FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 34
Concertando um Erro


Notas iniciais do capítulo

Eu de volta, postando no mesmo horário do Social. Terei mais dois especiais ainda para fazer, além da continuidade da história, então pode ser que capitulos fora dos dias de lançamento apareçam. E com a chegada da minha mãe, meu irmão e um amigo meu aqui talvez eu não tenha tanto tempo para ficar de escrevendo, então talvez, apenas talvez, eu não consiga postar semana que vem, já avisado. Tentarei, se esse for o caso, colocar alguns dos especiais que tenho preparado, mas sem garantia.
Sei que você se surpreenderam bastante com o capitulo passado, espero causar a mesma reação nesse. Acho que ninguém realmente esperava o que vai acontecer então... Aproveitem bem.
Oh e esse também tem playlist, então, se quiserem ouvir ta aqui o link:
https://www.youtube.com/watch?v=PZ4ceb12QJY&list=PLIEQ4KYvFP3cGz_WoTyVruvJxuWNxPixX&index=1
Espero que gostem!



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FusionTale - Concertando um Erro

Frisk já tinha passado por diversas diferentes redefinições, seja em outros mundos que não mais existiam, como naquele próprio. Contudo definitivamente nenhuma foi tão estranha quanto essa. Nunca foi tão abrupta! Claro que algumas tinham ocorrido quando estava acordada, mas eram raras e ainda assim não chegavam a ser comparadas com essa. Foi tão atípica, tão estranha que ela precisou dos minutos que tinha entre o horário em que acordou e o soar de seu despertador para conseguir colocar todos os seus pensamentos em ordem e apenas assim chegar a uma conclusão concreta.

Obviamente já existiam redefinições que ocorreram antes da chegada de julho ou junho, obviamente existiam as redefinições rápidas e que a pegavam desprevenida e ainda aquelas que ocorriam enquanto ainda estava acordada. Talvez por sorte, nenhuma, até então, havia sucedido enquanto estava no meio de uma conversação, todavia poderia ser apenas coincidência e não um padrão exato. Contudo foi demasiadamente conveniente para que tivesse sido apenas uma mera questão de acaso. As únicas conclusões que poderia chegar, contudo, eram que alguma coisa estava acontecendo no menu. Talvez alguém estivesse lá ou talvez fosse apenas um problema com os botões? Frisk não conseguia acessá-lo para ter certeza.

Porém, se realmente fosse alguém, quem poderia ser? Até onde ela sabia mais ninguém além dela própria e Chara poderiam chegar até lá. Seria alguém do próprio vazio? Mas ele não era "vazio"? Mais alguém estaria na mesma situação de Gaster? Isso seria improvável, mas não impossível. Poderia ser Chara, mas não havia lógica em ser ela. Frisk sabia como ver o conhecimento de mudanças temporais nas pessoas, era fácil e simples, difícil de disfarçar, ela própria era a prova. Todavia, o que realmente indicava que definitivamente não poderia ser Chara era a tranquilidade de todas as linhas, demasiadamente iguais e monótonas para serem do estilo e gosto de sua irmã, ela não ganhava nada em retornar o tempo sem que se recordasse de alguma coisa para poder assim mudar os acontecimentos. Não existia genocídio, sua gangue sempre tinha o mesmo desenvolvimento a cada linha, então não tinha sentido algum em ser ela. Mas então quem?

Até então a teoria de que mais alguém no estado de Gaster poderia ser o culpado, contudo, sem provas não tinha como fazer nada em questão. Talvez fosse um mal funcionamento do botão, alguma coisa em sua alma dizia que essa alternativa não estava muito longe da verdade e ela deveria se recordar de alguma coisa muito importante, ainda assim não conseguia puxar da memória de sua alma o que realmente poderia ser. Eram muitos universos, muitos fragmentos, muitas memórias, procurar em cada uma delas era complicado e se não vinha naturalmente era provável que nunca conseguiria achar.

Ela precisava, definitivamente, arrumar uma maneira de entrar no menu. Mais do que nunca precisava ver o que estava acontecendo.

Porém, isso ainda era uma questão a ser trabalhada desde o começo no qual não tinha nenhuma simples pista de como. Então, primeiramente, deveria concentrar-se no problema que já tinha em mãos e poderia muito bem ser evitado e tirado de seus ombros: O acidente de Gaster.

Em primeiro lugar ela deveria garantir que com a redefinição ele teria voltado, teoricamente esse deveria ser o caso, mas como tudo estava uma loucura nunca se poderia ter realmente certeza. Depois ela precisava arrumar uma forma de se aproximar de Gaster, tão perto que poderia ter certeza com o que ele trabalhava, onde e seus motivos, ela precisava ter certeza de estar no lugar certo na hora certa para impedir o acidente, não queria ver Sans tão derrotado como na ultima linha do tempo. E, definitivamente, para se aproximar de Gaster a única forma era por seus filhos.

Ele era um homem introvertido, Frisk já tinha notado que a única forma de se aproximar dele, de chegar a alguma vez a ter uma conversação tranquila, era por intermédio de seus filhos. Frisk não sabia como seu pai tinha conseguido se tornar melhor amigo de Gaster, mesmo ela que diversas vezes se encontrou dentro de sua casa teve problemas para conseguir ter uma conversa simples com ele por mais de trinta minutos. Nunca teve que se preocupar com isso, porém. Ela sempre respeitou o espaço que Gaster parecia se sentir agradável assim como ele respeitava o dela, bem sabendo que no começo sentia-se estranho tê-lo por perto, contudo, agora, mais do que nunca, ela precisava da proximidade que antes não tinha.

