apenas para acompanhar, nunca realmente adentrando na morada. A irmã de Lance nunca parecia gostar de nenhum deles...

Hesitante por um momento Keith ergueu sua mão à campainha, questionando-se se realmente era uma boa ideia, antes de apertar o botão, suspirando em derrota. Ele nunca recuou de um desafio e não o faria agora.

Uma leve comoção foi ouvida do lado de dentro antes de finalmente a porta ser aberta e um Lance eufórico e visivelmente assustado aparecer. Keith nunca tinha visto aquele olhar no rapaz cubano, sorriso desaparecido para dar espaço a olhos arregalados e expressão apavorada. Parecendo se agravar ainda mais quando o mar azul finalmente saiu de sua névoa confusa para identificar que era Keith quem estava na porta.

— O que você está fazendo aqui?! – sua voz era estranhamente baixa, como um sussurro gritado, seus olhos escorregando exporadicamente por sobre o ombro, como a esperar que alguma coisa saltasse sobre ele.

E talvez esse fosse o caso.

Keith chegou a abrir a boca para arrumar qualquer desculpa ou apenas dizer que Frisk o tinha mandado, o que não era toda a verdade, mas também não uma mentira, quando o som alto de alguma coisa se quebrando dentro da casa chamou sua atenção. Lance saltou como um gato assustado e virou-se para espiar dentro da casa, apavorado, dando tempo suficiente para Keith ver o interior também, deparando-se como uma confusão de objetos espalhados, quebrados e jogados. Sinceramente não era nada do que Keith esperava e por algum motivo ele sentiu que não estava certo. Alguma coisa estava acontecendo e não apenas pela maneira estranha como Lance agia.

— O que está acontecendo, Lance? – questionou, tentando empurra-se para dentro, a desconfiança queimando-lhe as entranhas. Frisk o tinha enviado aqui agora por algum motivo e talvez fosse exatamente o mesmo motivo pelo qual Lance encontrava-se tão alterado.

O som de algo se quebrando se repetiu, mas dessa vez uma voz o acompanhou:

— Lance! Quem está na porta? Estas a trazer uno amigo? – a voz era visivelmente feminina, Keith supôs tratar-se da irmã do moreno.

— Nadie, hermana! No te preocupes! – Lance gritou de volta, tão rápido quanto podia, sua voz tremendo um pouco em pavor. Seus olhos então voltaram-se para Keith, desesperados, empurrando-o para longe da porta. – Você tem que ir! Ela não pode ver que você está aqui!

— Mas...

— Apenas vá, por favor! Você não devia estar aqui, não deve ver! – Lance implorou, tão perdido, tão desesperado, Keith não conseguiu argumentar contra, deixando que o garoto o empurrasse para fora e então fechasse a porta com um olhar de desculpas.

Keith sabia que deveria deixar, seja o que for que estivesse acontecendo Lance não queria que ele soubesse. Contudo toda a situação apenas instigou ainda mais sua curiosidade, seu instinto insistindo que ele continuasse a olhar, ver o que acontecia. Não queria admitir-se preocupado também, mas o estado de Lance o estava enervando e ele precisava saber se estava tudo bem. Não como se importasse com o cubano! Não! De forma alguma! Ele não diria isso!

Esgueirando-se para a janela da casa Keith agradeceu que uma pequena brecha da cortina estivesse aberta, dando vista ao que parecia ser uma sala extremamente bagunçada. Ele reparou garrafas de bebidas jogadas em um canto, a mesa de centro próximo aos sofás estava mal posicionada com um pote de cigarros quase abarrotado, cinzas já a cair ao lado dele. Os sofás em si estavam desgastados, rasgos eram vistos aqui e ali, o estofamento escapando para fora, manchado e queimado em alguns cantos. Um pouco de vidro quebrado era visto no chão, próximo a um pano jogado desajeitadamente. Algumas pessas de roupa estavam espalhadas aqui e ali, como se alguém estivesse apressado em retirá-las. Talvez recentemente.

Não demorou muito para Lance aparecer, aparentemente tentando afastar-se de alguém. A garota que se juntou era próximo de sua altura ou um pouco menor, pele morena como a de Lance e com seus cabelos castanhos.

— Quem estava na porta? – a garota perguntou, sua voz abafada por conta da janela. Já era um milagre que Keith conseguisse escontar.

— Eu já disse, hermana. Ninguém. – Lance respondeu, sua voz fraca, um tanto tremula, nada da animação e arrogância que Keith estava tão acostumado a escutar. Era quase submissa e algo nisso o incomodava. Lance não deveria agir assim.

— Está mentindo. Você sabe que não gosto de mentiras!

— Não estou mentindo, juro! Hermana você está bebâda e ainda sobre os efeitos das drogas, por favor, vá se deitar.

— Oh! Agora se acha confiante o suficiente para me dar ordens?! – Keith viu o tapa, viu as unhas rasgando a pele do rosto de Lance. Ele sabia que o rapaz não era o melhor para brigas, mas Keith tinha certeza que ele poderia ter evitado aquilo, mas não o fez... Por que?! A garota o segurou pelo rosto, apertando os dedos em suas bochechas enquanto o puxava para encará-la mais uma vez, apertando os cortes feitos sem pudor. – Volte a aprender seu lugar, merdinha! Você não me dá ordens, você não tem opinião nenhuma, sua aberração desfigurada, viado sem vergonha! Achava mesmo que ninguém saberia?! Você é uma vergonha e sabe bem disso!

