Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 32
Não era exatamente isso que eu estava esperando...


Notas iniciais do capítulo

Quero dedicar esse capítulo para duas leitoras muito especiais:
Duda Messi Ferrari que fez uma recomendção linda, muito obrigada!
E Saori_Dragneel, que fez aniversário essa semana, parabéns atrasado!
Logo postarei na página explicando meu sumiço, ok? Mas, por esse capítulo, vocês verão que estive em uma fase um tanto pessimista, porém estou me melhorando.
Há um link do Polyvore no capítulo.
Espero que gostem.
Boa leitura!



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Narração: Jason Grace

 

Depois da morte de Nico, tudo parecia ir de mal à pior. O que ele e Thalia me contaram sobre o plano dos deuses e as ameaças do meu pai, foi o suficiente para me deixar atordoado, como se aquilo fosse um sonho psicodélico. Para semideuses, lutar contra empousas, espíritos do vento e até Titãs era comum. Conversar com deuses e poder ser tostado se reclamar que Apolo estava brilhante demais, é normal. Agora, seus pais se metendo em namoros e casamentos?! Insanidade! Quase tanta quanto a que levou Nico a beijar minha irmã!

Aliás, na noite do beijo, as coisas seguiram por um caminho ainda mais estranho, principalmente quando cheguei em meu chalé, à procura de Thalia, e ela estava reagindo à tudo de uma maneira que eu nunca esperaria da minha irmã:

— Thalia? — Perguntei ao entrar na cabine de Zeus e encontrá-la enrolada em sua cama, a cabeça abaixada entre as pernas. — Você está bem?
Fechei a porta com cuidado, mas, como não tive nenhum resposta dela, sentei-me em sua cama, ouvindo sua respiração exasperada.

— Thalia? — Chamei novamente, tirando um pouco do cabelo de sua face. Senti meu coração apertar ao perceber que seu rosto estava úmido, os olhos vermelhos cercados por maquiagem borrada e ela apertava os lábios para suprimir os soluços. — Thalia!

Exclamei e me aproximei mais, assustado. Nunca na minha vida pensei que veria minha irmã chorando, mas ela estava ali, encolhida e tremendo no nicho, a cabeça baixa como se tivesse vergonha de se mostrar fraca.

— Pelos deuses, o que aconteceu?! — Perguntei, sem saber se a abraçava ou chamava Quíron. — Você está machucada? Aconteceu alguma coisa?

— Nã-não. — Soluçou, sua voz trêmula enquanto levava a mão aos lábios, tentando sufocar o choro. — E-eu estou bem.

— Não, não está. — Engoli em seco, tentando pensar no que poderia deixar minha irmã tão instável. A forma explosiva, literalmente, com que reagiu ao beijo de Nico veio a minha frente, me fazendo suspirar e falar o mais suave possível. — Isso é por causa de Nico?

Ela soluçou mais alto e apertou os braços ao redor das pernas, me deixando mais tenso. Ainda sem saber o que fazer, a envolvi nos meus braços e me surpreendi quando ela se encolheu contra mim, abraçando minha cintura e afundando o rosto no meu peito. Afaguei seu cabelo e dei-lhe um beijo, esperando até que se acalmasse.

Demorou mais do que eu esperava até que ela conseguisse controlar os soluços e se afastar, ainda que as lágrimas teimassem em continuar em seus olhos.

— Desculpe. — Thalia fungou, enrolando-se novamente nos cobertores.

— Ei, não precisa se desculpar. — Retruquei, afastando o cabelo de sua face em um afago. — Quer me contar o que aconteceu?

— Não... não é nada.

— Sim, é! — Tentei não soar muito exasperado, mas falhei. —  Você é forte: se não fosse nada, não estaria assim. Fale comigo, Thalia, eu quero te ajudar! Foi por que Nico te beijou?!

Ela abaixou a cabeça e apertou os lábios e mais uma lágrima lhe escapou, sua respiração ofegante antes de erguer o rosto novamente.

— Não, não isso, na verdade. Eu só…

— Só? — Incentivei.

