FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 15
Passado de Frisk - 121 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou amando cada um de vocês, com seus comentários, colocando a fanfic em seus favoritos, acompanhando ou simplesmente compartilhando em outras redes sociais. Eu nunca esperei que poderia chegar a esse ponto e nem mesmo estar na metade da fanfic. Então, deixando de matar vocês de ansiedade, aqui está mais um capitulo!
Cara... ta chegando perto dos que eu estou escrevendo, eu preciso desempacar.
Vamos lá!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686046/chapter/15

FusionTale - Passado de Frisk - 121 dias para Reset

Se existia uma forma da terra tragar-lhe, Frisk desejava que fosse naquele exato momento. E não importava para qual inferno ia enviá-la depois, tudo era melhor do que estar sentada no sofá de sua casa com, não apenas sua mãe biológica sentada a poucos passos de onde estava, como também seu pai e irmão biológicos. Ainda que sua família adotiva, sua real família, estivesse ali a seu lado, Frisk sentia como se não fosse o suficiente para abrandar o terrível sentimento que envolvia seu peito em um aperto sufocante.

E, afinal, de que buraco essas pessoas haviam saído? Por que aparecer agora? Qual o sentido de, depois de quase oito anos de ausência e indiferença, aparecer em sua nova vida, já completamente formada? O que eles poderiam querer? Frisk sempre pensou que eles estariam felizes de não tê-la mais por perto.

E ela temia... Frisk Tinha tanto medo de que eles tivessem a intenção de tomar sua custodia de volta. Afinal, apesar de Asgore e Toriel estivessem a cuidar dela dentro de todos os papeis legais, seus progenitores ainda tinham o direito de ter sua tutela novamente apenas pelo simples detalhe de a terem gerado. Além do mais, Frisk ainda não era maior de idade para escolher para onde queria ou não ir. Ela estava submetida a lei para julgar quem era mais capaz de se responsabilizar por ela.

Como não temer essa incerteza? Apenas a visão da mulher que lhe deu a luz foi o suficiente para deixá-la em tal estado que, assim que se viu livre do aperto voraz, correu para próximo de Sans e Chara, segurando-os tão firme que parecia que sua própria vida dependia disso. E ela não soltou em momento algum, impedindo até mesmo a saída de Sans para dar privacidade as famílias para solucionar o problema.

Mais do que nunca ela precisava se prender a alguma coisa que era certa, e Sans e Chara era o mais próximo que tinha no momento.

E Sans apenas havia aproveitado a situação como uma desculpa para ficar. Ele não confiava nas novas pessoas que estavam ali, ele sabia que não poderia deixar Frisk com eles e, por mais que confiasse em Tori para cuidar bem dela, nada lhe tiraria o instinto protetor que gritava para ele se manter perto. Alguma coisa gritava que aquilo estava errado. E era tão evidente e tão dolorosamente notável que nem mesmo Chara se incomodou com sua presença, mais centrada na atmosfera ao redor, rosnando ao reparar a mulher ainda sorrindo como se não tivesse reparado no estado abalado de Frisk,

 Agora, devidamente acomodados, haviam caído em um silêncio incomodo e duradouro que já estendia-se por cinco minutos ou mais. Frisk havia sentado no sofá entre Sans e Chara, cabeça baixa e braços fortemente enrolados nos dois a seu lado, impedindo-os de sair, mesmo que nenhum deles tivesse a menor intenção de fazê-lo. Asriel havia acomodado-se ao lado de Chara, encarando desafiante e irritado o suposto irmão mais velho de Frisk, apenas para ser ignorado. O rapaz, provavelmente beirando uma idade entre Sans e Asriel, estava mais preocupado em encarar as duas garotas entre eles do que realmente preocupar-se com a atmosfera ao redor. Sans não gostava nada da forma como ele olhava, porém, e compreendia perfeitamente o motivo de Asriel estar cada vez mais irritado.

A mãe biológica de Fris estava em outro sofá, ao lado de seu filho, sorriso nunca deixando seu rosto perfeitamente maquiado. O marido encontrava-se em pé ao seu lado com uma mão pousada em seu ombro, expressão imutavelmente séria. Asgore e Toriel, por sua vez, haviam mantido-se em pé na frente de todos. Asgore com o rosto sério e imparcial, entretanto a tensão de seu corpo era visível, ombros largos travados para trás, coluna ereta e mãos atrás do corpo. Toriel movia suas mãos de forma nervosa, todavia sua expressão mantinha-se calma e controlada.

— Uhun... Então... - começou Toriel, sua voz sendo o único som que reverberou pelo lugar depois de vários minutos de silêncio e tensão. - Vocês são os pais de Frisk?

— Mas é claro! - exclamou animada a mulher, sua voz tão desnecessariamente alta que mais de um na sala se encolheu ao ouvi-la. Seu sorriso era grande de mais para ser verdadeiro, nem mesmo o de Sans chegava a tanto. - Não dá para ver a semelhança? Eu ainda me lembro que, mesmo pequena, nossos vizinhos sempre diziam que Frisk era minha cara!