— Eu... Eu não... Nunca...

— Cale a maldita boca! Sua voz é irritante! – com um empurrão Lance se viu ao chão, a lateral do seu quadril acertando a mesinha de centro. Ele não estava se defendendo, Keith podia ver, por que ele não estava se defendendo? – Você tem sorte de eu ainda te manter aqui, você sabe disso. – um chute sobre o peito e Lance estava deitado, rosto desamparado. – Se bem que... Pensando bem eu poderia fazer alguma coisa para curar você. Claro, a minha maneira, não precisamos gastar dinheiro com médicos quando nada como uma boa surra não resolva. Não podemos ter uma aberração na família, não é?

— N-não é... N-não é doença... – Lance resmungou, sua respiração um pouco difícil. Talvez o peso sobre seu peito o estivesse afetando mais do que pensaria.

— Ainda confiante? Isso é um problema, tenho certeza que vem da influencia desses seus novos amiguinhos. Está te deixando mais ousado, precisamos concertar isso. – com o resto de cigarro que tinha em suas mãos ela pressionou a parte ainda flamejante no braço de Lance o qual chiou tão prontamente pela dor de sua carne queimada. – Shhh. Shhh. Não queremos alertar os vizinhos, não é? Você não ia querer que eles te vissem assim, tão patético, tão ridículo. Quem iria chegar perto de você ao ver isso? Eu nem sei como eles chegam perto de você agora, mas acho que idiotas tem em todos os lugares. E, você sabe, tudo seria bem mais fácil se você simplesmente me escutasse, fizesse o que eu dissesse. – o pé se apertou mais no peito no moreno enquanto o cigarro fazia seu caminho novamente para mais uma parte da pele. Lance se contorceu, mas nenhum ruído escapou. – Mas você tem sido um garoto tão rebelde. Desobedecendo aquela que está cuidando de você, aberração mal-agradecida! Você deveria estar morto, como todos os viados iguais a você! Pedaços de merda inúteis anormais!

A garota continuou a arranhá-lo, queimá-lo e maltratá-lo como a um boneco sem vida. E para piorar não existiam ruídos, Lance não gritava ou pedia socorro, não resistia ou lutava, sua falta de reação o tornavam tal como a garota queria que ele parecesse. Nada mais do que algo que poderia usar para descarregar as frustrações, jogando palavras cruéis e frias.

Keith não podia ficar apenas olhando, isso o estava deixando louco.

Aquela era irmã de Lance? Sério mesmo? Que tipo de irmão fazia algo assim? E Lance nunca falou nada? Ele nem ao menos estava lutando, pelo amor dos Deuses! Era frustrante, era assustador! Keith tinha a impressão que aquela garota poderia mata-lo e Lance nunca se importaria, não reagiria.

Usando de uma faca a qual guardava em sua bota quebrou o trinco da janela, abrindo-a sem grandes dificuldades e saltando para dentro. Era tarde quando sua presença foi notada e ele já se encontrava sobre a garota, puxando-a de cima de Lance antes que pudesse abrir a boca, jogando-a sem real preocupação para qualquer lado da casa, ignorando o som estranho que soou quando sua cabeça acertou o chão.

Seus olhos caíram sobre Lance, ainda deitado sobre o chão, respiração pesada enquanto o encarava com surpresa e vergonha, inutilmente procurando esconder os cortes, hematomas e marcas de queimado. Seus olhos caíram rapidamente para o chão e não precisou de muito para que Keith percebesse que estava quase chorando.

— Vamos. Vamos te tirar daqui. – resmungou, ignorando a vergonha do garoto para poder abaixar-se a seu nível, segurando-o de uma forma que pensou não fazer mais dano enquanto puxava-o para cima.

— M-mas... Minha irmã... – Lance tentou protestar, seus olhos preocupados procurando a figura adormecida de sua irmã. Keith sentiu-se enjoado e frustrado. Como ele ainda poderia se preocupar com ela assim depois de tudo o que ela tinha feito a ele? Como aquela... Aquela garota poderia tratar de tal forma alguém que se importava tão genuinamente com ela? O que Keith não daria para ter essa mesma preocupação, tão pura e profunda, direcionada a ele...

Ok, ele estava começando a ser afetado pela situação. Precisava resolver isso agora.

— Ela vai ficar bem. – Keith realmente esperava que não, mas isso seria o errado de se dizer. Mesmo com sua pouca interação social ele sabia disso. – Apenas vamos, temos que te tirar daqui e cuidar dessa bagunça.

Foi um tanto complicado arrastá-lo para fora. Por sorte Lance poderia caminhar, suas pernas não tinham sido necessariamente machucadas, porém, ele ainda encontrava-se cansado, machucado e dolorido, arrastar-se até a casa de Keith provavelmente foi um esforço demasiadamente grande, e ainda assim ele não reclamou, nem uma só vez. Keith não sabia se era por costume ou se ele estava apenas envergonhado por toda a situação.

Nenhum dos dois reparou a sombra a observá-los, silenciosa sobre um dos prédios, olhos atentos avaliando com seriedade a situação, pronta para interferir caso qualquer coisa não fosse como havia planejado. Por sorte ela pensou que não seria necessário.