Quando seu despertador tocou ela já estava de pé, determinada a tornar as coisas diferentes. Por algum motivo o cronograma tinha mudado sozinho e a cada vez mais os fatos apontavam que alguém era a causa de tudo isso. Quem e por que estava fazendo tal desastre acontecer ela ainda não sabia, mas estava disposta a tudo para descobrir.

E talvez não tivesse sido tão ruim, seu corpo queimava em determinação, uma animação que fazia várias linhas do tempo que não sentia. Sua vontade de lutar estava novamente de pé, ela não iria desistir, ela nem sabia porque tinha perdido toda sua esperança antes. Finalmente ela sentia-se indo para frente ao invés de estagnar-se no mesmo ponto. O mundo parecia estar rodando novamente e ela estava pronta para lutar pelo que acreditava e da forma como conhecia tão bem.

Seu primeiro passo com toda certeza foi encontrar Sans na biblioteca. Parece que independentemente se ela estivesse lá ou não ele iria, aparentemente por uma pesquisa qualquer a qual ele se distraiu depois de supostamente encontrá-la na ala a qual ele originalmente deveria achar os livros em questão dos quais precisava. Em seguida viria Papyrus, o qual, Frisk acreditava, ser o mais fácil dos irmãos de ter uma certa proximidade. Afinal, sempre Sans foi o mais desconfiado dos dois, dando mais trabalho para a morena de chegar perto o suficiente para ele se abrir.

Contudo ela deveria realmente ter imaginado alguma consequência por conta da união entre suas almas durante a linha do tempo anterior, depois de tanto tempo acostumando-se com começar literalmente do zero, mudanças iniciais não esperadas acabavam por passar longe por seu pensamento, portanto, foi deveras uma surpresa o que passou na biblioteca durante a tarde.

A ideia de união de almas tinha sido inesperada. Foi apenas uma curiosidade que lhe ocorreu ao lembrar-se da forma de reprodução de monstros, a qual se derivava exatamente da união de almas e que já tinha ouvido falar em outros universos, até mesmo em seu próprio. Apenas queria descobrir que, apesar de humanos, tal situação ainda poderia ocorrer. A questão em si derivava-se do fato de que, apesar da alma não necessariamente influenciar diretamente a mente, portanto, não retornar as devidas memórias as quais Sans poderia ter gravado em sua essência de linhas do tempo anteriores, ainda poderia refletir em suas atitudes e sentimentos.

Assim, quando toparam-se pela primeira vez nessa linha, a única palavra que realmente poderia descrever a situação era: estranho.

Foi como se Sans a conhecesse de alguma maneira. Ele não se lembrava dela, mas os sentimentos estavam ali, a mesma necessidade de proximidade, a mesma paixão, a mesma confiança de antes, o calor ardente não apenas de desejo, mas de algo mais, uma necessidade gritante de estar perto. E era estranho para ele, tal sentimento profundo, tais reações estranhas de seu corpo, a vontade latente de estar mais perto e de tocar por uma completa desconhecida, por uma garota nove anos mais nova do que ele, totalmente diferente a todas as quais já tinha estado alguma vez. Suas defesas caíram sem pensar, ele não sabia como explicar, mas apenas sabia que poderia confiar nela, como se sempre a tivesse conhecido.

Por parte de Frisk foi ainda mais complicado manter-se tão natural quanto possível. Sua alma pulsava de uma forma louca sentindo-se solitária, com vontade de apenas estar com aquela a qual tinha logo ao lado. Ela já estava apaixonada por Sans, uma e outra vez ele a conquistava e a fazia cair em suas redes por pior que ele poderia ser, por pior que fosse seu passado ou suas atitudes. Mas aquilo que sentia agora... A consequência da fusão de almas na linha do tempo anterior era completamente diferente de tudo o que imaginava. Muito mais fundo, muito mais... Irreversível.

E poderia se dizer que era tanto bom como ruim tal mudança. Bom porque Frisk não teve que dar toda uma caminhada, pisando sobre ovos, para conseguir uma certa proximidade com Sans. Instintivamente ele já sabia quem ela era e já a deixava tão próxima quanto possível, rapidamente tornando-se melhores amigos. O lado ruim era o fato dos sentimentos ainda estarem lá. Ela sabia o que ele sentia por ela, sabia como ele a via e sua necessidade latente, a qual ela compartilhava, de ter mais contato do que a amizade permitia. E isso doía, mais do que ela poderia imaginar, pelo simples fato dela simplesmente não saber se deveria ceder ou não ao sentimento. Ela ainda estava dolorida pela linha anterior, seu coração partia-se cada vez que ela reconhecia a falta de conhecimento nos olhos azuis, doía como um inferno ser a única a lembrar, ter que começar de novo todo um relacionamento o qual já tinha andado tanto. Era uma tortura, uma tortura saborosa a qual ela sempre sentia a necessidade de repetir e repetir, cada vez mais, por mais que soubesse que a faria mal.

Ela realmente deveria continuar a insistir em um romance que simplesmente seria apagado uma e outra vez? Como se não fosse nada? Claro a culpa não era de Sans, mas não significava que saber disso fazia doer menos.

De qualquer maneira ela deixou o tempo seguir, focada em seu objetivo, determinada a mudar os acontecimentos da linha do tempo anterior. Pouco a pouco, com o passar dos dias os quais criava um relacionamento mais intimo com os irmãos Skelton, ela arrumava uma maneira de aproximar-se de Gaster. Sua primeira ideia sendo tentar, de alguma forma, começando a conversar com Sans sobre seu trabalho, procurando, cada vez mais curiosa, entender o que estavam pesquisando. Boa parte ela já sabia de cronogramas anteriores os quais havia se mantido bem próxima do projeto, para não dizer o fato de ter feito parte dele, ainda assim, ninguém sabia e ela poderia cada vez tentar ir mais fundo no assunto, assim envolvendo Gaster na conversa.

