Narração: Thalia Grace

Qual ideia foi pior? A do meu pai me casar com o Di Ângelo ou a minha de ir pra praia? Esta deve ser uma das maiores questões da vida, do universo e tudo mais. Pra ser sincera, eu só aceitei ir com Jason por um único motivo: todas as minhas hipóteses diziam que Nico preferia dar uma volta no Tártaro do que passar a manhã tomando banho de sol.

Mas ali estava ele: Sorridente, brincalhão, babado e tirando a roupa. Sabe, quando você vive mais de cinco anos só com garotas puras, que escolheram serem virgens o resto da eternidade, você não bate aqueles papos de filmes teens de adolescentes americanos sobre sexo, garotos e atores sarados. Na verdade, todos estes assuntos se tornam contos da carochinha, algo mais irreal do que a história de Atlas segurar o céu sozinho. Onde eu quero chegar com tudo isso? No meu extremo desconforto ao ver aqueles caras só de sungas.

Talvez exista a possibilidade de que eu tenha ficado um pouco estática encarando o Di Ângelo tirar a camiseta para limpar a baba do rosto, desconforto intensificado quando Percy se pôs a minha frente somente com uma sunga azul, logo atrás de Annabeth.

— Thalia! — Fui desperta pela voz da Chase que começou a correr na minha direção.

— Vai abraçar ela. — Jason me instigou baixinho, provavelmente percebendo meu estado. Me levantei tropeçando e senti o corpo da loira se chocar ao meu, me fazendo cambalear pra trás.

— Que saudade! — Ela exclamou, me apertando mais. Enlacei meus braços ao seu redor constrangida durante alguns segundos, antes dela se afastar um passo e segurar meus ombros sorrindo de um jeito um pouco assustador. — Como você tá? O que faz aqui? Desistiu da caçada? Pela tiara eu diria que não. Vai ficar quanto tempo? Pelo menos o final de semana, por favor!

— Annabeth, calma! — Consegui dizer um pouco assustada. Ela riu enquanto Percy a cutucava.

— Thalia! — Ele saudou, vindo me abraçar. Arregalei os olhos e estiquei os braços para afastá-lo.

— Não! — Disse, ou melhor, gritei. — Sem abraços! Caçadora, lembra?! — Sentia minhas bochechas queimando e Percy me olhou com sua comum expressão de confusão, antes de abrir um sorriso largo e assentir com a cabeça.

— Tha-li-a! — Annabeth me chamou pausadamente com um pouco de irritação.

—Estou em uma missão, Annabeth. — Expliquei rindo, antes que acabasse apanhando. Não era uma boca ideia deixar uma filha de Atena sem resposta. — Não sei quanto tempo vou ficar, mas, pelo menos, o final de semana estou aqui. — Suspirei lembrando-me da mensagem que havia no visor do meu celular ontem assim que entrei no chalé após o capture a bandeira:

“Você tinha medo da Grande Profecia quando entrou na caçada.

Ser filho de Hades significa viver em uma profecia trágica o tempo todo, sem escapatória nenhuma.

Um erro e você morre. Ou pior, você mata. Entenda os medos dele e entenderá ele.”

Não sabia quem era o remetente, só havia um número que não respondeu minhas mensagens. De qualquer maneira, a mensagem foi a única coisa que me impediu de sair do acampamento ou matar Nico Di Ângelo. Mas não significa que eu concordava com aquela loucura de casamento e que eu seria a melhor amiga dele.

— Isso é o máximo! — A voz alegre de Annabeth me despertou dos meus pensamentos, fazendo com que eu a encarasse sem entender o que era o máximo. — Pelos deuses, temos tanto pra pôr em dia! Preciso te contar cada coisa! Não sei como vou conseguir em só dois dias. — Ela fez um bico de desgosto.

— Cama! — Pedi novamente, rindo. — Eu não vou ficar só o final de semana, tenho mais tempo!

— Mas eu não! — Suspirou dramaticamente. — Temos que voltar pra São Francisco até segunda de manhã.

— Você está morando em Nova Roma? — Ela assentiu com a cabeça. — Mas por que voltar segunda? Não está de férias?

— Da faculdade sim. Mas tenta convencer meu chefe! — Arregalei os olhos com a informação enquanto meu cérebro trabalhava em um pequeno cálculo de quantos anos a loira deveria ter agora: por volta dos vinte.

