FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 3
Irmãos Skeltons - 388 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap, agradecendo a todos que estão acompanhando, desculpa se esse ficou um pouco grande. Mas não sei por quanto tempo continuarei com a criatividade para detalhar capitulos, então irei aproveitar.
Continuem determinados leitores!
E vamos ao cap!



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FusionTale - Irmãos Skeltons - 388 dias para Reset

Existem alguns fatos, acontecimentos, situações que nunca mudam. Mesmo que você atravesse o tempo espaço continuo determinado momento de sua vida será o mesmo. E não foi muito difícil para Frisk descobrir, da melhor maneira possível, que alguns encontros simplesmente são destinados a acontecer e que não precisava se esforçar ou estar determinado para isso.

Aquela manhã de quarta-feira foi definitivamente mais tranquila do que a do dia anterior. Já mais acostumadas com o funcionamento dessa nova realidade a fluidez daquela manhã foi bem mais suave, recheada pela doce sensação de carinho familiar que aquela família exalava. Nem mesmo Chara poderia estragar o dia com seu humor mórbido, lamuriando por ter que despertar as seis da manhã para ir a escola . Frisk acreditava que apenas Asriel era capaz de amansar a besta naqueles momentos conturbados, sua simples presença já era o suficiente para que o clima mudasse de maldições inomináveis para um sorriso tranquilo e um "bom dia" relaxado.

Deixando de lado a rotina, encontrar-se novamente na escola era uma experiência deveras interessante, fazia sentir como se o dia anterior não fosse um sonho de mal gosto, que realmente estava acontecendo. Blooky murmurando um bom dia e Tinn gritando aos quatro ventos um cumprimento, era admirável sua animação logo no começo da manhã.

Aquilo enchia Frisk de determinação.

E ela bem precisava. Escola, apesar de ser um lugar para as primeiras interações sociais longe da família, ainda era um recinto de repreensão e intimidação que poderiam transformar uma pessoa para o resto de sua vida. A Frisk dessa realidade sabia bem disso, mas nunca deixou-se moldar pelas pessoas ao seu redor, poderia ver nas memórias que inundavam sua mente que, assim como ela própria foi no underground, Frisk se tratava de uma anomalia boa de mais para seu próprio bem.

Talvez em qualquer realidade fosse assim.

A questão em si era, Frisk e seus amigos não eram, nem mesmo de longe, o mais popular grupo de sua turma e, mesmo que mantivessem-se em seu próprio mundo sem interferir em qualquer outro grupo social, isso ainda atraia a atenção de pessoas que pareciam não ter mais nada para fazer que não fosse incomodar os que pareciam mais fracos. Blooky não sabia como se defender, chorava com extrema facilidade mesmo que fosse para um elogio a sua pessoa. Tinn era mais forte, pouco era o que lhe fazia realmente chorar, mas sua ingenuidade poderia ser facilmente tratada como uma ferramenta de humilhação publica.

Talvez Frisk fosse a única, em determinado sentido, que poderia protegê-los dos valentões que insistentemente apareciam para incomodá-los durante o transcorrer do dia. E não era como também se fizesse algo mais do que esquivar-se das provocações, ela não era Chara para bater de frente com qualquer um que a ameaçava, ela não podia e nem ao menos queria lutar. Sua determinação estava em burlar qualquer meio de humilhação que poderiam surgir em seu caminho. Mesmo que a encurralassem em um corredor vazio e sem saída sua especialidade era esquivar-se, distrair com brincadeiras e por fim fugir para um lugar onde tivesse alguma pessoa de relativa autoridade que pudesse impedir a intimidação.

Seja como for aquele dia não foi muito diferente de qualquer outro que seu "eu" dessa dimensão tinha que passar. Mesmo que tivesse entrado na sala junto a Blooky e Tinn com relativo sigilo não foi o suficiente para despistar a atenção dos valentões que apenas se preparavam para suas próximas artimanhas.

Primeiro a aula de matemática a qual foi dado um exercício para casa na semana passada. Aparentemente Frisk o havia feito junto com Blooky e Tinn durante a segunda feira, um dia antes de sua consciência de outro universo acabar parando nesse. Em seguida veio a aula de geografia, foi interessante ver o quanto o mundo dessa dimensão era parecido com o seu, obviamente não contava o subterrâneo, mas aqui isso não tinha importância. Frisk se sentia feliz que ninguém havia sido preso e forçado a matar crianças para conseguir se libertar. Depois veio a aula de literatura e Frisk se sentiu mais do que feliz em escrever um texto "fictício" sobre um mundo de monstros, foi até mesmo capaz de receber um elogio da professora por sua criatividade.