— Tinha esperanças… De ainda ser caçadora. Eu achava que ainda podia tá errada, que ainda podia ser uma caçadora, que Ártemis não tivesse me tirado da caçada....

Engoli em seco, pensando em como eu era tolo por não ter visto o que aquele beijo poderia significar para minha irmã, uma garota que jamais deveria dar seu primeiro beijo em ninguém. Eu não fazia ideia de qual era o castigo que Ártemis inflingia as caçadoras que desrespeitavam os votos, mas já havia ouvido sobre as Virgens Vestais, sobre como eram enterradas vivas se quebrassem os votos. Se Vesta — Ou Héstia, se preferir —, uma deusa conhecida por sua benignidade, castigava com uma morte horrível suas seguidoras, eu realmente não sabia o que esperar da selvagem Ártemis. Nico, com um simples beijo, havia colocado minha irmã em perigo mortal.

— Mas estava errada. — Sussurrei, tirando um fio de cabelo do rosto de Thalia. Ela assentiu e abaixou a cabeça, parecendo engolir um soluço,

— Eu esperava que algo desse errado, que Ártemis nos punisse. — Minha irmã murmurou, tampando o rosto. A voz saia rouca, um pouco embargada, porém, estava livre de soluços, não tão desesperada. — Mas... Ela me abandonou. De novo.

Um silêncio pesado envolveu o chalé. “De novo”. Ela não se referia à Ártemis, se referia à quem a havia deixado sozinha, desamparada. Minha mãe, Luke. Me perguntei se eu estava naquela lista, se ela considerava que eu a havia abandonado, sendo que fui eu quem fui tirado da minha família.

Tentei tirar os pensamentos rancorosos da minha mente e os fixar em deixar minha irmã bem, em consolá-la. Ela ergueu um pouco o rosto, me fitando nos olhos. O azul, mais escuro que o meu, parecia vidro quebrado, ela parecia quebrada.

— Eu… Eu achava que tinha uma família agora, sabe? — Thalia sussurrou, mas, mesmo que olhasse em meus olhos, um olhar que me fazia querer desviar, eu não sabia dizer se era para mim que dizia. Talvez falasse para si mesma, ou para os deuses, ou para todos nós, afinal.

Engoli em seco, me forçando a sustentar seu olhar. “Achava que tinha uma família”, uma família na caçada, uma família de garotas estranhas que se aventuravam matando monstros. Uma família que não me incluía…

—  Mas parece que isso não dá certo, não comigo. — Thalia riu, mas não havia humor. Era algo seco, quase macabro, a pura ironia. — Sempre que eu começo a me acostumar… me tiram um a um. Foi assim com você quando éramos crianças.... Com Luke e Annabeth quando fugi… E agora estou despejada da caçada… Talvez eu não devesse ter uma família, né?

Mais uma vez não soube responder e não consegui sustentar seu olhar. Parecia que havia um nó na minha garganta, um nó que me puxava para baixo, deixando-me cada vez mais melancólico, quanto mais o tom de Thalia abaixava, até se tornar nada mais que um sussurro.

— Talvez Nico estivesse certo ao me chamar de tóxica….  Alguma pessoas foram feitas para ficarem sozinhas. E talvez eu seja uma delas.

Mais uma vez o silêncio pesado. Tentei me lembrar de quando Nico havia dito isso, mas nada me veio na memória. Talvez fosse apenas uma discussão dos dois, mas aquilo havia afetado minha irmã, afetado de verdade. A olhei, mas seus olhos não estavam em mim.

Ela havia abraçado novamente as pernas e abaixado a cabeça, seu corpo tremendo e eu não duvidaria que tivesse voltado a chorar. Ela parecia tão indefesa… Tão indefesa quanto eu quando fui deixado com Lupa. Thalia também havia sofrido muito nas mãos de Hera.

— Ei… — Sussurrei, afagando suas costas. Ainda não sabia o que dizer, mas sabia que não poderia deixá-la assim, eu precisava ajudá-la. — Não fale assim... Eu sou seu irmão, estou aqui.

