FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 12
Mensagem na Madrugada - 219 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu me embolei um pouco com esses capitulos. Arg que confusão. Não se importem, eu to concertando...



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FusionTale - Mensagem na Madrugada - 219 dias para Reset

Algumas pessoas se aborreciam por rotinas. Ansiavam por alguma coisa mais... Emocionante.

Outras simplesmente queriam poder fazer o que quiser. Quem nunca sonhou em voltar durante uma prova e refazê-la com o conhecimento que você tem depois dela? Sabendo todas as questões que vão cair e o que exatamente você tem que estudar? Ou voltar para o momento de uma discussão e saber exatamente o que deve dizer para ganhar.

Todo mundo, em algum momento de sua vida já pensou em querer mudar alguma coisa, seja no futuro ou no passado. Todos queriam mais emoção ou controle em suas próprias vidas.

Frisk também deveria ter pensado assim alguns anos atrás. Quantos ela não saberia dizer, com todas as redefinições que ela já passou era complicado dizer exatamente qual era sua noção de tempo. Todavia, agora que havia experimentado exatamente as duas coisas, ela sabia melhor como aproveitar a incerteza e a monotonia de uma rotina continua e tranquila. Ela não queria mais voltar no tempo, ela não queria mais morrer ou correr o risco de morrer. Ela queria.... Continuar sua vida monótona e chata com sua família.

Não precisava de mais nada.

E mesmo que seus dias tivessem se tornado pequenos pela quantidade de atividades que tinha que fazer, ela nunca iria reclamar. Ela estava feliz por passar o tempo com cada uma das pessoas com quem estava a trabalhar. Março dava as caras e Frisk já poderia contar seis meses em que estava nessa dimensão. Seis meses sem redefinições.

Durante a parte da manhã ela iria para a escola, estudaria com Tinn e Blooky e então iria com eles até Muffet, comer alguns doces até chegar o momento de Frisk ir para o laboratório encontrar Gaster, Sans e Alphys para continuar o experimento sobre magia, que aparentemente estava avançando bem. Sans pouco a pouco aumentava a quantidade de magia bombeada para sua alma e, aparentemente, sua alma começava a apresentar indícios de magia que não eram de nenhum dos pontos que já possuía. Se ela poderia liberá-la algum dia, isso ainda continuava a ser um mistério, por enquanto eles continuariam o mesmo processo, acreditando que chegaria o momento em que a única opção que sua alma tivesse era de liberar a magia acumulada e torcer para que ela se acostumasse com tal capacidade de absorção e expulsão.

Quando não saia com Tinn e Blooky, no entanto, ela ia para a escola onde sua mãe trabalhava e a ajudava com as crianças de sua turma. Ela havia prometido ao pequeno garotinho loiro que o visitaria quando pudesse, e Frisk nunca quebrava suas promessas. Ela ainda questionava-se, porém, porque aquele garotinho tinha se apegado tanto a ela. Mesmo que as outras crianças também gostassem bastante de sua presença, elas ainda não eram tão ligadas a ela como ele era.

Seja como for, ela gostava do garoto. Ele era tranquilo, não falava muito, mas sua presença não era ruim. Ela não entendia porque algumas outras crianças pareciam temê-lo. Ele parecia mais do tipo que tinha problemas com valentões do que ser um.

No momento ela já estava no laboratório, a cessão havia acabado de terminar e ela recebia a ultima revisão com Alphys antes de ser liberada para ir para casa. Ela não entendia por que exatamente precisava dessa revisão, afinal, Sans sempre tomava todo o cuidado para que sua magia não extrapolasse o limite de seu corpo e sempre fazia questão de que ela dissesse se sentisse algo errado. Entretanto, Frisk não questionaria, afinal, antes prevenir do que remediar. Tudo aquilo era extremamente novo, era natural que tomassem todo o cuidado possível.

— B-bem, Frisk. Parece que não tem n-nada de errado c-com você. S-seus níveis de magia t-tem crescido, m-mas ainda estão e-estáveis. - Alphys gaguejou, o sorriso vacilante ainda em seu rosto. Frisk saltou para fora do banco em que estava sentada, retirando os pequenos aparelhos que avaliavam sua alma e preparando-se para voltar para casa.