Por fim encontrou-se no intervalo, onde o pequeno grupo de três pessoas sentou-se em uma mesa qualquer no refeitório para usufruir de um bom almoço antes de encaminhar-se novamente para a sala, onde conversaria por um tempo até a professora aparecer. Frisk tomou um pequeno desvio nesse momento, dedicando-se a ir ao banheiro antes de ir até sua sala, deixando Tinn e Blooky sozinhos por um tempo.

Para sua grande surpresa Chara estava por perto, mesmo que ela não lhe tivesse prestado atenção, Frisk reparou que ela a tinha visto. Provavelmente a estaria ignorando, ocupando-se de seu grupo de... Amigos. Frisk não sabia bem se poderia definir tal visão assim, afinal, Chara mais parecia ser uma chefe do grupo do que um membro em si, postando-se em uma das janelas do corredor, sentada perigosamente de costas para o lado de fora, encarando a todos que se amontoavam a sua volta com desdém. E mesmo que todos aparentassem ser apenas um bando de arruaceiros desajustados, Frisk não via nenhum motivo em especifico para que Chara os juntasse. Justo ela com toda sua ideologia de odeio a humanidade, agora procurava seguidores?

Não muito impressionante na humilde opinião de Frisk que apenas seguiu seu caminho para o banheiro.

Com um suspiro cansado, memórias que não paravam de vir, Frisk se encarou no espelho do banheiro, tentando recordar exatamente o que havia sonhado na noite anterior. Ela sabia que tinha importância, que precisava manter aquele sonho perto e guardá-lo a sete chaves para resolver o mistério do que estava acontecendo. Afinal, o mundo do qual veio existiam monstros, mas nenhum deles era igual ao de seus sonhos, talvez Undyne, mas ela tinha bondade em seu coração, Frisk sabia que tudo que ela queria era libertar e proteger seus companheiros. Os que havia visto em seu sonho eram mais... Cruéis.

E se o mundo do qual Frisk veio e esse no qual ela vivia agora existiam, por que o mundo com o qual sonhou não poderia existir?

Mas tudo ainda se tratava de uma simples especulação que assolava sua mente depois da primeira noite nesse universo. Frisk ainda precisava de provas concretas para desvendar esse mistério e poderia ser muito mais complicado do que ela imaginava. Por isso, juntando toda a determinação que poderia reunir, Frisk saiu do banheiro com um novo objetivo a sua frente.

Obviamente ela queria permanecer nesse universo que possuía uma realidade perfeita, mas manter-se aqui sem saber exatamente o porquê ou o como veio parar ali seria a mesma coisa que aceitar um presente sem saber quando seria tomado de volta. Para se adaptar e se preparar ao que tinha por vir ela precisava aprender sobre a situação como um todo, fazia tempos que Frisk não era mais uma criança ingênua para simplesmente deixar os fatos desconhecidos.

Sua alma havia envelhecido com todas as redefinições que teve que fazer. Tudo por não entender completamente esse poder e sua relação com Chara.

Do lado de fora, caminhando de volta para sua sala, não ficou surpresa em ver um pequeno grupo de rapazes amontoados em uma parede qualquer do corredor.

A primeira vista parecia estar simplesmente conversando, porém, reparando os olhares de soslaio em sua direção e os sorrisos maliciosos que desenhavam-se em seus rostos, Frisk já tinha uma ideia do que iria acontecer em seguida. Quando um deles se afastou da parede e dirigiu-se em sua direção ela sabia que alguma coisa nada agradava estava prestes a acontecer, seu corpo já preparado para fugir, com a bolsa bem acomodada em suas costas para não deixar nada cair durante sua escapada.

Todavia, assim que eles estavam prestes a lhe abordar o pequeno grupo parou, por um instante seus rostos divertidos e zombeteiros contornando-se em caretas de surpresa e medo antes de finalmente dar meia volta e desaparecer corredor a fora. Uma visão deveras estanha para quem esperava ser abordada para mais uma sessão de intimidação.

— Você é uma atração de problemas. - resmungou uma voz detrás de si, assustando-a um pouco. Seus olhos encobertos pelos longos cílios voltaram-se para a pessoa que se encontrava logo em suas costas, braços cruzados e expressão cansada em seu rosto. Chara não era do tipo de se intrometer em assuntos alheios, Frisk ficou surpresa em vê-la logo ali como se sempre estivesse a caminhar ao seu lado. - Tenho certeza que é esse seu jeito meigo que atrai quem não deve. Não me admira que Asriel sempre esteja com os nervos a flor da pele com relação a você.

