Narração:Nico di Angelo

Quando Thalia disse “sim” para meu pedido e nós olhamos para o céu, concordando com aquela ideia louca de casamento, eu esperava… eu não sei bem o que esperava. Raios, talvez? Quer dizer, Zeus era dramático o suficiente para mandar um raio só quando a gente mencionava seus casos extraconjugais. Também esperei um terremoto vindo do meu pai. Até uma estrela cadente. Mas não aconteceu nada disso.

― Será que eles ouviram? ― perguntei, franzindo a testa ao ver que o céu escuro continuava limpo como era comum no verão do Acampamento Meio-Sangue.

― Eu não sei… ― Thalia suspirou e então ouvi um zumbido estranho. Será que os deuses haviam mandado insetos mensageiros? ― Você está vibrando.

Apertei os olhos para Thalia, sem entender até que percebesse que havia uma vibração vinda do meu bolso. Um tanto temeroso, pesquei o celular que meu pai havia me dado. Thalia se inclinou na minha direção, tão nervosa quanto eu.

Não havia um raio vindo do céu, mas a mensagem estava nos deixando tão apreensivos quanto. Respirei fundo e desbloqueei o visor. A tela se iluminou e tive que piscar os olhos para acreditar no que via. Era uma mensagem endereçada por um contato salvo como Tio Zeus ― aliás, sério isso?! ― e nela estava.... um emoticon de joinha.

Sim, um daqueles dedões azuis enormes. Só havia aquilo na mensagem. Ele não havia se dignado a mandar nem um “ok”. Apenas havia mandado um joinha. Ele havia me matado para conseguir esse casamento e tudo o que fazia agora era mandar um joinha.

― Eu não acredito nisso. ― Thalia murmurou e eu bufei. Não deveria me surpreender com o descaso dos deuses. ― O que isso significa? Que vamos nos casar hoje? Amanhã? Que ele desistiu…

O celular vibrou novamente, e então apareceu uma nova mensagem:

“Aguarde as próximas instruções.”.

― Nós estamos jogando Nerve?! ― Retruquei, um tanto impaciente.

Fala sério! Parecia uma mensagem automática de operadora ou tutorial de jogos mal programados! Tudo o que os deuses tinham a nos dizer era “aguarde as próximas instruções”?!

― Isso é um absurdo. ― Thalia resmungou, apoiada sobre meu ombro para poder ver as mensagens também. Os fios negros roçavam meu pescoço fazendo cócegas e tinham cheiros de abacaxi. ― O que ele quer dizer com isso?

Talvez ouvindo as palavras da semideusa, uma nova mensagem foi recebida, dessa vez do meu pai. Era um pouco menos estranha que a de Zeus, mas igualmente vazia e irritante:

“Vocês precisam fazer com que todos acreditem que estão apaixonados. Ajam como um casal. Nós cuidaremos do casamento.”.

Ajam como um casal. Como um casal age?! Deveríamos imitar Piper e Jason? Oh, deuses, prefiro morrer… Pensando bem, não quero morrer de novo.

― Quanto tempo acha que vai demorar? ― Thalia perguntou, ainda apoiada no meu ombro, sua voz tão próxima ao meu ouvido que me fez arrepiar.

― Pelo jeito, até acreditarem que somos um casal. ― Suspirei, fazendo a perguntar de Thalia para meu pai, mesmo sabendo que a chance de resposta era nula.

― A eternidade então? ― Thalia soltou um muxoxo e logo o ícone mostrava que a mensagem havia sido lido e ignorada aparecia. Suspirei novamente e bloqueei o celular, pensando em como aquilo só piorava.

― Não acredito que vamos ter que fingir ser um casal. ― resmunguei. ― E vamos ter que fazer rápido, quanto mais cedo acontecer o casamento… ― “mais cedo conseguimos o divórcio”, deixei as palavras no ar.

― Vamos ter que imitar o casal mais doce e apaixonado do acampamento. ― Thalia completou e logo colocava a mão na boca, como se forçasse vômito. ― em quem vamos nos espelhar?

― Adivinha. ― resmunguei, sentindo meu estômago realmente embrulhar.

― Ah, não. ― Thalia choramingou. ― Não me diga que são Jason e Piper.

Olhei pesaroso, mas assentindo. Também não me agradava nada fingir ser um casal com Thalia. Ficar de apelidos fúteis, abraços abafados e beijos babados logo depois de ter sido tostado por um raio… realmente era um pesadelo.