Presos em suas próprias preocupações sobre o momento, não se dirigiram a palavra em todo o caminho e o ambiente envolta era pesado. Keith não tinha ideia de como poderia melhor, a necessidade de aliviar o ar entre eles o incomodava, mas como? Esse normalmente era o trabalho de Lance, sempre a fazer piadas durante os piores momentos, despreocupando aqueles a sua volta, fazendo-os rir e se distrair do problema em questão, tornando tudo mais fácil de aturar. Mas agora era Lance que precisava de ajuda, precisava de um suporto, e Keith não tinha ideia se poderia realmente ajudar com isso. Como se deveria agir em momentos como esse? O que deveria ser o certo a se falar? O que era errado?

Entrando em silêncio na casa, Keith prontamente supôs que seu irmão já estava repousando em seu quarto o que o deixava livre para avançar até seu quarto sem maiores perguntas. Não sabia se seria capaz de responde-las, a situação já parecia rim como estava.

— Tem um banheiro no meu quarto, você pode tomar um banho e então cuidaremos do seu estado. Tenho certeza que as roupas de Takashi vão servir em você. – comentou, quebrando o silêncio que ainda pairava entre eles. Tentou não demonstrar deu nervosismo também, parecia não ser adequado para o momento, mas, novamente, o que ele sabia?

Ainda assim era complicado olhar para Lance. Os rasgos em seu rosto tinham parado de sangrar, mas tornavam-se uma visão complicada de se assimilar, feia. Tantas e tantas vezes que viu Lance falar com orgulho sobre sua aparência, sobre o cuidado que tomava com seu rosto e sua pele... E tudo isso agora arruinado por grotescos arranhões. Keith apenas poderia sentir-se enjoado, irritado, ele queria tão profundamente voltar e acabar com aquela garota, mas pela forma como Lance ainda parecia preocupado com ela sabia que seria uma péssima decisão.

Precisava controlar seus impulsos.

— R-realmente não é necessário que faça tudo isso... – Lance resmungou, seu rosto vermelho ainda evitando seu olhar, ombros caídos em miséria, ele tentava esconder, mas era visível ainda seu tremor, o medo em seus olhos, a ansiedade picando-lhe pelo mover frenético de seu olhar enquanto tentava esconder as feridas, envergonhado e amargurado.

Keith o encarou por alguns instantes, tentando processar a situação. Takashi sempre tentou ensinar-lhe a ter pasciencia, mas Keith nunca realmente precisou dela, ele gostava do rápido, sua impulsividade sempre o levando para confusões, mas não era como se ele não soubesse como lidar com cada uma delas. Porém agora, mais do que nunca, ele precisava usar dessas lições e, sinceramente, nunca se arrependeu tanto de ter ignorado tanto os sermões de seu irmão.

— Eu sei. – e com apenas isso deixou Lance diante da porta de seu quarto enquanto dirigia-se ao de seu irmão para pegar algumas roupas e então aclarar um pouco mais seus pensamentos. Talvez tivesse sido uma resposta um pouco fria, mas Keith temia que se dissesse algo mais teria piorado a situação e ele sinceramente que queria fazer mais dano a Lance.

Por que Lance nunca disse nada, afinal? Por que não buscou ajuda? Por que continuou sofrendo com tudo isso?

“Lance... Bem, Lance tem depressão, ansiedade e DAHD”

Keith não sabia muito sobre doenças mentais, mas a depressão tinha tornado-se popular o suficiente para que ele soubesse pelo menos algumas coisas sobre o assunto. Ele também tinha uma vaga ideia sobre relacionamentos abusivos, algo que na verdade era bastante falado agora em redes sociais, não tinha prestado muito atenção, no entanto, não vendo o que isso poderia influenciar em sua vida. Agora ele poderia se dizer um pouco arrependido, talvez saber sobre esse tipo de coisa facilitaria a situação.

Era apenas frustrante... Lance sofria esse tempo todo nas mãos daquela mulher e nunca tinha dito nada. Ele continuava a sorrir, a agir como tudo estava bem e para que? Por que esconder os problemas?

“Shhh. Shhh. Não queremos alertar os vizinhos, não é? Você não ia querer que eles te vissem assim, tão patético, tão ridículo. Quem iria chegar perto de você ao ver isso?”

Vergonha? Lance tinha vergonha que as pessoas o vissem desse jeito? Por que? Claro, não era uma posição favorável, mas ainda! Ele precisava de ajuda, ele não poderia manter-se nisso apenas por vergonha! Era loucura! E o pior, ninguém tinha notado! Mesmo que ele estivesse escondendo, alguma coisa deveria mostrar que ele estava sofrendo, alguém deveria ter visto, alguém deveria ter feito alguma coisa! Por que ninguém viu?!

Por que ele não percebeu?!

E por que se importava tanto? Não era nenhum de seus assuntos, seria apenas mais dor de cabeça, já tinha problemas de mais! E ainda assim não conseguia evitar sentir o aperto em seu peito, imaginando que aquele brilhante sorriso estava se apagando, que aquele garoto feliz, arrogante e irritante estava se despedaçando da forma como a que o viu. Isso o irritava. O deixava tão louco que suas mãos começavam a queimar, a magia ardente borbulhando em reflexo de suas emoções.

