FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 41
Consequência do poder


Notas iniciais do capítulo

Finalmente! Acho que mais do que vocês eu estava louca para despachar esse capitulo! Nem acredito!
Se eu disser que esse capitulo no meu cronograma deveria ser o 37 vocês acreditam? Mais de 70 capitulos aí vamos nós.
Aliás, desculpe-me pelo atraso nos lançamentos. Eu estou embolada nos meus estudos então muito provavelmente os lançamentos seguintes serão ainda mais lentos e complicados de aparecer. Tentarei o meu melhor.
Aliás, depois desse temos 3 especiais, um que dará introdução a parte de tragédia dessa história, porque se vocês achavam que até aqui tava sofrido, gente, preparem-se para uns bons 14 capitulos de pura choradeira.
Lembra que falei que o pior da fanfic não tinha chegado? Bem, depois dos 3 especiais ele sim chegou. Vai ser o momento que vou montar meus escudos aqui para ninguém me matar, pq a coisa é feia.
Sem mais enrolação, aproveitem o cap.



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FusionTale - Conseguência do poder

De todas as loucuras, de todos os universos possíveis que ela poderia sitar, definitivamente aquele estava fora de sua mente. Foi um fragmento pequeno, esquecido em um recanto distante de sua alma, trazido a mente apenas por conta da imagem e constatação a frente, dissolvendo qualquer incerteza ou duvida que poderia ter, trazendo seu cérebro a perceber a assinatura da magia transbordando selvagem da criatura, tão feroz e descontrolada que até então Frisk não tinha conseguido identificá-la.

A questão realmente estava em: como isso aconteceu? Por que? Quando? Desde quando isso acontecia? E, se realmente Sans era a tão conhecida "lenda urbana" que atormentava a cidade de tempos em tempos, por que ele já não tinha tentado uma maneira de se controlar? Gaster e Papyrus saberiam disso? Gaster poderia supor-se que sim, pela mensagem que Frisk recebeu.

O que diabos estava acontecendo?!

Um grito assustado e alto obriga-lhe a escorregar para fora de seus pensamentos, rosto movendo-se na direção do barulho com rapidez e força suficiente para que seu próprio pescoço estale audivelmente. Era óbvio que alguém deveria aparecer e se por em perigo, era claro que alguém, qualquer pessoa nessa maldita cidade, ia dar as caras em algum momento e denunciar sua presença porque isso definitivamente não poderia ser a pior situação para alguém se por em perigo! E se o sarcasmo já não foi bem notado, Frisk faria questão de dizê-lo mais uma vez.

Era tão fodidamente óbvio que era exatamente isso que ia acontecer, exatamente porque eles não estavam em uma cidade fantasma, não era apenas os dois e, com toda certeza mais pessoas, mesmo durante a madrugada quando o movimento era muito menor, tinha que estar no lugar errado na hora errada, que Frisk fez questão de bufar um "por favor" suplicante por sobre sua respiração.

Sua vida simplesmente não poderia seguir sem mais preocupações, ela não poderia ser facilitada. Claro que não! Exatamente porque ela tinha que carregar o carma de ter refeito diversos mundos diversas vezes e nenhum sofrimento seria o suficiente para ela porque ela sempre teria uma nova chance!

Frisk sabia que a atenção da enorme criatura, a qual agora acreditaria que deveria chamar de Sans, porque, como o cara problemático que era, talvez do mesmo tamanho de sua preguiça, ele tinha que ser uma besta gigante canina fora de controle, não podia ser qualquer outra coisa! O que o mundo tinha contra animais pequenos e fofos? Seja como for, era previsível que a atenção dele voltaria para a pessoa que gritou, distraindo-se de Frisk e dando-lhe a chance para escapar.

A questão também era que, Frisk, sendo a pessoa malditamente boa que era, não poderia simplesmente deixar que Sans matasse alguém ou que não fizesse alguma coisa quando podia. Então, usando-se de sua magia, por mais cansativo que estivesse sendo além do esforço físico já necessário, envolveu as patas dianteiras de Sans com o concreto sob suas patas. Ela sabia que não duraria muito, mas foi o suficiente não apenas para ela mesma se afastar, como também deu a oportunidade para a pessoa que antes tinha aparecido, fugir por sua vida.

Frisk tropessou para longe, a dor em seu tornozelo torcido, esperançosamente não quebrado, latejando irritantemente, impedindo-a de ir mais rápido, deixando-a não muito longe quando Sans finalmente conseguiu desprender-se de suas amarras de concreto, jogando pedra para todos os lados possívels, quase acertando-a no caminho, e finalmente voltando-se a focar-se nela. Porque, sendo logicamente a única pessoa no lugar novamente, ela seria sua presa e, agora, Frisk começava a questionar-se se não deveria ter deixado-se morrer minutos antes, para que assim pudesse ter evitado o ferimento no tornozelo e assim facilitado qualquer coisa que ela possivalmente teria que fazer para trazer algum juizo de volta a cabeça de Sans, se é que era possível e ela não tivesse que morrer mais três vezes... Ou seriam quatro?

Dane-se a conta!

Esse definitivamente tinha sido o cronograma com mais mortes desde a crianção desse universo. E isso apenas em um único dia!

Olhos azuis brilhantes e ferozes, cedentos, novamente cairam sobre sua pessoa. Ele parecia saber que ela já não poderia esquivar-se com igual agilidade que antes, desacelarando, assim, seus próprios movimentos para se aproximar e para agir. Frisk finalmente reparando no quão silencioso eram seus movimentos apesar de seu enorme tamanho. Mesmo o sulcar do solo a partir de suas garras afiadas não soltavam mais do que um suave som, muito semelhante ao escavar de patas de cachorro na áreia. Ela acreditou que era exatamente esse o motivo que tão poucas pessoas eram capazes de vê-lo antes de chegar.

Um predador.

Talvez fosse o momento errado para avaliar isso, mas parecia impossível para Frisk não comparar essa forma de Sans com a de um gato, apesar de sua aparência mesmo assemelhar-se mais com a de um cachorro. Um enorme cachorro com armaduras de esqueleto.

Garras voaram em sua direção mais uma vez e, desengonçada, Frisk escapou delas, apenas para vê-las soterrando-se profundamente dentro de um dos prédios próximos, cascalhos e pequenos pedregulhos desprendendo-se da parede para cair quase sobre sua cabeça. Mais uma vez fazendo-a amaldiçoar seu tornozelo machucado. Ela estava mais lenta, mais indefesa, era quase um prato cheio para o predador perfeitamente capaz a sua frente e ele ainda parecia brincar com ela. Exatamente como um gato com sua presa.

Ótimo! Era tudo o que ela precisava!

Tentando novamente mover-se de sua posição, Frisk acidentalmente apoiou-se no tornozelo machucado, chiando de dor enquanto o corpo automaticamente cedia para o lado, suas forças esvaindo-se por segundos até trocar o peso para o pé ainda bom. Distraida pela dor, porém, não reparou a aproximação de seu predador, sentindo, tarde de mais, os afiados dentes a envolvê-la em um mastigar crocante de carne e ossos nada agradável.

Quando voltou seu fôlego tinha sido perdido, a dor fantasma ainda queimando em pontos distintos de seu corpo. Foi complicado trazer sua mente para o fato de que ainda estava viva e que os ferimentos não mais existiam, não rápido o suficiente para se afastar, mesmo que tivesse a leve vantagem da confusão da besta próxima.

Por milagre, seu cambalear para trás por conta da sombra de ferimentos inesistentes a salvou de novamente ser devorada por dolorosos dentes pontiagudos e afiados, porém, ela deveria ter adivinhado que, sendo Sans, sua confusõa com relação aos saves não durariam muito, mesmo que agora sua mente não estivesse mais tão sensata como normalmente. Mesmo sendo um animal, ele seria um animal inteligente, ardiloso e adaptável, a confusão não duraria muito e ele reagiria, mesmo que dessa vez pudesse ser chamado apenas de instinto, Frisk deveria ter previsto. Ainda assim, mesmo que tivesse suspeitado de tal inteligência ou reação, não era como se ela pudesse ter feito alguma coisa para evitar o golpe que se seguiu, sua mente ainda confusa e atordoada, corpo cansado e dolorido. Depois de tanto tempo sem muitas mortes talvez ela estivesse se tornando enferrujada a sensação de save.

Ela apenas percebeu o que tinha acontecido quando o impacto com o chão tornou-se iminente, coluna e quadril doloridos enquanto o ar era retirado de seus pulmões pelo peso sobre seu peito, garras a perfurar o solo poucos centímetros ao lado de sua cabeça, corpo imobilizado, com os braços presos nas laterais de seu corpo e pernas grudadas ao chão. Mesmo que tentasse se controcer seria impossível e ela poderia ter total certeza que, pela dor que sentia em seu peito, uma ou duas costelas tinham sido quebradas ou, no mínimo, rachadas. Ela ficaria feliz se não tivesse alguma contusão na cabeça.

