FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 14
Sucesso e má notícia - 122 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela confusão nos capitulos passados, eu me embolei completamente. Mas bem, estamos aqui com mais um capitulo de Fusion, vocês são tão lindos com seus comentários (que eu tenho que responder urgentemente se meu tempo não estivesse tão corrido... Oh deuses...)
Espero que aproveitem esse cap!



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FusionTale - Sucesso e má notícia - 122 dias para Reset

Os dias se passavam tão rápido que logo se transformavam em semanas e de semanas passavam a ser meses. O aniversário de dezoito anos de Frisk estava se aproximando e junto com ele vinha o vestibular para a faculdade e as férias de verão. Já fazia quase um ano que Frisk estava naquela dimensão, sentindo a onda de expectativa e novas emoções que apertavam-lhe as entranhas de tal maneira que ela poderia jurar que iria desmaiar. A vida de adulto estava a bater-lhe a porta e ela não sabia exatamente o que esperar, era tão nebuloso e sombrio quanto era emocionante e esperançoso.

Ela ainda não havia escolhido qual curso queria fazer. Ela já sabia que tentaria a faculdade que seu irmão, Asriel, frequentava, a única de Ebott. Não por falta de opção ou medo de ir para longe, mas por saber perfeitamente que Ebott tinha uma das melhores instituições de ensino de todo o estado, assim como um dos melhores centros de pesquisa. Frisk ainda tinha que se preocupar com suas ultimas provas de ensino médio que estavam se aproximando, apesar de suas notas ainda estarem boas não significava que deveria desmerecer as ultimas provas.

Como se não fosse o suficiente, Frisk deveria dividir seu tempo de estudo com as atividades do laboratório. Sans havia começado a ensinar-lhe como exatamente deveria tentar expressar sua magia e a aconselhou a só treinar quando estivesse no laboratório sobre sua supervisão. Sua alma podia ter a quantidade de magia suficiente para começar a liberá-la, mas ainda era incerto se seu corpo poderia realmente suportar a mudança. Seria mais seguro fazê-lo em um ambiente controlado em que poderiam garantir manter tanto seu corpo como sua alma estável.

Falando em Sans, Frisk também tinha seus problemas com ele. E não era como se estivessem com algum problema em seu relacionamento, na verdade, era totalmente pelo contrário. Depois do incidente em que Frisk foi buscá-lo na delegacia eles apenas se viam a aproximar-se mais e mais um do outro, tornando-se, na mais simples das palavras, melhores amigos. Era muito comum agora vê-los juntos, seja porque Sans foi buscá-la na escola ou porque Frisk foi procurá-lo para que pudessem sair para algum novo lugar que ela queria. Frisk pegou o costume de ir com ele até o Grillbys, enquanto Sans havia tomado um gosto particular pelos mesmos doces favoritos de Frisk que vinham da loja de Muffet.

E como se já não bastasse isso, Frisk agora passava mais tempo na casa dos irmãos, seja para cozinhar com Pap, fazer o dever de casa com Sans ou ajudar-lhe a estudar, ou simplesmente para ver filmes e comer guloseimas. E apesar de tudo isso o problema estava exatamente no simples detalhe que Frisk sentia mais do que apenas amizade por Sans, mesmo que tivesse um bom convívio e Frisk estivesse feliz com ele, nunca parecia ser realmente o suficiente. E para piorar a namorada de Sans não parecia gostar muito dela...

Não era uma surpresa, no entanto. Sans tinha a mania de dar mais atenção a Frisk do que a ela, mais liberdade e definitivamente mais carinho. Parecia que Sans estava com ela apenas pelo sexo enquanto estava com Frisk porque ele gostava dela. E incomodava terrivelmente os olhares de desgosto e ciúme que eram lançados em sua direção sempre que, por alguma casualidade da vida, elas estavam na casa dos irmãos durante o mesmo momento. O único desejo de Frisk nessas horas era correr para longe do lugar.