"Onde está, Sans?" questionou, assim que percebeu que o rapaz albino que passou a acompanhá-la até sua casa não estava nem mesmo perto de ser visto.

"Foi para casa. Ele disse que não estava se sentindo muito bem." Assinalou de volta Gaster, o cenho ligeiramente franzido pelo que havia acabado de informar.

"Ele está bem? Aconteceu alguma coisa?" Frisk estava genuinamente preocupada. Ela não tinha reparado durante a sessão que Sans estava se sentindo mal. Ele conversava como todos os outros dias, seu sorriso sem vacilar em nenhum instante, talvez contando mais piadas do que ela costumava se lembrar, quase sufocando-a com suas próprias gargalhadas, estomago e bochecha doendo, mas nada que realmente saísse do normal.

Gaster mostrou um sorriso entristecidos para a garota, bagunçando-lhe os cabelos. Frisk por alguns segundos viu Sans ao invés de Gaster. Os dois eram demasiadamente parecidos, apenas com os olhos e a altura de diferente.

"Sans tem um pequeno problema que aparece quando menos esperamos, mas ele vai ficar bem." Frisk ainda notava a hesitação em seu rosto, ele parecia preocupado com outra coisa. "Apenas me questiono se é realmente o que estou pensando ou se Sans apenas usou como desculpa para se meter em mais confusões."

"Acontece muito?" a morena franziu o cenho. Ela não conseguia imaginar Sans se metendo em confusões, o que conhecia em sua dimensão era tão... Tranquilo. Obviamente ele poderia dar-lhe um tempo ruim se quisesse, mas na maior parte dos momentos ele se mantinha quieto, passava longe das complicações e confusões, preferindo manter-se em sua própria zona de conforto.

Mas novamente, essa não era sua dimensão. Essa era o resultado da união de todas as dimensões que poderia se ter em mente.

"Mais do que eu sou capaz de saber. As vezes me pergunto como posso fazer Sans confiar em mim o suficiente para me contar sobre seus problemas" Gaster parecia realmente entristecido, Frisk não sabia como consolá-lo.

"Não se preocupe Senhor Gaster. Tenho certeza que com o tempo Sans vai se abrir com você, é só dar um tempo para ele" Frisk sorriu o melhor que podia. Talvez fosse uma mentira, talvez Sans nunca confiasse em seu pai o suficiente para contar seus segredos, mas palavras gentis, mesmo sendo mentiras, às vezes eram necessárias para confortar uma pessoa, mesmo que fosse um pouco. Gaster, por sua parte, sorriu.

Frisk era uma garota tão meiga. Ele poderia compreender perfeitamente bem porque Asgore era tão protetor com relação a ela.

"Obrigado." Frisk sorriu, feliz que tinha conseguido aliviar pelo menos um pouco da tristeza do homem. Gaster parecia um personagem tão sofrido, ela quase nunca o viu sorrir ou rir de verdade, sempre preso em seu laboratório, focado em seu trabalho... "Agora, mocinha, quer carona para casa? Como Sans não vai poder te levar dessa vez eu não me incomodaria de te dar uma carona"

"Não tem que se preocupar, posso ir sozinha" por alguns instantes Gaster hesitou em concordar, todavia, vendo a determinação no rosto da garota, foi complicado insistir. Ele sabia que não adiantaria de nada. Frisk então voltou-se para Alphys, um enorme sorriso travesso em seus lábios. "Tenha um bom encontro com Undyne hoje, Alphys. Até amanhã"

— E-e-e-encontro?! Q-quem d-d-disse que e-e-era um e-e-encontro?! F-foi M-m-mettaton, n-não f-foi?! F-frisk! F-Frisk! - a pobre loira havia sido deixada em uma confusão de vermelho e gagueira, Gaster tentando esconder a risada divertida que queria escapar pela situação da colega enquanto Frisk corria pelos corredores do laboratório, bolsa nas costas e risada baixa ecoando junto de seus passos, deslizando para longe daqueles que passavam, fazendo questão de não atrapalha-los em seu trabalho.