— S-sans... - ofegou em um engasgar arrastado, o pouco fôlego que conseguiu puxar foi embora em um sussurro rouco, preso. Seus olhos estavam cegos, manchas negras rodeando sua visão de forma a impedí-la de enchergar qualquer coisa que estivesse a sua volta. Apenas poderia dizer que o rosto da besta estava novamente extremamente próximo ao seu por culpa da baforada quente em seu rosto, empurrando suor, sujeira e fios de cabelo para trás. A pressão esmagadora em seu peito não a estava ajudando a falar. - S-sans... P-por favor... S-se t-tem alguma p-parte... Q-qualquer que seja... De v-você aí a-a-ainda... P-por f-favor... P-por f-favor desperte...

Frisk engasgou, a pressão sobre seu corpo aumentando, ela tinha quase certeza que ele a esmagaria como um inseto, isso se seus dentes afiados e próximos não lhe arrancasse a cabeça primeiro. Seja como for, ela sabia que não duraria muito tempo, sabia que mais um save estaria por vir e dessa vez mais devagar e doloroso do que os outros.

O que se seguiu, no entanto, foi uma resposta impulsiva de seu cérebro nublado. Ela sabia que usar magia em tais condições era ruim para ela, poderia piorar em muito suas condições, mas o instinto de sobrevivência de seu cérebro acreditou que seria muito melhor para parar a dor crescente impulsionando uma leve onda de magia para sua mão a qual pressionava-se contra a pata sobre seu corpo, em uma reação desesperada e inutil de se soltar.

Magia pura não queima, não afeta, ela reluz e sintila como uma demonstração de sua vivência, mas não causa danos físicos a não ser que o usuário queira. Ela precisa ser moldada e transferida para que assim forme o que deve ser formado, com o mais semelhante a sua energia. Então, o fato de a enorme besta afastar-se em um chiar agitado quando a energia vermelha na mão de Frisk tocou seus ossos era, de fato, surpreendente, mas não seria ela a reclamar.

O ar entrou novamente em seus pulmões, tão profundamente que suas costelas doeram pelo empurrar subto. A tosse rouca e dolorida veio em seguida enquanto o corpo contorcia-se dolorido pelo chão, tentando arrastar-se para longe. Ela tinha certeza que agora estava condenada, não poderia fugir assim, teria que esperar o próximo save para ter uma nova chance, isso se Sans não retomasse qualquer tipo de consciência humana até lá.

Uma possibilidade a qual, já poderia imaginar, era demasidamente improvável de ocorrer.

Os pelos de seu corpo arrepiaram-se, a pressão de magia voltou a acumular-se a sua volta e, com a visão ainda turva e com pontos negros, ela encarou a besta sobre seu corpo, boca novamente aberta em um acumulo massisso de energia concentrada. Magia de luz... Ela não aguentaria mais um desses, sua mente não conseguia trabalhar direito e definitivamente não via-se em condições de se esquivar.

Novamente foi instintivo.

Quando raio de luz impulsionou-se em sua direção seu reflexo de sobrevivência foi erguer um escudo mágico, porém, nada lhe veio a mente para realmente formar o escudo tornando-o nada mais do que um acumulo de magia pura a qual, por algum milagre, conseguiu livrá-la da maior parte do dano. Todavia, o cansaço de seu corpo tornou o escudo fraco, suas mãos queimando-se ao tentar manter a corrente em defesa, seu HP diminuindo para níveis perigosos e a boca enchendo-se de sangue como um efeito colateral do uso forçado de sua magia em tais condições, provavelmente a causar danos internos em seu corpo, como se os externos já não fossem o suficiente.

Quando o fluxo teve seu fim, ela não poderia mais se mover, suas mãos ardiam em queimaduras que poderiam ser ditas de segundo grau enquanto os olhos lacrimejavam por culpa da dor. Sua respiração estava dificíl, doía-lhe a cada lufada de ar que puxava para seus pulmões. Seu tornozelo não mais mostrava-se evidente a dor, talvez pela quantidade de outras que seu cérebro tinha que assossiar, porém, ela sabia bem que ainda não poderia movê-lo e estava tonta de mais para se levantar, dolorida de mais para se mover.

Seus olhos, umidos, subiram mais uma vez para a criatura. Ela sabia que tinha sido uma idiota por se defender, deixar-se morrer e começar de novo seria a melhor opção, porém, por mais fácil e lógico que poderia ser, seus instintos estava no comando e, como qualquer ser vivo, ele priorisava a sobrevivência.

As presas se aproximaram novamente, Frisk supôs que dessa vez ele opitou por devorá-la novamente, sendo que não poderia realmente se defender ou esquivar, qualquer coisa realmente poderia funcionar.

— S-sans... - chiou, cansada, exaurida, uma mão erguendo-se esperançosa e tremula, magia a rodeá-la, na direção do focinho e dentes pontudos da criatura. Não uma escolha sensata, mas, novamente, sua mente não estava trabalhando no seu melhor e qualquer coisa naquele momento seria apenas uma perda a não ser que a sorte lhe sorrisse por algum motivo. - P-por favor...

E não foi sua voz realmente. Ela não chegou a realmente pensar, naquele momento, qual foi o motivo, mas o reconhecimento brilhou nos olhos azuis. Foi confuso, ainda ligeriamente nublado e perdido pela selvageria de seu estado atual, mas estava lá, hesitando seus movimentos, forçando-o a fechar a boca enquanto empurrava, bem devagar, o focinho ossudo na mão estendida, ofegando profundamente no brilho vermelho que agora o tocava.

Era impressionante, talvez inimiganinável, como um animal tão grande e assustador poderia transformar-se em um amontoado de ressentimento. Não deveria ser possível ver mais do que desejo assassino naquela criatua, porém, lá estava ele, com uma espressão de cachorro jogado para fora do caminhão. Arrependido e choroso. Ele empurrou-se para Frisk, pressionando de leve seu focinho contra o corpo pequeno dela, em uma carícia leve, talvez um pedido de desculpas.

Com toda certeza, aquele era Sans novamente.

— T-tudo b-bem... Tudo bem... Sei que você não queria... V-você parou... Você voltou, i-isso que importa... - resmungou, voz cansada, porém com um sorriso desenhado em seu rosto, aliviada que tinha conseguido, de alguma maneira, trazer a consciência de Sans de volta. Ela esfregou-lhe o fucinho com a palma da mão ainda erguida, braço tremulo e cansado forçando-se para passar o carinho que sentia. E ali teria ficado, Frisk não via-se com capacidades de se levantar e Sans não parecia muito animado em sair de seu lado, se sirenes não tivessem ressoado pelo ar. Obviamente a pessoa que anteriormente estaria ali antes teria ligado para a polícia. Era o pensamento mais óbvio a se fazer. - V-você... T-tem que sair daqui... Agora!

Sans ergueu a cabeça, seus olhos avaliando a rua antes de voltar-se para a garota deitada no chão. Ela não precisava ver um cenho franzido ou qualquer expressão para saber que ele estava recusando-se a deixá-la ali, principalmente porque o capacete de crânico que lhe cobria a cabeça impedia qualquer tipo de expressão ser demonstrada em seu rosto.

— P-pare de se p-preocupar comigo... Vá! - todavia, sendo Sans aquele com o qual estava a tratar, obviamente não a escutaria, quando o fez?

Ao invés de erguer-se e desaparecer, como Frisk havia pedido, ele, com certa dificuldade, arrastou os dentes por sua roupa, puxando-a para cima e colocando-a sobre suas costas, bem próximo ao que seriam os ombros, apoiada nas vertebras que desciam por toda sua coluna até a ponta da cauda. Não era o lugar mais confortável, saliencias ossudas incomodavam-lhe o interior da coxa e cutuvam-lhe o estomago recostado para frente, mãos prendendo-se como podiam no pescoço largo, porém, de alguma forma, Frisk conseguiu se encaixar ali de forma que suas costelas não doessem tanto como se ela estivesse a forçar-se a andar, suas pernas, sem qualquer tipo de força pela dor em seu quadril, enroscaram-se nos ossos representativo das costelas que envolviam o torso da criatura, utilizando-se deles para estabilizar sua posição e não cair.

Garantindo que ela não cairia, Sans, com apenas um salto, subiu sobre os telhados dos prédios ao redor, usando-os para afastar-se do lugar sem realmente ser notado. Poucas eram as pessoas que olhavam para cima quando procuravam alguma coisa, seja ela grande ou pequena e, já tendo sido mencionado, Sans era impressionantemente silencioso em sua forma animal, esgueirando-se com facilidade para longe da cena sem ser notado. Para não dizer que, com todas as passadas longas de Sans, atravessar a distância entre os prédios não era realmente uma dificuldade, não impedindo seu trotar rápido para a área de Snowdin.