Em seguida ela procurou perguntar-lhe sobre o passado. Era delicado, mas parecia que ele tinha a necessidade de falar com alguém. Seus filhos não queriam falar sobre sua mãe, aceitável, era doloroso pensar em alguém que não poderia estar mais ali para criar novas memórias, contudo, Gaster era velho, ele tinha a necessidade de recordar sobre seu passado, os tempos bons na faculdade, dias felizes com sua esposa, com seus filhos, talvez para simplesmente tentar recriar os bons sentimentos que vinham com cada memória. E Frisk se dispôs a escutar, tão fascinado quanto as vezes que pediu a sua mãe para lhe contar suas histórias.  

Gaster era apenas um homem solitário que queria se abrir, sem saber exatamente como.

O primeiro real problema que surgiu na linha foi o fato de Frisk não imaginar que o fato de ter se tornado amiga de Sans antes de entrar na gangue poderia fazê-lo tentar impedi-la de entrar novamente. A morena não queria deixar de participar, poderia ser um lugar que inicialmente ela sentiu-se desconfortável, mas agora tinha pessoas as quais ela realmente apreciava e gostava. Ela queria reencontrá-las como todas as vezes, manter suas amizades, mas aparentemente Sans não compartilhava de tal sentimento. Ela deveria ter imagino, afinal ele era super protetor e assim que ela tocou no assunto, além do breve detalhe dele ter ficado deveras surpreso ainda veio a verdadeira negação pelo simples fato de ser "um lugar perigoso de mais para ela".

— Pelo amor dos deuses, Sans! Eu não sou uma criança, sei me cuidar! - Frisk tinha exclamado, tão exasperada como nunca tinha estado antes. E era um fato, ela tinha bem mais capacidades de se cuidar do que qualquer um e odiava ser tratada como uma incapaz, principalmente agora, depois de ter passado por tanta coisa, depois de ter treinado tanto.

Não era a primeira e nem seria a ultima vez que os dois tinham discutido. Eles eram teimosos com relação a suas próprias formas de pensar, com toda certeza em algum momento ou outro suas ideias iam divergir e assim começariam a brigar. A questão é que sempre existia um vencedor, por pior que fosse a briga, e no final eles deixavam cair o assunto, aceitando o resultado que fosse, sem sequelas, sendo assim nunca realmente tinha tido um verdadeiro problema entre os dois. Era simplesmente fácil para eles se reconciliarem depois de cada briga, recusando-se a manter muito tempo longe um do outro. Algumas discussões até poderiam ter um final... Benéfico, por assim dizer. Levando a uma noite louca de sexo.

— Você tem por acaso alguma noção do que está falando, Kid? Não é questão de ser criança ou não para cuidar de si mesma! A questão é que é ilegal! - Sans esbravejou de volta, cenho franzido profundamente e rosto contorcido em uma careta exasperada. - Não é como esses desenhos ou filmes que fica vendo com Pap! Eles vão te matar se fizer alguma coisa errada!

— Você vai estar lá para me dizer o que tenho que fazer e eu sei passar despercebida, você sabe muito bem disso! Por que está esquentando tanto a cabeça?!

— Só porque eu vou estar lá não significa que vou conseguir livrar sua cara de todas as encrencas que pode se meter! Você não tem nem ideia do quanto se arrisca a vida lá, Frisk! Ser como você, uma pacifista, significa exatamente a morte! Por que quer largar um futuro tão bom para estar lá?! O que você ia ganhar?!

— Se é tão ruim assim então o que você está fazendo lá?! - e ela sabia que era golpe baixo entrar em tal assunto. Ela sabia exatamente o motivo por ele estar lá e permanecer lá, mas no momento ela realmente não estava pensando, apenas queria convencê-lo a deixá-la fazer o que ela queria.

— Isso não vem ao caso agora, Frisk. Estamos falando de você e não de mim.

— Você sempre faz isso! Muda e muda de assunto e nunca fala nada! É por isso que vou descobrir sozinha!

— E como tem tanta certeza que lá pode encontrar alguma coisa?! Mais do que na minha própria casa?! Afinal, por que quer tanto saber?! Por que arriscar toda sua vidinha perfeita por alguém como eu?! Não é como se eu fizesse alguma diferença no mundo perfeito que você vive!

— Você não sabe nada sobre mim, Sans. E se eu quero saber é porque importa para mim! Então deixa de ser teimoso! - e era para Sans saber. Era para ele ser o que melhor a conhecia, além de Chara, era para ele saber tudo sobre ela. Contudo o mundo estava preso em um vira tempo infernal e, por pior que fosse admitir, Frisk falava a verdade. Agora, mais do que nunca, Sans não tinha ideia de quem ela era. - Se você não me deixar ir eu vou sozinha, não duvide de mim! Então o que prefere? Estar ciente ou esperar que eu faça o que quero fazer pelas suas costas?

E a discussão tinha terminado, completamente a contragosto de Sans, tendo Frisk como a vitoriosa. Ele já tinha passado tempo o suficiente com ela para saber que era teimosa de mais quando estava determinada a fazer alguma coisa e nada do que fizesse ou dissesse poderia mudar suas ideias, por mais loucas que fossem. Ele apenas teria que se manter atento por agora, não apenas para não deixar transparecer que Frisk era alguém intimo dele fora da gangue e que sabia mais sobre ele do que qualquer um dos que estavam lá poderia saber alguma vez, mas também para não deixar que ela própria se metesse em alguma confusão a qual poderia sair seriamente machucada. Ele não se perdoaria se isso chegasse a acontecer.