A noite já caia e o laboratório já não se encontrava mais tão cheio como no começo, mas ainda tinham pessoas a trabalhar, seja em seus relatórios ou nos detalhes finais de seus projetos. Ela já tinha passado tempo suficiente ali para descobrir alguns dos trabalhos que eram fornecidos ali, como o desenvolvimento de cosméticos, pesquisas sobre fontes de energia alternativa e por aí vai a lista. Frisk gostava do ambiente, mas não se via ali, era mais a cara de Sans, ela preferia continuar com sua ideia de direito ou relações sociais, era mais sua cara.

Do lado de fora ela conseguiu distinguir a cabeleira ruiva amarrada em um alongado rabo sobre a cabeça, não difícil de reconhecer, principalmente com a assustadora altura da mulher que possuía tais fios.

Undyne sorriu assim que a viu se aproximar, seus dentes, apesar de não mais tão pontiagudos e assustadores, ainda tinham presas afiadas, quase ameaçadoras que com toda certeza deveriam desmotivar mais do que apenas um fora da lei. E Undyne levava a sério seu trabalho, talvez mais do que qualquer outra coisa em sua vida. Falando nele, ela deveria ter acabado seu turno recentemente, ainda trajando seu uniforme polido azul marinho com leves detalhes em vermelho. Era uma imagem de autoridade que com toda certeza exigia respeito.

— Hey, Punk! Como foi o trabalho? - Undyne não sabia sobre o que exatamente Frisk fazia no laboratório, era uma informação sigilosa que ainda não seria revelada a publico, pelo menos não até os resultados finais do projeto. Todavia ela sabia que Frisk estava ajudando Alphys em algum projeto qualquer e não fazia nenhuma questão de tentar saber mais. De acordo com ela era tudo "coisas de nerds". Frisk por sua vez sorriu para ruiva, erguendo o polegar. - He! E eu pensando que seria chato, mas pelo visto você deve estar se divertindo. - Frisk sorriu radiante mais uma vez. - E Sans? Ele não costuma te levar para casa?

Frisk tentou o melhor possível indicar que Sans havia ido para casa mais cedo e ela voltaria sozinha, mas era mais complicado do que ela imaginava. Undyne não entendia a linguagem gestual e Frisk não tinha a menor intenção ainda de começar a usar sua voz. Com um suspiro frustrado ao ver a expressão confusa de Undyne, a pequena morena retirou de sua mochila seu caderno e um lápis qualquer, escrevendo exatamente o que queria dizer.

Undyne franziu o cenho.

— Se sentiu mal, hum... - Frisk inclinou a cabeça em confusão. Por que todos suspeitavam que Sans estava mentindo? - Bem, não vou mais te atrasar. Está tarde e você tem que ir pra casa antes que arrume algum problema no caminho. Eu odiaria ter que informar a seu pai que alguma coisa aconteceu com você.

Frisk assentiu, colocando novamente o caderno dentro de sua bolsa.

— Ah! E, Punk. Eu tenho reparado que você e Sans tem estado bastante... Próximos ultimamente. - Frisk corou. Era verdade que ela e Sans tinham se aproximado com o decorrer dos dias, tanto que mesmo com Sans namorando ele parecia dar mais atenção a Frisk do que sua própria namorada. Todavia, Frisk não sabia exatamente o que pensar ou sentir com relação a isso. - Quero que me prometa que, independente do que descobrir não vai se meter em nenhuma encrenca por causa dele. Eu já notei que você é do tipo de pessoa que qualquer coisa por quem gosta, e eu entendo isso muito bem, mas existem certos problemas que apenas a pessoa envolvida pode resolver.

Por instantes a garota não sabia o que dizer. Ela tentava entender exatamente o que Undyne estava tentando dizer, sentindo que tinha alguma coisa haver com boa parte dos mistérios que Sans escondia sobre si mesmo. Aparentemente estava fragmentado entre as pessoas, tão dividido que era complicado juntar as peças.