Frisk vagamente reconheceu o caminho, a dor latente em seu corpo por conta dos movimentos do animal no qual montava ainda atraia a maior parte de sua atenção, ela ainda foi capaz, no entanto, de distinguir as leves familiaridades ao redor, a escuridão da madrugada rapidamente deslisando para o clariar tranquilo do amanhecer, céu tornando-se de um azulado único, suave. Chegou a reparar, também, que o que supôs ser um pelo bruxuleante que compunha as partes do corpo não recoberta de ossos da forma transformada de Sans na verdade parecia nada mais nada menos do que magia condensada, assim como aquela a qual ela acumulava em sua mão, porém, de uma forma mais concreta, mais sólida formando o que se assemelhava bastante a pelo animal, porém, de aspecto muito semelhante a uma fumaça densa, escura. Era macio e fofo, confortável de emaranhar os dedos e longo o suficiente para agarrar-se facilmente. Teria sido uma experiência interessante se a dor em seu corpo não a estivesse distraindo de qualquer outro tipo de sensação que pudesse estar a ter no momento.

Ela realmente acreditava que deveria ter deixado aquele ultimo raio terminar com seu sofrimento para começar novamente, mas agora era tarde.

Foi impressionante também o pouco tempo que levaram para atravessar a parte da cidade que precisavam para chegar até a rua da casa dos Skeltons. Frisk acreditou que perdeu a consciência em algum ponto do caminho, porque não tinha como eles chegarem tão rápido, foi, na mais simples das palavras, impressionante. Contudo, foi visível, depois de sair dos telhados e voltar para o chão, o cambalear das patas de Sans. O que antes era um trotar firme e rápido agora tornou-se um mover instável de pernas, empurrando-se, forçando-se para frente enquanto bufadas cansadas e altas escapavam pela boca aberta, como um cachorro cansado.

Frisk não conseguia encontrar sua voz para perguntar o que estava acontecendo, mas sua preocupação apenas crescia com cada passo a mais que Sans dipunha-se a dar. Parecia... Doloroso, na melhor das hipoteses, para ele manter-se em movimento, arrastando-se pela rua com determinação. Ela sabia que faltava pouco, mas realmente valia a pena? A casa dele estava logo ali na frente, mais alguns passos e a alcansaria, porém, parecia que Sans não conseguiria ir muito mais a frente sem realmente derrubar-se de cansaço.

Com um choramingar, bem proximo a um rosnado, ele parou, virando o rosto para onde ela encontrava-se desajetadamente acomodada e novamente arrumando um jeito de arranhar os dentes por sua roupa, puxando-a para fora de seu torso devagar e, com todo o cuidado, mesmo em tais condições, a colocou no chão, próximo a porta de entrada da casa.

A mudança, então, de suas ações foi palpávei. Como se a liberá-lo para finalmente relaxar.

Assim que ela encontrou-se no chão ele desabou, pernas fraquejando para deixar o enorme corpo cair sobre o chão em um leve estrondo abafado, magia recuando e enfraquecendo enquanto seu tamanho lentamente diminuia.

Precenciar foi... Estranho. Era uma transformação estranha. Frisk já tinha visto algumas em sua vida, não era tão complicado quando um de seus melhores amigos tinha a capacidade metamorfa de transformar-se em um dinossauro ou um rato, contudo, nenhuma delas poderia realmente colocar-se a comparar com a que agora presenciava.

Parecia dolorosa, como se pouco a pouco os ossos fossem se moldando para cair em uma imagem mais humana enquanto pele e carne novamente voltavam a aparecer, sobrepondo os ossos em um crescimento que, ao mesmo tempo que era acelerado, era lento. Frisk poderia dizer que era uma transformação sofrida e não apenas pelo retorcer incessante de Sans enquanto voltava a sua forma original, mas também por perceber, desnorteada, que era como ser remodelado novamente, carne, musculos, pele, nervos, tudo sendo reconstruido novamente enquanto os ossos moldavam-se em um estalar alto. Ela nem ao menos gostaria de imaginar qual seria a sensação, os pelos de seu corpo arrepiando-se apenas pela visão a qual via-se forçada a testemunhar.

Desviar o olhar parecia apenas uma afronta, uma negrigência ao estado de Sans. Ela não poderia ajudá-la, ela era inútil naquele momento, sentia como se pelo menos devesse a ele manter-se firme a observar.

Ela estremeceu apenas ao ver.

Quando finalmente terminou Sans estava de volta ao que era, sua pele pálida ligeiramente irritada, avermelhada e com algumas contusões, corpo convulsionando em uma tentativa de respirar em meio a dor que ainda deveria estar sentindo, respiração rápida e difícil. Frisk não importou-se em esquecer a dor em seu próprio corpo para arrastar-se, de alguma forma, até o rapaz jogado a frente, puxando-o como podia para seu colo, finalmente sentindo como sua pele queimava em febre, seu corpo tremia enquanto lamentações fracas escapavam por sobre sua respiração agitada.

Mesmo em meio a neblina que era sua dor sua alma contorcia-se em um desespero frio repleto de preocupações, o sentimento amargo da incapacidade sendo forçado para baixo em sua garganta enquanto observava o albino a tremer em seus braços, tão fraco como jamais imaginou ver. Sans poderia ter um HP baixo, mas nunca foi indefeso, nunca foi fraco, nunca aparentou precisar de qualquer tipo de ajudar e ainda assim lá estava ele, queimando em febre, tremendo de dor, bufando e lamentando incoerencias provavelmente em meio a um delírio de sua mente distorcida.

O que era suposto fazer agora? Ela nem ao menos conseguia andar ou arrastar-se para algum lugar pedir ajuda...

— FRISK?! - seus olhos subiram do albino em seus braços para encontrar-se com os olhos alaranjados preocupados de Papyrus, arregalados em espanto e pavor em sua direção. Ele encontrava-se na porta da casa na qual haviam parado, mãos ainda apertadas sobre a maçaneta, corpo tenso e estático no lugar. Frisk não queria imagiar qual era a imagem que ele estava a ter de ambos ali, Sans semi-nu, fragilizado e machucado enquanto ela deveria ter sangue ainda próximo de sua boca, hematomas e roupas rasgadas, olhos vermelhos e ainda a chorar, agora pelo desespero de ver Sans daquele jeito.

— Pap... Ajuda, por favor...

Ela não sabia o que aconteceu depois. Tinha agarrado-se a Sans em seu colo, abraçando-o como podia, chorando sem saber o que podia fazer, sentindo-se tão inútil por estar ali e não fazer nada para parar a dor que ele obviamente sentia.

E, dizer que Papyrus assustou-se ao ponto de quase perder a alma pela boca era um eufemismo.

Pap tinha se desesperado, gritado por seu pai não um segundo depois de Frisk perder a consciência, precipitando-se na direção de seu irmão e de sua amiga sem pensar duas vezes. Gaster também não estava em melhores condições, em primeiro por ouvir seu filho mais novo gritar em tal desespero nas primeiras horas da manhã, bem no nascer do sol, depois de passar a madrugada preocupado com seu mais velho. Sans tinha chegado com magia transbordando de seu corpo, sua consciência se esvaiando, transformação a começar. Foi de repente, um teletransporte desengonçado direto para a sala, a quantidade de magia usada sendo grande o suficiente para empurrar os moveis de seus lugares originais. Porém, não lhes deu tempo de realmente agir, a transformação já estava meio caminho andado e Sans desapareceu noite a fora, descontrolado.

Sair era arriscado para procurá-lo, a ultima vez que tentaram, Gaster ficou muito próximo de ter uma lesão verdadeiramente fatal. Tudo que poderia fazer era esperar. Eles sabiam que também não era o melhor, principalmente com as noticias que se seguiram de acontecimentos anteriores, mas mais nada poderiam fazer além de rezar aos deuses que Sans voltasse bem para casa. Na maioria das vezes ele recuperava um pouco de sua consciência para guiar-se de volta, porém, ainda existiam aquelas em que ele não aparecia e, no raiar do amanhecer, Gaster e Papyrus deveriam sair para buscá-lo.

De qualquer maneira madrugadas como essas nunca foram das mais agradáveis.

E, ainda assim, em nenhum dos cenários que eles imaginaram, esperaram deparar-se com o que viram naquela manhã. Sans sempre voltava em terríveis condições, era normal, apesar de enervante e ruim para o coração, porém, dessa vez, Frisk estava junto. Ferida e assustada, cansada e enfraquecida. Nenhum deles esperava isso e precisaram de toda a calma a qual puderam reunir, mesmo que não fosse muita, para lidar com a situação.

Agora Sans estava no quarto, sendo tratado por Pap para que os efeitos colaterais de tal explosão de magia não causasse mais danos enquanto Gaster mantinha-se a vigiar Frisk no sofá da sala. Papyrus já a tinha tratado, enquanto Gaster levava seu filho mais velho ao quarto. Era um alívio vê-la agora, apesar da sujeira ainda grudenta em seu corpo e rastros de sangue próximo a boca, ela tinha um aspecto mais saudável. Suas costelas tinha sido curadas junto ao tornozelo ferido, agora de volta a sua tonalidade normal, não mais o roxo doentio e inchado que enfeitava sua pele quando chegou, suas mãos, anteriormente muito próximas ao aspecto de carne viva, agora encontrava-se apenas ligeriamente irritadas, de pele vermelha provavelmente inda um pouco sensível mas sem queimadura, o HP tinha subido a uma faixa satisfatória e agora só precisava do descanso adequado para que o resto voltasse ao normal.

