FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 21
Reset


Notas iniciais do capítulo

Não esperem muita coisa, eu não sei exatamente como classificar esse capitulo, mas não é muito emocionante. Próximo já começamos a revelar alguns segredos do Sans, acho que vão gostar.
Bem, apreciem o capitulo (desculpa a demora nos reviews, mas está complicado me organizar em meus horários, estou com pouco tempo até mesmo para escrever)
Obrigada pelas recomendações! Essa com toda certeza é a fanfic mais popular que já fiz e adoro o apoio de cada um de vocês, fantasmas ou não.
Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686046/chapter/21

FusionTale - Reset

Existiam alguns pontos definitivamente estranhos naquele despertar. Frisk tinha certeza a partir do momento em que tomou consciência das coisas ao seu redor mesmo antes de abrir os olhos.

O primeiro de tudo que notou foi a falta do calor da mão de Sans contra a sua. Era estranho, afinal ele não tinha o costume de soltá-la quando estavam a dormir juntos, ele sempre mantinha um aperto firme como se temesse que ao soltar ela fosse desaparecer. E foi a partir dessa leve constatação que percebeu que nem mesmo conseguia sentir seu corpo atrás do seu próprio, era como se ela estivesse sozinha.

Inicialmente ela não deu muita importância, Sans poderia ter despertado mais cedo e levantado para comer alguma coisa, talvez tomar um banho. Eram raras as ocasiões que isso acontecia, mas não eram impossíveis. Entretanto, com o abrandar lento do sono e a firmeza de seus pensamentos ela começou a se dar conta de outros detalhes que originalmente não deveriam estar ali, que não combinavam com o que se recordava de antes de ir dormir.

Estava de roupa, foi o segundo detalhe que tinha reparado depois que sua mente começou a se ajustar perfeitamente a realidade, olhos lentamente se abrindo. Sua mão realmente estava solitária sobre o colchão, mangas compridas de seu pijama, o qual fazia tempo que não via, enroscavam-se em seus pulsos. Ela recordava-se muito bem de ter ido dormir basicamente nua, então porque agora estava com seu pijama?

Foi então que finalmente conseguiu reunir a vontade suficiente para erguer-se, corpo elevado pelos braços enquanto tentava sentar, cobertores escorregando de seus ombros para seu colo. Frisk encarou a seu redor, olhos ainda um pouco pesados, percebendo a terceira mudança: Aquele não era o quarto de Sans. Estava muito arrumado, muito espaçoso, tinha mais móveis e estava completamente escuro, janela recoberta por uma grossa cortina e posicionado em uma direção diferente da que a do quarto de Sans ficava. Do outro lado do quarto, a partir de onde estava, Frisk poderia ver outra cama, alguém deitado sobre ela, quase completamente debaixo dos cobertores, apenas um pequeno tufo de cabelo castanho escapulindo para fora.

Aquele era o seu quarto.

Frisk saltou para fora de sua cama, agora assustada. Seu coração aos saltos em seu peito, respiração começando a hiperventilar enquanto sua mente dava voltas e mais voltas sobre todos os fatos que conseguiu reunir desde o momento que despertou. Alguém deveria ter lhe pregado uma peça de muito mau gosto, tinha que ser isso, não poderia ser o que estava pensando que era! Ela não havia bebido e o que viveu antes de adormecer não poderia ter sido simplesmente um sonho. Era impossível com todas as sensações que seu corpo passou, com toda aquela fricção de corpos... Era impossível!

Frisk rapidamente levou a mão para seu celular, bem posicionado na cômoda ao lado de sua cama, olhos desesperados a ver a data daquele dia. Ela ansiosamente esperava que seus pensamentos não estivessem certos, que tudo não tivesse passado de uma terrível brincadeira sem a menor graça.

Seu coração caiu assim que viu a data, lágrimas enchendo seus olhos dourados enquanto uma mão era levada a boca para sufocar o soluço que queria escapar. A mão que segurava o celular se apertou até o ponto em que as juntas tornaram-se brancas, corpo tremendo e encolhendo-se sobre si mesma.

Aquilo não poderia estar acontecendo, definitivamente não podia. Ela estava agora no dia seguinte ao primeiro que havia passado naquela nova dimensão, tudo que havia vivido até então havia sido apagado e ela tinha voltado ao começo... Oh deuses isso não deveria estar acontecendo!

Ela tinha completa certeza que não havia usado o botão de Reset, ela nem ao menos sabia se conseguiria voltar ao menu. Ela tinha certeza que Chara não faria isso, não havia motivos para fazer e Frisk poderia afirmar com confiança que ela não gostaria de passar pela conversa com seus pais sobre o relacionamento com Asriel tudo de novo. Então por que? Por que? Por que? Por que? Tudo estava indo tão bem, tudo estava perfeito! Por que o mundo não poderia simplesmente seguir seu rumo? Seria uma maldição?

O soluço saiu mais alto, lágrimas já começando a rolar por seus olhos. Frisk levou as mãos para enchugá-las, espantá-las com fúria enquanto tentava inutilmente manter a calma. Foi nesse exato momento que ela reparou no anel ainda em seu dedo, metal prateado com sulcos pintados de azul, o anel que Sans havia lhe dado de aniversário. Como ele ainda estava ali? Se o tempo havia voltado era então para tudo o que ela havia acumulado ser perdido. Por que o anel havia se mantido?

"Magias de criação tem o problema de criar um vinculo intimo com o objeto moldado ou criado" Frisk recordava-se de Sans ter dito algo assim. Talvez, apenas talvez, por usar tal objeito todos os dias um pouco de sua magia havia se desprendido e envolvido o anel, tornando-o "parte" dela própria. Por isso havia voltado, por isso não havia desaparecido com a anomalia temporal! Talvez outros objetos também tivessem se mantido! Talvez alguma coisa a mais havia retornado com ela!  