E ela já havia tentado concertar a situação, dizendo para Sans tratá-la melhor e dar mais atenção a ela, no entanto, tudo que recebia era um dar de ombros despreocupado e uma mudança de assunto rápida. Isso foi a dica necessária para um "não interfira em sua vida amorosa", e quem era Frisk para insistir? Sans deveria saber o que estava fazendo, ele era um adulto afinal. E ainda era dolorido para Frisk ver os dois juntos, nas poucas trocas de carinho que faziam. Frisk nunca foi ciumenta, mas ver tais momentos davam-lhe uma sensação dolorida em seu peito, um anseio de ter aquilo que não poderia.

E tudo bem, ela ainda assim sorria. Se Sans estava feliz ela também estaria, por mais que doesse.

Naquele dia, logo depois da escola, Frisk passou o restante de seu tempo com as crianças da sala de Toriel. Sua mãe parecia infinitamente agradecida por sua ajuda, cuidar de vinte crianças era um esforço tremendo e ela já não era mais tão jovem. Frisk ficava feliz em ajudar, ela gostava de brincar com as crianças, gostava de estar com elas e até mesmo de tentar ensiná-las a linguagem gestual para que pudessem entendê-la sem precisar do pequeno bloco de notas que carregava.

No meio do tempo, no entanto, Frisk recebeu uma mensagem de Sans informando que iria buscá-la para que pudessem ir ao laboratório juntos. Ele não tinha ido lá mais cedo, seu trabalho agora era apenas ensiná-la magia, nada mais e ele não parecia se importar muito com isso. Frisk, por sua vez, informou-lhe onde estava, recordando-se pouco depois de enviar a mensagem em que dia estavam.

Droga, Sans tinha um encontro com a namorada hoje. Deveria estar na metade dele e mesmo assim ainda lhe mandava mensagem, isso com toda certeza não ajudaria em nada em seu relacionamento com a namorada dele. Não que Frisk realmente se incomodasse com isso, ela não gostava da namorada de Sans. Era o tipo de garota que Frisk sinceramente gostava de manter distância. Que criticava as pessoas pelas costas e adorava causar confusão, o tipo de pessoa que era melhor não se envolver e que entrava na lista de "péssimas escolhas de namoradas de Sans" feita por Papyrus. A garota também não gostava de Pap, assim como Pap não gostava dela, mas pelo menos Pap era cortês e Frisk já via o momento que Sans iria estourar com o tratamento rude que ela dava a seu irmão.

Bem, Frisk estava esperando ansiosamente por esse momento.

De qualquer maneira a garota permanecia sendo a namorada de seu melhor amigo e Frisk não queria forçá-lo a ter que escolher entre amigos e namorada, seria injusto com ele. Por tal, Frisk tentava não demonstrar sua aversão com relação a garota e procurava incomodá-la o menos possível. Mas parecia que não estava funcionando muito bem, a garota permanecia a odiar Frisk.

Frisk não poderia fazer nada quanto a isso agora.

Foi quando o sol quase começava a se por quando Sans finalmente apareceu, tão tranquilo e despreocupado como era de se esperar de sua pessoa, a cicatriz enfeitando sua face dando-lhe um ar um pouco mais sombrio, mas ainda quebrado pelo sorriso constante e relaxado. Como ainda teria que esperar até a saída Sans apenas sentou-se em um canto qualquer, bem acomodado para ver Frisk ajudando sua mãe com os afazeres. Ele não entendia como as duas poderiam se dar bem com aquelas coisinhas pequenas, claro, ele tinha basicamente cuidado de Papyrus enquanto seu pai estava no trabalho muitas vezes, mas Pap sempre foi um caso diferente. Sans sempre soube como lidar com ele, mas com outras crianças... Ele definitivamente era uma negação.