Gaster sabia que teria muito o que explicar quando ela acordasse e, sinceramente, ele estava com medo de como a conversa se seguiria. Ele sabia que esse lado de seu filho era... Complicado. Poucos eram aqueles que realmente sentiriam-se dispostos a aceitá-lo ou tentar compreedê-lo e, por mais que soubesse que Frisk era uma boa pessao e fazia seu melhor para sempre compreender e aceitar a todos, ainda uma pequena parte de Gaster tinha medo de sua reação ser ruim.

Sans gostava de Frisk, mais do que estava disposto a admitir. Qualquer um poderia ver, tanto seu ciúme como seu apego. A amizade que ambos desenvolveram foi o melhor que Gaster viu seu filho ter. O fez feliz, aliviou um peso que Gaster poderia ver que estava lá, mesmo que não soubesse o motivo. Frisk era uma boa influencia, um bom suporte. Se Sans a perdesse... Não queria imaginar o resultado.

Apenas o fato de tê-la machucado já o afetaria, ele gostaria de não ter que lhe contar essa parte, torcendo para que ele também não se recordasse, principalmente se a reação de Frisk fosse dentro do pior dos cenários.

— Gaster? - os olhos do homem desceu para a garota deitada em seu sofá, agora começando a erguer-se em uma tentativa um tanto falha de sentar-se. Gaster apressou-se a se aproximar, ajudando-a a sentar enquanto acomodava-se a seu lado, olhos treinados a avaliar se a garota estava realmente bem. - O que aconteceu? Onde está Sans? Ele está bem? Ele estava... Deuses ele estava com tanta dor e eu... Eu não sabia o que fazer...

Com delicadeza, Gaster tocou-lhe o ombro, chamando-lhe a atenção e assim fazendo um sinal para que respirasse juntamente com ele, bem devagar. Apenas concentrou-se em respondê-la quando percebeu que estava calma o suficiente para prestar atenção.

"Sans está bem, Pap está cuidando dele em seu quarto. Agora, preocupe-se com você mesma. Quase matou eu e Papyrus do coração quando a encontramos em nossa porta"

— Sinto muito.

Está tudo bem agora. Precisa de alguma coisa? Sente ainda alguma dor? Algum incomodo? Está com fome?"

— Eu estou bem, muito melho na verdade. Mas acho que vou aceitar um pouco de água, por favor. - o homem ainda permaneceu a encará-la por alguns prologandos segundos, procurando, analisando alguma mentira ou impressisão em sua fala. Era de conhecimento comum que a garota procurava desviar as preocupações de sua pessoa, mesmo que significasse disfarçar um ferimento que realmente lhe estivesse incomodando. Para Frisk, porém, não foi nem um pouco surpreendente a desconfiança e preocupação parental, era adorável em sua opinião. - Estou dizendo a verdade, Gaster. Realmente estou bem.

O homem não pareceu convencido, ainda assim, não quis discutir. Ele sabia que a teimosia da morena poderia sobrepujar qualquer preocupação que ele tivesse, fazendo o que bem lhe entendesse.

"Irei buscar um copo d'água para você. Mas se precisar de qualquer outra coisa ou sentir qualquer dor, não hesite em falar. Confio na magia de cura de Papyrus, mas mesmo ela tem suas limitações"

— Eu vou dizer, Gaster, eu prometo, então não se preocupe tanto. - Frisk lhe ofereceu o melhor de seus sorrisos, um daqueles os quais era impossível não retribuir, por mais cauteloso que estivesse. Ele não aliviava, porém, a preocupação óbvia a qual sentia, a mesma que lhe trazia desconfiança, mas sabia que não poderia simplesmente manter-se a vigiá-la, ela não era mais uma criança e precisava conhecer suas limitações, assim como lidar com elas.

Em um suspiro pesado ele a deixou para buscar-lhe a água, alegrando-se por, ao voltar, ela ainda estar sentada no mesmo lugar, olhos cravados em algum objeto em suas mãos, seu cenho levemente franzido, provavelmente submergido em pensamentos. Ao se aproximar um pouco mais, conseguiu reparar que o objeto em questão tratava-se de um celular, quebrado muito obviamente, sua tela trincada em diversos pedraços juntamente ao próprio metal lateral que o compunha tornavam evidentes a morte inegável do aparelho. Supor que era o celular de Frisk não foi muito difícil acompanhando a linha de pensamentos.

Com um toque leve em seu ombro Gaster lhe chamou a atenção, sorrindo-lhe com tristeza antes de entregar-lhe o copo de água o qual foi recebido com um sorriso agradecido. Ela não se importou quando ele voltou a sentar-se a seu lado, não se importou com a atenção que recebia, sabia que era justificada, ainda assim, sua mente estava demasiadamente abarrotada de pensamentos para tentar tranquilizar o exato motivo dessa atenção.

Sentia sua garganta seca, não sabia exatamente o porquê, não recordava-se de ter gritado o suficiente para encontrar-se assim, na verdade, não recordava-se se quer de ter realmente gritado alguma vez, apesar das sircunstâncias as quais havia estado algumas... Horas? Atrás. Seu corpo ainda encontrava-se um tanto dolorido, mas nada comparado a antes, a maior parte das dores era apenas seu corpo tentando acostumar-se com o estado atual no qual se encontrava, assimilando a velocidade com a qual tinha sido curado. A magia podia ser instantânea, mas os efeitos no corpo ainda eram tão lentos como a biologia permitia, ajustando-se as mudanças causadas no organismo organizado o qual era. Assim como um ferimento em menores proporções deixava um rastro de formigamento temporário, um ferimento relativamente grande e preocupante deixava para tras o espectro de dor que outrora possuía.

Mas não era isso que realmente lhe preocupava. Seu corpo era a ultima de suas preocupações no momento. Claro, o celular foi um infortunio, principalmente ainda tendo Lance em sua mente. O pobre rapaz deveria estar arrancando os cabeços naquele momento por sua ansiedade em saber o que tinha acontecido com ela e sem seu celular seria impossível comunicar-se com ele tão cedo. Entretanto, ainda não era um problema. Frisk já tinha quebrado seu aparelho outras vezes, seja em insicedentes menores ou em simples acidentes, pular pela cidade ou treinar com Undyne não eram as melhore atividades para manter aparelhos eletrônicos intactos, e com todas essas vezes ela aperfeiçoou sua capacidade de criar um novo.

A sorte das fábricas de eletrônicos era que nem todas as pessoas tinha a mesma capacidade que ela para copiar tão perfeitamente um determinado equipamento com todas as suas singularidades, muito menos o tempo para aprender e treinar tal capacidade.

O fato realmente enervante que rodeava-lhe a mente desde o momento que havia despertado era o estado atual de Sans. Seus dedos apertaram-se ao redor do copo que segurava não muito tempo depois que a lembrança do esado que o albino se encontrava antes de perder a consciência retornasse para sua mente.  Ela não poderia deixar de se preocupar.

Não que não estivesse confiante no tratamento que Pap e Gaster o estavam dando. Ela sabia perfeitamente que, mais do que ninguém, eles saberiam lidar com a situação, mas ainda assim... Apenas queria ter certeza, ver com seus próprios olhos que tudo estava bem.

— Posso... Posso vê-lo? - não compreendia porque soava tão tímida. Não era como se pedisse algum incoveniente ou nada parecido, era apenas... Apenas preocupação. E, ainda assim, mesmo que soubesse que fosse apenas uma curiosidade saudável derivada dessa preocupação, não conseguia evitar sentir-se acuada, como se estivesse, novamente, caindo em alguns dos segredos profundos de Sans.

Cada vez que o tempo passava, cada vez que ela aprendia mais sobre seu companheiro, mais o sentimento incomodo de intrusão incomodava-lhe o peito. Era como se ela estivesse invadindo sua vida, usando de metodos ardilosos para descobrir seus segredos, deixando-o, posteriormente, sem qualquer memória de que ela realmente sabia sobre sua vida. Ela sabia que a maior parte do tempo não era sua culpa, que ela simplesmente encontrava-se no lugar errado na hora errada e que os resets, indesejados, continuavam acontecendo, como se para impedir que Sans tivesse conhecimento do que Frisk sabia, do que ela descobria, do que ele lhe contava. E, ainda tendo o conhecimento dessas ocasionalidades de sua vida conturbada, não conseguia simplesmente deixar de sentir-se como uma invasora a escavar os segredos obscuros de alguém sem seu consentimento. Sentia-se simplesmente errado.

Sua culpa, porém, refletida em seu olhar enquanto observava a água pela metade dentro do copo poderia ter ajudado a convencer Gaster a aceitar seu pedido. Ela não poderia ter certeza se essa realmente foi a causa, mas acreditava ter ajudado, mesmo que apenas um pouco.