Sans não diria exatamente isso, mas ele deveria admitir que as semelhanças estavam presentes. A cor dos cabelos da suposta mãe possuíam uma cor muito semelhante aos de Frisk, apesar de seus fios serem mais longos e visivelmente pranchados, enquanto Frisk preferia manter os seus curtos e de um natural levemente ondulado e bagunçado, com mechas apontando para cantos diferentes a cada vez. O tamanho também era o mesmo e um pouco das feições de seu rosto, como o formato do nariz, eram semelhantes aos de Frisk. A cor da pele, por sua vez, era muito próxima ao do homem em pé e calado. Todavia, Sans não conseguia ver, em nenhum dos dois progenitores, a cor dos olhos de Frisk, talvez viessem de algum parente mais distante, um avô ou bisavô, por exemplo.

Com o irmão era bem difícil dizer. Ele tinha a pele mais escura que a de Frisk, seus cabelos eram puxados para o negro e não castanho, olhos  de um castanho arroxeado como os do pai, não muito alto, deveria ser um pouco maior que Sans, apesar de isso não ser algo de se gabar. Sans tinha escassos um e sessenta e nove de altura aproximadamente, relativamente baixo para um homem. Comparado com Asriel e Papyrus que facilmente haviam alcançado a altura de seus pais que beirava muito próximo dos dois metros, Sans e o rapaz sentado não muito distante eram pequenos. Era relativamente magro, provavelmente teria o mesmo porte físico de Tinn, o amigo de Frisk, até mesmo Asriel conseguia parecer um pouco mais robusto do que ele, e Asriel era um rapaz que tinha poucos detalhes em seus músculos.

Nenhum deles possuía magia, pelo que Sans conseguia perceber. Isso explicava muito o fato da própria Frisk não ter sido capaz de usar magia até o momento. Muitos estudos mostravam que o contato com uma quantidade relativamente elevada de concentração mágica durante os períodos da estação até certa dos cinco anos de idade da criança favoreciam o desenvolvimento e liberação de seu próprio poder. Aqueles que possuíam pais com algum tipo de habilidade eram mais suscetíveis a terem magia por terem uma grande concentração a sua volta na maior parte de seu desenvolvimento, se os pais fossem contra magia e a criança fosse mantida longe dela durante todo seu crescimento ela acabaria por não apresentar nenhuma aptidão para tal. Era uma das melhores explicações que poderiam dar pela variabilidade de pessoas nascidas em famílias não mágicas e ainda assim terem poderes.

O meio em que viviam afetava suas almas. E Sans estava começando a pensar que Frisk era o segundo caso.

Em suma: as semelhanças estavam ali, mas não provavam nada.

— Ficamos tão feliz quando soubemos que Frisk estava bem e sob sua custódia que imediatamente viemos para cá. Sentimos tanta falta dela durante esses anos de sumiço! - prosseguiu a mulher, movimentos exagerados sendo feitos por seus braços com cada palavra que pronunciava. Frisk a seu lado estremeceu, apertando um pouco mais seu braço, chamando-lhe a atenção. Ela havia soltando por alguns instantes Chara e feito um pequeno sinal com as mãos. Sans identificou a palavra: Mentira. — Oh, pelos deuses! Ela continua com essa mania de evitar falar! Eu sinto muito por isso, Frisk tem uma voz perfeitamente funcional e ainda assim se recusa a soltar um som se quer! Mesmo que seja um pouco irritante, não é nada que a impeça realmente de agir como uma pessoa normal.

Sans não sabia com o que mais ficar indignado. Se com o fato da mulher ter dito que a voz de Frisk era irritante, o qual era uma completa mentira. Sans tinha escutado Frisk falar e ele poderia jurar por todas as suas noites de sono e cochilos diários que era a voz mais tranquila e menos irritante que ele já tinha ouvido, e ele já ouviu muitas. Ou se ficava irritado por terem insultado seu pai. Gaster não poderia falar, ele apenas comunicava-se com as mãos assim como Frisk e era uma pessoa tão normal quanto. Não era porque a pessoa expressava-se de forma diferente que ela não era igual as outras. Qualquer um tinha suas peculiaridades.

— Desculpe, minha senhora, mas eu garanto que não existe nada de anormal com a linguagem gestual. - intrometeu-se Asgore, o cenho ligeiramente franzido. - Um grande amigo meu não pode falar e é forçado a usá-la, por isso tenho um grande conhecimento sobre ela. Além do mais, se Frisk não quer usar sua voz não devemos obrigá-la o contrário. Desde que chegou a nós, anos atrás, ela nunca nos disse uma palavra se quer e nunca nos incomodamos com tal fato. Chara e Asriel, assim como muitos amigos dela, fizeram questão de aprender a linguagem apenas para apoiá-la enquanto não quer falar.

— Por favor! Não podem estar falando sério! - zombou a mulher, uma estridente gargalhada escapando de sua boca logo em seguida. - Não deveriam incentivá-la nesse tipo de bobagens infantis. Se ela pode falar, que fale! Mas não estamos aqui para discutir os muitos problemas que Frisk é capaz de dar, tenho certeza de que quando ela voltar para casa concertaremos esse pequeno... defeito com muita facilidade.

Voltar para casa? O que quer dizer com isso? - dessa vez foi Asriel a se pronunciar, seus olhos finalmente deixando o rapaz que encarava suas irmãs para focar-se na mulher ao lado dele. Seu cenho se franziu com profundidade, indignação bem clara em seu rosto. - Frisk está em casa.