— Uou! Faculdade? Trabalho? — Perguntei enquanto a loira sorria animada. — Realmente temos muito o que conversar.

(…)

Eu realmente não quero repetir toda a conversa com Annabeth porque isto me dá dor de cabeça só em pensar, então posso resumir tudo nestas sentenças: O casal vinte estava fazendo faculdade em Nova Roma. Como de se esperar, Annabeth faz arquitetura e estagia em uma empresa que, em suas palavras, “ainda não viram do que é capaz”; já Percy faz biologia marinha e, mesmo que tenha reprovado em algumas disciplinas, conseguiu o trabalho de pesquisador marinho com um semideus veterano romano descendente de alguma entidade do mar que ficou sabendo que ele desafiou Zeus em favor do Ofiotauro há alguns anos.

Depois de quase infinitos dez minutos Annabeth e Percy voltaram para a água junto à Jason e Piper. Até me convidaram, mas neguei por dois motivos:

I) Eu amo Annabeth, mas meu cérebro quase travou ao receber tanta informação de como ela estava mudada. Não foram mudanças tão drásticas como quando acordei anos atrás e descobri que fui um pinheiro por mais de cinco anos e a criança que me acompanhava era mais velha do que eu quando cheguei ali, mas era assustador da mesma forma, ver todos aqueles sonhos se concretizando quando eu mal vi os anos passarem.

II) Eu não queria ter que tirar a camiseta e o short e ficar seminua de biquíni pra entrar na água.

Continuei ali sentada junto aos filhos do deus dos mortos, observando eles discutirem por causa do protetor solar.

— Hazel, — Nico resmungava. — eu já suportei o ar tóxico do Tártaro e não morri. Você acha que eu não posso tomar um pouco de sol?

— Eu não quero saber se você pulou no flagelonte ou não. Eu estou dizendo que não custa nada você passar um creme.

Nico resmungou um “tá bom” com um leve sorriso, enquanto sua irmã lhe entregava o bloqueador, ajudando a espalhar pelas costas do garoto. Acabei rindo da relação deles e talvez fiquei com um pouquinho de inveja, eu e Jason não tínhamos nem um pouco dessa intimidade.

— Preciso pegar uma coisa.

Hazel saiu correndo me deixando sozinha com o Di Ângelo, em um silêncio incômodo. Fiquei olhando meus amigos brincando no mar, ciente de que Nico estava do meu lado, ainda passando o protetor, a menos de meio metro a minha direita. Ele ficou de pé e, por reflexo, o olhei, vendo-o tirar a bermuda, ficando só com uma sunga preta. Arregalei os olhos e, inconscientemente, observei o corpo do garoto, notando a pele levemente bronzeada, o corpo magro, mas com alguns músculos que só eram perceptíveis se estivessem descobertos e uma cicatriz que começava na lateral esquerda do corpo na altura umbigo e o fim dela era tampado pela sunga. Ele voltou a se sentar sobre as roupas, espalhando protetor pelas pernas descobertas antes de parar e se virar pra mim.

Senti meu rosto esquentar, abaixando a cabeça por instinto. Esperei alguns segundos e ergui novamente a cabeça, encontrando-o me analisando com a sobrancelha erguida e um leve sorriso de canto. Em desafio, sustentei seu olhar.

— Por que estava me encarando, Grace? — Perguntou por fim.

— Seu braço tá branco. — Justifiquei, o que também era verdade. Ele passou a mão espalhando o protetor no bíceps, não deixando claro na expressão se havia acreditado ou não.

— Mais algum lugar? — Questionou sem me fitar.

— Na bochecha e no nariz. — Dei de ombros e ele passou os dedos pelos locais, ainda deixando parte da substância acumulada na bochecha.

— Pronto?

— Não. — Por instinto, me inclinei na sua direção e passei os dedos no local, senti as descargas elétricas assim que o toquei. Senti meu rosto esquentar e voltei pra minha posição inicial sem encará-lo. Quando olhei de rabo de olho, percebi que não era a única vermelha e constrangida ali.

— Obrigado… — ele murmurou e eu continuei encarando o mar, abraçando meus joelhos. O silêncio permaneceu até que Hazel voltasse depois de um tempo que pareceu infinito.