Gaster, por sua vez, poderia compreender sua necessidade em averiguar a situação. Frisk tinha desmaiado antes de saber se Sans estava bem, ele poderia entender o sentimento de ter a certeza palpável em suas mãos, ele a sentiria também, principalmente sendo uma pessoa que mais necessitava ver para crer. Porém, ele também compreendia a dor que ficaria nos músculos da garota após o uso da magia de cura, compreendia que, assim como uma caimbra que incomodaria as regiões afetadas ela muito provavelmente não se sentiria apta para se mover durante um tempo, mesmo acreditando que não seria isso a impedí-la de tentar. Ele simplesmente não poderia deixá-la ir por si mesma ao segundo andar de sua casa daquela maneira, Toriel o mataria e ele próprio não se perdoaria.

Com um suspiro ele concentiu ao pedido, um leve calor tomando-lhe o peito ao perceber a luz que brilhou na expressão da garota ao receber sua resposta, prontamente preparando-se para erguer-se do sofá. Contudo, naquele instante, ele tomou a iniciativa, delicadamente passando seus braços a sua volta para que assim pudesse erguê-la com um simples impulso, não realmente impressionando-se com o peso relativamente leve que ela possuía.

Frisk não era das pessoas mais robustas. Ele não era dos mais fortes e ainda assim poderia aguentá-la durante um bom periodo de tempo sem quaisquer problemas, tinha certeza disso.

Seria normal, contudo, uma menina dessa idade ser tão leve? Ela estaria comendo direito? Deveria ver com Asgore esse assunto, não era o primeiro detalhe preocupante que notava no aspecto diário da garota.

— SANS, JÁ DISSE QUE VOCÊ NÃO ESTÁ EM CONDIÇÕES DE LEVANTAR! - era incompreensível como a voz alta de Pap não tinha chegado ao andar de baixo. O que parecia ser uma discussão bem acolorada entre ele e Sans parecia já estar acontecendo a algum tempo e nem Gaster ou Frisk tinham estado sientes dela até então. - TEM QUE FICAR DEITADO, POR FAVOR.

— Estou bem, Papyrus... A-apenas... Apenas preciso ver como ela está... P-por favor...

— VOCÊ ESTÁ QUEIMANDO EM FEBRE, SANS! MAL CONSEGUE SE MANTER ACORDADO, COMO ACHA QUE VAI IR ATÉ LÁ?! EU DISSE QUE ELA ESTÁ BEM, TENHA UM POUCO MAIS DE CONFIANÇA EM MIM!

— Eu tenho, Pap... Mas... Por favor, eu só... Só preciso ver...

— Sans. - a voz de Frisk era baixa, cautelosa, ela não sabia se pelo momento que acabara de interromper ou simplesmente porque sua garganta ainda encontrava-se demasiadamente seca para falar mais alto do que esse tom. Seja como for ela estava agora de frente para Sans, ainda sendo carregada por Gaster, encarando-o sem saber se deveria sentir alívio ou preocupação.

Alívio por saber que, de um certo modo, ele estava bem, estava sentado em sua cama, meio bambo e desajeitado, sem camisa e coberto até o colo por cobertas grossas. Porém ainda era preocupante, ele estava muito mais pálido do que o natural, o que já era surpreendente, seu rosto, no entanto, encontrava-se rubro juntamente as juntas de seu torço; tremia, tão forte que era possível até mesmo para Frisk ver, sem saber exatamente se era pelo esforço ou por sua própria condição, Pap tinha mensionado que ele estava com febre, poderia ser por isso; ele estava uma bagunça, cabelo desgrenhado, suando, bufando quase como se não pudesse realmente respirar, olheiras muito mais demarcadas agora, olhos vermelhos e molhados.

O mais expressivo e doloroso, porém, que realmente lhe trazia toda a preocupação, eram os olhos. Grandes olhos azuis, reluzindo em uma mistura tão profunda de emoções que era complicado distinguir qual realmente deveria estar sentindo.

Com cuidado Gaster a colocou sobre a cama, bem ao lado de Sans, nenhum deles conseguindo evitar perceber a forma como ele se afastou, acuado. Frisk não sabia se deveria se sentir chateada, mas supôs que fosse natural, ele deveria ainda... Ainda estar confuso, ou isso ela gostaria de acreditar, não era nada com ela.

Da mesma forma tranquila e silênciosa, Gaster puxou Papyrus para fora. Frisk conseguiu escutar suas tentativas de protesto, mas estava demasiadamente concentrada em Sans para realmente prestar atenção. Ela escutou o clique da porta se fechando, ela escutou os passos se afastando, mas seus olhos nunca deixaram o rosto do rapaz, procurando, de alguma forma, trazer de volta aqueles enormes olhos azuis para sua direção. Ele não aqueria encarar, punhos bem fechados e rosto para o lado, evitando qualquer tipo de contato que poderia ter com ela.

Novamente, ela tentou não ficar chateada, tentou não pensar muito, apenas... Apenas agir. Abraçá-lo foi apenas uma das formas as quais conseguiu encontrar para extravasar a onda de alívio a qual sentia, sabendo que ele estava bem, que estava ali.

O silvo de dor, porém, a empurrou para trás segundos depois de avançar, ainda lhe permitindo tempo o suficiente para constatar o quão quente estava sua pele, queimando como fogo debaixo do toque leve que usou para envolver seus braços ao redor de seu torço.

— Desculpe! Eu... - apressou-se a dizer, mãos saltando para longe juntamente a seu corpo, temendo machucá-lo novamente. - Não sabia que ainda doía tanto. Deveria ter imaginado, desculpe...

— Não... Tudo bem, não foi nada realmente. Eu estou bem... - era uma mentira, qualquer um poderia dizer. Ela não poderia dizer quanto as dores em seu corpo, mas seu estado era febriu, seu cansaço era palpável e sua dore era facilmente refletida tanto em seus movimentos tensos e cuidados como em sua expressão. - Mas e você? Está bem? Eu não... Quer dizer, ontem você... Você estava...

— Você se lembra de alguma coisa do que aconteceu? - Sans estremeceu, seus olhos ainda sem encará-la, afastando-se um pouco mais de perto de onde estava, uma de suas mãos indo para a cabeça apanhando um bocado de cabeço no caminho.

— Eu... Mais ou menos... Acho. Minha memória é bem picada, apenas alguns... Alguns flashes aqui e ali...

Sans estava assustado. Sua mente com memórias picadas e embaçadas o deixavam ansioso e nervoso pelo que tinha feito, sem saber se teria sido melhor saber tudo o que aconteceu ou permanecer assim. Ele recordava-se de Frisk, no entanto. Ou pelo menos um pouco, apenas assim ele sabia que ela estava ali em sua casa ao invés de algum lugar distante, segura. E ainda assim ali estava ela, provando que os flashes em sua mente eram verdades e que... E que ele a havia machucado.

Ele era um maldito monstro, droga! Como ela ainda conseguia estar perto dele?!

— Sans? Sans, olhe para mim. - mãos delicadas tocaram-lhe o rosto, dedos leves e pequenos empurrando, da forma mais suave possível, seu rosto para o lado. Ele chegou a se encolher com o contato, assustado, coagido, mas deixou que ela o guiasse, apressiando, da forma egoísta como era, o suave dedilhar nas maçãs de seu rosto, em suas bochechas, na poucas mechas de seu cabelo grandes o suficiente para entrar em seu alcance. Não a encarou, porém. Seus olhos mantiveram-se fechados em todos os momentos, não realmente sentindo-se corajoso o suficiente para ver o medo que deveria ter naqueles belos olhos dourados. - Pare de se culpar tanto, não faz bem para você. A culpa não foi sua.

— Como pode dizer isso? Depois do que fiz com você! Eu sou um mosntro, Frisk, você viu! - seus olhos se abriram, exasperados. Claro que Frisk não o culparia, obviamente ela não o veria como realmente deveria ver. Ela era uma pessoa boa dessa forma e, por mais que Sans estivesse realmente agradecido por isso, já que de todas as pessoas ele se considerava o pior e realmente sortudo e egoísta de tê-la por perto e de querer mantê-la assim, ele ainda estava preocupado com o sentido de auto-preservação falho que ela tinha. - Eu poderia ter te matado Frisk! Eu não me importaria de fazer! Eu queria fazer! Quando vai aprender que eu sou um problema para estar perto e que sua irmã tinha razão o tempo inteiro?!

— O... Wow... Você admitindo que Chara está certa. Deve estar pior do que eu imaginava.

— Pare de brincadeira, Frisk! Esse não é bem o momento!

— Sans, o fato de eu estar brincando nesse momento apenas quer dizer que nada do que você disse eu estou levando a sério.

— Por que?!

— Porque eu sei que não são verdades. Quantas vezes terei que te dizer que você não é o monstro que sempre acredita que é? Quantas vezes vou ter que te mostrar isso?

— Como você pode saber que não sou?! Frisk, você viu o que eu fiz, você viu que sou capaz de matar, mesmo você! Como pode ainda dizer que não sou um monstro?!