Todavia, era divertido ver Frisk dando seu melhor. Nesses momentos era quase impossível vê-la como uma irmã mais nova, a que deveria ter sido mimada e cuidada com atenção. Naqueles momentos era mais fácil vê-la como uma boa irmã mais velha que tomava conta de seus irmãzinhos enquanto a mãe estava fora ou precisava fazer alguma coisa na casa. Mesmo com sua determinação em não falar ela conseguia fazer as crianças entenderem o que queria. Era uma visão deveras agradável, totalmente cativante.

Oh! Droga ela não veio de saia. Bem, sem visão privilegiada dessa vez. Ele realmente deveria pensar em subornar esses garotos para ajudá-lo nessa questão.

— Bye bye, irmãzona! - acenou uma garotinha próxima a rua, ela provavelmente a atravessaria para caminhar até em casa. Porém o sinal ainda estava aberto, teria que esperar para que pudesse realmente passar. Frisk acenou de volta, um enorme sorriso em seu rosto enquanto mantinha uma de suas mãos nos fios loiros do pequeno garoto que não desgrudava-lhe da perna.

Resto se passou demasiadamente rápido para realmente dar tempo de alguém reagir.

A pequena garota tropeçou no que parecia ser uma raiz de planta emaranhada em uma rachadura na calçada, o corpo desequilibrando na direção da rua ainda movimentada. Frisk agiu como um relógio, o corpo movendo-se mesmo antes de conseguir realmente pensar no que exatamente estava acontecendo, desprendendo-se do garoto que segurava sua perna e correndo para a pequena que agora cambaleava para o começo da rua. Nem mesmo Sans, que tinha sempre um bom reflexo para determinadas situações, conseguiu evitar o passo seguinte, observando horrorizado Frisk puxar a garota pela mochila de volta para o passeio, entretanto, ela mesma mantendo-se na rua, provavelmente por não conseguir controlar muito bem sua própria velocidade.  

Frisk observou o carro se aproximar, os olhos dourados abrindo-se pela surpresa. Logo em seguida veio a dor, o forte choque entre seu corpo e o metal do carro, empurrando-a para longe. Ela sentiu os ossos quebrando e o corpo arrastando pelo chão antes de finalmente não sentir mais nada. Foi como se, pela quantidade de dor, seu corpo não conseguisse processar o que estava acontecendo e simplesmente desligasse, levando-a a um estado de dormência que pouco a pouco a carregou para longe.

Ela conhecia o sentimento. Era o sentimento de morrer, de ser tragada pelo cansaço repentino e pela escuridão acolhedora. Ela nunca tinha morrido em um acidente de carro, pelo menos não que se recordasse, mas já teve experiências semelhantes ou até mesmo piores. Comparada com ser empalada por lanças que apareciam magicamente do chão ou perfurada por centenas de ossos de uma só vez, aquela morte era tranquila, refrescante até.

Depois foi como um respirar profundo. Como se tivesse acabado de sair de uma piscina depois de passar vários minutos prendendo a respiração debaixo d'água. Frisk estava de volta ao lugar onde estava antes, o pequeno garoto loiro preso em sua perna enquanto a pequena que antes quase foi atropelada ainda acenava-lhe com um enorme sorriso. Frisk sabia que aquilo havia sido um save, mas ela não poderia retirar a sensação incomoda da incerteza de que nessa dimensão ela poderia ter feito aquilo.

Seu corpo então voltou a se mover, a preocupação enchendo a boca de seu estomago, bem sabendo que deveria evitar o acidente. Todavia, antes que pudesse se quer dar o primeiro passo a pequena garota foi envolvida por uma luz azul, erguendo-a do chão e levando-a para longe da beirada da estrada.

Com confusão, Frisk procurou Sans. Ele havia erguido de seu lugar, seu olho esquerdo cintilando em magia enquanto sua mão parecia estar envolvida no que se assemelhava a fogo azul. Ele trouxe a garota para perto, colocando-a de volta para o chão antes de bagunçar-lhe os cabelos.