— Oh! Não, meu querido. Sua verdadeira casa, junto com seus verdadeiros pais e sua família. Estamos tomando-lhe a custodia, agradecemos que tenham cuidado tão bem dela quando esteve perdida, mas crianças devem crescer com seus pais. - seu sorriso era hipócrita e zombeteiro, como se, ao falar com Asriel, estivesse a conversar com uma criança.

O rosto de Frisk empalideceu ao ponto de competir com Sans, as mãos apertando com tanta força os braços das duas pessoas a seu lado que ambos poderiam sentir as pequenas e curtas unhas transpassando o tecido de suas blusas e arranhando a pele por baixo. Todavia, nenhum dos dois disse nada e mesmo que quisesse, não seriam capaz. O rosto amedrontado de Frisk era o suficiente para calar qualquer um.

— Já perguntaram para Frisk se ela quer isso? - intrometeu-se Chara, os olhos vermelhos a encarar com atenção e desgosto os inquilinos da casa. - Afinal, tudo isso é para decidir onde ela vai ter que morar e ela tem todo o direito de poder escolher o que lhe diz respeito. E se ela quiser ficar aqui?

— Desculpe, queridinha, mas crianças não tem o direito de escolher decisões importantes como essas. Assim como crianças não devem se intrometer em conversas de adultos.

Oh, Chara estava a ponto de cometer um genocídio! E, pela primeira vez, ninguém se incomodaria com isso. Asriel precisou segurá-la firme pela cintura para impedi-la de se jogar na mulher que tinha a frente e matá-la. Ela nem ao menos precisava de uma faca para isso, sentiria o maior prazer em executar todo o ato com suas próprias mãos. Sans apenas poderia pensar o quão estúpida aquela mulher poderia ser não apenas por chamar Chara de criança, como também ignorá-la completamente depois.

A sentença de morte estava assinada!

Seus olhos azuis então pousaram-se na garota a seu lado, conseguido ver, além do medo, todo o peso e exaustão que ela sentia naquele momento. Ele sabia que se aquela tensão continuasse e Frisk se estressasse ainda mais, com todas aquelas emoções descontroladas e borbulhando de uma vez em sua alma, ela poderia facilmente perder o controle de sua magia, forçando-a além do que seu corpo ou alma poderiam aguentar. Se ela se visse impulsionada ao ponto de usar seus poderes mais uma vez era bem capaz de seus pontos de HP diminuir, na melhor das hipóteses. Na pior, seu corpo sofreria as consequências e os resultados não seria bonitos ou agradáveis.

— Tori, desculpe interromper em um momento como esse, sei que sou apenas um inquilino em toda essa situação... - começou, chamando a atenção de praticamente todos da sala. Chara ainda estava concentrada de mais em seus desejos assassinos para ouvir o que tinha a dizer e o rapaz ao lado da irritante mulher suicida estava mais concentrado nas pernas de Frisk do que realmente no que estava acontecendo. Ele jurava que em algum momento iria quebrar o nariz daquele idiota se ele pensasse em fazer o que Sans tinha certeza que ele estava imaginando. - Mas swe... Quero dizer, Frisk está cansada pela sessão de hoje e mais estresse pode ser ruim para ela. Ela precisa descansar o quanto antes e tentar se acalmar.

— Eu entendo, Sans. Será que ela poderia ficar em sua casa durante essa noite? Eu suponho que esse assunto vai durar mais do que gostaríamos e não seria bom para Frisk ficar em um ambiente tão conturbado quando tem que descansar.

— Não vai ser um problema, Tori. - Sans tentou sorrir o melhor que poderia apesar de toda a atenção que havia se voltado para ele. Com cuidado ele ajudou Frisk a levantar-se, sabendo muito bem que seria um grande problema carregá-la logo agora, apesar de sua grande vontade em mostrar para o idiota que deveria ser irmão biológico de Frisk que deveria parar de encarar o quanto antes ou ia acabar tendo um mal momento. - Vamos lá, sweetheart, temos um longo caminho pela frente.

— Vocês vão deixá-la dormir na casa de um homem? E se ele faz alguma coisa com ela? - exclamou a mulher, encarando desconcertada toda a cena, apesar de Sans ter completa certeza que ela estava avaliando-o um pouco a sério de mais.

Como ele queria poder garantir que ele era um risco bem menor do que o rapaz que ela tinha logo ao lado.

— Sans é o um grande amigo de Frisk e seu pai é o melhor amigo de meu marido, somada ainda a enorme quantidade de vezes que Frisk dormiu e foi em sua casa sem o menor incidentes que seja, garanto a vocês que ela não corre risco nenhum. - Toriel inquiriu, sua voz autoritária e profunda mostrando que havia entrado no modo burocrata. Para o grande azar dos inquilinos. - Além do mais, como a senhora mesmo fez questão de deixar bem claro, ela não pode opinar em assuntos de adultos. Ou seja, ela não precisa estar presente no momento.

A mulher se calou e Sans não conseguiu conter o enorme sorriso de satisfação e orgulho que cresceu em seu rosto enquanto abria a porta para Frisk, a pobre garota parecia estar andando em modo automático, apenas seguindo o que ele orientava. Assim que se viu completamente fora da casa, no entanto, e com a porta fechada à suas costas sussurrou um rápido pedido de desculpas para Frisk e a teletransportou para sua casa. Não era a melhor ideia para o momento, mas ele não poderia se dar ao luxo de demorar mais um segundo para que Frisk pudesse acomodar-se em algum lugar confortável e finalmente descansar.