— É, mas até quando?! — O tom de Thalia foi agressivo, um arrepio passando por meu corpo. Instintivamente afastei meus braços dela e, quando minha irmã levantou o rosto, havia fúria nos olhos azuis. Como vidro quebrado, parecia que os estilhaços começavam a machucar não somente ela, mas quem estava ao lado. Thalia riu novamente, um soluço a escapando. — Sejamos francos, Jason: Nós não somos irmãos, não de verdade. Podemos ter o mesmo sangue, mas somos completos estranhos. Ficamos separados por vinte anos, é idiotice achar que podemos ser uma família.

A encarei chocado por alguns segundos. Aquilo era cruel, doia. Por mais que fosse verdade o quanto éramos distantes, era duro ouvir, principalmente quando o tom de Thalia dizia claramente que ela não esperava que aquilo mudasse, que ela não faria nada para mudar essa distância. Seríamos sempre dois estranhos que compartilhavam o mesmo pai e mãe, só isso.

— Você realmente pensa assim? — Questionei, franzindo a testa. Minha voz pareceu ecoar no chalé silencioso, mostrando o quão vazio, quão solitário ele sempre seria.

— Você não?! — Thalia retrucou, sorrindo sarcástica. Parecia começar a se refugiar na ironia para fugir das lágrimas, tentava se mostrar forte, de uma maneira fria e cruel. — Sejamos realistas. Você mesmo quem disse: Nico é seu irmão. Tenho certeza que se tivesse que escolher entre nós dois eu seria deixado de lado. E eu não te julgo por isso, sério. Vocês se dão melhor do que jamais nos daremos.

Senti um tremor pelo meu corpo, mas não tinha a ver com empatia por minha irmã. Era um sentimento conhecido, que muitas vezes eu tentava suprimir, por mais difícil que fosse: raiva. As palavras de Thalia fizeram meu sangue ferver. Seria loucura minha ou ela estava criticando minha amizade com Nico? Dizendo que meus laços com o Di Angelo prejudicavam o relacionamento que eu e Thalia mal tínhamos? Sim, ele era como um irmão pra mim. Mas no que isso importava pra Thalia?!

— É, Thalia, mas nem sempre foi assim. — Disparei, tentando me controlar. Por mais que começasse a ficar nervoso, precisava deixar claro para Thalia que eu acreditava que poderíamos ser irmãos de verdade, construir uma amizade forte. Afinal, não foi exatamente isso que aconteceu comigo e Nico?! Não confiavamos nem um pouco um no outro, não no começo.

As imagens de quando conhecemos o Cupido, de quando estávamos na Casa de Hades, jorraram em minha memória. Nico havia me questionado se eu tinha fé nele, eu provei naquele dia que sim, e minha resposta sempre seria a mesma.

—Eu não gostava de Nico — contei, pensando em quando ele havia sido raptado no Tártaro. —, não confiava nele no começo.

— E depois viraram amiguinhos? —  Thalia inquiriu, erguendo a sobrancelha.

— Escute, durante a guerra, você sabe que Nico foi sequestrado, certo? — Pedi, tentando soar racional. Minha irmã assentiu, o sorriso falso não mais visível. — Por dois gigantes. Ele era a isca, tudo aquilo uma armadilha pra nos atrair, era bem óbvio isso.

— Que no final deu certo. — Ela revirou os olhos, me fazendo morder o lábio inferior.

— Sim, no final deu. Mas… — Murmurei, desviando meus olhos, na minha mente um redemoinho de lembranças. — Eu não queria arriscar na época. Eu não confiava nele… Quer dizer, ele sabia dos dois acampamentos e mentiu pra todos… Ele reencontrou Percy no Acampamento Júpiter antes da guerra começar e não disse nada… — Minha voz começou a aumentar, meu pulso acelerando. Sim, eu havia sugerido deixarmos o Filho de Hades para morrer, mas havia motivos para isso. — Você conhece ele a mais tempo, sabe como a lealdade dele é complicada. Me contaram sobre tudo o que ele fez tentando ressuscitar a irmã, como atraiu Percy pra uma armadilha. Eu pensei: o que garante que ele está do nosso lado agora?!

— Você… queria deixar ele lá?

