FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 31
Monstro Noturno


Notas iniciais do capítulo

Eu nem sei como consegui postar esse capitulo.
Desculpem não ter postado nada semana passada, mas acho que os dois dessa semana devem ter compensado não é? Estou tão enrolada que nem mesmo os comentários estou respondendo, ainda assim espero que continuem lendo e gostando.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686046/chapter/31

FusionTale - Monstro Noturno

— Frisk! Tem uma mulher aqui na porta querendo te ver! - vociferou Asriel desde o hall, segundos antes de Frisk terminar de se vestir.

Seu dia seria corrido, ela sabia que teria que virar-se com a distribuição de sua vida diária e corriqueira com seus amigos, a qual ela verdadeiramente apreciava de todo o coração, com seu trabalho que também não era tão ruim e, diversas vezes, tinha transformado-se em encontros divertidos recheados com as mais diferentes e estranhas pessoas as quais ela jamais sonhou conhecer em sua vida, mesmo que, diversas vezes, fosse tão desagradável quanto por deparar-se com pessoas irritantes e vulgares, para não dizer pior.

Seus olhos dourados focaram-se no espelho que mantinha-se incrustado na porta de seu armário, grande o suficiente para que conseguisse observar seu reflexo da cabeça até próximo ao seu joelho. E não lhe parecia nada mal, retirando a expressão cansada com olheiras discretas, mas evidentes, debaixo dos olhos, facilmente atribuídas a poucas horas de sono como estava passando a se acostumar recentemente, ela parecia bem, talvez aceitável. Fora tal pequeno detalhe, ela estava tão radiante como costumava aparentar, ofuscando a alma envelhecida e milagrosamente ainda repleta de determinação a qual carregava em seu peito.

Falando em aparência física ela talvez também não estivesse tão mal para o dia que teria.

Nos pés, os quais não conseguia ver, estavam botas que recobriam-lhe até metade da canela, sem salta de um marrom escurecido e desgastado. Em suas pernas meias calças negras, subindo até encontrar-se e quase misturar-se com os curtos shorts negros jeans o qual usava, os menores que possuía. Se ela bem sabia teria que saltar pelos telhados para fazer suas entregas, ainda programadas para aquele dia mesmo que Chara tivesse sido firme em recusar que ela fosse para a cede naquele dia, seu trabalho ainda tinha de continuar. Sobre o torso encontrava-se uma larga blusa branca, posta desengonçadamente para dentro dos shorts. Em suas mãos estavam luvas desportivas, quase não alcançando os pulsos e deixando todas as pontas dos dedos descobertas. Cabelos estavam amarrados, apesar de alguns fios teimosamente insistirem em manter-se próximos a seu rosto, tornando-o um tanto mais redondo.

Estavam a crescer cada dia mais... Deveria cortá-los ou deixá-los crescer?

Bem, de qualquer forma não importava, ela sabia que uma nova redefinição estava para acontecer, nunca chegavam a completar um ano por inteiro e setembro estava ameaçando bater na porta, por mais que ainda encontravam-se em meados de agosto. E era assustador, era sentir os pelos da nunca arrepiarem-se em antecipação enquanto a ansiedade começava a tomar conta de suas emoções a cada dia que arrastava-se para o próximo e próximo e próximo, acumulando-se em intermináveis e tortuosas semanas. Somando-se ao terrível medo de, ao abrir os olhos, tudo ter voltado ao começo novamente.

E não era como se não estivesse acostumada, Frisk estava começando a sentir-se mestre em simplesmente ignorar tal sentimento incomodo enchendo-lhe o peito, no entanto, ela ainda deveria admitir que preferia que acontecesse de uma vez e não ficasse a se prolongar por muito tempo, tentando-a a ter esperanças novamente. Era como arrancar um curativo bem devagar ao invés de puxá-lo de uma vez para sentir apenas um único ardor momentâneo. Ela sentia-se doente cada vez que setembro começava a chegar ou quando arrastava-se para outubro.

Ela estava começando a pensar que as redefinições mais prolongadas eram as piores.

Percebendo que com cada pensamento referente a tal inevitável acontecimento apenas piorava seu reflexo no espelho, a morena decidiu por deixar tais preocupações de lado, colocar a mente em branco e simplesmente seguir o fluxo de acontecimentos. Não era o que sempre fazia de qualquer forma? Não estar no controle era tão ruim...

Forçando seus pés a colocarem-se em movimento ela guiou-se até a sala. Asriel não estava mais na porta, provavelmente tinha pedido a visita para esperar depois de convidá-la para dentro, fato que obviamente foi recusado. Frisk sabia quem a estava esperando, as mensagens tinham sido trocadas no dia anterior para resolver o problema de não poder ir a cede naquele dia e por isso não existiam surpresa.

Bom, isso se não contássemos com Chara jogada ao sofá vendo televisão.

Frisk tinha a total intenção de ignorá-la e continuar seu caminho, afinal, não tinham nada o que discutir agora, porém suposta ideia não parecia ser compartilhada por sua adorada  irmã.

— Não pense que vai sair sem me dar o que deve, não vai achando que esqueci. - sem se quer voltar-se para encarar a morena Chara ergueu a mão com o cotovelo no encosto do sofá e palma para cima, simplesmente esperando que, seja o que for, fosse depositado sobre ela.

— Isso é extorsão. - Frisk resmungou, retirando o pequeno embolado de notas de seu bolso e colocando sobre a mão de sua irmã, que prontamente se colocou a contar, assobiando divertida.

— Você que disse que ia ser um acordo que não envolvesse nenhuma informação sobre seus novos... Amiguinhos. Arque com as consequências.

— Eu não sabia que você ia aumentar minhas exigências a cada dia que se passa. Afinal pra que quer tanto dinheiro assim? Já não basta o que você tem com seu próprio trabalho sujo? - jogou-se sobre o encosto do sofá, queixo sobre os braços cruzados a encarar sua irmã que mantinha-se com ar desinteressado.

— Não fale nesse tom de acusação. Não se esqueça que você também está em um trabalho sujo. - retrucou Chara erguendo o queixo em desaforo, guardando o dinheiro dentro do bolso de sua calça antes de novamente dedicar-se a mudar de canal a procura de alguma coisa interessante para ver. - Mas devo admitir que estou impressionada. Nunca imaginei que a senhora boazinha realmente acabaria na ilegalidade.

— Admita de uma vez que você está feliz com isso. - debochou Frisk, cutucando a bochecha de sua irmã, simplesmente para ser obrigada a retirar a mão segundos antes de levar uma verdadeira mordida dolorosa, evidenciando sua força pelo estalo de dentes chocando-se que se seguiu. Definitivamente teria lhe arrancado o dedo.

— Eu estaria, realmente, se você não tivesse se envolvido com o pior deles. Sinceramente! De todos tinha que ser justo daquele comediante de merda?! - um delicado sorriso surgiu no rosto de Frisk ao observar com mais detalhes o rosto de indignação de Chara. Estando tão perto era perfeitamente fácil distinguir pequenos detalhes que a levavam a uma simples conclusão:

— Você está com ciúmes. - riu, tão divertida como a situação poderia aparentar. Olhos vermelhos a fulminaram tão imediatamente como havia terminado de se pronunciar, um ligeiro rubor discreto tomando-lhe as bochechas pálidas. - Está com ciúmes porque eu entrei na dele e não na sua. Eu nunca pensei ver um lado tão meigo seu, Chara.

— Cale a boca!

— Mas sabe, talvez eu tivesse me enfiado na sua gangue se por um acaso você tivesse me contado. Eu apenas descobri depois que, por acaso, topei-me com a de Sans, então não reclame muito com ele, ok? Eu vou indo, ainda tenho que encontrar Blooky e Tinn no caminho. - a morena ajeitou-se, pronta para dar meia volta e encaminhar-se para a porta quando Chara segurou-lhe o braço. Os olhos vermelhos de repente tinham tornado-se sérios, expressão atenta encarando-lhe o rosto com atenção. Frisk sabia que o que viria em seguir não seria agradável. - Algum problema?