― Lembre-se de não jogar um raio sobre mim cada vez que eu for obrigado a te beijar. ― resmunguei, sentindo ainda o gosto de cobre na minha boca como quando fui acertado. ― lembre-se que eu gosto de te beijar ainda menos que você!

― Me desculpe se eu não sou Will Solace! ― Thalia implicou e senti meu rosto esquentar. Gente, não! Will é apenas meu amigo! Abri a boca para rebater, mas Thalia ergueu as mãos, me silenciando. ― Tudo bem, só não me pegue de surpresa de novo! Ou você vai virar pipoca!

― Muito engraçado, Grace! ― Retruquei, fechando a cara com a piada sobre milho. ―E seu eu quisesse eu poderia te transformar de um pinheiro em uma… ― Tentei pensar. No que alguém transformaria um pinheiro?! ― em uma… em uma… Ah, droga!

Ralhei, perdendo a batalha. Thalia riu vitoriosa, me fazendo fechar ainda mais a cara. Pode apostar que vai ter volta!

― Então vou ter que marcar hora antes de te beijar?! ― questionei, tentando pensar se algum casal faria isso. Será que Jason e Piper tinham uma cota de beijos por semana e organizavam eles de acordo com o dia que queria comer pizza de alho ou cebola frita?

― Sim. ― Thalia respondeu, solene e a encarei na minha melhor cara de “sério isso?”.

― Certo senhorita Grace, então marque para o próximo dia dezesseis às dez horas e trinta e três minutos! ― repliquei e Thalia apenas revirou os brilhantes olhos azuis.

― Verei na minha agenda. ― A filha de Zeus me fuzilou com os olhos e cruzei os braços, irritado. Deuses! Como íamos aguentar isso?! Ficamos em silêncio, apenas ouvindo os gritos do caça a bandeira ao longe. Por fim, ouvi a voz de Thalia. ― Eu não acredito que vou dizer isso, mas… talvez devêssemos… marcar mesmo…

Virei-me para ela, franzindo a testa confuso. Na penumbra da noite, percebi um tom avermelhado no rosto da Grace que me fez erguer a sobrancelha.

― Como?

― Deixa! ― Thalia ordenou, abaixando o rosto. Vê-la envergonhada me deu um pouco de satisfação, mas não mencionei isso eu seria transformado em pipoca mesmo!

― Diz logo. ― revirei os olhos exasperado.

― Eu só estava pensando se deveríamos… sei la… ensaiar o beijo.

― Ensaiar? ― Ergui a sobrancelha. Como, por Hades, alguém ensaiava o beijo?

― É, você sabe… pra não me pegar no susto de novo! ― Thalia resmungou. ― E que não seja na frente do meu irmão de novo!

Fiquei em silêncio, pensando. Talvez não seja uma péssima ideia, certo? Eu não viro pipoca, Thalia não é pega de surpresa e só nós dois iremos presenciar esse momento tão embaraçoso.

― Ok…  Você quer fazer isso agora? ― Perguntei, não querendo fazer não.

― Eca! Não! ― Novamente Thalia fez cara de vômito, me deixando levemente ofendido. ― Você está com um bafo de ketchup que eu sinto daqui!

Ok, eu realmente estou ofendido agora.

― Tudo bem, princesa. ― revirei os olhos. ― Quando a senhorita deseja que seja nosso primeiro beijo?

Thalia suspirou pesadamente, olhando para o céu. Estaria rezando para Ártemis? Ou para o pai jogar um raio na minha cabeça? Thalia parecia estar agindo como se fosse beijar um sapo!

― Amanhã. ― Thalia suspirou, me fazendo arregalar os olhos.

― Amanhã?!

― Antes do almoço. ― Completou. ― Precisamos agir rápidos. E isso… ― Ela fez uma careta. É, ela realmente está se sentindo em a princesa e o sapo. ― Não dá pra adiar. Me encontre amanhã de baixo do pinheiro.

― Qual pinheiro?

Impliquei, mesmo sendo óbvio que era o “Pinheiro de Thalia”. Mas, é claro que eu faria de tudo para lembrá-la do seu passado verde, assim como ela fazia comigo. Aliás, será que ela falava “Pinheiro de Thalia” ou “meu pinheiro”?

― O pinheiro que eu vou esmagar a sua cabeça se você aparecer com esse bafo!