Contudo, definitivamente essa ultima preocupação era desnecessária. Não teria como Sans saber, é claro, mas Frisk já tinha experiência o suficiente no lugar para dar-se perfeitamente bem ali, por mais diferente que fosse de seu caráter. Bastou alguns dias para que Diana novamente estivesse tão envolvida com a garota quanto uma mãe relaciona-se com sua filha. Carl em seguida veio, tão animado e encantado por finalmente ser capaz de tagarelar sem parar para alguém que realmente o estava escutando e não o impedia. Anabelle foi mais cautelosa, mas em seguida caiu no charme. Bill inicialmente sentiu-se impressionado com a educação da garota, não que outros não fossem, mas ela fazia questão de todos os dias passar e desejar-lhe bom dia, algumas vezes parando para conversar, distraindo-o de sua tarefa chata de porteiro, algumas vezes sendo até mesmo capaz de contar algumas de suas velhas histórias, revigorante para alguém de sua idade.

E assim vieram vários outros, desde aliados a comerciantes, ou até mesmo simples civis da região. Pessoas improváveis de ter qualquer tipo de confiança ou relacionamentos de amizades pareciam simplesmente se dobrar a garota. Era uma habilidade tanto assustador quanto impressionando que possuía, tornando amigo a mais improvável das pessoas, sem ter que mudar, em nenhum momento, quem realmente era.

O complicado estava em conter os impulsos ciumentos de Sans que pareciam ter se agravado com os novos sentimentos fortes que ele tinha para com a pequena morena. Um nível que normalmente ele ficava depois de já terem construído um bom relacionamento, agora estava presente desde o começo tornando impossível disfarçar o fato que se conheciam e pior ainda para convencer de que o que tinham era uma simples amizade. Até mesmo Gaster e Papyrus já estavam convencidos que eles eram apenas um casal não declarado.

Ainda assim, tornou-se mais fácil para Frisk, então, passar seus relatórios e informações exclusivamente para Sans, encontrando-se quase sempre, quando não era vista com Diana em seu escritório ou com Carl no sexo andar, junto a ele em seu escritório. Foi uma oportunidade que antes não tinha, quase permitindo-a a ajudá-lo com a organização dos papeis em sua mesa os quais, normalmente como ela se recordava, sempre levavam-no a ficar até altas horas da madrugada ali.

Contudo, era bastante óbvio que ia chamar a atenção de pessoas indesejadas, colocando-a na mira tanto de Ralph como de Betty. Um acontecimento tão normal e repetitivo que ela nem ao menos se deu ao trabalho de se preocupar quando vieram avisá-la. Não era como se ela já não estava acostumada a lidar. Visivelmente ela desafiava Ralph quando podia e Betty era mais uma das que fazia questão de ignorar, não acrescentando ou perdendo em nada.

Dias então se tornavam semanas e de semanas vinham os meses. Logo o dia em que tudo aconteceu estava se aproximando e ansiedade de Frisk tornava-se quase insuportável, dando-lhe uma inquietação a qual não a deixava, de forma alguma, manter-se quieta em um único lugar por muito tempo, quase ao ponto da insônia. Porém, eram sentimentos tão bem conhecidos que quase não mudaram realmente sua rotina, uma linha rápida de acontecimentos que a guiariam para o mesmo lugar.

Quando abril começou a abrir as portas ela já tinha começado a escutar de Sans que seu pai estava começando a ficar demasiadamente distraído. Ele especulou rapidamente que o velho provavelmente deveria estar concentrado em outro projeto. Pelo que Frisk tinha entendido não era um fato isolado, Gaster costumava começar vários trabalhos paralelos ao seu principal por conta própria sempre que uma ideia cruzava-lhe a mente. Ainda assim ela não tinha descoberto a que se devia para ter começado a acontecer apenas a partir do cronograma passado. Por que Gaster subitamente tinha se interessado pelo tempo quando na verdade ele deveria manter-se focado em magia desde o começo? Se fosse por conta dos Save deveria ter acontecido antes, por que apenas agora?

Ela não tinha ficado próxima o suficiente para saber.

Quando finalmente o fatídico dia chegou Frisk nem ao menos precisou pensar em um modo de passar a noite na casa dos irmãos, Papyrus já tinha feito questão de convidá-la para passar uma noite de filmes, aparentemente sem avisar seu irmão que ficou surpreso ao vê-la ali. Não era incomum de Pap, ele tinha o costume de se esquecer de informar alguns detalhes às vezes, mas isso não tinha tanta importância. A questão era ela ficar atenta o suficiente para conseguir ir até Gaster quando deveria.

Mas como o acidente exatamente aconteceu? Como ela poderia impedi-lo?

A resposta realmente veio com o acender de uma lâmpada sobre sua cabeça. Ou, melhor, o apagar de uma.

 Perto da chegada da madrugada aconteceu um apagão na cidade. Uma queda de energia a qual Frisk já sabia que era normal, ocorria sempre e, diversas vezes, ela tinha estado acordada a contar os minutos em seu celular que levavam para a luz retornar, escutando o estalo dos aparelhos eletrônicos em sua casa indicando que voltaram a funcionar como deveriam. Mesmo depois de já ter decorado precisamente tanto os minutos como o s segundos, ela permanecia a contar, afinal, o sono não queria aparecer e ela precisava de uma distração. Dessa vez, no entanto, ela não estava em casa e quando a luz se foi Pap já estava dormindo enquanto ela e Sans mantinham uma conversação agradável.