— Eu já percebi que o Save funciona bem, infelizmente de um jeito não muito agradável. Mas ainda me resta uma duvida... - uma breve pausa, como se pensasse no que iria dizer em seguir. Chara tomou uma respiração profunda e então deixou escapar: - Você está conseguindo acessar o Reset? - a pergunta lhe acertou como um raio, corpo tornando-se tenso em seguida. Por que a pergunta? Chara saberia sobre as redefinições aleatórias? Pensava que era Frisk? Então por que apenas agora?

— Por que me pergunta isso? Quer voltar no tempo? - tentou estreitar os olhos, encarando sua irmã com atenção ao mesmo tempo que procurava não transparecer seus próprios medos. Poderia ser Chara a que estava causando toda essa confusão?

— Não me entenda errado, Frisk. Não pretendo acabar com tudo o que consegui criar nesse universo estranho, seja o que for que aconteceu para cairmos aqui não importa, apenas devemos agradecer a nossa sorte. Apenas pergunto porque, por curiosidade, tentei acessar o Menu depois que vi que o save realmente estava em atividade, mas não consegui. Como você ativou o Save queria saber se também conseguiria estar perto do Reset.

— Nem ao menos fui enviada para o Menu, Chara. O save se ativa sozinho e automaticamente me manda para momentos antes de tudo acontecer. - a morena observou como Chara estreitava os olhos em um estado pensativo, uma das mãos indo para o queixo. Ela não parecia notar o nervosismo que sua irmã sentia, talvez por estar muito submergida na questão em si para realmente prestar atenção no que Frisk sentia ou não.

— É realmente estranho. Bem, acho que apenas devemos agradecer que não teremos nenhum acidente para redefinir a linha do tempo, mas fique de olho Frisk. Esse nosso poder está estranho, principalmente pelo fato de não conseguir alcançar o Menu. Eu não quero ter que descobrir que ele não funciona da pior maneira.

— É... Sem redefinir a linha do tempo... Seria bom... - Frisk murmurou, mais para si mesmo do que realmente para Chara, apesar de alto o suficiente para que a garota a seu lado realmente pudesse escutar. Não foi sua intenção, era como um suspiro de frustração mal contido.

— Está insinuando alguma coisa?

— Não, não. Tomarei cuidado, ok? - e sem realmente esperar ter qualquer resposta Frisk saiu pela porta, fechando-a a suas costas enquanto deixava escapar um sorriso tenso.

Ela já tinha conhecimento de que o menu não poderia ser acessado, ela já tinha tentado diversas vezes antes. O save se ativava automaticamente depois de uma morte e o reset estava uma confusão. Chara não parecia realmente ter notado as mudanças de linhas do tempo, mas de alguma forma começava a suspeitar de algo estranho por conta da incapacidade de utilizar seu poder da forma como estava acostumadas.

Apesar de suas duvidas iniciais Frisk não acreditava que Chara realmente fosse aquela que estava a causar tal distúrbio. Sua irmã poderia ser cruel em determinados pontos, mas ainda não era ao ponto de simplesmente dar voltas e voltas de forma pacifica em um acontecimento o qual afetaria apenas ela própria e Frisk. Não fazia sentido, não era o estilo de Chara. Se por acaso ela realmente estivesse cometendo um genocídio, aí sim, talvez, poderia chegar a hipótese que seria ela, mas com as condições atuais definitivamente duvidava.

Seja como for, a morena não tinha certeza se realmente deveria se preocupar com tal nova constatação ou se deveria deixar de lado. De qualquer forma ela iria se esquecer depois que a linha do tempo se refizesse.  

— Dia ruim? - a morena ergueu o olhar para deparar-se com o pequeno sorriso conhecido de Dee-dee, bem encoberta pelo boné, óculos escuros e lenço no pescoço, completando-se com roupas casuais que facilmente passariam desapercebidas em meio a uma multidão. Assim como Sans ela sabia como se fazer esquecer, mais do que o suficiente para seu trabalho. Por sua parte, Frisk deixou escapar um suspiro cansado, aproximando-se com passos lentos, quase arrastados, não respondendo a pergunto mesmo após alguns longos segundos, indicação perfeita de que não iria seguir o assunto e que estava bem o suficiente para não existir complicações. - Eu nunca imaginaria que a Rainha de Copas seria capaz de morar em um lugar como esse. Imaginei algo muito mais... Obscuro.

— Hehe! Sendo ela, devo concordar. Talvez quando seja capaz de ter uma casa só dela escolha um estilo diferente. - divertiu-se Frisk. A casa realmente não tinha nada que pudesse ser associado a qualquer um dos filhos do casal Dreemur. Apesar de Asriel ser extremamente parecido a seus pais seus gostos eram evidentemente diferentes, talvez por conta da influencia de Chara desde a infância. Seja como for a casa era simples, sem quaisquer característica marcante e até um tanto monótona, assim como seus donos, um casal tão simples e corriqueiro, sem mais nada de especial a não ser, talvez, a ocupação do mais velho da casa. E ainda que como um prefeito, Asgore parecia mais um enorme urso de pelúcia passivo do que realmente um político sério e focado, enquanto Toriel, apesar de mais rígida, era toda uma mãe coruja que dificilmente seria capaz de deixar seus filhos fazer qualquer coisa sozinhos se assim julgasse perigoso.

— Aqui está seu trabalho. É uma pena que não vá poder ir a cede dessa vez, teremos dificuldades de controlar seu namorado com hormônios de adolescente. - a encardida e abarrotada bolsa foi passada para Frisk quase imediatamente passando a única alça por sobre sua cabeça e pendurando-a em seu ombro. De dentro ela retirou um pequeno caderno o qual via-se anotada todos os endereços e locais de entrega os quais teria que visitar.

Sua sorte, eram apenas dez ou onze. Poderia terminar até o começo da noite.

— Sans não é meu namorado, Dee-dee, e outra ele não é um adolescente. - ela não tinha contado a ninguém sobre seu relacionamento com o albino. Sans a pediu para manter segredo e ela havia entendido o motivo. Obviamente não tinha preocupação com sua vida, no entanto, não queria trazer mais preocupações para o pobre rapaz, ele andava demasiadamente estressado nos últimos tempos. Talvez, se não fosse por ela estar ao seu lado quase constantemente a apoiá-lo ele realmente teria entrado em um colapso pelo estresse. Ralph estava levando a sério o desafio que ela fez, não que Frisk estivesse arrependida de tê-lo enfrentado naquele dia. Nem mesmo Papyrus estava ciente do que Sans e Frisk estava a dividir naquelas ultimas semanas.

— Mas ele age como um sempre que o assunto é você. Não é fácil de aturar.

— Bem, minha irmã me deixou de castigo por não ter lhe contado algumas coisas. Então ou era alguns dias sem aparecer na cede ou simplesmente não conseguir andar. Eu sinceramente gostaria de evitar a dor. - Chara estava ficando insistente com alguns segredos que Frisk recusava-se a dizer, era verdade. O conteúdo do porão por exemplo era seu foco mais insistente, no entanto, por mais que isso provasse a qualquer um que a morena não estava louca com relação as redefinições constantes, ela sentia que não deveria mostrá-lo a ninguém.

Chamem de instinto. Frisk apenas preferiu deixar que o assunto caísse por terra e seguir seu caminho como sempre fazia.

— Carl e Anabelle vão sentir sua falta. Carl então não vai parar de infernizar-me perguntando sobre você, já que aparentemente sou a única que pode saber onde mora a tão temida Rainha Vermelha.

Frisk riu, realmente imaginando o choramingo de seu amigo, sempre a visitar o escritório de Diana para perguntar sobre a pequena morena a qual insistia em não aparecer. Mesmo sendo um lugar no qual Frisk nunca antes se imaginou colocando o pé, deveria admitir que existiam pessoas legais que precipitadamente eram julgadas pelo que faziam, mesmo ela mesma já tinha, em algum momento, acusado-os sem realmente conhecê-los.