— Olha o que Frank me deu. — A morena balançou uma antiga máquina fotográfica nas mãos, do tipo que revelava a foto na hora.

— Tem certeza que é uma boa ideia trazer pra praia? — Nico questionou.

— Não seja estraga prazeres. Thalia, pode tirar uma foto nossa?

— Claro. — Me levantei e peguei o objeto da mão de Hazel, enquanto ela sentava-se ao lado do irmão e ele a abraçava. — Digam “xis”.

— Xis. — Hazel disse sorridente enquanto Nico somente dava um sorriso de lado. Tirei a foto e segundos depois ela era revelada.

— Obrigada! — A morena agradeceu enquanto eu lhe devolvia o objeto e voltava pro meu lugar. — Vai entrar na água com a gente?

— Acho melhor não. — fiz uma careta. Eu realmente não estava a fim de ficar só de biquíni.

— Vamos, Thalia! — Hazel pediu, enquanto desamarrava a saída de praia. — Vai ser divertido.

— Vai ficar aqui sozinha? — Nico perguntou e me surpreendi. — Vem com a gente.

Ergui a sobrancelha diante do convite e acabei suspirando e aceitando quando Hazel fez o que chamariam de cara de cachorrinho.

— Tudo bem. — Resmunguei e puxei a camiseta pra cima, expondo o biquíni azul que havia conseguido emprestado com uma filha de Afrodite (aparentemente no chalé tinha uma coleção gigantesca, sem um maiô sequer, que ninguém usava).

— Vai entrar de short? — Nico perguntou, me analisando. Cruzeis o braços sobre os seios e assenti.

— Vou.

— Tudo bem então. Vamos. — Ele deu de ombros e começou a se virar em direção ao mar.

— Esperem, posso tirar uma foto de vocês? — A filha de Plutão nos pediu, me fazendo arregalar os olhos.

— Por quê? — Nico expôs minha pergunta.

— Eu quase não tenho fotos de ninguém. E elas são importantes pra nos ajudar a lembrar. — Explicou e encarei o chão, nem um pouco afim.

— Por mim tudo bem. — Nico falou e o encarei. Tinha a impressão de que ele não negaria muitas coisas pra irmã. — Thalia?

Olhei para a garota que me encarava com expressão semelhante à de antes, a expressão de pidona.

— Só uma. — Resmunguei e Nico veio para o meu lado para tirarmos a maldita foto. Ele colocou o braço sobre meus ombros e senti meu coração acelerar com a energia que emanava do corpo dele.

— Thalia, pode abraçar ele? — A garota pediu e revirei os olhos enquanto passava os braços acima da cintura do garoto, com cuidado pra não tocar na sunga. — Digam xis!

Eu não estava com um pingo de volta de de sorrir, mas não estava nos meus planos a imagem que acontecia atrás de Hazel.

No mar, Jason havia subido em cima dos ombros de Percy, em pé como as líderes de torcida. A água batia até a cintura do meu primo, mas quando uma enorme onda veio no momento em que Jason ia dar um mortal pra trás, ele não conseguiu e acabou caindo, deixando uma Piper e Annabeth com expressões assassinas e molhadas da cabeça aos pés, provavelmente culpando Percy pela onda. Acabei rindo da situação e Nico me acompanhou, enquanto Hazel tirava a foto.

— Pronto! — Ela chamou nossa atenção, balançando as fotos recém-impressas. — Acabei tirando duas sem querer. Quer uma Thalia? — A fitei nervosa com a pergunta, enquanto sentia Nico se desvencilhar de mim.

— Hazel, por que não vemos isso depois? — A garota sorriu pro irmão e guardou a câmera num canto, junto as fotos.

— Podemos ir agora? — Nico perguntou com tom entendiado.

— Sim. — Hazel assentiu sorrindo. — Que tal uma aposta? Quem chegar por último ganha o que o vencedor quiser.

— Feito! — Nico sorriu e se pôs do lado da irmã. — Thalia?

— Estou dentro. — Fui para o lado dele. E esperei Hazel começar a contagem.

— No já! — a morena avisou.

— Hey, Grace. — Nico me chamou baixinho, mas continuei a prestar atenção na sua irmã.

— Um...

— Sabe o que eu acabei de lembrar? — Nico continuou em voz baixa.

— Dois…

— Que Apolo é quente. — Me desconcentreis e o encarei.

