FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 2
Nova dimensão - 389 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Yoo mina-san!
Estou feliz que eu já tenha conquistado alguns leitores. Como disse no capitulo passado esse que posto agora já estava adiantado, mas eu deixei passar um tempinho pra deixar vocês bem curiosos e dar tempo de outras pessoas para ler.
Então, vamos ao primeiro (oficial) cap!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686046/chapter/2

FusionTale - Nova dimensão - 389 dias para Reset

Seria pouco dizer que o grito que havia soltado teria até mesmo acordado os mortos. Mas quem poderia tê-la culpado depois da visão que acabava de ter? O corpo impulsionado para longe por culpa do enorme susto que havia levado, coração desenfreado em seu peito quase machucando suas costelas. Não era todos os dias que você via, fisicamente, uma pessoa que morreu anos atrás e que, durante todo esse tempo, existia apenas em sua cabeça, deitada ao seu lado.

Chara era uma alma errante por um longo tempo, presa no subterrâneo logo após a morte de Asriel. Um espírito vingativo que esperava apenas a pessoa certa para despertar de seu estado inanimado e finalmente levar o caos para a superfície. Infelizmente para Frisk, sua alma recheada de determinação, foi o suficiente para despertar a de Chara, vinculando-a a seu corpo , dando-lhe a chance perfeita para concluir seus planos. O único problema era que Frisk e Chara eram pessoas completamente opostas, dois reflexos de uma mesma pessoa, dois lados de uma mesma moeda.

Chara queria o caos, Frisk queria a paz. Tão simples quanto poderia aparentar era mais complicado para explicar. Seja como for, foi por esse mesmo motivo que a disputa entre linhas do tempo havia começado. No começo Chara não era tão forte e Frisk quase não poderia ouvi-la em sua jornada, facilmente ignorando seus sussurros, todavia, depois que conseguiu seu objetivo, inocentemente a criança pensou que, talvez, fosse divertido viver tudo mais uma vez, uma ultima vez antes de continuar sua vida junto a sua nova família.

Quem poderia se importar? Ninguém parecia se recordar das redefinições de salve mesmo.

O quão errada poderia estar?

Foi um pensamento inocente, de uma criança que não queria terminar sua aventura. Foi tão divertido, conhecer todos, montar novas amizades, viver o que ninguém mais poderia viver... Todavia Chara ganhou força. Por algum motivo a redefinição mais prolongada, não apenas como um simples save em que retorna poucos minutos antes do acontecido, mas sim dias, enchia sua alma negra com determinação, dando-lhe força o suficiente para controlar Frisk, todavia, não o suficiente para conseguir mais do que alguns momentos.

O final daquela jornada então não foi muito boa. Alguns monstros haviam sido mortos em suas mãos e não era isso que queria, queria todos felizes. Por isso Frisk redefiniu mais uma vez.

Foi seu segundo erro.

Dessa vez com a inocência de acreditar que poderia fazer certo dessa vez. Porém Chara estava ainda mais forte e, assim que Frisk abriu os olhos na cama de flores douradas nas ruínas, ela já não poderia mais dar qualquer comando para seu corpo. Chara tinha o controle.

Com cada avanço mais monstros eram mortos por suas mãos, nenhum era poupado e Chara ganhava LOVE. Frisk, por sua vez, presa em um canto qualquer de sua mente, apenas como um espectador de tal atrocidade, chorava e esperneava, implorava para que Chara parasse, para que pudesse redefinir e ter seu final feliz novamente. Mas Chara não a escutava, ela continuava seu caminho alegremente até chegar a sala do julgamento.

Nem mesmo Frisk ou Chara poderiam ter imaginado que alguém como Sans possuía tanto poder. Sua magia... Tão forte e absurdamente assustadora que precisou de mais do que apenas algumas tentativas para finalmente atravessar.