— Sinto muito sobre isso.

— Não sinta, eu devo admitir que também vou estranhar sua presença no meu escritório. Já estamos acostumados com você. - Diana a acariciou com carinho sobre a cabeça, afagando seus cabeços castanhos de forma a tornar os únicos fios soltos de seu pequeno rabo de cavalo desajeitados sobre a cabeça. - Ah! Antes que eu me esqueça! Pela quantidade de entregas acredito que vá ficar até o começo da noite na rua, mas ainda assim vale a pena avisar.

— Aconteceu alguma coisa?

— É um assunto já antigo, você já deve ter ouvido falar do enorme cão que ataca as pessoas durante algumas noites, né? - sim, era um assunto antigo o qual Frisk relevava quase sempre. Em todas as suas caminhadas noturnas ela nunca tinha se deparado com ele, começava a achar que era apenas uma lenda urbana como ninguém conseguia realmente saber qual era sua aparência. Alguns especulavam que os poucos que realmente o viram estão mortos, encontrados pela polícia a qual comprovou ser um animal por conta das marcas deixadas em seus corpos deformados. No entanto, o caso, apesar de ter sido abordado pela mídia, logo era deixado de lado por sua baixa ocorrência.

O que realmente chamava a atenção de Frisk sobre tal inquietação popular, apesar de não se sobressair a suas preocupações diárias, era o fato de seus ataques quase nunca coincidirem com linhas do tempo anteriores. Ela procurou uma explicação para tal, acreditando que, talvez, suas ações estivesse afetando os ataques, mas não encontrou nada que poderia realmente se encaixar.

Mais um dos mistérios de sua atual vida.

— Eu pensei que fosse apenas uma lenda urbana.

— Ocorreram ataques recentes, algumas semanas atrás. Sei que ele não aparece com frequência, mas como ele parece passar mais tempo nas periferias eu decidi avisar. Tenha cuidado, ok? Nunca me preocupei antes porque você sempre arruma vias alternativas e passa despercebida, sem falar de sempre conseguir monitorar suas idas e vindas. Agora que está por conta própria estou um tanto insegura.

— Não se preocupe Dee-dee, eu tomarei cuidado. - gostaria muito de dizer que, mesmo se encontrasse tal cão, não realmente importava. O pior que pudesse acontecer seria feri-la de forma grave sem matá-la, no entanto, ela já era um tanto acostumada a dores, para não dizer que as redefinições incansavelmente continuariam e trariam tudo ao normal novamente. Caso ela morresse o save poderia facilmente puxá-la de volta para o momento em que era capaz de mudar o acontecido. Ainda assim, era loucura de mais para comentar com alguma pessoa.

A conversa poderia ter continuado, nenhuma das duas estava realmente apressada para fazer suas tarefas, tinham um dia inteiro para tal, entretanto, a voz estridente de Undyne resoou perto o suficiente para passar calafrios em Diana. Apesar de apenas uma mensageira ela poderia ser reconhecida, não era como se nunca tivesse se enfiado em qualquer merda anterior. Suas mãos eram tão manchadas quanto as de Sans. Ela estava na clandestinidade a mais tempo e Undyne era bem eficiente em seu trabalho. Sem falar que se a visse com Frisk era bem provável que suspeitaria e definitivamente ela não precisava disso agora.

Em um sinal para que Diana permanecesse onde estava, a morena apressou-se pela rua, deparando-se, não muitos metros a frente, com Undyne, Tinn e Blooky. Os dois últimos mencionado muito provavelmente deveriam ter se topado com a ruiva durante seu caminho para sua casa e, como Tinn era todo um fanático, definitivamente a teria prendido para uma conversa animada sobre todas as histórias que ela teria que contar. Frisk já tinha ouvido algumas e poderia garantir que eram deveras interessantes, entretanto, naquele momento, se via forçada a parar a conversa e o avança do pequeno grupo.

— Ei, punk! - o olho dourado da forte ruiva caiu em sua pessoa assim que deu os primeiros passos em sua direção, enorme sorriso feroz no rosto. Frisk sorriu e acenou em sua direção, aproximando-se com passos que, em sua concepção, eram despreocupados. - Tenho te visto pouco ultimamente. O que tem feito nessas férias além de continuar seu treinamento?

— Trabalhando um pouco no ramo de entregas. Por isso tenho chegado tarde durante a noite.

— Eh?! Por isso todos estavam preocupados?! Deveria ter falado alguma coisa, Punk! Quase matou todos do coração.

— Sinto muito, apenas não quis incomodar. Era algo simples, não pensei que iam fazer tanto estardalhaço. - bem, não era uma completa mentira, mas também não era toda a verdade. - Mas sem querer parecer ser rude, Undyne, o que está fazendo aqui?

— Oh! Vim entregar um documento sobre sua família biológica para seu pai. Como estou tendo que arrumar a bagunça que é o escritório do meu antigo chefe acabei encontrando alguns papeis que podem ajudar já que o tribunal ainda se arrasta. Falando nisso, como vão as coisas? Soube por Papyrus que você tem corrido lá os dias que tem que ficar na casa deles.

E como resposta Frisk apenas poderia suspirar em pesar e exasperação. Assim como ela fez questão de deixar claro no começo de todos os tribunais desde a sua segunda linha do tempo, a qual havia chegado ao começo de tal evento irritante, ela não queria voltar para seus progenitores. Ela disse, da forma mais clara que conseguiu encontrar, todo o abuso que foi feito para sua pessoa durante dez anos de sua vida e ainda assim parecia que nenhuma de suas palavras havia sido levado em consideração para o desenrolar da confusão. Como era péssima em mentiras, facilmente seria pega se caso tentasse refazer o que havia sucedido na primeira linha do tempo, muito provavelmente sendo tratado em seguida como uma farsa para favorecer Toriel e Asgore. Sabendo perfeitamente que seu irmão estaria a esperando fora do banheiro, ela poderia evitar, mesmo que isso acabasse por prolongar aquela asquerosa situação forçando-a a ter mais dias de contato com eles do que realmente achava necessário.

Sua solução para manter-se distante, sabendo que qualquer tentativa de desmascarar a falsa aparência de família recatada apenas pioraria toda a situação, passou a ser ficar nas ruas o máximo de tempo possível, se não na cede então apenas em caminhadas ao redor da cidade, dando voltas e mais voltas sem realmente reparar para onde ia. Não poderia causar problemas para Asgore e Toriel voltando para lá nos dias em que era programado para ela estar na casa de seus progenitores, apesar deles não se importarem nem um pouco com o que ela fazia de sua vida, eles ainda poderia acusar seus pais adotivos de estarem quebrando o acordo caso descobrissem que ela estava a procurá-los. Quando não dava mais para correr, a noite recaia e ela sentia fome, forçava-se a caminhar na direção de tal local de tortura, apenas para encontrar-se com a mulher bêbada largada sobre o sofá, gemidos e ruídos vindos do andar de cima e, desgraçadamente perto da porta de seu quarto, o depravado irmão o qual ela se recusava a acreditar que tinha alguma relação de sangue com. Algumas vezes ele a deixava em paz, apenas encarando-a descaradamente em seu caminhar até o quarto no qual deveria dormir, noites terríveis repletas de pesadelos incessantes. No entanto, existia ainda as vezes em que ele avançava, por algum motivo, e tentava tirar proveito.

Nesses momentos, mesmo que Frisk trancasse a porta em sua cara, ele ainda tentava arrombá-la, forçando-a a fugir pela janela desaparecendo pela noite, com fome e cansada, ainda extremamente alterada pelos anteriores acontecimentos. Era quando ela ia para o único lugar que realmente conseguia pensar para o conforto, sem que causasse qualquer consequência futura.

A casa dos Skeltons.