Frisk chegou a cambalear um pouco quando encontraram-se na porta, pés instáveis sobre o chão, Sans precisando carregá-la para dentro com o máximo de cuidado que sequer um dia teve. Ele deixou a morena em seu sofá e acomodou seu enorme casaco negro, jogado anteriormente em um canto qualquer da sala, sobre seus ombros. O verão poderia estar chegando, mas ainda se encontravam no hemisfério norte. Mesmo em épocas de calor, dias bastante frios ainda eram normais e aquele era um desses dias.

Ele não conseguiu evitar o sorriso bobo que lhe tomou o rosto quando observou Frisk encolher-se dentro da enorme peça de roupa, praticamente desaparecendo por completo. Determinado a fazer a garota relaxar, Sans dirigiu-se a cozinha para pegar alguma coisa que ela pudesse comer e assim esquecer o que tinha acontecido poucos minutos atrás. Pap deveria estar voltando de seu mais novo encontro com Mettaton agora, então a comida feita na hora estava fora de sua lista de opções. Felizmente ele tinha conseguido guardar um dos doces de Muffet que havia comprado no dia anterior junto com Frisk. O doce seria perfeito para fazê-la, pelo menos, melhorar as condições de sua alma por conta das propriedades mágicas que ele tinha certeza que Muffet colocava em seus produtos.

 Quando voltou, porém, Frisk já tinha caído no sono, deitada de qualquer maneira no sofá. Aparentemente a simples mudança de ambiente foi o suficiente para que ela relaxasse e pudesse dormir como deveria.

Bem, agora ele não poderia simplesmente deixá-la dormir no sofá.

Subiu as escadas apenas para deparar-se com a porta do quarto de hospedes trancada. Onde Pap havia deixado a chave dessa vez? Com um suspiro, Sans deu de ombros e voltou para a sala, delicadamente carregando a garota adormecida e a levando para seu próprio quarto, constrangedoramente bagunçado. Se bem que, não era como se fosse a primeira vez que Frisk veria a desordem na qual ele mantinha suas coisas, então não teria muitos problemas.

Cuidadosamente ele a colocou sobre sua cama, retirou seus sapatos e por fim a cobriu com o lençol mais limpo que conseguiu encontrar no momento. Ele dormiria no sofá naquela noite se Pap não recordasse onde ele havia colocado as chaves do quarto reserva.

Por sua parte, Frisk apenas despertou na tarde do dia seguinte. Ela demorou alguns segundos prolongados para finalmente entender que estava no quarto de Sans, com sua jaqueta e as roupas que estava usando no dia anterior. Ela não se recordava de ter adormecido no dia anterior, apenas do seu enorme mal estar quando Sans a levou para casa e em seguida a deixou no sofá. Ela recordava-se de ter sentido-se exausta esperando que o albino retornar-se da cozinha para começar a fazer as perguntas que ela tinha certeza que ele deveria estar a pensar. Ela tinha sentido a necessidade urgente de um cochilo, mas não se lembrava de realmente ter fechado os olhos para tal, apenas um forte adormecimento de seu corpo.

 Seus olhos ainda sonolentos percorreram todo o quarto, a bagunça costumeira aparentemente não tendo movida nem um centímetro de seu lugar, pelo contrário, ela poderia jurar que havia se acumulado ainda mais. Ela compreendia perfeitamente o desgosto de Papyrus nesses momentos. Até finalmente deparar-se com uma pequena nota bem posicionada no criado mudo a seu lado, a letra grande e apressada sendo reconhecida como a de Papyrus, seu nome bem destacada no começo da nota.

"Bom dia Frisk!

Havia iniciado com as letras grandes e bordadas. Frisk poderia muito bem imaginá-lo a escrevê-las enquanto era forçado, muito provavelmente por Sans, a se manter calado para não despertá-la. Tão adorável como sempre, Frisk soltou uma leve risada com sua imaginação.

Eu, o Grande Papyrus, fiquei sabendo por Sans o que aconteceu ontem e devo admitir que fiquei bastante surpreso. Eu gostaria de saber mais sobre a história de sua família biológica, mas sei que precisa de tempo para processar toda situação, por isso sinta-se a vontade para ficar em nossa casa o tempo que for preciso sem se preocupar com nada. Aliás, Sans pediu-me para não despertá-la, mesmo que o horário de sua aula já tivesse passado há muito...

Frisk abriu os olhos até não poder mais. Quantas horas? Por quanto tempo havia dormido?

Despertada completamente por consequência da adrenalina, Frisk procurou pelo quarto onde poderia ter ido parar seu telefone, encontrando-o não muito tempo depois dentro do bolso da enorme jaqueta negra que ainda usava. Provavelmente o havia colocado ali assim que foi acomodada no sofá. Deveria ter conferido as horas no dia anterior e em seguida caiu no sono pelo cansaço e estava cansada de mais para se quer lembrar.