— Não deveria distrair-se tão perto da rua. Pode acontecer algum tipo de acidente. - aquilo foi a confirmação. Sans tinha noção do save, mesmo que fosse apenas uma leve sensação de Dejá vú, ele conseguia recordar-se dos acontecimentos. Então por que ele não lembrava-se do reset? Das outras dimensões? Será que nesse universo existia um limite para suas memórias? Ele só poderia identificar o save? Se houvesse outra redefinição, ele se recordaria? - Ei, sweetheart. Acho que já podemos ir.

Seu sorriso estava tenso, suas mãos estavam agora bem fundas em seus bolsos, ele não parecia bem. Frisk assentiu, ainda um pouco atordoada pelos acontecimentos. E se ela não pudesse carregar? Aquele teria sido seu fim. Foi um pensamento impulsivo, mas agora, pelo menos, ela sabia que poderia voltar, enquanto tivesse determinação ela poderia voltar.

E isso era bom?

Por sua vez, Sans definitivamente não se sentia bem. Ele tinha aquela terrível sensação em suas entranhas de que era para alguma coisa definitivamente ter dado terrivelmente errado, mas ele havia impedido. Seus olhos azuis vagaram de volta para o concreto do passeio onde antes a pequena garota estava, reparando o rápido desaparecimento da raiz de entre a rachadura ainda visível. Ele reconhecia os indícios, era magia. Uma magia de controle das plantas. Mas quem faria algo assim?

Por algum motivo Sans encarou o pequeno garoto loiro ainda grudado em Frisk, seu sorriso não mais tão inocente como queria aparentar. Ele sabia, aquele garoto não era o que aparentava ser e Sans tinha certeza que deveria manter um de seus olhos focados nele. Sabia que ele não desgrudaria de Frisk, e Sans temia por ela. Ele não deixaria que nada acontecesse com Frisk, ele a iria proteger.

Ainda um pouco tenso, Sans teletransportou os dois para o laboratório, caminhando por seus corredores até a pequena sala onde eles estavam trabalhando durante esses últimos meses. Sans não teve a confiança nem o coração de soltar a mão de Frisk durante todo o caminho, a terrível sensação de perda ainda preenchendo seu interior como um veneno de insegurança. Gaster chegou a encará-lo com suspeito, mas não comentou. Fato que Sans agradecia, ele não saberia explicar exatamente o que estava acontecendo.

Ambos entraram na sala vazia.

— Pronta para começar, Sweetheart? - Frisk assentiu, um enorme sorriso em seus lábios. Ela estava começando a sentir a diferença, as faíscas de magia percorrendo seu corpo com mais força do que normalmente ela estaria sentindo. Ela sabia que estava bem próxima de conseguir usar seus poderes, ela sabia que o experimento daria certo, ela só precisaria tentar com mais determinação. - Ótimo, vamos começar pelo básico novamente. Você já sabe que a magia reage a emoções, certo? - Frisk assentiu novamente. - Então pense em alguma coisa que desencadeie uma forte emoção. Pode ser uma memória, um objetivo, qualquer coisa. Assim que a emoção vier, ao mesmo tempo, você vai sentir o fluxo de magia correndo por seu corpo com bem mais quantidade do que está acostumada, nesse momento, quero que concentre ele em apenas uma parte de seu corpo e tente liberá-lo para fora. No entanto, é bem comum não conseguir liberá-la de primeira e a magia vai continuar a se acumular, isso pode causar um pouco de dor. Quando isso acontecer quero que me avise imediatamente, eu vou tentar conter seu fluxo de magia e obrigá-lo a fluir para outras regiões e assim não sobrecarregar seu corpo, entendido?

Frisk assentiu novamente, determinação borbulhando em todo seu ser. Ela fechou os olhos e tentou concentrar-se em alguma coisa, mas era difícil quando não tinha ideia do que exatamente poderia desencadear uma forte emoção. Frisk vivia sempre com sua determinação no máximo, se ela fosse a que desencadearia sua magia já deveria ter acontecido há muito tempo. Ela precisava de alguma coisa que pudesse passar seus limites, ela precisava de uma emoção verdadeiramente forte.