A ideia realmente lhe ocorreu quando falavam exatamente sobre o retorno da eletricidade a qual poderia chegar a danificar alguns aparelhos que abruptamente recebia a descarga. Então, e se Gaster tinha ligado a máquina antes do apagão para testar seu funcionamento e quando a luz se foi ele se viu interrompido no meio do processo? E se, por algum motivo, enquanto esperava a luz retornar, ele tivesse aproximado-se da máquina para averiguar o funcionamento de algumas peças as quais achava que poderia prejudicar seu funcionamento? E se, enquanto ele estivesse mexendo na máquina, a luz retornasse e ela voltasse a funcionar, pois, por conta de toda sua empolgação de concertar as falhas que havia imaginado, tivesse se esquecido de desligá-la? E se, por causa disso tudo, ele fosse, consequentemente, enviado para uma linha do tempo diferente, contudo, ocorrendo um erro durante o envio, quebrando-lhe a existência e enviando-o para o vazio, tornando esse mundo onde ele não existia?

Isso tudo apenas queria dizer que Frisk tinha apenas alguns poucos minutos para começar a agir.

Com um salto, apressada, ela ergueu-se do sofá, tão rápido quanto podia encarando o relógio de seu celular. Eram uma e quarenta e cinco da manhã, a perda de energia tinha começado, se ela bem se recordava, as uma e dezenove da madrugada e durava apenas trinta e três minutos. Isso dava-lhe menos de dez minutos para resolver todo o problema.

Droga! Se ela tivesse pensado nisso um pouco antes! Deveria ter se preparado melhor, mas a linha foi tão corrida... Droga! Droga!

— Sans, preciso que me leve ao laboratório! Agora! - exclamou apressada. Não daria tempo de ir correndo, por mais próximo que o laboratório fosse daquela parte da cidade ainda levaria muito tempo para chegar até lá e os segundos não iam parar de correr. De sete, agora faltavam seis minutos.

— O que? Por que? São quase duas horas da manhã. O que quer lá? - o albino perguntou, atordoado pelo estado abrupto de pressa da garota a sua frente. Eles estavam com uma conversa normal até agora a pouco, porque todo esse desespero agora?

— Não tenho tempo para explicar! Precisamos estar lá antes de uma e cinquenta e dois ou então algo terrível vai acontecer! - droga, ela não teria tempo de convencer Sans. Seus olhos caíram novamente no relógio de seu celular, mais um minuto tendo sido perdido. - Por favor! Se não nos apressarmos eu não vou conseguir impedir o que vai acontecer, prometo que te explico tudo depois, o que quiser, mas agora temos que ir!

E realmente não importava os segredos de linhas do tempo anteriores. Não importava descrição ou cuidado, ela apenas tinha que estar no laboratório daqui a cinco minutos, independente de como. Se ela pelo menos tivesse pensado em tudo isso mais cedo... Se ela tivesse parado para pensar melhor...

Sem quaisquer mais perguntas, Sans segurou-lhe a mão, saltando em um de seus atalhos para aparecerem dentro da recepção do laboratório, tão escuro e sombrio quanto em lugares dentro de um filme de terror. Uma nova conferida na tela de seu telefone apenas para constatar que faltavam-lhe escassos três minutos.

Precisava se apressar.

— Pegue. - usando de sua magia Frisk materializou duas lanternas, uma para ela e outra para Sans, entregando-a sem realmente se importar com o fato de não ter, em momento algum nesse cronograma, mostrado que sabia fazer magia. Não era como se tais detalhes realmente importassem muito agora. Ela apressou o passo corredor a dentro.

— Como... Você nunca disse que podia usar magia! - o rapaz reclamou, voz automaticamente reduzida para um sussurro gritado, seguindo a garota pelos corredores do lugar. - Tem mais alguma que você não contou?!

— Você é o ultimo que pode reclamar de segredos, Sans. E podemos falar disso depois de resolvermos o que temos que resolver aqui. Eu prometo que vou contar tudo que quiser saber, mas agora não temos tempo! - uma nova espiada em seu celular, simplesmente para constatar que tinha apenas dois minutos.

Ela apressou ainda mais o passo.

De frente a porta a qual queria se encontrar, Frisk tentou girar a maçaneta para abri-la, apenas para constatar que estava trancada. Com um amaldiçoar baixo e um estado na língua, a garota prontamente usou de sua magia para confeccionar uma chave capaz de abrir a tranca, sem realmente um tempo para se quer perguntar a Sans se ele tinha alguma cópia.

Faltava um minuto.

Enfim dentro ela olhou envolta, não sendo tão complicado de identificar a única luz presente no lugar, dentro da sala adjacente, movendo-se inquieta enquanto a pessoa que a segurava estava ocupada de mais concentrada no que fazia para realmente reparar na nova quantidade de luzes no lugar, mesmo sem que a própria energia ter voltado.

Quarenta segundos.

Apressada, Frisk correu para a próxima que teria que abrir, ignorando completamente a confusão do albino a seu lado, deixando-o na porta de entrada enquanto ela própria saltava para dentro da sala adjacente, agradecendo que pelo menos essa Gaster tinha tido a decência de deixar aberta. Facilitava de mais o trabalho.

Trinta segundos.

— Gaster! Saia daí a luz vai voltar! - gritou, puxando-lhe o ombro para que levantasse do lugar. Contudo, surpreendido por não esperar qualquer tipo de visita a altas horas da noite, principalmente dentro de seu escritório que originalmente pensou ter trancado, o homem caiu novamente sobre sua máquina, voltando-se para seus novos inquilinos com surpresa e espanto. Frisk suspirou com exasperação e pressa, realmente não tendo tempo para toda essa confusão.

Quinze segundos.

— Sem tempo! - sem realmente pensar, ela subiu na plataforma circular da máquina, ajudando o mais velho a se levantar enquanto o empurrava para fora. Não era uma passarela muito grande, ainda assim considerável para precisar de dois ou três passos para sair. Gaster estava confuso, sem saber porque toda aquela pressa sendo que nem ao menos tinha terminado de fazer os ajustes que precisava, para não dizer o motivo de uma garota estar ali a quase duas horas da manhã. - Vou explicar, mas, por favor, faça o que estou pedindo!