Frisk procurou por todo o quarto, não se importando muito em despertar Chara no processo, seus sentidos entorpecidos pela euforia e desespero do momento. Ela revirou todas as suas coisas, procurou em cada canto que se recordava de ter deixado alguns de seus presentes, todavia, para sua grande decepção, os únicos que lhe haviam sobrado foram seu precioso anel e o cachecol que Papyrus lhe havia presenteado, vermelho e comprido ao igual que o dele.

A morena sorriu para ambos os itens, lágrimas ainda banhando-lhe os olhos.

Ela recordou-se que Sans tinha consciência dos save e que em outras dimensões ele era ciente das redefinições, mas isso queria dizer que ele também se recordaria? Ele se lembraria dela? Do que tiveram? Frisk sentiu ansiosa em vê-lo, coração pulsando em esperança. Talvez aquele tivesse sido um caso a parte, talvez apenas um mau funcionamento... Quem sabe? Uma única exceção? Ela tinha esperanças, ela estava novamente determinada! Limpando as lágrimas ela se ergueu para começar seu dia, mesmo que soubesse que já o tinha vivido.

Ela tinha esperanças, ela tinha determinação!

Chara não recordava-se. Foi estranho quando despertou e Frisk tentou conversar com ela sobre. Foi a primeira vez que Chara não recordava-se de uma redefinição, mas Frisk não questionou. Talvez fosse porque aquela redefinição realmente tivesse sido um erro ocasional, ou talvez seja porque ambas não mais compartilhavam um corpo e talvez Frisk nunca teria as respostas para suas perguntas. Comprovar fatos relacionados ao tempo e linhas do tempo que jamais iriam voltar a ser o que eram antes era inútil.

Ela foi a escola, ela estudou as mesmas matérias as quais já tinha passado e então, no final do dia, foi a biblioteca. Ela não precisava mais ir até lá, ela já tinha a resposta ou a teoria de uma resposta, para a pergunta que havia sido questionada quando caiu naquele mundo, tão diferente do qual ela estava anteriormente acostumada. Mas ela precisava encontrar Sans, precisava vê-lo novamente para ter certeza de que ele se lembrava, para confirmar suas esperanças e saber que não estava sozinha naquela maldição.

Ela caminhou entre as fileiras de prateleiras, forçando sua memória a recordar-se onde exatamente havia se deparado com o livro que inicialmente teve interesse em pegar antes de Sans aparecer. Teve a impressão de ter levado mais tempo do que inicialmente deveria, mas não importava, seus olhos encontraram-se com o titulo que queria e seus dedos deslizaram pelas letras grifadas. Milhões de pensamentos passaram por sua mente, alma tamborilando dentro de seu corpo puxando de volta cada dimensão, muito mais do que inicialmente poderia numerar.

Talvez aquela redefinição tivesse puxado mais memórias dos pedaços de sua alma, memórias que antes mantinham-se escondidas nos menores fragmentos que possuía. Um sorriso trêmulo escapou de sua boca, sem saber exatamente o que deveria pensar com cada nova emoção que invadia seu corpo derivada dos novos fragmentos de memória.

— Ei, kid. Não sabe como cumprimentar um novo amigo? Dê a volta e aperte minha mão. - o tremor percorreu seu corpo assim que escutou a voz não muito distante de suas costas. Eram complicado manter suas emoções sob controle quando o suposto ultimo momento que passou com o rapaz que agora iria se apresentar para ela tinha sido um dia de sexo. Para Frisk seriam quatro meses de relacionamento, quatro meses montando uma história, quatro meses fortalecendo um sentimento. Ela não poderia controlar seu coração naquele momento.

Lentamente ela deu a volta, mão estendendo-se para tomar a dele. O choque leve estalou por sua mão instintivamente obrigando-a a se afastar. O bufo divertido do rapaz veio logo em seguida, Frisk conseguindo distinguir perfeitamente cada detalhe de seu rosto, mesmo que estivesse ligeiramente sombreado pela má iluminação dos corredores onde estavam.

— Botão de choque, nunca perde a graça. - a piada era repetida, mas Frisk riu da mesma forma, enorme sorriso em seu rosto. Seus olhos dourados procuraram algum indício, qualquer que seja, de memória, alguma coisa que mostrasse que ele a conhecia, que ele sabia quem era, que suas memórias ainda estavam ali. E seu sorriso caiu um pouco ao notar que tal fagulha de conhecimento não existia.

Ele não se lembrava.

Depois de tantas redefinições em outras dimensões ela poderia dizer perfeitamente bem quando alguém recordava-se ou não, em pequenas ações ou falas ela poderia notar. Sans não tinha mudado em praticamente nada sua postura, o corar em seu rosto facilmente poderia ser atribuído a sua costumeira reação aos olhos de Frisk, ela sabia que eles tinham um efeito estranho sobre o rapaz. Não era muito complicado quando Sans mudava completamente de atitude cada vez que deparava-se com as cores dourados de seus olhos. Para um homem fechado em uma mascara sorridente ele poderia ser bem expressivo.

Ainda assim, mesmo com sua esperança abalada e machucada pela decepção daquele momento, daquela constatação, Frisk não deixou-se esmorecer. Afinal, aquele deveria ter sido apenas um erro e ela poderia se dar ao luxo de fazer planos. Ela poderia acelerar sua relação com Sans, poderia aproveitar melhor seu tempo com Pap, poderia se preparar mais para o vestibular, poderia ir mais cedo até Undyne e pedir seu treinamento e evitar diversos problemas que estariam por vir.