Olhei para o rosto da minha irmã. Sua expressão era incrédula, mas não somente isso… Horror? Decepção? Era difícil dizer. Engoli em seco, a raiva parecendo florecer mais. Ela me julgava por tomar decisões friamente? Por agir como me ensinaram minha vida toda?! Por ser um líder, um pretor? Logo ela? A Tenente das Caçadoras de Ártemis?!

— Eu não fui o único, se serve de consolo. — Retorqui, seco. — Eu sou romano, Thalia, era pretor: precisava pensar sem sentimentos, calcular nossa melhor chance. Ir pra uma armadilha estava entre as piores opções.

O silêncio foi pesado. Contei até dez, respirei fundo… Eu precisava me controlar. Filhos de Zeus precisam estar o tempo todo fugindo da raiva.

— E o que aconteceu? — Thalia perguntou. Tentei ler suas expressões, mas na penumbra era difícil. — Quem decidiu?

— Hazel. Ela… hã… quase me decapitou. — Respondi, lembrando dos pratos e talheres que havia voado em minha direção quando sugeri deixar Nico para trás. — E ao Leo também, ele concordava comigo.

— Ah, isso explica porque eles não dão certo! Quer dizer, se alguém tivesse dito que deveriam me deixar morrer, eu também não gostaria!

— Era a lógica, Thalia! — Exclamei exasperado. Pela forma como ela dizia, parecia até que eu e Leo éramos assassinos. — Todos os meus instintos me diziam que era loucura! Ele era um traidor! Como eu ia arriscar a missão toda por alguém que poderia estar nos traindo de novo?!

— Ele é uma pessoa! — Thalia gritou. Senti uma carga elétrica pelo meu corpo, mas não conseguia saber se vinha de mim ou dela. Nós dois estávamos sobrecarregados, estressados e, pra mim, era óbvio que algo ia dar errado. Mas, não consegui me afastar, não consegui ficar calado. Parecia que toda a raiva explodia no meu peito, eu precisava dizer o que eu guardava há tanto tempo.

A volta de Thalia, a morte de Nico, toda essa ideia absurda de casamento… Eu me sentia mais perdido do que estive durante a guerra com Gaia. Me sentia frustrado, irritado e, infelizmente, não conseguia mais segurar nada disso.

— Me desculpe se eu tive que agir desse jeito! — Em algum canto da minha mente eu sabia que estava gritando, mas não me importei. — Frio, calculista, do que quiser chamar! Eu fui criado pra isso! Fui jogado aos lobos quando criança! Não tem forma mais literal de dizer isso! Nunca tive ninguém pra me proteger. Nem mãe, nem pai, amigo ou irmão: Ninguém!

Percebi que havia ido longe demais. Culpe ao estresse, ao choque, ou todos os sentimentos que eu guardava há tempos: eu simplesmente explodi. Explodi sobre meu passado, sobre o sentimento de abandono que sempre me atingia: Dado à Hera por meu pai sem qualquer remorso; Descartado por minha mãe que não teve forças de lutar por mim; Mesmo Thalia, minha única irmã, havia me abandonado, ela não havia procurado por mim, não o suficiente. E, agora que eu começava a ter uma família com Piper, Nico, Leo e todo o Acampamento Meio-Sangue, Thalia voltava com os fantasmas do meu passado e parecia destruir o que estava perto de mim.

O silêncio foi denso, incômodo, minha respiração era exasperada. O rosto de Thalia era ilegível, uma máscara com maquiagem borrada e boca apertada. Eu não sabia dizer se estava surpresa, triste, nervosa ou assustada. E eu não sabia se me importava com isso.

Quando ela se pronunciou, o tom foi gélido, fatídico, uma conclusão matemática:

— E você me culpa por isso.

Eu queria negar. Eu devia negar. Não era justo, mas não era mentira. Apenas suspirei e engoli em seco. Não havia o que dizer.

— Vá embora, Jason. — Ordenou ainda sem mudar o tom.

— Thalia… — Sussurrei, sem saber continuar. Para bem, ou mal, ela me cortou:

— Não, você já disse o bastante. Só… saia daqui, por favor. Vá pra sua cama.