Por que as pessoas tinham que dar tanto trabalho quando ela apenas queria ajudar?

Cinco segundos.

Não existia mais tempo.

Quando finalmente Gaster colocou-se para fora da plataforma a luz retornou. Uma enorme quantidade de luz vinda da sala abruptamente espantou o escuro, cegando a todos por alguns segundos, tentando novamente acostumar suas visões ao lugar. Frisk perdeu suas cores, os olhos voltados para baixo encararam seus próprios pés ainda sobre a plataforma de metal. E, como se o tempo tivesse escolhido exatamente aquele momento para passar mais devagar, ela olhou para cima, ignorando a luz forte, observando como lentamente, em sua concepção, uma concentração enorme de luz era acumulada no topo de sua cabeça, na placa de metal paralela a que estava.

Sem tempo para reagir o feixe foi lançado sobre ela. Não doeu ou sentiu-se como um teletransporte, ao voltar a abrir os olhos, ela ainda estava no mesmo lugar, olhos confuso encarando a sua volta a procura de uma resposta a qual tinha certeza que não iria encontrar. Talvez... Talvez dessa vez tinha dado errado. Se uma mudança poderia ocorrer no cronograma passado porque nesse também não poderia?

— Frisk! O que... - Sans assomou-se na porta da sala, seus olhos se abrindo como nunca antes tinha visto ao encará-la com espanto. Definitivamente não era um bom sinal, ela supunha, descendo seus próprios olhos para suas mãos, apenas para constatar que, ao invés de encontrarem-se solidas como deveriam, agora elas pareciam transparentes, intangíveis, quase como um fantasma a desaparecer lentamente. Oh, então realmente tinha dado certo, a questão é que sua existência se apagaria lentamente e não da forma como havia imaginado. - Mas o que diabos está acontecendo?! Frisk, seu corpo! Como? - o rapaz se aproximou, desesperado a tentar entender a situação, nem mesmo seu pai parecia certo do que estava acontecendo, e não como se Frisk pudesse culpá-los. Ela mesma estava perdida, principalmente ao perceber que, apesar dela própria conseguir tocar-se como se ainda fosse material, Sans a atravessava como se não estivesse ali. - Oh puta que... Droga, Frisk. O que está acontecendo? V-vamos, tem que ter um jeito de concertar. Deve ter alguma coisa que possamos fazer, apenas... Por favor, não desapareça.

— Ei. Está tudo bem, vou tentar melhor da próxima vez. - e com um sorriso ela viu tudo se desvanecer.

Na mais simples das palavras foi estranho, talvez perturbador. Não chegou a, necessariamente, sentir alguma coisa de diferente, apenas percebeu, de alguma forma, que sabia mais do que originalmente deveria saber. Foi apenas como se o conhecimento já estivesse na sua cabeça, ela apenas não conseguisse acessá-lo antes, mas, agora, que se encontrava naquele estranho lugar, conseguia perfeitamente ter respostas de perguntas que antes tanto lhe incomodavam a cabeça.

Talvez, nem ao menos poderia chamar onde estava de "lugar", não existia uma definição exata, era complicado de mais para realmente se descrever. De um negro tão profundo quanto o próprio negro, onde não existia tempo ou espaço, não existia "aqui" ou "ali", "quando" ou "onde". Não tinha nada e ao mesmo tempo tinha tudo, estava vazio e ao mesmo tempo cheio. Não existia fim ou começo, encima ou embaixo. Aquele era o "vazio", tão simples e ao mesmo tempo tão complicado quanto se poderia parecer.

Pensando em uma definição concreta ele era o que preenchia o espaço entre universos. Como imaginar uma sopa de macarrão, onde cada macarrão tratava-se de um universo diferente, com suas respectivas linhas do tempo, enquanto o caldo que os envolvia era o vazio, recheado com almas em nascimento e destruição. E não era como se não tivesse mais nada. O vazio tinha seus próprios habitantes, por assim dizer. Não eram "pessoas" ou "animais", eles também não tinham uma definição aceitável. Quando o corpo que sustentava uma alma no mundo "material" chegava a falecer e não era mais capaz de sustentar sua "essência" os dois se desprendiam e a alma retornava para onde originalmente tinha sido criada, o vazio.

Com o passar do tempo a "consciência" que inicialmente existia nessa tal alma perdia suas forças. O vazio a sugava sua energia para assim manter-se "vivo", até que finalmente apenas as emoções mais fortes da determinada essência permaneciam e então fundiam-se com sentimentos semelhantes até formar uma massa de ressentimentos tão forte que finalmente era capaz de tomar uma forma concreta, feita da própria escuridão, por assim dizer, do lugar que o rodeava. Eles não pensavam ou sentiam nada além do que eram feitos. Eles não tinham uma consciência e agiam como guardiões do vazio, vagando a procura de novas almas, algumas vezes desprendendo um pouco de sua própria essência para criar outras. Eles mantinham o equilíbrio no lugar, alimentando e gerenciando o vazio.

Contudo o equilíbrio estava quebrado. A constante quantidade massiva de redefinições havia tornado frágil a linha do tempo, consequentemente afetando o vazio que estava tão ligado com. Mesmo que o vazio redisse fora do espaço tempo ele ainda era afetado por ele e pelas existências que nele existiam, assim, quando a fusão ocorreu toda a situação, não apenas no tempo espaço, como também no vazio, tornou-se instável. A própria fusão foi uma reação de colapso por conta de as variações do tempo e com a constância dessas mesmas variações, a continuidade das redefinições, pouco a pouco a realidade se desmanchava, tentando fundir-se com o que não dava para se fundir, o vazio. A mudança no cronograma foi um dos alertas dado pelo espaço tempo, ele estava desmoronando. Se por acaso as redefinições não parecem os colapsos iam continuar, aumentando sua intensidade até finalmente ela fundir-se com o vazio.