Frisk manteve-se sonhadora, manteve-se a sorrir, continuou a fazer planos.

Ela mantinha-se esperançosas.

Frisk continuava determinada.

Redefinir?

Yes      >No

  Redefinindo...

Ok, talvez não fosse apenas uma redefinição, mas Frisk ainda tinha esperanças e determinação. Ela respirou fundo e continuou vivendo sua vida mais uma vez. Os mesmos eventos acontecendo novamente e novamente diante de seus olhos, procurando não aparentar que ela sabia o que se seguiria a seguir. Estranhamente a ultima linha não tinha ido tão longe quanto a primeira, Frisk fez tudo mais rápido e ainda assim não tinha chegado nem ao final do julgamento com seus pais biológicos.

Tentou não se importar ainda. Obviamente era frustrante voltar tudo o que já tinha feito, ser a única a lembrar e continuar a fingir que estava tudo bem, mas Frisk tentou ainda se convencer que não tinha problema. Aquela poderia ser a ultima, talvez esse redefinição também fosse apenas mais um erro.

Ela não foi a biblioteca, assim que as aulas terminaram ela foi para Undyne pedir-lhe para ter um treinamento com ela. Frisk sabia como convencê-la, até mesmo levou Tinn para dar mais realismo a ideia de que era uma fã querendo ser tão forte quanto ela. Depois de todas essas dimensões se encontrando, não era muito complicado saber como agradar cada um.

Frisk era terrível para lutas. Ela nunca estava na posição certo, sua guarda sempre mantinha-se aberta, ela tinha uma atenção excepcional, isso não tinha como se negar, mas nunca realmente atacava de volta, mesmo que fosse apenas para imobilizar, nunca usava toda a força necessária. Ela não sabia se um dia poderia estar em um nível em que Undyne aceitaria levar mais a sério, ainda assim ela acreditava que quanto mais cedo começasse melhor seria.

E era divertido mudar algumas coisas, ver qual seria a surpresa que viria a seguir. Como o tempo que passou era muito maior do que ela realmente viveu no underground mais coisas mudavam e Frisk sentia-se mais leve em ver que talvez, apenas talvez, ela poderia lidar com isso.

Ela manteve-se determinada.

Redefinir?

Yes         >No

   Redefinindo...

Sua esperança começou a balançar quando ela começava a perceber que aquelas ocorrências estavam muito constantes para ser um erro.

Frisk ainda tentava se manter confiante, seguindo os dias iguais com ideias diferentes para fazer. A escola não poderia ser mudada com facilidade, ela tinha que ir as aulas, por mais que já começasse a pensar que sabia cada fala do professor. Ela tentava não manter a conta em sua cabeça, entretanto era complicado quando continuava a acontecer.

Ela já não poderia mais se voluntariar para fazer parte do experimento, mas sentiu-se feliz em perguntar a Sans detalhes sobre ele. Ela procurou treinar sua magia o melhor que conseguia, foi uma de suas diversas prioridades. Obviamente mantinha o segredo sobre ela, não seria sensato dizer que tinha liberado magia de uma hora para outra, seria preocupante e chamaria mais atenção do que realmente deveria.

Algumas vezes ela pedia ajuda a Sans, pedindo-lhe para manter o segredo dos outros. Ele não costumava questionar, apesar de ser curioso por natureza, ainda era consciente de quando deveria fazer perguntas e quando deveria simplesmente calar-se. Era isso que Frisk precisava no momento... Ela não poderia dizer sobre linhas do tempo.

E se ao dizer causasse um erro e não houvesse mais redefinições? Ela não poderia arriscar, tinha que manter-se determinada!

Redefinir?

Yes           >No

 Redefinindo...

Ainda assim toda pessoa tinha um limite, um momento de ruptura em que sua mente não suportava mais determinada situação. A gota d'água para fazer a barragem transbordar e afogar todos que estivesse em seu caminho. Frisk, apesar de ser uma pessoa bem paciente e controlada, também era um ser humano e, como tal, tinha suas limitações.

Ela poderia suportar uma redefinição fora de seu controle, ela poderia suportar duas, três, quatro, cinco ou seis. Ela poderia engolir seus medos, jogá-los para um canto de sua mente e tentar tornar cada dia repetido um dia melhor. Acordar pensando: já que tudo voltou o que posso fazer para melhorar? Para que se essa for a ultima redefinição eu ainda esteja feliz, que todos estejam feliz? O que de diferente eu posso fazer? Quais mudanças eu posso causar?

Ela tentava desesperadamente manter sua mente focada em outras atividades e não no temor cada vez mais certo das redefinições aleatórias que vinham acontecendo. Ela treinou sua magia, ela treinou com Undyne, ela fez amigos, ela foi a escola, ela se aproximou de sua família, ela juntou seus amigos, ela flertou, ela brincou, ela tentou se divertir. Ela procurou ir em lugares diferentes, procurou conhecer pessoas diferentes, procurou simplesmente mudar.

Ela viveu sua vida como se fosse a ultima redefinição.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

Mas as redefinições continuavam a acontecer e ela não sabia o que fazer. O menu estava inacessível, não importava o quanto tentasse ela não tinha mais o controle. E não importava o quanto pensasse ela não conseguia encontrar um motivo para todas essas redefinições. Não era natural, ela sabia e isso tornava apenas tudo mais... frustrante.

Frisk chegou a seu ponto de ruptura. E quando a esperança morria deixava a frustração e a raiva por não estar conseguindo resolver o problema. E quando se tem acumulo de frustração e raiva, normalmente escondido atrás da esperança e determinação, em algum momento esse acumulo estoura e dele apenas problemas podem vir.