"Olá para você também, Chara" assinalou Frisk com um pequeno sorriso no rosto. Não sabia o motivo, mas parecia que Chara havia acabado de ajudá-la. "O que te fez vir falar comigo?"

— Tsc, não se ache tão importante. - resmungou Chara, os olhos desviando-se para um lugar qualquer no corredor, forçando Frisk a dar uma leve risada. Ela sabia que Chara, por mais insensível que pudesse parecer, era apenas uma criança com falta de carinho e uma terrível amargura pelo mundo. Suas escolhas foram erradas, mas todos mereciam uma segunda chance. - Asriel me mandou uma mensagem dizendo que o jantar vai sair mais tarde hoje porque mãe vai ter um encontro com alguns pais de alunos da escola dela.

"Sem problema, eu estava pensando mesmo em ir a biblioteca para fazer algumas pesquisas. Com isso não tenho que me preocupar em me apressar."

— Ok então, nerd. Nos vemos em casa. - e assim Chara se afastou, voltando para seu grupo e fingindo que nada tinha acontecido, enquanto Frisk simplesmente sorriu com carinho, voltando seu caminho para a sala onde Blooky e Tinn a esperavam com ansiedade.

As aulas transcorreram novamente. Inglês veio logo depois do intervalo, nada com o que se preocupar ou novidades, apenas uma nova lista de livros para ler. Em seguida veio História, nenhum mistério que já não pudesse resolver em suas memórias desse mundo, aparentemente a Frisk dessa dimensão tinha facilidade nas matérias e se esforçava como podia. Um pouco de física e biologia no final para complicar sua cabeça um pouco. Física era um mistério total, complicada de mais para entrar em sua cabeça com apenas uma tentativa. Biologia tinha como ponto positivo o estudo da magia e da alma, esse universo parecia ser mais vinculado a ele do que o seu próprio.

No final da aula Frisk se despediu de Blooky e Tinn, indicando que teria que ir a biblioteca para algumas pesquisas de ultima hora e que não poderia acompanhá-los hoje.

A biblioteca publica da cidade era um lugar grande, a entrada com degraus alargados que levavam para uma enorme porta de madeira, rodeada pelas pedras que formavam o edifício já bem velho. Na parte interior o primeiro com o que conseguia se deparar era uma recepção com um balcão de madeira circular, onde se encontrava pelo menos três recepcionistas digitando alguma coisa em seus computadores ou lendo um livro qualquer o qual pegavam nas prateleiras que deveria ter na parte interior do balcão. Logo atrás estavam as enormes estantes formando um labirinto de livros para mais adentro do salão, no canto uma escada que levava ao segundo andar com mais estantes abarrotadas de grossos livros.

Deslizando pelos corredores estreitos entre as estantes, encarou os títulos de livros que apareciam a sua frente com muita cautela, tomando seu tempo para avaliar onde exatamente queria chegar e o que queria procurar. Primeiro pensou na história do lugar, que poderia lhe dizer exatamente onde estava e se existia alguma diferença a mais com seu mundo, depois pensou na magia que estava fortemente vinculada a esse mundo, aos seres humanos, sem monstros era o principal medo da sociedade.

Por fim seus olhos recaíram em um livro de física avançada, quase sendo confundido com uma leitura de ficção cientifica. Um titulo simples, mas que expressava exatamente o que sua mente estava dando voltas e mais voltas desde a noite anterior:

Dimensões

Seus pés detiveram-se na frente do livro, os olhos encarando-os com um brilho de interesse que seu rosto não chegava a demonstrar. As mãos deixaram a alça da bolsa e guiaram-se até o livro, puxando-o de seu lugar e avaliando sua capa com suma atenção, os dedos correndo pelas letras talhadas em um azul escuro que contrastava-se com o resto das cores que pintavam seu fundo.

— Ei kid. - uma voz profunda sussurrou a suas costas, tão próxima que conseguiu sentir o halito quente acertando sua nuca por entre os curtos e finos cabelos que lhe tampavam o lugar. Seu corpo se arrepiou, por alguns instantes uma sensação de nostalgia tomando-lhe o corpo. - Não sabe como cumprimentar um novo amigo? Dê a volta e aperte minha mão.