Frisk realmente não queria imaginar como seria quando isso acontecesse. precisava parar as redefinições o quanto antes e para isso ela tinha ir para o menu.

E foi estro como o conhecimento simplesmente veio para sua mente com facilidade, brotando as respostas tão facilmente, mostrando-lhe o caminho. Era como se... Como se ela própria estivesse começando a tornar-se uma com o vazio... Agora que pensava, os múrmuros que ecoavam pelo lugar, ela os conseguia ouvir antes? Gemidos e lamentações, sentimentos ruins embrulhando-lhe o estomago mesmo que soubesse, de alguma forma, que não eram seus.

Quanto mais sabia, mais ela fundia-se naquele lugar. E quanto mais fundia-se mais nítida ficava sua situação, sua percepção dos arredores. O que antes parecia simplesmente uma sala de paredes, teto e chão tão uniformemente negros que quase não dava para se saber se flutuava ou mantinha-se em um chão estável, tornou-se uma massa em constante movimento, de ondulações e elevações, recheada de vozes, ecos, olhos os quais não se podia ver, mas sentir que a observavam com atenção

Ela precisava se mover, começar a procurar. Quanto mais ela ficasse parada ali, mais fundo ela mergulharia naquele lugar e pior se sentiria. Os sentimentos que perdurava eram... Assustadores. Mesmo que não quisesse admitir raiva, rancor, ódio e tristeza eram bem mais fortes e perduravam por mais tempo do que a alegria, a satisfação e o amor. E eles impregnavam-se em sua pele, misturavam-se com seus sentimentos atuais, traziam pensamentos que não eram seus... Ela ficaria louca, definitivamente louca.

Agora compreendia perfeitamente a preocupação de Chara com esse lugar. Complicado de se explicar, mas fácil em entender. Se ela ficasse presa ali por muito tempo, apesar de no vazio não existir uma real variação de tempo, definitivamente tais sentimentos negativos tomariam conta dela. E para alguém como Chara, que tantas e tantas vezes foi exposta a situações de tristeza e rancor, da ignorância e maldade humana, ficar em um lugar como aquele, facilmente a puxaria para o fundo, a envolveria e faria se tornar uma massa de rancor e ódio. Contudo, sua determinação manteria acessa sua consciência, mesmo que distorcida e, talvez por isso, ela tinha se tornado o espírito vingativo o qual Frisk foi obrigada a conviver.

Andando, ou pelo menos acreditava que realmente estava a se mover, apesar da paisagem não realmente mudar, ela tentou encontrar o que procurava, ao mesmo tempo que desesperadamente procurou fugir das vozes, dos sentimentos, dos olhares, da sensação de se tragada cada vez mais para dentro daquela massa de sentimentos tão vividos e contagiantes, fortes.

Medo, raiva, ódio, tristeza, amargura, desespero, desolação... Angustia, pânico... Tudo se mesclava, dando-lhe vontade de gritar, de chorar, de bater, de matar... Ela nunca tinha se sentido tão perdida e ainda procurava segurar as ultimas gotas de sua sanidade a procura de continuar, permanecer a se mover, apenas seguir em frente.

A culpa é sua! — aquela voz foi clara, não como os múrmuros que estava escutando. Foi revigorante, puxando de volta sua mente do desespero, levando-a a procurar de onde vinha aquela voz tão conhecida, mesmo que não conseguisse lembrar-se de quem era. Sua mente estava embaralhada, quase perdida. - Por sua causa e seu estúpido pai! Por causa de suas malditas experiências! Eu sabia! Sabia que não deveria ter deixado ela chegar perto de você! A culpa é toda e completamente sua!

Ao longe Frisk conseguiu ver o que parecia uma fissura, como um pedaço de espelho quebrado, um rasgar no preto constante a trazer uma luz para o lugar. Ela recordou-se das fissuras as quais Gaster havia mencionado. Fissuras que ligavam o vazio com a realidade, algum ponto no tempo, alguma linha. Essa parecia ser uma ligada a linha do tempo ao qual veio... Vendo pela fissura conseguia identificar Chara, furiosa, a sua frente um albino, jogado ao chão de forma a parecer que Chara o havia empurrado. Não demorou para Frisk perceber que era Sans, cabeça baixa e olhar perdido.

Os dois obviamente estavam brigando. Ou pelo menos Chara estava.

Nada? Não vai dizer nada?! Nem pedir desculpa pelo que sua estúpida família fez?! Por acaso tem ideia de como está Asriel?! Como eu estou?! Você não tem ideia de como é esse sentimento! De ver nossos pais todos os dias e saber que eles não se lembram de sua própria filha! De não saberem quem é nossa irmã! E tudo por sua maldita culpa! — Chara estava visivelmente furiosa, mas por que Sans não reagia? Por que parecia tão... Desolado? Gaster ainda estava lá, ela o tinha salvo! - Diga alguma coisa! Diga alguma maldita coisa! Qualquer coisa para eu ter um motivo, um único motivo, para arrancar todos esses dentes da sua boca!

— Eu sei que é minha culpa, tudo bem? - Sans se levantou, erguendo a cabeça para encarar Chara, olhos com olheiras tão profundas quanto jamais Frisk havia visto alguma vez. - Eu a vi desaparecer. Eu convivo com pessoas que antes eram amigas dela e que agora não se lembram mais de quem era! Eu passo cada maldita noite pensando em como conseguir achar uma resposta para trazê-la de volta! Ela também era importante para mim! Ela era minha melhor amiga! Ela era... Eu...

