FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 42
Especial: Acidente


Notas iniciais do capítulo

Guess how is back!!
Eu realmente pensei que não conseguiria mais voltar com a fanfic, porém! Aqui estou eu com mais um capitulo!! Sei que vocês estão surpresos, eu também estou! Vou chorar...
Não disse a ninguém que estava com capitulo novo em mãos já preparado kkkk, sou muito cruel! Mentira que nem foi tanta crueldade.
Aliás, sei que vocês estão "poxa, mas não poderia ser um capitulo sequencial a história?". Bem, eu acho que já havia avisado que seriam três especiais antes de começarmos mais um "arco" em Fusion. Infelizmente não consegui terminar os três especiais, era minha pretensão postar os três de uma vez, no entanto, estou postando-os separados para me dar mais tempo de empurrar essa história para frente o máximo que puder.
Sem falar que os Especiais, como aqueles que leem sabem, sempre fazem parte do roteiro original da fanfic. São como Spin-off que ramificam um pouco mais sobre outros personagens, outras linhas do tempo, etc.
Espero que gostem!



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FusionTale – Especial: Acidente   

Em uma visão simples dos fatos Gaster seria capaz de permanecer de quatro a cinco dias sem o devido descanso, tendo no máximo alguns poucos cochilos breves de quinze a vinte minutos. Como uma mente inteligente e curiosa, ele sabia que não era aconselhável, porém era um de seus maus hábitos e se via difícil largar. A insônia era sua companheira e muitas vezes a animação e euforia sobre novas descobertas em seus estudos juntava-se a ela para atormentá-lo quando deveria descansar, arrastando-o até a exaustão extrema. Porém, agora, em seus dias atuais durante seu segundo ano de faculdade, ele não mais se recordava qual foi a ultima vez que conseguiu fechar os olhos.

Cada vez que tentava ou que se deixava cair pela tentação de seu corpo cansado, pesadelos terríveis estavam a sua espera. Uma presença esmagadora que o puxava para baixo, afogando-o em uma massa furiosa de emoções principalmente negativas. Tão reais, tão vivídos que tinha certeza que seu corpo reagia no plano real, sua magia já começando a ser afetadas em proporções catastróficas, sendo a primeira e única vez até então no laboratório de Orto. Foi sorte que ele não estivesse no momento, Gaster não teria se perdoado se o tivesse machucado. O homem era como um pai em sua visão.

Talvez foi quando começou a evitar qualquer tipo de descanso, afogando-se em seus estudos e sustentando-se a base de cafeína e energéticos. Asgore continuava a dar-lhe olhares preocupados, mas já não insistia mais, sabia que seu companheiro não o escutaria.

Não como se Gaster não quisesse escutá-lo. O que mais desejava esses últimos dias era poder deitar em sua cama e dormir por um mês ou mais, porém o medo levava o melhor dele.

Com o tempo foi fácil notar os efeitos que a falta de sono lhe causava. Tornou-se paranoico, ao ponto de acreditar que a presença que lhe perseguia em sonhos agora o estava perseguindo acordado. Estava estressado, mal-humorado, suas brigas com Regular estavam se tornando cada vez mais sérias, sem mais o toque de brincadeira e provocação que antes continham e isso perturbava Asgore. O pobre homem não queria tomar nenhum lado, odiando ser posto entre dois amigos. Gaster se sentia mal por isso, não queria que isso acontescesse, Regular e Asgore eram seus dois únicos amigos, os primeiros até, era injusto com eles, não tinham culpa de nada, mas sua mente entorpecida e cansada não conseguia pensar em linha reta e muitas vezes acabava por ter reações explosivas. Suas emoções também perdidas e confusas no meio de toda essa confusão, açoitada por sentimentos que não eram seus, mas o afetavam da mesma maneira.

Asgore o aconselhou ir a um psicólogo, talvez tomar uma folga da faculdade, contudo Gaster sabia que nada disso resolveria. Na verdade, ele sentia-se tão próximo de seu fim que quase conseguia tocá-lo.

Sua alma agora tinha mais negro do que sua cor original, devorada pela anti-mágia tão profundamente que ele tinha medo do que aconteceria quando se completasse.

Perderia sua mente? Morreria? O que se tornaria em seguir? Perderia sua existência? Sua excência?

Deuses ele estava tão assustado! Os resultados de sua pesquisa não chegavam rápido o suficiente e podia ver que até Orto estava começando a perder sua calma constante.

Suas esperanças eram baixas...

Agora, lendo debaixo de uma árvore nos jardins do campus, lutando contra o sono e o cansaço enquanto fugia de seus amigos, procurava colocar em ordem seu cérebro novamente. Não era justo que eles afundassem juntos com Gaster, eles não precisavam vê-lo definhar, estava determinado a poupá-los de tal visão. Seria melhor afastar-se, sempre conseguiu dar seu jeito sozinho, agora também não seria um problema. Precisava protege-los do que essa mancha o estava tornando.

Um suspiro escapou de seus lábios, tentando novamente ajeitar-se sobre o chão, talvez pela terceira vez em um curto período de cinco minutos. Não estava conseguindo se concentrar, seus olhos continuavam insistindo em tentar se fechar e seu corpo sentia-se entorpecido pelo cansaço, tornando-se lento, pesado. O mais simples dos movimentos parecia levar um grande esforço para ser feito.

Deuses o que ele não daria para um bom descanso?

— Ei! – a voz inesperada exclamou animada a seu lado, sobressaltando-o o suficiente para que o livro em suas mãos quase se derrubasse ao chão. Quando seus olhos se ergueram para encontrar o dono da voz, deparou-se com olhos azuis, rosto sorridente de um rosado claro próximo ao seu, cabelos loiros de um ondulado cheio a contorna-lo. Era um rosto famíliar, mas sua mente ainda perdida não conseguia lembrar-se onde o viu – Gaster, não é?! Nos encontramos uma vez, quer dizer, eu quase te derrubei uma vez! Lembra de mim?! Sou Mirian!

— Oh! Você foi a garota que deu um golpe de judô no valentão ano passado.

— Hehe, você viu isso?! Acontece algumas vezes, mas é melhor do que deixar Tori queimá-los. Ela é um doce, mas pode ser assustadora quando quer. Como uma mãe! – Gaster coçou um de seus olhos, tentando tirar os resquícios de sono que ainda mantinham-se persistentes neles e focar na garota a seu lado. Ela parecia animada enquanto tagarelava e Gaster ainda se recordava perfeitamente de quando se encontraram pela primeira vez, ele nunca conseguiu apagar a admiração que sentiu quando ela derrubou o idiota que a incomodava. – O que está fazendo?!

— Eu... hum... Apenas estudando. – ele comentou, não sabendo se realmente deveria chamar o que fazia de estudo. Quer dizer, ele mal tinha conseguido passar de duas págias de leitura em todo o tempo que esteve ali.

— Você realmente é o nerd que Regular disse. É estranho não vê-los juntos, na verdade. Vejo vocês pelo campus com muita frequência junto com aquele grandão loiro, qual o nome dele mesmo? Armim? Aron? Alvin?

— Asgore.

— Isso! Sabia que era alguma coisa com aletra a! Vocês brigaram?! Não que seja da minha conta, mas talvez ter alguém para falar ajude! Presumindo que seja isso!

— Algo assim...

— Brigar com os amigos é complicado, eu entendo. Tori sempre perde a pasciencia comigo, diz que sou muito preguiçosa para o meu próprio bem, ela é como uma grande mãe e eu adoro ela, mas tem vezes que é sufocante, sabe?! Mas não se preocupe, vocês são amigos, vão conseguir resolver qualquer coisa! – Gaster não tinha tanta certeza sobre isso. Mas o que poderia saber? Até chegar em Ebott ele não tinha tido nenhuma boa experiência com contato humano. Até então ele acreditaria que Regular e Asgore se cansariam dele e de seus problemas estranhos.