"Se prometer que assumir seu relacionamento com Alphys algum dia." escreveu em seu caderno novamente, rindo ligeiramente ao ver o rosto de Undyne ficar pouco a pouco tão vermelho quanto o de Alphys havia ficado antes. Antes que pudesse ter uma resposta, Frisk voltou a anotar em seu caderno. "Não se preocupe, Undyne. Não vou me enfiar em qualquer besteira, eu prometo."

E assim Frisk correu para sua casa, sem qualquer tipo de inconveniente no caminho apesar da noite já ter transcorrido. Ela podia compreender a preocupação de todos para com ela, mas não era como se ela não tivesse a capacidade de se defender sozinha. Ela apenas não atacaria de volta, mas desviar e correr eram também uma forma de se defender e ninguém sabia fazer isso melhor do que Frisk.

Ao chegar, logo depois de um merecido banho, Frisk encontrou-se sentada no sofá a ver qualquer coisa na televisão junto de seus irmãos, um dia completamente normal.

Ou pelo menos seria até a madrugada.

Frisk não tinha um sono necessariamente leve, todavia, por culpa de seus sonhos relacionado a outras dimensões ou a seus próprios erros, ela acabava por despertar diversas vezes durante a noite e aquela não foi uma exceção. A única verdadeira diferença veio na forma de um leve som abafado por seu travesseiro, o qual ela reconheceu, em seu estado ainda dormente, como sendo o toque de seu celular, breve o suficiente para ela identificar como uma mensagem.

Ainda atordoada pelo despertar não muito agradável e o permanente cansaço de seu corpo Frisk esticou o braço para debaixo do travesseiro, tateando a cegas quase toda a área até finalmente encontrar-se com o que procurava. A luz emitida pelo aparelho a cegou durante alguns segundos até finalmente adaptar-se e ver o que estava na tela.

Duas mensagens, uma de dois minutos atrás e uma de apenas um minuto, ambas do mesmo numero.

Sans.

*Hey, Sweetheart. Será que você poderia vir na delegacia um minutinho. Nada de mais, só me ajudar com uma coisinha.*

Aquela primeira mensagem a despertou por completo, confusão tomando conta de sua mente. Por que Sans estaria na delegacia? Tinha acontecido alguma coisa com ele? Pap? Gaster? O que estava de errado?

Ela saltou para a próxima mensagem.

*Pensando bem, melhor não. Esqueça isso, sweetheart, você deve estar dormindo de qualquer jeito*

Ele havia desistido de chamá-la. Por que? Mais rápido do que poderia pensar, enchendo-se de uma enorme determinação, Frisk digitou em resposta:

*Estou indo agora*

Ela não esperou uma resposta, prontamente saltando para fora de sua cama e correndo para se arrumar, pegando qualquer roupa que havia encontrado no caminho e deslizando, com o mínimo de ruído possível até a sala, apenas para surpreender-se com a televisão ainda ligada, Chara sentada no sofá de forma descontraída, cotovelo apoiado no braço do sofá e mão apoiando a cabeça. Os olhos subiram na direção de Frisk, encarando-a com atenção antes de suspirar.

— O que aquele comediante aprontou dessa vez? - Frisk não questionou como Chara sabia que foi Sans o responsável por estar ali naquele momento, tudo que conseguiu fazer em seu estado de pressa foi dar de ombros. - E por que você vai se envolver? O problema é dele. - o veneno estava presente nas palavras, raiva contida escapando ligeiramente em cada letra que era pronunciada. - Apenas me dê um motivo para não avisar a mamãe e o papai.

"Por favor, Chara. Eu apenas estou preocupada, tenho que ir." suplicou Frisk, a ansiedade saltando de seu corpo. Ela tinha que se apressar, a delegacia não era muito longe, ela poderia chegar lá em poucos minutos se corresse, sem falar de ainda ser na região nobre da cidade, haviam poucas chances de alguma coisa acontecer no caminho.

Chara suspirou.