Frisk não era uma pessoa violenta, não era uma pessoa raivosa ou que facilmente descontava seus problemas em outros. E ainda assim era complicado manter-se sobre controle com todo o estresse que lhe caia em cima.

Seu quarto foi apenas um alvo da primeira explosão. Gritos furiosos misturando-se junto com o som de objetos se quebrando. Obviamente havia chamado a atenção, obviamente todos estavam preocupados, mas em um estado de cólera Frisk não poderia notar. Ela só queria aliviar-se do peso de ser a única a viver os mesmos momentos, a passar pelas mesmas experiências uma e outra vez, presa em uma loop sem fim no tempo.

Era tão frustrante!

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

E o problema de uma raiva desenfreada é que ela não é nem um pouco silenciosa e nem se apaga com facilidade. No começo é possível engolir, relevar, continuar adiante sem quais quer inconvenientes, mas depois que ela explode palavras erradas escapam, ações erradas escapam, você tropeça em seus próprios atos e chama a atenção daqueles que tem a sua volta, principalmente quando o motivo pelo qual você se encontra completamente fora de si não pode ser explicado tão facilmente sem parecer uma grande loucura.

Frisk logo percebeu que sua fúria não funcionaria de nada, que apenas lhe traria problemas. Afinal, ela tinha uma boa família e grandes amigos, cada um deles não esperava tais atitudes de sua pessoa. Frisk não chegou a realmente brigar com alguém, mas seu quarto passou a viver quebrado, mesmo ameaças de Chara não seriam suficientes para fazer Frisk parar de quebrar suas coisas.

"Ótimo! Não me importo se arrancar minha cabeça, seria quase um favor, eu voltarei da mesma maneira de qualquer forma!" exclamava em revolta, sem saber exatamente se estava a dizer isso para si mesma ou se estava a gritar em voz alta.

Isso a levou para centros de ajuda que não ajudavam em nada. Cada um dos psicólogos sempre diria que o problema de sua fúria não parecia ter um fundamento certo. Talvez fosse o estresse constante pelas provas e vestibular a chegar, mesmo que sua própria personalidade contradissesse tal especulação.

Frisk parecia um caso perdido para os de fora de seu problema.

Ela reparou que não poderia continuar assim. 

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

Ela então recorreu a controlar sua frustração nos sacos de pancada que Undyne lhe oferecia no treino. Nada melhor do que descontar sua raiva e frustração em um pedaço de couro recheado de areia compactada que não teria problema com machucados ou inconvenientes seguintes. Frisk ainda poderia ganhar um bom elogio de Undyne por sua forte dedicação aos treinos.

O problema de se passar a raiva, porém, era o que permanecia depois.

A raiva mascarava a tristeza, mascarava a dor e o cansaço da situação. Era uma explosão violenta do cérebro para evitar que ele se afunde em uma imensidão de pensamentos negativos. Quando a raiva era controlada só lhe restava a depressão, o desespero de que seu problema nunca fosse resolvido, que não tinha como resolver. Restava o medo, a insegurança, a tristeza e tudo isso apenas lhe carregava para ataques de choro compulsivos que levavam toda a manhã.

Era finalmente dar-se conta do verdadeiro estado da situação e, apesar de implorar todos os dias para que parasse seu sofrimento, ele sempre estaria a espreita a cada noite, a cada por do sol. Estar no estado em que Frisk se encontrou depois de controlar sua cólera era o mesmo que perder todas as suas expectativas de vida e jogar-se em um mar de inexistência o qual apenas o guiaria para o vazio.

A mente poderia ser traiçoeira às vezes, mesmo para uma alma determinada.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

E o maior problema da depressão é o quanto ela poderia ser traiçoeira. Ela rasteja por dentro de sua pele de forma sutil assim como o câncer. Ainda assim, diferente dele, ela não pode ser diagnosticada de forma convencional e muitas vezes é confundida com outras recorrências banais, como a preguiça ou um simples dia ruim. Ela consumia lentamente a pessoa, devorava cada gota de suas vontades e anseios, jogando-a em um mar de desespero.

Frisk poderia não estar em estágio muito avançado, todavia ainda era um preocupante. Chorar noites a fio, em silêncio, com medo de dormir e acordar no dia seguinte com tudo o que tinha vivido apagado, apesar de ter reparado que nem mesmo manter-se acordada poderia impedir as redefinições. Olheiras escuras começavam a formar-se debaixo de seus olhos, levantar da cama era cada dia mais complicado, mais difícil, uma luta eterna! Fazer qualquer coisa nova parecia-lhe inútil, afinal, não mudaria em nada.

Ela já tinha testado quase todas as possibilidades possíveis de um novo acontecimento. Ela sentia-se doente, presa em um ciclo que não poderia impedir.

E, se não bastasse os próprios demônios internos que sempre estavam a contradizer qualquer tipo de pensamento otimista que poderia ter, ainda tinha que lidar com as típicas perguntas que constantemente passou a escutar.

"Ei, Frisk, está tudo bem?" Claro, por que não estaria?

"Você parece cansada, não tem dormido bem?" Na medida do possível para não ter um colapso no meio da rua.

"Anda distraída ultimamente. Aconteceu alguma coisa?" Apenas muita coisa na cabeça, nada de mais.

"Onde está aquele enorme sorriso?" Foi dar um volta, talvez um dia ele apareça de novo.

"Por que esse desanimo?" Apenas cansaço.

"Você definitivamente não parece bem" Impressão sua.