— Não estou muito afim de falar sobre isso...

— Oh! Hum, bem, eu entendo isso também! Do que você quer falar?! – ela se acomodou a seu lado, pernas cruzadas e olhar atento, dando a entender que não iria embora. Gaster não conseguia entender o subto interesse. Sendo uma conhecia de Regular ele estava começando a imaginar que seu amigo a tinha enviado tendo plena noção da atração de Gaster por ela, já o tendo provocado mais de uma vez quanto a isso. – Você parece cansado, não tem dormido ultimamente?!

— Tenho tido... Hum... Dificuldades para dormir, na verdade... – Mirian abriu a boca para comentar, mas Gaster também não queria falar sobre esse assunto, então se apressou em trocar o foco. – Como você conheceu Regular?

— Oh?! Essa é uma história engraçada na verdade. Eu tinha acabado de chegar na faculdade e queria procurar alguma coisa para passar o tempo. Como já tinha feito artes marciais desde pequena, pensei que seria uma boa ideia continuar, talvez uma aula de tiro, mas não tinha certeza se tinha algo assim dentro do campus, então eu...

Gaster queria ter prestado atenção, ele realmente queria, mas o tagarelar incessante continuava e continuava até tornar-se um zumbido de fundo, sua mente sendo puxada para outros cantos, cansa de mais para se concentrar. Viu-se sendo arrastado para a inconsciência, toda a situação sendo confortável de mais para realmente resistir, o que era estranho, principalmente por ter alguém ao seu redor, alguém que nem ao menos conhecia.

Quando deu por si, tudo estava escuro.

Despertar em seguida foi o mais estranho que poderia experimentar. Depois de tanto tempo acordando com a sensação de estar sendo rasgado para fora de seu corpo, afobado e assustado, ter algo tão tranquilo era... Bizarro. A sensação se sentia estranha, seu corpo ainda entorpercido pela dormência, sua consciência retornando tão lentamente que precisou de alguns segundos para recordar-se onde estava.

Definitivamente não se tratava do laboratório ou de sua escrivaninha, o lugar onde deitava era confortável de mais para qualquer um dos dois e fazia muito tempo que não deparava-se com sua cama para que realmente fosse ela, era bem capaz de nem mais se recordar como ela se sentia. Mas então onde estava?

— Esta acordado? - com um sobressalto Gaster se pós sentado, olhos abertos e surpresos ainda confusos pelo seu entorno. Inicialmente encontrou-se cego, seus olhos embaçados e desfocados levaram alguns segundos para se acostumar, tonto pelo erguer rápido do corpo. Uma mão pequena o apoiou, segurando suavemente em seu ombro, dando a confirmação de que não estava sozinho, mente trabalhando furiosa para recordar os últimos acontecimentos. – Ei, calma agora. Você esteve dormindo por um tempo agora.

— Q-quantas horas? P-por quanto tempo eu estive assim? – o que antes era um céu claro durante o curto período da manhã, agora era alaranjado, manchado de roxo e baixa claridada, marcando o que seria o final da tarde. Ele... Não poderia ter dormido por tanto tempo, poderia?

— Seis e quinze da tarde. Você deveria estar realmente cansado, não quis despertá-lo quando parecia ter um sono tão bom. Se sente melhor agora?

— Sim... Na verdade sim... – era... Estranho. Ele não deveria dormir por tanto tempo sem ter um pesadelo. A sensação de paranoia e medo haviam desaparecido completamente, nada de despertar com a sensação de ter sua alma arrancada, nada como o descontrolar de sua magia e o assombrar de sentimentos que não eram seus. Não existia nada mais do que o doce relaxar de uma boa noite de sono.

— Que bom! Sabe, você deveria se cuidar um pouco mais, sei que estudar é importante, mas um bom descanso é essencial para manter-se funcionando corretamente. Eu pessoalmente não abro mão das minhas sonecas, Tori já disse que tenho um jeito de gato de adormecer em qualquer lugar, até mesmo durante as aulas! Mas isso não é bom... Mas eu juro que não é culpa minha! Eu tenho essa teoria de que a voz de um professor tem algum tipo de sonífero sonoro embutido que faz com que você durma durante as aulas! E que apenas alguns são imunes ou resistentes o suficiente! – a garota tagarelava animada, enorme sorriso em seu rosto, voz estridente elevando-se cada vez que empolgava-se com algum assunto.

— V-você... Você ficou aqui... O tempo todo? – Gaster perguntou incerto, seus olhos atentos sobre a garota enquanto seu rosto tornava-se vermelho. O deuses, não bastava ter adormecido enquanto ela falava...

— Claro! Não poderia deixa-lo sozinho aqui fora! Não seria certo! Além do mais não foi incomodo algum! Aliás, espero que não se importe, mas peguei seu livro para passar um pouco do tempo e vou dizer, estou impressionada! Você realmente consegue entender o que está escrito nele?! Eu passei uma boa parte de tempo tentando desvendar o significado de algumas palavras, mas tem realmente algumas coisas interessantes que eu nem imaginava! Vou admitir também que suas notas ao redor dos capítulos ajudam bastante também! Você deve ser tipo, super inteligente!

— N-não... Bem... E-eu... Não diria... Isso... Eu acho... – eu rosto tornou-se ainda mais rubro com todos os elogios. Tudo bem, Gaster os ouvia às vezes de seus professores, mas escutá-los daquela garota o fazia inchar de orgulho, não tendo muita certeza do motivo. Quer dizer, alguém como ela prestando atenção em alguém como ele? Ninguém realmente acreditaria.

— Mas estou falando sério quando digo que deveria dormir mais. Regular está preocupado, eu posso dizer, mesmo que ele não fale. Ele é desse tipo marrento que nunca vai admitir quando gosta de alguém, mas é fácil dizer quando isso acontece. Você é importante para ele e parece ser um cara legal. Estudos são importantes, mas não os coloque sobre sua saúde. – olhos azuis o encararam genuinamente preocupados e sérios. Era uma visão estranho sobre a garota, mas isso fez Gaster recordar desse pequeno importante detalhe.

— A... Sim, eu acho que tem razão... Se me dá licença preciso ir em um lugar. – tão rápido quanto pode levantou-se e correu na direção do laboratório de Orto, esquecendo-se por completo de seu livro ainda nas mãos da garota sentada sob a árvore no qual estava antes, atordoada por sua subta escapada.

Por que os pesadelos não vieram? Por que sua magia não saiu de controle? O que havia mudado? O que era diferente para isso acontecer? Ele precisava encontrar Orto e ver o que havia de diferente. Talvez algum sinal em sua alma, talvez pudessem pensar juntos para encontrar o que tinha acontecido, talvez fosse a solução para tudo isso! Se fosse algum tipo de brecha, se tivesse algum tipo de resposta que eles poderiam usar... Então talvez não tivesse mais que ter medo do dia de amanhã, se ia ou não despertar, se ia ou não machucar mais alguém.

Estaria finalmente livre!

Suas expectativas estavam altas quando adentrou no laboratório de seu tutor, encontrando-o exatamente lá, como se já o estivesse esperando, como se soubesse que estaria ali.

Orto testava algumas teorias que tinha tido de ultima hora, quase não reparou em sua presença mesmo que tivesse feito barulho ao entrar. Ele estava preste a lhe contar sobre todas elas e seus resultados aparentes quando Gaster começou a tagarelar sobre o acontecimento o que era deveras uma mudança de personagem. Gaster era uma pessoa reservada e naturalmente introvertida, mas com Orto ele poderia falar a vontade, com tanta animação como desejava. Acreditava que era porque ambos tinham assuntos em comum e gostavam das mesmas coisas, dando mais liberdade para o mais novo, tornando-o a vontade o suficiente para se soltar.