Seja como for, sentiu seu coração cair em seu peito quando reparou nas horas. 15:45, era tarde de mais para qualquer aula em sua escola, elas já haviam terminado. Frisk não poderia acreditar que ela havia perdido todas as aulas! Qual era a louca ideia de Sans de deixá-la dormindo durante o dia inteiro?!

Você parecia realmente cansada, então não discuti com ele. Mas não tema, cara amiga! Sans ligou para sua mãe e informou a situação, por isso você foi liberada das aulas de hoje. Infelizmente, eu, O Grande Papyrus, não poderei ficar com você, por mais que saiba que essa era sua vontade. Sans, no entanto, estará em casa durante todo o dia e você pode pedir qualquer coisa a ele.

Tenha um ótimo dia,

Com carinho, seu melhor amigo Papyrus.

Ps: Caso Sans faça-se de preguiçoso para qualquer coisa que você precisar é só dizer a mim e darei um jeito nele logo que chegar! Nyehe!"

 Com um suspiro resignado, Frisk deixou a pequena nota sobre o criado mudo novamente, o corpo relaxando sobre a cama e deixando-se cair no travesseiro novamente. Seus olhos dourados encararam por um tempo o teto do quarto, reparando algumas estranhas rachaduras aqui e ali... Não pareciam bem rachaduras, mas Frisk não estava com cabeça para pensar nisso agora, sua mente estava repleta dos acontecimentos do dia anterior, tentando assimilar se realmente havia sido real ou se não passava apenas de um terrível sonho.

Levando em consideração a nota de Pap, tudo era real e Frisk teria que simplesmente viver com isso.

Sua atenção então voltou-se para a tela de seu celular, apenas procurando alguma coisa que pudesse distraí-la por, pelo menos, alguns segundos. Reparando então por volta de cinco mensagens não lidas apenas durante a parte da manhã. Ela não tinha nada a perder por lê-las, mas ainda sentia-se hesitante por algum motivo.

Eram apenas mensagens, estaria tudo bem em lê-las.

A primeira, por sua vez, era de Toriel, sua mãe:

Frisk, queria, eu e seu pai estamos bastante inquietos com todos esses acontecimentos e ficamos extremamente gratos por Sans e Papyrus terem a gentileza de cuidar de você enquanto tentamos resolver esse pequeno incidente. Eu sei que tem muita coisa para explicar, minha criança, e sei que está com medo do que virá, mas saiba que não importa o que houver sempre seremos sua família e teremos um lugar especial para você ficar.

Te amo.

O sorriso caloroso se desenhou lentamente pelo rosto de Frisk, lágrimas a acumularem-se em seus olhos. Todavia, não deixou que escorressem, fungou e passou para a próxima mensagem, sendo de ninguém menos que Mettaton.

Oh, Darling! Pap acabou de me dizer o que está acontecendo! Me sinto tão mal por não poder estar aí para ajudá-la agora, nem ao menos sei o que fazer em momentos como esse. Assim que eu tiver uma brecha em minha agenda eu vou direto ao seu encontro, não tenha duvidas disso! Essa estrela nunca deixa seus amigos na mão!

Em seguida vinha uma de Alphys. Frisk havia compartilhado seu numero com ela depois de uma das várias sessões de teste, ajudaria a entrar em contato caso tivesse algum problema nas horas seguintes. Aparentemente também acabou servindo como um meio de apoio:

Olá Frisk. Sans e Mettaton me explicaram o que aconteceu e porque não vai participar hoje dos testes. Eu tenho certeza que tudo vai dar certo, apenas não desista, ok? Comunique-se comigo sempre que quiser alguém para conversar ou venha para a minha casa quando puder para podermos distrair um pouco, certo? Tenho certeza que Mettaton e Blooky serão felizes com sua presença.

Ps: Blooky está inseguro se deve te mandar uma mensagem ou não, ele está muito preocupado com o fato de você não ter ido na aula hoje.

Voltando sua mente para Blooky e Tinn, Frisk torcia para que os costumeiros valentões tivessem dado uma trégua para eles naquele dia. Ela sabia que isso era improvável, mas não custava ter esperanças. A próxima mensagem era de Undyne:

Hey Punk, fiquei sabendo do problema. Asgore veio conversar comigo hoje a procura dos documentos que mostravam que ninguém havia dado queixa por seu sumiço quando você era uma criança. Ele não me disse muitos detalhes, mas parece que a situação é séria, você está bem? Saiba que estou aqui para qualquer coisa que precisar, mesmo que for apenas para bater alguns idiotas para fora de seu caminho!

Não se preocupe Punk, seja o que for que está acontecendo, confie em Asgore para resolver. Ele é o prefeito da cidade não por nada e ama cada um de vocês.

A ultima mensagem era de Tinn. Era um pouco engraçado imaginá-lo mandando algum tipo de texto para outra pessoa quando não possuía braços, mas Frisk sabia que ele deveria ter pedido ou sua mãe ou a Blooky para enviar por ele.

Ei Frisk, você não foi na escola hoje, aconteceu alguma coisa? Você não costuma faltar, na verdade, não me lembro da ultima vez que você faltou a aula. Estou preocupado, me mande uma mensagem explicando assim que puder, ok?