Sans tinha consciência das redefinições, por algum estranho motivo ele mantinha suas memórias das outras linhas do tempo e isso apenas o tornava mais furioso, mais vingativo. Ele não tinha conhecimento sobre Chara, porém. Para ele era Frisk a culpada de todas as suas dores, de seus medos... A suja assassina de irmãos. E Frisk não se importava com isso, ela ansiava para que, com cada morte, ela pudesse arrumar uma maneira de retomar o controle e por fim aos assassinatos de Chara.

Da primeira vez acreditou que poderia perdoar Sans assim que retomasse o controle, acreditou que poderia terminar com aquilo e explicar tudo depois. Mas Sans não estava disposto a ouvir, ele não a perdoaria pelo que tinha feito a Papyrus, seu irmão, e por isso, assim que teve a chance, os ossos atravessaram o corpo e alma de Frisk, dando fim a mais uma linha do tempo, para retornar novamente.

Quanto mais redefinia, mais linhas do tempo eram criadas, mesmo a maior parte delas consistia em acontecimentos extremamente parecidos, basicamente iguais. Frisk e Chara lutaram pelo poder milhares de vezes até os momentos atuais e até então nenhuma das duas conseguiu por fim a outra. Frisk não sabia o que fazer com Chara, e Chara não poderia simplesmente fazer a alma de Frisk desaparecer. Seria uma luta eterna que levava para o fundo apenas as pessoas que tinham conhecimento de todas as infinitas e incontáveis linhas do tempo.

Em suma: Chara nada mais era do que um fantasma, ela não deveria ter um corpo próprio, Frisk não deveria vê-la mais do que uma simples imagem translucida, quase como um holograma. Mas ali estava, deitada e ainda um pouco grogue por seu súbito despertar, a mesma pessoa que em diversas linhas do tempo, lhe deu terríveis dores de cabeça.

Chara também não tinha a mesma aparência a qual se recordava. Seus cabelos curtos e castanhos, ligeiramente mais claros que os de Frisk, recaiam-lhe sobre os ombros, pontas retas e espigadas, franja sobe a testa, seu corpo parecia maior, Frisk não mais poderia dizer que ela era uma criança de dez anos, agora ela parecia mais uma adolescente. Seus olhos e cor de pele mantinham-se iguais, suas feições finas e ferozes também, todavia suas pernas eram mais alongadas, esguias e magras, seios já elevavam-se destacados nas roupas listadas, quadris ligeiramente largos. Facilmente conseguiria dar a ela dezessete anos.

— O que... Frisk? Por que você está gritando tanto, isso é tão ch... - Chara levantou a cabeça, os olhos acostumados a penumbra do lugar, antes mesmo de poder terminar sua fala. Seus olhos encontraram os de Frisk, por instantes sem realmente pensar no que estava acontecendo, até que finalmente seu cérebro pareceu ter absorvido a informação, reagindo quase da mesma forma que a pessoa alguns passos a sua frente. - Que porra é essa? Que caralhos está acontecendo aqui?!

"O linguajar, Chara!" repreendeu Frisk, utilizando, dessa vez, de suas mãos para montar as palavras. A garota não confiava em sua voz para dizer qualquer tipo de frase, até mesmo suas próprias mãos estavam a tremer pelo desentendimento do ocorrido.

— Foda-se o que eu falo! Como você pode estar... Assim?! Como eu posso ter um corpo?! - era uma pergunta boa, a mesma que Frisk se fazia naquele exato momento. No entanto, nenhuma das duas poderia reunir fatos suficientes para saber uma resposta. Chara respirou fundo, acalmando seus nervos voláteis antes de continuar. - Ok... Com calma, vamos pensar no que aconteceu antes de acordar aqui.

"Certo" Frisk assinalou, as mãos menos tremulas do que no começo.

— Tínhamos acabado de morrer e nos encontrávamos no menu, certo? - Frisk assentiu veementemente, indicando que também se lembrava. - Ok... Então nós discutimos, certo? - Frisk assentiu novamente. - E você apertou o botão de Reset, certo? - outra vez balançou a cabeça. - E então tudo tremeu e quando acordamos estávamos aqui, certo? - Frisk voltou a confirmar. - Ok, isso não explica muita coisa. Talvez o que causou todo aquele tremor tenha sido a...