Mesmo que fossem altas horas da noite Sans a recebia com carinho, levava-a para dentro, aconchegando-a em confortáveis cobertores enquanto fazia chocolate quente para ambos. Algumas vezes Papyrus e Gaster a observavam entrar, sem soltar qualquer ruído ou questioná-la. Eles a acolhiam como parte da família e tal detalhe era reconfortante, tudo que seu coração precisava. As noites tornavam-se mais fáceis, algumas vezes com simples e singelas conversas até altas horas da madrugada, até desabar pelo cansaço, outras prontamente desabando no sofá, logo após se sentar, extremamente exausta. E, apesar de já estar se repetindo em diversas linhas do tempo, algumas em que tinha um relacionamento com Sans, assim como essa, ela ainda sentia-se com dificuldades em se acostumar, sem saber se deveria torcer para que essa situação desesperadora passasse logo ou se implorasse por uma redefinição, talvez o que viesse primeiro.

— Gostaria de dizer que está tudo bem, mas... Eu realmente não aguento mais. Parece que o que disse no tribunal não adiantou de nada e estou presa com aquela família asquerosa. Não sei o que eles fizeram para convencer aos juízes que o que disse não era para ser levado em conta. - apesar de seu ar verdadeiramente pesado e cansado, Frisk aproveitou o foco de Undyne em sua pessoa para sinalizar a Diana que ela poderia ir, um singelo gesto de mão atrás de suas costas sendo o suficiente, confiando completamente nas capacidades furtivas da ruiva escondida. - Eles apenas querem tirar dinheiro de Asgore e Toriel, não estão realmente preocupados comigo. Eu apenas quero que me deixem em paz de uma vez.

— Não se preocupe, Punk! Tenho certeza que Asgore vai dar um jeito, apenas confie nele. - Undyne afirmou com confiança e convicção, punhos fechados e sorriso resplandecente em seu rosto, tentando passar o máximo de motivação que poderia para a garota a sua frente.

— Obrigada, Undyne. Mas meu pai não está em casa agora. Acho que vai ter que ir ao escritório dele.

— Oh, sem preocupações. Eu tenho o... - antes, porém, que realmente pudesse terminar sua sentença o celular vibrou em seu bolso, alto o suficiente para que pudesse ser escutado, forçando-a a deter-se em seu discurso para poder dar-lhe atenção.

Pelo canto do olho Frisk conseguiu reparar em Chara saindo de casa com passos apressados, jogando um casaco qualquer por sobre os ombros enquanto seu rosto mantinha-se carrancudo. Ela nem ao menos havia prestado atenção no pequeno grupo a conversar próximo a porta de sua casa. A morena franziu o cenho, pensativa, tentando imaginar o que poderia ter deixado sua irmã em tal estado de concentração. Ela se recordou, vagamente, naquele mesmo período na primeira linha do tempo, como a viu passar como uma besta selvagem pela casa enquanto Frisk mantinha-se quieta no sofá, apenas a observá-la com curiosidade momentânea antes de voltar para o que se passava na televisão. E quanto mais tentava puxar de sua memória tal detalhe, mais iam retornando, todos naquele mesmo período de tempo, apesar de observá-lo de ângulos e em momentos diferentes.

— Desculpe, crianças, mas tenho que ir. - Undyne resmungou, tom completamente diferente do animado que havia adotado no começo da conversa, olha frio e sério em seu rosto tenso. Tinn, no entanto, pareceu animar-se.

— Oh! É um novo trabalho?! Podemos ir?! Ver Undyne em ação deve ser tão legal! Bater nos bandidos como se não fosse nada... Ah! Eu quero ajudar! Eu posso ajudar! Eu fiquei bem mais forte!

— Vocês vão para onde tem que ir, eu vou resolver esse problema. Sem discussão. - seu tom autoritário bastou para Frisk e Blooky entender que realmente a situação não era brincadeira, no entanto, Tinn deixou-se amuar como uma criança ao ser proibida de brincar com os amigos pelos pais. A partir dali a morena já sabia que teria que distrair sua atenção para que seu empolgado amigo não corresse atrás de Undyne.

Sem mais comentários a mulher se foi, tão apressada quanto suas pernas eram capazes de levá-la sem realmente correr. Frisk a observou, mente trabalhando em uma possível relação entre a saída de Undyne e a visão furtiva de Chara. Talvez não fosse nada, ainda assim algo se inquietava em seu interior, gritando-lhe que alguma coisa estava errada. Teria realmente uma relação entre os acontecimentos? Foram demasiadamente sincronizados para seu gosto.

Novamente suspirando, tão cansada de todas as questões que vieram durante aquele simples começo de dia, Frisk dedicou-se a começar seu caminho na direção da loja de Muffet, o lugar onde havia programado, junto com Blooky e Tinn, se passar um pouco de momentos juntos. Apesar de amigos bastante unidos desde o fundamental, durante aquele terceiro ano, a morena deveria admitir, eles não tiveram muitos momentos juntos, ou pelo menos para os dois garotos. Ela conseguiu se recordar de vários e vários encontros os quais tiveram que dividir durante linhas do tempo anteriores, às vezes repetidos, outras vezes novos.

De qualquer maneira teria que ir até Muffet. Fazia um tempo que tinha aprendido que ela fazia parte das diversas fontes de entregas comerciais da gangue de Sans. O motivo? Aparentemente dava mais dinheiro a distribuição de produtos mágicos que ajudavam a cura em momentos de conflito com pessoas que realmente iriam precisar, do que dentro da legalidade, assim ela teria toda o dinheiro necessário para ajudar sua grande família; Contudo, como ainda possuía uma loja dentro da parte nobre da cidade, qualquer assunto envolvendo seu envolvimento com as gangues era tratado com extremo sigilo, por tal, poucas pessoas eram realmente confiadas a saber.

Dentro da parte de distribuição de informações, onde Frisk mantinha seu trabalho, as entregas eram separadas entre os aliados abertos e aqueles que queriam se manter ocultos. Os que mantinham-se abertos, ou seja, não temiam dizer ao mundo que estavam em trocas comerciais e relações com pessoas foras da lei, eram facilmente abordados por qualquer outro membro do grupo de transporte. Em contrapartida existiam aqueles que tinham uma reputação a zelar e jogavam para os dois lados, tanto pela lei como fora dela e deveria manter seus nomes as obscuras. Esses nomes eram guardados pela rede de distribuição de informações e passados apenas para alguns poucos que fariam o intercambio de produtos, juntamente com Sans que deveria monitorar as atividades pelos relatórios recebidos.

Não adiantava mentir para ele também. Sempre arrumava um jeito de descobrir as falcatruas, para não dizer que apenas os mais confiáveis e de alto nível eram realmente permitidos ter acesso a tais informações importantes.

Como Frisk havia se tornado a segunda no comando junto a Diana, para não dizer do fato de ter começado a relatar qualquer uma de suas atividades apenas para o albino e unicamente para ele, mesmo Diana estava começando a não saber exatamente sobre suas atividades de encontro e informações, ela havia se tornado a principal escolha para cuidar dos casos "delicados". Sem contar, também, com o simples detalhe de todos os que já tiveram algum tipo de contato com ela confiarem exclusivamente na morena, fazendo questão de ser ela e exclusivamente ela, a efetuar suas entregas.

A questão era que era realmente complicado efetuar uma troca quando, apesar de ser uma freguesa assídua, ainda seria demasiadamente suspeito de repente começar a trocar pacotes com a dona do lugar. Obviamente com Muffet era um tanto mais fácil, já que a maior parte de suas encomendas deveriam ser levadas por meio de um transporte, o que era encarregado de Diana, contudo, Frisk era a responsável de lhe entregar o dinheiro.

Mas, bem, Frisk era inteligente o suficiente para escapar desses contratempos.

— Fufufufu, vejo que o anjinho veio novamente, tão pontual como sempre. Como vão as coisas, querida? - Muffet era uma figura estranha, sempre com um sorriso resplandecente e bem humorada, mesmo quando na verdade não deveria estar. Um tanto zombeteira, sempre seria complicado para saber se estava realmente a falar sério ou caçoar daquele com quem conversava. Ainda assim uma pessoa incrível quando se conhecia a fundo, educada e amigável.