Thalia ordenou, tão doce como o treinador Hedge, ao se pôr de pé.

― Como se o seu fosse muito melhor! ― Ralhei. Por favor, ignore o momento anterior que eu disse que ela cheirava abacaxi.

Thalia me fuzilou com os olhos por um segundo e começou a marchar, me deixando para trás. A segui, tropeçando nas caixas vazias de Mc Lanche Feliz antes de fazer as sombras as puxarem para um lugar distante. Me perdoem se cair na cabeça de alguém.

― Onde vai? ― Perguntei, alcançando Thalia.

― Meu chalé. ― revidou, sem me olhar nos olhos.

― Não quer ver quem ganhou o caça a bandeira? Talvez Jason tenha ganhado por nós…

― Tudo o que eu menos quero é ver meu irmão.

Thalia vociferou, me fazendo parar de uma vez. Mesmo depois de tudo, eles ainda estavam brigados. Os dois terríveis cabeças duras que não iam fazer as pazes por uma briga tão idiota.

Tomando coragem e quase causando minha morte mais uma vez, andei mais rápido e alcancei Thalia, tomando seu pulso nas minhas mãos, obrigando-a se virar para mim.

― Thalia. ― Pedi, aproximando meu corpo do seu, tentando ler seus olhos. O azul estava nublado e indecifrável, como sua mente parecia estar. ― Eu sinto muito por Jason. Mas eu falei a verdade: ele é um bom amigo e essa é sua segunda chance de ter seu irmão de volta. Eu… ― minha voz se quebrou, mas tomei fôlego novamente, expulsando meus sentimentos. ― Eu queria ter essa segunda chance com Bianca.

Thalia ficou calada, me olhando nos olhos. Não era possível saber o que ela sentia, o que pensava, o que iria fazer. Mas meu peito queimava de saudades da minha irmã. Eu havia dito a verdade para ver se Thalia acordava e resgatava seu irmão.

Os gritos explodiram pelo acampamento, vindos da floresta, deixando claro que o jogo havia acabado. Mas sequer desviei o olhar do de Thalia, tão ilegível em sua batalha interna que estava me deixando nervoso. Por fim, ainda segurando seu pulso na penumbra, sussurrei:

― Vamos ver quem ganhou?

Lentamente, Thalia assentiu com a cabeça, fechando os olhos e consentindo que eu nos levasse pelas sombras até o outro lado do Acampamento Meio-Sangue, onde metade dos campistas gritavam de alegria.

No meio da multidão, havia alguém agitando uma bandeira vermelha e, quando eles se aproximaram de nós, percebi que era Jason. Nós havíamos ganhado.

Sorri para meu amigo que agitava a bandeira tão feliz como se tivesse ganhado um beijo de Piper. Olhei para Thalia de soslaio, observando-a tensa ao olhar para o irmão. Jason encontrou seu olhar e parte do sorriso e ânimo dele se foi, deixando-o tenso.

Os filhos de Zeus haviam herdado o orgulho do pai.

No entanto, Thalia sorriu e deu alguns passos em direção ao irmão.

― Parabéns, Jason. ― Ouvi sua voz quando ele assentiu com a cabeça e observei, com alegria, Jason envolvê-la em um abraço apertado. A briga dos irmãos Graces havia chegado ao fim.

(...)

Confesso que não dormi muito bem naquela noite. Não só pelo terror do beijo, como também pela expectativa de rever meus amigos no dia seguinte: Hazel, Percy e Annabeth viriam passar o final de semana no acampamento. E, realmente me senti feliz quando nos reencontramos, por mais que Hazel tenha me apertado tanto que me perguntei se ela estava tentando me matar sufocado com o abraço.

No entanto, por mais feliz que eu estivesse ao rever minha irmã, isso também complicaria as coisas: ela estava decidida a passar o tempo todo comigo, o que tornava difícil fugir para o meu temido encontro com Thalia. Além do mais, ela não era a única que havia grudado em mim: Will reclamou por um bom tempo quando eu disse que não iria passar a manhã de sábado na praia com eles, por mais que eu dissesse que eu não estava fugindo do banho de sol. Bom, não só isso.