Quando Orto ouviu sobre a notícia concordou que o primeiro que deveriam fazer era averiguar a alma de Gaster para qualquer mudança aparente.

— Hum... Parece que realmente ocorreu uma pequena mudança de concentração de ante-magia em sua alma. – Orto comentou, olhos presos no monitor que estava conectado a alma de Gaster, trazendo uma analise detalhada de seus componentes. – É deveras interessante, meu garoto.

— Quer dizer que o tumor diminuiu? – Gaster olhou com descrença para sua alma, sentindo o longo arrepio que subiu por sua coluna com a constatação de a mancha negra tomava quase por completo toda sua extensão, pouco faltava para tomar tudo. Ele tentava evitar encarar na maioria das vezes, mas dessa vez ele precisou prestar atenção... Nenhum mudança visível, porém. – Não parece ter...

— É uma pequena quantidade de magia. É impressionante que essa pequena mudança já tenha sido o suficiente para te livrar dos pesadelos... Hum...

— E, o que devemos fazer com isso? Quer dizer, nem sabemos o motivo pelo qual o equilíbrio variou.

— Na verdade... Você esteve em contato com alguém nesse meio tempo?

— Bem... Hum... Eu acabei por adormecer enquanto conversava com uma pessoa.

— E ela permaneceu com você o tempo inteiro em que estava dormindo?

— Sim, mas por que isso importa?

— Bem, meu caro, acho que encontramos a solução para seu problema! – Orto exclamou animado, enorme sorriso voltado agora para Gaster que ainda não entendia. – A magia que cresceu em sua alma não é sua.

— O que? Como?

— Existe uma pequena diferença entre as suas ondas mágicas e as novas que foram injetadas, sinceramente é muito pequena, quase imperceptível se não olhar com atenção. Minha teoria é de que enquanto essa pessoa estava em contato com você a magia natural de seus corpos, por serem compatíveis, fez uma transferência, porém, como você tem menos quantidade acabou por receber mais do que doou. Isso deu a sua alma mais magia e empurrou a ante-magia.

— Quer dizer que se acrescentar magia de algum jeito na minha alma ela vai naturalmente empurrar a anti-magia?

— Bem, minha teoria é de que como a alma é uma composição totalmente feita de magia ela aceitará mais facilmente a recepção desse elemento e empurrará para fora a anti-magia, seja da onde for que ela surgiu.

— Mas nessas quantidades levaria uma eternidade até ter magia o suficiente se quer para me tornar funcional!

— Aí que vou lhe dar uma ideia, meu rapaz, mas vai ser arriscado. – Orto retirou seus óculos, olhar sério e preocupado brilhando em direção ao monitor. Ele estava nervoso, hesitante, algo que Gaster não costumava ver. Seja qual for a ideia não era uma em que estivesse em total acordo. – Acredito que o que tornou a transferência tão baixa foi a falta de contato. Porém, se ingetarmos diretamente magia em sua alma então talvez o processo seja mais rápido e mais efetivo.

— Diretamente? Isso já foi feito alguma vez?

— Não, jovem. Ninguém precisou até então. Nem ao menos sei se é seguro, principalmente com a pouca quantidade de informações que temos sobre a composição da alma e da magia. A alma é muito delicada, qualquer mudança drástica muito provavelmente te colocaria em um risco irremediável. Eu sinceramente desaprovo a ideia, mas não vejo outros meios, então a escolha deve ser sua. Se não quiser esse método então podemos estudar mais um pouco, fazer alguns outros testes até encontrar uma solução melhor.

Gaster pensou um pouco, mesmo que estivesse já com sua resposta.

Ele estava cansado dessa situação, cansado de ter medo, cansado de ter medo de si mesmo e o que poderia fazer a aqueles que gostava, afastando-os de si mesmo. Ele queria uma vida, principalmente agora que tudo parecia estar entrando em seus eixos. Se para isso ele precisava tomar um risco tão grande, então ele o faria.

De qualquer maneira o resultado final sempre seria a morte ou o desaparecer de sua existência. O que, sinceramente, ele considerava o mesmo.

— Vamos fazer isso. – disse com convicção.

— Você tem certeza, garoto? Sabe que não precisa ter pressa, nós sempre podemos encontrar outra solução...

— Eu tenho certeza, Orto. Sinto como se minha alma estivesse por um fio e cada dia que passa fica pior. É como se não fosse acordar sempre que tiro uma soneca ou como se a qualquer instante eu vou deixar de ser... Eu. Não mais consigo dormir, sinto medo a cada instante da minha vida e minhas emoções estão fora de controle. Tenho medo que a qualquer momento vou perder o controle da minha magia e machucar alguém que me importo. Não sei o que vai acontecer quando minha alma for tatalmente dominada por isso, mas eu não quero desaparecer. Eu não quero morrer agora, não ainda. E parece estar tão perto a cada dia... Eu não posso esperar por mais tempo. Nem sei se tenho mais tempo. – Gaster levou uma mão a seu peito, onde sua alma normalmente se encontrava, apertando a mão com nervosismo. – Eu estou cansado, Orto.

Ele ainda não tinha vivido o suficiente.

— Tudo bem garoto, vamos fazer isso. Mas em meus termos, você é como um filho para mim e não vou permitir que a pressa cause um problema ainda maior para você. – Orto colocou uma mão sobre seu ombro, apertando-o em conforto. – Vamos resolver isso, você não vai sumir, eu prometo.

Gaster sorriu, sentindo que aquelas palavras realmente eram verdadeiras. Ele poderia confiar em Orto.

 No dia seguinte Gaster encontrou a mesma garota na cafeteria. Ela tinha adormecido sobre a mesa e Gaster não tinha certeza se deveria despertá-la. Bem, ele também pensava que não deveria deixa-la ali. Urg, por que esse tipo de coisa era tão complicado?

— Hum... Ei... Acho que você não... Hum... Deveria estar domindo aqui... – com um toque sobre o ombro, ainda inseguro, Gaster sacudiu a garota, apenas para receber um resmungo incoerente como resposta. Obviamente não seria fácil. – Ei! Mirian, você deveria acordar.

— Não coloque mais batata frita no meu ketchup, Tori...

— Por algum motivo eu acho que essa frase não saiu exatamente errada...

— Hum? Oh! Eu dormi! – com um salto a garota se pôs em pé, seus olhos a vagarem pelo lugar até finalmente pararem em Gaster. – Ah! Eu estava esperando por você! Perguntei ontem para Regular onde poderia encontra-lo e ele me disse que aqui era onde você costumava pegar seu “combustível” e... Sinto muito, estou falando de mais novamente. – enquanto tagarelava Mirian buscava em sua mochila alguma coisa, até finalmente retirar um livro bastante familiar. – Você deixou isso comigo ontem, então vim devolver e... Pedir desculpas se te incomodei. Eu costumo falar de mais e sei que pode ser irritante.

— Não foi irritante, eu que deveria me desculpar, acabei dormindo em você.

— Nah! Isso não foi nada! Você estava tão cansado que não foi uma surpresa. Você tem estado melhor?

— Sim... Bem... Mais ou menos eu acho. Estou tentando dar um jeito nisso...

— Isso é bom, precisando é só pedir! Mesmo que seja para um cochilo da tarde! Sou especialista! – ela disse com orgulho, peito estufado enquanto apontava para si mesma com um enorme sorriso. Gaster não conseguiu evitar rir.

— Sim, posso ver. Sinceramente não estava disposto a acreditar que você dormia em qualquer lugar, mas pelo que vi hoje acho que não vou mais duvidar.

— Você... Você realmente ouviu...

— Bem, claro. Por que não ouviria?

— Bem... As pessoas não costumam... Me escutar até o final, sabe? Eu sempre começo a tagarelar e é um costume que comecem a me ignorar depois de um tempo. Estou acostumada a falar sozinha.