Ela procurou em memórias de todas as dimensões, mas nenhuma realmente parecia afetar-lhe toda sua alma, apenas uma pequena parte. Ela procurou em seus objetivos, mas ultimamente tem sido apenas viver pacificamente, fato não muito difícil de se conseguir. Ela procurou em cada recanto de sua mente, tudo que poderia pensar ou que nunca imaginaria. Procurou em suas memórias recentes, procurou descobrir qual emoção exatamente poderia usar, procurou em tudo um pouco, mas nada parecia realmente fazer efeito.

Ela estava começando a se frustrar.

— Não se apresse, sweetheart. Isso vem com o tempo. - comentou divertido Sans, seus olhos avaliando a garota que tinha a frente com bastante atenção. Um pouco do seu desconforto anterior havia desaparecido, mas ele ainda estava alerta.

"Como você liberou sua magia, Sans?" perguntou Frisk. Eles não teriam mais que manter-se de mãos dadas. Gaster pensou que a alma de Frisk já tinha magia suficiente para trabalhar por sua própria conta e que acrescentar mais apenas poderia prejudicá-la. Agora ela poderia conversar mais abertamente com Sans.

— Eu era muito novo, não me lembro como fiz isso. Ela simplesmente está ali e eu tenho que controlá-la. - respondeu o albino em um dar de ombros. Ele realmente não se importava, era algo tão natural como respirar. Frisk, no entanto, franziu o cenho. - Não me olhe assim, sweetheart. É diferente para cada pessoa e como a sua ainda é induzida e a primeira vez que algo assim é feito podemos esperar qualquer coisa. Mas eu sei que você consegue.

Frisk novamente encheu-se com determinação. Ela queria deixar Sans orgulhoso, ela queria liberar sua magia. Ela também estava curiosa, o que exatamente ela poderia fazer? Ela poderia mover objetos como Sans? Ou ela poderia usar o fogo assim como seus pais? Ela poderia materializar alguma arma, como Undyne? Ela realmente esperava que não. O que exatamente ela seria capaz de usar com sua magia?

— Ei, sweetheart. - Frisk voltou a encarar Sans, seus olhos abrindo ligeiramente mais do que ela realmente esperava. Ela estava tentando acostumar-se a mantê-los abertos, mas era um pouco complicado depois do costume que tinha adquirido em deixá-los fechados. Sans sempre tinha uma reação engraçada quando os via, porém. Era como se engasgasse, perdesse o ar, ela não sabia dizer ao certo. - D-desculpa atrapalhar sua concentração, mas é que a curiosidade já está começando a me matar. Sua voz, eu realmente queria ouvi-la.

Frisk realmente não esperava por essa.

— Eu sei que você tem seus motivos para não falar, mas eu estou realmente curioso. E não pode me culpar. Tenho certeza que muitos tem a mesma curiosidade que eu, afinal, você não é muda.

Frisk ainda hesitou por um tempo. Assim como Sans havia dito, ela tinha seus motivos para não usar sua voz, mas também, esses motivos haviam ficado em seu passado e já não havia mais razões para manter-se muda. Seria complicado se acostumar? Com toda certeza, ao igual seus olhos não era de seu cotidiano usar sua voz, mas ela sempre poderia voltar a comunicar-se com suas mãos. Sem falar que facilitaria muito conversar com alguém se simplesmente falasse, nem todos estavam habituados a linguagem dos sinais. Ela apenas teve sorte que a maior parte de seus amigos fosse capaz de entendê-la.

Mas Frisk estava realmente pronta para usar sua voz?

— Ei, não precisa levar tão a sério. Você não é obrigada a aceitar. - rapidamente disse Sans ao ver o tempo que a garota levava para pensar. Ele era tão idiota, deveria simplesmente aceitar o fato de que talvez ele nunca escutaria a voz da garota a sua frente.