As desculpas eram o que não faltavam nesse momento. Frisk estava começando a sentir-se uma mentirosa, mas não tinha como explicar sua situação. Seu sorriso caiu, seu cansaço e preguiça eram evidentes, desanimo sempre presente. Frisk nunca teve tanto tempo para pensar em seus pecados de outras dimensões, nos pecados de cada pedaço de alma que agora carregava em um só. E que engraçado, ela era fadada a recordar-se de tudo, seja de universos que não mais existiam como de linhas do tempo que não iriam mais voltar a ser o que eram antes.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

E ela passou dias e noites implorando.

Por que as redefinições não paravam? Por que apenas ela lembrava? Perguntas sem respostas, sentimentos ambíguos que a levavam a querer arrancar os próprios cabelos da cabeça. Ela lamuriava o fato de estar se sentindo tão sozinha, de ser a única a carregar todas as memórias de outras linhas do tempo, mas ao mesmo tempo não desejava o que passava a mais ninguém. Ela não queria que outras pessoas soubessem das redefinições, que sofressem da maneira como ela estava sofrendo.

Mas por que ela tinha que sofrer sozinha? Por que ela não poderia ser egoísta e querer alguém para compartilhar a dor e servir de suporte?

Mas Frisk sempre foi forte, não é? Frisk era o tipo de pessoa que encarava a morte sem se abalar. Que erguia-se na dor insuportável de corpo e alma.

E ainda assim não existia dor pior do que a dor mental, a dor sentimental. Afinal, dores físicas poderiam ser curadas, elas desapareciam com remédios, com comidas mágicas, com o tempo. Entretanto feridas mentais não sumiam tão facilmente. Elas marcavam-se de um jeito invisível no corpo da pessoa, elas poderiam parar de doer por alguns minutos e depois retornar com força total. Poderiam levar alguém a loucura e ainda assim serem facilmente encobertadas por um sorriso, por um riso falso, por um "tudo bem". Elas não eram machucados visíveis, eram, ao mesmo tempo fáceis de ajudar, como complicados de resolver.

Eram dores como essas que eram menosprezadas pela maior parte das pessoas. Até mesmo Frisk teve que escutar:

"É apenas um dia ruim"

"Você não pode reclamar"

"É só tentar que passa."

"Não seja fresca"

"Pare de dramatizar"

Apenas piorava, apenas puxava mais para baixo, apenas a fazia se sentir mais culpada.

Seus pesadelos pioraram. Frisk não sabia mais como poderia manter-se determinada.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

Ela se sentia tão impotente, tão desolada e frustrada. Ela sabia que a culpa era sua, era seu pecado, o pecado de ter reiniciado a linha do tempo diversas vezes praticamente a seu bel prazer e agora ela estava pagando por isso. E ainda assim, mesmo sabendo que a culpa era completamente sua, ela não conseguia evitar as manhãs que despertava com tudo desfeito e começava a chorar. Chorava compulsivamente implorando para que parasse, para que lhe desse uma trégua dessa incerteza que a consumia cada dia mais. Ela não suportaria que continuasse, ela tinha medo do amanhã.

 Frisk nunca ficou tão desmotivada. A depressão começou a engoli-la e ela novamente chamava a atenção de amigos e família. Ela ainda tentou manter o sorriso, manter a mascara, esconder as olheiras e as lágrimas que cada noite derramavam-se mais, quando ninguém estava olhando. E ainda assim era inútil. As pessoas reparavam que seu sorriso não era mais o mesmo, reparavam que ela já não era mais tão animada com os acontecimentos, que ela fechava-se em seu quarto por mais tempo e muitas vezes tinha dificuldade para levantar-se.

Asriel não sabia mais como despertá-la. Seus olhos mortos e desolados o faziam recuar, partiam-lhe o coração profundamente e ele nunca conseguia reunir palavras para tentar consolar. Frisk não falava nada, sempre que perguntavam ela fugia do assunto. Do que adiantaria falar se ninguém acreditava?

Chara tentou uma abordagem mais pesada, seu jeito bruto de sempre não levaram em consideração o estado em que sua irmã se encontrava naquele momento e apenas confirmavam ainda mais a tristeza de Frisk que nem mesmo aqueles que deveriam estar a se lembrar com ela estavam realmente recordando-se. E isso apenas a tornava mais desolada, um sentimento de vazio profundo que começou a consumir sua vontade, mas não haviam tocado ainda em sua determinação. E ela desabava a chorar, mesmo que na frente de Chara que não sabia o que fazer nesses momentos.

Chorava por sua alma, uma alma tão determinada e forte que se sentia cansada de ser assim, mas não conseguia deixar de ser, mesmo que a própria depressão se alastrasse pouco a pouco por seus pensamentos.

E toda essa melancolia, muitas vezes, fazia Frisk querer fugir. Correr de si mesma e voltar quando tudo estivesse resolvido. Mas Frisk nunca poderia fugir de quem era, de seu passado. Ela sabia que não merecia nenhuma das pessoas as quais tinha agora, ela sabia que todo o amor e preocupação que eram dirigidos a ela não deveria ter, afinal, era sua culpa que o tempo se encontrava todo bagunçado. Ela começou a brincar com esse poder, ela o usou para o seu próprio bel prazer sem medir as consequências. Ela pensou, realmente pensou, que não teria problema tentar concertar todos os erros que cometeu e acreditar que seriam apagados depois que toda a linha fosse refeita.

E não tinha como esquecer, o lembrete era uma constante em cada linha, não importava o que fizesse.

Cada ação de Frisk, cada escolha, poderia mudar o momento seguinte. Ela poderia muito bem deixar de conhecer alguma pessoa que anteriormente já havia conhecido, ela poderia deixar de fazer determinadas coisas e gerar resultados diferentes em momentos seguintes. Era o pouco controle que ainda tinha de toda essa situação sufocante, entretanto, ela logo descobriu, que apesar de toda a inconstância que poderia criar, existia sempre um pequeno ponto que mantinha-se o mesmo.