— Três! — Hazel gritou e começou a correr com o irmão, me deixando parada em choque. Como ele lembrava disso?!

Balancei a cabeça e comecei a correr, vendo Nico puxar a irmã pela cintura para passar na frente, quando a água já lhe cobria os joelhos. Hazel pulou nas costas do garoto tentando derrubá-lo, mas ele continuou a correr até os amigos.

Quando os alcancei, Hazel já havia descido e eu estava sem fôlego, com a água cobrindo um pouco abaixo dos meus seios. Em reflexo, dei um tapa nos bíceps de Nico.

— Você trapaceou! — Ele deu de ombros com um sorriso.

— Duas vezes ainda! — Hazel fingiu uma cara de emburrada.

— Eu não sei de nada. Só que eu ganhei e vocês perderam.

— Qual é o prêmio? — Jason perguntou.

— O orgulho delas. — Nico brincou, recebendo um tapa da irmã. — Ai! Você quase quebrou meu braço!

Ele fez um bico como se realmente tivesse doído.

— Você trapaceou! — Hazel repetiu.

— A regra era só chegar primeiro.

— Como ele conseguiu te atrasar? — senti minhas bochechas queimarem diante da pergunta da filha de Plutão e Nico me deu uma piscadinha. Abri a boca e fechei sem saber o que responder.

— Hazel, por que Frank não veio? — Nico chamou a atenção, trocando de assunto.

— Ossos do ofício. — Suspirou. — Tem suas desvantagens namorar o pretor. Aliás, Reyna está querendo te matar.

— O que eu fiz?!

— Você não vai nos visitar. Reyna nunca admitiria, mas sente sua falta. — Nico deu um sorriso mínimo e espontâneo. — E ela ficou sabendo que você não quer ir fazer faculdade em Nova Roma.

— Não é isso! Eu só quero aproveitar esse ano de um jeito diferente! Estava pensando em sair por aí, matar alguns monstros, viver um pouco fora do acampamento. — Ele se defendeu, fazendo a irmã revirar os olhos. Seria uma mania de família? — Deixar a faculdade pra depois, igual ao Jason.

— Para um pontifex maximus, Jason, você é uma péssima influência. — Hazel reclamou, fazendo com que todos, com exceção de mim, rirem.

— Terminei o ensino médio ano passado, mas ainda não entrei na faculdade. — Jason, que pareceu perceber minha expressão de confusão, me explicou. — Passei o último ano acompanhando Piper, ela tá fazendo ciências sociais na Califórnia.

— Queria a Brown, mas é um pouco difícil de entrar quando se tem alguns reformatórios e ficha criminal no seu relatório. — Minha cunhada me explicou dando de ombros.

— E você, Hazel? — Perguntei pra garota.

— Ainda tenho mais um ano pra decidir. — Ela sorriu. — Mas estou pensando em fazer algo em Nova Roma.

— Você brigou comigo, mas Frank ainda não está na faculdade. — Nico fez um bico, que tenho que admitir ter sido fofo, fazendo a irmã rir.

— Em primeiro lugar, Frank comando toda uma legião romana. E em segundo, ele não quer sair por aí matando monstros sozinho. — A garota colocou as mãos na cintura, causando alguns risos.

— Eu não vou sozinho… Estava combinando com Will.

— Você e Will só me dão dor de cabeça. — Hazel brincou, apertando a bochecha do irmão que ficou vermelho e exclamou um “ai”, nos fazendo rir.

Por alguns minutos fiquei ali, observando eles brincarem e rirem, tentando desviar os pensamentos de como todos estavam repletos de planos para o futuro, enquanto meu plano era, basicamente, voltar para caçada quando os deuses retornassem a sanidade.

O vento frio da manhã estava fazendo com que meus braços ficassem gelados, uma vez que a água batia pouco abaixo dos meus seios. Olhei para Annabeth para chamar pra um mergulho, mas ela estava ocupada rindo e dando um tapa no braço de Percy, que havia a puxado pela cintura para dar um selinho na loira que ficou vermelha.

Desviei o olhar um pouco embaraçada com a demonstração de carinho público e encontrei os olhos de Nico, que me encarava.

— Que tal dar um mergulho? — Ele falou e ergui a sobrancelha, não confiando muito neste ato amigável. — Acho que nós dois estamos sobrando aqui.