Ele deveria ter acabado com aquela mulher, ninguém realmente se importaria. Keith não suportava esse tipo de lixo humano.

Mas então recordava-se da preocupação de Lance, da forma como, ao invés de estar feliz com a ajuda, ele colocou-a como prioridade, querendo saber se estava bem. Aquele maldito idiota!

E o pior, por mais estupido que fosse, aquela bondade aqueceu Keith, o fez admirar a capacidade do garoto cubano de esquecer situações passadas com tanta facilidade e simplesmente perdoar ao ponto de se preocupar com o bem estar daquele que inicialmente lhe fez tanto mal. Keith nunca pensaria ser possível.

Seus sentimentos estavam indo a loucura e seus pensamentos tornavam-se ainda mais confusos. Tudo com Lance sempre foi estranho e agora com esse novo conhecimento sobre ele, Keith não podia ajudar, mas achar que alguma coisa mudou, tornou-se ainda mais estranho. Se é que era realmente possível.

Não sabia o que fazer com toda a situação em mãos. Seja o que for que Frisk tinha planejado naquele momento escapou de sua mente e apenas conseguia pensar em como ajudar aquele que insistia em estar ao seu lado, independentemente de como o tratava, das milhões de falhas que tinha, do quão problemático era... Assim como Takashi havia feito...

Balançando os pensamentos de sua cabeça, tentando relaxar com o expulsar de um suspiro pesado, pegou qualquer roupa dentro do guarda roupa de seu irmão e então dirigiu-se de volta a seu quarto, imaginando já terem passados minutos o suficiente para que Lance estivesse dentro do banheiro. Conhecendo-o, acreditou que levaria pelo menos mais alguns bons minutos para que ele saísse, levando em consideração a vergonha que sentia talvez fosse normal que também tentasse evitar vê-lo por um tempo.

Keith não o culparia por isso.

Porém quando abriu a porta foi recebido com a visão de Lance ainda de pé no meio de seu quarto, acabando de tirar sua camisa, calça já esquecida ao chão, mantendo-se coberto apenas pelo boxe azul apertado em torno de seu quadril.

Não era o que esperava.

Ambos mantiveram-se parados, surpresos, enquanto observavam-se em choque. Keith sentiu seu rosto começar a arder, amaldiçoando perdidamente sua maldita bunda gay. Não poderia dizer que não tinha prestado atenção em Lance, Keith não era cego e já tinha ouvido muitas meninas a tagarelar sobre o rapaz apenas para deixa-lo de lado, mas vendo-o agora era diferente. Não sabia explicar como, mas Lance costumava usar roupas relativamente larcas, seus músculos magros encobertados ao ponto de simplesmente parecer alongado e magro, seus largos ombros disfarçados ao igual os músculos firmes de suas pernas. A pele morena cor de canela tornando um pouco mais pecaminosa a visão.

Lance não era o tipo que Keith normalmente gostava de se encontrar, normalmente homens com um porte físico mais muscular, porém ainda não diria ser... Ruim.

Contudo, não foi apenas a aparência a tomar sua atenção, olhos escorregando para as feridas que agora desenhavam de seu quadril para cima, com hematomas roxos e arranhões sangrentos, juntamente as marcas queimadas que salpicavam em seus braços. Um pouco mais para baixo, onde os boxes não conseguiam cobrir, estavam, no entanto, marcas as quais Keith não se recordava de terem sido feitas naquela noite, demorando ainda um tempo para perceber que na realidade eram cicatrizes.

Em uma tonalidade um pouco mais clara que a pele morena do rapaz, as marcas se formavam no interior da coxa, quase perfeitamente paralelas umas as outras, em um corte transversal uniforme. Algumas ainda pareciam mais velhas do que outras, a mais recente ainda em um tom ligeiramente rozado. Pareciam superficiais, mas ainda existiammm aquelas, se Keith conhecia bem cicatrizes, que eram mais profundas.

Lance estremeceu, seus olhos ampliando-se em pavor, pronto para correr até o banheiro. Todavia Keith estava curioso agora, seu coração saltando ao pensar em todas as possibilidades possíveis, ele não deixaria Lance fugir assim, apressando-se para segurar o rapaz antes que pudesse escapar.

— Espere, Lance! O que são essas marcas? – não sabia se estava sendo muito invasivo, mas agora que tinha visto não queria deixar o assunto cair. Lance não o encarou, seu corpo tremendo.

— Nada!

— Nada uma merda! Lance essas marcas não foram feitas acidentalmente, eu sei disso, então o que são? Foi aquela mulher?

— Não! Aleja não faria...

— Pelo que vi, sim ela faria. Mas se não foi ela então o que aconteceu? O que... – seus olhos roxos cresceram, sem acreditar, a surpresa bem clara em suas feições normalmente neutra. – V-você... Você fez isso a si mesmo?

— Por favor... Por favor me deixe ir. Ninguém deveria ver isso, muito menos você. Por favor... Eu não quero que veja... Não quero que me veja assim... – o moreno soluçou, seu rosto agora encharcado em lágrimas enquanto ainda evitava o olhar de Keith. Foi uma visão tão atípica de Lance, Keith nunca o tinha visto chorar nenhuma outra vez e era... Estranho. Não se viu realmente com forças para mantê-lo, por mais que sua curiosidade ainda o picasse, ele não poderia forçar Lance, não do jeito que estava.