— Porque eu sou sua amiga. - a afirmação veio tão firme quanto seu olhar, recusando-se a desviar-se seja o momento que for. Determinação queimando líquida no dourado, quase reluzindo como ouro, bem abertos e centrados, agarrados ao azul sem sequer piscar. - Eu sei quem você é, quem você realmente é. E pode não acreditar em mim, vou continuar repetindo todas as vezes que forem necessárias, mas você é uma boa pessoa. Você se preocupa, você cuida, você perde seu sono por pessoas que você nem ao menos conhece. Sans... Uma pessoa ruim, que mataria a sangue frio, não é assim. Uma pessoa ruim não se importa, não tem consciência. Mas você a tem, mesmo que tente esconder. O monstro que você vê em você mesmo é apenas fruto de sua própria imaginação, da sua própria culpa... Sans, ele não existe.

— Apenas você vê essa boa pessoa... - Sans resmungou, seu rosto quente, dessa vez não por culpa da febre, mesmo que ela fosse uma boa desculpa.

— Isso porque eu fui a única que você deixou chegar perto o suficiente para ver.  

— Tenho certeza que foi apenas porque forçou a chegada... - ele suspirou, derrotado, sabendo que nenhum dos argumentos que estava disposto a falar afetariam de algum modo a mentalidade da garota determinada a sua frente. Ela, por sua vez, abriu um enorme sorriso, mãos nunca deixando o rosto do albino.

— Isso faria sentido. - ela riu, feliz, querendo apenas apreciar a levesa da atmosfera naquele momento. Sans também não poderia negar que, apesar de tudo o que sua mente continuava a se culpar e a pesar seus ombros, era um bom refrescar poder conversar com Frisk dessa forma leve. Ele apreciava sua presença, mais do que gostaria de admitir e isso, em um certo modo, o assustava. O assustava porque, em momentos como os de ontem, onde por seu grande apego a deixava na mira de pessoas que gostariam de atingi-lo de formas bem mais dolorosas do que as físicas, ela era um alvo fácil e frágil...

Talvez... Talvez não frágil. Ele sabia que Frisk tinha suas capacidades para se cuidar, mas ainda assim... Sua mãe também era bem capaz, ele a viu diversas vezes derrubar homens muito maiores e mais fortes do que ela e da mesma forma... Da mesma forma ela foi atingida, ela foi morta, ela foi derrotada. Não importava o quanto Frisk melhorasse, o quanto ela evoluisse, sempre existia um meio que a colocaria em perigo e essa noção, essa simples noção que poderia facilmente ser esquecida ou mal interpretada era o que recheava seus pesadelos todas as noites.

Não importa se era Pap, Frisk ou até mesmo Gaster que tinha muito mais magia do que uma pessoa normal e, por tanto, uma maior capacidade de se defender, sempre existiria um meio, uma pequena chance, uma abertura, para que eles fossem pegos. E, para o azar de Sans, seus inimigos eram pacientes, eles poderiam esperar, observar das sombras até encontrar essa pequena brecha e então atacar. E tudo por que? Porque eles o conheciam de alguma forma.

Porque ele os amava e os queria proteger.

Não era justo. Mas, ele já tinha percebido há um bom tempo, a vida não era justa.

— Estou feliz, por você estar bem... - murmurou, sem reparar. As palavras simplesmente escaparam, insentivadas pela proximidade e pelo momento, pela fragilidade da situação. Poderia não ter passado de um sussurro arrastado, um leve fio de voz, mas pela próximidade a qual Frisk se encontrava, não foi difícil para escutar.

— Sans...

— Não, não pelo que eu fiz. Bem... Isso também, mas... Por antes disso... Pelo plano de Ralph. Eu... Estou feliz que... Não tenha dado certo. Estou feliz por você estar bem... Por um instante eu pensei... Apenas pensei que... - seus dedos escovaram os fios de cabelo castanho, ignorando a dor em seu ombro e cotovelo, junto a pressão em seus músculos para se mover. Eles ainda se sentiriam fragilizados por um tempo, sentindo-se sensíveis por pelo menos um dia antes de finalmente se estabilizar.

— Também estou feliz que nada aconteceu. Na hora eu não pensei muito, mas... Eu fiquei tão assustada com a possibilidade de ter funcionado... Eu... Não quero ter que lutar com nenhum de vocês...

— Sinto muito... Eu deveria saber que ele pensaria algo assim... Eu deveria... Deveria ter feito alguma coisa... Deveria ter desviado a atenção de você, mas... Não consigo... Frisk eu...

— Shh. A culpa não é sua, Sans. Ele usou um truque baixo, todos sabem disso, mas agora passou, nada aconteceu, estamos bem... Está tudo bem agora. - ela gostaria de se convencer disso. O medo ainda preenchia suas veias, mas dizê-lo com Sans em tal estado talvez não fosse sua melhor escolha, ela precisava estar calma, confiante, pelo menos por agora... Por enquanto... Não sabia quanto tempo, apenas... Apenas manter-se firme e seguir em frente. - Agora, você tem que descansar. Você ainda está com febre e muito provavelmente dolorido.

— Eu estou bem. - ele teimosamente insistiu, cenho franzido em profundidade enquanto uma das mãos segurava seu pulso. Ele não queria que ela saisse.

— Você mal consegue respirar direito Sans. Eu vou estar lá embaixo com seu pai, Pap vai estar aqui cuidando de você, nada vai acontecer nesse meio tempo e, quando eu for embora, você sempre pode me ligar. Sem falar que não é como se eu não tivesse a intensão de voltar para ver como você está. - com o máximo de cuidado que conseguiu o fez voltou a deitar-se na cama, puxando as cobertas para próximo de seus ombros antes de tentar se levantar. Suas pernas estavam ainda um pouco bambas, mas ela tinha certeza que poderia andar por si mesma. - Fique melhor rápido e vamos poder conversar melhor, tudo bem?

— Você é muito nova para agir como se fosse minha mãe, sweetheart.

— Sou apenas um amiga preocupada, eu tenho o direito de cuidar de você, principalmente quando você não cuida de si mesmo.

— Você está sendo hipocrita agora, sweet...

— Apenas vá dormir, Sans. Pense nisso como um dia de folga e use de toda sua preguiça.

— He... Você me conhece tão bem...

Rindo, Frisk deixou o quarto, ainda um pouco bamba sobre suas pernas, mas firme o suficiente para andar. Agora que tinha certeza que Sans estava bem sentia como se tivesse um peso a menos em seu peito, porém ainda não tinha terminado seu dia e, agora que o mais importante tinha sido resolvido ela precisava lidar com outras questões.

Ela sorriu, em uma mistura de cansaço e agradecidmento, para os dois parados no final do corredor, arrastando-se até eles com passos ainda incertos, membros reclamando pelo esforço, mesmo que não tanto como antes, ela já podia sentir seu corpo ajustando-se para seu normal. Deixou que Papyrus lhe embalasse com um abraço cuidadoso e, apenas então, dirigindo-se para de volta ao quarte de Sans, deixando Frisk com Gaster novamente.

"Quer tomar um banho? Tenho certeza que se sentirá melhor depois e ainda creio que tem roupa sobressalente sua por aqui."

Não era um má ideia. Seu corpo sentia que necessitava, sem falar do fato que poderia ajudá-la a clarear os pensamentos que continuavam a brotar insessantemente em sua mente. Ela tinha tempo... Tempo, na verdade, sempre foi o que menos lhe faltou.

Sem hesitar ela aceitou a proposta, sentindo-se já demasiadamente familiarizada com todo o lugar e a situação para realmente ter algum tipo de incomodo com o momento, mesmo que estivesse em uma casa com três homens. Obviamente trancar a porta do banheiro ainda era uma prioridade.

Ela não precisou de muito tempo. Apenas o suficiente para tirar a sujeira de seu corpo, aliviar os músculos e relaxar o suficiente para sentir-se novamente disposta a sair e enfrentar os problemas. A água quente sempre foi muito boa para esvaziar tensões, desviando seu foco, mesmo que por meros e escassos minutos, de seus problemas para uma sensação mais suave e convidativa. Mas ela precisaria sair em algum momento e, sem mais escolhas, movida também por sua curiosidade latente, ela se pôs para fora.

Aparentemente ela apenas tinha calças sobraçalentes na casa dos Skeltons dessa vez. Como ela passava algum bom tempo com eles, principalmente por conta de seu tumor averiguado constantemente por Gaster, deixar uma ou outra peça era apenas uma tatica sensata, nunca se sabe os imprevistos que poderiam acontecer. Porém, deveria admitir, com todas as redefinições que constantemente aconteciam, era complicado para ela manter o controle do que ela levava para lá, quando levava e o que usava e, exatamente por tal, agora ela encontrava-se com uma das blusas de Sans, tão grande quanto um vestido, e uma calça jeans que aparentemente havia esquecido. Não era o mais elegante, mas ela realmente não estava se importando muito com estética no momento.

Para não dizer, ela iria admitir isso, que era confortável.

Sentando-se no sofá da sala novamente, já mais tranquila e relaxada, esperou que Gaster se acomodasse ao seu lado. Não sabia como exatamente abordar o assunto e não acreditava que Gaster seria aquele a iniciá-lo, encontrando-se, então, em um impasse desconfortável.