Talvez eu devesse ficar ali e argumentar, dizer que eu não a culpava. Mas, parte da minha consciência sabia que ela estava certa, uma parte de mim gritava que fui abandonado por minha família, por minha mãe e irmã quando mal sabia andar. Essa parte magoada estava se revelando, então fiz a melhor coisa que poderia: Subir as escadas atrás da estátua do meu pai e fui para o telhado, onde poderia ficar à sós com meus pensamentos e deixar Thalia em paz com seu choro e sua raiva.

 

(...)

 

Na manhã seguinte, eu não a encontrei no nosso chalé quando acordei. O que, de certa forma, foi um alívio: não sabia se queria realmente pedir desculpas pelo o que disse, ainda que minha razão dissesse que era o melhor pra termos uma boa convivência. Uma boa convivência que me soava impossível, principalmente porque, em boa parte do tempo, teríamos a companhia de Nico. E isso começaria com o café.

Confesso que, enquanto seguia em direção ao pavilhão, me passou pela cabeça a hipótese se Thalia não teria saído mais cedo para assassinar Nico. Contudo, antes que chegasse à minha mesa, notei o suposto morto rindo ao lado de Will.

— Você deveria ganhar o prêmio de cinismo, Menino dos Mortos! — O Solace dizia, batendo o ombro contra o de Nico. Era interessante como eles contrastavam: Will em suas roupas de surfista e cabeleira loira que reluzia luz e paz, enquanto Nico parecia estar saindo de um show gótico, todo de preto.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, me aproximando deles. Para alguém que seria morto em poucos minutos pela futura noiva, Nico parecia bem relaxado.

— Nós perdemos a hora! — O filho de Hades riu, vermelho. — Esqueci completamente da inspeção matinal!

Abri a boca em choque. Se eles fossem pegos, além dos castigos por passarem a noite no mesmo chalé, os rumores sobre o relacionamento dos dois só iam aumentar. Por um lado, talvez isso trouxesse à tona sentimentos escondidos que eu tinha certeza que existiam! Pelo outro, meu pai ia matar Nico porque não ia acontecer Pipopinha!

— Relaxa, não fomos pegos. — Will riu da minha cara, diminuindo o tom para que ninguém escutasse. — Era apenas Paulo e Valentina: O primeiro é bem lerdo e, no caso de Vale, Nico foi a rainha do drama e usou a desculpa “Nossa, eu acabei de morrer e você já quer que eu arrume meu quarto?!”.

— Essa foi baixa, Nico, bem baixa! — Ri, cruzando os braços. —Mas, como não te viram, Solace?!

— Ah, você sabe: sou filho de Apolo! Se esconder em baixo de camas e armários é nosso passatempo favorito!

Não pude deixar de rir, mas também de ficar constrangido, assim como Nico que ficou vermelho. Me perguntei se a piada surgiria o mesmo efeito se os dois soubessem a sexualidade de cada um!

— Valentina me deu uma nota baixíssima, mas, pelo menos, não revistou o chalé. — Nico finalizou.

— Só porque você usou esse sorrisinho fofo: se você pedisse, até a lua ela te daria! — Will implicou, apertando a bochecha do filho de Hades que exclamou um “ai” e o fuzilou com os olhos. — Não é segredo nenhum que Valentina Dias tem um crush por você!

— Ah, não! Sem garotas! — Nico ergueu as mãos em rendição. — Já tem um número mais que suficiente tentando me matar!

— Falando nisso, cadê Thalia? — Will questionou e senti meu corpo ficar tenso. Ao mesmo tempo que sabia que teria que contar para Nico sobre a discussão da noite anterior, me sentia envergonhado e Will não precisava saber daquilo.

— Deve estar no pavilhão. — Sugeri, dando de ombros com um sorriso falso. —  Hora do café, lembra?

— Claro que lembro! Vamos, manés, estou morto de fome! — Will retrucou, sorrindo como um gato. Ele piscou o olho direito e começou a correr, gritando por sobre o ombro. —  Quem chegar por último é a mulher de Hades!

— Solace! — Nico retrucou, correndo atrás do amigo irritante. — Não use o nome do meu pai em vão!

Revirei os olhos e o segui, pensando quem era mais bonito: Perséfone ou eu!