Sua mão soltou o pulso do rapaz, deixando-o correr para dentro do banheiro e fechar a porta, trancando-a em seguida.

Deixando a roupa no chão próximo a porta Keith arrastou-se para onde sua cama se encontrava, desabando sobre ela sem saber exatamente o que deveria fazer, o que deveria pensar.

Já tinha visto seu irmão se machucar, mas normalmente era mediante a um de seus ataques nos quais ele não tinha a mínima noção do que fazia, o pavor e o pânico sendo tudo que conhecia, mas o caso de Lance não parecia ser esse. Frisk sabia disso? Alguém sabia disso? Lance não parecia querer contar, não parecia querer mostrar... Deuses quem gostaria? O que levaria uma pessoa a machucar-se por livre espontânea vontade? Keith não entendia, ele não conseguia entender, nunca tinha visto ninguém assim antes em sua vida. Claro que tinha ouvido falar, era comum comentarem o quão ridículo pessoas assim eram, como só queriam nada mais do que atenção... Keith por um tempo concordou, mas agora... Agora ele não sabia mais o que pensar.

Obviamente Lance não queria atenção, não dessa forma, não sobre isso. Ele não se orgulhava, se seu rosto em lágrimas com a descoberta de Keith indicava alguma coisa. Deuses, ele parecia apavorado apenas com a ideia de alguém vê-lo assim. A ideia de que alguém soubesse o que passava, o que sofria...

Merda! Isso tudo era uma merda!

Toda a imagem que tinha montado sobre o garoto se quebrou por completo, toda a ideia de alguém simplesmente sorridente tinha-se evaporado para... Para o que via agora. E pensar que o agora era o verdadeiro o deixava desconcertado, o deixava assustado e confuso, sem saber o que deveria fazer.

Suas mãos correram pelo cabelo comprido, frustração queimando seu peito. Seus olhos foram para o teto, desesperados por uma resposta, mas sabia que ela não cairia do céu, nunca aconteceria. Keith tinha aprendido que se procurava alguma coisa deveria lutar por isso, nada simplesmente vinha de graça, Deuses não eram reais e se fossem, eram tão cruéis quanto os humanos os quais regiam.

Sua mente ainda perdida não viu o transcorrer do tempo, não percebendo o momento que o som do chuveiro havia sessado, a porta aberta para pegar a roupa no chão e então fechar novamente, mantendo-se assim por mais alguns minutos antes de retornar a se abrir, hesitante, devagar. Quando Keith finalmente deu-se conta Lance estava de pé na frente do quarto, a calça de moletom um pouco froxa em seus quadris, mas ainda assim relativamente bem acomodada, a camisa ainda em mãos, deixando os machucados por curar ainda visíveis.

Ele estava acuado, envergonhado e ainda hesitante, mas apenas o fato de ter saído do banheiro depois de tudo isso parecia uma vitória.

— Sente-se, vou pegar o quite de primeiros socorros.

Arrastando os pés Lance se sentou sobre o colchão enquanto Keith erguia-se em uma curta caminhada rápida ao banheiro, pegando o que precisava tão prontamente quanto podia. Tinha aprendido, depois de todas as confusões em que se meteu, a manter esse tipo de equipamento tão próximo quanto possível, mesmo que não fosse muito bom em cuidar de si mesmo.

De volta ao quarto sentou-se de frente para Lance, pequena caixa vermelha e branca acomodada ao seu lado já aberta. Retirou um pequeno pedaço de algodão e o molhou um pouco com álcool, concentrando-se primeiro no ferimento em seu rosto. Seus olhos caíram momentaneamente sobre Lance, como um aviso silencioso de que iria doer recebendo um respirar profundo como resposta apenas.

Com o toque Lance se encolheu, mas não fez barulho algum, seus olhos apertados e mãos trêmulas.

— Você não precisa aguentar tudo assim, você sabe. Não vou me incomodar se reclamar ou fizer barulho. – comentou Keith, sem realmente dar-se conta até que as palavras já tinha escapado.

Pela primeira vez Lance ergueu o olhar em sua direção.

— Sinto muito. Acho que é um costume... – Keith não comentou, já tendo imaginado que poderia ser algo assim. – Eu... Não entendo... Por que está fazendo isso? Nunca pareceu se importar antes...

— Ótimo jeito de dizer obrigado.

— Sinto muito! Não foi a intenção! Eu realmente agradeço! Juro!

— Pare de pedir desculpas, eu estava apenas brincando! – deuses, esse garoto seria sua morte. Agindo de forma tão frágil... Não era nada do que Keith estava acostumado. Ele esperava um comentário em retaliação, não uma desculpa. Essa submição não condizia com Lance, mas fazia coisas estranhas para Keith.

— Sinto muito... Quer dizer... Obrigado... Por me ajudar. – sua voz tornou-se tímida, baixa, um tom que normalmente não usava, ainda envergonhado. Keith suspirou, suas mãos deixando o rosto do rapaz assim que o curativo tinha sido terminado de ser colocado, passando prontamente para os outros arranhões. – Você é... Bom nisso.