— N-não é c-como se eu pudesse escapar d-disso por muito tempo. - Sans assustou-se, a voz era baixa e vacilante, ainda ligeiramente rouca pela falta de uso, mas só podia ser de Frisk. Seus olhos azuis encararam a garota ainda em pé a sua frente, enorme sorriso no rosto delicado, olhos abertos a encarar-lhe com atenção, uma receita perfeita para fazer o pobre rapaz perder-se um pouco em seus devaneios. - O q-que quer que me fez parar d-de falar está no p-passado e não deveria me afetar mais.

O rosto de Sans poderia muito bem ultrapassar a tonalidade de vermelho. Ele não esperava que ela realmente fosse começar a falar, mas pelos deuses aquela sim era uma voz que ele gostaria de ouvir todos os dias. Era baixa, tranquila, ainda um pouco incerta, mas quando se firmasse... Não existiria coração a se aguentar. Pelo menos o dele não aguentava. Aquela garota definitivamente era seu fim.

— Sans?

— D-desculpe, sweetheart. Eu não esperava que você fosse realmente falar. - definitivamente ele era um idiota. Por quanto tempo havia ficado sem falar? Por quanto tempo havia se mantido apenas a observá-la?

Frisk, por sua vez, sorriu para o albino. Pouco a pouco ela ia deixando seu passado para trás, pouco a pouco ela ia deixando-se levar para novas experiências nas quais ela nunca se imaginou a estar a experimentar e ao mesmo tempo via facetas de Sans as quais nunca imaginou ver. E era tão divertido, tão novo. Ela podia sentir falta do outro universo às vezes, mas ela nunca mudaria o que tinha acontecido.

Esse pensamento... O pensamento de criar mais momentos como aquele, de continuar na incerteza do amanhã, enchia Frisk com tanta determinação que ela mal conseguia contê-la.

  E foi um acidente, Frisk sabia disso. O acumulo de tantas emoções e pensamentos que simplesmente a fizeram transbordar de determinação havia desencadeado o que ela pensou que levaria bem mais tempo. Sua alma simplesmente precisava esvaziar-se de tal quantidade inacabada de determinação, deixando que o excesso fluísse por seu corpo na direção das mãos que responderam com um brilho avermelhado claro. Foi tão rápido, da mesma forma que veio foi embora deixando apara trás o que parecia ser um pingente bastante familiar para Frisk.

Todavia, ela não teve muito tempo para pensar no que exatamente havia acontecido ou no que tinha em mãos. A exaustão percorreu seus músculos logo em seguida, fazendo-a cambalear em seu lugar e por pouco não cair no chão. Graças a Sans, que foi rápido o suficiente para segurá-la, seu corpo havia sido salvo de uma dor a mais a ser acrescentada. Frisk nunca tinha se sentido tão cansada.

— Pelos deuses, sweetheart! Você conseguiu! Você liberou sua magia! - exclamava o albino feliz, seus olhos tão brilhantes quanto o sorriso que mantinha no rosto. Frisk gostaria de comemorar também, mas ela estava cansada de mais se quer para assimilar o que realmente havia feito. O pingente ainda estava em sua mão, um coração dourado que abria-se para revelar o compartimento para duas fotos.

Sans a carregou para fora da sala, bem sabendo que por aquele dia Frisk não poderia fazer mais nenhum teste. A primeira vez do uso de magia era sempre cansativo e gastava mais energia do que o necessário apenas pelo fato de você não conseguir controlar o fluxo que seria usado para um truque considerado simples. Com o tempo, Frisk aprenderia a como controlar o poder que tinha, mas por enquanto exigiria muito esforço de seu corpo e ele tinha certeza que ela precisava de um bom descanso.

— I-incrível! S-sua magia é do t-tipo de criação. - comentou Alphys, procurando ajeitar os óculos em seu rosto, olhos arregalados em surpresa. Frisk tentou sorrir, mas sabia que havia falhado miseravelmente. - Fico pensando no que ela será capaz de fazer depois que tiver mais controle sobre seus poderes. D-dependendo de s-seu nível de magia pode chegar a c-criar criaturas vivas!