— Nem pergunte. Não sabia que poderia ter tanta dualidade no que deveria ser um grupo unido. - suspirou Frisk, apoiada sobre o balcão da loja a esperar seu pedido e o de seus amigos.

— É o que costuma acontecer com grupos muito grandes e cheios de poder, queridinha. Fufufu, mas não me parece que está tão ruim, você ainda está lá.

— Existem pessoas que valem apena. - a morena sorriu, um pequeno sorriso de canto, enquanto observava a dona afastar-se por alguns segundos para, de alguma forma, conseguir pegar e equilibrar três pratos em suas duas mãos, deixando-os sobre o balcão de frente para Frisk.

— Fufufufu, eu imagino. Aqui estão seus pedidos, tenham um bom lanche.

Frisk sorriu, colocando ao lado dos pratos a quantidade de dinheiro para pagar os doces junto a um pequeno pacote abarrotado o qual foi prontamente guardado pela dona do lugar. Como podia, Frisk voltou para seus amigos, dedicando-se simplesmente a apreciar aquele breve momento com eles. Um pouco de tranquilidade não faria mal a ninguém.

E mesmo que tentasse realmente disfarçar, suas preocupações ainda tornavam-se visíveis na linguagem de seu corpo. Eram poucos, no entanto, que realmente tinha a capacidade de perceber os breves detalhes em suas ações. Gestos tão simples como o suspiro constante, sorrisos tensos ou contrações involuntárias de certas regiões do corpo quando a mente desligava-se para outros assuntos, mergulhando nos problemas para tentar arrumar uma solução. E o maior problema de pessoas que eram capazes de ver tais detalhes, era que normalmente elas não falavam ou simplesmente não anunciavam que eram capazes, simplesmente pelo detalhe de serem quietas de mais para tal.

Blooky era um garoto extremamente introvertido e deprimente, quase não falava e quando o fazia era de forma lenta e recheada de lamentos. Contudo, por conta exatamente de sua pouca interação com outras pessoas e pouca motivação para falar ele acabava por observar muito mais do que pessoas extrovertidas e animadas eram capazes. Ele não era muito fã, porém, de tal tipo de habilidade. Sentia-se desconfortável, como se estivesse a descobrir um segredo intimo da pessoa, principalmente quando tratava-se de um amigo próximo.

Ele gostava de Frisk. Era uma pessoa tranquila que o aceitava da maneira que era e não o forçava a falar mais ou parar de se lamentar constantemente. Ela escutava suas musicas, o elogiava e sempre estava a seu lado para ajudá-lo seja nos estudos ou em problemas pessoais. E poderia muito bem afirmar, com toda a pouca convicção que tinha, que nunca, até então, tinha procurado avaliá-la de forma atenta, deixando que ela escondesse seus próprios segredos, acreditando que qualquer coisa que precisasse ela iria pedi-lo como sempre o fazia. Contudo, ele deveria concordar com Mettaton, sua amiga estava estranha de mais esses últimos meses e não parecia ter quaisquer intenções de dizer o motivo. Precisavam fazer alguma coisa para ajudá-la, mesmo que ela mesma não quisesse. Afinal, era isso que faziam os amigos, não era? Ou pelo menos assim afirmava Mettaton e Blooky confiava nele.

Despedindo-se de Frisk depois desse breve encontro entre amigos, Blooky vagou para sua casa, questionando-se, em uma curiosidade tímida, o que parecia tão importante para ela fazer ao ponto de recusar-se a ir com eles para casa. Tudo bem que aparentemente ela parecia ter começado a trabalhar, mas sinceramente ele teve a impressão que ela estava mais apressada em afastar-se do que realmente ansiosa para terminar seu trabalho.

Em movimentos lentos ele entrou em casa, olhos vagando pela sala, sem pronunciar uma palavra enquanto trancava a porta o mais silenciosamente possível. Não queria incomodar ninguém afinal, mesmo que soubesse perfeitamente que Mettaton não se importasse e até mesmo preferia que ele anunciasse quando estivesse em casa e que Alphys ainda demoraria um tempo para voltar.

Os três moravam basicamente sozinhos, Blooky tinha perdido os pais muito cedo e logo veio viver com seus tios os quais mais passavam seu tempo em aloucadas viagens do que realmente dentro de casa com seus filhos, mesmo quando eram novos de mais para cuidarem-se sozinhos. Viveram a maior parte de suas vidas sendo cuidados por babás, mesmo depois que Alphys tornou-se velha o suficiente para ser responsável por eles, ela estava tão ocupada com a faculdade e os estudos que dificilmente era capaz de tal. Mettaton tornou-se uma estrela juvenil, antes mesmo de conseguir ganhar maturidade ele já fazia sucesso na internet, primeiro com fotos e em seguida em vídeos. O verdadeiro nascido para o estrelato. Com vinte foi chamado para fazer programas de televisão, os quais até então mantinha como sustento. Largou os estudos e passa a maior parte de seu tempo em viagens ou em seu shows de televisão do que realmente em casa. Constantemente incentivava Blooky em seus remix musicais, utilizando-os não apenas na internet como em seus programas e garantia, todas as vezes que era capaz de passar um tempo em casa, de estar com seu amado primo.

Mesmo que realmente não tivesse muitas pessoas com as quais pudesse passar a maior parte do seu tempo, Blooky era feliz. A casa poderia ser grande e muitas vezes vazia, ele ainda, por mais que era muito vergonhoso admitir, tinha certeza que a qualquer hora que ligasse para qualquer um de seus amigos ou família eles o atenderiam com prazer e, algumas vezes, fariam questão de fazer-lhe companhia.

— Blooky! - Mettaton exclamou desde o sofá, joelhando-se sobre ele enquanto apoiava-se sobre o encosto. A televisão a suas costas ainda estava ligada, em um filme qualquer o qual ele não mais parecia prestar atenção, sua própria expressão ansiosa já mostrava perfeitamente o que queria saber. - E então?

— Ela parecia... Cansada. Pode ser porque tenha um trabalho de entregas ou pelo tribunal sobre sua custodia, mas eu diria que tem algo mais. - murmurou o rapaz, mãos revolvendo-se inquietas enquanto falava. - Parece ter alguma coisa que a incomoda, mas não fala e faz questão de não dizer exatamente para onde vai, mesmo que for do trabalho. Também parece ansiosa, como se esperasse que alguma coisa fosse acontecer... Eu diria que não seja uma que a agrade.

— Tentou falar com ela?

— Ela se esquiva do assunto... Desculpe...

— Não tem que se desculpar, Blooky. Obrigado por ter feito o que pedi, sei que não gosta. - o rapaz assentiu devagar, deixando-se, em seguida, guiar até seu quarto no segundo andar da casa. Mettaton, por sua vez, manteve-se na sala, jogando-se novamente sobre o sofá ao mesmo tempo em que deixava escapar um suspiro pesado. Papyrus, quase segundos depois, apareceu pela porta da cozinha, guiando-se até onde seu namorado se encontrava. Devagar Pap se sentou próximo a um dos braços do sofá deixando que Mettaton se recostasse em seu peito, seus próprios braços enroscando-se no moreno com carinho. - Estou preocupado, Pap Dear...

— VAI FICAR TUDO BEM, METTA. - Papyrus afirmou, tão convicto como poderia aparentar naquele momento. Ele não tinha tanta certeza, porém. Tinha visto o estado decadente de Frisk cada vez que ela aparecia em sua casa, algumas vezes, em um momento ou outro, a ouviu chorar baixinho, sozinha ou com Sans, isso para não dizer de seus constantes pesadelos, talvez ainda pior que seu irmão. Ele próprio estava preocupado, mas dizer a verdade naquele momento não seria uma boa ideia, mesmo que não gostasse de dizer mentiras.

— Você acha?

— CLARO! ESTÁ DUVIDANDO DO GRANDE PAPYRUS?! - não era bem o momento para tal explosão de egocentrismo, mas foi o suficiente para fazer Mettaton rir, mesmo que seja pouco.

— Claro que não, Pap Dear.