— Eu gosto de escutar você! – Gaster exclamou, só para em seguida perceber que tinha dito mais alto do que deveria. Droga, por que apenas agora ele deveria ter problemas com hormônios e garotas? Um pouca de experiência poderia ajudar bastante nesses momentos. – Quer dizer... Deuses isso ficou estranho... Eu... Bem... D-digamos... Eu... N-não costumo f-falar muito, então... Eu... Sabe... G-gosto mais de escutar e... Não acho q-que o que você fala s-seja... irritante...

Se seu rosto pudesse ficar mais vermelho então Gaster deveria trocar seu nome para Tom ou Mat, apenas para combinar com tomate. Que os deuses tenham piedade dele e abram um buraco para se enfiar pelo resto de sua vida miserável.

Mirian, no entanto, abriu um enorme sorriso.

— Você é tão fofo!

Apesar de seus tropeções, Mirian acabou por gostar dele da maneira como ele era.

O passar de seu semestre foi apenas em um caminho lento, intercambiando seu tempo entre o laboratório, estudo e algum tempo com os amigos ou, muitas das vezes, Mirian. Os dois tinham tornado-se bem próximos desde sua conversa na cafeteria e, aos poucos, tornavam-se grandes amigos... Crescendo para, talvez, algo a mais.

Com relação ao progresso de sua alma Gaster realmente não sabia o que dizer. A transfusão de magia diretamente em sua alma estava indo bem, mas ainda parecia ter alguns contratempos, como por exemplo o fato de que nem toda magia tinha uma sincronização compatível com a sua, trazendo a rejeição se injetada muito rapidamente. E, Gaster deveria dizer, não nem um pouco agradável a sensação.

Como era um experimento muito mais físico do que qualquer outro que tiveram que fazer e extremamente mais arriscado, Orto decidiu não arriscar qualquer chance. Os monitores do laboratório estavam constantemente ligados a sua alma durante o processo de cura, prontos para alertar se qualquer coisa saísse do controle no meio tempo em que inseriam magia nela, enquanto o fluxo de magia era pequeno, lento, extremamente controlado para que nenhuma reação colateral surgisse. Ninguém queria saber o que aconteceria com uma alma sobrecarregada ou que começasse a se partir, o quanto mais evitassem essa situação, melhor seria.

Por sorte o trabalho árduo estava dando frutos e pouco a pouco a mancha negra diminuía, as emoções de Gaster começavam a estar mais dentro de seu controle e as noites de sono novamente dentro de seu período normal, sem mais pesadelos constantes a cada piscar de olhos ou paranoia.

Por algum motivo Gaster sentia-se mais confortável em adormecer ao lado de Mirian, os pesadelos sendo um passado distante enquanto estava a seu redor. Muitas vezes foram encontrados a tirar pequenos cochilos juntos e Regular nunca se calaria sobre isso. Por sorte ele não era o único alvo de provocações, vendo que Asgore era tão ruim quanto Gaster em esconder sua enorme paixão por Toriel, a melhor amiga de Mirian. Pobre homem, não conseguia dizer uma palavra coerente para salvar sua vida enquanto estava ao redor da bela mulher.

Sua relação com seus amigos também parecia estar a melhor. Com suas emoções sobre controle e o bom descanso relações sociais pareciam ser mais fáceis de manter, controlando aquilo que iria dizer ou fazer. Asgore estava tornando-se bastante satisfeito em ver que estava melhorando enquanto Regular adoraria provoca-lo dizendo que Mirian o estava fazendo maravilhosamente bem. Não como se Gaster realmente pudesse negar.

Ainda que tudo estivesse parecendo ir bem, Gaster sabia que estava longe de ser curado. Obviamente o progresso estava tornando-se visível em sua alma, mas a anti-magia ainda estava lá, como uma mancha persistente, muitas vezes Gaster teve a impressão de estar lutando contra a magia que se adentrava constamente em sua alma, procurando manter-se. Ele muitas vezes se questionou de onde ela vinha e porque ele a tinha, mas talvez fosse uma resposta que ele não deveria saber.

— Está pronto para mais uma sessão? – Orto perguntou, assim que o viu entrar no laboratório. Era final de semana, todos os dias, durante a parte da manhã, quando Gaster não tinha muitos afazeres e Orto não precisava dar aulas, eles concentravam-se no lento processo de transfusão de magia.

Normalmente Gaster não teria mais nada o que fazer depois de terminarem e constantemente ficava para ajudar Orto em outros trabalhos, muito apreciado pelo velho que mais vezes do que não aceitava sua opinião como se de outro profissional estivesse a falar. Gaster apreciava isso, Orto não o julgava ou depressiava pelo seu conhecimento ou por sua pouca idade, mas o escutava, levando em consideração suas teorias e argumentos. Porém, dessa vez, ele tinha um compromisso logo em seguida, tornando-o um pouco ansioso.

Tudo bem, não era a primeira vez, ele e Mirian tinha tido diversos encontros durante esse período, sozinhos ou com outros de seu grupo, agora mesclado em um enorme amontoado de amigos, mas Gaster nunca poderia evitar sentir-se nervoso entorno da pequena garota. Cada dia em que se conheciam mais ele percebia o quão incrível de uma pessoa ela era, atraindo-o de tal forma que sabia que seria capaz de fazer o que ela lhe pedisse, qualquer coisa, sem ao menos questionar. Sua vontade era que a amizade progredisse para algo muito além, mas... Como ela poderia querer alguém como ele assim?

— Alguma coisa errada, garoto? – Orto perguntou depois do transcorrer de alguns minutos de sessão. Gaster estava inquieto, revolvendo-se sobre a cadeira em que estava sentado. Era peculiar de sua pessoa, quando normalmente estava tão quieto a maior parte de seu tempo.

— Nada realmente importante... – Gaster resmungou, tentando ajeitar-se novamente sobre o banco. Ele não conseguia se concentrar!

— Sabe que pode me contar, seja o que for, certo?

— Sim, sim, é apenas que... Urg... É embaraçoso. – seu rosto tornou-se vermelho, olhar desviando para qualquer da sala. Orto sorriu em compreensão.

— Oh... Então é uma garota?

— Como você...

— Eu já tive sua idade, rapaz. Não é porque estou sozinho que não tive minha fase de namoros. – Gaster tornou-se furiosamente vermelho, quase afundando em si mesmo sobre o banco, encolhido em sua vergonha. – Não seja tão tímido, rapaz! Acontece com todos, alguns antes do que outros! Então, quem é? Seria aquela sua amiga que constantemente aparece para vê-lo? – novamente o vermelho profundo no rosto do rapaz. Orto não sabia que alguém podia mudar tanto de cor, mas levando em consideração o tom extremamente pálido do garoto, não era realmente uma surpresa que o rubor seja tão demarcado. – Então sim. Ela parece ser uma boa garota.

— Boa de mais. Eu não entendo nem como somos amigos, realmente. Ela é apenas... Urg! Não tenho nenhuma chance!

— Não se venda tão baixo, garoto.

— Mas é a verdade, vamos Orto, você me conhece! Sou socialmente estranho, a maior parte das pessoas se afasta de mim, tenho mais experiência e interesse com livros do que pessoas reais. Ela é toda brilhante, as pessoas são atraídas para ela naturalmente, e sua personalidade... Não tem como uma pessoa se importar tanto com os outros! Apenas os Deuses sabem o quanto ela pode se doar para os outros, é assustador! Não existe chances de uma pessoa como ela ter algum tipo de interesse além de amizade com alguém como eu!

— Agora, vamos parar com isso. Eu te conhecço Gaster, é por isso que digo que se essa garota não ver o rapaz incrível que tem bem diante de seus olhos, ela é cega.

— Mas...