— Anos de prática. Somos só eu e Takashi e quando ele voltou... Bem, sua situação não era boa. Por muito tempo tive que trocar seus curativos, não tínhamos dinheiro para pagar uma enfermeira particular, mas consegui uma ajuda de uma delas do hospital onde ele ficou. Ela me ensinou como fazer, mas... Digamos que não serviu apenas para ele.

— Seu irmão está melhor agora?

— Não diria melhor, isso seria estúpido. Mas com toda certeza não é mais como antes... Ainda tem vezes que penso que ele vai se esquecer totalmente de mim. – Keith não queria ser tão aberto, mas o momento era íntimo de mais e toda essa frustração já estava começando a apertar-lhe a garganta. Lance estava tão passivo, tão convidativo que apenas começou a falar.

— Eu tenho medo que meu irmão volte assim também... Ou que não volte... – as mãos de Lance se apertaram no tecido das calças que suava, seu olhar caindo, uma mistura tão grande de emoções que era complicado dizer exatamente o que ele estava sentindo agora.

— Como assim?

— Eu... – por um instante a hesitação. Lance desviou o olhar moredendo o lábio antes de suspirar, ombros caindo novamente. – Você sabe que sou de Cuba. Minha família é muito grande, não dava para todos atravessarem as fronteiras... Eu vim para cá com minha irmã e meu irmão graças ao serviço militar que meu irmão conseguiu. Ruan sempre foi... Sempre foi esse cara forte e capaz que você sempre pode confiar, um líder calmo e grande atirador, eu entendo porque o exército o notou. Recentemente ele foi enviado para o Iraque junto aos fuzileiros, isso já faz alguns meses e eu sei que as cartas continuam chegando, mas... Ele é a pessoa mais próxima que tenho, não sei o que faria se ele não voltasse...

— Posso entender isso. Quando Takashi partiu eu tentei ter confiança de que ele voltaria bem, ele me prometeu. Quando a notícia de que ele estava hospitalizado chegou eu... Eu sei que a culpa não era dele, que não era de ninguém exatamente, mas ainda assim não consegui evitar ficar com raiva. Ele é a única família que ainda me resta, é tudo que eu tenho... – Keith suspirou mais uma vez, suas mãos trabalhando agora nos hematomas, usando de uma pomada para aliviar a dor, não existia muito mais a se fazer. O pior talvez fossem as queimaduras, era provável que se tornassem cicatrizes, marcas eternas... Uma lembrança constante do abuso. – Seu irmão... Ele sabe que isso acontece?

— Não... Aleja... Minha irmã, ela age diferente na frente dele. Acho que é porque ele é mais velho, eu não sei ao certo.

— Por que você não diz nada então? Ele é seu irmão, deveria saber. E se são tão próximos como você diz, então ele não gostaria que isso acontecesse.

— Ruan já tem problemas de mais em sua cabeça para lidar, não precisa se preocupar ainda mais comigo. Eu posso lidar com isso, Aleja só fica daquele jeito quando está bêbada ou drogada. Eu não quero causar mais tensão entre os dois, também.

— Mesmo que você esteja sofrendo com tudo isso?

— Não importa realmente.

— Como assim “não importa”? Como algo assim pode não importar? Lance, ela poderia ter te matado!

— Ela não faria isso... – mesmo Lance não poderia acreditar naquilo. – Ela apenas... Ela apenas estava um pouco alterada, nunca realmente passa daquilo. Mudar para cá não foi fácil pra ela, nossos pais continuam exigindo tanto dela, principalmente agora que passou dos vinte, ela tem muito o que lidar e ainda tem que cuidar de mim...

— Pare de dar desculpas para ela! Mesmo eu sei que família não se trata assim! – Keith não queria ser tão grosso, esse não era seu problema, mas depois do que viu escutar a pessoa que sofreu com isso defendendo aquela que a agrediu... Isso era apenas errado! Seus nervos não conseguiam manter-se quieto com tudo isso. Lance estremeceu, encolhendo-se em si mesmo, tentando parecer pequeno, mas Keith já tinha tido o suficiente disse, uma de suas mãos caindo sobre a coxa do rapaz. – Essas marcas mostram que nada disso está certo, Lance! Não consegue ver?! Aquela mulher está te matando aos poucos e você não faz nada!

— Essas marcas não são culpa dela! Não foi ela que as fez, eu já disse! – Lance gritou de volta, seu corpo tentando se afastar de Keith, mas ele o prendeu, mão pesada ainda sobre a coxa, mantendo-o no lugar.

— Então o que as causou, Lance?! Olhe quantos machucados você tem! Quantas marcas no seu corpo! Por que se colocar ainda mais?!

— Você não entende! Você nem deveria ter visto isso! Nada disso!

— Pare de dizer isso! Pare de dizer que eu não deveria ver! Sim, eu não entendo o que você está passando, eu nunca dei uma merda para tudo isso! Mas agora eu quero saber! Isso vai te matar!