— Eu não me importo! A culpa foi sua, toda sua! Se você não a tivesse conhecido... Se você não fosse importante para ela... Ela não teria feito nada para ajudar e ainda estaria aqui! Mas não! Você tinha que entrar na vida dela! Você tinha que jogar esse seu... Charme pra cima dela! Esse jeitinho de "pobre de mim"! Me faça um favor e nunca mais mencione o nome dela, nem ouse em sequer pensar nela! Se eu souber que fez qualquer uma dessas coisas eu juro que vai ter mais do que um nariz quebrado!

Não era para isso estar acontecendo... Claro, não era como se quisesse ter estado de baixo da máquina quando se ativou, mas a culpa não era de mais ninguém a não ser dela! Por que... Por que estavam brigando? Por que tinham que brigar? Por que tinham que se culpar?

Ela tinha que concertar, ela tinha que continuar andando, ficar determinada, esquecer os sentimentos, simplesmente seguir em frente. Siga em frente, continue andando, não pare, continue determinada, procure, procure, procure... Não pare, precisava encontrar o menu, precisava começar de novo, precisava concertar isso.

E os sentimentos se misturavam, a escuridão ficava mais densa e ela sentia-se perdida. Não encontrava nada e cada vez via-se ainda mais tragada pela agonia e tristeza, pelo remorso e pela culpa. Lágrimas começaram a escorrer, seu corpo tornava-se pesado, ela queria parar de andar, mas sabia que não podia. Os múrmuros tornaram-se gritos, doendo-lhe a cabeça. Ela estava com medo, ela estava perdida, ela apenas queria sair dali.

Quando sentiu-se prestes a desistir uma voz tranquila, diferente das que gritavam em sua mente, ultrapassou todos os sons existente, trouxe-lhe de volta a tranquilidade e a fez novamente erguer a cabeça. Não era o eco de uma rachadura para um linha do tempo, a entonação da voz era diferente, a chamando, guiando-a pelo escuro, obrigando-a a continuar se movendo, continuar andado. Sem perceber, tão entretida com a voz, chegou a um ponto mais claro, como se uma fraca lâmpada estivesse a iluminar o lugar. Antes que percebesse os dois botões amarelos iluminavam o lugar a distância.

Um pouco atrás dos botões pensou ter visto uma figura encapuzada, quase mesclando-se a escuridão do lugar, todavia suas roupas tratavam-se de um tom mais claro. Não podia ver seu rosto, muito menos seu corpo, tudo que conseguia ver era sua alongada capa, recobrindo-lhe todo o corpo. E, talvez fosse apenas sua imaginação, afinal quando se aproximou não existia mais ninguém, mas recordava-se de alguém parecido em outras dimensões... Um barqueiro, transportando e guiando os monstros para pontos distintos do subterrâneo...

 Riverperson? Poderia ser?

Talvez não, talvez estivesse louca. Mas o importante era que tinha chegado, de alguma forma ela estava no menu.

E realmente merecia uma surpresa. Afinal, nunca em sua vida pensou em ver o botão de Reset quebrado. Ele ainda mantinha-se inteiro, de alguma forma, contudo enormes fissuras o enfeitavam, ramificando-se como teias negras de aranha pelas letras amarelas, dando-lhe a impressão que se despedaçaria a qualquer momento. Talvez sendo a maior indicação que deveria ser aposentado de seu uso, não era como se realmente fosse necessário. Mas não tinha ninguém ali... Talvez fosse realmente um mal funcionamento por conta das rachaduras e, se fosse esse mesmo o caso, teria como ela concertar? Talvez... Com sua magia...

Seus dedos pairaram sobre o botão, sem saber exatamente o que deveria fazer, avaliando com atenção, tentando encontrar alguma ideia. Ela sabia que teria que apertá-lo para retornar, ela precisava voltar, mas também precisava arrumar uma forma de concertar aquele estrago...

O que fazer?

A dor na parte de trás de seu pescoço a pegou desprevenida, forte o suficiente para derrubá-la contra o chão e embaçar-lhe a vista. Seu corpo tornou-se mole, sua consciência oscilou, logo ela apagaria, mas sabia, reunindo toda a sua determinação, deveria manter-se acordada. Alguém a havia acertado por trás, alguém estava ali, ela precisava ver quem era!

Porém, seu corpo tinha perdido suas forças, a pancada foi o golpe final para se deixar esmorecer depois de toda a força que tinha exercido para ultrapassar a barreira quase física da insanidade daquele lugar, ela não aguentaria por muito tempo, não poderia nem sequer erguer o rosto para ver mais do que os pés da pessoa.

— Você não deveria estar aqui. - ela conhecia a voz, tinha certeza, apenas não conseguia dizer ao certo de quem era, sua mente estava enfraquecida, não conseguia pensar direito. - Não queria que visse o estado do botão... É deplorável... Mas enquanto não fizer as coisas direito não posso parar de apertá-lo, você entende, não é Frisky? Você só tem que acertar e tudo vai parar, confie em mim eu sei o que é melhor para você. Estou fazendo isso para o seu bem, afinal, eu sou seu melhor amigo, não sou?

E tudo tornou-se escuro, apenas para voltar a despertar, sobre sua cama, de volta ao dia dois de setembro.


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Notas finais do capítulo

Respostas, perguntas, um pouco de tudo nesse capitulo. Espero que tenham gostado, eu sinceramente pensei que ia ficar menor, mas pelo visto eu não consigo fazer nada pequena (isso pode não ter soado bem... Foda-se).
Espero que tenham gostado! Até o próximo cap e continuem determinados ~!