— Não mas, esse tumor tira seus pensamentos do lugar, mas você foi forte para chegar até aqui, você é forte para continuar seguindo. Meu rapaz, mesmo com todos contra você, ainda assim você se mantem a seguir seu próprio caminho, suas próprias crenças. Ninguém é perfeito, você tem seus defeitos, mas ainda assim não deixa de ser uma pessoa incrível. Eu estou orgulhoso de ter você não apenas como meu melhor aluno, mas também como um membro da minha família. Qualquer um que esteja com você no futuro será afortunado, entendeu? – Gaster assentiu, seus olhos abertos em surpresa e rosto ainda manchado pelo rubor. – Ótimo! Agora, deixemos os assuntos constrangedores de lado, e não pense que é por muito tempo garoto, ainda tenho que conhece-la para minha aprovação final, sua alma parece ter se recuperado bastante! A anti-magia tem recuado bem! Ainda tem tido pesadelos?

— Menos constantemente. Eles ainda aparecem, porém. Os sentimentos também estão melhorando, sinto que tenho mais controle sobre minhas emoções ou... O que quer que aquilo que sentia antes fosse, mas ainda me incomodam às vezes, principalmente quando estou em alguma situação... Pouco agradável.

— Bom... Nada como antes... Se continuarmos nesse ritmo acredito que essa mancha desaparecerá antes do fim de seus estudos.

— Não sei disso, Orto... Tenho a sensação de que nunca vai desaparecer. – Gaster avaliou a mancha, quase como se esperasse uma resposta.

— O que quer dizer?

— Não sei explicar. Essa coisa... Urg, é tão estranho! É como um instinto, mas ela não vai sair, vai estar aí o tempo inteiro. É como se tivesse vida e está me dizendo que não vai embora até conseguir o que quer.

— Você diz que parece ter vida?

— Eu sei que é estranho, eu sei que não faz o menor sentido, mas é a sensação que me passa.

— Você pode sentí-la? Separadamente da sua alma?

— Algo assim. É como se fosse parte de mim, mas ao mesmo tempo não. Ela não esteve aí o tempo todo, eu não nasci assim, então deve ter vindo de algum lugar e se eu não passei para ninguém, quer dizer que não é contagioso. Às vezes tenho a impressão que meus pesadelos são reais, que essa... Essa coisa me puxa para algum lugar, é quase como se minha alma fosse arrancada. É como eu falei antes, me passa emoções que não são minhas, me guia para pensamentos que eu não tenho originalmente. É como... Como se fosse outra pessoa, outra alma, eu não sei...

— Hum... Se isso está ligado a você, talvez possamos descobrir. Temos instintivamente o conhecimento de nossas almas, o conhecimento de nós mesmos. Já ouvi sobre pessoas que, ao se concentrarem o suficiente, conseguem sentir como se suas mentes se transferissem para suas almas, ou simplesmente ficassem mais concientes sobre elas. Você já está hiperconciente de sua alma e já mostrou diversas vezes ter uma ligação com esse tumor, talvez se você se concentrar um pouco pode chegar até ele e ter respostas.

— Sabe que essas experiências não têm base científica alguma, não é?

— Estamos trabalhando com fatos que originalmente não tem bases científicas, meu caro. O que custa tentar? Magia e almas eram um mito até alguns anos atrás.

— Tudo bem... É tudo teoria de qualquer forma, que mal pode levar?

Gaster se arrependeria dessas palavras pelo resto de sua vida. Ele não deveria ter tentado, mas o conhecimento sobre o tumor poderia ajuda-lo a removê-lo de alguma forma. Eles precisavam testar tudo o que tinham em mãos para ter progresso e, naquela época, Gaster estava disposto a tudo para ver-se livre daquela coisa.

O que se seguiu foi realmente um borrão. Ele tinha alcançado a mancha e com isso caiu em um lugar que nunca desejou estar. Estranhamente lhe pareceu familiar, sentiu-se familiar, como se tivesse estado lá em algum momento, porém não se recordava. Ele o puxou e o arrastou para ele, como a tentar devorá-lo, afogando-o em um mar de negatividade, de fantasmas desesperados.

Quando despertou novamente estava no hospital. Seu rosto enfaixado incomodava terrivelmente, seu corpo sentia-se pesado e sua mente bagunçada. Ele não tinha ideia de como foi parar ali ou porque exatamente estava ali, mesmo que as dores fossem um indicativo bastante persistente.

Tentou se levantar, mas as dores rapidamente o fizeram desistir, uma mão agora apoiando-se em seu peito de forma delicada, procurando mantê-lo no lugar.

— Calma agora rapaz, você esteve um tempo fora. – a voz de Orto foi um conforto agradecido, porém, Gaster não apreciou a visão que encontrou.

O homem tinha um belo machucado em seu rosto ainda por cicatrizar, braço enfaixado e se a muleta apoiada ao lado da cama fosse qualquer indicativo, Gaster diria que ao menos um de suas pernas encontrava-se machucadas. Isso tornou seu lapso de memória ainda mais enervante.

— O que aconteceu? Por que estamos em um hospital? – Gaster observou Orto suspirar, um olhar de culpa em seu rosto.

— Eu não tenho certeza. Você passou um tempo fora do ar no laboratório, parecia que tinha adormecido até que começou a gritar. Sua magia perdeu o controle em alguma parte do momento em que tentei acordá-lo e então... Bem, tudo parou. Algumas coisas do laboratório foram destruídas, você tem uma grande força em você meu rapaz. Alguns dos fragmentos acertaram você e acho que seu corpo ainda não estava preparado para usar uma quantidade tão grande de magia então acredito que você apenas entrou em colapso e por isso tudo parou. – Orto olhou com caltela para o albino a sua frente, grande pesar ainda sobre seu peito. – Você parecia estar lutando com alguma coisa que eu não podia ver. Seja o que for que você encontrou em sua alma, é melhor não procurar novamente.

— Então eu... Foi eu que... Machucou você? – Gaster estremeceu, o frio caindo para seu estomago de forma pesada. Diversas emoções passaram por ele naquele momento, desde o medo ao auto-ódio.

— Não. Não foi sua culpa, rapaz. Nem pense sobre isso. Se eu não tivesse sugerido nada disso teria acontecido. Deveria saber que algo que te causa tanto mal como esse tumor não deveria ser avaliado de forma tão intima. Foi um erro meu. – mas Gaster não estava prestando atenção. Ele não conseguia se lembrar do que aconteceu e suas mãos tremiam em pavor.

Seu poder era muito grande, grande de mais para qualquer pessoa. Ele pensou que ele tinha o controle, ele pensou que poderia manter a todos seguros de si mesmo, mas se continuasse assim... Deuses ele machucou Orto. Alguém que era uma figura paterna, alguém tão importante e ele ainda... Deuses, o que ele deveria fazer? Seus pais tinham razão em odiá-lo. Com toda essa magia, com todo esse poder... Ele pensou que tinha o controle, mas escapando dessa maneira... Ele não podia controlar nada! Nem a si mesmo!

— Ei. – seus olhos subiram para Orto novamente, nem ao menso reparando que tinham caído para algum canto vazio da sala. – Está tudo bem, você não fez nada de mal. Apenas descanse e se deixe curar, tudo bem? Seus amigos vieram para vê-lo, mas pedi que esperassem lá fora enquanto eu tinha certeza de que você estava bem. Tenho certeza que deixariam as enfermeiras loucas se continuassem gritando.

Gaster tentou sorrir, mas o peso da culpa ainda estava ali, assombrando-o e impedindo-o de se acalmar. Ele não tinha certeza se ver seus amigos iria ajudar em alguma coisa, mas ansiava por isso. Algum respiro em sua mente conturbada.

Depois que Orto saiu quatro adolescentes, ou recém adultos, Gaster não sabia exatamente como dizer, o mais velho dentre eles tinha apenas vinte e um, não uma idade suficiente para realmente dizer-se maduro como um adulto, ele acreditou, entraram apressados, olhares preocupados em seus rostos.