Chara não conseguiu terminar seu pensamento. A porta do quarto se abriu, um feixe de luz amarela iluminou as duas, cegando-as por um instante enquanto uma figura estranha mantinha-se parado diante da porta, bloqueando um pedaço da luz.

— O que aconteceu? Ouvimos um grito. - a voz era madura, perceptivelmente masculina. Confusas, as duas garotas se encararam por um momento antes de finalmente tentar voltar a focar-se na figura recém chegada, transpassando o impedimento da nova luminosidade em seus olhos. Era um rapaz alto, pele rosada e cabelos de um branco acinzentado, quase chegando ao prata. Seus olhos eram de uma tonalidade de castanho tão clara que poderia muito bem ser confundido com o verde, naquele momento brilhando em desaprovação enquanto via as duas garotas ao chão. Trajava uma calça marrom, tênis brancos e uma blusa verde listrada em amarelo. Ele não parecia muito feliz, com uma das mãos ainda na maçaneta da porta e outra apoiada em seu quadril. - Vocês duas estão discutindo de novo? Não é cedo de mais para começar  uma briga?

— A-asriel? - engasgou Chara, seus olhos tão abertos quanto jamais estiveram, as mãos a tremer sobre o chão em que se apoiavam. E não era como se o adolescente, quase adulto, em pé na porta fosse extremamente parecido com o monstro cabra que Frisk havia visto diversas vezes depois de salvar a todos. Não. Frisk reparou que Chara nunca teria adivinhado que aquele era realmente Asriel se, de alguma forma, memórias estranhas não tivessem invadido suas mentes e esclarecido, quase como mágica, toda aquela situação de primeiro encontro.

Asriel ergueu uma de suas sobrancelhas, ligeiramente divertido.

— O que é isso, Chara? Parece até mesmo que voltei dos mortos. - se ele soubesse da ironia de suas palavras ele nunca as teria pronunciado. Mas aquilo não importava, muito menos para Chara. Tudo o que interessava era que ele realmente estava vivo. - Andem logo vocês duas, está quase na hora da escola e não queremos que se atrasem.

E então ele deixou o quarto, as duas ainda atordoadas em seus próprios pensamentos conturbados sobre a situação, jogadas no chão sem qualquer indicação do que fazer em seguida. E não pra menos, não era sempre que duas pessoas simplesmente voltavam a vida ou que um monstro de repente tornava-se humano sem uma explicação sucinta. Uma redefinição não poderia fazer tanto, poderia? Era como se o mundo tivesse voltado-se de cabeça para baixo, não que sua anterior realidade fosse muito normal, mas tudo aquilo já estava extrapolando seus limites!

Frisk voltou sua atenção para Chara, que permanecia estática em seu lugar, encarando a porta a sua frente com o corpo ligeiramente trêmulo. Tentou pensar em alguma coisa para chamar sua atenção, todavia, tudo o que conseguiu foi possíveis comentários ou perguntas que a deixariam enfurecida, então, talvez, deveria manter-se quieta e deixar que ela absorvesse a informação em seu próprio ritmo.

— Asriel está vivo... haha... Ele está vivo... - murmurou Chara, ligeiras lágrimas escorrendo por seu rosto antes de limpá-las, não rápido o suficiente para impedir Frisk de vê-las. A morena sorriu um pouco, erguendo-se do lugar e encaminhando-se ao armário.

Nada adiantaria manter-se parada sem fazer nada. Se o mundo tivesse realmente mudado precisavam adaptar-se a ele e ver o que tinha acontecido. Talvez poderiam voltar tudo ao normal, se realmente necessário.

Tais pensamentos encheram-lhe com determinação!