Ainda que a brincadeira tivesse surtindo um leve efeito tranquilizante, não foi completamente suficiente. O rosto do moreno ainda aparentava estar desolado, preocupado, distraído... Papyrus não o queria ver assim. Mettaton era uma pessoa naturalmente animada, mesmo que diversas vezes extravagante, vê-lo dessa forma era estranho e surreal.

Determinado, Papyrus o abraçou, um braço pelo ombro e outro ao redor da cintura enquanto seu rosto escondia na curva de seu pescoço. A princípio não fazendo qualquer tipo de movimento a mãos, deixando-se por alguns segundos aproveitar apenas do contato e conforto de um abraço apertado. Em seguida, porém, passou a beijar-lhe o pescoço com carinho e lentidão, um leve pressionar de lábios sobre a pele exposta desde o ombro até o lóbulo da orelha, apreciando os arrepios os quais conseguia sentir subindo pelo corpo de seu amante.

Apreciando em beijos mais apaixonados a orelha do moreno, deixou que uma de suas mãos, a que anteriormente rodeava-lhe a cintura, começasse a explorar o local, deslizando por sob a camisa, dedilhando a carne trabalhada do abdômen até finalmente procurar descer até a barra da calça justa a qual usava, ameaçando de forma discreta descer um pouco mais. Deixou-se brincar por alguns segundos, um minuto talvez, no máximo, até finalmente permitir-se escorregar para dentro das calças.

E, apesar de Papyrus aparentar ser uma pessoa inocente, ele teve seus momentos de aventuras antes de Mettaton, assim como Mettaton também teve as dele. Pap era um adulto, vinte e dois anos e com seus próprios encantos, não apenas atraindo homens como também mulheres com facilidade, mesmo que fosse apenas por interesse de apenas uma noite de divertimento, ainda assim, ele não era como seu irmão. Poderia não ter tido um relacionamento duradouro até então, mas já esteve em um compromisso sério, talvez cinco ou seis desde seus dezessete anos, sendo que aos dezenove havia perdido sua virgindade.

Em movimentos lentos ele estimulou seu companheiro, apreciando não apenas os sons os quais fazia, como também o pressionar de seu quadril contra o dele, deliciando-se com os leves espasmos que de vez em quando dava ao receber um contato mais... Interessante. A mão que, anteriormente, mantinha-se sobre os ombros, subiu para o queixo, puxando com delicadeza o rosto do moreno em sua direção, aproveitando para dar-lhe um beijo profundo e apaixonado.

Existiam, realmente, mais momentos em que era Papyrus a ser deixado constrangido do que Mettaton. Como um homem naturalmente excêntrico o moreno facilmente conseguia lidar com situações constrangedoras ou vergonhosas, ainda assim, mesmo com toda sua forma meiga, Papyrus era aquele que normalmente punha-se a comandar toda a ação, por mais que, mais de uma vez, era Mettaton o qual começava.

De forma lenta, ainda apreciando beijos profundos os quais facilmente lhe faziam a mente tornar-se branca, o albino foi deitando seu companheiro sobre o sofá, pernas abertas o suficiente para acomodar-se entre elas, mãos explorando todas as partes do corpo as quais conseguia alcançar. Um grunhido, no entanto, lhe escapou quando sentiu as mãos astutas do moreno apertando-lhe a bunda, puxando-lhe para mais perto, roçando seus membros por conta da proximidade a qual encontravam-se.

O primeiro a ir ao chão foi, definitivamente, a blusa de Papyrus, jogada em um canto qualquer da sala, logo sendo acompanhada pelas calças justas do moreno. Pap aproveitou, então, para separar-se dos lábios de seu companheiro, por mais que ele insistisse em continuar, descendo para as pernas esguias agora expostas para dedicar-lhe leves mordidas na parte interna da cocha, chupando-lhe a pele com força o suficiente para deixar-lhe evidentes marcas que com toda certeza durariam por dois ou três dias.

Evidentemente Papyrus não poderia deixar marcas óbvias, por mais que, ao igual que Sans, gostasse de marcar o que lhe era de direito seu, contudo, nada lhe impedia de brincar com regiões mais escondidas. Era um atitude a qual ninguém, a não ser quem dividia a cama com o rapaz, esperaria dele, ainda assim, não era mal vista por seu companheiro. Sua sorte era que Blooky tinha o costume de enfurnar-se em seu quarto com fones de ouvido em alturas o suficiente para não conseguir escutar nem mesmo se a casa estivesse a cair e Alphys ainda demoraria até a noite para retornar, se realmente retornar-se. Agora que namorava Undyne abertamente, passava mais tempo em sua casa do que em qualquer outro lugar. Tais detalhes davam toda e completa garantia de privacidade para os dois.

E em todo aquela diversão é bem fácil esquecer-se de determinados aparelhos, como por exemplo a televisão ainda ligada ou o celular a tocar sobra a mesinha no centro da sala. E talvez, se Papyrus tivesse olhada qual era a mensagem que havia recebido ele teria bem mais motivos para se preocupar do que o simples estado emocional de Frisk. Afinal, existia outra pessoa em sua vida que tinha sérios problemas quando estava exageradamente estressado.

Frisk, por sua vez, encontrou-se no seu ultimo local de entrega próximo as seis horas daquela tarde, depois de dar boas voltas e mais voltas pela cidade.

Estranhamente não havia recebido nenhuma mensagem de Sans. Tinha sido bastante normal se comunicarem por telefone quando não estavam juntos, era um costume que um tanto irritante do albino, ainda assim, não o suficiente para realmente tirá-la do sério para reclamar. Ela bem sabia que ele se tratava de alguém exageradamente preocupado e muitas vezes carente, para não dizer sobre seu ciúme quase perfeitamente evidente, se não totalmente. Mesmo que fosse bastante engraçado observar como tentava manter-se calma enquanto outros rapazes insistiam em se aproximar. Era completamente visível que quem mais queria dizer ao mundo que eles tinham um relacionamento era ele.

Ela havia acabado de entrar no bar do Grillby quando recebeu sua primeira mensagem, estranhamente não de Sans, mas se de Gaster.

*Você viu Sans?*

Pelo que conhecia dos horários do albino, naquele exato momento ele estaria a sair de seu trabalho, muito provavelmente indo para casa ou indo para a cede para buscar algum relatório esquecido por qualquer que seja o líder azarada de determinado setor. No entanto, se bem estava informado, ninguém dessa vez havia deixado de entregar no dia o que não dava motivos para Sans ir a qualquer outro lugar que não fosse para casa, já que não o via no Grillby.

— Frisk! - antes que tivesse a chance de responder, porém, quase todo o lugar animou-se com sua presença. Ela tinha adquirido o costume de aparecer, se não fosse com Sans era em uma de suas entregas para o próprio Grillby.

Com um sorriso cordial, esquecendo-se por um instante de sue celular, ignorando os olhares lascivos e curiosos, Frisk cumprimentou os conhecidos presentes. Se bem contava conhecia identificar pelo menos doze de todos os vinte ou vinte e cinco presentes, sendo dois deles Grillby e sua filha, Fuku.

Fuku costumava trabalhar no lugar depois que começou a cursar a faculdade, Frisk a havia conhecido depois de algumas idas e vindas no lugar. Uma garota de sorriso tímido e temperamento explosivo caso começasse de forma errada com ela, talvez derivada do fato de ter que enfrentar constantemente acediadores por conta do lugar onde morava e mesmo que fosse uma garota de personalidade amável, muitas vezes quieta, poderia ser facilmente confundida com uma arruaceira por conta de seu estilo mais despojado. Cabelos esverdeados, obviamente tingidos, pele de um café com leite fraco, com tatuagens no tornozelo, ombro e cocha, um pirsing no umbigo e comumente trajando roupas que variavam do relaxado ao punk suave isso quando dedicava-se a sair com os amigos. Frisk sabia que ao ir a faculdade ela escolhia roupas mais casuais e menos chamativas, talvez simplesmente para não chamar muito a atenção dos "riquinhos" os quais era forçada a conviver na maior parte de seu tempo.