— Tudo bem, tudo bem. Mas apenas dessa vez. Não vou te acobertar para ajudar esse comediante nunca mais, entendeu? Estou cansada de te avisar para ficar longe dele. - Chara voltou a encarar a TV e Frisk sabia que poderia ir.

Sem perder mais tempo ela disparou para fora da casa, correndo o máximo que podia na direção da delegacia, respiração ofegante já na metade do caminho, todavia recompensada ao não demorar nem sequer quinze minutos para ver a construção logo a sua frente. Frisk tentou acalmar-se assim que se viu na porta, puxando algumas bocadas profundas de ar antes de finalmente entrar no edifício.

No começo ela ficou confusa, encarando tudo a sua volta com extrema atenção. A recepcionista estava a frente, próximo a porta, logo atrás mesas espalhadas de um lado para o outro, algumas repletas de papeis, outras perfeitamente arrumadas. Alguns oficiais andavam aqui e ali, apressados e cansados, alguns com enormes copos de café em suas mãos. Frisk podia ver também corredores que interligavam com a enorme sala de entrada, a qual deveria ser para atendimento de visitantes.

Ela não conseguia ver Sans em lugar nenhum.

Na ponta dos pés, Frisk procurou ver o final da sala, olhos atentos a qualquer pessoa que poderia bater com as características de Sans, pouco a pouco caminhando por entre as mesas e pessoas. Demorou alguns minutos, porém, afinal Sans não parecia exatamente Sans. Ele estava com um casaco preto com detalhes em vermelho, calças jeans negras e botas, capuz sobre a cabeça com mais pelos do que ela conseguia se lembrar, rosto encoberto por estar de cabeça baixa. Ela não o teria reconhecido se, por um próprio descuido dele, ela não tivesse vislumbrando um brilho azul de sua pessoa, vindo das mãos apertadas em punhos firmes.

Ele não estava muito longe, sentado em um banco de madeira no final da sala, perto de um dos corredores. Frisk se aproximou com cuidado, ele parecia muito perdido em seus próprios pensamentos para notá-la, sua magia transbordando inquieta por suas mãos. Frisk sabia, a partir de sua visão, que alguma coisa muito séria deveria ter acontecido. Sans não perderia o controle de sua magia tão facilmente.

Quando sua mão tocou-lhe o ombro ela reparou o sobressalto de sua pessoa, cabeça erguendo-se em um movimento tão rápido e brusco que Frisk poderia jurar ter ouvido seu pescoço estalar. Todavia, não foi isso que realmente lhe assustou. Sans tinha um enorme curativo em seu rosto, do lado esquerdo, bem abaixo do olho brilhante.

Ele a encarou com surpresa, o sorriso havia deixado seu rosto, a expressão cansada tomando-lhe com pesar. Frisk sentiu seu coração partir-se ao vê-lo tão desorientado, uma de suas mãos deslizando para seu rosto, tocando-lhe com carinho e cuidado o curativo. Isso pareceu alertá-lo, prontamente desviando o olhar para outro lado, uma de suas mãos puxando o capuz para baixo, como se tivesse vergonha de sua situação.

E droga, Sans estava realmente envergonhado. Ele não sabia o que lhe havia dado na cabeça para chamar exatamente Frisk, mas ele não conseguiu pensar em mais ninguém que trataria da situação com cuidado e sem julgamento. Ele não queria que ela o visse daquela forma, porém.

Com um suspiro, Sans se levantou, recusando-se a retirar o capuz ou erguer o olhar na direção de Frisk, encolhendo-se cada vez mais em seu casaco. Ambos saíram sem qualquer problema, aparentemente Undyne já havia cuidado de tudo e Sans apenas precisava de alguém que pudesse buscá-lo. Todavia Frisk não entendia porque ele não havia chamado Gaster ou Pap. Eram sua família, deveriam ser as primeiras pessoas que ele pensaria em chamar para resolver problemas como esse.