No final, não havia qualquer vestígio de minha irmã no café, ou nas aulas que teríamos. Quíron chegou a questionar se ela seguiria o cronograma do nosso chalé, mas não soube responder e, pra ser honesto, não estava exatamente ansioso para encontrar Thalia. Aliás, isso foi um dos motivos pelos quais faltei a aula de grego antigo que tínhamos antes do almoço. Os outros motivos incluíam a vontade de evitar Nico para não ter que contar da discussão e, por fim, eu precisava falar com Will.

Não foi difícil encontrar ele na enfermaria, ainda que ele estivesse em uma das pequenas salas mais escondidas do local. Confesso que me surpreendi quando o encontrei vestindo jaleco e máscara de proteção, manuseando alguns alguns vidros e tabelas.

— O que está fazendo? — Questionei, levando-o a erguer o rosto das soluções por alguns segundos.

— Experimentos. — Debochou pingando, com um instrumento estranho, algumas gotas da mistura em uma das tabelas.

— Quer ver se consegue uma poção para fazer Lou Ellen e Cecil pararem de destruir esse lugar?! — Continuei, lembrando que o filho de Hermes havia explodido uma bomba de fedor no dia anterior. — Acho que nem a própria Hécate consegue isso!

Will, estranhamente, apenas riu e continuou seu trabalho, sem me dar muita atenção. Analisei com cuidado a pequena salinha, uma espécie de laboratório improvisado. Will parecia fazer testes com fragmentos de madeira, resmungando cada vez que colocava soluções nas tabelas, desaprovando o resultado. Uma ideia vaga começou a surgir em minha mente.

— Will, — Comecei, torcendo pra estar errado. — isso que você está mexendo… É a flecha de Nico? A flecha que matou ele?

Notei o corpo do filho de Apolo enrijecer. Will suspirou e virou-se pra mim, tirando os óculos para me olhar nos olhos. Sua expressão deixava claro que eu estava certo e aquilo daria uma grande confusão.

— Você está tentando descobrir qual o veneno. — Deduzi, encarando meu amigo que assentiu, admitindo estar dando uma de CSI.

— Não encontro nada. — Suspirou, desfazendo-se das luvas e do avental também. — negativo para todos os reagentes. Esse veneno não é daqui, veio de fora do Acampamento Meio-Sangue. Além de assassinato, foi premeditado.

Apertei meus lábios, tentado a lhe dizer que deveria deixar aquilo de lado e que não encontraria nada. Mas, não havia como convencê-lo disso sem contar a verdade, o que estava fora de cogitação.

— O que vai fazer agora? — Perguntei, por fim.

— Eu tenho um amigo que vai levar à um laboratório profissional. Pode demorar um pouco, mas terei a resposta.

— Um amigo? Quer dizer… de fora do Acampamento?

— O que? Acha que minha vida é apenas isso?! — Will riu, erguendo a sobrancelha loira.

— Como você vai fazer isso? — Ignorei sua pergunta, tentando descobrir mais. — Entregar a flecha?

— Quando for visitar minha mãe. Posso fazer um pequeno desvio em direção ao Texas.

Pensei no pouco que sabia sobre a família de Will, era alguma coisa sobre uma mãe, cantora country, que fazia pequenos shows em Dallas ou Austin, não tinha certeza. Realmente, não éramos amigos tão íntimos, mas eu precisava tirar uma história à limpo.

— Você está bem empenhado nisso. — Comentei como quem não quer nada, mas o guiando para o assunto que eu queria.

— Eu me importo com Nico. — Will deu de ombros, sentando-se em um maca. Parecia cansado.

— Sim, eu já vi. Você se importa muito, realmente.

— Você está insinuando algo? — O Solace estreitou os olhos.

— Eu?! Não! — Menti, me fazendo de ofendido.

— Realmente, Piper quem é boa com as palavras! Diga logo, Jason!

Revirei os olhos e desisti, cruzando os braços em frente ao Solace.

— Você tem uma queda por Nico?!

— Porque os caras héteros sempre acham que só porque você gosta de homens vai dar em cima deles?! — Will revirou os olhos, e não sei dizer se ele fugia do assunto.