As lágrimas não poderiam ser mais contidas, Frisk sentiu-as escapar para a lateral de seu rosto em um fluxo constante enquanto as mãos que seguravam o telefone tremiam ligeiramente. Ela deveria ter imaginado que receberia aquilo, ela deveria ter adivinhado o carinho de todos para com ela mesmo nessa situação tão confusa, na qual a única que tinha as verdadeiras respostas era ela própria. Mas ver, ao vivo e a cores, a preocupação que todos estavam para com ela era mais intenso do que simplesmente saber como todos deveriam estar se sentindo.

E Frisk sentia que tudo estava bem, apesar das circunstâncias, ela não tinha nada com o que se preocupar ou temer. Todos estavam ali para ela, para apoiá-la e erguer uma mão em ajuda sempre que ela precisava. E a emoção em seu peito era tão grande, as lágrimas não queriam parar, mesmo que passasse as mangas da jaqueta sobre o rosto o fluxo continuava, o sorriso nunca deixando seu rosto, porém.

Demorou alguns poucos minutos para ela finalmente recompor a compostura e então erguer-se da cama. Ela não poderia ficar parada durante todo o dia, ela tinha certeza que Sans estava logo no andar de baixo apenas esperando que ela abrisse os olhos para explicar toda aquela situação. Ela deveria ter deixado tudo extremamente confuso e não o culparia por querer aprofundar-se mais na questão. Ela teria que responder alguma hora, cavar seu passado e trazê-lo de volta a luz para que todos pudessem ver.

Era tão feio... Ela não queria, mas deveria.

Respirando profundamente, Frisk finalmente reuniu a coragem para abrir a porta do quarto e descer as escadas até a sala. Passos leves, apenas calçados de meias, deslizaram pelos degraus até o primeiro andar, passando pela sala a caminho da cozinha onde provinha o leve ruídos de pratos sendo movidos de um lado para o outro. Deteve-se apenas um breve momento para acariciar Toby, que mantinha-se acomodado no tapete próximo ao sofá, para por fim chegar a porta da cozinha, encarando o lado de dentro com atenção.

— Não sabia que poderia cozinhar. - os olhos azuis deixaram a panela fumegante a frente para voltar-se para ela, avental de Papyrus envolvendo seu tronco enquanto ele mantinha uma talher em movimento dentro da panela a qual mantinha no forno. Um enorme sorriso surgiu em seu rosto pálido assim que a viu, disfarçando muito bem algumas olheiras debaixo de seus olhos, Frisk não chegou a repará-las enquanto concentrava-se em manter a agitação em seu estomago quieta.

— Boa tarde, bela adormecida. Estava começando a pensar que só levantaria durante a janta. - zombou o rapaz, olhos voltando-se novamente para o cozido a sua frente. - Tome acento, logo vai estar pronto e você deve estar morrendo de fome. E não espere grande coisa, eu não sou tão bom quanto Pap.

— Tenho certeza que o suficiente para casar. - brincou Frisk, rindo levemente ao ver o notório embaraço que o pobre rapaz havia ficado assim que ouviu suas palavras. Valia tanto a pena flertar com ele as vezes, era mais como um jogo entre os dois, apesar dos sentimentos verdadeiros que Frisk tinha para com o albino. - Qual o cardápio?

— Sopa. - simples, prático, Frisk não poderia negar que era um tanto engraçado saber que Sans talvez não era capaz de cozinhar algo mais complexo do que sopa, mas isso não importava realmente. - E que ideia é essa de casamento? Sou um homem livre, garota e você sabe.

— Você tem uma namorada, Sans. Liberdade não está mais em suas definições.

— Ouch! Eu tinha me esquecido, mas não vamos falar desse tipo de coisa sem importância. Vá se sentar que eu vou servir-lhe um prato.

Frisk assim o fez, acomodando-se no sofá enquanto esperava que Sans aparecesse com a comida pronta, não tardando mais do que alguns poucos minutos depois. Ele tinha posto um para ele também, ambos agora comendo em silêncio na sala enquanto preparavam-se para o que se seguiria. Frisk, por sua vez, sentia-se um pouco insegura em continuar, ela pensava seriamente em enrolar sobre o assunto, deixá-lo cair e morrer por tanto tempo quanto possível, pelo menos até conseguir reunir quais eram as memórias de seu passado dessa dimensão e não nas outras.

Ela tinha vários diferentes passados, várias diferentes famílias, algumas boas e outras ruins. Existiam os mundos em que Frisk não tinha pais, orfanato era sua casa. Outros ela tinha apenas um deles. Algumas vezes os dois e nenhuma de suas memórias eram muito boas quando isso acontecia. Eram raros os universos nos quais Frisk realmente se via em uma família feliz e acidentalmente caia no enorme buraco no Monte Ebott. E para seu pesar, esse universo não fazia parte dos poucos últimos e por tal Frisk havia fugido de casa quando nova.

Uma criança só tinha dois motivos para realmente correr para fora dos abrigos de seu lar: O primeiro era por pura cólera infantil que prontamente esfumava quando via que voltar era sua melhor opção; a segunda era quando o lado de fora era bem melhor do que o lado de dentro. Frisk teve sorte de encontrar uma família boa, ela nunca pensou que tal situação pudesse se reverter dessa maneira.