— Cara! Não assuste a gente dessa maneira! – Regular gritou, apressando-se ao leito de seu amigo juntamente com Asgore. O pobre parecia quase desmaiando. – Quando Mirian ligou falando que você estava no hospital quase nos deu uma parada cardiáca! Homem, o que diabos você aprontou, seu maldito cientista louco?!

— Relugar, por favor, acalme-se. Não vá piorar o estado dele.

— Piorar?! Não tem como piorar! Olhe para ele Asgore!

— Apenas dizendo que ficar gritando não vai ajudar, apenas nos fazer ser jogados para fora do hospital.

— Eu vou chutar qualquer um que se quer tente! E depois vou chutar Gaster quando ele sair dessa maldita cama por nos assustar dessa maneira!

— Regular, se você não calar a boca, perderá a língua. – Toriel ameaçou, seu sorriso ainda em seu rosto enquanto dizia, voz doce como mel. Mesmo Gaster estremeceu em seu lugar, sabendo o que aquela mulher puderia fazer se irritada.

Foi desnecessário dizer que Regular se aquietou, olhos arregalados em pavor. Foi impossível para os outros presentes não começarem a rir também, sendo tão raras as vezes em que Regular agia tão obediente. Apenas Toriel realmente conseguia coloca-lo em seu lugar, Asgore era bom de mais para seu próprio bem e Gaster era a ultima pessoa que realmente tinha pasciencia para ser intimidador, mesmo que muitas pessoas dissessem o contrário. De acordo com Regular ele nunca seria intimidado por um nerd. Mirian era mais capaz de se juntar a brincadeira de Regular do que realmente tentar pará-lo, para grande desespero de Toriel.

— Você está bem? – Mirian perguntou, seus olhos azuis presos em Gaster com preocupação. Gaster se sentia horrível por tê-la preocupado.

— Sim, apenas um pouco dolorido. – ok, talvez não a verdade, ele se sentia miserável, mas não tinha o coração para dizer.

— O que diabos aconteceu, Gaster? Você parece péssimo! – Asgore voltou sua atenção para seu amigo mais uma vez, deixando Regular de lado.

— Um acidente de laboratório. Nada realmente muito alarmante. – dessa vez foi meia verdade. Gaster não poderia dizer o que exatamente estava trabalhando, apenas ele e Orto tinha conhecimento principalmente pelo fato de que Gaster não queria tornar publico seu tumor.

— Gaster, você veio parar no hospital, como pode dizer que não é alarmante?! – Asgore parecia exasperado, seus olhos encarando cansados seu amigo e colega de quarto. – Eu sei que essas coisas são importantes para você, mas estão te matando! Não vai fazer mal parar um pouco, amigo.

— Não é tão simples assim, Asgore. Eu não posso apenas “parar”. – se ele fizesse o tumor voltaria a crescer e então tudo piorario. Os pesadelos voltariam, o medo, a paranoia, sua magia voltaria a ser um perigo... Um perigo muito maior do que era agora. Ele não queria morrer, mas ele também não queria machucar ninguém. Precisava se livrar daquela coisa!

— Claro que você pode! Nada te impede a não ser você mesmo, Gaster!

— Devo concordar com a grande bola de pelo loira agora, nerd. Você está basicamente obcecado por esse trabalho. Não está te fazendo nada bem, quer dizer, primeiro você se mata com noites sem dormir e agora você vem parar no hospital por culpa de um acidente. Um dia vai ser irreversível, companheiro. – Regular se intrometeu, voz muito mais tranquila do que tinha começado.

— Vocês não entendem. Não posso parar! – Gaster queria que eles entendessem, mas não poderia dizer o que acontecia. Deuses, não poderia ser pior. Tudo estava indo bem... Ele estava melhorando... Ele estava...

— Tudo bem, pessoal. Gaster precisa descansar e com vocês incomodando-o sobre o que ele faz ou deixa de fazer não está ajudando. – Mirian se apressou, empurrando todos os inquilinos para fora com um enorme sorriso, sem qualquer esforço, mesmo que Asgore fosse literalmente o dobre de seu tamanho e talvez o triplo de sua massa muscular. – Vocês terão muito tempo para jogar sermão nele quando ele estiver melhor!

— Espera! Mirian! Eu também?! – Toriel reclamou, jogada para fora do quarto enquanto recebia um sorriso inocente e uma porta fechada. Gaster estava confuso, mas ao mesmo tempo agradecido. Mirian caminho novamente até ele, sentando-se ao seu lado, olhar atento sobre seu rosto. Deuses, Gaster se sentia tão consciente das bandagens sobre ele agora. – Agora você pode falar, por que tudo isso? O que realmente está acontecendo, Gaster?

— Nada está acontecendo. – a mentira deixou um gosto amargo em sua boca. Não queria mentir, não para ela. Mirian era importante para ele, o tranquilizava de uma forma que ninguém mais podia, sua própria presença o fazia sentir-se bem, mas se ela descobrisse... Se ela descobrisse o perigo que ele trazia, que sua magia era capaz de fazer, ela nunca mais iria querer ficar perto dele.

— Você sabe que eu sei quando você mente, Gaster. Nos conhecemos há pouco tempo, mas sua casca não é tão grossa quanto você imagina para que eu não possa ver através dela. Alguma coisa está acontecendo, está te incomodando e tem haver com seus projetos tão secretos. – Gaster se revolveu inquietou. Não era uma surpresa que aquela garota treinava para ser um policial, seus olhos atentos facilmente poderiam coloca-la como um detetive se bem quisesse. Ele ainda não queria dizer nada, se ela conseguia perceber quando ele mentia então calado ficaria. Mirian suspirou. – Olha, eu vi como você saiu do laboratório, eu chamei a ambulância. Gaster você estava mal! Eu pensei que você ficaria cego com o tanto de sangue que tinha em seu rosto. Me assustou. Eu sei que é privado seu, sei que você tem seus motivos, mas para defende-lo eu preciso entender. Vale a pena tudo isso que você está passando?

Valia. Valia se ele poderia eventualmente ter uma vida normal, sem se preocupar com estranhas emoções que o deixavam irritado, extressado ou com medo. Valia se significava poder dormir durante a noite sem medo de perder o controle de sua magia porque tinha sonhos extremamente reais. Valia se isso significava ter maior controle sobre si mesmo. Mas como ele colocaria isso sem revelar toda a merda que estava passando? Sem revelar o monstro que ele poderia se tornar?

Ele queria que fosse mais simples. Mais uma vez ele desejou ser normal. Apenas mais uma pessoa no meio de tantas. Não adiantava nada agir como uma sombra, passando despercebido, quando o mundo parecia apenas querer jogar ainda mais anormalidades para cima dele.

Mirian esperou, paciente, por sua resposta. Contudo os minutos continuavam a se passar e Gaster não conseguia encontrar-se com coragem para dizer nada.

— Tudo bem... Não quer me contar, está bem. Mas lembre-se disso: eu sou sua amiga e quero seu bem. Se isso que você está fazendo te ajuda a aliviar o que está te causando tanto mal então eu não falarei nada sobre isso, mas eu estarei aqui para ouvir, para te ajudar, porque eu me preocupo com você Gaster. Mais do que você se quer imagina.

E ela se levantou, pronta para deixar o quarto, seus olhos azuis demorando-se mais alguns segundos sobre seu rosto antes de finalmente dar o primeiro passo.

Gaster não se sentiu movendo o braço para segurá-la, foi um instinto. Ele queria ela perto, ele queria dizer tudo. Ele estava cansado, tão malditamente cansado de segurar tudo em si mesmo e, sinceramente, ele queria acreditar que Mirian o aceitaria como ele era, com todos esses defeitos. Ela era uma pessoa tão boa, talvez ele tivesse a sorte de ter sua compreensão. Ela entenderia. Eram amigos, amigos contavam segredos, confiavam uns nos outros, e Gaster queria confiar em Mirian.