"Como anda seu tumor?" Gaster assinalou, preocupado. Em resposta, contudo, Frisk empurrou sua alma para fora, mostrando a mancha negra, agora talvez permanente, em sua alma vermelha. Não era grande e não poderia ser dita estável, mas seu crescimento era controlado, lento e poucas eram as situações que agora a afetavam efetivamente então, de todos os males, ela estava bem com aquele. "Ótimo. Fiquei preocupado que toda essa situação pudesse ter causado algum retrocesso."

O que exatamente aconteceu, Gaster? Quer dizer, eu estava lá, eu vi a transformação de Sans, eu vi o que ele se torna, mas ainda... Eu não entendo como? Por que? Eu só... Não entendo... - seus olhos subiram para encarar o homem a seu lado, percebendo perfeitamente seu desconforto com relação ao assunto, mas ela não o poderia deixar de lado, ela queria saber o que aconteceu, ela queria saber como poderia ajudar. - Eu sei que você tem as respsotas. A mensagem que você me enviou foi muito conveniente e vocês parecem saber muito bem o que fazer com toda essa situação. Então me explique, Gaster, por favor. Eu estou preocupada com ele, mas não posso fazer nada se não souber do que se trata.

Ele hesitou, respirou fundo, mexeu nervosamente com as mãos e então suspirou, derrotado, ombros caindo e rosto tornando-se triste. Frisk apenas esperou, ela sabia que Gaster a iria responder, ele não tinha saída.

"Sans sempre teve muito mais magia do que deveria. Sua alma produz muito mais do que o necessário. Mesmo quando sua mãe estava gravida dele a quantidade foi exorbitante e até mesmo os médicos chegaram a acreditar que apenas um deles sobreviveria ao parto, se sobrevivesse... Ele foi um milagre." suas mãos tremiam ao assinar as plavras, ainda hesitantes, duvidosas. "Foi a explicação dada por seu HP baixo também. Como você já deve saber, a magia, mal proporcionada, pode afetar seu portador. Sans tinha tanto que ela o feria e o mantinha frágil apesar de forte. Sempre soubemos como lidar com isso, porém. Ele é um garoto esperto, então sempre deu seu jeito de ter uma vida normal apesar desse empecilho. Sua magia e o controle que ele passou a ter sobre ela também o ajudou bastante."

— Tudo bem, até aí eu já sabia, mas o que tem haver com o que aconteceu ontem?

"Algum tempo depois da morte de sua mãe, ele apareceu com o HP um pouco maior. Não muito, apenas meio ou um ponto a mais, mas o suficiente para me dar esperança de que talvez sua magia estivesse se ajeitando de forma não prejudicial ao seu corpo. Porém, o tempo foi passando e, quanto mais seu HP subia, mais parecia que sua magia se elevava ainda mais." O que fazia sentido. Depois da morte de sua mãe foi quando Sans começou a matar, ou seja, seu LOVE ganhou aumento o que significava que as outras estatísticas também elevaram-se, e isso incluia a magia. "Até que chegou o momento que, de alguma forma, ela precisava encontrar uma via de escape, um uso, quando Sans tinha algum tipo de estresse. Você sabe, a magia reage de acordo com sentimentos muito fortes, é exatamente assim que se empurra para fora a magia pela primeira vez, mas com a quantidade que Sans possuí, uma explosão mágica pode realmente afetá-lo de forma irreversível e suprimí-la não é uma opção. A mudança veio natural, eu acho, eu a percebi quando ele tinha treze. Não era nada de mais, começou com pequenos detalhes como os dentes pontudos, a calcificação das mãos, a mudança na forma de dilatação da pupila de seus olhos... Mas vem piorado. Quanto mais magia ele tinha, pior ficava, até que... Aos vinte... Ele se transformou completamente pela primeira vez. Foi um desastre, ele perde completamente o controle de seu corpo e mente, torna-se um animal movido pelo instinto de caça, ele não sabe dizer o que faz... E sendo uma transformação forçada seu corpo sofre com isso. Principalmente sendo em tal proporção."

— Quer dizer que toda vez que Sans tem uma explosão de furia agora ele se transforma... Naquela coisa? - Gaster assentiu, solene. - E não tem como impedir? Canalizar a magia de outra forma? Fazê-lo usá-la o suficiente para evitar a transformação?

"Tentamos todos os metodos que pudemos pensar, mas depois que a transformação se inicia é impossível parar. A magia continua sendo produzida para suprimir a necessidade do corpo terminar a mudança e é rápida de mais para que ele possa canalizá-la de outra forma. Quando ele tem a explosão de raiva, normalmente, a um excesso de produção que torna, estatisticamente, improvável que ele a use o suficiente para voltar a ser estável. É um meio de que seu corpo não sofra os efeitos colaterais da quantidade excessiva, gastando-a em maça. Seu HP fica inteiro, mas o corpo continua dolorido. Você mesma viu o que acontece com seu corpo quando ele se transforma, era impossível que não houvesse nenhum efeito colateral."

Frisk estremeceu, nada feliz em recordar.

— Não tem realmente nenhuma forma de parar isso?

"Eu tentei tudo que consegui, mas a única solução que encontrei foi reforçar o quarto de Sans para que tenha resistência o suficiente de prendê-lo enquanto está nesse estado e não faça nada... Nada que se arrependa de fazer. Ainda assim, existem vezes que ele não consegue chegar a tempo e dias como hoje acontessem."

Bem, ela pelo menos sabia o motivo agora que aquela criatura aparecia em momentos tão aleatorios em cada cronograma. Tudo dependia do que aconteceria com Sans em algum momento da linha, dessa vez sendo o fato da briga com Ralph, muito provavelmente tendo incrementado-se com o que ele tinha tentado fazer com ela. Quando ela o encontrou no telhado, várias linhas do tempo atrás, ela poderia facilmente supor que tinha sido pelo fato de informações pessoais sobre ele terem vazado para outras gangues, o que também explicaria porque ela não o tinha conseguido encontrar naquela noite.

— Como vocês conseguem lidar com ele? Sem se machucar ou... Ou machucá-lo?

"Ele reconhece Papyrus. Eu não tenho muito certeza ainda do motivo, mas acho que é por conta de sua magia. Sans esteve em contato direto com ela desde que Papyrus a liberou pela primeira vez, a familiaridade que ele tem ao ajudá-lo a controlá-la é bem meio do que comigo e como ele tem seus sentidos, tanto mágicos como físicos, muito mais apurados em sua outra forma, então ele deve mais facilmente reconhecê-lo, de alguma forma... Eu ainda não tenho certeza."

— Bem, isso explicaria como ele me reconheceu. - os olhos de Gaster cairam sobre ela, surpresos. - Foi... No final de toda a confusão. De alguma forma eu consegui reconhecê-lo, mas não podia trazer sua consicência de volta. Ele me prendeu no chão, eu não podia me mover, mas... Meu corpo agiu sozinho, não estava pensando muito bem, mas agora, levando nessa lógica e voltando ao que aconteceu, acho que faz sentido. - Frisk fez sua mão brilhar em magia, em uma demonstração do que queria falar. - Apenas me preparei para usar, mas minha mão estava encostada em sua pata e... Ele recuou, como se tivesse sido queimado. Quando tentou de novo, tinha mais hesitação. Ele reconheceu minha magia e parou de me atacar e me trouxe até aqui.

Frisk não contaria os detalhes, ninguém precisava saber que ela morreu ou quase morreu naquela noite, muito menos Sans. Deuses ele se culparia tanto se soubesse! Apenas pelo franzir profundo do cenho de Gaster ela pode ter uma noção de que, mesmo deixando os detalhes de fora, a informação ainda era preocupante.

Foi apenas quando deu-se conta. Ela tinha passado a noite fora, seu celular tinha perda total e tanto Chara como Lance deveriam estar em uma loucura, cada um por seus motivos. Lance por não saber o que tinha acontecido com ela depois de tê-la deixado, o pobre rapaz deveria estar corroendo-se em culpa naquele momento, vai se saber quanto já tinha imaginado apenas por não conseguir ligar para ela. Chara definitivamente tinha reparado os saves, e se não era ela que os causava, a única pessoa com a qual ela poderia assossiar esse tipo de atividade era Frisk.

Deuses, ou ela arrumava uma maneira de se comunicar com eles ou definitivamente ela estaria morta na primeira oportunidade que eles tivessem de encontrá-la.

— Sinto muito, Gaster, você poderia pegar mais um copo de água para mim, por favor? Minha garganta ainda está seca. - era uma desculpa, não como se não tivesse uma pitada de verdade, mas ainda uma desculpa. Ela precisava fazer um novo celular e, por mais que agradecesse Gaster por não ter perguntado sobre o fato de ter magia quando ela tinha certeza que não tinha dito a ninguém, talvez com a excessão de algumas restritas pessoas na gangue, que ela a possuia, ela ainda queria evitar a questão o máximo possível. Se ele percebesse o quanto ela tinha esperiência sobre ela com toda certeza começaria a fazer perguntas.

Gaster não se importou em levantar e voltar para a cozinha, deixando tempo suficiente para Frisk fazer o que tinha que fazer.