— Frisk. - seu nome saiu em um suspiro pesado, os olhos dourados subindo de seu prato vazio para encontrar-se com duas esferas azuis, tão gentis e carinhosas que a fizeram derreter-se por alguns instantes antes de voltar a si. Ele levou uma mão a seu rosto, ambos sentados um de frente para o outro no sofá, as mãos grandes e calosas de Sans contornando delicadamente a maçã de seu rosto, deslizando até sua orelha e então descendo para a nuca, o arrepio inevitável subindo por sua espinha com cada leve contato. Todavia se ele estava a usar seu nome e não o apelido que a havia dado, significava que estava a ser sério sobre o assunto. - Sei que não deve ser fácil para falar sobre isso, mas não pode mais manter escondido. Eu juro que se a situação não mandasse eu nunca te exigiria para contar isso tão abruptamente.

— Sans, isso... Isso não é...

— Não me diga que não é nada, Frisk. Eu vi seu medo, eu estava do seu lado e tenho certeza que mesmo que não estivesse poderia claramente ver que você estava apavorada. Alguma coisa aconteceu entre você e aquelas pessoas e você mesma me disse, uma vez, para não segurar meus problemas para mim mesmo, para me abrir com quem se preocupava comigo. Eu me preocupo com você, Frisk. Então, por favor, fale comigo. - o silêncio acompanhou seu discurso, Frisk desviando seus olhos para qualquer outro ponto que não fosse o rapaz a sua frente. Sans, por sua vez, suspirou cansado. - Eles pelo menos eram seus pais, Frisk?

— S-sim... - sua voz falhava, a mente tentando manter apenas os eventos desse universo, espantando os outros. Mas era tão difícil...

— Se você tem uma família biológica viva, então como foi parar na custódia de Asgore e Tori?

— Eu fugi de casa. - Frisk se encolheu no sofá, joelhos puxados para o peito e braços envolvendo as pernas. O queixo desapareceu entre os joelhos, olhos baixos encarando suas próprias meias encardidas. A jaqueta de Sans era tão confortável, cheirava a ele, o estranho cheiro de cigarro e madeira queimada. - Isso já tem sete anos. Eu tinha apenas dez quando simplesmente corri para fora de casa acreditando que qualquer lugar era melhor do que permanecer ali. Nenhuma criança merecia aquilo, Sans, e eu apenas fui descobrir quando consegui a mentalidade necessária para perceber que meus colegas de classe não apresentavam os mesmo hematomas que eu ou as mesmas histórias que as minhas. Eu não sei quando o abuso começou, eu não sei como sobrevivi quando era apenas um bebê, talvez eu tive apenas sorte.

Sans manteve-se calado, observando atentamente a garota a sua frente, mãos apertadas em punhos próximos ao sofá enquanto seus ombros mantinham-se rígidos. Ele sabia, a partir do começo daquela história, que ele não gostaria nada do que estava prestes a ouvir.

— Aquela mulher, ela é uma alcoólatra compulsiva, na maioria de minhas memórias ela estava alterada de alguma forma. O homem casado com ela é um cafajeste drogado viciado em prostitutas, mais de uma vez eu lembro de ter escutado sons estranhos vindos de seu quarto, mas eu era muito nova para compreender do que se tratavam e por que aquela mulher sempre dormia no sofá. Já o filho deles... Aspirante a marginal, sabe como é. Muitas vezes ele tocava em mim de forma estranha, mesmo quando tinha apenas cinco anos...

— Frisk, ele é seu irmão de sangue. — Sans parecia horrorizado. Para ele era o mesmo que se imaginar tendo algum tipo de atração por Papyrus, completamente intragável. Ele podia sentir o mal estar em seu estomago agora, ele sabia a justificativa de todos aqueles olhares para cima de Frisk no dia anterior.

— Eu sei. Imagina como fiquei depois de saber que esse tipo de contato não era normal. - Frisk sorriu sem jeito, triste por ter que contar isso para a pessoa que ela menos queria que soubesse. Ela se sentia tão suja agora...

— Ele chegou a...

— Não, felizmente não. - Sans suspirou, os ombros relaxando um pouco, reparando em seguida no tremor dos próprios ombros da garota, o rosto agora encoberto pelos joelhos. - Eu sentia tanto medo. Cada noite, cada dia. Eu poderia morrer de fome, ou eu poderia morrer em um dos momentos de ataque daquela mulher. Ela não gostava de meus olhos, os olhos de seu pai, o mesmo que a havia abandonado junto com a mãe antes dela nascer. Eu tinha medo de dizer ou fazer alguma coisa errada e ser punida. Eu tinha medo de denunciar o que meu irmão fazia e ele tentar pior na próxima vez. Eu tinha tanto medo de tudo... Até o momento que não aguentei mais, eu apenas tinha que ir embora, qualquer lugar era melhor... Eu apenas... Não queria estar mais ali!

Frisk soluçou, o acumulo de emoções subindo para sua garganta, formando um nó tão firme que quando as lágrimas começaram a descer e a respiração a acelerar qualquer som que escapasse por sua garganta saia estrangulado. As memórias se misturavam, ficavam mais nítidas agora que havia puxado-as para contar, tudo passando como um terrível filme de terror o qual ela não queria mais assistir. Sans não tardou a puxá-la para um abraço firme, embolados no sofá de qualquer maneira, rosto de Frisk enterrado na curva do pescoço de Sans enquanto ele a apertava firme, dedos enroscando-se nos cabelos castanhos curtos, embalando-a da forma mais carinhosa possível.