Não que ela não se sentisse bem que ele confiasse nela a esse ponto, mas ainda assim não deveria ser sua função. Mas então ela se recordou do que Gaster a havia contado. Sans tinha o costume de se envolver em problemas, Undyne também parecia estar ciente, então Sans apenas não queria envolver mais ainda seu pai na história? Seria isso? Bom, ela também não gostava que seus pais fossem chamados na escola por conta dos rapazes que implicavam com ela quase à diário.

Ambos sentaram-se em um banco de uma praça próxima a casa de Frisk, no meio do caminho entre a delegacia e o lugar onde Frisk morava. Em primeiro momento, ambos mantiveram-se em silêncio, deixando que a monotonia da madrugada enchesse o lugar. Mas Frisk estava curiosa, estava preocupada, ela queria saber o que tinha acontecido para Sans parar naquela situação.

Por isso, ela o cutucou com cuidado, chamando-lhe a atenção.

"Sans, o que aconteceu? Por que estava na delegacia?"

— N-não foi nada, sweetheart. Você nem precisava ter vindo, eu agradeço, mas é arriscado estar aqui a essas horas. - Frisk reparou sua voz vacilando, ela notou que ele não a encarava, que encolhia-se dentro de seu enorme casaco. Isso era tão frustrante. Sans não poderia passar o resto de sua vida guardando tudo isso para si mesmo.

Enchendo-se de determinação Frisk virou-se para Sans, suas mãos empurrando seus ombros para que ele finalmente virasse para ela e então segurando-lhe o rosto, forçando-o a vê-la nos olhos. Frisk tomou cuidado para não prejudicar seu ferimento, mas ainda manteve as mãos firmes, impedindo que ele escapasse. Ela viu, em seus olhos azuis, todo o pesar e tristeza, toda a sobrecarga de auto-ódio e segredos os quais ele escondia por trás de seu sorriso fácil.

Frisk reparou, triste, que mesmo que a dimensão tivesse mudado, Sans ainda teria o peso em seus ombros para sustentar e que ele ainda não era verdadeiramente feliz.

Foi em um impulso Frisk puxou o albino para um forte abraço. Seus braços enroscando-se ao redor de seu pescoço, uma de suas mãos em sua cabeça e a outra segurando com força o tecido de sua jaqueta próximo a seu ombro, rosto escondendo-se na curva de seu pescoço. No começo, no entanto, Sans parecia surpreso, hesitando entre se afastar e se deixar levar pelo doce abraço, porém, depois de alguns instantes, ele finalmente se moveu, envolvendo os braços ao redor de seu corpo, agarrando sua blusa listrada com força, respirando profundamente o cheiro de cabelo recém lavado que desprendia da morena em seus braços.

Era tão confortável, tão acolhedor... Ele tinha se esquecido como era bom receber um abraço em situações como essa. Fazia quanto tempo desde que ele não havia permitido alguém para abraça-lo? Desde a morte de sua mãe, provavelmente.

Quando se separaram Frisk havia puxado seu capuz para fora de seu rosto e Sans não mais se sentia tão constrangido. Aquele abraço havia aliviado bastante a tensão que sentia.

"Agora, não me fale que não aconteceu nada, eu sei que é importante, se não, não estaríamos aqui. Pare de carregar seus problemas sozinho, Sans. Existem pessoas que se preocupam com você e querem ajudá-lo, mas não dá para ajudar alguém que não quer ser ajudado. Então, por favor, me conte o que aconteceu."

Sans ainda hesitou por alguns instantes, seus olhos azuis analisando atentamente a garota que tinha a frente. Ele realmente estava cansado, cansado de tudo isso, ele sabia que não poderia se manter calado por muito tempo, mas ele não queria envolver Frisk nisso. Eram seus problemas, não os dela. Ela não seria capaz... Se alguma coisa acontecer ele saberia o que fazer. Frisk era tão ingênua, tão inocente tal como seu irmão. Ele não queria ser aquele que destruiria isso.

Mas falar sobre esse caso isolado não teria problema.