— Não foi isso que falei. — Me defendi, erguendo as mãos. — Só estou perguntando se você é ou não a fim de Nico!

— Por que você quer saber?!

“Preocupação”, pensei.

— Curiosidade. — Disse, dando de ombros. — Só porque você parece se importar muito com ele. E ainda não respondeu minha pergunta.

Will suspirou, os olhos se revirando em uma mania muito parecida com a do Filho de Hades. Houve uma pequena pausa antes dele, enfim, me responder:

— Não, Jason. Não gosto de Nico dessa forma! Agora, você não deveria estar em uma aula não?!

— Está me expulsando?!

Reclamei enquanto minha mente raciocinava esse isso. Se Will não estava apaixonado por Nico, se não havia qualquer sentimento além de amizade… Bom, eu não tinha o que fazer. O que me restava era apoiar Nico nessa loucura de falso casamento com minha irmã e torcer para que ninguém se machucasse, não muito.

— Ou faz algo de útil, ou cai fora. — Will ordenou, dando uma de chefe. Revirei os olhos sorrindo, pronto para retrucar, mas o tom do Solace abaixou, os olhos azuis de uma forma anormalmente séria. —  E, Jason, não conte para Nico que eu sou gay, ok?!

Assenti, cansado. Por que eles não podem simplesmente conversar sobre isso?!

(...)

— Fugindo de mim, Jason Grace?! — A voz feminina me alertou e, ao me virar, não contive o sorriso ao abraçar Piper. Seu cheiro, sua voz, seu toque… Aquilo fez meu corpo relaxar, meus problemas se dissiparem enquanto ela capturavam meus lábios com os seus.

— Senti sua falta… — Murmurei entre o beijo, a puxando para nos sentarmos de baixo de uma árvore no pomar. O calor da tarde de verão era forte, havíamos acabado de almoçar. Almoço no qual, Thalia não participou: eu mal cheguei no pavilhão e ela se levantava, deixando bem claro que queria me evitar. Não discuti, não fui atrás dela. Aqueles que me perguntaram onde ela estava, receberam respostas vagas e monossilábicas. Eu precisava resolver meus problemas com Thalia, mas só depois que nós dois estivéssemos com a cabeça fria.

— Quase não te vi hoje. — Minha namorada fez um bico e não resisti a lhe beijar a bochecha. De vez em quando fugíamos de uma atividade ou outra para ficarmos sozinhos, mas naquela semana estava ficando difícil. — Nem na aula de grego antigo!

— Estava ajudando Will com a enfermaria. — Contei uma parte, odiando ter que esconder coisas de Piper. Acima de tudo, ela era minha melhor amiga, ninguém conseguia me entender tão bem. — E você sabe que eu prefiro mil vezes latim.

— As vezes me esqueço que você é o Todo-Poderoso-Pontifex-Maximus!

Piper brincou, me beijando na bochecha. Por mais que eu quase não estivesse exercendo minha função naquele verão, ela adorava me lembrar disso, sabendo que, às vezes, a posição me deixava um pouco embaraçado. Logo ela que tanto escondia os títulos de Filha de Afrodite ou a fama do pai, parecia se divertir no meu constrangimento.

— Ah, fique quieta, McLean. — Impliquei, a abraçando pela cintura.

O dia estava quente. Havia uma brisa suave, mas estava quente o suficiente para Piper ter deixado de lado os jeans e a camiseta do Acampamento para se aventurar com shorts e blusas de alcinha. Não era algo vulgar, ou chamativo como era comum no chalé dez, era algo simples, mas deixava muito da pele bronzeada de Piper à mostra, o que era encantador. Eu nunca admitiria isso pra ela, é claro, mas — mesmo que às vezes Piper McLean ficasse intimidante com toda aquela beleza estonteante — eu me via cada vez mais fascinado por seu jeito, por seu olhos coloridos, pelos traços cherokee. Piper parecia me hipnotizar, seu toque me enfeitiçava e eu era cada vez mais louco por ela.