— E quem se importaria?! Você não sabe nada sobre mim, Keith. Você nunca saberia como é se sentir inútil, sentir que nada do que você faz é bom o suficiente! E como saberia?! O grande Keith Gyong sempre foi bom em tudo o que faz não é?! O melhor nas aulas, o melhor nos esportes, tão incrível e implacável, melhor do que todos! Como você saberia o que é se sentir como se nada do que fizesse valesse a pena?! Como você saberia o que é sentir que sua própria existência incomoda outras pessoas?! Como saberia o que é sentir um erro, uma falha?! Como você saberia como é difícil levantar da cama a cada dia, pensando que não vai valer a pena, que não importa o que você faça, o que você tente, nunca será o suficiente?! Como você saberia o que é fingir um sorriso para que as pessoas não se preocupem e você não se sinta culpado porque, hey! Elas já têm problemas o suficiente e agora você está lhes dando mais?! Como você saberia... Como você saberia o que é achar que a sua morte tornaria a vida de outras pessoas mais fácil? Como você saberia o que é se sentir tão menospresado?

O rapaz respirou profundamente, os ombros tremulos, lágrimas voltando a encher seus olhos enquanto as mãos se apertavam no que poderiam segurar, com tanta força que Keith imaginou que suas próprias unhas estivessem a cortar a carne na palma das mãos. Quando ergueu o olhar novamente, não existia o que dizer. O desespero no mar azul não seria comparado a nenhum outro.

— Tento dizer que não é nada, que vai passar, que é apenas bobagem da minha cabeça, mas nunca passa! Tem dias que me sinto melhor, que me sinto bem, que parece que tudo vai dar certo... Alguma coisa na minha cabeça continua a dizer que não valhe a pena, que eu não vou valer a pena. Que sou eu que atrapalho meus irmãos, minha família, que não sirvo mais do que ocupar um maldito espaço que poderia estar sendo usado para algo mais útil! Eu não consigo parar de pensar nas minhas falhas, nos meus erros! Sou sempre irritante, incomodando as pessoas, fazendo piadas quando não deveria! E por mais que tente ajudar eu sempre acabo atrapalhando! Tudo apenas me faz pensar que a vida seria melhor sem mim! Eu não sei o que mais fazer!

Com sinceridade Keith também não sabia.

Quer dizer, merda ele não sabia o que fazer na metade do tempo e agia em grande parte por puro instinto animal. Muitas vezes Takashi o provocou por conta disso, dizendo que se não o conhecesse acreditaria que tinha sido criado por lobos durante toda sua vida, o que parecia ser uma boa explicação para a maior parte do seu comportamento se não fosse pelo fato que ele sabia que não tinha sido esse o caso. Lidar com pessoas chorando então definitivamente estava fora de sua linha de capacidades.

Porém, definitivamente não poderia deixar Lance daquela maneira, sentia que deveria fazer alguma coisa, então apenas fez o que sempre fazia: deixou que seus intintos o guiassem, puxando o moreno para um abraço desengonçado, quase duro, sem jeito. Em sua defesa Keith não tinha o costume de tocar nas pessoas, a maioria mantinha-se em uma distância considerável dele e as únicas demonstrações de afeto tinham vindo de seu irmão ou seus pais adotivos que normalmente eram um bagunçar de cabelos ou um aperto no ombro.

— Eu... Eu realmente não entendo nada disso... Mas não sou bom em tudo... Eu não sei o que estou fazendo metade das vezes e sempre acabo me metendo em confusão... E eu posso não saber o que estou falando, mas... Tenho certeza que existem pessoas que se importariam se você não estivesse mais aqui...

Lance fungou, agarrando-se com força em sua blusa, como se sua própria vida estiver a depender disso, como se Keith fosse sua única âncora, seu pilar, continuando a chorar desesperadamente em seu ombro.

Era... Estranho. Parecia ser a única palavra a descrever cada situação com Lance, porém nunca era ruim. Era confortável, Keith se sentia especial em ser aquele a poder segurar Lance daquela maneira, em poder ajudar e ainda assim sentia-se mal por não conseguir fazer mais, por não poder simplesmente acabar com aquela dor que o rapaz provavelmente continuava a sentir. Sentia-se protetor, achando tão errado ver Lance sem seu costumeiro sorriso, sem sua atitude confiante. Sentia-se com vontade de arrancá-lo daquela casa, não deixa-lo voltar, afastá-lo de tudo... Mas sabia que não podia.

Depois de alguns longos minutos, Lance fungou novamente, desenterrando o rosto de seu ombro.

— Heh... Realmente você não é bom em tudo, seus abraços são terríveis. – zombou divertido e Keith não conseguiu negar a leve fagulha de alegria que sentiu em seu peito, pequeno sorriso se desenhando em seu rosto.

— Se reclamar eu solto.

— Não! Eu vou ficar com seus abraços horríveis. Eu realmente precisava disso.

Eles mantiveram o contato, Lance era o tipo de pessoa que precisava não apenas de palavras, mas algum tipo de conforto físico. Conversaram durante a resto da noite sobre coisas casuais, trocaram conversas de todos os tipos antes de desabarem um sobre o outro em algum momento no meio da noite. Foi agradável e Keith não se importaria de repetir, tirando obviamente os machucados e problemas.

Porém, ainda não tinha terminado com a situação. Keith ainda tinha perguntas e apenas uma pessoa parecia poder responde-las.

No dia seguinte encurralou Frisk em seu caminho para casa, puxando-a para um canto isolado o suficiente para que pudessem conversar.

— Olá para você também Keith. Como tem sido seu dia? – ela comentou em um tom casual, mesmo depois de não ter sido gentil ao arrastá-la até onde estavam. Parecia até mesmo ter um pouco de divertimento em sua voz.