Com o coração aos pulos Frisk girou sobre seus calcanhares, encarando a figura que se erguia sobre sua cabeça com uma mão estendida em sua direção, a qual prontamente apertou. Quase no mesmo instante uma onda de choque subiu por seu corpo e instantaneamente retirou sua mão da do estranho que soltou um bufo divertido, o mais baixo que conseguia.

— Botão de choque, nunca perde a graça. - comentou o estranho, completamente divertido. Frisk finalmente conseguiu vê-lo sem a adrenalina do momento. Não era muito alto, mas erguia-se facilmente sobre sua cabeça com um enorme sorriso cheio de dentes em seu rosto pálido como a morte, quase no mesmo tom que Napstablook. Olhos tão azuis quanto o céu da manhã, destacando fracas olheiras debaixo deles, cabelos negros curtos quase não alcançando suas orelhas. Corpo de aparência robusta, recoberto por uma enorme jaqueta azul, blusa branca de gola alta por baixo e calças de tecido fino negras que chegavam-lhe as sandálias de couro negro em seus pés. Meu deus, aquele era Sans?! - Prazer, kid. Sou Sans, Sans Skelton.

Sip, era Sans. E Frisk não pôde ajudar, mas soltou um bufo divertido ao ouvir seu nome, ganhando um olhar estranho.

"Skeleton? Sério? Tipo esqueleto?" ela assinalou, esquecendo-se por um momento que nem todas as pessoas compreendiam a linguagem de sinais. Tinn por exemplo não entendia, Blooky sempre tinha que traduzir o que ela falava tudo porque ele havia aprendido com a prima, Alphys, depois que conheceu Frisk, a linguagem gestual. Talvez o Sans desse universo também não compreendesse o que ela estava dizendo.

Todavia ele riu.

— Perto, mas não. É Skelton, sem o "e" de Skeleton. - respondeu, seu sorriso ainda maior em seu rosto.

Quais seriam as chances de a pessoa que estava determinada a encontrar ontem mesmo simplesmente aparecesse na sua frente e começasse a conversar com você? Frisk não tinha ideia, mas estava feliz com sua sorte, disposta a reconstruir sua amizade com o antigo esqueleto. E ela sabia muito bem como fazer isso.

"Entendo. É uma pena, seria um skele-Ton engraçado se seu sobrenome fosse esqueleto" diga-se de passagem que fazer trocadilhos usando a linguagem gestual era terrivelmente difícil, mas Sans aparentemente havia pego a piada, rindo baixinho, procurando o máximo possível não fazer muito ruído e não chamar atenção.

— Boa, kid. Mas não colocaremos um osso sobre o assunto. - respondeu ele com uma rápida piscada. Frisk soltou uma risadinha divertida, já sabendo que havia conquistado o rapaz. - Mas então, o que faz uma criança como você com um livro de física avançada nas mãos? Não acha que o assunto é meio complicado de mais para a sua idade?

"Não sou uma criança, tenho dezessete" comentou orgulhosa, estufando o peito com um sorriso arrogante e divertido. E para uma garota que até pouco tempo atrás tinha dez, ter dezessete no momento era um salto e tanto, não mais uma criança. Todavia, Sans riu.

— Ainda é uma criança de qualquer jeito. - Frisk amuou com um pequeno beicinho em seus lábios, mas isso apenas divertiu ainda mais o rapaz a sua frente. - Mas você não me respondeu a pergunta.

"Apenas uma questão que me veio esses dias, nada de mais" respondeu, com um encolher de ombros. Não era mentira, mas também não era toda a verdade. Ela não tinha ideia se esse Sans tinha conhecimento de linhas do tempo ou outras dimensões, contar-lhe de uma só vez que o motivo pelo qual procurava tal assunto era porque até um dia atrás ela vivia em outra dimensão completamente diferente da que estava agora, ele com toda certeza ia pensar que ela era maluca.

— Então eu sugiro que comece com um mais fácil, ou se preferir, posso te ajudar a entender. Trabalho com física constantemente, então talvez eu possa responder a sua pergunta. - ofereceu, um enorme sorriso ainda desenhado em seu rosto, as mãos voltando-se para dentro do bolso de sua jaqueta.

"E o que levou você a se oferecer para ajudar a um estranho? Faz isso com todo mundo ou eu sou especial?" não conseguiu segurar a pergunta, encarando-o com certo divertimento. Poderia ter sido rude, mas Sans deu de ombros, sem perder seu sorriso costumeiro.

— Apenas curiosidade.