Por incrível que possa parecer ― ou nem tanto, afinal ele é conhecido por ter salvado o mundo ―, eu fui salvo por Percy, que havia quase surgido das sombras e envolvido seus braços em volta dos meus ombros, dizendo para Will que eu não poderia ir para praia, porque tinha um compromisso com Percy. Eu realmente fiquei tentando a lembrá-lo de que ele não faz o meu tipo, mas, naquele momento era a melhor forma de me livrar de Will Solace.

Ah, se eu soubesse o que viria a seguir eu nunca teria aceitado ser arrastado para o chalé três. Aquilo tinha cara de um plano maligno criado por Annabeth e, afinal, era um plano maligno criado por Annabeth. Ela havia dito para Percy ter comigo uma “conversa de homens”, e eu não faço ideia do que seria essa “conversa de homens”, só esperava que não fosse algo envolvendo bebês ou eu teria que matar a filha de Atena. Mas, felizmente, Percy também não fazia ideia do que era essa tal “conversa de homens”, então nós só ficamos jogados por uns cinco minutos no chalé.

Eu preferia ir praia, claro. Ou treinar na arena, ou, até mesmo, praticar um pouco de canoagem, mas Thalia havia dito claramente que eu não poderia “suar como um porco”, afinal, “já não bastava ela ter que encostar em mim, pelo menos eu teria que estar aceitável”. Sim, todas são palavras dela. Como se eu quisesse beijá-la!

No final, Percy perguntou se eu não queria jogar mitomagia e decidi que era hora de sair daquele chalé  antes que enlouquecesse.

O filho de Poseidon acabou me encontrando uma hora depois, apenas para me arrastar para o topo da colina meio-sangue onde Annabeth e Thalia nos esperavam.

Neste momento, gostaria de fazer uma pausa para deixar claro três pontos:

Primeiro: Eu não havia dito uma palavra a Percy e Annabeth sobre nosso plano do casamento e divórcio, no entanto, Thalia parecia não só ter contado, como também contado sobre nosso “encontro” para ensaiar um beijo. Isso sem nem me perguntar se eu concordava ou não de contarmos!

Segundo: Quando eu cheguei ao topo da colina, demorei alguns segundos para reconhecer Thalia Grace. Ela estava completamente diferente do comum. Por mais que permanecesse de preto, sua roupa era incomum não só para a garota punk, mas também para uma caçadora. Ela estava de short curto, o que já seria de se estranhar, e uma blusa sem manga que deixava seus ombros exposto, bem diferente das camisetas. Mesmo a maquiagem no rosto estava mais leve que o normal e ela estava de batom. Um batom cor de rosa! Mas, o mais estranho, é que ela estava sem a tiara de tenente. Acho que isso deveria ser a pior coisa para ela.

Terceiro: à julgar pela cara infeliz de Thalia e o sorriso radiante de Annabeth, com certeza a Grace havia sido obrigada a usar tal roupa. Obrigada, deuses, por Percy não ter feito o mesmo comigo!

― Até que enfim! ― Thalia reclamou, cruzando os braços irritada. Ela parecia até mesmo menor e menos intimidante, mas ainda tinha aquela aura de “eu vou matar você”.

― Você não disse a hora, ué. ― Dei de ombros, cruzando os braços também. Ela estava começando a me deixar irritado.

― Espero que, pelo menos, tenha escovado os dentes! ― Thalia continuou, o tom venenoso.

― Eu ia perguntar se você fez o mesmo, mas não acho que tenha como um drakon se livrar do bafo! ― revidei, no mesmo tom.

― Chega. ― Annabeth deu um passo a frente, seu semblante preocupado e Thalia me olhou como se fosse me jogar um raio. De novo. ― Vocês precisam parar de discutir, lembrem que são aliados nessa batalha, não inimigos! Se quiserem dar certo, vão ter que colaborar. Então, sem insultos! Certo, Thalia?

Thalia olhou irritada para amiga e sorri de canto, mas durou pouco, pois Annabeth já me olhava no seu jeito mais irritado:

― Certo, Nico?

Engoli em seco e assenti, enquanto Percy ria ao meu lado.

― Vocês precisam ir, vamos dar cobertura por um tempo, mas não vai durar muito. ― Annabeth continuou. ― Precisam estar aqui antes do almoço. Talvez seja bom chegarem juntos e um pouco atrasados… Isso vai dar o que falar.

Fiz uma careta: eu simplesmente odiava ser o centro das atenções. Mas, nos próximos meses, parecia que esse seria meu fardo.