Ou ele acreditava que já fazia.

— V-você pode... Pode guardar isso em segredo? – ele implorou, aliviado quando Mirian assentiu sem hesitar, prontamente voltando a sentar ao seu lado na cama.

Gaster contou tudo, desde o começou ao fim. Ele não teve coragem de mostrar, mas Mirian acreditou nele e estava disposta ajuda-lo no que fosse possível. Foi mais fácil depois disso, de conversa, se interagir, era como se um peso lhe tivesse sido tirado e ele pudesse respirar novamente. Ele até se sentiu mais próximo dela, foi estranho e novo, mas ele gostava, apreciava cada momento.

Semanas se passaram no hospital, seu corpo se recuperou lentamente do ocorrido, comidas mágicas tendo pouco efeito em seu sistema e ele acreditava que o tumor tinha alguma coisa haver com isso. Seus amigos vinham encontra-lo constantemente, Mirian sendo a mais frequente deles, trazendo notícias engraçadas, dramáticas e interessantes para encantar seus dias, tagarelando sem parar, enchendo o vazio que se formava durante o dia naquele quarto solitário. Os médios não o deixavam fazer muita coisa e Gaster nunca foi tão agradecido quanto no momento em que Mirian contrabandeou alguns de seus livros para dentro do hospital, junto com algumas comidas indevidas.

Quem suspeitaria de uma garotinha com o rosto de um anjo afinal?

Agora chegava o dia de sua alta e ele não poderia estar mais aliviado. Cansado de ver paredes brancas e comer o que quer que seja que serviam no hospital, porque ele se recusava a acreditar que era comida, estava ansioso para voltar a trabalhar. Seu tumor parecia ter avançado quando o checou juntamente com Orto em uma de suas visitas. O pobre velho estava hesitante em continuar o tratamento, porém Gaster permaneceu insistente.

Se parassem, definitivamente ele estaria piorando. Deveriam continuar.

Com sinceridade ele só queria, no momento, retornar para seu quarto, ou pelo menos ter uma comida decente a descer por seu estômago. Definitivamente ele mataria por um único copo de café. Mirian ria dele durante todo o caminho para fora do hospital, divertindo-se com suas reclamações incessantes. Ele tinha sido mais falante com ela depois que sentiu não existir mais segredos entre eles. Porém o mundo não poderia facilitar para ele, sendo abordados algumas esquinas longe do hospital.

— Ei, linda! O que faz com um cara esquisito como esse?! – não deveria ser um grupo maior do que cinco. Caras grandes a andar em grupo com sorrisos maliciosos, olhos presos na pequena forma de Mirian. Gaster odiava esse tipo de idiotas, o sol já estava se pondo então ele imaginou que era o horário deles aparecerem. Infelizmente não tiveram a sorte de evita-los, muitos deles perambulavam ao redor do campus atrás das garotas indefesas que poderiam encontrar, alvos fáceis. – Por que não sai com a gente? Tenho certeza que vai se divertir muito mais do que com esse carinha.

Gaster franziu o cenho. O cara não poderia achar outro jeito de chama-lo? Quer dizer, já tinha escutado coisas muito piores e mais criativas do que “estranho” e sinceramente “carinha”? Ele se erguia sobre a cabeça do cara e nem estava tão magro!

— Pedirei com educação para nos deixar em paz. Não queremos nada com vocês então, por favor, continuem seu caminho. – Mirian inquiriu, seu cenho se franziu ao igual que o de Gaster, pose confiante, ainda segurando sua mão, dessa vez mais apertado.

— Vamos, boneca. Não seja tão seca. Mesmo que seu rostinho irritado também seja muito bonito, me pergunto como ficaria quando está com vergonha. – o cara aproximou seu rosto de Mirian, sorriso lacivo ainda maior, olhos a vaguear.

— Por favor, se afaste. – Mirian sibilou entre dentes apertados, mas o cara não se afastou, pelo contrário, parecia se aproximar ainda mais, ao ponto de Mirian estar colada a Gaster tentando se afastar.

— Ei, ela pediu para se afastar. Não queremos problemas, apenas seguir nosso caminho. – Gaster se intrometeu, seu olhar sobre o homem. Ele não parecia nem um pouco feliz em ser repreendido por outro cara.

— Cuide da sua merda, esquisitão. Por que não faz um favor a si mesmo e desaparece para qualquer lugar que seja de onde você veio. – o homem estufou o peito, como para mostrar ser intimidador, mas Gaster era mais alto e, com as cicatrizes em seu rosto agora, muito mais assustador do que um saco de músculos qualquer, deixando assim o homem apelar para a violência.

Sua intenção, obviamente, seria empurrar Gaster, como uma advertência e demonstração de sua força superior, porém, Mirian se intrometeu, tomando a mão do rapaz e dobrando-a para trás, impedindo seu progresso. Tão rapidamente como seu aperto na mão começou, a loira chutou a perna do homem, derrubando-o no chão sem qualquer tipo de dificuldade.

— Nos deixe em paz! – ela falou novamente, demandante e autoritária. No entanto, era comum que homens como esses não escutassem, avançando em agressividade.

— Vadia... – o primeiro sibilou, passando seu amigo caído para avançar na direção de Mirian, a qual facilmente esquivou de seu primeiro soco, acertando-lhe um chute no estomago para afastá-lo. O outro que se seguiu, pelo menos, conseguiu afastá-la de Gaster o qual foi pego pelo terceiro do grupo.

Fisicamente Gaster não era uma demonstração mais admirável de força. Ele preferia trabalhar seu cérebro ou invés de seus músculos e a magia sempre foi uma grande salvação para confusões como essa, porém, foi-lhe avisado que, durante um tempo, ele evitasse qualquer uso mágico. Seu corpo ainda estava fraco para aguentar o uso exagerado de magia, ele precisava de descanso para ter sua força de volta.

Nenhum dos médicos esperava que alguma coisa assim pudesse vir a acontecer tão cedo.

Como se para provar que tudo poderia apenas ir de mal a pior, emoções estranhas começavam a ataca-lo novamente. Gaster já estava percebendo que o tumor, lentamente, voltava ao que era antes, bem devagar, mas, assim como a pouca intrusão de magia já fazia uma grande diferença, o crescimento de anti-magia também o faria.

Raiva e ódio brotavam em seu peito direcionados aos idiotas que os atormentavam. Pensamentos furiosos e perigosos borbulhavam em sua mente, incentivando-o a atacar de volta. Ele era mais forte, ele tinha um poder que eles não tinham, ele poderia facilmente derrubar cada um deles. A vontade estava lá, apenas precisava... Se soltar. E ele tentou lutar contra, sua magia borbulhando por debaixo de sua pele, tentadora em apenas escapar.

Inicialmente procurou lugar fisicamente, sacudindo-se em uma vã tentativa de se soltar daquele que o segurava, porém, novamente, não era um exemplo de força enquanto o homem em suas costas possuía pelo menos uma massa muscular mais proeminente, de músculos mais preparados. Gaster nunca se sentiu tão impotente. Mesmo contra valentões da escola não tinha problemas em lidar. Não queria ter que apelar para sua magia, as memórias do que aconteceu com Orto ainda estavam claras em sua mente, a cicatriz em seu rosto apenas servia para recordar as consequências. E se não conseguisse se controlar? E se machucasse Mirian no processo?

Gaster não poderia garantir nada.

No entanto, ao erguer o olhar e deparar-se com ela encurralada, lábio rachado e começando a inchar, mesmo que um dos homens já estivesse nocauteado, um mal se mantendo em pé e outro bastante machucado, ainda era uma visão injusta e preocupante. Ela estava machucada e ele não fazia nada! A fúria apenas o consumiu ainda mais, até que não pudesse mais ver.