"A curiosidade matou o gato, você sabe."

— Ainda bem então que temos nove vidas, não é?

Frisk riu, assentindo com leveza antes de se dirigirem para algumas mesas reservadas em um canto separado da biblioteca para continuarem a conversa. Sans era inteligente, muito mais do que Frisk poderia esperar. Não que ela não tivesse suas suposições desde que viu o laboratório do lado de sua casa em uma de suas linhas do tempo, mas ouvi-lo falar tão animadamente e tão sucintamente sobre tempo e espaço, elétrons, fótons e anti-matéria a fazia se questionar o quanto sabia realmente sobre Sans.

Ela reparou também que esse Sans era diferente, parecia menos cansado, mais feliz. Seu sorriso não parecia tão forçado quanto o que estava acostumada a ver no Sans de seu universo. Seja como for, sempre era divertido conversar com Sans, e como ele conseguia entender, por algum motivo, a linguagem gestual sua comunicação não era difícil. Muitas vezes, depois que eram repreendidos por algum funcionário do lugar, ele utilizava de suas própria mãos para continuar o assunto até que finalmente se visse capaz de falar em voz alta.

Começou com uma simples pergunta: O que você quer saber?

Para seguir com uma resposta hesitante, causando diversão: Queria saber se existiria a possibilidade de existir outros mundos, dimensões diferentes dessas.

Sans riu de sua pergunta, questionando se você não estava vendo filmes de ficção de mais. Todavia, mesmo com a loucura de sua pergunta ele ainda tentou responder, o sorriso nunca deixando seu rosto, um brilho estranho em seus olhos, como se desabafasse o que por muito tempo não poderia falar. Ele contou da ideia da matéria e da ante matéria. Explicou, de forma simples, que seria como dois opostos, como inverter a imagem de um filme da direita para a esquerda. Disse sobre a possibilidade de que, se nosso mundo era feito de matéria, poderia existir outro feito de ante matéria, mas que tudo não passava de apenas especulações. Ele falou sobre linhas do tempo, sobre que o mesmo fato que acontecia agora poderia estar acontecendo em outro lugar no espaço tempo de forma completamente diferente do que acontecia agora, como se ele não tivesse se aproximado dela e ela simplesmente tivesse tentado ler o livro.

Pouco a pouco a conversa sobre ciência converteu-se em uma conversa casual, para depois cair em brincadeiras as quais Frisk tinha que segurar as altas gargalhadas que queriam escapar a cada terrível trocadilho de seu companheiro. Muitas vezes utilizando de suas mãos para cobrir a boca, causando um barulho atrapalhado, alto que os fazia se encolher, temendo que tivessem chamado a atenção dos funcionários, obrigando-os a rir ainda mais.

O tempo se passou e quando Frisk deu por si já estava na hora de ir. O sol já se punha, estava ficando escuro e se não se apressasse bem capaz de sua mãe, ou Asriel ou até mesmo seu pai terem um ataque de preocupação. Frisk entendia sua superproteção com uma pessoa como ela, que se recusava a lutar de volta em qualquer briga que pudesse se meter, mas não era como se ela não pudesse se cuidar também.

Com um suspiro ela se levantou de sua cadeira, assinalando para Sans que precisava ir para casa ou então poderia entrar em problemas. Ele simplesmente assentiu, oferecendo-se para acompanhá-la até a porta pelo menos, pedido esse que Frisk estava mais do que disposta a aceitar.

Em uma conversa tranquila, em despida pelo encontro tão casual, os dois foram até a porta.

E não era como se Frisk não esperasse uma repercussão do que aconteceu no corredor naquela manhã, ela só não imaginava que aconteceria tão cedo. Parados a poucos metros das escadas da biblioteca estavam o mesmo pequeno grupo de garotos o qual viu parado no corredor e que Chara havia espantado. Tensão subiu por seu corpo ao reparar que pareciam estar ali já há algum tempo, provavelmente tendo a seguido até ali e esperado até o momento que ela fosse sair.

Calculando a distância até sua casa, Frisk pensou que teria que correr bastante para conseguir escapar corretamente dos garotos. Talvez ela conseguisse, talvez eles a pegassem no meio do caminho, talvez se escapasse agora poderia ir embora sem chamar a atenção deles ou seria melhor esperar na biblioteca por mais um tempo? Seria pior se eles pegarem ela a noite, talvez devesse ligar para Asriel e pedir para ele vir buscá-la...