Não era como se fosse fácil, mas ela tinha prática. Todo esse tempo, todas essas redefinições, ela esteve treinado e, por mais que não pudesse ir muito além de objetos inanimados, ela ainda poderia construir detalhes, mesmo mecânicos. Se ela tivesse tempo suficiente para avaliar, injetando sua magia, algum objeto então ela poderia reproduzir uma cópia quase perfeita. Ela ainda tinha alguns problemas com alguns aparelhos mecânicos, eles eram mais complicados e detalhados e por isso era normal que um ou outro defeito viesse no pacote, mas com toda certeza era muito mais do que poderia fazer no começo.

Não levou um minuto para que tivesse seu celular de volta na mão, ainda sendo obrigada a retirar o chip, ainda inteiro, do original para que assim tivesse seu numero de volta e assim, as mensagens que viriam com ele.

O primeiro que deveria fazer, agora, deveria ser ligar para Chara. Tratar primeiro o pior.

Precisou de apenas um toque de espera para que a chamada fosse atendida.

Frisk se não me explicar agora o que aconteceu para ter quatro saves em uma única noite eu juro que o quinto não vai demorar a acontecer! — não poderia dizer que estava muito fora de suas expectativas, apesar que Frisk preferia ter evitado o zumbido que ficou em seu ouvido depois dos gritos de sua irmã.

— Chara, por favor, é complicado.

— Complicado minha bunda, Frisk! Você tem cinco segundos para falar antes que eu comece a te rastrear...

—Tudo bem! Tudo bem! Sabe aquela besta que aparece de vez em quando nos noticiários? - Frisk sorriu para Gaster quando ele lhe entregou a água, agradecida. Ele, por sua vez, devolveu-lhe com um olhar compadecido, muito provavelmente conseguindo escutar tudo que Chara estava a esbravejar do outro lado da linha. Sentia como se estivesse prestes a ter uma terrível dor de cabeça.

A lenda urbana?

— Pois é... Então, não é uma lenda urbana? Quer dizer, eu meio que me deparei com ele ontem e por isso aconteceram esses... Essas voltas.— droga, ela teria que ter cuidado com o que falava, não apenas para Chara, como também para que Gaster não escutasse. Ele não sabia dos Save e o ultimo que Frisk queria era insentivá-lo a voltar para os estudos sobre o tempo quando finalmente ela tinha conseguido fazê-lo voltar ao cronograma original.

Vamos lá, Frisk! Você quer mesmo que eu acredite que você foi atacada por um monstro?!

— Não sei por que está achando tão inacreditável. Mas o que mais você quer que eu diga? É a verdade! Sabe que não sou boa em mentir, então por que continua duvidando?!

É apenas um pouco difícil de acreditar nisso, principalmente depois de tudo o que você tem se metido ultimamente. Se bem que vindo de você, eu realmente não deveria duvidar de coisas assim. Você é um imã para problemas estranhos e improváveis.

— Você não tem nem ideia... - resmungou, tão baixo que mesmo Chara não poderia escutar.

Mas você está bem agora? Precisa que vá te buscar? Posso pedir a Asriel, ele já está arrancando os cabelos por não saber onde você está de qualquer forma.

— Não, eu estou bem. Provavelmente ainda vou ver Lance para resolver uns problemas antes de voltar para casa, não tem que se preocupar.

Não me preocupo.

­— E depois você duvida da minha palavra. - riu, divertida. Tudo bem, Chara nunca seria um amor de pessoa e ela era mais capaz de cometer um assassinato antes de demonstrar seu afeto a alguém, mesmo Asriel tinha suas dificuldades em saber quando ela estava sendo gentil com ele ou simplesmente sarcastica. Mas ela ainda se importava, mesmo que fosse com pessoas tão restritas. - Te encontro quando chegar em casa, prometo que assim que entrar em contato com Lance e resolver o que tenho que resovler eu vou direto praí e então podemos conversar.

É bom cumprir essa palavra, Frisk.

­— Eu já quebrei alguma vez? Até, Chara.

"Parece que está com problemas... Eu sempre achei estranho que você leve muito mais esporro de sua irmã do que de seus pais" Gaster assinalou, um pouco depois de Frisk desligar a chamada e deixar o telefone no colo por um tempo, dedos empurrando o cabelo para longe em um pentear cansado.

— Tori e Asgore são incríveis, mas tem algumas coisas que é simplesmente complicado deixar saber, sabe como é, e eles não insistem muito que contemos. Acho que sabem que temos nossas vidas para lidar e, algumas vezes, queremos tentar resolver tudo sozinhos. Mas Chara é mais entrometida, ela gosta de ter o controle sobre as coisas com o que se importa, e eu e Asriel estamos incluidos nisso. - respirando fundo, Frisk pegou seu celular uma vez mais, avaliando as mensagens que teria recebido. Nem todas eram salvas, algumas antigas conversas tinham sido apagadas, mas as recentes ainda estavam ali e, dentre elas, as diversas novas que havia recebido de Lance, para não contar suas chamadas perdidas. - Deuses, e eu pensando que Chara seria o pior que eu teria que lidar... Só espero que Lance não tenha um ataque cardiáco.

"Aquele seu amigo? Era ele que estava voltando para casa com você ontem?"

— Infelizmente. Eu o convenci a fugir com um garoto de rua que tinha topado conosco na hora, mas... Bem... Eu não tive a oportunidade de falar com ele depois de toda essa confusão e, conhecendo-o bem eu diria que quinze mensagens e dez chamadas ainda foi pouco...

Ela olhou algumas mensagens, as primeiras ainda dentro de um parâmetro relativamente calmo, Frisk acreditou que Lance tentava manter a calma e o pensamento positivo quando as enviou, porém, com o decorrer do tempo e a chegada das mensagens, ela reparou no gradativo subir do pânico. Quando as chamadas começaram, Lance já deveria estar imaginando o pior. Foi apenas na ultima que ela percebeu a urgência, enviada não mais do que dez minutos atrás:

*Tudo bem!! Eu vou presumir que você apenas não pode ou não quer me responder, então, seja o que for que aconteceu, é melhor você aparecer em Muffet antes das 13 ou então... ARG! Nem sei o que fazer! Apenas por favor, não apreça em um noticiario como uma das vítimas da noite, por favor...*

O relógio de seu telefone muito provavelmente estava errado e não tinha nenhum por perto que pudesse ser conferido no momento. Que maravilha, ela só esperava que não tivesse desmaiado por muito tempo e ainda tivesse tempo de evitar a histeria de seu amigo.

— Quantas horas, Gaster? - confuso, o homem deu uma olhada em seu relógio de bolso, tão antiguado quanto parecesse combinava com ele, não muito tempo depois indicando que era um pouco depois de meio dia. Ótimo, ela ainda tinha tempo, se corresse talvez pudesse chegar a Muffet antes das 13. - Eu tenho que ir Gaster, não acho que dessa vez posso resolver pelo telefone.

Gaster assentiu em compreensão, ajudando-a a pegar o pouco de suas coisas que poderia carregar e só então guiando-a até a porta.

— Frisk... - olhos dourados subiram para a beirada do segundo andar que se mostrava na sala, encontrando-se novamente com olhos azuis cansados, um pequeno sorriso no rosto pálido enquanto procurava apoiar-se no estrado que dividia o corredor da sala.

— Deveria estar descansando. - comentou, procunrando parecer desconcertada, mas o pequeno sorriso insistia em aparecer em seu rosto.

— Apenas conferindo se não se meteu em nenhum outro problema. - zombou o albino. - Não esperei também que ia embora tão cedo.

— Tenho que acalmar algumas pessoas antes que possa voltar, nem ao menos vai perceber que saí. - Frisk sorriu, abrindo a porta de entrada e dando um ultimo aceno de despedida antes de ir, usando o melhor que podia de suas pernas para correr na direção de New Home.

"Ela é uma boa companheira, não acha Sans? Eu não me importaria de tê-la como nora." Gaster comentou, não muito tempo depois de fechar a porta, sorriso divertido em seu rosto, recebendo unicamente um grunhido de seu filho o qual tinha o rosto vermelho, e tinha certeza que não era por conta da febre. Ele deu-lhe as costas não muito tempo depois, caminhando de volta para o quarto no mesmo instante que Papyrus chegava a sala.

O distanciamente, porém, não impediu Gaster de continuar sua diversão.

— NOSSO PAI DISSE QUE QUER SER AVÔ AINDA NESSA VIDA, SANS! - Papyrus gritou, apenas para escutar o bater forte da porta não muito tempo depois.

Sans ficaria bem.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha entendido toda essa dinâmica de Blaster Sans que, aliás, existe sim um universo apenas dele, é apenas... Comic não terminada para o meu grande sofrimento.
Próximos especiais temos um da Chara, explicando mais ou menos a dinâmica dela na gangue dela, relacionamento com Asriel, passado, etc etc.
Temos um que continua com o especial sobre os anos de faculdade do Gaster. Um pouco mais da interação dele com a Miriam e tudo.
E por ultimo um especial com foco no relacionamento crescente do Keith e do Lance. Por que? Porque eu amo esses dois e faço questão que tenha um. Compartilhar meu amor por eles!
espero que tenham gostado, não sei quando poderei aparecer de novo, espero que semana que vem, e até~!