— Tudo bem, sweetheart, você ganhou. - suspirou, os olhos voltando a desviar-se para outro canto do lugar. - Não é nada muito extravagante. Eu tinha voltado para casa depois de nossa seção, realmente não estava me sentindo bem. Mas eu não conseguia ficar em casa também, me sentia inquieto, eu precisava de ar então fui ao Grillbys apenas para tomar alguma coisa e então voltaria para casa. Nada que eu já não tivesse feito antes. Mas dessa vez tinha... Uns caras que não gostavam muito de mim, gostam de me provocar, sabe? - Frisk assentiu, ela sabia perfeitamente como era. - Eu não me importo que falem sobre mim, mas... Quando falam sobre Pap, eu... Pap é gay, você sabe, mas ainda existem pessoas que acreditam que isso é um defeito. Eu acho que Pap é perfeito do jeito que é, mas esses caras, eles viram Pap saindo com esse seu amigo e começaram a provocar-me com relação a isso. Eu só... Perdi o controle. Quando vi, Undyne já tinha me levado a delegacia e os caras foram para o hospital... - Frisk então apontou para o ferimento debaixo de seu olho e Sans inconscientemente levou uma mão a ele, sorriso triste desenhado em seus lábios. - Aparentemente um tinha uma faca. Eu não sei quando exatamente me acertou, mas não foi nada grave. Vai ficar uma cicatriz, mas dá pra gerenciar.

"Você vai parecer muito com Gaster agora." Frisk comentou, um pequeno sorriso em seu rosto tentando aliviar o ambiente, mas Sans não parecia pensar o mesmo.

— É... Ainda mais parecido com ele... -  a melancolia na voz de Sans fez Frisk suspirar. Nessa situação o que exatamente ela deveria fazer? Ela sentia-se culpada, afinal, tudo tinha começado apenas porque ela havia arrumado o encontro entre Pap e Mettaton.

"Desculpe, tudo porque eu insisti em colocar seu irmão com Ton-Ton."

— Não tem que pedir desculpas, sweetheart. Pap estava feliz, eu nunca o vi com um sorriso tão grande como no dia em que ele chegou do encontro com seu amigo. Eu estou realmente grato a você, afinal, eu já te disse que Pap feliz, eu estou feliz também. E tudo é graças a você. - Frisk sentiu seu rosto arder, coração saltando descontroladamente em seu peito, um enorme orgulho e felicidade inflando dentro de si. - É apenas que, algumas pessoas parecem gostar de rir da felicidade de outras pessoas e menosprezá-las. Isso realmente me irrita.

"Mas por que não chamou Gaster ou Pap para te buscar? São sua família"

— Eu sei... Mas eu não queria ter que falar para Pap o que aconteceu e Gaster... - Sans parou por alguns segundos, várias emoções cruzando seus olhos antes de cair em uma sombra profunda, sem que pudesse dizer o que exatamente ele estava sentindo ou pensando. - Eu não queria ouvir o sermão que ele me daria por estar aqui de novo. Desculpe por te envolver nisso, você deve acabar tendo problemas com seus pais por causa disso.

Frisk negou rapidamente, um enorme sorriso carinho desenhado em seu rosto.

"Chara está me cobrindo por enquanto. E eu realmente não me importo se puder te ajudar." ambos sentiram-se corar naquele momento. Sans por se sentir extremamente lisonjeada por ter tal garota querendo ajudá-lo, ele não conseguia evitar a sensação de alegria que enchia-lhe o peito ao imaginar que Frisk realmente se preocupava com ele, que ela se importava com ele. Mesmo que ele pensasse que não merecesse, ele não conseguia segurar sua parte egoísta que queria Frisk apenas para ele, toda sua atenção e carinho... Toda aquela doçura que apenas ela poderia possuir. Já Frisk, sentia-se demasiadamente envergonhada pelo que havia acabado de dizer. Era verdade, mas parecia que ele havia deixado extremamente claro que Sans era especial para ela. Mais especial do que outras pessoas.

— E como convenceu Chara a te cobrir? Conhecendo ela, parecia mais do feitio de denunciar você para seus pais, principalmente se tratando de mim. - Frisk deu de ombros. Ela também não havia entendido isso muito bem.