Percebi que era verdade. Hazel, Piper e Jason conversavam sobre alguma coisa relacionada à Nova Roma e Percy e Annabeth estavam abraçados falando baixinho.

Suspirei e assenti pro DI Ângelo, me afastando dos meus amigos e entrando mais no mar. As ondas estavam suaves e baixas, então não me preocupei muito com profundidade, nadando há alguns metros de Nico que parecia alheio a minha presença.

Sei que Apolo me disse para entendê-lo, mas parecia impossível quando ele ficava se revesando em me odiar, ignorar minha existência e, quase nunca, ser legal comigo. Ainda tinha o fato de que meu pai havia dito que ele sabia sobre o casamento, mas até o momento nada apontava isto, no máximo poderia relacionar com a insistência de Hazel em tirar aquela foto.

— Por que está me encarando? — Me assustei com a pergunta, demorando um tempo pra reagir.

— Não estou te encarando. — Ele me olhou com uma expressão de “é mesmo?”. — Só estava me perguntando como você pode lembrar daquilo. — ele fez uma expressão de confuso que o deixava quase fofo. — o que eu disse sobre Apolo. Nem eu lembrava disso!

Ele deu uma risada rouca, se divertindo.

— Eu tenho uma excelente memória. E não é como se aquele tivesse sido um dia normal e que você não tenha me chamado atenção.

— Eu te chamei atenção? — Questionei, erguendo a sobrancelha. Nico somente sorriu, mostrando duas covinhas nas bochechas.

Não sei se ele ia responder, mas em uma fração de segundos eu fui atingida por uma onda e empurrada para o fundo.

Em reflexo fechei os olhos, com a vaga noção de que me gritavam. Senti meu nariz se encher de água enquanto meu corpo tentava inutilmente nadar, os braços e pernas debatendo-se sem sucesso algum, a correnteza me fazendo afogar mais.

Meu corpo já implorava por ar quando senti alguém envolver minha cintura, tentando me puxar pra superfície. Tentei identificar quem era, mas minha mente desligou antes disso.

“Sabia que meu filho ia conseguir!” Tive a impressão de ouvir uma voz masculina e rouca na minha mente, junto a alguns suspiros.

“Respiração boca a boca é tãaaao romântica!” outro timbre, estridente e feminino, além de vagamente familiar, se expressou e em seguida houveram várias vozes ao mesmo tempo:

“Thalia!”

“Percy, faz alguma coisa!”

“Thalia, acorda!”

“Deem espaço!”

Os gritos me chamando tornaram-se mais altos, enquanto minha mente girava. Por que não calavam a boca e me deixavam dormir? Por que meu peito queimava tanto? Onde foi parar o ar? Dá pra parar de gritar?

— Thalia!

Abri meus olhos e vi algumas silhuetas, enquanto meu corpo instintivamente se dobrava e me fazia vomitar água.

— Thalia! — Reconheci a voz de Annabeth soando perto de mim, enquanto meu corpo tremia. Ela me ajudou a sentar enquanto eu focalizava os rostos da loira, Jason e Percy que estavam a minha voltando, todos com a expressão preocupada. — Você está bem?

Balancei a cabeça que sim, apesar de não acreditar muito.

— Não diga que alguém encostou a boca em mim. — Gemi, fazendo Percy rir.

— Não. — Annabeth me tranquilizou, a voz soando aliviada. — Percy fez a água sair dos seus pulmões, mas sem qualquer contato.

— Obrigada. — Agradeci meu primo.

— Não foi nada. Acho que vou virar salva vida de filho de Zeus se afogarem.

— A lista é muito grande. — Annabeth advertiu com um sorriso.

— Tem razão, melhor cuidar só dos Graces. — O filho de Poseidon riu, enquanto Annabeth me ajudava a levantar. — Mas não fui eu que te salvei. Nico quem te tirou do mar.

Olhei para Nico que estava parado a alguns metros com Hazel e Piper nervosas ao seu lado.

— Obrigada. — Falei para ele, que balançou a cabeça em resposta.

— Você está bem? — Piper me perguntou.

— Estou, foi só um susto. Acho que vou descansar um pouco, o mar não costuma gostar muito de mim.

— Vem, eu te levo. — senti a mão de Jason sobre o meu ombro e me virei pra ele sorrindo. — Quero cuidar um pouco da minha irmanzinha.