Encarou as roupas dentro do armário, escolheu algumas e então virou-se para Chara, aproximando-se dela e entregando algumas mudas que havia escolhido para ela vestir, sem realmente saber se interromper seus devaneios seria o mais adequado. Todavia, Chara parecia ou estar de bom humor ou atordoada de mais para falar alguma coisa, simplesmente pegando a roupa e dirigindo-se a um canto qualquer do quarto para colocá-las, enquanto Frisk era deixada em paz para por as suas próprias.

A roupa que Frisk escolheu para si não era muito diferente da que costumava vestir usualmente, apesar de encontrar-se mais alta e madura, talvez igual a aparência em que Chara se encontrava agora. Meias-calças grossas e negras recobriam suas pernas alongadas por debaixo do curto short jeans, botas marrons chegando próximas a seus joelhos enquanto uma enorme blusa larga azul escura de listras roxas cobria-lhe a parte superior do corpo. 

Não precisou de mais para encontrar-se pronta para o que quer que o dia poderia lhe reservar.

Caminhou junto com Chara até o que deveria ser a sala de jantar, sabendo o caminho da humilde casa apenas por culpa das estranhas memórias que constantemente açoitavam suas mentes, dizendo-lhes como deveriam agir. Lá toda a família já lhes esperava com o café da manhã sobre a mesa, acomodados nas três cadeiras, deixando duas restantes. Era de se esperar que os Dreemurs iriam ser aqueles a tomar conta das duas.

Torial e Asgore estavam acomodados à mesa, tão semelhantes a Asriel quanto possível. Trajavam roupas mais... Humanas, no entanto. Asgore com um terno arrumado a lhe dar um ar formal, mesmo que aparentasse desconfortável com o fato. Toriel por sua vez um vestido roxo de mangas longas brancas, contornando seu corpo de mulher formada, óculos pendurados em seu pescoço com uma pequena corda delicada.

Ambos com aparências humanas, ao igual que seu filho.

— Bom dia, meninas. - cantarolou Toriel em sua voz jovial e amável, encarando as duas recém chegadas com um sorriso materno contornando os lábios pintados delicadamente com um batom rosado. - Sentem-se e comam o café ou vão se atrasar. - as duas assim o fizeram, acomodando-se nas cadeiras vazias restantes e puxando o que queriam da mesa farta. - Então, Asriel disse que vocês tiveram uma nova discussão, o que foi dessa vez?

Por alguns minutos ambas pararam o que estavam fazendo, procurando em suas mentes alguma desculpa que poderiam dar. Não poderiam dizer que haviam se assustado porque até pouco tempo atrás uma delas na verdade deveria estar morta e com o espírito assombrando a outra.

Definitivamente não poderiam dizer isso.

— Frisk teve um pesadelo e me acordou com seus gritos idiotas. - respondeu Chara rapidamente, fingindo não se importar e estar irritada com o assunto. Frisk suspirou internamente, por sua vez, agradecida que Chara tinha pensado rápido.

Todavia Toriel se voltou para Frisk, olhar preocupado em seu rosto.

— Oh, minha criança! Está tudo bem? Se quiser posso ligar para sua escola e dizer que não vai poder ir para que possa descansar. - Frisk não poderia evitar o sorriso gentil que se desenhou em seus lábios depois de ouvir tais palavras preocupadas. Toriel sempre seria uma mãe cuidadosa, focada em suas crianças para qualquer problema que por ventura viesse a acontecer. Frisk sentia o calor em seu peito, tão feliz que ela era sua mãe.

"Foi apenas um pesadelo, mãe. Não tem que se preocupar tanto, eu estou melhor." assinalou, as mãos apressadamente formando as palavras que queria antes de voltar para sua comida. Todavia, Toriel ainda não aparentava estar muito convencida.

— Não se preocupe, Tori. Se Frisk sentir que não está bem é só ela nos ligar que iremos buscá-la, certo Frisk? - Asgore intrometeu-se, segurando uma das mãos de Toriel e voltando seu olhar calmo e carinhoso para Frisk, que assentiu prontamente. Toriel sorriu mais tranquila, apesar de ainda um pouco tensa. - Viu? Nada com o que esquentar a cabeça, agora devemos nos apressar, a aula de Frisk e Chara não vai esperar.