Sentiu um braço passar por seus ombros antes que pudesse tomar alguma decisão, seus olhos voltando-se para o rapaz a seu lado de forma surpreendida e assustada. Sans, por sua vez, deu-lhe um sorriso reconfortante antes de puxar um celular de seu bolso, escolhendo um numero o qual Frisk não conseguiu ver em sua lista telefônica.

— Hey, Pap! Teria como vir me buscar na biblioteca publica? - começou a falar poucos minutos depois de ter posto o telefone na orelha. Frisk demorou um tempo para compreender que ele estava conversando com Papyrus naquele momento. - Eu sei que disse que voltaria sozinho, mas é que surgiu um imprevisto... Vamos, Pap! Fico te devendo esse favor... Valeu, Bro. Você é o melhor.

Frisk ainda conseguiu ouvir uma alta e esganiçada voz do outro lado da linha antes dela finalmente desligar, finalmente permitindo-a expressar-se sem atrapalhar a conversa. Por mais que não falasse seria complicado para Sans prestar atenção em seus sinais e ao mesmo tempo no que seu irmão diziam.

"Não tem que fazer isso. Eu posso..." Mas Sans não lhe deu tempo de terminar, bagunçando seus cabelos de forma brincalhona.

— Que tipo de pessoa seria eu se deixasse você voltar para casa correndo o risco de ser abordada por arruaceiros? - Frisk encarou o rapaz a seu lado com surpresa, provavelmente demonstrando bem que não esperava que ele adivinhasse a situação. - Não me olhe dessa forma. É obvio para qualquer um que tenha olhos que você está preocupada com aqueles garotos. Deixe o esqueleto aqui cuidar desse seu pequeno problema.

A morena bufou pelo trocadilho com seu tamanho. Por mais que seu corpo realmente tivesse crescido nessa dimensão, ainda continuava razoavelmente pequeno, até para uma pessoa como Sans.  

Frisk sorriu ainda hesitante, permanecendo dentro da biblioteca junto com Sans até que Papyrus chegasse para buscá-los. E foi muito irônico pensar que, se fosse qualquer outra pessoa, Frisk já tinha arrumado uma maneira de fugir dali. Por mais inocente que ele fosse, confiar em estranhos não era o mais sensato a se fazer. No entanto, aquele era Sans! E ela sabia que em qualquer dimensão que estivesse ela poderia confiar nele.

Não demorou muito para o carro vermelho esportivo de Papyrus aparecer de frente para biblioteca, o mesmo no banco do motorista, todo pomposo e impaciente, provavelmente não estava muito feliz que Sans o fez ir até ali. Mas, ei! Papyrus sempre foi um grande irmão, mesmo que fosse complicado reparar no carinho que aqueles dois tinham um para o outro.

Sans conduziu Frisk até o carro, abrindo a porta do banco traseiro do carro para ela sentar enquanto ele mesmo acomodava-se ao lado de Papyrus.

— E QUEM É SUA NOVA AMIGA, SANS? - perguntou Papyrus assim que seu irmão sentou-se a seu lado. A voz de Papyrus continuava alta e esganiçada como sempre, tão familiar que Frisk sentiu a onda de nostalgia rastejando-se por sob sua pele novamente. Sans deu uma ligeira espiada atrás, e Frisk recordou que não havia dito seu nome a ele. Mas quem poderia culpá-la, ela já o conhecia e com a conversa fácil que tiveram, era normal que tivesse a sensação de que ele também já a conhecia.

"Frisk" soletrou com as mãos, um pequeno sorriso divertido e carinhoso desenhado em seus lábios finos. Era uma sensação tão boa voltar a estar com os dois irmãos.

— Essa é Frisk. Frisk, esse é meu irmão mais novo, Papyrus. - apresentou Sans, enquanto seu irmão dava partida no carro e já voltava as ruas.

— WOWIE! PRAZER EM CONHECÊ-LA, FRISK! - Frisk sorriu para o retrovisor do carro, onde sabia que Papyrus poderia vê-la. Ele continuava sendo um cara alto, deveria quase chegar aos dois metros de altura, com a pele tão pálida como a de Sans, cabelos curtos puxados para trás de um branco limpido, não próximo ao cinza, nem mesmo ao azul ou se quer ao loiro, era perfeitamente branco. Seus olhos, pelo que conseguia ver pelo retrovisor do carro, eram de um castanho alaranjado peculiar, rosto fino, mais infantil que o de Sans, apesar dos dois aparentarem serem ainda bastante jovens. Papyrus ainda tinha em seu pescoço o cachecol vermelho que sempre usava na outra dimensão, um colete branco com uma blusa negra de mangas compridas por baixo, luvas vermelhas tampavam suas mãos, tão parecido com o Papyrus que costumava conhecer... Se, claro, retirarmos o detalhe desse possuir carne e pele ao invés de apenas ossos. - ESPERO QUE MEU PREGUIÇOSO IRMÃO NÃO TENHA TE SEQUESTRADO, FRISK.