— Mas por enquanto ela tem que descansar. A primeira vez drenou muito de sua energia. - respondeu Sans, um pequeno sorriso orgulhoso desenhado em seus lábios. Ele sabia que Frisk era capaz de conseguir e mesmo assim ele não poderia ter esperado um resultado tão rápido. Aquela garota era incrível! - Eu vou levá-la para casa e amanhã veremos se sua alma consegue recuperar o mesmo nível de magia por si própria. Tudo bem para você, Gaster?

"Mas é claro. O melhor agora é esperar, no entanto, estou realmente surpreso que ela tão conseguido tão rápido, nem mesmo se passou um ano desde que começamos o experimento" Gaster parecia animado, seus olhos, tão parecidos aos de Papyrus, reluziam com uma expectativa a qual Frisk nunca poderia medir.

Todos eles estavam tão feliz com o que ela tinha realizado, Frisk poderia sentir o orgulho e determinação novamente rastejando-se por suas entranhas, dando-lhe um pouco mais de força, pelo menos para não cair no sono ali mesmo. Sans a carregava com tanto cuidado, embalando-lhe com carinho e calor... Era quase como um convite para adormecer ali mesmo, sem nem dar tempo para chegar em casa. Sans tinha uma mistura de cheiros que iam desde o cigarro até o de estranhamente de madeira queimada, era um cheiro rústico, bem espalhado e leviano.

Os três ainda conversaram por um tempo antes de finalmente Sans dedicar-se a ir para a casa da garota em seus braços, preferindo por caminhar. Frisk estava fraca agora, seus atalhos tinham o costume de afetar fisicamente aqueles que vinham de "carona" e ele sabia que não era bom piorar a situação de Frisk agora. E, além do mais, Sans estava adorando ter Frisk daquela maneira. Ela não era pesada, e a visão de tê-la a encolher-se em seus braços, praticamente escondendo o rosto em sua jaqueta, era tudo que precisava para que sentisse o nó em seu estomago, a onda de alegria e satisfação contida bem no fundo de seu peito.

— Sans... - a voz manhosa o despertou de seus devaneios. Sans voltou seu olhar para o rosto ainda sonolento de Frisk, sem conseguir evitar o pequeno e carinhoso sorriso que se desenhou em seus lábios assim que a viu.

— Ainda acordada, sweetheart? - Sans a ajeitou em seus braços, o rosto dela agora apoiado em seu ombro, conseguindo sentir a respiração pausada e calma em seu pescoço. Os arrepios subiam sem remédio por sua coluna. - Não se preocupe, estamos quase chegando e você vai ter uma confortável cama para deitar. - Frisk soltou um gemido manhoso, consentindo enquanto uma de suas mãos agarrava com firmeza a jaqueta de Sans. Ela estava confortável a onde estava. - Não vá esperando que eu cante um canção para te ajudar a dormir.

— Acha que Pap vai gostar da minha magia?

— Ele com toda certeza vai ficar eufórico quando souber. - Sans podia facilmente imaginar a reação de seu irmão quando soubesse. Magia de criação não era rara, mas tinha várias possibilidades e ramificações. Pap com toda certeza iria querer treinar com Frisk depois junto de Undyne. Undyne então iria a loucura se soubesse, principalmente se Frisk conseguisse criar armas duráveis. - Mas nem pense em usá-la sem minha permissão ainda! - acrescentou com rapidez, seu tom tornando-se extremamente sério. -  Vai demorar para que tenha completo controle da quantidade de magia que vai usar. Apesar de magia ser parte de sua alma ainda pode ser prejudicial a ela e diminuir seus pontos de HP se não souber como usá-la corretamente. É por isso que sempre que deve existir um tutor que possa controlar a magia do iniciante antes que ele acabe se prejudicando sem querer.

— Eu não vou fazer magia sozinha, prometo. - Frisk aconchegou-se mais nos braços de Sans, a mão deslizando para envolver-se em seu pescoço como um abraço sonolento. Por alguns instantes Sans sentiu-se tenso, sem saber exatamente o que deveria fazer. - Tenho certeza que posso aprender muito mais com você. Afinal, você é o melhor professor que alguém poderia querer.