Com uma ultima despedida da manhã ambas as garotas juntaram-se a Asriel em seu carro, ele as levaria para a escola antes de dirigir-se a faculdade onde estudava.

Nesse meio tempo Frisk conseguiu absorver algumas informações de suas recentes memórias dessa estranha dimensão. A primeira era que ela e Chara foram adotadas pela família Dreemur em tempos diferentes, Chara quando tinha cinco e Frisk quando tinha dez, agora ambas se encontravam com dezessete em seu terceiro ano do ensino médio, Asriel era dois anos mais velho do que elas, estando em seu segundo ano da faculdade. O segundo detalhe era de que Asgore era o prefeito da cidade em que viviam, Ebott, e Toriel professora de uma escola de primário. O terceiro e mais importante ponto era que todos eram humanos, monstros, underground ou qualquer coisa com a qual estavam acostumadas não existia. O quarto era que, o problema dessa dimensão, era a magia.

Esse ponto mais complicado do que os demais.

Aparentemente alguns humanos eram capazes de usar magia por alguma diferença em suas almas, o motivo ainda não tinha sido explicado corretamente. Apenas uma pequena parcela da população mundial era capaz e sua descoberta foi relativamente recente, por tal motivo muitos conflitos haviam surgido contra e a favor dessas seletivas pessoas. Com o decorrer da história diversos usuários de magia já tinham sido vítimas de atos violentos que chegaram a morte. Ou seja, por mais que monstros não existissem, os seres humanos ainda conseguiam arrumar algum motivo para odiarem os diferentes, não importava se tivessem a mesma aparência.

Asgore, Toriel e Asriel eram capazes de usar magia, mas como Asgore tinha influencia política pouca coisa lhes acontecia, nada além de boatos e blasfêmias pelas costas. Asgore, por sua vez, era uma pessoa justa e formulou leis, com a ajuda de alguns amigos, que tornariam mais fácil a moradia de praticantes de magia na cidade. E por mais que realmente tivesse ajudado, ainda não era o suficiente para diminuir o índice de violência contra eles.

Frisk e Chara não sabiam se a capacidade de salvar e redefinir poderiam ser contadas como um tipo de magia, todavia, aparentemente, ninguém nessa dimensão sabia sobre isso, como em todas as outras. O que era bom, Frisk nem mesmo sabia se ainda poderia salvar e redefinir ainda, isso deixaria para outro momento, não era sua prioridade.

Poderes poderiam variar de pessoa para pessoa. Existiam os comuns, os quais a maioria tinha, como o de cura, e existiam os especiais, os quais pertenciam apenas a aquela especifica pessoa. Era aparentemente hereditária, todavia uma pessoa nascida de pais normais poderia possuir magia, assim como uma pessoa nascida de pais com magia poderia nascer sem, mesmo que fossem ocorrências bastante raras.

Na escola Frisk descobriu que dois de seus antigos conhecidos monstros estudavam junto a ela, apesar de agora eles também serem humanos.

Napstablook e Monster Kid, ou Tinn, estavam em sua mesma classe, aparentemente eram amigos desde o ensino fundamental. Chara tinha aula em outra turma, não que isso importasse muito, ela fazia questão de se manter sempre longe de Frisk enquanto se encontravam em publico.

Tinn ainda não tinha os braços, por culpa de uma doença que atingiu sua mãe enquanto ainda estava grávida dele, uma deformação que não parecia lhe importar muito. Um garoto gentil, de cabelos dourados, quase alaranjados, enormes olhos azuis recheados de inocência e alegria, sempre usando uma enorme blusa listrada laranja e amarela que mais lhe parecia um vestido com calças jeans por baixo, tênis laranjas em seus pés. Napstablook por sua vez era um doce e tímido garoto de cabelos curtos de um azul bem claro, quase chegando ao branco, enormes olhos azuis sempre baixos e pele extremamente pálida, sempre vestido com um conjunto de blusa brancas e calças jeans azuis claras, com delicadas botas da mesma cor que suas calças. Ambos alguns centímetros mais altos do que Frisk.