Ela não sabia exatamente o motivo, ela não sabia dizer se era bom ou ruim, novamente os sentimentos ambíguos atacavam-lhe os pensamentos. O fato era que Sans sempre a iria conhecer. Independente do que fizesse, para onde corresse, o que mudasse, ele sempre, uma hora ou outra, a encontraria.

Inicialmente isso não tinha muitos problemas, ela o procurava. Ela tentava reconquistá-lo uma e outra vez, ela insistia em recriar o que antes haviam criado. O sentimento ainda estava em seu peito, ele ainda era forte, ela ainda queria Sans como mais do que um amigo. Mas depois de inumeráveis redefinições, ela começou a sentir que, quanto mais o sentimento que nutria crescia, mais doloroso era voltar no tempo. Pior era o reencontro entre os dois.

Frisk nunca perderia as memórias de seus últimos encontros e ela já tinha perdido a conta de quantas vezes ela tinha perdido sua suposta virgindade com ele, ela já tinha perdido a conta de quantas vezes ele havia se esquecido dela e ela já estava cansada, tão exausta, de dormir ao lado dele e despertar na manhã seguinte sozinha sabendo que teria que se apresentar novamente, às vezes simplesmente para vê-lo com outra pessoa. Ela não sabia o quanto já sabia sobre ele, quantas faces já tinha visto dele, ela já tinha sido de tudo um pouco.

As redefinições eram imprevisíveis, poderiam acontecer em qualquer momento dentro do período de um ano, Frisk nunca sabia quando exatamente. Ela poderia viver meses assim como apenas semanas. Nenhuma delas foi tão longe quanto a primeira linha que facilmente ultrapassou seu período de um ano enquanto a mais curta que já viveu contou-se exatas três semanas. Assim como era imprevisível até onde ele poderia levá-la de volta no tempo. Não era como em sua dimensão em que tinha um lugar para chamar de começo. Essa, qualquer ponto no tempo poderia ser um começo, apesar de nunca ir para antes do momento da fusão das dimensões, qualquer momento depois poderia ser usado em uma redefinição.

Ela poderia voltar uma semana, ela poderia voltar um mês, ela poderia voltar um ano. Tudo dependia do quanto ela tinha avançado. E, apesar disso, nada importava porque mesmo que ela voltasse todo o momento Sans arrumava uma maneira de entrar em sua vida, de trazer de volta cada sentimento que ela procurava esconder no mais profundo de sua mente.

Era vergonhoso admitir que, depois de algumas redefinições, ela passou a fugir dele. Onde Frisk tinha certeza que ele iria aparecer ela evitava ir. Ela estava tão cansada de ver seu coração quebrando em pedaços, mesmo que não pudesse culpar Sans por isso. Ele não tinha culpa que não poderia se lembrar, ele não tinha culpa das redefinições. E ainda assim ela não poderia evitar aquele ressentimento cada vez que estava em sua presença. Aquele gosto ruim, amargo, que era deixado em sua boca ao saber que ele não recordava-se de nada do que tinham construído juntos.

E ela já foi de tudo para ele.

Ela já foi uma irmã, que sempre mantinha-se a implicar com ele, defendê-lo e apoiá-lo quando devia. A irmãzinha mais nova que nem ele ou Pap tinham, a mesma a qual eles dariam a vida para proteger.

Ela já foi uma mãe, dando-lhe sermões quando fazia besteira, puxando sua orelha por implicar com o irmão mais novo, mandando-o ser mais responsável, tomando conta dele.

Ela já foi a melhor amiga, que estava ali sempre para escutar seus choros, suas lamentações, suas conquistas, suas glorias. Aquela que o incentiva a seguir o que seu coração pedia, mesmo que machucasse seu próprio coração. Ela o daria conselhos, ela o faria rir quando queria chorar.

Ela já foi a namorada, aquela com quem dividiria momentos íntimos, que dividiriam planos para o futuro, sonhos que ela sabia que não iriam se realizar. Ela esquentou sua cama, ela lhe deu carinho, ela lhe deu amor. E quanto mais ela se envolvia, quanto mais ela via sobre ele, mais seu coração não conseguia evitar apaixonar-se cada vez mais.

Antes ela não acreditava que poderia sentir algo tão forte como o amor descrito nos contos de fadas ou nos romances. Isso se quer existia? Mas agora, agora que o tempo que ela passou com ele pareciam milênios, não sabia mais se poderia relevar a voracidade do sentimento que crescia em seu peito.

E o pior de tudo isso é que ela sempre sabia que ele sentiria algum tipo de atração por ela. Sempre.

Depois que você convivia com a pessoa por um tempo era fácil distinguir suas reações para cada tipo de situação apresentada. Era tão fácil ler o rosto, os olhos, o corpo. Frisk sabia cada gesto que Sans chegaria um dia a fazer, ela poderia lê-lo como a palma de sua mão, por mais que ele se escondesse atrás da mascara de um sorriso. Com tanto envolvimento entre eles em diversas linhas do tempo anteriores ela sabia exatamente o olhar que ele a enviava quando passava, o desejo que queimava em seus olhos azuis por conta da beleza que possuía, o quanto hipnotizado ele ficava com seus olhos ou sua voz. Ela sabia dobrá-lo, ela sabia persuadi-lo, ela sabia tanto sobre ele e ele nunca se recordaria do tanto que ele aprendia sobre ela.

Não importava qual fosse a linha, Sans uma hora ou outra se interessaria por ela. Seja apenas fisicamente como emocionalmente.