A puxei para um beijo, aproveitando o silêncio e a facilidade com que perdia meus pensamentos quando sentia seus lábios pressionando os meus. Era como se tornar névoa, uma liberdade tão grande, mas ao mesmo tempo tão atordoante, que eu perdia o fôlego, ao mesmo tempo que procurava por mais.

— Também senti sua falta… — Piper sussurrou no meu ouvido, deixando um beijo no meu pescoço. Meu corpo se arrepiou, o coração acelerando, minha temperatura aumentando a cada beijo que ela deixava. Minha boca novamente encontrou a sua, e me vi pressionando a cintura dela, puxando-a para mim, sedento. Suas mãos estavam em meus cabelos, desciam por meu pescoço, apertavam o tecido da minha camisa, tão frenética em me tocar quanto eu desejava tocá-la.

Meu lábios cobriram os seus, por vezes tocavam seu pescoço, sua nuca. Minhas mãos passeavam por sua cintura, suas costas, ainda que houvessem partes que eu queria tocar, não somente por desejo, mas curiosidade, instinto. Sem pensar muito e, embriagado por seus beijos, senti o toque de Piper em meu peito e deixei minha mão deslizar da sua cintura, descendo pouco a pouco,  a tocando na coxa, a pele quente e nua sob minhas mãos.

A apertei levemente e aprofundei o beijo, inebriado em carícias. Meu corpo pedia por mais, minha mente a desejava… Mas havia limites, limites que nunca havíamos ultrapassados, limites que pareciam ser enfraquecidos cada vez que Piper me beijava. Me forcei a suavizar o beijo e me afastar aos poucos. Quando seus olhos encontraram os meus, me seni muito consciente com minha mão ainda estava em sua coxa, como meu corpo estava desconfortável e quente, e em como seu sorriso me deixava vermelho e apaixonado.

— Então, senhor Pontifex Maximus — Piper sorriu, dando pequenos selinhos em meus lábios. —, pensou na proposta do meu pai?

Piper me beijou uma última vez e se afastou. Apesar do sorriso leve, havia preocupação em seus olhos e, também, havia motivo para tanto.

A proposta de Tristan McLean. Nos últimos anos passei a maior parte do tempo no norte, perto do Acampamento Júpiter, o que me permitiu construir os altares que prometi e acompanhar de perto o meu lar, ao mesmo tempo em que podia terminar a escola com Piper.

Me formei e fiquei um ano longe das salas de aula, enquanto  minha namorada lutava na universidade. Agora havíamos conseguido a chance de dois bons estágios — ainda que eu não soubesse exatamente o que quero fazer da vida — e meu sogro nos convidava a voltar para São Francisco.

Uma vida calma, normal. Minhas atuais obrigações como pontifex eram poucas e sempre havia como visitar os Acampamentos — Percy e Annabeth eram provas disso: mesmo em Nova Roma adoravam estar no Acampamento Meio-Sangue — e eu estava certo de que iria com Piper ao final do verão. Eu tinha certeza, até Nico morrer.

— Estou pensando, Pips. — Sussurrei, acariciando-lhe a face. — Mas tudo isso está uma bagunça, eu preciso ajudar meus amigos. Você entende isso, não é?

— Eu entendo sim, Jason. — Piper assentiu com um sorriso doce. — E, pra ser honesta, é isso o que eu mais amo em você.

Foi minha vez de sorrir, a puxando novamente para um mim.

— Eu também amo você, Piper McLean. — Sussurrei entre beijos. — Mais do que você imagina.





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Notas finais do capítulo

Link roupa Piper: https://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=226175468

Então, vocês esperavam essa reação da Thalia?
O que acharam com a briga com o Jason?
E sobre o Will não gostar do Nico mais do que amigos? Ele falou a verdade?!
Quero ouvir a opinião de vocês, do que gostaram ou não. Isso é muito importante!
Agradeço à todos que ainda estão aqui e que me mandaram mensagens motivando, vocês sustentam EMNSC!
Por último, queria conhecer mais vocês. Saber se são meninas, meninos, ou se identificam com ambos ou nenhum e a idade.
Eu sou uma garotinha de vinte anos ♥
Nos vemos nos comentários?!
Obrigada pela atenção!