— Você sabia o que eu ia ver, por isso me enviou até lá. Como?

— Eu sei muito mais do que você imagina, Keith. Fiquei um pouco preocupada de você realmente não ir, eu teria que interferir por mim mesma. – então ela não deixaria Lance, isso era um alívio. Por mais que tivesse certeza da personalidade da garota, ela era um mistério suficiente confuso e grande para duvidar às vezes. – Essa situação se repete uma e outra vez, principalmente pelo irmão mais velho de Lance não estar em casa, mas acho que você já deve ter imaginado isso. Contudo, indo direto ao ponto, parece que eu ganhei a aposta no final.

— Não venha com brincadeiras, o que mais você esconde?! O que mais você sabe?!

— Não entendo porque pessoas que tem segredo odeiam que outras pessoas também tenham os delas. – Frisk suspirou, olhar cansado em seu rosto com igual exasperação. – Todos nós temos nossos pequenos segredos sujos, Keith. Pode ser um familiar abusivo, pode ser a marginalidade, pode ser a missão de vigiar a pequena irmãzinha de sua chefe.

— Como você...

— Já chegamos a conclusão que eu sei muito mais do que parece e que eu não vou dizer como, não chegamos? Então, voltando ao assunto original, você me deve um favor.

— Você... – Keith grunhiu, irritado por ser por ser manipulado de tal maneira. Ele nunca foi muito de usar o cérebro, era uma verdade que seu uso estava basicamente voltado para os músculos. Ser tão descaradamente sobrepujado estava lhe tirando os nervos, porém. No entanto, não tinha nada que pudesse fazer agora. – Tudo bem... O que você quer.

— Que fique de olho em Lance.

— O que? – estava virando um costume para as pessoas ordená-lo a tomar conta de outras? Pelos deuses ele não era uma babá!

— Não do jeito que você está pensando. Lance não precisa ser mimado, ele sabe se cuidar, apesar de tudo. O que eu preciso é de alguém que possa ficar a seu lado, que possa segurá-lo para que não caia quando está mal.

— Por que você não faz isso? É mais próxima dele do que eu.

— Eu não posso estar lá por ele o tempo todo, tenho muito em minhas mãos e não posso dar a Lance a atenção que precisa. Para não dizer que não seria possível para mim dar o tipo de atenção que realmente pode ajuda-lo.

— O que quer dizer.

— Lance já tem um amor de família e um amor de amigos, mas às vezes precisamos de algo um pouco mais íntimo. Alguém que consiga chegar perto o suficiente para passar as barreiras que colocamos. Não um amigo, não um irmão, algo mais. – olhos dourados o perfuravam, com tanta intensidade que pareciam ver sua alma. Keith sabia para onde esse caminho ia, sabia o que ela queria dizer, mas... Não, isso não daria certo. – Não me dê esse olhar, Lance gosta de você, mais do que como um amigo. Não diga a ele que eu te disse. Ele precisa de você, Keith. Sei que pode ser de mais para te pedir, mas se meus olhos estão vendo direito, creio que você também gosta dele, desse jeito. Não quero que se force, porém. Descubra a seu tempo o que está acontecendo, mas, por favor, esteja com ele. Ele precisa disso, precisa ser amado de alguma maneira mais profunda para entender que ele tem seu lugar, que ele merece estar aqui nesse mundo tanto quanto qualquer um. Eu já tentei tanto... Mas novamente não posso dar toda essa atenção.

— Por que? Por que você não pode? Vocês estão tão próximos quanto um relacionamento, eu vi! É mais provável que ele goste de você assim do que de mim. – a declaração o doeu um pouco, mesmo que fosse verdade, porém, Frisk negou com suavidade.

— Meu foco está em outro lugar. Somos próximos, mas... Eu nunca vou poder dar esse carinho. Ele não o quer de mim e eu já tenho alguém reservado para ele. É o favor que te pesso. Vá descobrindo isso aos poucos, dê uma chance a ele. Por favor.

— Mesmo sabendo o que eu sou? O que eu faço? Como pode confiá-lo a mim?

— Eu não confiava, até hoje. Você poderia tê-lo deixado lá, poderia ter deixado tudo isso de lado, mas você ficou, você o ajudou. Você o levou até sua casa e o cuidou. Isso mostra que, de alguma forma, você se importa, você se preocupa. – Frisk sorriu, um enorme sorriso carinhoso. – E não se engane. Lance pode saber se defender quando quer, apenas não do mesmo jeito que você. Ele apenas não gosta disso.

Não parecia um grande favor, mas Keith sabia o peso que ele tinha. O quão delicado poderia ser. Ainda estava inseguro, não sabia se poderia, mas queria proteger Lance, queria conhece-lo mais. Ontem foi apenas um incentivo a mais. Talvez... Talvez isso fosse bom até mesmo para ele mesmo...

— Tudo bem. Vou fazer isso. – o rosto de Frisk tornou-se reluzente.

— Obrigada!

No final, vermelho e azul sempre se deram muito bem juntos.


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Notas finais do capítulo

Então, isso foi mais para descontrair mesmo. E eu gosto do Keith e do Lance, então decidi um especial para eles não faria mal.
O próximo será da Chara e novamente será importante para a continuação da história que, também, será depois do próximo cap. Espero que estejam prontos para chorar.
Até!



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