A verdadeira surpresa veio na forma do pequeno garotinho moreno sentado sobre o balcão próximo a garota, bastante animado ao ver Frisk aproximando-se.

— Ei, Pablo! Mamãe te deixou com a tia Fuku hoje? - perguntou divertida, alegrando-se ao ver o pequeno rapaz agitar-se em seu lugar, visivelmente alegre em vê-la.

— Anju! Anju! Fufu sabe fazer magia também! - comentou animado. Mesmo que tivesse quase quatro anos, muitas vezes, poderia agir como uma criança ainda mais jovem e era muito lindo de se ver.

— A é? É mais legal do que a minha? - o garoto prontamente negou com a cabeça, rosto de repente sério e determinado.

Foi uma sugestão da própria morena que Diana deixasse seu pequeno garoto com Fuku. Foi na verdade uma grande coincidência, aparentemente a babá que trabalhava para Diana havia desistido de seu emprego depois que descobriu onde sua chefe trabalhava e como Diana não tinha tempo para ficar com a criança ela precisava urgente de uma nova babá. Fuku, por sua vez, não queria mais trabalhar no bar de seu pai, com óbvios motivos. Apesar de Sans ter melhorado bastante os arredores, principalmente para vendedores como Grillby, ainda existiam os ousados o suficiente para incomodar as garotas bonitas que tinha a coragem ou a falta de opção de trabalhar em tais lugares. Conhecendo ambas as situações, por fim, Frisk sugeriu a Diana que contratasse Fuku para ser sua nova babá.

Fuku conhecia Sans e o tratava como um primo ou irmão mais velho, muito provavelmente pela proximidade que o rapaz tinha com seu pai e a forma constante com que aparecia no bar, então não teria quaisquer tipo de problema em aceitar um trabalho de alguém que trabalhava em uma gangue. E, aparentemente, Diana havia realmente aceitado tal conselho.

— Veio a serviço ou apenas para descansar? - perguntou Fuku com curiosidade, um pequeno sorriso dedicado a morena que mantinha-se a brincar com a pequena criança.

— Infelizmente a serviço. Tenho uma encomenda para seu pai. - ao ser mencionado Grillby ergueu a cabeça do copo o qual limpava, deixando-o de lado para aproximar de ambas as garotas, recebendo com um sorriso o pacote que Frisk o entregava. - Oh! Além disso, Grillby, você viu Sans por acaso?

— Sans? Ele não apareceu por aqui, por que?

— O pai dele está querendo saber. - respondeu a morena, novamente voltando-se para o celular para responder a mensagem a qual tinha recebido.

— Que estranho... Faz um tempo desde que Gaster desistiu de tentar saber para onde aquele moleque vai ou deixa de ir. - Frisk soltou um resmungo pensativo, tão confusa quanto. - Vivo dizendo a aquele garoto parar de dar dores de cabeça para o pai, mas é teimoso de mais para me escutar.

— Você e Gaster já se conheciam?

— Estudamos na mesma faculdade. Era um dos amigos de sua esposa, acho que ele sentia um pouco de ciúmes por sermos tão próximos como irmãos, ou pelo menos isso ela me falava. É complicado dizer exatamente o que ele está sentindo, principalmente quando quer esconder. Muito parecido com Sans. - Grillby novamente dedicou-se a limpar os copos enquanto Frisk acomodava-se ao lado de Fuku em uma das cadeiras próximas ao balcão. - Ainda não sei como ele deixou que ela me colocasse como padrinho do garoto. Bom... Asgore é o de Papyrus, então acho que não teve muitos problemas.

— Ela era minha madrinha. - comentou Fuku, um sorriso triste em seu rosto. Frisk sentia curiosidade em perguntar, mas talvez não fosse a melhor escolha. Sempre que a mãe de Sans entrava no assunto, de uma forma ou de outra, o clima tornava-se pesado, delicado. A morena sabia que ela havia falecido há alguns anos, mas nunca soube como.

Seu celular vibrou novamente, desviando seus pensamentos da situação.

*Obrigado. Mas o que faz no Grillby, mocinha? Devo dizer a seus pais?*

Frisk sabia que era uma brincadeira a disfarçar a preocupação. Depois de tantas vezes que Gaster deveria ter ouvido sobre ela de Asgore assim como a viu diversas vezes em sua casa, seja acompanhando Sans ou Papyrus, ele deveria ter adquirido um certo desejo protetor para com ela, por mais que realmente não demonstrasse.

*Conversando com Fuku, não tem que se preocupar. Logo vou voltar para casa. O que aconteceu com Sans?*

A resposta demorou alguns exagerados minutos para chegar.

*Problemas no trabalho*

Frisk franziu o cenho. Se fosse problemas no trabalho Gaster não estaria tão preocupado. Alguma coisa estava faltando naquela história, mas ela não conseguia adivinhar o que poderia ser.

— Você tem mais entregas para fazer, Frisk? - Grillby perguntou, logo após deixar um copo de cerveja na frente de um dos homens sentado próximo ao balcão, algumas cadeiras afastado da de Frisk e Fuku.

— Não, você foi o ultimo.

— Vai para a cede depois?

— Nop. Minha irmã me proibiu de ir por um tempo, estou de castigo.

— Sua irmã pode fazer isso? - questionou Fuku, surpresa. Normalmente esperava tal reação dos pais.

— Você não conhece a peça. Dá medo quando quer, mesmo que tenhamos a mesma idade. Não é muito legal desobedecê-la, apenas quando vale muita a pena. Apesar que realmente não tenho um horário pré-determinado para voltar. Estava pensando em dar uma caminhada para relaxar. - fazia algum tempo que não praticava tocar violino. Talvez naquela noite pudesse se divertir um pouco nos telhados de algum prédio qualquer.

— Gostaria que fosse direto para casa dessa vez, Frisk. - Grillby comentou, visivelmente preocupado.

— Por que?

— Tem tido ataques ultimamente.

— Quer dizer daquela lenda urbana?

— Não é uma lenda urbana, Frisk. - insistiu o ruivo, cenho franzido em desgosto. Por que todos estavam preocupados com isso naquele dia?

— Chupa-cabra! - exclamou o pequeno moreno, chamando a atenção de todos.

— O que?

— Chupa-cabra! Mamãe disse que é o Chupa-cabra.

— Chupa-cabra, pelo que eu saiba, é um animal típico da cultura Americana, principalmente no Mexico, Porto Rico, Florida, Chile, Nicarágua e Brasil. É uma criatura que supostamente ataca animais rurais, drenando o sangue deles. - esclareceu Fuku, seu rosto tão confuso quanto o de seu pai e Frisk.

— Bem, eu diria mais um lobisomem pelas descrições que já ouvi, mas devo admitir que foi interessante. - riu Frisk, realmente não muito preocupada. Bem, ela já tinha visto monstros reais, porque não um chupa-cabra?

Seu celular tocou antes que qualquer um pudesse comentar, Pedindo licença ela se levantou para atender, franzindo o cenho ao perceber que era um numero desconhecido.

— Quem é?

Ei, Anjo! Como vão as entregas! - a voz irritantemente conhecida a surpreendeu.

— Como conseguiu meu número, Ralph? - questionou, uma mão indo para o quadril. Não estava muito animada para escutar esse cara agora.

Não é assim que se trata seus superiores, Anjo. Mas se tanto quer saber, pedi a Anabelle, preciso que encontre o Chefe.

E por que exatamente?

Digamos que houve uma desavença e ninguém consegue entrar em contato com ele. Como você tem sido a favorita dele nos últimos dias, pensei que pudesse saber de alguma coisa. - o tom de sua voz ao dizer o "favorita" não lhe agradou nem um pouco. No entanto, o que realmente lhe preocupou foram as tais desavenças mencionadas. Aquilo não lhe passava um bom pressentimento.

— Que tipo de desavenças, Ralph?

Oh, você sabe. O mesmo de sempre. - ele não queria falar. Ele estava envolvido.