Sans sentiu seu rosto arder, tanto pelo carinho na fala da garota quanto por sua aproximação. Droga, ela era tão adorável! Definitivamente ele estava perdido, apenas poderia torcer para que Frisk não reparasse no quão acelerado seu coração havia ficado depois do que havia falado.

O resto do caminho se passou em silêncio, o céu já se encontrava escuro quando Sans finalmente encontrou-se de frente para a porta da casa dos Dreemurs. Ele sabia que não seria muito bem recebido carregando Frisk daquela maneira, principalmente se fosse Chara a atender a porta. Conferindo se a garota ainda estava acordada Sans a colocou no chão, mantendo-se perto o suficiente para garantir que ela poderia muito bem manter-se em pé por conta própria antes de finalmente apertar a campainha.

— Tudo bem, sweetheart? Consegue se manter em pé?

— Estou bem, Sans. Apenas cansada. - Frisk sorriu, cabeça apoiando-se no ombro do albino enquanto esperava a porta ser aberta.

Frisk conseguiu ouvir o grito de Chara do lado de dentro, dizendo que ia atender junto a correria desenfreada de pés apressados que aproximavam de onde estavam. A partir daquilo Frisk já sabia que alguma coisa estava muito errada, Chara nunca atendia a porta, a não ser para detalhes que lhe tinham interesse, o que eram muitas poucas coisas que Frisk poderia realmente citar. Sua voz também soado afobada, apressada e seus passos demasiados pesados para que até mesmo do lado de fora pudesse escutar.

Frisk não estava gostando nem um pouco do rumo daquela situação.

A porta se abriu em um golpe rápido, Chara nem mesmo prestando atenção em Sans logo ao lado de sua irmã. Seus olhos vermelhos, arregalados e recheados com uma estranha preocupação estavam completamente focados em Frisk que nem ao menos teve tempo de questionar o que exatamente estava acontecendo para toda aquela afobação.

— Você tem que ir embora, agora! - as mãos de Chara haviam saltado para os ombros de Frisk, apertando-os com tal intensidade que a pobre garota sabia que ficariam hematomas depois. Todavia, apesar da urgência, Chara não falava alto, estava mais para um sussurro gritado, exigente. Frisk apenas sentiu o mal pressentimento em seu estomago aumentar, completamente confusa com toda aquela situação. - Rápido! Antes que...

— Frisk? - a voz era conhecida para a morena, apesar que seu tom exageradamente doce conseguiu passar mais arrepios em sua espinha do que realmente alegrá-la. Chara amaldiçoou baixinho, o corpo girando para encarar a pessoa que se aproximava, consequentemente abrindo espaço para que ela pudesse ver a morena ainda paralisada do lado de fora. Aquilo definitivamente não poderia estar acontecendo. - Oh pelos deuses! É você mesma! - a mulher se jogou em Frisk, braço esmagando a pobre morena em um abraço de urso enquanto empurrava Chara e Sans do caminho, sem qualquer preocupação em se desculpar ou tomar cuidado. Frisk não sabia como reagir. - Minha filhinha! Estávamos tão preocupados!

A pobre garota sentia vontade de chorar. Por que? Por que de todos os momentos seu passado tinha que ser desenterrado logo agora? O que diabos sua mãe biologica fazia ali?!   


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Notas finais do capítulo

Frisk começou a falar! Alguns estava com essa pergunta e bem, aqui está para vocês! Oh tem também os poderes dela. Sei que teve alguns pensando que seria com relação ao tempo, e eu realmente pensei em colocar algo nesse estilo, mas pensei que de criação se encaixava melhor na história. Tretas finais muahahahahah! É só pra não se entendiarem com essa introdução, mas não se preocupem, ela não demora muito a acabar.
Espero que tenham gostado, até semana que vem! Mantenham-se determinados!
Até!



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