Ele estaria sempre lá para recordá-la de seu maior pecado.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

Um dos maiores problemas da depressão não era sua falta de vontade de continuar a seguir um dia, mas sim a maneira como você passava a ver o mundo e o que você pensava sobre ele. Frisk nunca teve tanto tempo para ponderar sobre todos os seus erros e pecados, nunca teve tempo de pensar sobre sua própria vida ou nada assim. Ela montava um objetivo e não se deixava abalar até que ele estivesse cumprido. Entretanto, agora que seu único objetivo estava fora do controle de suas mãos ela conseguia ter uma ideia mais clara do que ela realmente tinha feito até então.

E foi doloroso, realmente doloroso, principalmente com os sentimentos que tinha agora, pensar em todos os seus erros e quem antes estava em sua situação.

"Mesmo que tenha que repor mais de mil vezes, deixe-me tentar!"

O quão ridícula ela tinha sido? O quão cruel ela foi com ele? Ela não o merecia, definitivamente não. Depois de toda essa dor a qual o fez passar, depois de tudo que ela tinha feito com ele... Ela merecia ser odiada por ele.

A pequena partícula da alma de Sans que fazia parte do universo a qual a mente de Frisk havia vindo deveria estar a rir de sua situação agora. Ela merecia, porque ela tinha feito a mesma coisa com ele. Sans não tinha o controle das redefinições, mas ainda se recordava delas em sua dimensão, na maior parte das outras dimensões. Ele sofria em silêncio o mesmo que Frisk sofria agora, arrastando o dia que ele já tinha vivido uma e outra vez, sem saber o que ela faria em seguida. Mataria a todos? Salvaria? Deveria ter sido tão frustrante para ele como estava sendo para ela viver o mesmo momento diversas vezes sem parar.

Tão frustrante que ele tinha desistido.

E ela apenas se deu conta disso em uma noite qualquer, imprevisivelmente em um dos momentos da linha do tempo em que já se encontrava em um relacionamento com Sans. Ela tinha despertado apressada, respiração ofegante, lágrimas já a cair por seu rosto enquanto tentava inutilmente sufocar os soluços que tentavam escapar de sua garganta. Sua mente traiçoeira agora jogando em sua cara uma e outra vez essas palavras tão cruéis as quais tinha direcionado a Chara antes do primeiro colapso e da junção de todas as dimensões.

Ela o faria sofrer tanto. Ela teria sido tão egoísta, tão idiota... Ela merecia cada gota de ódio que ele sentia por ela e não o carinho que ele a brindava em cada linha em que se conheciam.

— Frisk? O que aconteceu? - sua voz ecoou pelo quarto silencioso, suas mãos pousando em seus ombros com delicadeza e carinho, os mesmos os quais ela sabia que não merecia.

Embalada pela tristeza Frisk não pensou duas vezes em se jogar nos braços do albino que tinha a seu lado, deixando que o choro gradativamente aumentasse. Ele a segurava com força, sem saber exatamente o que fazer, sem entender o que ela estava passando e tudo que poderia escutar era seu choramingo constante:

— Sinto muito. Sinto muito. Sinto muito, eu sou uma idiota, um monstro. Eu sinto muito, Sans. Sinto tanto... - ela repetia como se fosse um mantra, como se procurasse retirar o peso de sua própria alma ou de fazer com que o pedaço a qual se referia da alma dele pudesse ouvir e saber que agora ela sabia como era estar em sua situação.

Mas não importava o que ela fizesse, não importava quantas vezes ela pedisse perdão, nada poderia ser o suficiente para que ela merecesse ser perdoada.

Ele a embalou durante toda a noite, procurando, ainda confuso, acalmá-la.

Ela não o merecia.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

E parecia que quanto mais tentava afastar-se dele quando se conheciam, mais interessado ele ficava em se aproximar.

Ela sempre soube que Sans era uma mente curiosa, um prodígio em tudo que fazia e sempre interessado em aprender mais. Ela também sabia que várias garotas eram interessadas nele, não para menos com a aparência que portava era difícil resistir. Sans, era um rapaz atraente, na casa dos vinte, com atitudes misteriosas e atrativas. Sans tinha suas qualidades, apesar de ainda ter muitos defeitos. Ignorá-lo ou agir de forma inusitada perto dele era o mesmo que pedir sua atenção.

Então como escapar de sua presença?

Ele já a tinha encontrado sendo a aprendiz de Undyne. Outras vezes como uma grande amiga do irmão e primo de sua colega de trabalho. Algumas vezes como uma das melhores amigas de seu irmão. Muitas vezes como a filha dedicada que ajudava a mãe em seu trabalho quando tinha tempo. Algumas eles simplesmente se esbarravam por acidente. Não importava como, quando ou onde, eles iriam se esbarrar, ele iria se interessar e muitas vezes Frisk até chegava a acreditar que ele se recordava, que ele apenas estava a brincar com ela, e ainda assim sempre tinha o que lhe provava o contrario, que confirmava, de forma dolorosa, que eram apenas impressões, reflexos guardados em instintos de seu corpo e que a confundiam.

Ilusões.

Sempre ilusões.

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

Frisk deixou-se cair na calçada da rua próximo a escola onde sua mãe trabalhava. Ela não sabia como sua alma continuava a manter-se determinada, ela não sabia como conseguia andar ainda, tudo continuaria nessa volta sem fim de acontecimentos iguais, não importava o que fizesse.

Ela encarou os carros a passar apressados pela rua logo a sua frente, olhos dourados mortos, sem brilho e cansados. O cachecol vermelho em seu pescoço brincou no ar por alguns instantes, empurrado pelo vento provocado pelos automóveis, seu pequeno colar, o qual sustentava o anel que deixou de usar várias linhas do tempo atrás, mantendo-se ainda bem escondido atrás do tecido vermelho, tocando sua pele, sempre a lhe recordar do motivo que deveria seguir em frente.