Frisk sabia que Blooky, como costumava chamá-lo, vivia com seus primos, Mettaton e Alphys, o primeiro o qual conhecia pessoalmente. E, por culpa do trabalho de Mettaton e seu próprio jeito de ser, ele sempre acabava arrumando uma maneira do pequeno e tímido garoto se vestir das melhores maneiras.

Blooky também sempre tinha seus enormes fones de ouvido sobre sua cabeça. Não existia um momento em que ele os deixava de lado, sua paixão pela música apenas poderiam bater sua enorme timidez.

Passar o dia junto a eles foi divertido, apesar das intimidações típicas de outros grupos de sua sala, Frisk sempre conseguia arrumar uma maneira de escapar de cada uma delas junto com os outros dois. As aulas eram interessantes, ela havia se esquecido de como era frequentar uma escola, depois de todos as redefinições e viagens pelo underground viver aquele dia era quase como um sonho de mal gosto, do qual logo deveria acordar.

Matemática, português, geografia, história... Assuntos que para muitos seriam tachados de chatos e maçantes, para ela, estavam sendo quase a realização de um sonho. Caiu no Underground quando tinha teoricamente dez, forçada a viver entre a vida e a morte em diversas ocasiões, lutando contra um espírito vingativo em seu interior e procurando um jeito de ir para casa sem machucar ninguém. Estar em um ambiente tão pacifico era quase como se finalmente tivesse ganhado de Chara, ido a superfície e remontado sua vida novamente.

Era complicado dizer, no entanto, como uma garota de dezessete anos com a mentalidade de uma criança poderia manter-se no ensino médio. Todavia, Frisk contava com a ajuda das estranhas memórias que vinham fluidas em sua mente, fazendo-a entender, quase que imediatamente, o que se passava a sua volta.

Ebott não era uma cidade grande, mas também não era pequena. Existia a periferia, onde a maior parte dos incidentes violentos, distribuições de gangues e tráficos aconteciam e existia o centro, onde a massa de pessoas e a segurança era muito maior. Magia estava misturada ao cotidiano da cidade, tentando convencer as massas que não era uma coisa ruim, apenas privilegiada para poucos. Ela foi introduzida a comida, tornando-a curativa para a alma e às vezes para o corpo. Foi introduzida nos shows de televisão, sempre recheados de brincadeiras coloridas e acontecimentos mirabolantes que se tornavam difíceis dizer se eram reais ou não.

Aparentemente todos aqueles que eram monstros em outra dimensão possuíam magia nessa. Pelo menos todos os que seu "eu" desse universo conseguiu conhecer. Mettaton sendo um deles, famosa estrela de televisão, um dos amigos mais íntimos de Frisk. Ele continha excêntrico, se sua nova memória não lhe mostrava errado. Muffet também, colocando sua magia em seus doces, os quais vendia em sua pequena loja familiar em crescimento, a qual Frisk sempre visitava depois da escola, às vezes apenas conversar com a dona que também trabalhava como atendente.

Frisk não tinha nada do que reclamar desse novo universo no qual vivia. Tudo parecia tão feliz, tão em paz mesmo com os conflitos com relação a magia. Chara não mais reclamaria de nada já que Asriel estava vivo, tinha uma família, tinha bons amigos... Era tudo que tinha pedido. Não sabia ainda ao certo porque tudo aquilo aconteceu, mas sendo sincera, não se importava nem um pouco, desde que tudo permanecesse da maneira que estivesse.

Ela podia viver com a surpresa dos acontecimentos futuros, seu coração, sua alma, ansiava por essas surpresas. Não precisava mais do reset, ou se quer dos save. Tudo que precisava era do aqui e agora.