Sua magia explodiu para fora, Gaster não estava ciente do que acontecia, apenas a deixou fluir. Foi fácil, conhecida, a força furiosa que ele sempre teve bem em sua alma, porém ainda se sentiu doloroso.

Gaster foi trazido de volta de seu transe quando a dor em sua garganta, tossindo com a estranha sensação de líguido inundando suas vias aéreas, empurrando-as para sua boca. Gosto metálico poderia ser facilmente sentido, estava cansado e tonto, as dores que antes pareciam tão distantes de seu corpo haviam retornado com força total e agora ele quase não conseguia respirar.

— Gaster, já chega! – por instantes seus olhos caíram para Mirian a seu lado, como ela tinha chegado até lá ele talvez nunca saberia, mas seu olhar preocupado o deixou confuso. Por que estava tão nervosa? O que a fez tão assustada? – É o suficiente! Se continuar usando sua magia vai acabar se matando!

Seus olhos subiram novamente para onde estavam seus agressores, por instantes não conseguindo realmente focar nos sentidos que as palavras de Mirian traziam a situação. Os homens estavam caídos, assustados, totalmente desorientados e impotentes contra ele e a sensação era boa. Como era estar do outro lado da corda?

Gaster viu suas sombras, sua magia, rastejando veloz e perigosas em busca de um final na direção do grupo. Ele poderia ter parado, ele se sentia no controle novamente, mas ele não. O vermelho foi o que viu antes de finalmente cair no preto.

Quando voltou a si estava novamente no hospital e, sinceramente, se não estivesse se sentindo tão mal teria amaldiçoado a maldita ironia do mundo. Pelo amor dos Deuses ele tinha acabado de sair daquele inferno! Por que estava de volta.

Com um resmungo silencioso tentou se erguer, corpo novamente sentindo-se pesado e a cabeça girando, sua garganta sentia-se estranha, como se tivesse engolido cacos de vidro durante algum momento, o que era ridículo, quem faria tal besteira? Fora isso nada parecia realmente fora do normal até, na verdade, seu breve lapso de memória retornar.

Seu sangue gelou, medo percorrendo as veias, coração batendo veloz, desesperado. Seria realmente muito a pedir que aqueles caras estivessem vivos?

A porta de repente se abriu, chamando sua atenção. Cabelos loiros brilhantes ficaram a vista, junto com grandes olhos azuis aguosos. Sem esperar um segundo sequer Mirian estava sobre ele, braços a rodear-lhe o pescoço enquanto chorava em seu ombro, apertando-o tão forte que parecia não querer deixa-lo ir nunca mais. Mesmo com suas dores, Gaster não conseguia colocar a se importar.

— Pare de se machucar, por favor. – Mirian implorou, seu rosto afundando na curva do pescoço de Gaster enquanto mantinha-se a chorar. Qualquer coisa, porém, que Gaster tivesse para dizer em função de consolá-la não saiu. Sua garganta simplesmente não produzia nenhum som, nada mais do que ruídos estranhos de ar sendo expelido. Claro, o ardor o acompanhou, como se os estilhaços de vidro metafóricos que tinha engolido estivessem a se mover dentro de sua garganta. – Sinto muito... Sinto muito... Gaster você usou sua magia de mais... Você não a suportava então... Oh Gaster! Ela acabou com sua garganta, você não vai mais poder falar.

Ok... Ok, então ele nunca mais poderia falar... Sinceramente levando em consideração tudo que poderia acontecer isso era uma consequência razoável. Ainda assim Gaster nunca se imaginou deficiente de qualquer um de seus sentidos, por sorte não era seu mais importe, mas ainda assim...

Bem, não adiantava mais chorar por isso.

Novamente abriu a boca para tentar falar, recordando-se tardiamente que não adiantaria de nada. Era frustrante em muitos aspectos, porém Mirian parecia compreendê-lo, de alguma maneira. Talvez ela apenas estivesse lendo a situação e supunha o que deveria estar passando por sua cabeça.

— Assim que você derrubou aquelas pessoas eu te trouxe aqui novamente. Você desmaiou não muito depois. Deuses estava sangrando tanto, pensei que tivesse sido seus pulmões ou algo do gênero... Você ficou um tempo em recuperação, tive que explicar para a policia o que aconteceu já que... – com um olhar incerto Mirian se afastou, tocando de leve seu rosto, delineando a cicatriz que marcava sua bochecha. – Já que você os matou. Foi considerado um acidente, já que expliquei que você estava com problemas para controlar sua magia e que foram eles que provocaram. De qualquer maneira o máximo que poderia ser visto era como auto-defesa. – Gaster tocou seu rosto, inchado pela pancada que deveria ter recebido de um dos agressores. Deuses não permitam que ele tenha feito alguma coisa com ela. A loira, por sua vez, sorriu. – Eu estou bem. Sua magia não me tocou.

Gaster suspirou em alivio, o som sendo muito mais silencioso do que se recordava. Mirian voltou a abraça-lo, tão apertado quanto sentia que poderia e Gaster não seria aquela a reclamar.

Ainda assim a sombra de seus erros atormentava-o na parte de trás de sua mente. Ele poderia sentir seu LOVE mais alto, tornando-o assustadoramente mais forte, talvez por tal os efeitos colaterais de sua magia não tinham sido tão ruins, ele não saberia dizer. Ele estava assustado porque sabia, sabia que não poderia culpar o descontrole pela morte daquelas pessoas. Ele poderia ter parado, ele estava no controle, mas ele não quis parar. Não foi magia, não foi uma alma corrompida, não foi vontade de ninguém mais a não ser a sua própria e isso o assustava.

Ele sentiu tanto nojo de si mesmo quanto sentiu-se... Bem. A sensação do LOVE, de poder correndo para seu corpo, de sentir-se mais capaz, era viciante, tanto que, no fundo de sua mente, ele desejou por mais.

Não disse a ninguém, porém. Deixou que o assunto se perdesse nos recantos obscuros de sua mente imaginando que se ignorasse ele iria embora, desapareceriam no esquecimento. Mas não, eles nunca iriam, atormentando-o pelo resto de sua vida ao igual as cicatrizes em sua alma e em seu rosto, sendo suas estatísticas um lembrete constante.

O tumor, por sua vez, parecia ter aproveitado-se do estresse e sua fragilidade para crescer ainda mais, sua situação era instável e seu tempo no hospital foi turtuoso. Orto não poderia mais negar continuar o experimento, Gaster via-se caminhando de mal a pior e mais um surto de sua magia ninguém garantiria que apenas suas cordas vocais fossem afetadas, para grande desagrado da maioria.

Olhando em uma pespectiva positiva, todo seu grupo de amigos sentiu-se mais do que feliz em aprender uma nova língua apenas por sua causa, ajudando-o em seu aprendizado até mesmo. Ainda que o caminho até lá fosse recheado de acontecimentos que iam de frustrantes a engraçados, Gaster nunca poderia expressar seu grande agradecimento por cada um deles. Além disso ele e Mirian pareciam finalmente dar-se conta como o futuro poderiam ser imprevisível e deixaram de perder tempo com determinadas inseguranças.

Eles começaram a namorar.         


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Notas finais do capítulo

Sim, semana que vem tem mais. Como falei eu estou deixando para postar os especiais separados e assim me dar tempo de empurrar a fanfic. O mais importante dos especiais, aquele que vai dar o gancho para a história prosseguir será postado por ultimo. Eu já tô com ele começado, pra caso alguém se pergunte, e o que será postado semana que vem já está pronto (ironicamente foi o primeiro a ficar pronto).
Cara nem acredito que essa fanfic já tem um ano T-T... Tanto tempo...
...
Tô velha. Alguém aperta o reset aí pelo amor dos deuses!
Obrigada por lerem, espero que tenham gostado e até a próxima!



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