Estava tão cansada, até mesmo o céu a escurecer parecia sem graça agora. Ela questionava-se quando ia parar... Ou ao menos quando ela iria ceder...

Uma pequena mão tocou a sua e Frisk abaixou o olhar para encontrar-se com enormes olhos verdes, um pequeno sorriso no rosto infantil. A morena tentou sorrir também, mas ela tinha certeza que tinha saído fraco, cansado. Ela não conseguia mais fingir que estava bem.

— Tudo bem? - o garoto perguntou. Frisk não sabia o que responder, ela assentiu, não confiando muito em sua voz para sair com firmeza. - Você parece cansada. - será que nada escapava dos olhos de uma criança curiosa? - Eu fico sem dormir quando estou com muita coisa na cabeça. Você está com algum problema que não te deixa dormir?

— Um problema bem persistente. Mas nada que deva se preocupar. - Frisk estava cansada de sempre ter as mesmas reações de quando começava a falar. Ela havia se acostumado desde a primeira linha do tempo ao igual o fato de manter seus olhos abertos, mas sempre as pessoas se impressionavam com sua "súbita" mudança de atitude. Para ela foi tão lento...

— Sabe, quando um problema insiste em ficar eu costumo deixar de me importar com ele. É mais fácil, sabe? Afinal, nada do que eu faço vai fazer o problema ir embora, então eu simplesmente fico indiferente a ele.

Frisk pensou. Talvez fosse realmente essa a solução. Se ela não poderia fazer alguma coisa para mudar sua situação, então por que não deixar de se importar com ela? Ela já era imune a maior parte dos acontecimentos dessa realidade de qualquer maneira então por que não deixar tudo simplesmente acontecer?

Um sorriso surgiu em seu rosto, dedos embolando-se nos fios loiros ao seu lado.

— Acho que você tem razão. Talvez essa seja a melhor escolha. - ela sorriu, deixando que o pequeno garoto sentasse em seu colo e se acomodasse ali, como tinha pego o costume de fazer. Frisk o abraçou, como se fosse seu pequeno irmão mais novo e se deixou levar por seus sentimentos conturbados. Ela os jogaria fora, ela deixaria de se surpreender, de qualquer maneira ela não poderia morrer e o mundo sempre voltaria ao mesmo ponto, então qual o sentido de se preocupar? De sentir? Ela se manteria determinada a seguir em frente, mas apenas isso, pois ela não aceitava a desistência. Era contra sua filosofia desistir.

Ela apenas deixaria de se importar...

Redefinir?

Yes           >No

Redefinindo...

Ela deixou o metal descansar na palma de sua mão, rosto a encarar o painel que tinha a frente. Não era nada mais do que um quadro rabiscado com tracejados confusos levando as diversas teorias que conseguiu pensar. Aproximar-se de Gaster e Sans para aprender mais sobre linhas do tempo parecia ter sido uma boa ideia e ela tinha aprendido mais do que ela jamais imaginou sobre física. Ainda assim tudo que tinha ainda continuavam a ser simples teorias, especulações e ideias.

Apesar de sua atual indiferença Frisk passou a ser uma colecionadora de memórias. Ela descobriu que seu núcleo mágico era forte o suficiente para aguentar manter um "contrato" com mais de um objeto de uma vez, ela treinou e dedicou-se até o ponto que conseguiu transformar todo o porão de sua casa em uma capsula do tempo. Ela guardou fotos, ela guardou objetos, ela fez um diário com cada acontecimento que achava importante registrar, ela procurou nunca se esquecer, ela deu nome a outras dimensões, ela criou representações de cada uma delas para nunca esquecer-se.

Todo o porão tinha se transformado em seu pequeno recanto de conforto. Livros de física, biologia, matemática e química estavam bem dispostos e organizados em uma das diversas prateleiras do lugar. Um álbum repleto de fotos de momentos que já não mais aconteceram descansava próximo ao quadro que mantinha perto da porta que levava as escadas que por fim a guiariam ao andar de cima.

Sua magia constantemente fluía para fora de seu corpo quando estava ali, formando um link com cada objeto que tinha no cômodo. Ali ela poderia ser ela, ali ela poderia descarregar seus pesares e saber que não estava louca.

Ela se sentia tão velha.

E ainda assim ela mantinha-se determinada. Ela sabia que para resolver um problema primeiro ela deveria entendê-lo. Ela estava indiferente as redefinições, mesmo que morresse, mesmo que apanhasse, mesmo que se metesse em apuros ela não mais se importava, ela não mais ligava. Mas ela ainda tinha a vontade de resolver o que estava de errado. Eram seus poderes, aquela era a determinação da sua alma, então ela deveria resolver.

O cachecol e o anel os quais não se separava eram apenas mais um lembrete do que deveria concertar. De alguma forma, algum dia, ela resolveria tudo isso, o tempo seguiria seu caminho, mesmo que ela tivesse que desaparecer para que isso acontecesse.

Frisk tinha determinação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Frisk pode ficar um pouco OOC a partir daqui, estou tentando também colocar um pouco de outros casais nos próximos capitulos, mas não garanto muito, é um pouco complicado quando o foco está em um ponto em especifico.
Obrigada por terem chegado até aqui, acho que nunca fui tão longe com uma fanfic minha e agradeço de mais o apoio, sem vocês teria desistido Há muito tempo.
Continuem determinados, semana que vem tem mais, preparem-se para a revelação de um dos segredos do Sans. Até~!