Depois de um longo dia de novas descobertas, indo para a loja de Murfet depois da escola, ouvindo musicas com Blooky e se divertindo com Tinn, voltou para casa, exausta e feliz. Tomou um merecido banho, sentou-se na sala com Asriel e Chara para assistir um filme qualquer que era transmitido pela TV e então, depois de alguns minutos, levantou-se para ir dormir, despedindo-se de seus irmãos e seus pais.

A cama de seu quarto, o qual estranhamente divida com Chara, era confortável e quente, tão aconchegante que a embalava para o mundo dos sonhos com rapidez. Os cobertores a envolviam e afastavam qualquer ansiedade ou problema que o dia poderia ter tido, protegendo-a do escuro da noite. Pouco a pouco se viu tranquila o suficiente para os últimos pensamentos do dia, as últimas reflexões antes de cair nos braços de Morfel.

O primeiro que pensou foi que ainda existiam algumas pessoas/monstros os quais não chegou a conhecer. Alphys, mesmo sendo irmã de Mettaton e prima de Nasptablook, nunca chegou a conhecer pessoalmente, aparentemente era uma mulher bem ocupada com seu trabalho. Undyne também não havia sido conhecida ainda, nem mesmo Sans e Papyrus. Questionava-se se voltaria a se encontrar com eles nessa dimensão, e como eles deveriam aparentar agora que eram humanos.

No dia seguinte procuraria uma biblioteca, pesquisaria mais sobre esse mundo. Não estava preocupada, apenas curiosa, tudo ali era tão diferente que apenas enchia-lhe com um desejo ardente de conhecimento. Estava determinada a ficar nesse mundo, a conhecer todos os amigos que em sua outra dimensão tinha.

Mas por enquanto, apenas deveria dormir...

Porém seus sonhos tinham outros planos, eles não a deixariam descansar tão cedo e prontamente a bombardearam de novos pensamentos.

Era como se fosse seu antigo mundo, mas não era ele. Não foi um sonho concreto, foi fleches de acontecimentos muito semelhantes aos que já havia vivido e ao mesmo tempo completamente diferentes. Eram seus amigos, mas estavam ao contrário. Eles não eram os monstros amigáveis os quais havia conhecido, eles não cuidavam um do outro como uma grande família, pelo contrário, eles se odiavam, eles lutavam, eles brigavam até a morte. Flowey não era o monstro cruel o qual conheceu, ele era bom, acompanhava e a ajudava em sua jornada. Toriel não era uma mãe amável, ela planejava lhe matar. Sans não era preguiçoso, era arrogante e cruel, subordinado de Papyrus que não mais era inocente e alegre, mas sim cruel e mandão.

Todos eram tão estranhos, tão assustadores. Frisk tinha medo o tempo todo, mas estava determinada a terminar sua jornada sem lutar de volta. Foi tão doloroso, não parecia ser um sonho, parecia tão real, quase como memórias que traziam de volta a sensação física para seu corpo, torturando-a em seu sono.

Frisk despertou no meio da noite, assustada e esbaforida, com o corpo mantendo a sensação das diversas mortes as quais sofrera. Tantas diferentes que nem ao menos conseguia contar, e por mais que estivesse acostumada a elas, por todas as vezes que as havia sentido em suas várias linhas do tempo, não significava que conseguia aceitar ou manter-se tranquila depois de cada uma delas. Era terrível e assustador de mais para sua pobre alma.

Todavia, depois do sonho manteve-se ciente de que, o que se passava, era mais profundo do que poderia imaginar.

Mas Frisk estava determinada em descobrir e manter tudo feliz da maneira como estava.

Sua alma estava cheia de determinação!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Algumas coisas ainda manterei no mistério. Tentarei ir lento com os acontecimentos, então paciência caros leitores.
Aliás, o mundo Au de undertale sitado no final é Underfell. Não vou procurar quem criou, ele é muito fácil de encontrar e já vi fanfics desse mundo aqui no Nyah, então aproveitem pra dar uma olhada.
Pequeno spoiler: Brothers Skeletons in the next chapter!
Então mantenha-se determinado leitor!