Frisk negou com a cabeça veementemente, questionando-se se aquilo já havia acontecido outras vezes para que Papyrus estivesse perguntando. Todavia, Sans riu, nem um pouco abalado com a acusação de seu irmão.

— Tranquilo, Bro. Apenas ajudando Frisk a escapar de alguns arruaceiros que pareciam querer incomodá-la em seu caminho de volta para casa. - explicou Sans, sua voz calma contrastando com a de Papyrus. Os dois eram tão diferentes, era impressionante que se dessem tão bem, apesar das constantes desavenças que tinham por culpa da preguiça e dos trocadilhos de Sans, mesmo que Frisk tivesse a impressão que Sans fazia isso de propósito para irritar o irmão.

— ISSO É TERRÍVEL! NÃO SE PREOCUPE, FRISK! EU, O GRANDE PAPYRUS, ESTOU TOTALMENTE DISPOSTO A LEVÁ-LA EM SEGURANÇA ATÉ SUA CASA! - Frisk sorriu agradecida, apreciando aquele momento, sua mente voltando-se para a primeira vez que havia conhecido os dois irmãos, antes das redefinições começarem e matarem pouco a pouco o sorriso de Sans e atormentá-la com a morte de Papyrus.

Frisk não sabia ao certo quantas redefinições ela já tinha passado, depois de um tempo ela havia parado de contar ou simplesmente perdeu a conta. E, realmente, havia se esquecido de alguns detalhes de algumas outras redefinições, mas o primeiro encontro, a primeira corrida pelo subterrâneo, ela nunca poderia esquecer. Ela não conseguia ler Sans muito bem na época, era complicado ver alguma mudança de expressão em seu rosto ósseo e quase imutável, talvez naquela época ele já estivesse cansado, já tivesse desistido, mas ela nunca poderia saber. Papyrus sempre foi uma figura que representava perfeitamente o sentido de Animação. Sempre sorrindo, tão inocente, com um enorme coração dentro de seu peito, por mais que estivesse determinado a captura-la. Tudo que ele sempre quis foi ser popular, ter amigos, e Frisk se sentiu mais do que disposta ser.

Vê-los agora... Era como tivesse passado séculos desde a ultima vez que se encontraram. Talvez por culpa da mistura entre suas memórias do Underground e esse novo universo. Ela realmente não se importava muito com isso, o importante era reconstruir sua firme amizade com eles, e tentar não errar com Sans novamente.

Frisk indicou o caminho para sua casa, fazendo questão de que parassem na padaria de Muffet por um tempo antes de finalmente deixá-la em casa. Ela comprou para cada um, um dos deliciosos bolos que vendiam naquela padaria, muitos dos quais dividia constantemente com Blooky e Tinn. Eles eram populares naquela região, e assim que descobriu que os dois nunca haviam se quer provado a encheu com a determinação de fazê-los experimentar.

— WOWIE! SÃO REALMENTE MUITO BONS, FRISK! DIGNOS DO GRANDE PAPYRUS! - exclamou animado o mais alto dos irmãos depois de sua primeira mordida no bolo que o havia entregado, engasgando-se com as lágrimas de emoção que por alguns instantes encheram seus olhos por ter um lanche comprado por alguém. Frisk apenas se limitou a sorrir.

— São realmente muito bons, kid. Eu passo por aqui constantemente, mas nunca parei para comprar nada dessa loja, acho que passarei a comer mais aqui. - elogiou Sans, piscando rapidamente para Frisk, enquanto dava mais uma mordida a seu bolo. Frisk deu-lhes seu maior sorriso, realmente feliz que eles tivessem gostado. - Diga, Kid. Você mora mesmo por aqui? Digo, é um dos melhores bairros da cidade e você não tem cara de ter muito dinheiro.

Frisk deu de ombros, realmente não se importante onde morava ou quanto dinheiro seus pais tinham, o que deveria ser muito já que Asgore era o prefeito da cidade. O que importava para ela eram os bons amigos que tinha e a calorosa família que a esperava em casa de braços abertos.