― Se quiser uma aula práticas de beijo antes, ainda dá tempo. ― Percy comentou sacana, ao olhar para mim. Senti meu rosto esquentar, mas não desviei o olhar:

― Já disse que você não faz o meu tipo, Jackson!

Ele ergueu a sobrancelha, ainda com um sorriso encrenqueiro e revidou:

― Tem certeza disso?

Por mais que eu quisesse sumir nas sombras, ou cortar a garganta de Percy, me contive em fuzilá-los com os olhos por um segundo, antes de suplicar para a pessoa mais sensata ali:

― Annabeth, diga ao seu namorado que eu não quero beijar ele!

― Percy, comporte-se. ― Annabeth ordenou ao namorado, mas algo me dizia que ela poderia estar por trás daquilo.

― Podemos ir logo? ― Thalia reclamou, impaciente como sempre.

Suspirei dramaticamente e assenti, estendendo a mão em direção a Thalia.

― Melhor irmos pelas sombras, não? ― Sugeri e ela assentiu.

― Tenham juízo! ― Annabeth implicou, mas não retruquei.

Thalia segurou minha mão e pisei na sombra do pinheiro dela,nos puxando.

(...)

Para viajar nas sombras, você precisa de muita concentração e confesso que, naquele dia, meus pensamentos não tinham muito foco. Por isso, nosso “pouso” foi o mais bagunçado possível.

Nós caímos, rolando pela grama e nos machucando, até pararmos um em cima do outro. Ou melhor, com Thalia em cima de mim. Seu rosto estava a centímetros, como no dia do parque de diversões, perfeito para um beijo… Mas ela apoiou a mão sobre o meu peito, com mais força que o necessário e se empurrou para se levantar, me deixando apenas com dor e resmungando.

― Onde estamos? ― Ela questionou, nem se dando ao trabalho de me ajudar a levantar.

― Central Park. ― Retorqui, limpando a poeira das minhas roupas.

― Central Park? ― Thalia repetiu em um tom desagradável. ― Não tinha nenhum lugar menos clichê não?

― É romântico.

Revirei os olhos, observando a garota se inclinar para a frente, tocando o joelho que sangrava com um corte um tanto feio. Como um bom amigo de Will Solace, ou o seu mais frequente paciente, eu sabia que sempre devia andar com néctar e ambrósia. Por isso, estendi um pouco da comida dos deuses e logo o machucado melhorava.

― Isso está realmente romântico. ― Thalia reclamou, fazendo uma careta ao se pôr de pé novamente.

― O que você sugere então? ― reclamei. Poxa! Eu estava me esforçando, mas tudo o que Thalia fazia era reclamar e me culpar! ― Quer um buquê de flores? Balões? Fogos de artifício?!

― Por que não? ― Thalia ergueu a sobrancelha em deboche e foi o fim da picada.

― Por que não?! ― repeti, fechando as mãos em punho. ― Certo, princesinha!

Dei um passo em sua direção e a puxei pelo pulso, nos levando pelas sombras até uma das ruas movimentadas de Nova Iorque.

― Ei! ― Thalia ralhou, olhando em volta enquanto as pessoas esbarravam em nós e reclamavam por estarmos parados. ― Onde estamos?

― Você não quer flores, balões e fogos para completar esse circo? ― reclamei, irritado. ― Então estamos em frente a uma loja de palhaços, deve encontrar tudo o que precisa aqui!

― Você não está falando sério! ― Thalia arregalou os olhos, dando um passo para trás.

― Não estou? ― retorqui exasperado, praticamente gritando. ― Eu quero isso tanto quanto você, Thalia! Ou até menos! Mas tudo o que você está fazendo é dificultar! Então, será que poderia parar de drama e me beijar logo pra irmos pra casa e resolvermos logo toda a porra desse casamento?!

Os olhos azuis de Thalia pareceram relampejar. Eu esperei que ela me desse um tapa, me jogasse outro raio, ou ainda, cortasse minha cabeça com suas facas. Contudo, ela não fez isso, ela apenas obedeceu ao que eu disse.

Thalia deu mais um passo para frente e tentou me beijar, batendo a testa na minha em um som que me deu enjoo. Fiz uma careta, mas consegui conter o protesto, sentindo os lábios de Thalia pressionarem os meus e sua mão puxar minha nuca em direção a si, enfim me beijando.

Pelo menos, eu acho que isso era um beijo.