"Acho que ela simplesmente não queria ter trabalho."

Frisk sentiu um leve tremor por seu corpo, ela não tinha reparado no quão frio a madrugada estava. Com a corrida que havia feito para chegar a delegacia seus músculos haviam esquentado o suficiente para enganar a sensação térmica no momento, entretanto, agora que estava relaxada a temperatura voltava a afetar-lhe e Frisk reparava que suas roupas não seriam o suficiente para aquecê-la.

— Frio? - questionou Sans, um leve sorriso desenhando-se em seu rosto ao ver as tentativas falhas da garota de esconder seu desconforto. - Tudo bem, pode pegar meu casaco.

Frisk, no entanto, estranhamente embalada por uma sensação estranha de nostalgia, negou rapidamente com a cabeça, erguendo-se de seu lugar e sentando-se no colo de Sans. Seu casaco estava aberto, facilitando sua acomodação em seu peito e por fim fechando a enorme peça quente de roupa em ambos. Era impressionante, no entanto, que ela fosse larga o suficiente para realmente conseguir que tanto ela e Sans a vestissem com facilidade, aquecendo-se um com o outro.

Frisk não sabia exatamente porque havia feito isso, constrangendo-se segundos depois de ter se acomodado, reparando que deveria ter sido uma atitude demasiadamente ousada e estranha de sua parte. Todavia ela sabia que em alguma das linhas do tempo, em algum universo qualquer, ela tinha feito a mesma coisa com Sans e mesmo assim ela não era uma adolescente hormonal e Sans não era um humano adulto com uma namorada.

Sans, por sua parte, realmente não se incomodava, o maior problema estava em manter seus pensamentos longe do breve detalhe de ter o corpo de Frisk tão próximo ao seu, dentro de seu casaco e sentada em seu colo. Era confortável, ao mesmo tempo, tê-la tão próximo a ele. Era como sentir que poderia protegê-la de qualquer coisa, que poderia tê-la apenas para ele, e foda-se o fato de ter namorada, era apenas por conveniência de qualquer maneira, para distraí-lo de sua obcessão pela garota que agora estava em seus braços. Ele só havia começado o namoro porque a garota havia insistido depois de passarem algumas noites juntos, nada mais.

Sans queria Frisk, mas ele sabia que não poderia tê-la. Ela era delicada, ele era bruto. Ela era gentil, ele era sarcástico e insensível. Ela era uma pacifista, ele poderia muito bem matar se necessário, ele não hesitaria. Ela estaria segura longe dele, ele sabia disso, e mesmo assim ele ainda queria ser egoísta, ele queria manter-se ao lado dela, ele queria continuar a aproximar-se dela. Por que ela não poderia ser o balanço de sua vida? Seu equilíbrio?  

Porque ela nunca poderia ser sua.

Frisk, por sua vez, não conseguia evitar aquela incomoda sensação na boca do estomago. O revirar de suas entranhas e a alegria de seu coração. Ela recordou-se de outros universos, universos nos quais ela era tão próxima de Sans como era agora, universos em que compartilhavam um carinho especial. E Frisk não poderia evitar almejar tal carinho, seu coração não conseguia evitar saltar cada vez que estava perto dele agora. E era tão doloroso, porque ela sabia que ele não queria o que ela queria. Ela sabia que ele não queria algo fixo, enquanto ela sim. Por que insistir em causas perdidas?

O problema era que Frisk sempre foi mestre em nunca desistir, mesmo que fosse de causas perdidas.

Aconchegando-se mais nos braços do albino Frisk deixou-se levar, amaldiçoando-se mentalmente por ter, apenas agora, reparado que, independente do cronograma e do universo, Sans sempre a atrairia. Seria sua fonte de admiração e diversão. Ela sempre amaria Sans, independente de em qual universo ela estivesse. Mesmo que ele fosse um monstro...

Porque ela amava quem ele era e o que ele a fazia sentir.


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Notas finais do capítulo

Eu e minhas bagunças, sou tão desajeitada. Aff...



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