— SANS! NÃO SEJA RUDE! TENHO CERTEZA QUE FRISK NÃO É UMA DESSAS PESSOAS QUE SE ACHAM MELHORES QUE OUTRAS PELA QUANTIDADE DE DINHEIRO! AFINAL, EU, O GRANDE PAPYRUS, SEI COMO SELECIONAR AS PESSOAS DE QUEM GOSTAR! - repreendeu Papyrus, já quase chegando na frente da casa de Frisk.

— Tem razão, sinto muito, kiddo.

— NYEHE!

Foi uma pequena viajem divertida, quando despediu-se dos dois irmãos e entrou em casa, não conseguiu evitar repreender-se mentalmente por não ter pego nenhum meio de comunicação com eles, não queria perder o contato. Todavia, deixou passar dessa vez, talvez o destino estivesse reservando um reencontro para eles novamente num futuro próximo, ou ela estava determinada em acreditar que assim seria.

Assim que a porta se fechou a suas costas foi prontamente abordada pela agitação de seu irmão mais velho. Asriel havia se aproximado tão rápido que ela quase pensou que ele simplesmente havia se teletransportado para onde ela estava, agarrado seu ombro e agora a sacudia de um lado para o outro, fazendo várias perguntas as quais ela não conseguia entender nenhuma.

— Eu disse que não tinha que se preocupar. - Chara resmungou alguns passos atrás de Asriel. Frisk levantou a mão como um cumprimento, ainda tonta com o sacolejo que havia levado.

— Mas... Chara... Ela... - balbuciou Asriel, lágrimas nos olhos e braços envolvendo o pescoço de Frisk.

— Vamos, deixa a garota respirar pra responder suas perguntas com calma, bebê chorão. - e assim Asriel fez, soltando Frisk e esperando ela recuperar o fôlego e o equilíbrio para poder responder as perguntas. - Por que chegou tão tarde, Frisk?

"Encontrei alguém na biblioteca, acabamos por perder a noção do tempo." respondeu Frisk com calma. Ela não tinha nada para esconder, não tinha feito nada de errado.

— E quem te trouxe aqui? Eu vi você saindo de um carro lá fora. - Frisk poderia muito bem imaginar Asriel pregado na janela da sala tentando ver quando ela iria chegar. Ele poderia ter dezenove anos, mas muitas vezes parecia agir de forma a parecer bem mais novo que ela e Chara.

"Te um problema na hora de voltar, então meu amigo que encontrei na biblioteca me deu uma carona."

Chara a encarou desconfiada, mas não disse nada, Frisk sabia que ela sabia que não tinha contado toda a verdade e omitido um fato importante. Por ter partilhado o mesmo corpo elas haviam se conhecido bem mais do que poderiam esperar.

Deixando o sermão de Asriel de lado, Frisk saltou para o banheiro para um merecido banho antes de usufruir de um farto jantar em família.

Ela imaginou que dessa vez poderia aproveitar uma noite sem sonhos, mas nem tudo era como queria. Esse sonhos não a deixariam tão cedo...


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Notas finais do capítulo

Uhu, sans e papyrus acabaram de aparecer!
Gente não se sabe ao certo quem é o mais velho dos dois, mas eu acredito que Sans seja uma velho, por isso coloquei aqui assim. Por que? Bem, eu sou uma irmã mais velha, e as atitudes do Sans batem muito com atitudes (que eu vejo) que um irmão mais velho apresenta. Aquele de "não me importo", mas na verdade ta sempre nas escuras apoiando o irmão e se preocupando com ele. Sempre implicando com o irmão, adorando irritá-lo e quase nunca faz o que o irmão pede, sério. Eu pelo menos me vejo muito no Sans, então eu o coloquei como mais velho (depois direi as idades deles (aqui na fanfic, claro)).
E, oh god, sim eu usei o trocadilho "skele-ton". Foi uma bosta, eu sei, mas foi o melhor que consegui pensar.
Pra quem não entendeu, é uma piada que se encontra muito em inglês (procurem em fanarts ou fanfics em inglês e vão achá-la). Ela quer dizer, meio que, "um esqueleto tonelada". Ton é meio que uma abreviação de tonelada (um lixo, eu sei, principalmente explicado, mas não vamos comentar isso, ok?)
Ok, acho que fico por aqui. E lembrem-se: a expectativa de reviews enchem o autor de determinação!
Não decepcionam as expectativas do autor, mantenham-no determinado e ele os manterá determinados na história!
Agora fui!
Bye bye!