— Eu não quero voltar, Sans! Eu não quero! - chorava, a voz engasgada pelos soluços, segurando-se com força na blusa branca folgada do rapaz.  

— Eu sei, sweetheart. Eu sei... - ele sussurrou, escondendo-a em seus braços, como se apenas aquele simples ato pudesse afastá-la de todos esses medos e inseguranças, desse problema que inesperadamente havia batido em sua porta. Ele não pensou, em nenhum momento em que a havia conhecido, que ela poderia ter passado por qualquer coisa... chocante. Ele supôs, por seu jeito alegre e inocente, que ela havia vivido sua vida em um mar de rosas e não conhecia a brutalidade que o mundo poderia ser. O quão errado ele poderia ter estado em seu julgamento? - Mas não é para mim que você tem que dizer isso. - ele ergueu seu rosto com as mãos, encarando-a com seriedade apesar de ainda ter carinho em seus olhos, polegares a limpar as lágrimas que mantinham-se a escorrer. - Seus pais, Asgore e Toriel, devem saber disso. É você que tem que escolher onde quer morar e que se foda o que aquela mulher estúpida pensa. Eu tenho certeza que os dois estariam mais do que dispostos a lutar por você. Agora sem mais choro, sweetheart, sabe que me parte o coração te ver assim.

— Obrigada, Sans. - Frisk murmurou, agarrando-se novamente ao rapaz e escondendo seu rosto em seu peito, tentando sentir-se o mais próxima possível. Os braços fortes de Sans envolveram-na com força, enroscando-se em seus ombros e cintura, dando a volta com facilidade por seu corpo magro. Ela o ouviu rir, o ato vibrando em seu peito de uma forma que Frisk passou a apreciar.

— Não tem nada o que agradecer, sweetheart. Eu não fiz nada.

— Você me ouviu e manteve-se ao meu lado. Isso já é muito.

— Eu sempre vou estar ao seu lado, sweetheart. Sempre. - ele afundou seu próprio rosto no topo da cabeça da morena em seus braços, sentindo o doce cheiro que desprendia das madeixas castanhas. Ele estava completamente e perdidamente apaixonado por aquela garota. Ele nunca apreciou tanto um contato ou um carinho desde a morte de sua mãe, ele nunca amou tanto um sorriso, mesmo o de Pap não causava-lhe tal alegria de ver como o dela fazia. Ele queria mantê-la feliz, protegida... Ele faria tudo para que ela estivesse bem. Ela seria seu fim, mas ele desejava que pudesse ser um começo também.

Seu celular vibrou no braço do sofá onde se escorava, ele não se incomodou em olhar ou verificar o que poderia ser. O aparelho permaneceu a vibrar, movendo-se de seu lugar e por pouco não caindo ao chão. Sans nem ao menos moveu-se de sua posição, era como se o aparelho nem ao menos existisse.

— É sua namorada. - Frisk murmurou, um pequeno sorriso desenhado em seus lábios. Sans deu de ombros, sem soltá-la ou fazer um movimento para pegar o telefone. - Sans.

— Deixa ela insistir. Você é mais importante no momento. - ele murmurou, poucos minutos antes de finalmente o maldito aparelho parar de vibrar, a pessoa do outro lado da linha finalmente desistindo de sua atenção. Sans sorriu. - Então, uma sessão de animes para esquecer a tristeza?

— Com pipoca e refrigerante?

— Tudo o que quiser.

— O que estamos esperando?! - Sans sorriu ao ver sua animação, prontamente levantando-se para pegar os lanches enquanto Frisk já punha-se a preparar os animes.

Toriel foi buscá-la no começo da noite naquele mesmo dia, um pouco depois da chegada de Papyrus na casa e quase matar Frisk com sua atenção constante. De volta ao lar, a pequena morena reparou que nada tinha mudado, até mesmo o sentimento de acolhimento permanecia do mesmo jeito, intocável e imutável, como se o encontro do dia anterior nunca tivesse acontecido. Ela aceitou com prazer os abraços apertados de seus pais, mantendo o pensamento determinado de que eles eram seus verdadeiros pais e, independente do que viesse a diante, eles continuariam sendo isso. Frisk os amava, e eles a amavam, era um fato irrefutável.

Naquela mesma noite ela contou a eles o mesmo que tinha dito a Sans, afirmando que não queria voltar, que queria estar com eles, que eles eram sua família.

No dia seguinte o julgamento por sua custodia havia sido marcado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que não detalhei muito o passado da Frisk, mas leve em consideração que ela tem vários, pelo simples detalhe da fusão das dimensões e por consequência de várias almas de outras Frisks em uma só. Ela tem as memórias de cada uma delas e pode ser um pouco confuso separar qual é qual. Desculpe não ter deixado isso claro, mas vou compensar com o passado do Sans (infelizmente espalhado depois do capitulo 22...)
Espero que tenham gostado. Ah! Eu tinha dito que 15 e 16 seriam duplos e que seria onde rolaria o beijo. Entretanto com o especial eles subiram para o 16 e 17. Eu informei que o Especial não era bem esperado a ser feito, então ele meio que me embolou nessa numeração. Oh bem, continuando em frente.
Mantenham-se determinados, semana que vem tem mais!
Até!