— Se você quer que eu faça alguma coisa para você é bom me dizer exatamente o que está acontecendo ou pode ir chorando para outra pessoa. Sabe perfeitamente que não confio em você e não adianta jogar a hierarquia contra mim, os únicos a quem realmente dou respeito e satisfação é o Chefe e Diana.

Por alguns breves instantes a linha tornou-se silenciosa. Frisk esperou pacientemente que Ralph tomasse sua escolha.

Alguns idiotas resolveram invadir o lugar onde ele trabalha. Aparentemente tinha descoberto a verdadeira identidade dele e decidiram atacar onde mais doi. - começou, um leve ar debochado em sua voz. - Sabe que isso não é problema para o nosso grande chefe. Mas o que realmente o tirou do sério foi foram as fotos que encontrou em um dos meliantes. Aparentemente eles sabiam sobre Chara também e queria não apenas atacá-los, como também quem era próximo deles. Se é que você me entende.

Isso explicaria o fato de Undyne e Chara terem saído apressadas mais cedo. Undyne provavelmente foi para a cena do crime enquanto Sans teria avisado Chara sobre o ocorrido e a possível ameaça para ela e Asriel. E se tinha uma coisa que tanto Sans como Chara odiavam e expressavam abertamente, além da evidente empatia um pelo outro, era o fúria desenfreada que tinham contra aqueles que faziam questão de colocar suas famílias ou amigos no meio da história.

Ainda assim existia um ponto solto na história, alguma coisa não encaixava. Se nem mesmo Chara havia conseguido imagens suas e era basicamente impossível que a identidade deles fosse revelada sem ter tido vazamento de dentro, então alguém havia compartilhado a informação com tais pessoas, tendo o obvio intuito de prejudicá-los usando de outras pessoas. E se tinha uma pessoa que Frisk conhecia que era capaz de colocar "peões" para fazer o trabalho sujo, era exatamente aquela que estava do outro lado da linha.

— Um dia eu espero que você engula seu próprio veneno, Ralph.  

Eu farei questão de cuspi-lo em sua boca, Anjo. Não se preocupe.

Com raiva, Frisk desligou o telefone. Ela tinha que arrumar uma maneira de se comunicar com Sans e fazê-lo voltar a razão. Mas ninguém estava conseguindo contatá-lo, então como ela o faria?

Suspirando pesadamente, Frisk guardou seu telefone. Não adiantaria nada manter-se parada sem fazer nada, Chara provavelmente a incomodaria se ela ficasse muito tempo fora de casa, principalmente com a atual ameaça. Não adiantava dizer que poderia muito bem se defender, para não esquecer que tinha o Save que, apesar de um uso diferente do normal, ainda funcionava perfeitamente bem.

— Tenho que ir, Grillby. Problemas de ultima hora. - falou apressada, ajeitando a bolsa encardida como podia para que não a atrapalhasse em sua corrida pela cidade. - Depois eu volto, e pode deixar que vou tomar cuidado com o animal selvagem pela cidade. - sem dizer uma palavra Grillby lhe entregou uma lata de refrigerante a qual Frisk encarou com confusão. Por instantes ela tateou os bolsos a procura de dinheiro, percebendo que o único que tinha havia sido entregue para Chara. - Eu não tenho... - o ruivo negou, empurrando a lata em sua direção de forma persistente, um perfeito indicativo que era por conta da casa. - Obrigada.

E apressada Frisk deixou o lugar, tentando pensar em todos os lugares que Sans poderia estar naquele momento.

E ela passou horas procurando. Tentou ligar em seu telefone diversas vezes, apenas para não ser atendida em nenhuma delas, mandou-lhe mensagens, questionou pelos lugares os quais conhecia, subiu em prédios para ter uma visão melhor da cidade para alguma demonstração extravagante de magia e ainda assim não viu nada. Ela não sabia o que mais poderia fazer, um mal pressentimento tomava-lhe as entranhas e ela estava preocupada, mas não havia nada mais para ajudar.

Com um suspiro ela deixou cair a bolsa sobre um telhado qualquer, seus olhos voltando-se para o céu estrelado sobre sua cabeça, tentando acalmar o aloucado coração. Deveriam ser por volta das onze, se não já meia noite. Chara não deveria estar feliz, se é que tinha voltado para casa e dado-se conta de que ela não estava. Todo o estresse continuava em sua cabeça e Frisk não conseguia simplesmente aliviar-se como fazia com sua respiração, novamente voltando ao normal.

Onde Sans havia se metido? O que havia acontecido? Por que não lhe respondia? Era impossível que alguém tivesse conseguido derrotá-lo, não é?

Respirando profundamente deixou materializar o violino em suas mãos, a única forma que conseguia realmente pensar para despejar sua mente de tais pensamentos inquietantes. Deixando que simplesmente a musica começasse ela deixou-se levar, o som ecoando pela noite silenciosa, sendo as estrelas as únicas espectadoras de sua apresentação, mesmo a lua estava longe de ser vista.

Bem devagar, acompanhando os lamentos de seu instrumento, deixou seu corpo mover-se no compasso, nunca perdendo os movimentos das notas ou o balanço do corpo. A escuridão a envolvia com calma, o ritmo a embalava, logo as preocupações sumiram, sua mente ficou em branco, total e completa concentração em cada paço, cada nota, cada respirar, cada batimento de seu coração.

Com um suspiro ela deixou-se terminar, instrumento desaparecendo de suas mãos, olhos ainda fechados, apreciando a calma do momento, novamente com a paz em sua alma, mesmo que fosse momentânea. Ela ficou grata de não ter perdido a prática, mesmo depois de todo esse tempo sem tentar.

Tudo que se seguiu foi rápido de mais para conseguir realmente perceber. Estava determinada em voltar para sua casa, acreditando que remoer o problema não iria ajudar e esperaria até o dia seguinte para tentar procurar Sans novamente, contudo, antes que pudesse realmente ser capaz de pegar sua bolsa o telhado tremeu em um demonstração perfeitamente evidente que um peso exageradamente a mais havia recaído de forma brusca sobre ele. Em seguida veio a dor, recordou-se de ter voltado-se assustada pelo tremor, tentando ver o que era, o vulto de algo descendo em sua direção tomou sua visão e então nada. A dor do ferimento e a morte, tão simples como era.

Quando deu por si estava novamente no telhado, violino em mãos, bolsa ligeiramente distante, o silêncio da noite novamente sendo sua única companhia.

Em um instinto de sobrevivência Frisk correu para sua bolsa, pegou-a no caminho e jogou-se para uma pequena abertura entre o duto de ventilação e uma pequena casa a qual tinha a entrada para as escadas que levavam aos andares inferiores do prédio. Não demorou muito, porém, para que, o que quer que a tivesse atacado anteriormente, tivesse novamente aparecido.

De onde se encontrava a morena não poderia dizer ao certo o que era, ainda assim, conseguiu distinguir o que pareciam garras a arranhar o concreto firme do telhado, formando sulcos assustadoramente fundos. Cada garra acompanhada de uma camada de branco vivida, bastante visível apesar da escuridão. Prendendo a respiração ela observou como a criatura dava voltas pelo lugar, bufos fortes indicavam que estava a farejar o ar, provavelmente a procurando.

Não soube exatamente quanto tempo manteve-se escondida a espera da tal criatura desaparecer na noite novamente, apenas sabia que, quando finalmente esgueirou-se para fora de seu esconderijo, suas pernas estavam tremulas pela pressão de magia que aquela coisa exalava de forma assustadoramente natural. Suas mãos tatearam, sem querer, os sulcos feitos no concreto, quase conseguindo colocar todo seu tendo dentro de tão profundo que se encontrava.

Talvez não fosse uma lenda urbana afinal...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro, espero que tenham gostado. Semana que vem teremos um pouco mais de drama então se preparem.
Caramba, nem acredito que cheguei a isso tudo de capitulos e ainda por cima estou com mais de 250 páginas no word já escritas. Isso sim é o meu trabalho mais longo já feito! To animada!
Até semana que vem, continuem determinados!